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Ano da Morte de Ricardo Reis

Capítulo 1 (páginas 7—31)


A narrativa inicia-se com o vapor inglês Highland Brigade a atracar no cais de
Alcântara. A bordo seguem passageiros de várias nacionalidades. Descem poucos no
cais de Lisboa. Chove. Os viajantes vão passando pela alfândega. Um homem – Ricardo
Reis-, acompanhado por um bagageiro, observa as nuvens baixas. Mostra interesse
pelos contratorpedeiros atracados. Apanha um táxi até ao Hotel Bragança, que escolhe
por estar mais perto do rio. O táxi prossegue pelo labirinto de Lisboa.

No hotel, regista-se como médico, natural do Porto, pede um quarto – o duzentos


e um – por ter vista para o rio. É um quarto duplo, que agrada ao viajante, segundo
confirma Salvador, o gerente. Ocupá-lo por tempo indefinido. Ricardo Reis arruma os
seus pertences, entre eles os textos dos seus poemas, que guarda numa gaveta da
secretária.

Desce pontualmente para o jantar, às oito. Observa um casal, pai e filha,


apercebendo-se que a mão esquerda dela é imóvel. Regressa ao quarto, onde se
instala, confortavelmente, como se estivesse no lar que nunca teve.

Capítulo 2 (páginas 33 - 60)


Ricardo Reis vai cedo ao Banco Comercial cambiar dinheiro inglês por escudos.
Passeia-se por Lisboa e consulta os jornais, onde confirma a notícia da “morte
inesperada de Fernando Pessoa, o poeta do Orfeu”. Segue de eléctrico ao cemitério dos
Prazeres e visita o jazigo onde o corpo de Fernando Pessoa se encontra.

Apanha um táxi para o Rossio e almoça tardiamente nos Irmãos Unidos. Segues a
pé por Lisboa: Praça da Figueira, Rua dos Douradores, Rua da Conceição e encaminha-
se para o hotel. No quarto, abre uma janela, senta-se na poltrona e toma consciência
de que só naquela altura a sua viagem terminara realmente. A chuva recomeça e a
água alastra no chão encerado do quarto. Ricardo Reis pede ajuda. A criada- Lídia –
sobe e limpa a água do pavimento. Ricardo Reis escreve. Adormece no sofá. Acorda,
aborrecido por se ter deixado adormecer vestido. Desce. Consulta os jornais
novamente: demissão do governo espanhol, ataque da Itália à Etiópia. Às oito, Ricardo
Reis janta, contando voltar a observar o casal que vira na véspera. Fica pesaroso por
não o ver e fica a saber pelo gerente que são pai e filha, de Coimbra, indo a Lisboa
mensalmente para que Marcenda – é esse o nome da rapariga – possa ser observada

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por um médico, por causa da paralisia da mão. Ricardo Reis sobe ao quarto e relê os
seus versos antes de se deitar.

Capítulo 3 (páginas 61 – 92)

Lídia chega com o pequeno-almoço às nove e meia e faz alusão à cheia no Cais do
Sodré. O narrador reflecte sobre a simbologia do último dia do ano. Ricardo Reis
resolve passear antes do almoço. Um breve aguaceiro surpreende os transeuntes. A
cidade parece deserta de tão sossegada. Subitamente uma multidão enche a rua: é o
bodo de O Século. Cada pobre – mais de mil - recebe dez escudos. Ricardo Reis
regressa à estátua de Camões, sentindo-se num “labirinto” que o conduz “sempre ao
mesmo lugar”. Depois do almoço, regressa ao hotel de táxi. Janta mais tarde, sozinho,
apenas com o criado, Ramón.

Sobe ao quarto, mas arrepende-se, voltando a sair. Vai ao Rossio e as pessoas


felicitam-se com a chegada da meia-noite. Ricardo Reis regressa ao hotel, “pouco
passava da meia-noite e meia hora”. Ao entrar no quarto, depara-se com Fernando
Pessoa no sofá, sentado. Enquanto morto, a sua imagem não se reflecte nos espelhos,
só é visível para quem quiser e tem conhecimento de tudo. Explica a Ricardo Reis que
tem “uns oito meses para circular à vontade”. Ricardo Reis revela a sua motivação para
ter regressado a Portugal: “Fernando Pessoa falecer Stop Parto para Glasgow Stop
Álvaro Campos, quando recebi este telegrama decidi regressar”. Para além desta razão,
uma revolução no Brasil impele-o a voltar. Fazem votos de bom ano e despedem-se.

Capítulo 4 (páginas 93 – 110)


O narrador traça a situação política de Portugal sob um registo irónico e sempre
sob a perspectiva dos “jornais, de cá” numa alusão à manipulação da informação por
parte da ditadura. Ricardo Reis faz minuciosamente “a sua leitura matinal das gazetas”
durante o pequeno-almoço, detendo-se na observação de um grande anúncio – o
Freire Gravador.

Ricardo Reis põe a mão no braço da Lídia pela primeira vez e ambos ficam
nervosos. Sai para um passeio e sente que está numa teia, numa encruzilhada por
entre as ruas da cidade. Ricardo Reis reflecte sobre a abertura de consultório.
Subitamente vê Fernando Pessoa. Seguem ambos para o Terreiro do Paço, enquanto
começa a chover. Dias depois, quando Lídia leva o pequeno-almoço ao quarto de
Ricardo Reis, este declara-se a ela “Acho-a muito bonita”. Passou o dia fora,
envergonhado, regressou para jantar e voltou a sair. Ao regressar ao quarto, repara nas
duas almofadas, na cama. Lídia entra no quarto, “treme, só sabe dizer, Tenho frio”.

MF
Capítulo 5 (páginas 111- 134)
“O doutor Sampaio e a filha chegam hoje”.

Lídia entra no quarto de Ricardo Reis e promete-lhe que irá nessa noite, mas
Ricardo Reis deseja interiormente que não o faça, depois de “três noites ativas”. Às oito
e meia desce para jantar. Entretanto, em prolepse, Lídia, enquanto passa a ferro o fato
que Ricardo Reis levará ao teatro, desejar ir com ele, embora saiba que tal nunca possa
acontecer. Ao jantar, Ricardo Reis mostra-se vivamente interessado em Marcenda.

No dia seguinte desce ao Chiado para comprar o bilhete para o teatro. Passa a
tarde nos cafés. Depois de voltar ao hotel para se vestir, janta pelo Rossio e assiste ao
teatro. No intervalo, procura “fazer-se encontrado” do pai de Marcenda, o Doutor
Sampaio. Apresenta-se, conversam um pouco no átrio. No segundo intervalo,
encontram-se os três. No final, pai e filha seguem de táxi para o hotel e Ricardo Reis
decide observar o rio, no Terreiro do Paço, reparando nos contratorpedeiros. Regressa
ao hotel, oferece uma nota de vinte escudos ao Pimenta, o empregado, receando que
ele saiba da sua relação com Lídia. Fernando Pessoa visita Ricardo Reis, no quarto,
nessa noite. Critica-o por se envolver com uma criada, sentindo-se “despeitado”. Mais
tarde, nessa noite, Lídia visita Ricardo Reis no quarto e “enfiou-se na cama”.

Capitulo 6 (páginas 135 – 158)


Sabendo que Marcenda regressará ao hotel depois do almoço, Ricardo Reis
deixou-se estar na sala de estar, a ler os jornais. À tarde, conversa com a jovem de 23
anos sobre a sua doença, o braço imóvel. Ficara assim desde a morte da mãe.
Entretanto Lídia, nervosa, serve-lhes café. Marcenda confidencia a Ricardo Reis que há
dois anos que vem a Lisboa com o seu pai para ser observada por um médico, mas, na
verdade, o seu pai tem uma amante, usando a sua doença como desculpa. Ricardo Reis
insiste para que ela continue a ir a Lisboa. Terminada a conversa, recolhem-se aos
quartos. Lídia indigna-se com Pimenta por causa das suas insinuações sobre pessoas
que “andam pelos corredores a altas horas”.

Às oito da noite, o doutor Sampaio convida Ricardo Reis para o acompanhar ao


jantar com Marcenda. Felipe e Ramón, galegos, servem o grupo. A conversa é sobre a
situação política. O doutor Sampaio, apoiante de Salazar, sugere a Ricardo Reis a leitura
do livro Conspiração. Findo o jantar, Marcenda recolhe-se por Lisboa e regressa de táxi
ao hotel. No quarto, observa que “a segunda almofada não saíra do armário”.

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Capítulo 7 (páginas 159 – 188)
Ricardo Reis dedica-se à leitura da Conspiração. Lê o livro no quarto enquanto, no
exterior, chove. Carlos, um universitário, foi preso no Aljube por andar metido em
greves académicas, e Marília, filha do senador, vai mover influências para que ele saia.
Conclui-se que na “actual solução corporativa” tudo se resolve e que greves e revoltas
nada trazem de bom.

O narrador faz um ponto de situação da vida política em Espanha, França e


Alemanha. Discorre sobre o problema das colónias portuguesas e especula sobre o
verdadeiro significado do Quinto Império, através de um diálogo, desta vez imaginário,
“duas vezes improvável” entre Fernando Pessoa e Ricardo Reis.

Lídia chora quatro noites, abraçada ao travesseiro, ciumenta da atenção que


Ricardo Reis dera a Marcenda. Na manhã do quinto dia, Lídia leva o pequeno-almoço
ao quarto 201 e nessa noite reencontrar-se-á com Ricardo Reis.

Salvador lê a Ricardo Reis o assassinato de António Mesquita, notícia de jornal, e


Ricardo Reis resolve ir ao seu funeral.

A esquerda ganha as eleições em Espanha e corre o boato de um golpe militar.


Ricardo Reis e Fernando Pessoa encontram-se num café de bairro e conversam sobre
política. Ao regressar ao hotel, Ricardo Reis teme que a sua relação com Lídia tenha
sido descoberta (mal ele suspeita que o Pimenta a espalhara, murmurada entre
risinhos). Chegam três famílias de espanhóis ao hotel e doutor Sampaio telefona,
entretanto, a marcar nova estada.

O Carnaval, em Lisboa, é chuvoso, de um “entusiasmo triste”. Ricardo Reis


aborrece-se com a “farrapagem do corso”. É quase noite e, cansado do triste
espectáculo carnavalesco, regressa ao hotel, enquanto assiste a uma paródia de morte.
Pensou tratar-se de Fernando Pessoa (pois ele tinha sugerido que ambos se
mascarassem no Carnaval – ele de morte e Ricardo Reis de domador de leões).
Persegue a figura pela Baixa de Lisboa. Esta confronta Ricardo Reis, insultando-o e
desaparecendo na noite. Recomeça a chover.

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Capítulo 8 (páginas 189 – 214)
Ricardo Reis passa mal a noite. Estava febril. Sonha com planícies, barcos e ele
multiplicado em cada um deles. Tenta ler mais um pouco do The God of The Labyrinth.
De manhã, Lídia toma conta do médico. Mima-o e dá-lhe atenções. “Nesse dia e no
seguinte, Ricardo Reis não saiu do quarto”. Lídia assume o papel de responsável pela
sua convalescença.

Na manhã de quarta-feira, a mesma em que Marcenda chega. Ricardo Reis recebe


uma contrafé da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, pelas mãos de Salvador. É
intimado para se apresentar para prestar declarações. “Já todo o pessoal do hotel sabe
que o hóspede do duzentos e um […] foi chamado à polícia”. Ao descer para o jantar,
todos o tratam com distanciamento. Lídia refere que o seu meio-irmão, Daniel Martins,
marinheiro de Afonso de Albuquerque, “é contra a situação”, isto é, é opositor ao
regime ditatorial de Salazar e sabe que os interrogatórios podem incluir torturas e
castigos. Ricardo Reis regressa ao quarto e pede que lhe seja servido o jantar. Não se
sente confortável com os olhares incriminatórios de todos. Escreve uns versos no
quarto, quando Marcenda lhe deixa um bilhete por debaixo da porta. Nele marca um
encontro para o Alto de Santa Catarina, na tarde da manhã seguinte. No dia seguinte,
Ricardo Reis almoça na Baixa, toma um café na Brasileira e dirige-se para o local
combinado. Fernando Pessoa surge subitamente e compara Ricardo Reis a D João V,
por se tão mulherengo, revelando um intenso sarcasmo pelas suas opções amorosas.

Marcenda surge ao encontro de Ricardo Reis. Fica combinado que Ricardo Reis se
corresponderá com a jovem, escrevendo para um apartado postal. Dois velhos
comentam o encontro. Ricardo Reis parte, depois de Marcenda, e observa uns escritos
no segundo andar de uma casa.

Capítulo 9 (páginas 215 – 240)


Ricardo Reis vai à polícia. O vento é muito forte, como se reflectisse a sua
inquietação. O narrador comenta que a chuva que tem assolado o país e igualmente
simbólica. O Victor, agente da polícia, conduz Ricardo Reis a um gabinete, onde este
responde a um interrogatório sobre de onde vem, o que faz, quem são os seus amigos.
No regresso ao hotel, volta a chover. Salvador tenta perceber como decorreu o
interrogatório. Sabê-lo-ia por um conhecido que trabalha na PVDE, o Victor, já que
Ricardo Reis nada dirá, subindo para o quarto depois do almoço, para escrever a
Marcenda, contando-lhe as novidades e mostrando interesse em procurar uma casa
para ele e abrir consultório.

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A chuva continua. No final da tarde, Ricardo Reis desce ao primeiro andar e conta a
Salvador as novidades do interrogatório. Por indicação de Victor a Salvador, todos no
hotel são alertados para vigiarem Ricardo Reis. Este passa algum tempo com Lídia,
confessando-lhe a admiração que sente por ela.

Nos dias seguintes, Ricardo Reis procura casa. Lídia promete-lhe que não o
abandonaria. No hotel, a vigilância aperta. Encontra no jornal o anúncio do segundo
andar na Rua de Santa Catarina, o mesmo prédio que vira ao Alto de Santa Catarina,
quando se encontrara com Marcenda. Lá chegando, estão os mesmos dois velhos no
banco a olhar para o rio. Já no apartamento, com a chave na mão, observa o rio, os
barcos, a estátua do Adamastor e os velhos no banco.

Capítulo 10 (páginas 241 – 265)


Lídia chora ao saber que não mais verá Ricardo Reis com a mesma frequência. Irá
ajudá-lo a cuidar a casa. No dia seguinte, Ricardo Reis compra as roupa de cama,
material de cozinha e tudo o que é necessário para a casa nova. Escreve a Marcenda,
indicando-lhe a morada.

No hotel, anuncia a Salvador que sairá do hotel no sábado seguinte. Este insiste
em saber a morada da residência nova. Depois de acompanhar dois carregadores até
ao apartamento, Reis observa a casa com detalhe. Da janela, vê as nuvens de chumbo,
a estátua do Adamastor e os dois “arranjos domésticos”. Sente necessidade de
organizar a sua vida. Deita-se pouco antes das dez. Batem à porta. Fernando Pessoa
chega da rua, sem estar molhado. Falam sobre a solidão. Ricardo Reis adormece com
Fernando Pessoa sentado, a observá-lo.

Capítulo 11 (páginas 267 – 291)


Ricardo Reis sai de manhã, vestido à pressa e mal arranjado, para comprar
fósforos. No regresso, observa a estátua do Adamastor, deixando os velhos do banco
inquietos, desconcentrando-os na leitura do jornal O Século. Depois de comer algo,
decide não fazer a cama. Sai e passeia-se por Lisboa. Almoça um bife no Chave de
Ouro, vai ao cinema. Regressando a casa, recomeça a chover.

Lídia visita-o. Na sexta-feira seguinte regressará, na sua folga, para fazer a limpeza
da casa, que bem necessitada está. Ricardo Reis beija Lídia que, entretanto, o informa
da chegada de Marcenda no dia seguinte. Pergunta-lhe se quer que lhe dê a sua
morada. Ricardo Reis responde negativamente, ciente de que lhe escrevera dando-lhe
essa indicação. À saída, Lídia é observada pelas vizinhas do prédio.

MF
Ricardo Reis não saiu para jantar. Recomeçou a leitura do The God of the
Labyrinth, na primeira página. Adormece.

Na manhã seguinte, o dia continua carregado. A leiteira e o padeiro visitam


Ricardo Reis para acertar as entregas. Depois o ardina. Lê os jornais. Marcenda visita-o.
Ricardo Reis beija-a pela primeira vez. Marcenda confessa que esperava que ele a
tivesse beijado. Falam sobre os sentimentos mútuos e percebem que não se amam.
Apenas gostam um do outro. Falam sobre o braço de Marcenda. O pai pensa que seria
bom Marcenda ir a Fátima. Depois de beberem o chá, Marcenda despede-se.

Capítulo 12 (páginas 293 – 319)


As vizinhas do primeiro e terceiro andares comentam a entrada das mulheres no
segundo andar: “mudou-se faz amanhã oito dias e já lá entraram duas mulheres”.

Lídia traz uma bata e faz grandes limpezas no apartamento. Entretanto, Ricardo
Reis vai almoçar sozinho, pois não ficaria bem ser visto com uma criada. Lídia toma
banho e Ricardo Reis entra, observa-a. Deitam-se nus na cama.

Ricardo Reis escreve, na manhã de segunda-feira, uma extensa carta a Marcenda.


À tarde vai procurar um emprego como médico. Encontra uma substituição temporária
de um especialista de coração e pulmões. Entretanto, como Marcenda não respondera,
Ricardo Reis escreve-lhe nova carta, relatando-lhe o seu trabalho na policlínica, mesmo
perto do seu apartamento, na Praça Luís de Camões.

“Lídia vem quase todos os seus dias de folga”. Começa a primavera e os dias ficam
melhores. O narrador reflecte sobre os povos alemão e italiano, comparando-os aos
portugueses.

Na Páscoa, o governo manda distribuir pelo país um bodo geral.

Ricardo Reis senta-se à luz do sol para ler os jornais. No outro banco, os velhos
conversam, à espera que o jornal seja abandonado, para o lerem.

Ao entrar em casa, Ricardo Reis abre uma carta que acabara de receber de
Marcenda. Esta pede-lhe a sua amizade, apenas. Ricardo Reis trabalha um pouco no
seu escritório e sai para jantar. Atravessa Lisboa de eléctrico e vai ao cemitério.
Ninguém vem ao seu encontro.

Capítulo 13 (páginas 321 - 345)

MF
“Fernando Pessoa apareceu duas noites depois”. Encontram-se junto ao
Adamastor. Conversam sobre os amores de Ricardo Reis e sobre a morte. Como
habitualmente, Fernando Pessoa é sarcástico. Vão para o apartamento de Ricardo Reis
e pelo caminho encontram o agente Victor. No apartamento, conversam sobre Salazar,
“o ditador português, o protector, o pai, o professor, o poder manso”. Ricardo Reis vai
buscar os jornais para que Fernando Pessoa se actualize. Conversa-se sobre política.
Fernando Pessoa sai e Ricardo Reis deita-se. Lídia vai ao apartamento de Ricardo Reis:
“Bom dia, senhor doutor” – nunca o tratará por Ricardo. Toma o pequeno-almoço na
cama e lê o jornal: eleições em França, ataque a Addis-Abeba, o dirigível Graf Zeppelin
que sobrevoara Lisboa, com a sua cruz “gamada, uma suástica”. Ricardo Reis convida
Lídia a deitar-se mas apercebe-se de uma inesperada e súbita impotência da sua parte.
Em pânico, decide tomar banho. Lídia não se apercebe e culpabiliza-se.

Três dias depois, Marcenda aparece no consultório de Ricardo Reis. Beijam-se


novamente. Ricardo Reis, num ímpeto, pede Marcenda em casamento, mas recebe
uma negativa: “Não, muito devagar o disse […] Não seríamos felizes”. Marcenda parte.

Capítulo 14 (páginas 347 – 378)


Marcenda envia nova carta a Ricardo Reis: “foi grande imprudência visitá-lo, não
voltará a acontecer, nunca mais nos tornaremos a ver”. Irá a Fátima, para fazer a
vontade do pai. Ricardo Reis relê a parte final: “Não me escreva”.

Festeja-se o início da vida pública de Salazar, há oito anos, e o seu aniversário –


quarenta e sete. Tantos quanto Hitler.

Terminou a guerra na Etiópia, anuncia Mussolini. Ricardo Reis tem uma visão de
mulheres violadas, crianças trespassadas de lanças e perturba-se, por não ter lido estes
horrores no Diário de Notícias.

Vai buscar o The God of The Labyrinth, ainda na primeira página. Depois, decide ler
as suas odes.

Lídia sente-se feliz, a sua cabeça repousando no braço direito de Ricardo Reis,
ambos nus e suados. As vizinhas das varandas das traseiras comentam. Ricardo Reis
anuncia que vai a Fátima, por curiosidade, e Lídia sugere que poderá encontrar a
menina Marcenda. Depois de Lídia se ter levantado para passar a ferro, Ricardo Reis vai
ter com ela e beija-a.

No dia seguinte, Ricardo reis parte para Fátima. Segue em primeira classe, de
madrugada. Na viagem adormece e sonha que faz um milagre a Marcenda,
recuperando-lhe a mobilidade do seu braço esquerdo, e toda a multidão rodeia Ricardo
Reis em transe. Em Fátima, oferecem-lhe comida e parte de camioneta para a Cova da

MF
Iria. O percurso é “um formigueiro de gente”. Numa curva da estrada, um peregrino
morre. Ricardo Reis procura, em vão, Marcenda. “Tudo parece absurdo a Ricardo Reis”.
A meio da manhã do dia seguinte, decide partir.

Capítulo 15 (páginas 379 – 405)


Depois do regresso, deixa-se ficar em casa por três dias. Leva consigo o jornal e
senta-se à sombra do Adamastor. À tarde, no consultório, chega uma carta, mas não é
de Marcenda. É do colega que Ricardo Reis está a substituir. Irá regressar ao trabalho.

Lídia não tem aparecido. “Ricardo Reis anda a pensar em regressar ao Brasil”. Não
se revê no país em que Portugal se tornou. Lídia chega, um pouco retraída. Ricardo Reis
conta-lhe a ida a Fátima. Não houve milagre nem viu Marcenda. Lídia faz a lida da casa
e depois Ricardo Reis sedu-la.

“Alguns dias depois foi a vez de Fernando Pessoa vir visitar Ricardo Reis”. Vem com
cuidados, depois de se aperceber que algumas pessoas eram capazes de o ver. Ricardo
Reis mostra uns versos a Fernando Pessoa. Fala-lhe de Carlos Queirós, vencedor do
prémio literário desse ano, de quem Ricardo Reis lera O Desaparecido. Era sobrinho de
Ofélia, ex-namorada de Fernando Pessoa. Conversam sobre os amores que ambos têm
ou tiveram.

O governo decide fazer um simulacro de bombardeamento e Ricardo Reis resolve


assistir. Passados dias, conta todo o episódio a Lídia.

Capítulo 16 (páginas 407 – 432)


“Entre os velhos e Ricardo Reis há familiaridade”. Agora Ricardo Reis levanta-se
tarde, à hora do almoço. Vive sem trabalho e cada vez mais desregrado. “Lídia aparece
agora com menos frequência”. Ricardo Reis conversa amigavelmente com os velhos,
que se interessam essencialmente pelas “notícias do quotidiano dramático e
pitoresco”.

No 10 de junho, Ricardo Reis ouve uma salva de vinte e um tiros dos navios de
guerra. Nos degraus da estátua de Camões há flores. Fernando Pessoa, sentado num
banco da Praça de Luís de Camões, apercebe-se de que não há nenhum poema na
Mensagem dedicado a Camões. “Foi inveja, meu querido Pessoa”.

“Ricardo Reis tenta escrever um poema a Marcenda”.

Dá-se um terramoto, “breve e brusco”. “Ricardo Reis e Lídia não se levantaram.


Estavam nus”.

MF
Lídia informa Ricardo reis de que está grávida. Ricardo Reis mostra-se alheado,
indiferente. “Pensas em deixar vir a criança, […] Vou deixar vir o menino”. Ricardo Reis
emociona-se. Lídia acalma a ansiedade de Ricardo Reis: “Se não quiser perfilar o
menino, não faz mal”.

Fernando Pessoa visita Ricardo Reis. Perde-se cada vez mais facilmente e orienta-
se pela estátua de Camões. Falam sobre estátuas retiradas e Fernando Pessoa relembra
que passaram já sete meses. Ricardo Reis anuncia que vai ser pai. Continuam o diálogo
repleto de sarcasmo. Mas ele não está melhor: sem trabalho e sem vontade de o
procurar, a sua vida “passa-se entre a casa, o restaurante e um banco de jardim”.
Ricardo Reis refere os versos que escrevera sobre Marcenda, mas Fernando Pessoa já
os conhece: “Como vê, sabemos tudo um do outro”.

Decreta-se a criação da Mocidade Portuguesa. O filho de Lídia já poderá “usar no


cinto um S de servir e de Salazar, ou servir Salazar, portanto duplo S, SS”.

Capítulo 17 (páginas 433 – 457)


Lopes Ribeiro, o realizador, filma uma cena de uma rusga da polícia. Nela
participam o Victor e outros agentes. O filme chama-se A Revolução de Maio.

“Ricardo Reis lê os jornais”. Os velhos compram agora o jornal alternadamente. Já


não precisam da caridade de Ricardo Reis, que continua a ter hábitos de sono menos
regrados.

Dá-se o golpe militar em Espanha. “Receia-se em Madrid um movimento


revolucionário fascista. […] O levantamento começou em Marrocos espanhol, e, ao que
parece, é seu principal chefe o general Franco”.

Ricardo Reis conta a Lídia o que se passa em Espanha. Incapaz de compreender, o


médico explica-lhe as motivações para o golpe. Visão diferente tem Daniel, meio-irmão
de Lídia.

Conversam novamente sobre a decisão de “deixar vir a criança”. Ricardo Reis pede
a Lídia que pense bem, ao que ela lhe responde: “Eu, se calhar, não penso” e dá uma
risada. Depois desta conversa, acabam por ter relações.

Continua o golpe em Espanha. Em Portugal, aumentam os voluntários da


Mocidade Portuguesa. Miguel de Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca,
declara o seu apoio ao golpe fascista em Espanha.

O calor assola Lisboa. Ricardo Reis espera conversar com Fernando Pessoa sobre a
guerra civil espanhola, que se aproxima do fim. Volta ao Cemitério dos Prazeres, à

MF
procura de Fernando Pessoa. Este surge ao seu lado, invisível. Conversam sobre o golpe
em Espanha.

Capítulo 18 (páginas 459 – 478)


Ricardo Reis compra uma telefonia, marca Pilot. Lídia alegra-se, pois poderá ouvir
música. Na verdade, Lídia está muito preocupada com o desleixo de Ricardo Reis, no
modo de vestir e nos cuidados pessoais. Conta-lhe que os espanhóis deixaram o hotel.
Na telefonia, ouve as notícias do bombardeamento de Badajoz e chora. Lídia diz que
Daniel a avisara de que “não se deve fazer sempre fé no que os jornais escrevem”.
Conversam sobre a verdade das informações veiculadas pelos jornais. “Sempre me
responde com as palavras do teu irmão, E o senhor doutor fala-me sempre com as
palavras dos jornais”.

Ricardo Reis sente-se cada vez mais sozinho e pensa em Lídia.

Badajoz rende-se. Ricardo Reis sabe através dos jornais e confirmou com Lídia,
através do seu irmão, do fuzilamento de milicianos presos, na praça de touros de
Badajoz. “Foram mortos dois mil”. Lídia chora na cozinha, questiona-se sobre o que vai
fazer a casa de Ricardo Reis: “ser a criada do senhor doutor, a mulher-a-dias, nem
sequer a amante porque há igualdade nesta palavra […] e então já não sabe se chora
pelos mortos de Badajoz, se por esta morte sua que é sentir-se nada.”

Ricardo Reis tenta novamente reler o The God of the Labyrinth. Adormece com o
livro fechado nos joelhos, no escritório. Lídia “olhou-o como se fosse um estranho,
depois, sem rumor, saiu. Vai a pensar, Não volto mais”.

Os sindicatos nacionais anunciam a promoção de um comício contra o comunismo.


Ricardo Reis vai cedo para a praça de touros do Campo Pequeno, de táxi, para garantir
lugar. “As bancadas estão cheias”. Grita-se por Portugal e por Salazar. Ricardo Reis
regressa a casa a pé. Decide não voltar a comícios.

“Lídia não tem aparecido, a roupa suja acumula-se, o pó cai sobre os móveis.”

“Ricardo Reis nunca se sentiu tão só. Dorme quase todo o dia”. Escreve uma carta a
Marcenda, mas rasga-a em pedacinhos pequenos que lança por cima das grades do
jardim, a altas horas da noite.

Copia para “uma folha de papel o seu poema, Saudoso já deste verão que vejo” e
envia os versos a Marcenda, sem remetente.

Capítulo 19 (páginas 479 – 494)

MF
Lídia regressa a casa de Ricardo Reis, mas bate à porta, não fazendo uso da chave.
Desculpou-se por não ter aparecido. Observa Ricardo Reis e acha-o com um ar
envelhecido. “Lídia começa a chorar baixinho”. Daniel participará numa revolta, em
que os navios de guerra Afonso de Albuquerque, Dão e Bartolomeu Dias partirão para
o mar. “A ideia é irem para Angra do Heroísmo, libertar os presos políticos, tomar posse
da ilha” e esperar levantamentos no continente.

No dia seguinte, Ricardo Reis vai observar os navios de guerra, a partir do jardim
em frente do seu apartamento. Da Outra Banda surge “um enorme dirigível, devia ser
o Graf Zeppellin ou o Hindemburgo”.

Ricardo Reis desce para o Chiado para ver os barcos de perto. Aparece o Victor e
Ricardo Reis fica sobressaltado. Regressa a casa e janta dois ovos rapidamente. De
manhã, ouve o primeiro tiro de peça. Chega ao jardim e observa o forte de Almada a
disparar contra os navios de guerra. Às nove horas tudo termina. Entra Ricardo Reis em
casa e atira-se para cima da cama desfeita e chora. Vai ao Hotel Bragança, Lídia não se
encontra lá. Saíra e ainda não voltara. Assim foi durante toda a tarde.

Nos jornais da tarde, Ricardo Reis vê o nome do irmão de Lídia na lista de


marinheiros mortos.

Fernando Pessoa visita Ricardo Reis. Anuncia que não o tornará a ver, pois o seu
tempo chegara ao fim. Pegando no The God of the Labyrinth”, Reis decide acompanhar
Fernando Pessoa. Não poderá valer a Lídia. Nem poderá ler. “A leitura é a primeira
virtude que se perde”.

“Então vamos, disse Fernando Pessoa, Vamos, disse Ricardo Reis”.

MF

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