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Livro I - O Livro de Lan

Capítulo I – O Estranho mundo de Lan

Lan Malik tem treze anos e é estudante do último ano do ensino fundamental, leva

uma vida bem normal para um adolescente da sua idade, exceto por uma coisa, a capacidade

que ele tem de ver coisas sobrenaturais.

Desde pequeno Lan sempre foi meio diferente, pelo menos das outras crianças de sua

idade, até de adultos, pois não se vê nenhum adulto por ai faLando sozinho ou se assustando

com coisas que se passam por despercebidas pelas demais.

Quando ele tinha cinco anos de idade, não entendia o que era real ou o que era

sobrenatural, brincava quase sempre sozinho para sua mãe, como se usasse a imaginação para

criar falas para os seus brinquedos, mas sempre tinha alguém que conversava com ele e até

brincava às vezes. Lan não entendia muito bem, então para ele era normal.

Certa vez, nessa mesma época, Lan e sua mãe passavam em frente a uma oferenda que

estava no caminho para a escola. Faziam aquele trajeto todos os dias, mas nesse dia havia um

homem abaixado ao lado da tal oferenda, ele estava fumando uma espécie de cigarro ou

charuto e segurando um copo com alguma bebida em uma das mãos e ele percebeu que Lan o

viu e então, ficou a olhar diretamente para o garoto.

– Oi. – Disse Lan a ele.

– Olá Jovenzinho. – Disse o tal moço o respondendo. E deu um gole na bebida em seu

copo, esbugalhando os olhos e fazendo careta.

– Com quem você está faLando Lan? – Perguntou a mãe de Lan.


– Com o moço mamãe. – Respondeu Lan a sua mãe apontando para onde o homem

estava.

– Moço? – A mãe de Lan se virou para olhar. – Não tem ninguém ali Lan.

– Tem sim mamãe. Agora ele está de pé e nos olhando.

A mãe de Lan se virou novamente e só viu aquela oferenda a frente de um poste, ela

fez uma cara meio de assustada, agarrou a mão de Lan e andou o mais rápido que podia até

chegar à escola. Daquele dia em diante, a mãe de Lan nunca mais fez aquele caminho

novamente para ir ou vir da escola.

Desde essa época até hoje, Lan ainda consegue ver muitas coisas e agora com muito

mais facilidade. Se ele não prestar a atenção, consegue até confundi-los com as pessoas vivas.

Lan nunca escolheu ter essa capacidade de enxergar o que os outros não enxergam. Eles

simplesmente estão em quase todos os lugares. Ele tenta ignorá-los na maioria das vezes.

Porque toda vez que não os ignora, as pessoas o veem como um louco varrido. Um exemplo

disso é a sua própria mãe.

Logo após o incidente com o “moço”, a mãe de Lan começou a perceber que ele

frequentemente falava sozinho. Foi quando ela decidiu pagar uma “vó” para fazer umas rezas

estranhas nele, achando que ele estava possuído por algum demônio ou algo assim. Porém,

não adiantou muita coisa, Lan continua até hoje a ver, ouvir e de uns tempos para cá, até

mesmo a sentir essas “coisas” sobrenaturais.

E eis que vem o problema. Nesses últimos meses que se passaram, ele tem visto

criaturas muito diferentes das de antes. Tem visto uns parecidos com ratos, outros com

lagartos e ainda outros sem forma para tentar descrever o quão estranhos eram. Eles não o
incomodam e parecem não o notar também, como se Lan fosse invisível ou algo assim. Não

se ouve som algum deles e parecem se deslocar de forma aleatória.

Lan não tem muitas pessoas para conversar sobre esse assunto, e graças à mãe dele, ele

pôde conhecer a vovó Carmem, ela foi a tal vó que a mãe de Lan contratou para afastar os

demônios dele, que ao invés de lhe fazer rezas, o ensinou a lidar com o seu pequeno “dom”,

que assim ela chamava. E ele conheceu também a neta de Dona Carmem, a Victoria.

Victoria é a melhor amiga de Lan, ele a chama de Vicky, Contudo ela odeia ser

chamada assim, diz ela que parece nome de remédio. Eles se conhecem desde que Lan foi

para a sua primeira sessão de “rezas” com a vó Carmem. Victoria tem quase a mesma idade

de Lan e é a pessoa que o fez acreditar que não era louco, ela também pode ver tudo o que ele

vê, só que ela é um pouco mais estranha. Ela e a vó seguem uma religião antiga que é passada

por gerações pela família dela. Lan se pergunta se algum dia Victoria vai rezar por alguém

como Dona Carmem fez por ele, então se há alguém mais estranho do que Lan, ele já pode se

sentir bem melhor.

Além disso, os dois estudam na mesma turma e na escola também tem um outro amigo

inseparável, o Alek. Ele é uma pessoa completamente normal, digo, até onde podemos o

chamar de normal, eles estudam juntos a três anos, desde que a família de Alek se mudou para

uma das residências mais caras do bairro, mas ele decidiu estudar num colégio público e não

em uma escola particular como todo “riquinho” por ai.

Alek é alvo de piadas na escola, nem é porque a família dele é rica, mas também

porque ele adora fazer piadas com tudo e todos ao redor dele, por isso ele escolheu estar em

uma escola pública, ele diz que estudar ali era mais divertido, então Alek não dá a mínima

confiança para as piadas de alguns alunos idiotas, ele perde tanto tempo tentando fazer os

outros rirem, que nada o incomoda.


Então, Lan, Victoria e Alek passam quase todo o tempo juntos, vão e voltam da escola

juntos, se reúnem no recreio para conversar e fofocar sobre os outros alunos, comem juntos,

descansam o almoço juntos, fazem quase todas as atividades juntos, ou seja, são inseparáveis.

Sempre que Lan vê algo de “diferente” ele ignora, Victoria também e ela parece ser

bem melhor do que ele em fazer isso. E Alek coitado, ele nem se dá conta do que se passa,

Lan e Victoria escondem dele toda essa história de espíritos e coisas de outro mundo. Vai que

ele ache que os dois são loucos e que eles tem algum parafuso solto, não que ele já não ache,

mas pode piorar o conceito.

Algo estava incomodando Lan há algum um tempo. Uma estranha sensação que

jamais sentira o estava deixando preocupado. Sonhos misteriosos rompiam seu sono. Lan não

sabia, mas sua vida estava para mudar.

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