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Apontamentos aula Direito da Família (Casamento)

Direito da Família (Universidade Catolica Portuguesa)

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)))
O Casamento
Noções Gerais

O conceito de casamento

Não existe uma noção universal de casamento É uma noção que varia em função
de valores sociais e da evolução da sociedade civil Poucas legislações definem o
casamento nem no Código francês nem no espanhol nem no italiano nem no
alemão encontramos uma definição do ato matrimonial E a verdade é que esta
omissão não costuma ser censurada pela doutrina As características do casamento
são de tal modo conhecidas que não será possível confundi lo com uma união de
facto

A noção de casamento não é comum a todos os direitos e a todas as épocas


históricas Com efeito certas sociedades nomeadamente as ocidentais não
admitem o casamento poligâmico

Até à Lei n de de Maio não se admitia o casamento entre pessoas do


mesmo sexo Assim anteriormente parecia possível descobrir uma ideia comum
aos sistemas jurídicos que se inserem no mesmo espaço cultural do nosso a ideia
de casamento como acordo entre um homem e uma mulher feito segundo as
determinações da lei e dirigido ao estabelecimento de uma plena comunhão de
vida entre eles Porém esta permissão de casamento entre pessoas do mesmo
sexo leva nos a reformular aquela frase
 Anteriormente este casamento era inexistente

Não havendo uma noção universal isto determina que pode ser conceitualizado
em termos distintos o casamento
Casamento é uma instituição jurídica  O casamento deve ser
perspetivado como uma garantia institucional É uma figura que é
preexistente ao legislador histórico Não pode ser reconfigurada pelo
legislador sem mais )sto levanta o problema de saber se a fisionomia do
casamento sendo preexistente ao legislador histórico em que medida pode
ser livremente alterada por uma lei
Casamento é um compromisso jurídico de conteúdo vinculado típico  O
casamento é aquilo que o legislador definiu e tem um conteúdo vinculado
porque só pode ser alterado pelo legislador não podendo ser livremente
conformado pelas partes Assim releva a plena comunhão de vida art

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Pressupõe que os nubentes saibam o alcance do compromisso que


estão a celebrar
Casamento como contrato  Pode ser celebrado ao abrigo da autonomia
privada e é um contrato com natureza pessoal gerando efeitos pessoais
estado de casado e é um contrato solene art C Reg Civ
Casamento é um mero compromisso privado  Com regras ditadas pelas
partes Esta perspetiva levaria à admissibilidade de conformação do
conteúdo do casamento no plano pessoal e patrimonial São as partes que
definem as regras do jogo Coloca se a duvida de saber se esta perspetiva é
uma evolução do conceito de casamento ou se é uma regressão
Casamento como união baseada na convivência affectio maritalis  É a
conceção romana de casamento só se casa por amor Ligação puramente
afetiva
Casamento como estado  Não como acto jurídico em si mas como estado

Traços identitários do casamento


 É um contrato art é o chamado acordo de vontades
 Entre duas pessoas exclui se a admissibilidade de casamentos polígamos
 Visa a constituição de família nota que o Prof Pereira Coelho tende a deixar
cair porque atualmente o casamento não exige que se procrie Mas não se
deixa de constituir família porque estabelece se entre os cônjuges e
respectiva família A impotência não é um impedimento ao casamento civil
No impedimento católico já é um impedimento
 Mediante uma plena comunhão de vida comunhão de leito mesmo que não
hajam relações sexuais teto e mesa
 Nos termos previstos no Código )njuntividade do modelo legal não é
suscetível de ser adequado livremente pelas partes O art n não
admite o registo de casamentos que contrariem os princípios de ordem
pública do Estado Português Os cônjuges não podem conformar os efeitos
sucessórios e pessoais Não se pode manter relações a latere O casamento é
um acto solene registo civil ter testemunhas etc
 Estabilidade do vínculo nota fundamental do casamento permitindo
estabelecer a diferença em relação à união de facto Não é livremente
dissolúvel
 Especialidade do Casamento Católico só se admite casamento católico
entre pessoas de sexo diferente Tem uma vocação de tendencial
perpetuidade São muito limitados os casos em que se admite a dissolução
do vínculo

Noção legal de casamento civil art  Contrato celebrado entre duas


pessoas que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida

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A Reforma de retocou ligeiramente a primitiva noção do Código Onde se


dizia comunhão plena de vida colocou se o adjetivo plena antes do substantivo
comunhão Em segundo lugar substitui se o advérbio legitimamente pela
perífrase nos termos das disposições deste Código
o Quanto à primeira alteração é claro que o legislador não queria
antes dizer que as pessoas que casam pretendem constituir família
mediante uma comunhão plena de vida i e cheia de vida mas que
pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida
i e uma comunhão de vida em que os cônjuges assumem um e
outro os deveres enunciados no art O adjetivo plena
referia se manifestamente ao substantivo comunhão e devia
precede lo numa boa formulação legislativa
o Quanto à segunda alteração ela era exigida pelo art n da
Constituição Não podendo a lei utilizar designações discriminatórias
como a de ilegítimo relativas à filiação entendia se mal que o
Código dissesse que o fim do casamento era o de constituir
legitimamente família do que poderia depreender se que era
ilegítima a família não fundada no casamento e a filiação dela
resultante O termo legitimamente só poderia ser aceito na medida
em que se quisesse com ele dizer em conformidade com a lei e foi
por isso que a Reforma o substituiu pela perífrase que utilizou

Plena comunhão de vida  Trata se de uma comunhão de vida em que os cônjuges


estão reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito fidelidade coabitação
cooperação e assistência art comunhão de vida exclusiva art
alínea c e não livremente dissolúvel art
 Reconheça se no entanto que a eliminação recente da relevância da culpa
para a dissolução do casamento e a simplificação progressiva do regime do
divórcio tornam frágeis os deveres recíprocos e permitem uma dissolução
relativamente fácil do vínculo

Por fim a procriação sendo um fim normal ou natural não é todavia um fim
absolutamente essencial do casamento civil pelo que não deve entrar na respetiva
definição
 A impotência não é no Direito Português impedimento matrimonial A
impotência de um dos cônjuges só pode servir de fundamento à anulação do
casamento quando ignorada do outro cônjuge nos termos do art
sendo assim a anulabilidade do ato simples medida de proteção do interesse
deste
 O Direito Português não dá relevo à consumação do matrimónio através da
cópula podendo dizer se que o casamento civil não vale mais depois de
consumado que antes da consumação

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Noção legal de casamento católico  Ato da vontade pelo qual o homem e a


mulher por pacto irrevogável se entregam e recebem mutuamente a fim de
constituírem o matrimónio vide cânone n O casamento católico é um
sacramento ao mesmo tempo que um ato ou contrato vide cânone n
sendo desta ideia que a )greja parte para chamar também para si a regulamentação
do ato matrimonial

No casamento católico a consumação continua a ter um relevo que não possui no


casamento civil Não é que seja necessária para a perfeição do ato pois o
casamento canónico é um contrato consensual e não real Mas a consumação como
que torna o ato mais estável pois só depois de consumado é que o casamento
católico goza de indissolubilidade não apenas intrínseca mas também extrínseca
 Na verdade o casamento não consumado pode dissolver se por graça ou
dispensa pontifícia dispensa do casamento rato e não consumado vide
cânone n

No Direito Canónico a impotência é impedimento dirimente vide cânone


n o que também mostra como o espírito do direito canónico é diverso
neste ponto do Direito Civil

Por outro lado como estado o casamento católico ostenta patentemente aquelas
mesmas características do casamento já referidas e que são suas propriedades
essenciais
 A unidade ou exclusividade
 A indissolubilidade  A vocação de perpetuidade do casamento católico é
mesmo muito mais forte do que a do casamento civil pois são
extremamente raros os casos previstos nos cânones a em que o
Direito Canónico permite a dissolução do vínculo matrimonial

Às propriedades e características essenciais do casamento como ato e como estado


correspondem na formulação tradicional os três bens do matrimónio
a Procriação e educação dos filhos bonum prolis
b Mútua fidelidade bonum fidei
c )ndissolubilidade bonum sacramenti

Os elementos essenciais que individualizam o casamento exprimem se em direitos


e deveres recíprocos dos cônjuges e se estes têm intenção de não assumir esses
deveres excluindo um ou alguns daqueles bens o casamento é inválido por falta
de consentimento matrimonial
 Cânone n  se uma ou ambas as partes por um ato positivo de
vontade excluírem algum elemento essencial do matrimónio ou alguma
propriedade essencial contraem no invalidamente

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 )sto é o que os canonistas chama simulação parcial Os cônjuges declaram


querer casar mas o que querem verdadeiramente é um casamento
desfigurado ou descaracterizado em aspetos que lhe são essenciais
As modalidades de casamento

Artigo
Casamento católico e civil
O casamento é católico ou civil
A lei civil reconhece valor e eficácia de casamento ao matrimónio católico nos
termos das disposições seguintes

Art n da CRP  As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas


do Estado e são livres na sua organização e no exercício das suas funções e do culto
 Está em causa o princípio da laicidade do Estado Português

Se admitimos que podemos ter duas figuras distintas de casamento e é esta a


posição adotada nesta cadeira há uma necessidade de articular as diferentes
modalidades de casamento e formas de celebração O Estado tem uma prerrogativa
de atribuir os efeitos civis a qualquer modalidade de casamento que seja válida e
reconhecida entre nós

O casamento civil não é a única modalidade do casamento (á também o


matrimónio católico art a que a lei civil reconhece valor e eficácia de
casamento

O casamento católico é uma verdadeira modalidade de casamento no ordenamento


jurídico português uma vez que este admite a eficácia civil do Direito Canónico na
regulamentação de aspetos não meramente formais do casamento católico
 Com efeito as decisões das autoridades eclesiásticas relativas à nulidade do
casamento e à dispensa pontifícia do casamento rato e não consumado
podem produzir efeitos civis art Concordata e art CC
 Tais decisões aplicam o Direito Canónico aos requisitos de validade do
matrimónio católico e incidem sobre uma causa particular de dissolução
dessa mesma espécie de matrimónio i e a dispensa do casamento rato e não
consumado

Outro é o tratamento dado pelo Estado português aos demais casamentos


religiosos relativamente aos quais não há nenhuma norma semelhante ao art
da Concordata e ao art do Código Aos casamentos religiosos não católicos
celebrados perante o ministro do culto de uma igreja ou comunidade religiosa
radicada no país evangélico judaico islâmico etc são reconhecidos efeitos civis
art n da Lei da Liberdade Religiosa

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 Art n Lei da Liberdade Religiosa  São reconhecidos efeitos civis ao


casamento celebrado por forma religiosa perante o ministro do culto de uma
igreja ou comunidade religiosa radicada no País O ministro do culto devera ter
a nacionalidade portuguesa ou sendo estrangeiro não nacional de Estado
membro da União Europeia ter autorização de residência temporária ou
permanente em Portugal
 Contudo os casamentos em apreço estão integralmente sujeitos ao regime
que vigora para o casamento civil salvo no que toca a alguns aspetos de
forma arts e da Lei da Liberdade Religiosa
 Bem vistas as coisas estes são casamentos civis sob forma religiosa

Quanto ao conceito de )grejas ou de outras comunidades religiosas com que o


Estado poderá colaborar este é um conceito normativamente fixado art e
da Lei da Liberdade Religiosa

É usual distinguir se entre


 Sistema de casamento religioso obrigatório  O Estado reconhece eficácia
civil apenas ao casamento celebrado por forma religiosa Era o que sucedia
na Grécia onde até a forma religiosa do casamento segundo os ritos da
)greja ortodoxa era a única permitida independentemente da religião dos
nubentes
 Sistema de casamento civil obrigatório  Os casamentos religiosos não
produzem efeitos civis O Estado só atribui relevância jurídica ao casamento
civil celebrado segundo a forma fixada na lei civil É o sistema que vigora em
França e que vigorou em Portugal entre e
 Sistema de casamento civil facultativo  São conferidos efeitos civis quer ao
casamento celebrado por forma civil quer ao casamento celebrado por forma
religiosa Os nubentes que pretendam contrair matrimónio relevante perante
o Estado podem escolher entre a forma laica e a forma religiosa Este sistema
comporta duas variantes
a Na primeira  O Estado só reconhece um regime particular ao
casamento religioso nos aspetos formais em tudo o resto é aplicável
a lei civil O casamento laico e o casamento religioso são apenas duas
formas distintas de celebração do matrimónio Esta variante vigora
na Grécia e no Brasil
b Na segunda  O Estado admite a eficácia do direito da igreja ou
comunidade religiosa em aspetos que não são meramente formais O
casamento laico e o casamento religioso são dois institutos ou duas
modalidades diferentes Esta variante vigora em Espanha e )tália
 Sistema de casamento civil subsidiário  O Estado reconhece o casamento
religioso apenas admitindo o casamento laico para os casos em que é
considerado legítimo pelo direito da igreja ou da comunidade religiosa Foi o
sistema que vigorou em Espanha de a as partes tinham de

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contrair matrimónio católico a não ser que se provasse que nenhum dos
contraentes professava a religião católica hipótese em que já seria admitida
a celebração do casamento civil

Desde a Concordata de até agora tem vigorado em Portugal o sistema de


casamento civil facultativo

Três corolários que podemos extrair


)nadmissibilidade de sistema de casamento civil obrigatório
)nadmissibilidade de sistema de casamento religioso obrigatório ou
subsidiário
Admissibilidade de diferentes formas de casamento religioso

Antes da Lei da Liberdade Religiosa o casamento laico era facultativo para os


católicos que podiam escolher livremente entre aquele e o casamento católico
Para os membros de outras confissões religiosas era obrigatória a celebração do
casamento laico pois o Estado não atribuía eficácia civil aos casamentos religiosos
não católicos
 Atualmente o casamento laico é facultativo para todos os membros de
igrejas ou comunidades religiosas radicadas no país sejam católicos ou
não

O nosso sistema de casamento civil facultativo enquadra se na segunda variante


de dupla modalidade O casamento civil e o casamento católico são dois institutos
diferentes Contudo o casamento religioso não católico carece de autonomia
enquanto modalidade integrando se no casamento civil que assim comporta
duas formas a civil e a religiosa As partes podem escolher entre o casamento civil
celebrado por forma religiosa e o casamento católico

Modalidades de casamento

Casamento Casamento
civil católico

Sob forma Sob forma


religiosa civil

O Regime Jurídico do Casamento Católico

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O casamento católico é uma das formas de celebração de casamento sob forma


religiosa e em que razão das suas especificidades deve ser reconhecida como uma
modalidade de casamento própria art )sto evidencia uma ligação secular
entre o Estado e a )greja

Sede normativa  Temos que ter presente


 A Concordata de arts a  O art tem de ser articulado
com o art da Constituição Este artigo explica que tipo de lei civil é esta
O art determina o início de produção de efeitos do casamento católico
nomeadamente desde a data de celebração O art enuncia que os
cônjuges assumem os deveres perante a igreja O art tem de ser
articulada com o art
 O Código de Direito Canônico Livro )V Parte ) Título V)) arts
Capítulo )) Capítulo ))) arts Capítulo )V arts a
Capítulo V))) arts a Capítulo )X arts a Capítulo
X Livro V)) Parte ))) Título ) Capítulo )) arts a Capítulo )))
arts a Capítulo )V
 Lei da Liberdade Religiosa art
 Código do Registo Civil arts e arts e a
Aa C
 Código Civil arts a

Consentimento

Cânone  Origina o matrimónio o consentimento entre pessoas hábeis por


direito legitimamente manifestado o qual não pode ser suprido por nenhum poder
humano O consentimento matrimonial e o acto da vontade pelo qual o homem e a
mulher por pacto irrevogável se entregam e recebem mutuamente a fim de
constituírem o matrimónio

É o consentimento legitimamente manifestado que origina o matrimónio um


consentimento que não pode ser suprido por qualquer poder humano

O cânone considera incapazes de contrair matrimónio por não poderem


prestar consentimento válido todos os que se encontrem em qualquer das três
situações aí previstas
Os que carecem de suficiente uso da razão o qual se presume a partir dos
sete anos  Abrangem se tanto as doenças mentais que revestem caráter
permanente ou habitual ex esquizofrenia como as perturbações mentais
transitórias ex alcoólicos toxicómanos etc
Os que sofrem de grave defeito de discrição do juízo acerca dos direitos e
deveres essenciais do matrimónio que se devem dar e receber mutuamente
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 Abrangem se as perturbações que retiram ao sujeito a capacidade crítica


ou seja a capacidade para ponderar concretamente na prática o casamento
que vai celebrar e as obrigações inerentes ao mesmo
Os que por causas de natureza psíquica não podem assumir as obrigações
essenciais do matrimónio  Abrangem se as anomalias psíquicas ou
psicossexuais que não permitem assumir as obrigações essenciais do
casamento quer o débito conjugal quer o estabelecimento do totius vitæ
consortium ou seja da relação interpessoal que constitui objeto do
consentimento matrimonial

À semelhança do que acontece no Direito Civil o Direito Canónico exige que o


consentimento para o casamento seja atual pessoal puro e simples perfeito e
livre

É necessário que os contraentes se encontrem simultaneamente presentes por si


mesmos ou por procurador para contraírem validamente matrimónio devendo
expressar o seu consentimento por palavras ou se não puderem falar por sinais
equivalentes cânone n

Os requisitos necessários para se celebrar validamente o casamento por


procuração estão expressos no cânone Deve notar se que ao contrário do
que acontece no Direito Civil o Direito Canónico permite que ambos os nubentes
se façam representar na celebração do casamento

Casos de divergência entre a vontade e a declaração cânone n


 Presunção de conformidade entre o consentimento interno da vontade e as
palavras ou os sinais empregados
 A divergência é todavia relevante e o casamento inválido se uma ou ambas
as partes por um ato positivo de vontade excluírem o próprio matrimónio
ou algum elemento essencial do matrimónio ou alguma propriedade
essencial
o Basta que uma das partes tenha tal vontade podendo assim dizer se
que o direito canónico dá relevância à reserva mental
o Dá igualmente relevo à chamada simulação parcial enquanto
permite que o casamento seja declarado nulo se uma ou ambas as
partes excluírem alguma das suas propriedades essenciais

Casos de vícios do consentimento cânones n e ss


 Erro cânones n e  O erro sobre a natureza do
contrato releva na medida em que para haver consentimento matrimonial
é necessário que os cônjuges pelo menos não ignorem que o casamento é
uma união permanente entre um homem e uma mulher ordenada à
procriação de filhos mediante alguma cooperação sexual O casamento é

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inválido se qualquer dos cônjuges ignorava a natureza do casamento


embora tal ignorância não se presuma depois da puberdade O erro acerca
da pessoa torna inválido o matrimónio cânone n O erro acerca de
qualidade da pessoa porém ainda que dê causa ao contrato não o torna
inválido a não ser que direta e principalmente se pretenda essa qualidade e
não a pessoa O erro sobre a unidade a indissolubilidade ou a dignidade
sacramental do casamento contato que não determine a vontade não vicia
necessariamente o consentimento matrimonial cânone n assim
como não exclui necessariamente este consentimento a certeza ou a opinião
acerca da nulidade do matrimónio cânone
 Dolo cânone n  É fundamento de nulidade do casamento se
estiver preenchido o condicionalismo do cânone n Quem contrai
matrimónio enganado por dolo perpetrado para obter o consentimento
acerca de uma qualidade da outra parte que por sua natureza possa
perturbar gravemente a comunhão de vida conjugal contrai o
invalidamente

Capacidade

Os impedimentos de direito canónico podem ser de direito divino ou de direito


eclesiástico só os segundos sendo suscetíveis de dispensa dirimentes ou
impedientes absolutos ou relativos perpétuos ou temporários públicos ou
ocultos consoante possam ou não se provar no foro externo

)mpedimentos Dirimentes Capítulo ))) do Título V))


o
 Falta de idade nupcial cân
 )mpotência cân
 Vínculo matrimonial anterior
cân
 Disparidade de culto cân
 Ordens sacras cân
 Voto público perpétuo de
castidade emitido num instituto
religioso cân
 Rapto cânone
 Crime cânone
 Consanguinidade cânone
 Afinidade cânone
 (onestidade pública cânone

 Parentesco legal cânone

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Relativamente ao impedimento dirimente de falta de idade nupcial o cânone


fixa as idades nupciais de e anos para o homem e para a mulher
respetivamente O do mesmo cânone permite que as conferências episcopais de
cada país estabeleçam idade superior
 O Decreto n da Conferência Episcopal Portuguesa de determinou
que a idade mínima para a celebração lícita do matrimónio na mulher será de
anos completos
 A idade de anos só é exigida para a celebração lícita do matrimónio da
mulher não para a sua celebração válida não constituindo portanto a falta
de tal idade nupcial impedimento dirimente mas simples impedimento
impediente ao casamento da menor

Além de exigir capacidade de direito canónico o casamento católico requer


porém ainda capacidade de direito civil art C C Os impedimentos de
direito civil também são impedimentos ao casamento católico o qual só pode ser
celebrado se for presente ao pároco um certificado passado pelo conservador e em
que este declara que não há ou que não conhece impedimentos civis à celebração
do casamento católico art

Mas se se celebrar casamento católico sem observância deste preceito e houver


impedimentos de direito civil quid iuris
 O casamento católico não pode ser anulado no foro civil art O
casamento não devia ter se celebrado se havia impedimentos civis mas se se
celebrou os tribunais civis não podem pronunciar se sobre a sua validade ou
invalidade O problema que se põe ao Estado é apenas o de saber se deverá
ou não permitir a transcrição do casamento
 A celebração do casamento católico faz surgir um novo interesse público o
interesse de que o casamento católico venha a produzir efeitos civis para que
não haja uniões legítimas à face da )greja e ilegítimas à face do Estado
 Procurando conciliar os dois interesses da melhor forma a lei autoriza ou
não a transcrição consoante a espécie de impedimento de que se trate
Sacrifica os impedimentos impedientes a que tem menos apego interesses
públicos de segunda ordem mas não sacrifica os impedimentos dirimentes
interesses públicos fundamentais
 Se o casamento católico foi urgente então pode celebrar se legalmente
mesmo sem processo preliminar e passagem do certificado e por isso a
solução da lei é diferente
o Sacrificam se os impedimentos dirimentes com exceção dos três em
que existe mais clara divergência entre os dois sistemas de
impedimentos o de falta de idade nupcial o de interdição ou
inabilitação por anomalia psíquica e o de casamento civil anterior
não dissolvido desde que em qualquer dos casos o impedimento
ainda subsista

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A apreciação dos impedimentos se reporta ao momento da celebração do


casamento
 A demência será irrelevante quando se tenha manifestado entre o momento
da celebração religiosa e o momento em que vem a ser pedida a transcrição
do casamento
 A transcrição não pode ser recusada no caso de algum dos nubentes ter
estado demente no momento da celebração mas agora já não estar O
legislador foi sensível à consideração de ordem prática de que não se
justificaria recusar a transcrição de um casamento que bem poderia agora
ser celebrado

Formalidades preliminares e celebração do casamento

 Apenas veremos as formalidades civis do casamento católico omitindo a


descrição das formalidades canónicas

O processo preliminar do casamento católico corre na conservatória do registo


civil como o processo preliminar do casamento civil E corre fundamentalmente
nos mesmos termos (á só duas coisas novas a salientar
 A declaração para casamento também pode ser prestada neste caso sob a
forma de requerimento por si assinado pelo pároco competente para a
organização do processo canónico perante o qual se presume naturalmente
que os nubentes já manifestaram a sua vontade de casar art n
CRC
 O casamento católico não pode ser celebrado sem que perante o respetivo
pároco seja exibido certificado passado pelo conservador e em que este
declare que os nubentes podem contrair casamento arts e O
conservador deve passar o certificado dentro do prazo de um dia a contar
da data do despacho final ou daquela em que os nubentes manifestaram
intenção de contrair casamento católico art n e Só não é assim
quanto aos casamentos urgentes O pároco que oficiar no casamento sem
lhe ser presente o certificado incorre na pena de desobediência qualificada
art n a CRC

Registo do casamento a transcrição

Logo após a celebração do casamento católico deve ser lavrado em duplicado o


respetivo assento paroquial no livro de registo ou em arquivo eletrónico da
paróquia art CRC O assento e o duplicado devem ser assinados pelos
cônjuges pelas testemunhas e pelo sacerdote que os tiver lavrado art n

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Casamentos urgentes e de consciência

O casamento católico pode ser celebrado sem que perante o respetivo pároco seja
exibido o certificado a que se refere o art n CRC quando se trate de
casamentos in articulo mortis na iminência de parto ou cuja imediata celebração
seja expressamente autorizada pelo ordinário próprio por grande motivo de
ordem moral arts n CC e n CRC
 Estes casamentos a que chamaremos urgentes podem pois celebrar se
independentemente de processo preliminar

Artigo
Dispensa do processo preliminar de casamento
O casamento in articulo mortis na iminência de parto ou cuja celebração imediata seja
expressamente autorizada pelo ordinário próprio por grave motivo de ordem moral
pode celebrar se independentemente do processo preliminar de casamento e de
passagem do certificado previsto no artigo anterior
A dispensa do processo preliminar de casamento não altera as exigências da lei civil
quanto à capacidade matrimonial dos nubentes continuando estes sujeitos às sanções
estabelecidas na mesma lei

A lei permite que em determinadas circunstâncias dada a urgência do casamento


este pudesse celebrar se independentemente de processo preliminar de
publicações e de passagem do certificado mas isso sem quebra do princípio
fundamental de que o casamento católico só pode ser celebrado por quem tiver a
capacidade matrimonial exigida na lei civil art

Celebrado o casamento urgente o pároco lavra nos termos gerais o assento


paroquial de que deve enviar duplicado à conservatória Com o duplicado é
também remetida cópia da autorização autenticada com a assinatura do pároco
art n CRC

A transcrição porém não tem agora de ser feita no prazo do art n salvo se
já tiver corrido o processo preliminar se não for este o caso é preciso que corra
esse processo substituindo se a declaração dos nubentes pelo duplicado ou pela
certidão do assento canónico art Só depois é que a transcrição se faz nos
dois dias seguintes ao despacho final do conservador art n A transcrição
deve ser recusada nomeadamente nos casos previstos na alínea e do n do art

Nulidade do casamento e nulidade da transcrição

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A invalidade do casamento católico determina como valor jurídico negativo a


nulidade No casamento civil por outro lado a regra é a anulabilidade e em casos
excecionais a inexistência jurídica

Nos termos da Concordata de o Estado português não está vinculado a


reservar aos tribunais eclesiásticos a apreciação da validade ou nulidade dos
casamentos católicos
o Contudo o artigo C C permanece em vigor pelo que a nulidade dos
casamentos católicos só pode ser declarada pelos tribunais eclesiásticos

Os termos em que as decisões das autoridades eclesiásticas relativas à nulidade do


casamento são reconhecidas e produzem efeitos civis estão enunciados no art
da Concordata
 As decisões das autoridades eclesiásticas relativas à nulidade do casamento
católico verificadas pelo órgão eclesiástico de controlo superior produzem
efeitos civis a requerimento de qualquer das partes após revisão e
confirmação nos termos do direito português pelo competente tribunal do
Estado

O direito canónico admite porém a convalidação do casamento católico mercê do


qual o casamento inválido se torna válido e que pode revestir duas formas
Convalidação simples câns Código de Direito Canônico 
Forma ordinária de convalidação do casamento católico Consiste numa
renovação do casamento através de uma nova prestação do consentimento
o qual só tem efeitos ex nunc desde o momento da própria convalidação A
convalidação simples supõe que os cônjuges podem agora contrair
matrimónio válido por ter cessado a causa da invalidade v g um
impedimento dirimente de caráter temporário
Sanatio in radice câns Código de Direito Canônico  Forma
extraordinária de convalidação )mplica uma ratificação do casamento
inválido É dispensada a renovação do consentimento aproveitando se
portanto o consentimento prestado para o casamento inválido A
convalidação do casamento não é aqui efeito de um novus voluntatis actus in
matrimonium mas efeito de um ato de concessão da competente
autoridade concessão que tem a virtude de tornar válido o casamento São
três os requisitos para que seja concedida a sanatio in radice
a É preciso que se trate de nulidade procedente de impedimento de
direito eclesiástico ou de falta de forma Nos termos do cânone
a sanação na raiz importa a dispensa do impedimento se o
houver e da forma canónica se não tiver sido observada
b É necessário que tenha havido um consentimento naturalmente
suficiente para fazer surgir o casamento e que tal consentimento se
mantenha da parte de ambos os cônjuges

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c (á de haver uma causa grave a justificar a sanatio sendo esta o


único meio de tornar o matrimónio válido

Distinta da nulidade do casamento católico é a nulidade da transcrição do


casamento católico Quanto à validade ou nulidade da transcrição já os tribunais
civis podem pronunciar se
 Nos termos do art alínea d CRC o registo é nulo quando tratando se
da transcrição de casamento católico tenha sido lavrado com infração do
disposto nas alíneas d e do n do art
 Os interesses de ordem pública que estão na base dos impedimentos
matrimoniais e que justificam que a transcrição seja recusada nos casos
referidos nas alíneas d e e do n do art igualmente justificam que a
transcrição seja nula quando o conservador a tenha feito indevidamente

Natureza Jurídica do casamento católico

O casamento católico é um sacramento O casamento católico é um acto jurídico


relevando a lei civil e determinando a constituição de um conjunto de direitos na
esfera dos cônjuges
Natureza jurídica do casamento civil

O casamento civil é um contrato art Este contrato é um negócio jurídico


bilateral sinalagmático existência de vínculos recíprocos solene processo
preliminar articula se com o requisito da capacidade a averiguação da existência
de impedimentos arts a CRC celebração registo civil pessoal não
suscetível de avaliação pecuniária intuito personae a pessoa do contraente é
determinante e não pode ser substituída sem mais especial tem traços
identitários que o afasta do comum dos negócios jurídicos

É um contrato de conteúdo vinculado e típico as normas não podem ser afastadas


por vontade das partes

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A constituição da relação jurídica matrimonial


civil

Requisitos de perfeição

A capacidade matrimonial

A capacidade matrimonial não é sinónimo de capacidade jurídica Em termos


preliminares quando analisamos este requisito analisamos uma manifestação do
conceito de capacidade jurídica em dois planos capacidade de gozo
consequências que uma eventual celebração irregular tem no plano da capacidade
de exercício

Relevam situações
a A maturidade
b Consciência de vinculação É relevante em dois casos idade muito reduzida
e idade muito avançada processo psicológico ou psíquico que afecte o
estado de querer
c Ausência de um impedimento Razões biológicas jurídico legais

Relativamente ao casamento católico relevam os arts a C C e nos


cânones e
Só se reconhece capacidade matrimonial àqueles que tenham também capacidade
civil e aqueles que sejam aprovados no que respeita ao chamado processo
preliminar afere se a inexistência de impedimentos do casamento católico

Existem situações pontuais e singulares que admitem a possibilidade de ser


dispensado o processo preliminar art CC
 Casamento celebrado na iminência da morte
 Casamento na iminência do parto
 Casamento cuja celebração imediata seja expressamente autorizada pelo
ordinário próprio por grave motivo de ordem moral

)mpedimentos dirimentes arts e ss O efeito desta situação no plano do


casamento católico é tornar a pessoa inábil para o casamento (avendo um
impedimento há uma situação de incapacidade para celebrar o casamento

Dispensa quanto à aplicação de impedimentos dirimentes v Cânones relevantes


 )mpotência No Direito Civil esta é irrelevante Já no casamento católico é
um impedimento dirimente Só assim não será no caso de impotência
duvidosa
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 Esterilidade Não é um impedimento


 Vínculo anterior não dissolvido A ideia de que ninguém pode celebrar
casamento católico se estiver anteriormente vinculado por um casamento
anterior que não tenha sido declarado nulo art CP crime de
bigamia
 Matrimónio entre baptizados e não baptizados cânone Admite se a
possibilidade de não baptizados e baptizados celebrarem casamento
 Casamento entre homem e mulher raptado ou retido com intenção de com
ele casar cânone (avendo uma situação de cativeiro o casamento
católico que venha a ser celebrado pode ser invalidado
 Casamento que tenha antecedido a prática de um crime cânone
 Relações familiares cânones a Linha recta de
consanguinidade linha colateral até ao grau afinidade na linha recta
impedimento de pública honestidade convivência em economia comum ou
união de facto parentesco legal originado na adopção

)mpedimentos fundados em razões religiosas e

Casamento Civil

Arts a art alínea a art e fazer


remissão na parte dos impedimentos dirimentes

Estes impedimentos não se podem admitir em termos discricionários (á um


princípio da tipicidade os impedimentos têm de estar previstos na lei Temos de
contemplar outros diplomas além do C C que vêm completar os impedimentos aí
previstos
 Ex Regime Jurídico do Apadrinhamento Civil art está em causa um
impedimento impediente É proibido o casamento entre padrinhos e
afilhados

)mpedimentos dirimentes vs )mpedimentos impedientes


 Os dirimentes são aqueles que invalidam o próprio casamento No C C essa
invalidade é sancionada com anulabilidade
 Os impedientes não prejudicam a validade do acto mas são relevantes para
estabelecer outras consequências desfavoráveis
Falta de autorização dos pais ou do tutor para casamento do nubente
problema de capacidade de exercício que é suprida através do instituto da
assistência O nubente não deixa de intervir no acto Mas como o nubente
não tem capacidade genérica de exercício necessita de ser coadjuvado no
acto por terceiros titulares das responsabilidades parentais que vão
autorizar o casamento V arts e do C Reg Civ arts e
É preciso provar a maturidade do menor e que existem razões

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ponderosas que justificam a celebração do casamento Se o menor não


obteve a autorização então a consequência será o art
Prazo internupcial remissão para e e se tiver
sido celebrado casamento com desrespeito pelo prazo internupcial aplica
se o art
Parentesco no terceiro grau da linha colateral
Vínculo de tutela curatela ou administração legal de bens art alínea
b

)mpedimentos dirimentes absolutos e relativos


 Absolutos obstam ao casamento com qualquer outra pessoa É o caso da
pessoa com idade inferior a anos art alínea a A consequência
deveria ser a nulidade por haver incapacidade de gozo A incapacidade de
gozo determina no geral a nulidade dos atos não resultando de nenhum
preceito em particular Assim precisamos do art Por princípio geral é
a nulidade e devia ser a nulidade por quem tem capacidade de gozo
contudo admite se que o legislador estabeleça em sentido diverso art
alínea a Outro caso é a demência notória art alínea b
incapacidade acidental art Demência notória art n pessoa
de normal diligência o teria podido notar Por fim o casamento anterior
não dissolvido art alínea c art CP
 Relativos art vão obstar ao casamento entre as pessoas em causa
Parentesco na linha reta remissão para o art
Responsabilidades parentais
Parentesco no segundo grau da linha colateral
Afinidade na linha reta
Condenação anterior de um dos nubentes como autor ou cúmplice por
homicídio doloso ainda que não consumado contra o cônjuge do outro
art n alínea b C P art n

)mpedimentos dispensáveis e não dispensáveis

O Consentimento dos nubentes arts a a

Para casar é necessário que se queira casar manifestação de vontade qualificada


expressa esclarecida livre lícita Não se pode admitir a interferência de situações
que configurem vícios da vontade Exige se um consentimento qualificado

Esta matéria introduz algumas dificuldades de interpretação (á aqui uma


aparente desarmonia entre o regime comum dos vícios da vontade e aquele que é
consagrado em sede de Direito da Família De qualquer das formas há uma
reduzida aplicabilidade prática dos vícios da vontade
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O consentimento tem de ser prestado presencialmente i e intuito personae sem


prejudicar a possibilidade de recurso em casos excecionais do procurador O
consentimento não pode dar lugar a dúvidas Não podem subsistir dúvidas quanto
à vontade Tem de haver uma declaração firme art e alínea f do Cód
Reg Civ

Este consentimento tem de ser prestado numa cerimónia pública prejudicando os


casamentos puramente secretos Como o casamento não é um acto que assenta
única e exclusivamente na comunhão de afeto temos de seguir e cumprir os
trâmites exigidos por lei É necessária a presença de testemunhas que vão elas
próprias proceder à assinatura de modo a atestar que a vontade foi prestada sem
reservas

Requisitos Gerais
Maturidade  Este requisito afasta a menoridade Em regra o menor de
idade é presumido imaturo para a celebração do casamento Por essa razão
o legislador consagrou como idade núbil os anos Antes dos anos não
existe capacidade de gozo sendo o acto de casamento celebrado anulável
art alínea a A imaturidade pode também ser fundada numa
situação de incapacidade acidental ou de usura i e situação de extrema
necessidade
Liberdade  O sujeito tem de formar a sua vontade em termos livres ou
espontâneos Não se pode ter sido coagido a celebrar o acto de casamento
Não pode igualmente haver usura i e se estou dependente não estou no
controlo da minha liberdade de acção e decisão
Esclarecimento  A vontade tem de ser manifestada por alguém que esteja
plenamente esclarecido sobre a pessoa com que vai casar i e as suas
qualidades características e atributos Também deve ser esclarecida sobre
a própria natureza jurídica do casamento e os efeitos que se vão aplicar É
fundamental que os contraentes assumam ter conhecimento das
consequências quer pessoais quer patrimoniais que se aplicam por virtude
do casamento
Licitude da motivação  O sujeito tem que ter por finalidade uma
finalidade que não seja contrária aos princípios de ordem pública e de bons
costumes

Delimitação positiva

Casamento católico
 Cânones e ss

Casamento civil

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 Arts e

Na matéria do casamento o legislador é mais exigente não se bastando com um


consentimento singelo Assim é necessário
Atualidade art
Aceitação dos efeitos legais do matrimónio
Pessoal art
Puro e simples incondicionalidade não se admite a aposição de
condições
Perfeito é um conceito que tem de ser completo prestado de forma livre e
lícito Considera se como imperfeito todo o casamento que se caracterize
por uma assimetria entre a vontade real e a vontade conjuntural e a
assimetria entre a vontade real e a declarada O consentimento é perfeito
se for completo O acto de consentimento é também ele típico estando
sujeito ao respeito pelas palavras que são impostas pelo próprio legislador
Exclui se o consentimento prestado por e mail cartas etc

Delimitação negativa

Casamento católico
 Cânones

Casamento civil
 Arts alínea b a e e

Pode se considerar uma taxatividade em sede de causas de invalidade do


casamento
 O C C nos arts e ss não consagra um elenco fechado em sede de
invalidade do casamento O art também consagra situações de
inexistência do casamento i e valor jurídico negativo
 O casamento pode ainda ser nulo se for celebrado por menor de idade que
não tenha idade núbil

Não consideração da reserva mental  A doutrina maioritária tem considerado


que não se podem considerar a reserva mental como causa de invalidade do
casamento porque não consta dos arts e seguintes

Em sentido contrário dir se á que a reserva mental não é referida no art


logo não gera anulabilidade e não consta do art por isso não gera
inexistência jurídica mas poderá gerar a nulidade do casamento
- Se a simulação gera a anulabilidade do casamento por maioria de razão a
reserva mental deveria gerar somente também a anulabilidade do
casamento
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- Se a reserva mental não consta do art não pode estar lá

Tem se entendido que o elenco constante do art é ele próprio taxativo Não
há taxatividade da ineficácia em conceito amplo mas existirá um princípio de
tipicidade em sede de anulabilidade do casamento

As quatro situações típicas que geram anulabilidade do casamento


Erro acerca da identidade física do outro nubente
Coação física
Coação moral
Erro

A ausência de rigor técnico desta secção do C C faz suscitar um sem número de


dúvidas aqui Na TGNJ temos três hipótese típicas de falta de vontade
Coação física
Falta de consciência da declaração
Declarações não sérias
Para a doutrina estas faltas de vontade ou geram nulidade ou inexistência jurídica

Ao lado da falta de vontade temos situações de vício na formação da vontade


Erro (á duas modalidades simples e qualificado por dolo
Medo
Usura

Por fim a incapacidade acidental é estudada na capacidade sendo uma situação de


incapacidade jurídica

No C C em sede de Direito da Família isto aparece tudo misturado Daí as


dificuldades de interpretação que aqui surgem

O Prof Antunes Varela  Dizia que estão em questão casos de falta de vontade
Podiam resultar da falta de vontade de acção de declaração e negocial Nestes
artigos podemos ter uma multiplicidade de situações Adicionalmente dizia que
não se pode transpor e aplicar em bloco o regime dos arts e ss aqui O que
releva é o que está em Direito da Família lei especial vai consumir a lei comum

(á aqui uma aparente sobreposição de hipóteses arts e ss


(á falta de vontade é uma divergência entre vontade e declaração ou é uma falta
de vontade

alínea a ausência de consciência do acto praticado )sto é sinónimo de

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alínea b erro acerca da identidade física Que erro é este Erro quanto ao
declaratário é um erro vício art Mas a doutrina de direito da família
entende que o que está em causa é um erro obstáculo isto é erro na declaração
divergência entre vontade e declaração

Art erro que vicia a vontade O legislador está a dizer as coisas duas vezes
Ou a desenvolver o que resultaria da alínea

Simulação art alínea d isto é verdadeiramente um caso de simulação


)sto é o caso de fraude à lei Temos um verdadeiro negócio em fraude à lei de
acordo com a doutrina clássica Ou de acordo com a doutrina renovada um caso de
contrariedade à lei

Regime

O legislador não enuncia nos arts e ss os requisitos particulares destas


figuras A consequência jurídica do casamento será a anulabilidade É claro que se
entender que a falta de vontade e de consciência de declaração resultou numa
situação de falta de consciência de declaração ou de declaração não séria tenho de
aplicar o regime

Art  Esta taxatividade que aqui é definida não prejudica a articulação com
o regime comum e com as figuras que possam estar na base destas figuras
Erro  A doutrina entende que é um caso de erro na declaração A Prof Ana Filipa
Antunes tem dúvidas Considera que o art vai proceder ao desenvolvimento
desta alínea c do art Pode haver em casos extremos uma divergência entre
vontade e declaração

Tipicidade em matéria de casos de falta de vontade art alínea b art


Esta tipicidade que são quatro as hipóteses relevadas pelo legislador de
casos de falta de vontade Em sede de direito matrimonial não se convoca o valor
jurídico negativo da nulidade Temos quatro casos típicos de anulabilidade do
casamento
 Ausência de consciência do ato art alínea a  Não se deve
reconduzir esta formulação a uma falta de vontade que é a falta de
consciência de declaração Esta ausência de consciência do ato não será
sinónimo necessário da falta de consciência da declaração Também não se
pode concluir que é consequência necessária da incapacidade acidental e
apenas da incapacidade acidental O legislador não se preocupou tanto em
importar uma figura de teoria geral mas ao abrigo desta alínea abranger
uma multiplicidade de situações fácticas
 Erro acerca da identidade física do outro contratante art alínea b 
O problema que se coloca é o de saber se temos um caso de erro

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obstáculo da declaração ou se é um caso de erro vício concretamente erro


sobre a pessoa do declaratário A doutrina aqui tem entendido em termos
predominantes que é um caso de erro na declaração
 Coação física  A coação física está relevada autonomamente no art do
C C É um dos tipos de divergência entre vontade e declaração não
intencional O declarante é impelido por uma força extrínseca à sua pessoa a
declarar algo que não corresponde à sua vontade Não se aplica a ressalva da
parte final do art
 Simulação art alínea d  A simulação está consagrada no art
alínea d estando em causa a simulação absoluta Os cônjuges celebram o
casamento sem quererem assumir uma plena comunhão de vida
Concretamente assumem não se vincular pelas obrigações e deveres
conjugais e não pretenderem exercer os direitos conjugais aplicáveis Para
que se possa considerar a existência de simulação tem de se ter presente o
conceito previsto no art acordo simulatório intenção de enganar
terceiros divergência entre vontade real e vontade declarada É necessário
individualizar o acordo simulatório Como a doutrina defende que só se
aplica a simulação total nos casos de simulação parcial i e intuito das
partes foi afastar a produção de certos efeitos o casamento é válido Se
estamos a trabalhar no contexto da simulação temos que importar traços do
regime comum i e princípio da inoponibilidade da simulação a terceiros de
boa fé existência de restrições probatórias aplicadas aos simuladores A
Prof tem dúvidas que todos os casos apresentados como sendo simulação o
sejam verdadeiramente São casos em que o casamento é celebrado existindo
vontade de casar e de produção de efeitos legais do casamento que se fundam
na existência de uma norma mas não existe concomitantemente uma
vontade do compromisso comum Ex casamento celebrado com propósito
fraudulento obter autorização de residência em país estrangeiro poder
beneficiar do regime sucessório poder beneficiar de regime patrimonial
vigente em sede de casamento Estes casos que são pela doutrina clássica
considerados como casos de simulação são tratados no Direito )nternacional
Privado como casos de fraude à lei A simulação por definição pressupõe uma
divergência entre vontade declarada e real e nestes casos a doutrina chama a
atenção para a inexistência dessa divergência As partes precisam casar para
ter aquele efeito Não há patologia da vontade nem da declaração mas sim da
causa

Podemos admitir também os seguintes casos por alargamento


 Reserva mental  Se tivermos uma reserva mental conhecida do
declaratário para alguns autores o casamento será anulável
 Declarações não sérias  É possível relevar as declarações não sérias ao
abrigo da alínea a do art

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A uma ausência de noção dos casos de falta de vontade e ausência de regime


jurídico particular O intérprete é convidado a preencher esta ausência com o
regime comum

Os vícios na formação da vontade


O legislador releva dois vícios na formação da vontade
Erro art  O legislador não define erro vício desconhecimento ou
falsa representação de uma realidade passada ou presente sobre O erro
sobre a pessoa do declaratário tem um âmbito de aplicação mais confinado
Só permite relevar as qualidades essenciais do outro cônjuge Esta restrição
é assinalável O legislador não autonomiza o erro espontâneo do erro
qualificado por dolo Não distingue como o faz o legislador do Direito Civil
Alguma doutrina Pereira Coelho considera que o erro qualificado por dolo
tem a mesma relevância Quanto aos requisitos de relevância jurídica
verifica se um agravamento do regime Esta ideia é inaplicável em sede de
direito matrimonial Os dois requisitos expressamente enunciados pelo
legislador são a essencialidade i e se não fosse aquele desconhecimento o
casamento não teria sido celebrado num plano subjetivo e objetivo ideia
de razoabilidade e sensatez e da desculpabilidade i e deixa de haver
relevância anulatória se se provar que o desconhecimento se deveu a uma
falta que seja grosseira e portanto não deva ser considerada O requisito
da propriedade é um requisito que ainda hoje é discutido em sede de teoria
geral e que é enunciado em sede de direito matrimonial Para que o erro
vício tivesse relevância anulatória teríamos que demonstrar a inexistência
de outro fundamento de invalidade ou de inexistência jurídica do
casamento que permitisse condicionar a existência válida do casamento A
tese da exigência da propriedade do erro é sufragada pelo Prof Pereira
Coelho e Guilherme Oliveira Por outro lado o Prof Jorge Duarte Pinheiro
não entende que a propriedade seja exigida Alcance prático do requisito da
propriedade  Fico com o leque de opções mais limitado Apela se a uma
ideia de consunção O mais gravoso consome o menos gravoso No caso do
direito matrimonial temos duas hipóteses que geram a anulabilidade
Temos fundamentos de invalidade que são justificados por razoes que não
são estritamente particulares e privativas de um dos cônjuges São razoes
de interesse geral e de ordem pública A atendibilidade à maior gravidade
destes casos pode justificar a consunção Por outro lado há a teoria da
opção segundo a qual pertence ao cônjuge qual o fundamento que vai
utilizar para intentar a ação Muitas vezes em hipóteses concretas haverá
uma sobreposição do requisito da propriedade e da desculpabilidade
Coação  Art alínea b e art O legislador não define coação
moral Os elementos do conceito têm de ser extraídos do art ameaça
do mal ilicitude da ameaça intencionalidade da ameaça A extravagância
dos requisitos de relevância jurídica da coação moral dupla causalidade

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art A coação moral gera anulabilidade O art n procede a


um alargamento do tipo dizendo que não é necessária uma ameaça ilícita
bastando uma promessa de liberação do mal O Prof Jorge Duarte Pinheiro
entende que neste caso está em causa uma situação de usura

Não terá relevância a usura ainda que quanto a este ponto haja autores Prof Jorge
Duarte Pinheiro que entendem que o art n permite dar relevância a esta
figura

Casamento por procuração

Sede normativa  Arts e alínea d a do C R C e


cânone do Código de Direito Canónico

Regime da procuração  Arts a

A procuração é um ato que titula a existência de uma representação jurídica


voluntária

Não há nenhum vício de consentimento no casamento celebrado por procuração


Temos um caso de substituição de vontades na medida em que há uma atuação por
conta e no interesse do representado Quanto à modalidade de procuração exige
se que esteja em causa a procuração com poderes especiais

Forma art n C R C  Admite três grandes hipóteses nomeadamente


Documento assinado pelo representado Documento autenticado Documento
público
 Perante inobservância de forma deve entender se que a procuração é nula
art C C arrastando também a inexistência jurídica do casamento
Art alínea d C C

Só se admite o recurso à procuração por um dos nubentes Não pode haver


casamento celebrado em termos bilaterais por procuração )sto compreende se em
razão da natureza intuito personae do ato

Em termos de requisitos especiais da procuração esta tem de conter poderes


especiais designar em termos expressos o outro nubente e tem que precisar qual
é a modalidade de casamento i e civil ou católico

A procuração uma vez outorgada não subsiste para sempre podendo os seus
efeitos cessar art Admitem se as seguintes formas de cessação de efeitos
da procuração

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Revogação art n e art n C R C  A revogação pode ocorrer


a todo o tempo porque o ato de casamento é muito importante devendo
haver um desvio até do art Posso revogar a minha procuração a todo
o tempo e mesmo com eficácia imediata sem que tenha de ser recebida e
conhecida pelo destinatário A revogação da procuração pode fundamentar
contudo uma obrigação de indemnizar forma de o legislador equilibrar os
interesses em causa Esta eventual obrigação de indemnizar tem por âmbito
o prejuízo que causar se por culpa sua não revogar a procuração a tempo
de evitar o casamento
Morte do constituinte ou do procurador
)nterdição do constituinte ou do procurador
)nabilitação por anomalia psíquica

Devemos ter em consideração o art alínea c e d em sede de inexistência de


jurídica

Natureza jurídica do procurador  Não é recente o debate em torno da natureza


jurídica do procurador dicotomia entre representante e núncio A linha divisória
entre o representante e o núncio está na circunstância de o representante que atua
no nome interesse e por conta de outrem tem uma liberdade decisória e de
conformação do conteúdo do negócio O representante não é um puro executor
um mero transmissor
 O procurador na realidade acaba por não ter liberdade de atuação Vai atuar
no cumprimento de diretivas absolutamente limitadas e estabelecidas no
texto da procuração ato com que vai celebrar o ato e modalidade do ato
Não se lhe reconhece nenhuma liberdade de conformação
 Prof Pereira Coelho e Jorge Duarte Pinheiro  Entendem que está em
causa um verdadeiro representante pois reconhece se ao procurador o
poder de recusar o casamento em circunstâncias excecionais
 Prof Ana Filipa Morais Antunes  Temos elementos em face da lei e da
prática que conduzem a entender que temos não um verdadeiro
representante mas um núncio O mandato que lhe é conferido é
absolutamente exaustivo O conteúdo do negócio celebrado está
determinado na lei integralmente e em termos imperativos não se
reconhece a autonomia da vontade ao contrário do caso da compra e
venda Para além do mais não se reconhece uma margem de decisão e
poder de conformação O poder de recusar no limite a celebração do
casamento é um poder negativo um poder de veto Mas poderes positivos
de conformação e de determinação não existe neste caso O único poder que
existe é somente negativo e impeditivo )sto significa que estamos perante
um núncio

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Ao contrário do que defende o Prof Jorge Duarte Pinheiro não parece que seja
nenhuma extravagancia ao regime do consentimento ter de ser prestado
presencialmente O casamento por procuração não representa uma exceção

As formalidades do casamento

A tramitação comum sistematização

Processo preliminar verificação da existência de um impedimento arts


a a do Cód Reg Civ  O objetivo é averiguar a
existência de algum impedimento de celebração do casamento De acordo
com o art do C C o casamento tem de ser celebrado dentro dos seis
meses seguintes ao despacho de capacidade matrimonial pelo conservador
Celebração arts a e arts a C Reg Civ  De
acordo com o art é necessária a presença de alguém que tenha
competência funcional para celebrar o ato Se isto não ocorrer a
consequência jurídica é a inexistência do casamento Também são
necessárias testemunhas nos casos exigidos por lei Com efeito no contexto
da lei de liberdade religiosa devemos ter em causa o art n alínea c
que exige a presença de duas testemunhas Por outro lado o art n
C R C vem exigir a presença de duas testemunhas sempre que a identidade
dos nubentes não seja identificada por uma das formas aí previstas Por fim
o art alínea b do C R C o casamento urgente exige a presença de
quatro testemunhas
Publicidade Registo art a CC alínea c C C arts
alínea d a do C R C  O art consagra
um elenco de casos de obrigatoriedade do registo do casamento O art
estabelece a forma do registo tendo de ponderar o registo lavrado
por inscrição ou por transcrição arts e C R C O art
consagra a chamada presunção da posse do estado de casado )sto significa
que demonstrando os requisitos cumulativos elencados no n pode se
presumir essa posse do estado de casado Vai permitir suprir a falta de
registo ou a irregularidade do registo O art c consagra se como
impedimento dirimente absoluto o casamento em que não tenha sido
lavrado nenhum registo civil Os arts a vêm esclarecer que
menções devem constar do assento

Regimes Especiais

O processo comum não se vai verificar nestes casos (á quatro casos especiais de
desvio à tramitação comum

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Casamento urgente arts a C C arts e arts


a do C R C e a C R C  É aquele que não se quadra com a
morosidade do casamento comum Ele é celebrado sem processo preliminar
declaração de existência de impedimentos O casamento é celebrado de
forma atípica (á um desvio à tramitação comum por uma de dois razões
há uma dispensa de processo preliminar porque o casamento é celebrado
de forma imediata e autoriza se a celebração do casamento urgente por
quem não tenha competência funcional para o ato art
 Em caso de fundado receio de morte próxima de um dos nubentes
 Em caso de iminência de parto
Se os indícios forem falsos é uma causa justificativa da não homologação do
casamento urgente
Tem de haver um anúncio da declaração à porta de casa onde se encontram
os nubentes Adicionalmente tem de haver uma declaração expressa de
consentimento de cada nubente o que afasta as declarações tácitas Esta
declaração expressa tem de ser presenciada por quatro testemunhas duas
das quais não podem ter vínculos de parentesco Também se exige a
redação da ata do casamento que é reduzida a documento escrito assinado
pelas partes que presenciaram a celebração art CC e alínea c
do CRC
O legislador exige ainda a homologação do casamento urgente pelo
conservador art CC e art CRC (á casos de recusa de
homologação sempre que não tiverem sido observados alguns elementos
tipificados no art O casamento urgente não homologado é
juridicamente inexistente art alínea b
 Celebrado um casamento de forma urgente como sabemos se é um
casamento católico ou civil Aqui releva o art que estabelece que o
que releva é a vontade das partes Está em causa uma questão de
interpretação da vontade
 Celebrado do casamento urgente esta situação vai se projetar em sede
de execução do casamento art n alínea a
 Razão de ser da admissibilidade do casamento urgente Tem a ver com a
dimensão social e institucional do casamento Vai prevalecer neste caso
sobre a própria solenidade do casamento O legislador neste conflito
sacrifica a solenidade do casamento dando prevalência a quem quer casar
nas situações excecionais em que se encontra

Casamento de portugueses no estrangeiro arts n b art art


art  verifica se uma aplicabilidade da lei pessoal i e lei da
nacionalidade Uma vez que é aplicável a lei portuguesa continua a ser
necessário o processo preliminar de casamento Por fim é necessário
proceder ao registo que se fará por transcrição

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Casamento de estrangeiros em Portugal art n alínea c art


n e n C C arts a CRC  é necessário um processo
preliminar Faz se o registo por inscrição
Casamento civil celebrado sob forma religiosa art da lei de liberdade
religiosa art n alínea a C C arts a CRC art n a
n art n a arts a n f e arts alínea a a
c e  Prevê se a tramitação do casamento na Lei da Liberdade
Religiosa

Valores jurídicos negativos do casamento viciado

A classificação tripartida dos graus de invalidade inexistência nulidade e


anulabilidade não é admitida sem reservas nos negócios jurídicos em geral Com
efeito não há referência à inexistência na Parte Geral do Código e o regime da
nulidade art é tão severo que a inexistência ao lado da nulidade parece
uma duplicação inútil

Distinção entre nulidade e inexistência


 Nulidade  O negócio não produz os efeitos a que é dirigido segundo a
vontade das partes mas a lei reconhece a sua existência como facto jurídico
a que liga determinados efeitos
 )nexistência  A lei não reconhece sequer a existência do negócio que não
produz efeitos nem como negócio nem como facto jurídico

A doutrina da invalidade oferece todavia aspetos novos no direito matrimonial


que importa ter em atenção Não se distingue aqui entre nulidade e anulabilidade
não há casamentos nulos mas só anuláveis Por outro lado a doutrina da
inexistência foi admitida expressamente no Livro do Direito da Família
relativamente ao casamento

Modalidades

As modalidades de invalidade do casamento viciado são


)nexistência jurídica
Anulabilidade
)rregularidade
)neficácia simples

Princípio geral art  É válido o casamento civil relativamente ao qual não


se verifique alguma das causas de inexistência jurídica ou de anulabilidade
especificadas na lei

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 Resulta deste preceito o princípio da tipicidade das causas de invalidade


São aquelas e apenas aquelas que podem ser consideradas pas de nullité
sans texte

)nexistência jurídica arts a

A categoria dogmática da inexistência nasceu de uma necessidade prática e veio


impor se na doutrina no âmbito do Direito Matrimonial e foi aceite pelo Código de
Pode abonar se em duas razões ponderosas
O regime da anulabilidade não se mostrava adequado aos casamentos
portadores de vícios considerados mais graves nessa época casamentos
entre pessoas do mesmo sexo casamentos em que faltasse declaração de
vontade dos nubentes ou de algum deles etc Mesmo o regime mais severo
de anulabilidade não é suficientemente severo em relação a tais
casamentos pois a anulabilidade não pode ser declarada oficiosamente pelo
tribunal e só pode ser invocada por certo círculo de pessoas dentro de
determinado prazo
Os casamentos anuláveis ainda produzem efeitos putativos previstos nos
arts e Ora não parece razoável que seja atribuída eficácia
putativa a casamentos tão gravemente viciados como aqueles a que nos
estamos a referir

Os casos de inexistência estão tipificados no art São todos eles casos mais
graves do que aqueles que geram a nulidade do casamento católico e a
anulabilidade do casamento civil Entende se que não há sequer aparência de
validade Destitui se qualquer possibilidade de considerar que o casamento foi
celebrado de forma válida Esses casos são
 Casamentos celebrados perante quem não tinha competência funcional
para o ato alíneas a e b
 Casamentos em que falte a declaração de vontade dos nubentes ou de um
deles alíneas c e d

Quanto ao regime jurídico da inexistência


o Princípio vetor da inexistência  O casamento inexistente não produz
efeitos nem mesmo putativos
o Legitimidade  A inexistência pode ser invocada por qualquer interessado
independentemente de declaração judicial art há uma
legitimidade alargada A inexistência pode ser reconhecida por sentença
em ação que não seja especialmente intentada para esse fim pode ser
invocada por via de exceção e declarada oficiosamente pelo tribunal
o Prazo  A inexistência pode ser invocada a todo o tempo não havendo um
prazo
o É inaplicável o art para tutela de terceiros de boa fé

I S

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o Não se aplica o regime da conversão constante do art

Anulabilidade arts a CC

O art consagra causas taxativas de anulabilidade ainda que se possa chegar


a outras por via de interpretação Assim são anuláveis
 Casamentos contraídos com impedimento dirimente falta de idade nupcial
demência notória interdição ou inabilitação por anomalia psíquica
casamento anterior não dissolvido parentesco na linha reta parentesco no
grau da linha colateral afinidade na linha reta e condenação por
homicídio
 Casamentos celebrados com falta de vontade por parte de um ou de ambos
os nubentes incapacidade acidental ou outra causa que determine a falta
de consciência do ato erro acerca da identidade física do outro contraente
coação física e simulação
 Casamentos em que tenha havido vício da vontade juridicamente relevante
erro vício e coação moral
 Casamentos celebrados sem a presença das testemunhas exigidas por lei

Quanto ao regime jurídico da anulabilidade


o Necessidade de ação de anulação  A anulabilidade não opera ipso iure não
sendo invocável para qualquer efeito judicial ou extrajudicial enquanto não
for reconhecida por sentença em ação especialmente intentada para esse fim
art
o Legitimidade  )ndivíduos que têm possibilidade jurídica de intentar a ação
de anulação A ação de anulação só pode ser proposta por certas pessoas
Esta legitimidade vai ser conferida de modo diverso em função do tipo de
vício art a
o Prazos  A ação de anulação só pode ser proposta dentro de certos prazos
O legislador vai distinguir diferentes tipos de prazos em relação aos
diferentes tipos de vícios art a Se a ação é intentada fora de
prazo há caducidade do direito de requerer anulação Assim o casamento é
plenamente válido
o Convalidação do direito  Considera se sanada a anulabilidade e válido o
casamento em determinadas hipóteses art São cinco casos que
admitem uma sanação do vício (á um leque alargado de casos em que se
pode convalidar o negócio art vs art

(á uma atipicidade tendencial de regime jurídico )sto significa que o regime é


relativamente anómalo Consagra se aqui a anulabilidade típica porque existem
dois traços extravagantes
Legitimidade  Vamos encontrar um círculo muito mais alargado de
pessoas com legitimidade
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Prazo  No Direito da Família não vamos ter sempre o mesmo prazo mas
sim prazos variáveis não se aplicando o art n

Como vimos há vários regimes de anulabilidade Varia muito de caso para caso o
círculo das pessoas que podem intentar a ação de anulação e o prazo dentro do
qual lhes é permitido fazê lo (á na lei tipos ou regimes diferentes de
anulabilidade consoante os interesses em vista dos quais a anulabilidade é
estatuída
a )nteresse dos cônjuges e suas famílias e no interesse público  São os casos
de casamento contraído com impedimento dirimente O círculo de pessoas
que podem propor a ação de anulação é muito amplo i e cônjuges aos
seus parentes na linha reta ou até ao grau na linha colateral herdeiros e
adotantes Por outro lado como a anulabilidade também é estatuída no
interesse público o Ministério Público pode também intentar a ação
i Motivo da anulabilidade é temporário  A lei admite que a
anulabilidade seja sanada e marca um curto prazo para a
propositura da ação ou não permite que a anulação seja requerida
depois de o motivo da anulabilidade ter cessado É o que acontece
quando o casamento é contraído com os impedimentos de falta de
idade nupcial demência notória interdição ou inabilitação por
anomalia psíquica e casamento anterior não dissolvido
ii Motivo da anulabilidade é permanente  A lei não permite que seja
sanada a anulabilidade e esta pode ser arguida em prazo muito mais
longo É o que acontece quando o casamento é contraído com os
impedimentos de parentesco ou afinidade na linha reta parentesco
no grau da linha colateral e condenação por homicídio
b )nteresse público  É o caso de o casamento ser celebrado sem a presença
das testemunhas A ação de anulação só pode ser proposta neste caso pelo
Ministério Público
c )nteresse particular de um dos cônjuges  Só esse cônjuge pode requerer a
anulação É o que acontece nos casos de incapacidade acidental falta de
consciência do ato erro sobre a identidade física do outro cônjuge coação
física erro vício e coação moral A anulação só pode agora ser pedida pelo
cônjuge enganado coato ou cuja vontade faltou e dentro de prazo muito
curto valendo pois aqui um regime de anulabilidade idêntico ao que vale
quanto aos negócios jurídicos em geral

)rregularidade

Esta consequência jurídica é para inobservância de requisitos que não


condicionam nem a existência nem a validade do casamento São situações que
vêm determinar a aplicação de consequências jurídicas desfavoráveis

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 A irregularidade é um vício menos gravoso do que a nulidade e que não afeta


a validade do negócio
 A irregularidade não está sujeita a um princípio da tipicidade Se houver a
inobservância de algum requisito a consequência jurídica será a
irregularidade do casamento
 Prof Jorge Duarte Pinheiro  Valor jurídico negativo residual

O casamento putativo conceito e regime jurídico

Sede normativa  Arts e CC

Sempre que haja um negócio nulo ou anulado há uma destruição retroativa de


todos os efeitos correspondentemente verificados e é neste contexto que surge a
figura do casamento putativo

É necessário considerar o facto de o casamento só se considerar anulado no termo


da correspondente ação de anulação É sempre necessário que se desencadeie um
procedimento judicial para que se verifique a destruição dos efeitos entretanto
verificados

Na figura do casamento putativo vai relevar uma validade precária de certos


efeitos produzidos pelo casamento o legislador vai considerar a aparência de
validade do casamento subtraindo da invalidade certos e determinados efeitos
que tenham sido produzidos após a celebração do casamento
o Relevam se efeitos de facto que são consequentes à celebração do
casamento e que têm de se produzir até ao trânsito em julgado da sentença
que vai anular o casamento civil

Noção  Declarado nulo ou anulado o casamento os efeitos que este produziu até
à data da declaração de nulidade ou da anulação podem manter se quando certos
pressupostos se verifiquem É o que se chama casamento putativo

Ex contrato em que um dos cônjuges tivesse intervindo como administrador de bens


comuns ou próprios do outro uma vez declarado nulo ou anulado o casamento tal
intervenção passaria a ser irregular o contrato não produziria efeitos e os direitos
do terceiro que tivesse contratado com aquele cônjuge ficariam injustamente
prejudicados
 O instituto do casamento putativo visa evitar estes inconvenientes
 Em face de uma união conjugal que interessa à sociedade fazer cessar é
preciso mas basta que ela cesse não sendo necessário apagar os efeitos
jurídicos que produziu no passado sendo certo que não podem apagar se
os efeitos que de facto ela já produziu

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Efeitos que podem ser considerados


 Aquisição da nacionalidade
 Filiação
 Direito ao nome
 Administração de bens
 Alienação de bens
 Efeitos sucessórios

O casamento putativo não permite considerar efeitos futuros Estamos a trabalhar


no horizonte temporal até ao trânsito em julgado da sentença

Pressupostos do casamento putativo


Ter sido celebrado um casamento existente não pode estar afetado por uma
qualquer causa de inexistência jurídica
Casamento afetado por um juízo de invalidade já decretada em ação anulado
ou nulo A invalidade do casamento não opera ipso iure e enquanto não for
reconhecida por sentença em ação especialmente intentada para esse fim o
casamento produz todos os seus efeitos
Exigência de boa fé de um ou de ambos os cônjuges
o Conceito de boa fé  Consiste na ignorância desculpável do vício
causador da nulidade ou anulabilidade art n É uma noção
subjetiva de boa fé A lei alarga esta noção considerando igualmente
de boa fé o cônjuge cujo consentimento tenha sido extorquido por
coação Aqui a noção de boa fé é objetiva e moral
o Presunção de boa fé  O art n consagra uma presunção de
existência de boa fé o que ajuda em termos de matéria probatória
o A boa fé dos cônjuges deve existir no momento da celebração do
casamento e só nele é o que se conclui do próprio artigo que
dá efeitos putativos ao casamento contraído de boa fé

Regime jurídico art

O casamento putativo vem permitir relevar e considerar subsistentes efeitos já


produzidos Efeitos esses que se mantêm ex nunc de acordo com o regime do art

Princípio geral  Mantêm se para o futuro até à data do trânsito em julgado da


sentença de anulação do casamento civil ou até ao averbamento da sentença do
tribunal eclesiástico que declarou a nulidade do casamento católico os efeitos do
casamento já produzidos mas não se produzem novos efeitos Deste modo a
declaração de nulidade e a anulação só operam ex nunc gerando se pois uma

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situação se não idêntica pelo menos muito semelhante à que se verifica no caso de
divórcio

Devemos ter em consideração os seguintes planos


 Plano das relações horizontais  Releva a interferência da boa ou da má fé
 Plano das relações externas  )nterfere também a boa e má fé
 Plano das relações verticais em sentido descendente  Já não se releva a
existência de boa ou de má fé

Efeitos em relação aos cônjuges

(á que distinguir três situações possíveis


Cônjuges ambos de boa fé  Casamento produz todos os efeitos entre eles
até à data da declaração de nulidade ou da anulação art n
a Ex se A casado com B faleceu sendo B herdeiro de A e depois o
casamento entre A e B é declarado nulo ou anulado o efeito sucessório
já produzido mantém se
b Ex as alienações efetuadas pela mulher sem outorga do marido
putativo continuam a ser anuláveis mesmo depois da declaração de
nulidade ou da anulação do casamento
Só um cônjuge de boa fé  O casamento inválido produz os efeitos que
foram favoráveis ao cônjuge de boa fé art n
a Ex se A casado com B faleceu e B foi herdeiro de A o efeito
sucessório mantém se se B era o cônjuge de boa fé
Cônjuges ambos de má fé  O casamento não tem eficácia putativa em
relação a eles

Art da Lei da Nacionalidade e art n do Regulamento da Nacionalidade 


É uma norma que vem reconhecer a possibilidade de ser conhecido como nacional
português com fundamento no ato da vontade O n determina que a declaração
de nulidade ou anulação do casamento não prejudica a nacionalidade adquirida
pelo cônjuge que estava de boa fé O cônjuge não será privado da nacionalidade
que veio a adquirir em razão da anulação do casamento celebrado

Efeitos em relação aos filhos

Na relação entre os cônjuges e os filhos a boa fé é irrelevante Mesmo que os


cônjuges tenham contraído o casamento de má fé a presunção pater is est aplica se
aos filhos nascidos do casamento

)sto compreende se por uma razão de justiça e de tratamento dos filhos sem que
haja interferência da vicissitude que conduza à invalidade do casamento O
legislador pretende proteger os filhos

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Concretamente no campo do casamento civil releva o art nos termos do


qual a presunção de paternidade mantém se mesmo que haja declaração de
invalidade do casamento que tenha sido celebrado com má fé dos cônjuges Em
sede de casamento católico a presunção de paternidade também subsiste

Efeitos em relação a terceiros

O instituto do casamento putativo também visa proteger terceiros pelo que a


eficácia putativa deve estender se igualmente a estes

Devemos distinguir três hipóteses


Se ambos os cônjuges estavam de boa fé  O casamento inválido produz
todos os seus efeitos também em relação a terceiros até ao transito em
julgado da sentença de anulação do casamento civil ou ao averbamento da
decisão do tribunal eclesiástico que declarou a nulidade do casamento
Se só um dos cônjuges estava de boa fé  O art n faz ainda uma
distinção
a Tratando se de relações que estabelecendo se entre os próprios
cônjuges vão afetar terceiros nos seus interesses os respetivos
efeitos mero reflexo relativamente a terceiros das relações
havidas entre os cônjuges art n produzem se ou não
conforme forem favoráveis ou desfavoráveis ao cônjuge de boa fé
b Tratando se pelo contrário de relações que se estabeleçam
diretamente entre cada um dos cônjuges e terceiros mas que
estejam dependentes do estado pessoal de casado a solução já é
diversa Não se estabelecendo agora a relação entre os próprios
cônjuges não se justificaria que fosse aqui decisiva a distinção entre
cônjuge de boa fé e cônjuge de má fé só se produzindo os efeitos
favoráveis àquele O terceiro não merece mais ou menos proteção
porque esteja de má fé ou de boa fé o cônjuge com quem contratou
Não estando estas relações abrangidas no art n pois não se
trata aqui relativamente a terceiros de mero reflexo das relações
havidas entre os cônjuges o princípio a aplicar deve ser
singelamente o da invalidade pelo que o casamento não produz
neste caso quaisquer efeitos
Se ambos os cônjuges estavam de má fé  O casamento não produz efeitos
em relação a eles e por conseguinte também não os produz em relação a
terceiros

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Os efeitos jurídicos da relação jurídica


matrimonial civil

Os vínculos jurídico pessoais do casamento

Sede normativa
 Estado de casado  arts e CRP arts a
e An n A a
ss ss ss CC
 Lei Nacionalidade  Art
 Lei da Liberdade Religiosa  Art n

Pertence à lei a competência para regular concretamente os efeitos jurídicos da


relação jurídica matrimonial civil Esta é a Lei Civil independentemente da
modalidade do casamento que tenha sido celebrada

O sentido da plena comunhão de vida cf artigo

Sentido da plena comunhão de vida  Qualquer referência tem de ser enquadrada


no próprio conceito de casamento Comunhão qualificada porque assenta em
postulados essenciais exigências feitas aos nubentes partilha de leito mesa e
habitação

Diretrizes fundamentais

Artigo
)gualdade dos cônjuges
O casamento baseia se na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges
A direção da família pertence a ambos os cônjuges que devem acordar sobre a orientação da
vida em comum tendo em conta o bem da família e os interesses de um e outro

O art enuncia os dois princípios fundamentais por que se rege a matéria dos
efeitos pessoais do casamento
 Princípio da igualdade dos direitos e deveres dos cônjuges
 Princípio da direção conjunta da família

A igualdade dos cônjuges foi introduzida com a reforma de A perspetiva


desequilibrada da sociedade conjugal foi afastada pelo novo postulado (á agora
um princípio de reciprocidade de deveres não havendo deveres exclusivos de
qualquer cônjuge

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 Trata se de um dos princípios constitucionais de direito da família art


n
 A Constituição utiliza uma fórmula redutora mas isso não obsta a que o
princípio se aplique a outros aspetos não compreendidos na letra da
disposição i e responsabilidade por dívidas administração dos bens dos
filhos
 Na verdade o art n é mero corolário do princípio geral do art
n que proíbe qualquer discriminação em razão do sexo O homem e a
mulher são iguais perante a lei art n e não deixam de o ser pelo
facto de serem casados um com o outro
 As únicas desigualdades que naturalmente subsistem são as que se fundam
na natureza biológica da mulher É o que se passa por exemplo com o maior
prazo internupcial que o art n lhe exige e com os direitos especiais
reconhecidos às mães trabalhadoras e relativos ao ciclo de maternidade

Autonomiza se o princípio da direção conjunta da família Estão em causa


acordos conjugais que têm de integrar o próprio dia a dia para que o casamento
funcione casa de morada de família se pretendem ter filhos quantos como
educar etc
 O princípio da direção conjunta da família é um corolário do princípio da
igualdade dos cônjuges Com efeito se os cônjuges são iguais a direção da
família deve pertencer aos dois e não exclusivamente a um deles
 Trata se de um preceito imperativo A direção da família pertence a ambos
os cônjuges pelo que seria nulo o contrato em que estes acordassem em
que essa direção ficasse a pertencer a um deles ou até em que a decisão
em todos os atos da vida conjugal comum caberia a um dos cônjuges o qual
porém teria de ouvir o outro relativamente a certos atos

A lei impõe aos cônjuges o dever de acordar sobre a orientação da vida em comum
tendo em conta o bem da família e os interesses de um e outro O dever de acordar
sobre a orientação da vida em comum é assim um dever pessoal dos cônjuges a
acrescer aos cinco deveres referidos no art
 Violaria este dever o cônjuge que quisesse decidir por si em assuntos da
vida matrimonial recusando deliberadamente qualquer disposição para
chegar a acordo com o outro

Quanto ao objeto do acordo este deve versar sobre a orientação da vida em


comum e só sobre ela Caberão aqui a repartição dos recursos o planeamento
familiar a repartição de funções ou tarefas a residência da família etc
 Fica de fora a vida pessoal a vida privada do marido e da mulher Assim
cada um dos cônjuges pode sem ter de ouvir o outro vestir se ou pentear
se como quiser escolher os seus amigos professar a religião que entender e
mudar de religião de acordo com as suas convicções ser militante ou
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simpatizante do partido político do sindicato da associação cívica ou do


clube de futebol da sua preferência etc
 O casamento não limita os direitos de personalidade dos cônjuges salvo o
direito à liberdade sexual pois cada um está obrigado em face do outro ao
débito conjugal assim como a não ter relações sexuais com terceiros
 Cada cônjuge guarda intacta a sua liberdade de pensamento e opinião
assim como a liberdade de os manifestar pelo modo que achar mais
adequado Guarda intacta a sua liberdade de comportamento mesmo não
convencional E guarda ainda intacto o seu direito à intimidade da vida
privada Nenhum dos cônjuges pode violar a correspondência do outro ou
até o cofre a gaveta ou armário que o outro cônjuge pretenda manter
fechado com os seus objetos pessoais
 O art D estabelece que cada um dos cônjuges pode exercer qualquer
profissão ou atividade sem o consentimento do outro Pode também cada
um dos cônjuges exercer a atividade que quiser O termo abrange qualquer
espécie de atividade económica cívica política cultural social religiosa
desportiva etc
 O art C C enuncia que a escolha da residência de família deve ser
feita de comum acordo havendo uma base consensual e não uma decisão
unilateral Os cônjuges devem atender às exigências da vida profissional
 Possibilidade de um dos cônjuges vir adotar nomes do outro ou ser privado
destes no caso de ruptura

Sendo estes os princípios eles têm de se harmonizar com o dever de os cônjuges


acordarem sobre a orientação da vida em comum tendo em conta o bem da família
e os interesses de um e outro
 Assim o exercício por um dos cônjuges sem o acordo do outro de profissão
pouco decorosa ou de atividade muito perigosa assim como a assunção de
compromissos que impliquem proselitismo excessivo ou grande
empenhamento e disponibilidade de tempo podem configurar nas
circunstancias do caso e tendo em conta a personalidade e a suscetibilidade
do outro cônjuge uma violação grave dos deveres de cooperação ou de
respeito e contribuir decisivamente para a rutura da vida conjugal

Acordos sobre a orientação da vida em comum


 As obrigações assumidas pelos cônjuges não são suscetíveis de execução
específica dada a sua natureza pessoa
 Estes acordos não estão sujeitos ao princípio geral de que os contratos só
podem modificar se ou extinguir se por mutuo consentimento dos
contraentes art Podem ser revogados unilateralmente por
qualquer dos cônjuges e a todo o tempo não só quando se modifiquem as
circunstancias em que um e outro fundaram a sua vontade de fazer o

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acordo mas também quando se modifique o juízo ou avaliação que algum


dos cônjuges faça dessas circunstâncias
 A revogabilidade do acordo sobre a orientação da vida em comum não tem
de lhe retirar porém a eventual qualificação de negócio jurídico O acordo
mantém se enquanto não for revogado permitindo a qualquer dos cônjuges
executar a orientação acordada

No âmbito das relações pessoais entre os cônjuges apenas em três casos permite o
Código que o conflito entre os cônjuges seja decidido pelo tribunal
 Nos casos de desacordo sobre a fixação ou alteração da residência de
família art n
 Nos casos de desacordo sobre o nome próprio ou os apelidos dos filhos art
n
 Nos casos de desacordo dobre questões de particular importância relativas
ao exercício das responsabilidades parentais art n
 São casos em que é especialmente necessária ou urgente a solução do conflito
 À parte destes casos o desacordo deve ser resolvido dentro da família pelos
próprios cônjuges O direito recusa se a intervir e faz apelo ao sentido de
responsabilidade dos cônjuges e à sua capacidade de autorregulamentação da
família

Tipologia de direitos e de deveres dos cônjuges

Artigo
Deveres dos cônjuges
Os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito fidelidade coabitação
cooperação e assistência

Deveres conjugais em particular arts a


 Os deveres conjugais são inderrogáveis por via de negócio jurídico art
Não é possível excluir convencionalmente qualquer dos deveres
que o art impõe aos cônjuges
 Os deveres conjugais relevam na fase genética e na fase de execução onde
têm de ser eficazes e cumpridos plenamente
 Mesmo depois de dissolvido o casamento vamos ter o direito ao nome art
destino da casa de morada de família art obrigação de
alimentos arts A e remissão para os arts e ss o
dever de respeito continua a ser relevante e importa relevância criminal

Estão em causa deveres recíprocos como o exige o princípio da igualdade dos


cônjuges Não há hoje deveres próprios do marido ou da mulher

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A questão de saber se a enumeração do art é taxativa é às vezes posta na


doutrina Mas não se veem facilmente deveres que não se reconduzam ou que não
caibam em algum dos deveres explícitos previstos no art Assim o dever de
sinceridade cabe no dever de respeito o dever de cada cônjuge informar o outro
sobre a sua situação patrimonial sobretudo para lhe permitir exigir o que for
devido como contribuição para os encargos da vida familiar também poderá caber
no dever de respeito ou no de cooperação

Respeito

Art  Os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de


respeito fidelidade coabitação cooperação e assistência

O dever de respeito não é objeto de preceito autónomo no CC Contudo é o


primeiro dever enunciado no art

Claro que o adultério o abandono da residência de família a falta de contribuição


para os encargos da vida familiar também são faltas de respeito mas constituem
violações autónomas dos deveres de fidelidade de coabitação e de assistência
respetivamente
 Assim só são violações do dever de respeito atos ou comportamentos que
não constituam violações diretas de qualquer dos outros deveres
mencionados no art
 A extensão do dever de respeito torna inútil qualquer referência a um dever
conjugal não nominado o elenco do art é taxativo

Num sentido mais imediato e restrito o dever de respeito consiste em não lesar a
honra sendo indiscutível a ilicitude dos comportamentos de um cônjuge que
atinjam a integridade moral do outro ex proferir insultos verbais fazer gestos
obscenos não cumprimentar

O dever de respeito surge como um reflexo da tutela geral da personalidade física e


moral assegurada pelo art n no domínio dos efeitos matrimoniais
o Art n  A lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou
ameaça de ofensa à sua personalidade física ou moral
o Ao consagrar o dever de respeito o legislador pretende acentuar que o
casamento não autoriza o cônjuge a violar os direitos e liberdades pessoais
do outro Este dever de respeito tem como valor a afirmação da subsistência
dos direitos de personalidade durante o matrimónio

O conteúdo do dever conjugal de respeito é amplo É um dever ao mesmo tempo


negativo e positivo

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 Dever negativo  É o dever que incumbe a cada um dos cônjuges de não


ofender a integridade física ou moral do outro Compreende se na
integridade moral todos os bens ou valores da personalidade cuja violação
constitua injúria em face da Lei do Divórcio de a honra a consideração
social o amor próprio a sensibilidade e ainda a suscetibilidade pessoal
o )nfringe o dever de respeito o cônjuge que maltrata ou injuria o outro o
cônjuge que reiteradamente ridiculariza a religião que o outro pratica
ou a formação política de que ele é fervoroso militante o cônjuge que
sem o consentimento do outro introduz no lar conjugal filho concebido
fora do matrimónio art a mulher que sem consentimento do
marido recorre a técnicas de procriação assistida com esperma dador
ou estando grávida de filho do casal interrompe voluntariamente a
gravidez o marido que fez uma doação de esperma sem consentimento
da mulher a esterilização voluntária de um dos cônjuges sem fins
terapêuticos constituirá igualmente violação do dever de respeito se for
feita sem o consentimento do outro cônjuge etc
o O dever de respeito na sua vertente negativa é ainda o dever de cada
um dos cônjuges não se conduzir na vida de forma indigna desonrosa e
que o faça desmerecer no conceito público A nossa doutrina falava aqui
de injúrias indiretas embora não dirigidas ao outro cônjuge a
relevância destas injúrias fundava se na ideia de que o casal é uma
unidade moral de tal modo que a dignidade a honra e a reputação de
um dos cônjuges são ao mesmo tempo a dignidade a honra e a
reputação do outro Ex se um dos cônjuges se embriaga ou se droga com
frequência ou comete um crime infamante está a violar o seu dever de
respeito ao outro cônjuge

 Dever positivo  O dever de respeito é ainda um dever positivo Não é o dever


de cada um dos cônjuges amar o outro porque a lei não pode impor
sentimentos Mas o cônjuge que não fala ao outro que não mostra o mínimo
interesse pela família que constituiu que não mantém com o outro qualquer
comunhão espiritual não respeita a personalidade do outro cônjuge e infringe
correspondentemente o dever de respeito

Fidelidade

O art evidencia a exclusividade do casamento Os agentes casam um com o


outro logo há uma comunhão plena de vida Quer se estar com aquela pessoa nos
diferentes planos de vivência social e jurídica

Noção  É um dever puramente negativo O dever de fidelidade obriga cada um


dos cônjuges a não ter relações sexuais consumadas com pessoa que não seja o seu
cônjuge Para além do elemento objetivo constituído pela prática de relações

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sexuais consumadas o adultério supõe ainda um elemento subjetivo isto é a


intenção ou pelo menos a consciência de violar o dever de fidelidade

O dever de fidelidade tem como âmbito de comportamentos não apenas físicos


mas espirituais Releva quer haja a prática de atos físicos materiais que indiciem
o desrespeito por este dever como o adultério quer atos do foro psicológico ou
seja não consumados mas desrespeitadores do dever de fidelidade traição
psicológica
 Uma tentativa de adultério constitui violação do mesmo dever
 E independentemente da prática de relações sexuais consumadas ou
tentadas são ainda violações do dever de fidelidade a conduta licenciosa ou
desregrada de um dos cônjuges nas suas relações com terceiro a ligação
sentimental e a correspondência amorosa que mantém com ele etc

Não haverá violação do dever de fidelidade se o cônjuge que teve relações sexuais
com terceira pessoa só o fez por exemplo por erro ou sob coação
 Ex erro sobre a existência do casamento que se supunha estar dissolvido Ou
então houve um erro sobre a identidade da pessoa com quem se tiveram relações
e que se supunha ser o outro cônjuge ou que a relação adulterina foi conseguida
mediante sugestão hipnótica

Este dever constitui uma limitação a um direito constitucional fundamental


nomeadamente a liberdade A liberdade é também ela uma faceta da personalidade
art C C Este artigo tem como base a celebração de negócio jurídico
autónomo por via do qual se renuncia voluntariamente aos direitos de
personalidade Contudo neste caso a limitação é imposta por lei

O art consagra ineficácia lato sensu de disposições testamentárias a quem foi


cúmplice do adultério

Jurisprudência relevante
 Acórdão STJ

Coabitação

Coabitar viver em comunhão de leito mesa e habitação

 Comunhão de leito  O Prof Pereira Coelho afirma que neste aspeto o


casamento obriga os cônjuges ao chamado débito conjugal O casamento
implica uma limitação lícita do direito à liberdade sexual no duplo sentido de
que a pessoa casada fica obrigada a ter relações sexuais com o seu cônjuge e a
não ter essas relações com terceiros

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o A recusa de consumar o casamento ou de manter relações sexuais com o


outro cônjuge constitui violação do dever de coabitação se não for
justificada por impotência doença de um ou outro dos cônjuges
o Motivos atinentes à saúde de um dos cônjuges podem justificar não só que
ele não tenha relações sexuais com o outro mas também que este não
tenha relações sexuais com aquele A imposição de relações sexuais ao
cônjuge doente pelo outro cônjuge poderia constituir até uma violação do
dever de respeito

 Comunhão de mesa  A comunhão de ménage a vida em economia comum é


o segundo aspeto em que se analisa o dever de coabitação

 Comunhão de habitação  Os cônjuges devem escolher de comum acordo a


residência da família isto é a terra e o local onde vão viver Os cônjuges devem
atender às exigências da sua vida profissional ao interesse dos filhos e à
salvaguarda da unidade da vida familiar art n
o A residência da família é o lugar do cumprimento do dever de
coabitação Escolhida a residência da família ambos os cônjuges têm
obrigação de viver aí salvo motivos ponderosos em contrário art
n v Acórdão STJ
 Exigências da vida profissional podem justificar que um dos
cônjuges se afaste da residência da família por mais ou menos
tempo Nem por isso haverá então separação de facto dos
cônjuges
 Motivo ponderoso para um dos cônjuges não adotar a residência
da família será ainda o de a vida em comum se lhe ter tornado
intolerável ou inexigível em face dos maus tratos ou das injúrias
do outro
o O acordo sobre a residência da família não pode ser revogado
unilateralmente por qualquer dos cônjuges A alteração da residência
requer o acordo dos dois art n
o Não havendo acordo sobre a fixação ou a alteração da residência da
família a lei permite excecionalmente que qualquer dos cônjuges
requeira a intervenção do tribunal para solução do diferendo

Cooperação

Artigo
Dever de cooperação
O dever de cooperação importa para os cônjuges a obrigação de socorro e auxílio mútuos e a de
assumirem em conjunto as responsabilidades inerentes à vida da família que a fundaram

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Noção  )mporta para os cônjuges a obrigação de socorro e auxílio mútuos e


assunção em conjunto das atividades inerentes à vida em família No âmbito da
chamada delimitação subjetiva a quem pode ser exercido não se basta na relação
com o outro cônjuge ela é exercida em prol do benefício da família micro ou
alargada
 Os cônjuges devem amparar se mutuamente nas horas boas e más na
felicidade como na provação
 Os cônjuges devem assumir em conjunto as responsabilidades inerentes à
vida da família Não se trata agora de ajudar um o outro Trata se de que a
família é obra dos dois e ambos devem assumir em conjunto as inerentes
responsabilidades
o Assim o cônjuge que mostra um absoluto desinteresse pela saúde e
pela educação dos filhos não infringe apenas um dever em relação a
estes mas também um dever em relação ao outro cônjuge o dever
de assumir em conjunto com o outro as responsabilidades inerentes
à vida familiar

Assistência

Artigo
Dever de assistência
O dever de assistência compreende a obrigação de prestar alimentos e a de contribuir para os
encargos da vida familiar
O dever de assistência mantém se durante a separação de facto se esta não for imputável a
qualquer dos cônjuges
Se a separação de facto for imputável a um dos cônjuges ou a ambos o dever de assistência só
incumbe em princípio ao único ou principal culpado o tribunal pode todavia excecionalmente e
por motivos de equidade impor esse dever ao cônjuge inocente ou menos culpado considerando
em particular a duração do casamento e a colaboração que o outro cônjuge tenha prestado à
economia do casal

Noção  O dever de assistência compreende a obrigação de prestação de


alimentos e a de contribuição para os encargos da vida familiar

a Obrigação de prestação de alimentos

A obrigação de alimentos só tem autonomia em face da obrigação de contribuição


para os encargos da vida familiar quando os cônjuges vivem separados de direito
ou mesmo só de facto Se vivem juntos o dever de prestação de alimentos toma a
forma de dever de contribuição para os encargos da vida familiar No caso de
separação e pessoas e bens judicial ou administrativa e de simples separação de
facto não existe vida familiar e não tem sentido falar na obrigação de contribuir
para os respetivos encargos

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 A obrigação de alimentos acaba por relevar fundamentalmente em cenários


de ruptura modificação da relação conjugal
 Encargos da vida familiar desenvolvem se em cenários de normalidade da
vida familiar

A obrigação de alimentos no caso de separação de pessoas e bens está regulada


no art C C O regime da obrigação de alimentos no caso de separação de
facto dos cônjuges está previsto no art

Para efeitos do art saber a quem incumbe a obrigação de prestar alimentos


assenta no apuramento do cônjuge culpado ou principal culpado na separação ou
na verificação da equivalência das respetivas culpas fazendo assim persistir no
direito português a relevância da culpa não no divórcio mas na própria
separação de facto

Nunca foi clara na lei a questão de saber qual o objeto da prestação de alimentos e
com que critério deve ser fixado o respetivo montante
 A obrigação de alimentos entre cônjuges está sujeita ao princípio geral do
art segundo o qual o montante dos alimentos depende das
necessidades de quem os pede e das possibilidades de quem os presta
 Mas a dúvida consiste em saber como se determinam aquelas
necessidades ou seja se o credor de alimentos apenas tem direito ao que
for necessário para o seu sustento habitação e vestuário nos termos do
art ou se ele tem direito na medida das possibilidades do devedor
ao necessário para assegurar o padrão ou trem de vida anterior o mesmo
nível económico e social que era o seu antes da separação

b Obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar

Artigo
Dever de contribuir para os encargos da vida familiar
O dever de contribuir para os encargos da vida familiar incumbe a ambos os cônjuges de
harmonia com as possibilidades de cada um e pode ser cumprido por qualquer deles pela
afetação dos seus recursos àqueles encargos e pelo trabalho despendido no lar ou na manutenção
e educação dos filhos
Se a contribuição de um dos cônjuges para os encargos da vida familiar for consideravelmente
superior ao previsto no número anterior porque renunciou de forma excessiva à satisfação dos
seus interesses em favor da vida em comum designadamente à sua vida profissional com
prejuízos patrimoniais importantes esse cônjuge tem direito de exigir do outro a correspondente
compensação
O crédito referido no número anterior só é exigível no momento da partilha dos bens do casal
a não ser que vigore o regime da separação
Não sendo prestada a contribuição devida qualquer dos cônjuges pode exigir que lhe seja
diretamente entregue a parte dos rendimentos ou proventos do outro que o tribunal fixar

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O dever de contribuição para os encargos da vida familiar incumbe a ambos os


cônjuges nos mesmos termos e pode ser cumprido por qualquer deles de duas
formas
Afetação dos seus recursos rendimentos e proventos àqueles encargos
Através do trabalho despendido no lar ou na manutenção e educação dos
filhos O legislador pretendeu afirmar deste modo que o trabalho prestado por um
dos cônjuges no governo da casa e na criação e educação dos filhos tem valor
económico como o trabalho profissional

A formulação do art não é exaustiva podendo admitir outras despesas para


além destas e mesmo certas outras que sejam privativas de atividades de recreio

Cada um dos cônjuges pode pois cumprir a obrigação por uma das formas
referidas pela outra ou por ambas Assim é possível que um dos cônjuges cumpra
aquela obrigação de uma forma e o outro de outra mas também é possível que os
dois cumpram a obrigação de ambas as formas Tudo depende do que seja
convencionado entre eles

Acordos sobre a orientação da vida em comum  Acordo sobre a repartição de


funções ou tarefas
 São declarações negociais normalmente tácitas o que não impede porém
que o acordo dos cônjuges seja revogado ou denunciado unilateralmente
por qualquer deles
 Um acordo irrevogável seria nulo por coartar excessivamente os direitos
pessoais dos cônjuges Ex os cônjuges acordaram que o marido exerceria a
atividade profissional e a mulher teria a seu cargo o governo doméstico e a
criação e educação dos filhos que viessem a ter Seria intolerável que o
acordo se mantivesse apesar de a mulher a certa altura pretender exercer
uma profissão
 A revogação do acordo não fará incorrer em responsabilidade o cônjuge que
tome a iniciativa da revogação Admite se porém que a solução possa ser
outra excecionalmente quando o acordo tenha durado por muito tempo
criando no outro cônjuge a expectativa razoável de que a situação não viria
a alterar se A revogação constituirá assim um abuso do direito

A violação grave ou reiterada do dever de contribuir para os encargos da vida


familiar é um sinal de rutura do casamento para efeitos da alínea d do art

O art n prevê as hipóteses de um dos cônjuges contribuir com mais ou


menos do que devia
 Cônjuge que contribui com mais do que devia
 Regime de comunhão de adquiridos  Neste caso a contribuição excessiva
não diminui o património próprio do cônjuge que a faz As contribuições

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são feitas com os rendimentos e proventos bens comuns do casal e no


fundo estarão sempre os dois tecnicamente falando a contribuir com
valores comuns
 Regime de separação de bens  Neste caso tudo o que um dos cônjuges
gastar em excesso redunda em prejuízo ilegítimo para si próprio sem
correção natural na partilha
 Crédito de compensação  A lei reconhece o crédito de compensação nas
situações de excesso manifesto de uma contribuição (averá excesso
manifesto quando um cônjuge renunciou de forma excessiva à satisfação
dos seus interesses em favor da vida em comum designadamente à sua vida
profissional com prejuízos patrimoniais importantes
o Ex caso do cônjuge que não acabou os estudos que não fez cursos de
formação profissional que abandonou o emprego que aceitou um
emprego em tempo parcial que aceitou um emprego pior mais perto
de casa que não pôde aceitar uma promoção que implicaria a sua
deslocação para uma filial afastada e que por qualquer destas razões
fez descontos mais modestos para a segurança social e terá uma
reforma menor
o O cônjuge que prova um desinvestimento manifesto na vida pessoal
em favor da vida de casado tem direito a um valor que o compense
desse prejuízo e lhe favoreça alguma recuperação do padrão de vida
que poderia ter tido
 O crédito de compensação dirige se contra o outro art n e os
créditos de cada um dos cônjuges sobre o outro são pagos pela meação do
cônjuge devedor no património comum mas não existindo bens comuns
ou sendo estes insuficientes respondem os bens próprios do cônjuge
devedor art n

 Cônjuge que contribuiu com menos do que devia


 O art n considera a hipótese de um dos cônjuges contribuir com
menos do que devia
 Neste caso o outro cônjuge pode exigir ao faltoso o que for devido
 Se este é trabalhador por conta de outrem e contribui para os encargos da
vida do lar com o produto do seu trabalho aquele pode exigir que lhe seja
diretamente entregue a importância a que tenha direito

Jurisprudência relevante quanto aos deveres conjugais


 Acórdão STJ dever conjugal de respeito  Não apenas um
dever de respeito e fidelidade por via de omissão de comportamentos
materiais mas também por comportamentos que possam de igual forma
ofender a integridade moral Não se podem praticar atos ofensivos quer
para a integridade física quer para a integridade moral

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 Acórdão de  Enuncia a necessidade de respeitar a


integridade física e moral do outro cônjuge )ntroduz uma ideia merecedora
de reflexão dever de respeito é um dever residual
 Acórdão STJ  Sobre o dever de respeito Uma agressão física
ainda que não reiterada deve ter se por grave
 Acórdão STJ  Sobre o dever de respeito Entende se que ambos
os cônjuges violaram simultaneamente o dever de respeito marido agrediu
a mulher a mulher porque recebeu com frequência uma pessoa de sexo
diferente no domicílio conjugal
 Acórdão STJ  Sobre o dever de fidelidade A violação do dever
de fidelidade conjugal não se consuma apenas com adultério mas também
com infidelidade moral

A casa de morada de família noção e relevância jurídica

Artigo
Residência da família
Os cônjuges devem escolher de comum acordo a residência da família atendendo
nomeadamente às exigências da sua vida profissional e aos interesses dos filhos e
procurando salvaguardar a unidade da vida familiar
Salvo motivos ponderosos em contrário os cônjuges devem adotar a residência da
família
Na falta de acordo sobre a fixação ou alteração da residência da família decidirá o
tribunal a requerimento de qualquer dos cônjuges

A casa de morada de família convoca o conceito de domicílio voluntário geral art


C C  A pessoa tem domicílio no local de residência habitual

No Direito da Família o legislador ao consagrar a casa de morada de família tem a


ideia de que a família habita na mesma casa )sto compreende se se recordarmos
as próprias funções do domicílio cada indivíduo deve estar espacialmente
delimitado na sua atuação É lá que vai receber a sua correspondência o convívio
dos amigos e de família e é lá que vai ser encontrado

A própria importância do domicílio não tem uma eficácia circunscrita no plano da


Lei Civil v g art CRP A Constituição consagra o princípio base da
inviolabilidade do domicílio não pode haver uma devassa do valor da
privacidade

Plano das relações horizontais

O casamento implica uma plena comunhão de vida que assenta na tríplice


comunhão habitação leito mesa Os cônjuges devem residir um com o outro
Esta tríplice comunhão é feita na casa de morada de família
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A casa de morada de família deve ser escolhida art por acordo conjugal O
art enuncia os índices que devem ser ponderados aquando da escolha da
casa de morada de família Quando se escolhe a casa de morada de família deve se
escolher aquela que é mais razoável para a vida familiar

O dever de coabitação extingue se por efeito da separação judicial de pessoas e


bens art

Devemos ainda ter em conta o art da CRP quando consagra o princípio da


reserva da intimidade da vida privada que tem permitido expandir o âmbito do
art

Adicionalmente releva o art A faz depender do consentimento de ambos


os cônjuges a alienação da casa de morada de família B quanto ao direito
de arrendamento

A importância da casa de morada de família se projeta mesmo na fase de rutura de


relação matrimonial mesmo depois de dissolvido o vínculo é fundamental
assegurar o destino da casa de família art n d art Discutimos
este problema já a propósito já da união de facto e da convivência em economia
comum (avendo rutura do casamento é essencial o acordo quanto à casa de
morada de família para definir quem vai ficar com a guarda das crianças e onde

Plano das relações em sentido descendente plano horizontal

A Constituição art n consagra um dever de coabitação inseparabilidade


dos pais A casa de morada de família é um elemento de unidade familiar Devemos
ter em consideração o art C C que proíbe os filhos menores de
abandonarem o lar

Para além de um elemento de estabilidade na escolha da morada de família


ponderam se as escolhas elegíveis as unidades de estabelecimento de ensino a que
a criança tem acesso (á uma série de implicações

Plano transcendente dimensão social

A casa de morada de família é o local de reunião da família alargada onde se


encontram para efeitos de celebrações especiais Esta dimensão tem o seu
enquadramento normativo no art A

Outras implicações na esfera pessoal dos cônjuges

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A suscetibilidade de alteração do nome civil

Sede normativa  Arts n e C C arts n ep e


n h g e CRC arts a CCC

Art C C  Cada um dos cônjuges conserva os seus próprios apelidos mas


pode acrescentar lhes apelidos do outro até ao máximo de dois Esta faculdade não
pode ser exercida por aquele que conserve apelidos do cônjuge de anterior
casamento

O casamento não faz perder a qualquer dos cônjuges os seus apelidos de solteiro e
nenhum deles tem obrigação de juntar apelidos do outro cônjuge aos seus
podendo inclusivamente renunciar em qualquer momento aos apelidos adotados
art n alínea d CRC

A faculdade de cada um dos cônjuges acrescentar aos seus apelidos do outro


costuma ser exercida na ocasião do casamento mas a lei não impede que o seja
mais tarde A pretensão deve ser formulada em requerimento dirigido ao
funcionário da conservatória detentora do assento de nascimento do cônjuge ao
qual é averbada a alteração dos apelidos

Este direito de aditar apelidos tem eficácia não apenas durante a constância do
casamento mas mesmo em caso de dissolução do casamento Art AaC
 Por efeito da dissolução do casamento por morte o cônjuge sobrevivo pode
manter o apelido do falecido art A O cônjuge que tenha adotado
apelidos do outro conserva os em caso de viuvez se o declarar até à
celebração do novo casamento mesmo depois de segundas núpcias não
podendo neste caso porém acrescentar apelidos do segundo cônjuge art
n
 No caso de separação judicial de pessoas e bens os cônjuges conservam o
apelido um do outro art B Decretada a separação cada um dos
cônjuges conserva os apelidos do outro que porventura tenha adotado
Nada o impede porém de renunciar aos apelidos do outro cônjuge nos
termos gerais do art n alínea d CRC
 No caso de divórcio o cônjuge apenas conserva o nome do outro se este
der o seu consentimento art B Se conservar os apelidos do ex
cônjuge e passar a segundas núpcias não pode acrescentar lhes apelidos
do novo cônjuge art n
 O art C consagra a privação judicial do uso do nome Devemos
remeter para o art n que se aplica por remissão do art C C Em
caso de divórcio quem tem legitimidade é o ex cônjuge A ação judicial tem
de ter um fundamento O fundamento está tipificado se a utilização do

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nome do outro cônjuge for feita em termos que lesem gravemente os


interesses morais do outro cônjuge e da sua família

O processo de aditamento dos apelidos vem previsto no CRC

Quanto ao nome dos filhos art


 São compostos por nomes próprios e apelidos
 Comum acordo dos pais

A emancipação do cônjuge menor

A idade núbil é de anos o que significa que a partir dessa idade é possível
contrair casamento desde que haja autorização dos titulares das responsabilidades
parentais ou o suprimento dessa autorização

Quando pode não ocorrer a emancipação plena do cônjuge menor quando for
celebrado casamento irregular art CC
 Ver questão dos atos de administração distinção entre atos de
administração ordinária extraordinária e de disposição

O fenómeno sucessório

O Direito das Sucessões é um direito muito ligado e construído com base na tutela
da família todos os bens que eram titulados por alguém em vida devem
desejavelmente permanecer na família perpetuando se

Art n CRP  O direito de propriedade privada é reconhecido quer em vida


quer depois da morte Não se admite qualquer ato de expropriação ou ingerência
por morte do indivíduo
 Possibilidade de alguém vir decidir a quem é que deixa alguns dos seus
bens mas não todos  regime que assenta na existência da sucessão
legítima modalidade que visa proteger a família nuclear arts e
ss
 O cônjuge é reconhecido quer como herdeiro legitimário art eé
relevado também no plano da sucessão legítima arts e ss

Aquisição de nacionalidade

Este tema já propiciou em termos históricos casamentos celebrados de forma


tendencialmente fictícia porque as pessoas se casavam com objetivo de obtenção
imediata de nacionalidade portuguesa (oje em dia esses problemas estão
regulados pelo regime legal vigente

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O estrangeiro casado há mais de anos com nacional português pode adquirir a


nacionalidade portuguesa mediante declaração feita na constância do casamento
art n da Lei da Nacionalidade A declaração de nulidade ou anulação do
casamento não prejudica a nacionalidade adquirida pelo cônjuge que o tenha
contraído de boa fé

O português que case com nacional de outro Estado não perde por esse facto a
nacionalidade portuguesa salvo se tendo adquirido pelo casamento a
nacionalidade do seu cônjuge declarar que não quer ser português art da Lei
da Nacionalidade

As mencionadas declarações de que depende a atribuição ou perda da


nacionalidade portuguesa devem ser registadas na Conservatória dos Registos
Centrais arts e e averbadas ao assento de nascimento do interessado
art

Caso de alguém que se casa só para obter nacionalidade portuguesa

Prof Ana Filipa  Ainda que se entenda que há uma verdadeira e própria
simulação ex casar para obter dinheiro com isso é essencial que haja acordo das
partes porque isso é um elemento da simulação
o Não estando preenchidos os elementos da simulação pode se averiguar a
possibilidade de aplicação da reserva mental (á doutrina que vai dar
relevância jurídica à reserva mental de acordo com o art d Para
isso tem de ocorrer uma reserva mental conhecida do declaratário

Para quem entenda que não existe verdadeira simulação isso implica considerar
que mesmo nos casos em que ambos sabem que estão a casar para que o outro
obtenha a nacionalidade não se deixa de prescindir neste caso de um acordo das
partes e este caso não sendo simulação pode ser invalidado por alguma doutrina
que entende que é um caso de verdadeira e própria fraude à lei

Sendo um negócio em fraude à lei não há disposição no Código Por isso há uma
verdadeira divergência doutrinal
 Art vício do objeto
 Art ilicitude do fim
 Art contrariedade de norma imperativa

Para quem entenda que o negócio em fraude à lei se distingue do negócio em


contrariedade à lei tem de introduzir elementos novos que a patologia não diz
respeito nem ao objeto nem ao fim mas apenas à causa do negócio jurídico Para
quem entende que a causa é relevante fica com o problema de esta não estar
consagrada nos preceitos do Código

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Os vínculos jurídico patrimoniais do casamento

Noções gerais

Sede legal  Art CRP arts a CC

Princípio da autonomia privada art C C  Dentro dos limites da lei as


partes podem celebrar livremente negócios jurídicos Na matéria dos vínculos
jurídico patrimoniais verifica se muito a autonomia privada Verificamos normas
dispositivas Ainda que o princípio da autonomia privada não seja absoluto
encontramos uma ampla margem de liberdade que se traduz na possibilidade de
serem celebrados acordos conjugais i e de orientação da vida em comum
estando em causa uma ideia de conformação à medida que vai se avançando na
vida conjugal São negócios atípicos que os cônjuges celebram respeitando os
limites impostos por normas imperativas e pelos bons costumes
 Convenção antenupcial  Negócio jurídico bilateral que se traduz na
fixação do regime de bens Esta convenção antenupcial é já ela própria
objeto de regulamentação normativa nos arts a CC

(á um conjunto de limites e de proibições normativas ao exercício da autonomia


privada
 Princípio da imutabilidade das convenções antenupciais art
 Consentimento conjugal art  Atos que podendo embora ser
praticado por um dos cônjuges reclamam o concurso da vontade do outro
através do consentimento conjugal
 O legislador vai desvalorar certos atos praticados por um dos cônjuges com
o valor jurídico da ilegitimidade Com efeito sempre que sejam praticados
atos sem concurso da vontade serão ilegítimos O conceito de ilegitimidade
não se confunde com o conceito de incapacidade O que cônjuge não tinha
era legitimidade e não incapacidade
 (á também limitações em matéria de celebração de negócios jurídicos por
força da lei atos gratuitos i e doações entre os cônjuges arts a
e atos onerosos i e compra e venda entre os cônjuges art
n en Quanto ao contrato de sociedade devemos ter em consideração
o art do CSC
 Encontramos no C C verdadeiros estatutos legais conjunto de regras que
não podem ser conformados livremente pelos cônjuges Devem ser
conformados e se aplicam em bloco Ex matéria de disposição de bens de
administração de bens e de responsabilidade por dívidas
 Regra da metade art
 Regra que determina a aplicação necessária do regime da separação de
bens em determinados casos art

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Conceito de património

Património coletivo  O património conjugal não consiste num património


autónomo nem separado
Existência de uma massa patrimonial que é titulada por dois ou mais
sujeitos
(á uma afetação finalística que significa que o património existe e subsiste
na medida em que o fim que o determina continua a justificá lo Desta
afetação finalística decorre um regime particular de responsabilidade por
dívidas Os credores do património vão se fazer pagar primeiramente pelos
bens que integram a comunhão conjugal e só subsidiariamente e uma vez
excutidos os bens é que é possível acionar os cotitulares da comunhão de
bens

Massa patrimonial  Foi estudado a propósito da esfera jurídica Devemos


recordar o conceito de património em sentido material Conjunto de bens
pertencentes a certa pessoa em certo momento histórico

Atos de administração e atos de disposição  Devemos distinguir entre elementos


estáveis e instáveis do património Os elementos estáveis se destinam a
permanecer naquela esfera jurídica e a subsistir como tal Os elementos instáveis
se destinam a sair do património ou a ser consumidos Vamos atender ao conceito
de função económico social i e conceito de causa Devemos averiguar para que
serve o bem em causa i e ser alienado consumido etc Esta questão feita em
termos abstratos tem que ser temperada pelo caso concreto relevando a qualidade
do sujeito ex para alguém que compra e vende prédios a compra de um prédio
será um ato de administração É ainda relevante ter em conta o tipo de ato
praticado nomeadamente se está em causa o uso da coisa a fruição da coisa ou
alienação da coisa ex se alieno elementos instáveis do património o ato será um
ato de administração se alieno elementos estáveis do património estou a praticar
um ato de disposição

É necessário atender ao regime legal tipificado no C C porque não existe um


regime comum consagrado na Parte Geral do C C que seja agregador

Os regimes de bens

Sede normativa  arts a CC

No regime de bens podemos identificar três categorias


a Comunhão de adquiridos
b Comunhão geral de bens
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c Separação

Comunhão geral art a n parte C C  O art


explicita o âmbito da comunhão geral não se admitindo que os cônjuges estipulem
o regime da comunhão geral de bens quando tenham filhos maiores ou
emancipados art n parte

Separação arts a e art  O art consagra a prova da


propriedade dos bens

O legislador consagra como regime supletivo que se aplica na ausência de


estipulação ou convenção antenupcial o regime da comunhão de adquiridos

Adicionalmente o legislador impõe o regime da separação de bens nos casos


previstos no art
 Casamento celebrado sem procedência do processo preliminar de
casamento
 Casamento celebrado por quem tenha completado anos de idade

A convenção antenupcial

Sede normativa  Arts a C C arts n e a CRC

A convenção antenupcial é um negócio jurídico bilateral com natureza contratual


que se destina a fixar o regime de bens
 O Prof Guilherme Oliveira considera um contrato acessório ao contrato de
casamento

Aplica se o princípio da autonomia privada e as restrições impostas por lei O art


consagra a liberdade de convenção Depois temos desvios consagrados no
art que veda a celebração de convenção antenupcial em determinadas
situações
a A regulamentação da sucessão hereditária dos cônjuges ou de terceiro
salvo o disposto nos artigos seguintes
b A alteração dos direitos ou deveres quer paternais quer conjugais
c A alteração das regras sobre administração dos bens do casal
d A estipulação da comunicabilidade dos bens enumerados no artigo

Adicionalmente devemos ter em conta no art n parte consagra se uma


norma que enuncia o pp de proibição de escolha

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(á casos particulares em que estão em causa atos com projeção sucessória Assim
os artigos estipulam quais disposições por morte é que são admitidas se os pactos
sucessórios podem ser admitidos etc

Como este contrato é um contrato especial o legislador vem impor requisitos


apertados no que diz respeito à forma e substancia da convenção antenupcial
 No plano substancial  (á uma regra particular quanto à capacidade art
Assenta em dois planos de delimitação positiva e negativa
 No plano formal art

As convenções antenupciais devem ser publicitadas através do registo art

A convenção antenupcial sendo um negócio jurídico abrange os arts a e


pode ser objeto de modificação art Não comporta uma exceção ao
princípio da imutabilidade

Em sede de cessação as convenções antenupciais podem cessar a sua vigência nos


casos dos arts e

Disposição de bens

Sede normativa  Art A Be


Devemos averiguar se o bem é próprio ou comum
 Comum n e An a eb
 Próprio n e An a eb

Regimes especiais
 Casa de morada de família art An
 Estabelecimento comercial art A n b substrato de uma
empresa conjunto dos trabalhadores e bens que em termos unitários dão
valor àquela empresa

Atos com relevância sucessória

Sede normativa  art

Em matéria de aceitação e repúdio de legados e heranças art n nós


temos princípios opostos que se explicam por razões de razoabilidade Para aceitar
heranças o legislador não exige o consentimento do outro cônjuge porque dos
bens que advenham por via da sucessão haverá um aumento da massa patrimonial
Para o repúdio de legado ou de herança já se exige o concurso da vontade porque
se pode atentar aqui contra o aumento do património exigindo se o
consentimento como regra exceto se vigorar o regime da separação de bens

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Dívidas dos cônjuges

Sede normativa  a

O princípio geral é que ambos os cônjuges têm legitimidade para contrair dívidas

Temos que distinguir entre dívidas que responsabilizam ambos os cônjuges art
n n e dívidas exclusivas de ambos os cônjuges art
n e

Dívidas contraídas em proveito comum do casal esta matéria já deu aso a grandes
discussões no passado (á uma interpenetração com o Direito Comercial No
proveito comum releva saber quais são os bens impenhoráveis
Arts n alínea d n n (á uma presunção legal de
proveito comum Esta matéria deve ser complementada com as dívidas contraídas
no exercício do comércio art n alínea b Devemos ter em conta o art
e do Código Comercial

Bens que podem responder  Que bens é que podem ser executados Releva o art
e

Art compensações pelo pagamento de dívida do casal Prof Cristina Dias

)mplicações desta matéria em sede de processo executivo arts e


e Código do Processo Civil

Doações entre os cônjuges art a

Doações para casamento art a

Negócios onerosos entre os cônjuges

Nem todos os negócios onerosos são autorizados entre os cônjuges havendo


condicionamentos em matéria de compra e venda contrato de sociedade

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A Convenção Antenupcial é um contrato )sto significa que se aplicam nesta


matéria todas as regras do regime comum em matéria de perfeição dos negócios
jurídicos
 Primeiro requisito  É necessário um consentimento bilateral Ambos os
nubentes têm de manifestar a sua vontade de celebração deste negócio
jurídico
 Segundo requisito  Capacidade para celebrar convenções antenupciais
art CC e C C Não há aqui grandes especialidades do que
resulta da norma geral da capacidade para contrair casamento art
(á depois casos particulares previstos no art n casos em que o
casamento futuro vai ser celebrado por nubentes que são ou menores de
idade ou que se caracterizam por alguma patologia que imponha uma
medida de interdição ou inabilitação aí só é possível celebrar a convenção
com autorização dos representantes legais O art vem desenvolver o
regime do art n O art consagra a anulabilidade se não
houver esta autorização dos representantes Contudo a anulabilidade não é
absoluta

É através da convenção antenupcial que os nubentes vão definir o regime de bens

Para além do respeito pelo art que é uma norma especial temos que
controlar a validade das convenções antenupciais à luz de outros princípios e
normas imperativos com fundamento no art e C C O regime das
convenções antenupciais pauta se pelo respeito pela trilogia de limites que se
observa em qualquer negócio jurídico

Quanto aos requisitos formais art


 Primeiro requisito  exteriorização da vontade de negocial tem de ser
prestada em declaração perante funcionário do registo civil ou escritura
pública

Existem depois formalidades que se autonomizam da observância de forma Posso


ter uma convenção formalmente perfeita mas que depois seja suscetível de não
respeitar estas formalidades

Art  Determina que as convenções só produzem efeitos em relação a


terceiros depois de registadas
 Mesmo que a convenção não seja registada não deixa de ser eficaz entre as
partes A única ineficácia que ocorre é relativamente a terceiros no sentido
em que estes não se vinculam ao negócio
 O n procede a uma delimitação do conceito de terceiros herdeiros do
cônjuge e demais outorgantes da escritura

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A Convenção Antenupcial pode ser inválida por razões substanciais


 Falta de vontade
 Divergência entre vontade e declaração
 Vício no plano da capacidade celebrada por incapaz

O próprio legislador ressalva o regime em matéria de casamento putativo No


limite tem de se articular os efeitos da invalidade da convenção antenupcial a
ineficácia com a existência de boa ou má fé por um ou ambos os cônjuges

Natureza jurídica da convenção antenupcial  Tem natureza negocial sendo um


negócio jurídico bilateral formal

Regimes de bens

Os regimes de bens é uma matéria que consta do articulado do C C a


Está em causa o conjunto de regras que vão definir a titularidade sobre os bens do
casal esclarecendo portanto se aqueles bens se devem considerar como bens
próprios ou bens comuns

Esta é uma matéria em que é particularmente importante o princípio da autonomia


privada e da liberdade contratual Ao contrário do que sucede nos estatutos legais
vide administração de bens e responsabilidade por dívidas concedeu aos
cônjuges uma margem de conformação A conformação opera através da
convenção antenupcial

Temos três grandes categorias


Comunhão de adquiridos arts a C C  Este é o regime mais
importante e mais complexo do ponto de vista do desenvolvimento normativo
É um regime supletivo não havendo celebração de convenção antenupcial

Regra da metade art  Determina que os cônjuges participam por


metade no ativo e no passivo da comunhão Esta regra é muito importante porque
esta matéria interliga se com a matéria dos negócios feitos por um dos cônjuges
porque há a tentação de em vida os cônjuges tentarem estipular a distribuição dos
bens por familiares terceiros em termos que possam ser considerados ilicitudes
por determinarem um desrespeito pela regra da metade São casos de fronteira
entre violação de norma imperativa ou fraude à lei
 A regra da metade justifica se porquê A razão de ser tem a ver com o
facto de o legislador entender que esta é a forma mais equitativa de
responder àquilo que aconteceu durante a vigência do casamento
comunhão recíproca No momento da dissolução cada um levanta a sua
parte

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O regime da comunhão de adquiridos caracteriza se pela existência de bens


próprios arts O elenco dos bens próprios é
vasto e suscita muitas dúvidas interpretativas complexificando a matéria da
comunhão de adquiridos Art alíneas
 Art alínea a São considerados bens próprios os bens que cada
um deles tiver ao tempo da celebração do casamento Para sabermos se
os bens já existiam ao tempo da celebração do casamento temos de
averiguar a data do título de aquisição )sto é fácil relativamente aos bens
imóveis munidos de um título formal mas é mais difícil relativamente
aos bens móveis
 Artigo alínea b  São bens próprios os bens que advierem depois
do casamento por doação e sucessão Entende se que estes bens ainda
que tenha sido adquirido depois de casado o cônjuge não se pode
considerar que tenha havido qualquer colaboração ou intervenção do
outro cônjuge Quando se fala aqui em sucessão abrange se quer deixas
testamentárias quer legados
 Artigo alínea c São bens próprios bens adquiridos depois do
casamento mas em virtude de direito próprio anterior ao casamento A
doutrina acrescenta os casos em que foi adquirido por um dos cônjuges
um bilhete de lotaria e o prémio só é sorteado depois de casado
o Não cai nesta alínea casos em que tenha sido celebrado antes do
casamento um contrato promessa de compra e venda de um bem
imóvel cuja celebração do contrato definitivo ocorre depois de
celebrado o casamento O contrato promessa pode ser celebrado
com eficácia real art Se tiver sido dotado de eficácia real a
doutrina e jurisprudência entende que há hipótese de aplicar a alínea
c do art Caso contrário não
 Artigo  Quando na alínea c se menciona com valores próprios
de um dos cônjuges ideia de que tem de se fazer a prova de que aquele
bem foi adquirido exclusivamente ou na sua maioria por valores
adquiridos por um dos cônjuges )sto significa que não se podem
considerar valores próprios de um dos cônjuges concretamente as
chamadas economias ou aforros que venham a ser constituídos por
economias Exclui se esta alínea a bens adquiridos com vendas de
imoveis O legislador exige uma declaração que tem de ser
contemporânea da aquisição ou seja prestada no momento da celebração
do negócio jurídico de aquisição do bem tem de ter como objeto o
esclarecimento da proveniência daqueles valores e tem de ser assinada
por ambos os cônjuges Sempre que assim não suceda a consequência
jurídica é a de que os bens se consideram como bens comuns e não como
bens próprios

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o Razão de ser da exigência da declaração  Proteção de terceiros


Terceiros têm que saber com base na declaração qual é a
proveniência daqueles valores
o Prof Pereira Coelho e Guilherme de Oliveira  Admite a
possibilidade de se requerer o suprimento da necessidade de
intervenção de um dos cônjuges Deve se considerar aplicável o
regime previsto no art n

O art não se confunde com o art n e n alínea c São hipóteses


materialmente diferentes
 Nos casos do art o direito ou expetativa é anterior à celebração do
casamento
 Nos casos do art o direito já é posterior à celebração do casamento
não existindo o hiato temporal relevado no art

Jurisprudência relevante
 Acórdão STJ  A razão de ser da exigência de declaração é a
proteção de um cônjuge em relação a outro
 Acórdão de Uniformização de Jurisprudência de  Veio
esclarecer as várias dúvidas que existiam na matéria
 Acórdão STJ  Sobre o art bens comuns Foi
celebrado um contrato promessa anterior ao casamento sem eficácia real
Depois do casamento foi outorgado um contrato de mútuo por um dos
cônjuges e celebrado o contrato de compra e venda do cônjuge que era
outorgante no contrato promessa O tribunal concluiu que seria um bem
comum
 Acórdão STJ  Já depois de celebrado casamento foi
adquirido por um dos cônjuges um prédio urbano que foi edificado sobre
um terreno que lhe havia sido doado As obras de construção foram
suportadas por ambos os cônjuges antes de se casarem quando viviam em
união de facto As contribuições de ambos foram feitas à custa dos salários
que ambos aferiam Agora depois de casados é um bem próprio ou comum
O tribunal considerou que estava em causa um bem próprio
 Acórdão STJ  Dispõe acerca da regra da metade )ncide
diretamente sobre o art Neste caso houve uma simulação de valor
em vida A simulação não foi demonstrada por não haver elementos mas a
cláusula era nula por ofender a regra da metade

Comunhão geral de bens  O legislador é lacónico na sua regulamentação


havendo apenas três artigos art e O património conjugal
é composto pelos bens quer presentes quer futuros de ambos os cônjuges
Vamos assistir a uma comunhão em três planos no plano da titularidade da
administração dos bens e no plano da posse sobre esses mesmos bens É o
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regime menos praticado atualmente são diminutos os casos em que se opta


por este regime

O art está previsto em sede de regime de comunhão geral e pode ser


convocada em determinadas hipóteses em que esteja em causa o regime de
comunhão de adquiridos com base no argumento de maioria de razão A alínea f
cuida de bens particulares que têm uma ligação incindível com a pessoa de um dos
cônjuges e por isso não devem ser integrados na comunhão conjugal

Separação arts a art C C  Neste regime há uma


ausência de bem comunhão (á uma separação absoluta de bens e uma
separação quase absoluta no plano da administração e disposição de bens (á
normas legais que restringem a livre atuação dos cônjuges que vivem em
separação de bens vide art An n
o Casa de morada de família  É certamente a residência habitual da
família (á quem questione se quanto às residências secundárias i e
casas de férias se devem ou não estar protegidas pelo regime da casa de
morada de família Também se discute o problema que se prende com
imprimir ao conceito da casa de morada de família uma materialidade
Muitas vezes os casais podem ter adotado uma morada como sendo em
termos formais a sua casa de morada de família mas que em termos
materiais não habitam nessa casa

No regime da separação de bens presume se a compropriedade quanto aos bens


móveis art n mas não quanto aos bens imóveis
o Coloca se em muitos acórdãos a questão do mandato tácito de um dos
cônjuges que condiciona as regras da compropriedade

O legislador admite que os nubentes possam em sede de convenção antenupcial


estabelecer cláusulas sobre a propriedade dos bens imóveis

c Administração de bens do casal

Sede normativa  Arts a CC

Os bens do casal não são necessariamente de um ou de outro cônjuge nem


pertencem a ambos em compropriedade são antes bens comuns )sto supõe um
regime específico para a sua administração porque não há regras gerais de direito
civil sobre o assunto

Por outro lado mesmo quando os bens pertencem a um ou a outro cônjuge as


circunstâncias de grande proximidade em que eles vivem a comunhão de vida
recomendam que um dos cônjuges tenha poderes de administração sobre bens do
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outro ou tenha poderes exclusivos sobre bens que são dos dois Também isto
carece de regulamentação especial

As regras sobre administração dos bens do casal são imperativas nubentes não
podem convencionar regras diferentes de acordo com a sua conveniência art
n alínea c
 Talvez o legislador tenha receado que deixando esta matéria à liberdade
dos nubentes muitos fossem tentados a seguir a tradição que confiava ao
marido os poderes de administrar todos os bens do casal frustrando deste
modo o princípio igualitário que a Reforma estava a introduzir no Direito
Civil na sequência dos preceitos constitucionais de

Esta imperatividade não exclui que um cônjuge ceda ao outro todos ou parte dos
seus poderes sobre bens próprios ou bens comuns desde que o faça por mandato
que é livremente revogável arts n alínea g n
 O que o legislador quis proibir foi a concessão de poderes em convenção
antenupcial que vincularia o cedente até uma revogação por mútuo
consenso sendo certo que esta revogação poderia tornar se impossível
tanto por causa de um princípio de imutabilidade das convenções como por
causa da falta de colaboração do outro cônjuge

O art enuncia as regras gerais de administração dos bens do casal

Artigo

)mporta distinguir entre a administração dos bens próprios e a dos bens comuns
 Bens comuns art n alínea c e n art n e 
Titulados por ambos os cônjuges Consagra se o princípio da administração
conjunta (á contudo desvios que determinam a administração exclusiva por
um dos cônjuges O elenco legal por vezes não é suficientemente claro
 Bens próprios art n a b c e f g n e  titulados
exclusivamente por um dos cônjuges Consagra o princípio geral segundo o
qual cada cônjuge administra os seus próprios bens Contudo há desvios

Em matéria de atos de oneração e de arrendamento da casa de morada de família


impõe se o regime particular O legislador não se basta com a circunstância do bem
ser próprio ou comum tendo de haver consentimento conjugal

O consentimento conjugal é um ato de autorização que tem de ser reclamado por


um cônjuge de forma expressa ou tácita arts n n en
An en B n en

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Bens comuns art  Regime de administração concorrencial em que


ambos os cônjuges têm de participar no ato
 Ato de administração ordinária  Atos da gestão corrente em que o
legislador dispensa o consentimento do cônjuge por fazerem parte da
dinâmica da vida familiar
 Ato de administração extraordinária  Definição por exclusão de mais
Com efeito são todos os atos que não se podem considerar de
administração ordinária

Esta distinção entre atos de administração ordinária e extraordinária pode gerar


alguns problemas Por isso devemos convocar por um lado o conceito de
benfeitoria art
 Benfeitorias  É importante para que se possa densificar o conceito de atos
de administração ordinária PAV defendia que tudo o que se traduzisse na
conservação de uma coisa era um ato de administração ordinária Os
demais seriam atos de administração extraordinária Ora esta noção sem
mais não é consentânea com o elenco de benfeitorias que existe
 Critério do valor  o valor da intervenção tem de ser medido de acordo
com o próprio governo familiar despesa suscetível de ser suportada por
aquela família naquele momento
 Natureza urgente premente ou necessária  O legislador parece insensível
a esta realidade Mas da urgência ou não urgência pode depender a
necessidade de atuação imediata sem que se espere consentimento

Com base nestes elementos os atos de administração ordinária podem incluir


outros atos que não sendo necessariamente atos de gestão corrente ainda assim se
confinem no plano das economias familiares

De igual forma há fundamento material para se poder alargar o conceito de atos de


administração ordinária aos atos que não sendo rotineiros sejam estritamente
urgentes Se não forem praticados podem pôr em termos irremediáveis o bem
comum Esta ideia da urgência tem um suporte normativo no art C C De
acordo com este preceito se se admite que o cônjuge não administrador possa
praticar providencias sem intervenção do cônjuge porque sem ela haveriam
prejuízos então parece autorizar se que em caso de urgência que o cônjuge que
também é administrador mas que necessitava do consentimento do outro cônjuge
pratique o ato sem necessidade deste consentimento

Acórdão STJ de  Cuida do conceito de atos de administração


ordinária ao abrigo do art n A cessão de um contrato de arrendamento
de um imóvel onde a mulher exercia a sua profissão

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Se estiver em causa um ato de administração extraordinário o legislador exige o


consentimento de ambos os cônjuges Se não houver consentimento o ato é
praticado sem consentimento
 Não encontramos uma consequência típica para este ato no C C

Assim temos as seguintes teses em confronto


Prof Jorge Duarte Pinheiro 
Prof Antunes Varela e Cristina Dias  Não se deve aplicar analogicamente o art
mas deve cominar se uma nulidade venda de bens alheios
Ato é válido e tem única e exclusivamente consequências no plano das relações
entre cônjuges O art é uma norma sancionatória que elenca
determinadas hipóteses Causa alguma estranheza que se possa aplicar
analogicamente uma norma gravosa como é o caso de uma norma sancionatória

A circunstância de se considerar que o ato praticado o foi em termos regulares ou


não tem diretas consequências na matéria da responsabilidade por dívidas Um
dos cônjuges pratica um ato para o qual precisaria de consentimento do outro
cônjuge e assim não se pode convocar sem mais o art n alínea c Então
como se contorna esta dificuldade Convocando a norma do art
possibilidade de responsabilizar o cônjuge pela dívida no património comum

Quanto ao consentimento do cônjuge art é especial e tem de se avaliar o


negócio jurídico celebrado para se averiguar a forma necessária para o
consentimento

Tipologia de atos

Bens relativamente impenhoráveis art n  Estão isentos de penhora


apreensão judicial de bens os bens imprescindíveis a qualquer economia
doméstica Este conceito é um conceito mais restritivo do que está previsto em
sede de CPC e alguns autores rejeitam no Mas é uma norma que deve ser
ponderada

Recheio de casa art c 

Sempre que a administração dos bens seja ruinosa pondo em causa a efetividade e
subsistência do património conjugal os cônjuges podem requerer a separação de
bens Um dos fundamentos da separação de bens é quando estiver em risco de
perder o que é seu pela má administração do cônjuge

Dívidas dos cônjuges arts a CC

A legitimidade para contrair dívidas princípio geral


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A primeira observação que merece ser feita diz respeito à própria necessidade de
consagrar um regime especial sobre responsabilidade por dívidas dos cônjuges
para além do direito comum das obrigações Com efeito a comunhão de vida
conjugal justifica a utilização de instrumentos especiais mais complexos mas
também mais adequados Os tópicos mais característicos deste regime especial
encontram se
 No facto de facilmente um dos cônjuges poder obrigar o outro sem este ter
participado no ato de assunção da dívida e na ausência de um acordo de
mandato ou independentemente da verificação dos requisitos da gestão de
negócios
 E ainda na circunstância de com frequência o património de um dos
cônjuges e o património comum serem chamados a pagar dívidas para
além da quota de responsabilidade que lhes competia sem prejuízo do
direito de regresso

No âmbito do casamento afasta se a regra geral de que quem contrai a dívida é por
ela responsável em proteção do credor

Artigo
Legitimidade para contrair dívidas
Qualquer dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento do outro
Para determinação da responsabilidade dos cônjuges as dívidas por eles contraídas têm a data
do facto que lhes deu origem

Princípio geral da legitimidade para contrair dívidas  Qualquer um dos cônjuges


tem legitimidade para contrair dívidas sem consentimento do outro cônjuge
independentemente do regime de bens art n
 Critério temporal  O legislador manda atender ao momento da
constituição do vínculo obrigacional atendibilidade do facto que deu
origem à dívida Ou seja para determinação da responsabilidade dos
cônjuges a data em que as dívidas foram contraídas é a do facto que lhes
deu origem art n

As modalidades de dívidas

Dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges

Artigo
Dívidas que responsabilizam ambos os cônjuges
São da responsabilidade de ambos os cônjuges
a As dívidas contraídas antes ou depois da celebração do casamento pelos dois cônjuges ou por
um deles com o consentimento do outro

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b As dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges antes ou depois da celebração do casamento
para ocorrer aos encargos normais da vida familiar
c As dívidas contraídas na constância do matrimónio pelo cônjuge administrador em proveito
comum do casal e nos limites dos seus poderes de administração
d As dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comércio salvo se se provar
que não foram contraídas em proveito comum do casal ou se vigorar entre os cônjuges o regime
de separação de bens
e As dívidas consideradas comunicáveis nos termos do n do artigo
No regime da comunhão geral de bens são ainda comunicáveis as dívidas contraídas antes do
casamento por qualquer dos cônjuges em proveito comum do casal
O proveito comum do casal não se presume exceto nos casos em que a lei o declarar

São da responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas mencionadas nas várias


alíneas do n e no n do art

Dívidas contraídas pelos dois cônjuges ou por um deles com o consentimento do


outro  Visam se aqui quer as dívidas anteriores quer as posteriores ao
casamento e qualquer que seja o regime de bens
 A lei não faz exigências formais para a validade do consentimento valendo
o princípio da liberdade de forma art pelo que o consentimento
meramente consensual é válido No entanto o consentimento não
formalizado pode suscitar dois problemas
Pode ser difícil de provar no caso de conflito entre credor e devedor
ou entre cônjuges O ónus da prova do consentimento caberá ao
credor que pretender responsabilizar ambos os cônjuges ou ao
cônjuge devedor que quiser partilhar a responsabilidade com o
outro cônjuge
No caso de os cônjuges serem casados em regime de separação de
bens o consentimento informal do cônjuge do devedor que o credor
não conheceu nem podia ter conhecido pode traduzir se numa
responsabilidade parciária pela dívida art n contra a
expectativa do credor que contava com a responsabilização integral
do devedor com quem contratou

A alínea a é independente da existência de aproveitamento comum É uma alínea


autónoma da alínea c Acórdão da TRP de

Dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges para ocorrer aos encargos normais
da vida familiar  Tratam se das dívidas pequenas relativamente ao padrão de
vida do casal em geral correntes ou periódicas que qualquer dos cônjuges tem de
ser livre de contrair Ex dívidas de alimentação vestuário médico e farmácia
compras do supermercado conta da luz e da água etc
 O legislador vai relevar quer os atos praticados antes do casamento quer os
atos praticados depois do casamento O legislador presume que mesmo

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antes de celebrado o casamento faz sentido impor que as despesas


realizadas sejam comuns dever de assistência
 É irrelevante o regime de bens que esteja em causa
 Trata se de encargos preparatórios do casamento ou derivados da vida
familiar a cuja responsabilidade nenhum cônjuge se pode eximir ainda que
não tenha contraído pessoalmente a dívida nem tenha consentido
expressamente nela

A alínea b está duplamente condicionada Os encargos não devem ser só da vida


familiar como também devem ser normais Esta nota da normalidade visa filtrar o
tipo de despesas realizado despesas que se enquadrem no estilo de vida do casal
Por outro lado releva o critério finalístico

Pode se considerar que em casos especiais os encargos da vida familiar possam


ter valores elevados Ex um dos cônjuges tem uma doença que exige medicamentos
caros Contudo em geral não se enquadra aqui por exemplo a compra de um iate

Devemos ter em consideração o nível económico da família em causa Ex uma


conta de na mercearia gourmet poderá ser considerado um encargo normal
da vida familiar para uma família com um rendimento muito elevado

O Tribunal da Relação do Porto afirmou que a aquisição de um


veículo automóvel nos dias de hoje embora frequente não pode ser considerada
um encargo normal da vida familiar na sequência de deliberações anteriores no
mesmo sentido

Quer na alínea a quer na alínea b o legislador vai relevar quer os atos praticados
antes do casamento quer os atos praticados depois do casamento Na alínea a
havendo consentimento e na alínea b para ocorrer aos encargos normais da vida
familiar

Dívidas contraídas na constância do matrimónio pelo cônjuge administrador e nos


limites dos seus poderes de administração em proveito comum do casal  A
administração cabe normalmente ao marido e à mulher De modo que para se
saber se certa dívida contraída por um dos cônjuges pode considerar se de
responsabilidade comum à luz desta alínea c é necessário começar por averiguar
se essa dívida está conexionada com os bens que esse cônjuge tem a
administração A averiguação assentará na aplicação dos arts e ao
caso concreto Assim não preenche este requisito a dívida contraída pelo marido
com a intenção de pagar a construção de um muro numa propriedade da mulher
de que ela é administradora

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Estão em causa dívidas contraídas na constância do matrimónio pelo cônjuge


que é administrador em proveito comum do casal e nos limites dos seus
poderes de administração

 Constância do matrimónio  Devemos ver o facto que deu origem se é


anterior ou posterior ao casamento art n

 Cônjuge administrador  Tem de estar em causa um ato de administração e


não uma mera contração de dívida Ex se vou a uma loja e adquiro um LCD
porque não tinha um isso não é uma administração de um bem Ambos os
cônjuges podem ser administradores dos bens

 Limites dos seus poderes de administração  O ato se tem de compreender


nos limites dos poderes de administração Saber se o cônjuge realizou a
despesa utilizando bens próprios ou comuns e se tinha legitimidade para o
efeito no quadro normal da administração
 Os poderes de administração dentro do casamento são mais amplos do que
os poderes dos vulgares administradores de bens alheios Assim o cônjuge
que está a administrar um bem comum ou próprio do outro por força de
uma atribuição legal art n tem poderes muito amplos que só
terminam nos limites impostos pela necessidade de pedir consentimento ao
outro para a prática de certos atos sob pena de ilegitimidade
 Também excede os seus poderes nitidamente aquele cônjuge que contrai
uma dívida com o propósito de subscrever novas ações reservadas a
acionistas quando as ações anteriores são um bem comum administrado
por ambos ou quando decide fazer um muro na quinta que é administrada
pelos dois
 Tese da Prof Ana Filipa Antunes  Deve se entender um alargamento para
abranger os casos previstos no art

 Proveito comum  (á várias ideias a salientar


 O conceito de proveito comum não se pode presumir exceto nos casos em
que a lei o declarar art n É um conceito jurídico que pressupõe a
existência de uma matéria de facto relevante factos esses que devem ser
alegados e provados
 O conceito de proveito comum do casal não está circunscrito a despesas
que digam respeito ao casal Compreendem se também aqui despesas da
família
 O conceito de proveito comum é um conceito que releva não tanto pela
perspetiva do seu resultado concreto mas tendo em vista a finalidade que
presidiu a realização da despesa Ainda que o ato de realização da despesa
tenha sido finalisticamente orientado e se venha a revelar ruinoso isso não
afasta sem mais a existência de proveito comum
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 Ex A dívida que um dos cônjuges contrai para montar uma


exploração agrícola será comunicável mesmo que a exploração não
dê lucros ou até traga prejuízos pois se trata de dívida aplicada no
interesse comum do casal
 Devemos atender à intencionalidade do ato Esta intencionalidade tem de se
verificar em dois planos subjetivo representada pelo cônjuge que realiza a
despesa e objetivo há um filtro ditado pela razoabilidade aos olhos do
homem médio Ou seja exige se não só uma intenção subjetiva do agente
como também uma intenção objetiva de proveito comum sendo necessário
que a dívida se possa considerar aplicada em proveito comum aos olhos de
uma pessoa média e portanto à luz das regras da experiência e das
probabilidades normais
 Ex uma dívida que um dos cônjuges contraia para fazer em
Coimbra uma plantação de bananeiras nunca poderá considerar se
aplicada em proveito comum ainda que ele a tenha contraído nesse
intuito
 Este proveito comum tanto se pode traduzir num beneficio material ou
económico como num beneficio imaterial i e moral ou intelectual
 Ex será aplicada em proveito comum a dívida que um dos cônjuges
contraia para fazerem os dois uma viagem para irem a uma festa

O proveito comum levantou muitas dúvidas na doutrina quanto a saber se é uma


questão de facto ou uma questão de direito (oje em dia é doutrina assente que é
uma dupla questão de facto e de direito
 Questão de facto  Que factos têm de ser alegados para provar que há um
proveito comum O que interessa é o resultado ou a intenção com que foi
contraída a dívida É pacífico que o que é relevante é a intenção e não o
resultado Ex A faz uma plantação de sobreiros no Alentejo e um incendio
destrói Ninguém beneficiou da dívida contraída mas a intenção era no
proveito comum vender os sobreiros para pagar as contas da casa A
intenção tem de ser vista subjetivamente e objetivamente
 Questão de direito

Pode haver em determinadas hipóteses da vida norma uma tendencial aparente


sobreposição entre a hipótese da alínea b e da alínea c A alínea c trata do
proveito comum sendo duvidoso se cai na alínea b ou c

Dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comércio

A alínea d tem um propósito claro que é a tutela dos credores do cônjuge


comerciante A celeridade e confiança são valores essenciais que levam a que para
os credores poderem conceder créditos a comerciantes seja muito importante

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saber que poderão eventualmente atacar o património do outro cônjuge Este


preceito é muito criticado pela doutrina

O regime do art n alínea d visa a tutela do comércio alargando se o


âmbito da garantia patrimonial concedida aos credores daqueles que exercem o
comércio facilita se a estes últimos a obtenção de crédito e desta maneira
favorecem se as atividades mercantis

Devemos ter em consideração o art do Código Comercial  As dívidas


comerciais do cônjuge comerciante presumem se contraídas no exercício do seu
comércio Devemos ter em atenção também os arts e do Código
Comercial

O alargamento do âmbito da garantia patrimonial pela responsabilidade de ambos


os cônjuges corresponde a um sacrifício dos interesses do cônjuge comerciante
que preferia ficar alheio aos riscos da atividade desenvolvida pelo comerciante
este sacrifício da corresponsabilização é lhe imposto em favor do credor e do
comércio Mas pensa se que este sacrifício acaba por reverter no interesse dos
cônjuges e da família na medida em que dá confiança aos credores facilita a
obtenção de crédito favorece o exercício do comércio que constituirá uma parte
relevante da sustentação financeira da família

Regime deste artigo


 Temos neste artigo duas presunções
A primeira presunção resulta do art do Código Comercial Se um
cônjuge é comerciante presume se que uma dívida que contraiu o
foi no exercício do comércio
A segunda presunção resulta do art n alínea d e é aquela
segundo a qual presume se que as dívidas contraídas pelo cônjuge
comerciante o foram em proveito comum do casal Assim ao
contrário do que se passa no regime da alínea anterior o credor não
tem de fazer a prova do proveito comum

Sempre que um dos cônjuges seja comerciante a sua dívida se comunicaria ao


cônjuge É possível contudo ao cônjuge do comerciante afastar a
comunicabilidade da dívida
 O primeiro caminho para afastar a sua responsabilidade é o de demonstrar
que a dívida não foi contraída no exercício do comércio do devedor Ou seja
o cônjuge deve demonstrar que a dívida embora comercial não foi
contraída no exercício do comércio do cônjuge comerciante
o Ex Letra de favor que embora seja um título comercial não faz parte
do exercício do comércio do cônjuge comerciante não passa de um
favor a terceiro sem benefício direto para a exploração do aceitante

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 O segundo caminho para afastar a sua responsabilidade é o de demonstrar


inexistência de proveito comum do casal Mesmo que a dívida seja praticada
no exercício do comércio se não for contraída em proveito comum não é
comunicável
 O terceiro caminho para afastar a responsabilidade do cônjuge do
comerciante é se vigorar entre os cônjuges o regime da separação de bens
Trata se de uma aplicação da ideia de que os cônjuges são estranhos um ao
outro do ponto de vista patrimonial Os riscos e insucessos de um não
afetam o património do outro

A consagração destas exceções à regra da responsabilidade de ambos os cônjuges


pode suscitar dúvidas
 Pode se questionar por que razão a inexistência de proveito comum num
regime de comunhão afasta a responsabilidade do outro cônjuge mesmo
quando os frutos se integram na massa patrimonial comum enquanto a
existência de proveito comum num regime de separação não é suficiente
para sustentar a responsabilização do segundo cônjuge porque os frutos
são bens próprios e os patrimónios estão separados
 Esta verificação leva a pensar que o legislador usou dois critérios
Nos regimes de comunhão o critério decisivo foi a inexistência de
proveito comum
Nos regimes da separação o critério decisivo foi a natureza de bens
próprios dos frutos do estabelecimento que primou sobre a
existência de proveito comum
 (á quem pense que o regime do art n alínea d consagra um
sacrifício demasiado para o cônjuge do comerciante exposto às
consequências de uma atividade que implica um risco económico
concebível
 A propósito desta alínea há quem defenda e questione se não faria sentido
haver uma previsão simétrica relativamente àqueles cônjuges que exerçam
e pratiquem uma profissão liberal i e advogados médicos arquitetos
que se tiverem o azar de cometer um ato ilícito e danoso os efeitos que isso
podia ou não ter no património conjugal

Dívidas que onerem doações heranças ou legados quando os respetivos bens


tenham ingressado no património comum arts n alínea e e
n  São ainda comunicáveis as dívidas que oneram heranças ou legados

O ingresso dos bens no património comum resultará naturalmente de os cônjuges


terem estipulado o regime da comunhão geral ou uma cláusula de
comunicabilidade de certos bens adquiridos a título gratuito

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A responsabilidade por estas dívidas é comum ainda que o outro cônjuge não
tenha dado o seu consentimento à aceitação da liberalidade consentimento que é
aliás necessário art n Mas o cônjuge do aceitante poderá impugnar o
pagamento das dívidas com o fundamento de que o valor dos bens não é suficiente
para satisfação dos encargos art n

Dívidas contraídas antes do casamento por qualquer dos cônjuges em proveito


comum do casal vigorando o regime da comunhão geral de bens art n

Art n  No regime da comunhão geral de bens são ainda comunicáveis as


dívidas contraídas antes do casamento por qualquer dos cônjuges em proveito
comum do casal

Pode exemplificar se com a dívida dos doces vinhos e outras iguarias servidas no
lunch ou jantar nupcial aos convidados para a boda ou com despesas de mobiliário
e de decoração da futura casa despesas com enxovais etc

Sendo outro o regime de bens a dívida será da exclusiva responsabilidade do


cônjuge que a contraiu não obstante ter sido aplicada em proveito comum do
casal
 Compreende se que assim seja no regime da comunhão geral os bens que
pertenciam ao devedor e garantiam a dívida integram se no património
comum no momento do casamento O outro cônjuge passa a participar por
metade do valor dos bens que garantiam a dívida e por essa razão é justo
que partilhe também a responsabilidade

Dívidas que onerem bens comuns art n

Art
Dívidas que oneram bens certos e determinados
As dívidas que onerem bens comuns são sempre da responsabilidade comum dos cônjuges
quer se tenham vencido antes quer depois da comunicação dos bens

Parece natural que sejam comunicáveis as dívidas que oneram bens comuns ex
dívidas de )M) de taxas de saneamento que assim acompanham os bens como
encargos sobre eles

O legislador impôs o regime mesmo às dívidas vencidas antes do casamento ao


contrário do que resultaria das regras gerais enunciadas
 O interesse foi o de evitar que a comunicação dos bens possa prejudicar os
interesses dos credores das dívidas que os oneram como aconteceria
quando um nubente devedor casando em comunhão geral transformando

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todo o seu património em bens comuns eliminava a garantia normal das


dívidas vencidas antes do casamento
 Pode parecer discutível a necessidade que o legislador sentiu de tutelar
assim de um modo especial o interesse destes credores quando o mesmo
receio seria fundado relativamente a todas as dívidas pessoais anteriores ao
casamento a todos os credores dos nubentes que casam em comunhão
geral e ficam sem bens próprios para garantir dívidas já vencidas
 O remédio geral para todos os credores nestas circunstâncias reside na
possibilidade de fazer responder certos bens comuns ao mesmo tempo que
os bens próprios nos termos do art n designadamente os bens
levados para o casamento e também no facto de ter sido eliminada a
moratória que protegia o património comum o que permite ao credor
executar subsidiariamente a meação do devedor art n

Dívidas que nos regimes de comunhão onerarem bens próprios se tiverem como
causa a perceção dos respetivos rendimentos art n

Artigo
Dívidas que oneram bens certos e determinados
As dívidas que onerem bens próprios de um dos cônjuges são da sua exclusiva
responsabilidade salvo se tiverem como causa a perceção dos respetivos rendimentos e estes por
força do regime aplicável forem considerados comuns

A lei vigente dá relevo à distinção entre dois tipos de dívidas que podem ser
suscitadas por bens próprios (á pois que ver sempre se as dívidas estão
relacionadas com os bens em si ou com a perceção dos rendimentos desses bens
Só neste segundo caso é que as dívidas serão de responsabilidade comum por
também serem comuns nos regimes de comunhão esses rendimentos art
n

Bens que respondem pelas dívidas de responsabilidade comum

Artigo
Bens que respondem pelas dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges
Pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens comuns do
casal e na falta ou insuficiência deles solidariamente os bens próprios de qualquer dos cônjuges
No regime da separação de bens a responsabilidade dos cônjuges não é solidária

Pelas dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens


comuns e na falta ou insuficiência deles os bens próprios de qualquer dos
cônjuges art n

A responsabilidade dos cônjuges no caso de a dívida vir a ser paga com os bens
próprios é solidária nos regimes de comunhão e parciária no regime de separação

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Mas é claro que não está excluída aqui a solidariedade convencional arts e
ss

A parte de cada cônjuge na responsabilidade não é necessariamente de ao


menos quando as dívidas visarem ocorrer aos encargos normais da vida familiar a
responsabilidade de cada cônjuge deve corresponder à medida do seu dever de
contribuir para os encargos nos termos consagrados pelo art n isto é na
proporção das possibilidades de cada um

Jurisprudência relevante
 Acórdão da TRL de  Foi feita uma despesa com cartão de
crédito e foi feito um empréstimo para aquisição do veiculo automóvel
Colocou se a questão de saber se este veiculo automóvel podia ou não se
subsumir no conceito de proveito comum do casal
 Acórdão do STJ de  Sobre o proveito comum O proveito
comum do casal pode fundar se não apenas num interesse económico
como também moral e intelectual podendo resultar direta e atualmente da
atuação do cônjuge Revela se insuficiente a prova de que determinada
quantia recebida por um dos cônjuges recebida por contrato de mútuo foi
utilizado para a construção de um imóvel

Dívidas da responsabilidade exclusiva de um dos cônjuges art n


n
Artigo
Dívidas da responsabilidade de um dos cônjuges
São de exclusiva responsabilidade do cônjuge a que respeitam
a As dívidas contraídas antes ou depois da celebração do casamento por cada um dos cônjuges
sem o consentimento do outro fora dos casos indicados nas alíneas b e c do n do artigo
anterior
b As dívidas provenientes de crimes e as indemnizações restituições custas judiciais ou multas
devidas por factos imputáveis a cada um dos cônjuges salvo se esses factos implicando
responsabilidade meramente civil estiverem abrangidos pelo disposto nos n ou do artigo
anterior
c As dívidas cuja incomunicabilidade resulta do disposto no n do artigo

Dívidas contraídas por um dos cônjuges sem o consentimento do outro

Estão em causa dívidas que não foram consentidas e que não caiem em nenhuma
das alíneas b e c do artigo anterior

Não havendo circunstâncias especiais como as que a lei refere na parte final desta
alínea circunstâncias essas que se prendem com o modo de vida matrimonial
vale as regras gerais do direito das obrigações  cada um dos cônjuges fica
responsável pelas dívidas que contrai

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Exceções casos em que as dívidas são de responsabilidade comum


 Caso de as dívidas terem sido contraídas para ocorrer aos encargos normais
da vida familiar
 Caso de as dívidas terem sido contraídas pelo cônjuge administrador em
proveito comum do casal

Visam se aqui quer as dívidas anteriores quer as posteriores ao casamento

Dívidas provenientes de crimes ou outros factos imputáveis a um dos cônjuges

Estão em causa dívidas emergentes de responsabilidade criminal civil etc


Entende se que a responsabilidade é tipicamente pessoal e por isso o
cumprimento das dívidas deve ser realizado exclusivamente pelo cônjuge

Consideram se aqui
 Dívidas provenientes de crimes considerados como tais i e penas de
multa custas do processo criminal
 )ndemnizações restituições custas judiciais ou multas devidas por factos
imputáveis a cada um dos cônjuges

A lei quer abranger todos os factos constitutivos de responsabilidade civil conexa


ou não com a responsabilidade criminal quer se trate de factos ilícitos ou de factos
lícitos de factos culposos ou não culposos
 Ex declarada a nulidade de um negócio em que o marido interveio
desacompanhado do seu cônjuge a restituição das quantias recebidas é da
responsabilidade exclusiva do marido Acórdão STJ de

Ressalva se o caso de esses factos implicando responsabilidade meramente civil


estarem abrangidos pelo disposto nos n ou do art
 Será o caso das indemnizações devidas por factos praticados pelo cônjuge
administrador dentro dos seus poderes de administração e em proveito
comum do casal

Se o facto de um dos cônjuges implicar responsabilidade criminal ou importando


responsabilidade meramente civil não estiver abrangido pelo art n ou
n a responsabilidade será exclusiva do cônjuge autor desse facto

Pode discutir se se o proveito comum que justificaria a aplicação da ressalva da


parte final da alínea b tem de ser um proveito direto ou se basta um proveito
indireto
 Proveito direto  O proveito será direto quando por exemplo um cônjuge
conduz um veículo que pertence a um dos cônjuges ao serviço do
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estabelecimento comercial deste ou circula por ordem de ambos os cônjuges


ou se desloca para a realização de uma tarefa de interesse comum decidida
pelo cônjuge administrador no âmbito dos seus poderes de administração A
responsabilidade também se alarga ao outro quando um dos cônjuges se
torna responsável por um acidente de trabalho sofrido por um empregado
da casa ao serviço do cônjuge administrador ou em serviço doméstico
 Proveito indireto  O proveito será indireto quando os resultados da
atividade se imputam em primeiro lugar a outra entidade e os cônjuges
apenas beneficiam de uma forma reflexa

Em qualquer caso de responsabilidade exclusiva de um dos cônjuges pela prática


de qualquer facto ficará em aberto porém a possibilidade de uma ação de
enriquecimento sem causa no caso de a comunhão ter beneficiado da respetiva
atividade

Dívidas que oneram bens próprios de qualquer dos cônjuges art alínea c e
n

Mas se por força do regime de bens do casamento os rendimentos forem comuns


as dívidas que tiverem como causa a perceção dos rendimentos são de
responsabilidade comum

Dívidas que onerem doações heranças ou legados quando os respetivos bens


sejam próprios
A incomunicabilidade da dívida subsiste ainda que a aceitação da doação herança
ou legado tenha sido efetuada com o consentimento do outro cônjuge
consentimento aliás desnecessário art n

Assim como a autorização ou o consentimento dados não lhe permitem participar


no ativo da doação da herança ou do legado também nenhuma responsabilidade
lhe devem acarretar quanto ao respetivo passivo

Bens que respondem pelas dívidas de exclusiva responsabilidade de um dos


cônjuges

Regra geral art n  respondem por estas dívidas os bens próprios do


cônjuge devedor e subsidiariamente a sua meação nos bens comuns
 Na falta ou insuficiência de bens próprios do cônjuge devedor podem ser
imediatamente penhorados bens comuns do casal contanto que o
exequente ao nomeá los à penhora peça a citação do cônjuge do executado
para requerer querendo a separação de bens

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De acordo com o art n respondem ao mesmo tempo que os bens próprios


do cônjuge devedor
Os bens por ele levados para o casal ou posteriormente adquiridos a título
gratuito bem como os respetivos rendimentos
O produto do trabalho e os direitos de autor do cônjuge devedor
Os bens sub rogados no lugar dos referidos na alínea a

Embora estes bens possam ser comuns por força do regime matrimonial em vigor
e os bens comuns não respondam senão subsidiariamente por dívidas próprias a
lei sacrificou neste caso o património comum do casal em favor das expectativas
do credor que confiara na solvabilidade do devedor tendo em conta os bens que
ele levara para o casamento os que adquirira mais tarde por herança ou doação ou
os proventos porventura muito elevados que auferia do seu trabalho ou de
direitos de autor

A expressão usada pela lei e as razões do preceito levam a concluir que o credor
pode penhorar indistintamente bens próprios do devedor e estes bens
mencionados no n Não parece haver motivo para respeitar neste âmbito a
subsidiariedade que a lei prevê no n

Por outro lado o texto não parece limitar a responsabilidade ao valor de metade
dos bens comuns penhorados o que pode dar lugar a compensação no momento
da partilha

Compensações devidas pelo pagamento de dívidas do casal

Art  Prevê o caso de os bens de um dos cônjuges terem respondido por


dívidas de responsabilidade comum para além do que lhe competia É indiferente
que tenham respondido porque a responsabilidade dos cônjuges era solidária ou
porque um dos cônjuges tenha pago voluntariamente uma dívida comum para
além da parte que lhe tocava
 Surge um crédito de compensação a favor do cônjuge que pagou mais que a
sua parte sobre o outro cônjuge
 O crédito de compensações vai ser exercido apenas no momento da partilha
dos bens do casal
 Este crédito é titulado por um cônjuge relativamente a outro e não por um
cônjuge relativamente ao património conjugal

Estabelecendo um crédito do cônjuge que pagou sobre o outro e não sobre o


património comum não só virá a responder a meação do devedor no património
comum quando a houver mas também os seus bens próprios

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 Tudo se passará como se o credor fosse credor do património comum e a


título subsidiário credor do outro cônjuge

O art n regula a hipótese inversa  a de terem respondido bens comuns


por dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges ex casos do n do
art
 A lei determina que os bens mencionados responsam por dívidas próprias
do cônjuge devedor em atenção às expectativas do credor mas não se pode
esquecer que os bens são comuns que o outro cônjuge tem meação neles
em correspondência com a meação que dá nos bens que levou ou faz entrar
para o património comum
 Não se pode simplesmente deixar que estes sejam retirados da comunhão
como que voltando a ser bens próprios do seu anterior titular sob pena de
frustrar as expectativas e prejudicar seriamente o outro cônjuge
 Neste caso surge um crédito de compensação do património comum sobre
o património do cônjuge devedor a tomar em conta no momento da
partilha

As restrições à liberdade contratual

A imutabilidade do regime de bens e das convenções antenupciais

Artigo
)mutabilidade das convenções antenupciais e do regime de bens resultantes da lei
Fora dos casos previstos na lei não é permitido alterar depois da celebração do casamento
nem as convenções antenupciais nem os regimes de bens legalmente fixados
Consideram se abrangidos pelas proibições do número anterior os contratos de compra e
venda e sociedade entre os cônjuges exceto quando estes se encontrem separados judicialmente
de pessoas e bens
É lícita contudo a participação dos dois cônjuges na mesma sociedade de capitais bem como
a dação em cumprimento feita pelo cônjuge devedor ao seu consorte

A tradição da imutabilidade das convenções antenupciais e dos regimes de bens


andou associada compreensivelmente a grandes restrições da capacidade
negocial dos cônjuges A permanência dos regimes exigia que os cônjuges não
tivessem o ensejo para modificar a composição das massas patrimoniais através de
negócios jurídicos translativos de domínio que pudessem levar indiretamente ao
resultado que a lei proibia

As limitações em matéria de atribuições patrimoniais entre cônjuges

A compra e venda

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n vem estender a proibição enunciada pelo n aos contratos de c v e de


sociedade entre os cônjuges têm em comum natureza onerosa
Relativamente à compra e venda este é um contrato oneroso previsto nos arts
a sendo um modelo típico Esta proibição aplica se no caso de estarem
verificados pressupostos tem que estar em causa uma c v entre os cônjuges
c v s entre esposados e entre ex cônjuges não estão abrangidos aqui tem que
estar em causa uma verdadeira c v um negócio jurídico estipulado com essa
causa ou função entre os cônjuges por outras palavras não se entende abrangido
pela proibição a venda executiva aquela que ocorre num processo judicial e
coercivo processo executivo porque a razão de ser que justifica a proibição não
procede o preço releva é controlado pelo tribunal e o bem é vendido pelo mais alto
preço
Tal como não releva aqui a dação em cumprimento art n o legislador
desconfia da seriedade da vontade dos cônjuges receia que sobre a c v os conjuges
estipulem na realidade doações e que por esta via contornem o regime
especialmente previsto em sede de doações entre os conjuges arts a
contorno da regra da livre revogabilidade das doaçãoes do e da proibição
de doações nos casos do art

Pode questionar se se faz ou não sentido estender esta proibição por aplicação
directa a outros contratos de natureza análoga art escambo e parece que
sim porque ao contrario do que defende o prof Direito Pinheiro trata se de
aplicar directamente e não analogicamente esta norma por remissão desta

A constituição de sociedades

Sede normativa  Art n e n C C art Código das Sociedades


Comerciais

A proibição de celebração de contrato de sociedade entre os cônjuges visa garantir


a intangibilidade do património conjuga isto é vedar a conversão de bens próprios
em bens comuns ou vice versa

Estando os cônjuges separados de pessoas e bens não há restrições à constituição


de ou participação em sociedades eles podem nomeadamente ser sócios de uma
sociedade civil sob forma civil de uma sociedade em nome coletivo e de uma
sociedade em comandita na qual ambos sejam sócios comanditados

Na situação mais comum em que os cônjuges não estão separados de pessoas e


bens há que contrapor as sociedades civis sob forma civil às restantes

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O legislador não distingue no art a diferente natureza de sociedades Temos


que distinguir os tipos de sociedades que podem ser celebradas por quotas em
nome colectivo anónimas e em comandita sociedades civis arts a

Artigo
Participação dos cônjuges em sociedades
É permitida a constituição de sociedades entre cônjuges bem como a participação destes em
sociedades desde que só um deles assuma responsabilidade ilimitada
Quando uma participação social for por força do regime matrimonial de bens comum aos
dois cônjuges será considerado como sócio nas relações com a sociedade aquele que tenha
celebrado o contrato de sociedade ou no caso de aquisição posterior ao contrato aquele por
quem a participação tenha vindo ao casal
O disposto no número anterior não impede o exercício dos poderes de administração
atribuídos pela lei civil ao cônjuge do sócio que se encontrar impossibilitado por qualquer
causa de a exercer nem prejudica os direitos que no caso de morte daquele que figurar como
sócio o cônjuge tenha à participação

Art do código das sociedades comercias obriga a uma distinção as que têm
responsabilidade ilimitada e as que têm responsabilidade limitada Cônjuges
podem constituir sociedades comerciais desde que esteja em causa a
responsabilidade limitada por quotas ou anónima e em comandita desde que só
um deles tenha a responsabilidade ilimitada
 A razão de ser desta derrogação vai na mesma linha da responsabilidade
por dívidas art n d

) Sociedades comerciais e sociedades civis sob forma comercial

O art n do C S C alterou os n e do art no âmbito das sociedades


comerciais e das sociedades civis sob forma comercial Com efeito hoje é permitida
a constituição de sociedades entre os cônjuges bem como a participação destes em
sociedades desde que só um deles assuma responsabilidade ilimitada
 A proibição de constituir sociedades ou de participar em sociedades com
outrem foi reduzida aos casos em que os dois cônjuges assumam
responsabilidade ilimitada pelas dívidas sociais

)) Sociedades civis

O art n en continua a aplicar se às sociedades civis que não estão


subordinadas ao art n C S C Com efeito o art n estabelece uma
clara proibição da constituição de sociedades entre cônjuges
 Razão de ser desta proibição  Eliminar os ensejos que a constituição de
sociedades oferece para alterações da qualificação dos bens do casal e para
desvios a outras regras designadamente sobre o valor das entradas sobre a
natureza dos frutos e sobre quotas de liquidação Estas alterações são tão

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naturais no âmbito da constituição de sociedades que o legislador terá


preferido impor uma interdição plena

No âmbito das sociedades comerciais o legislador de terá entendido que os


interesses do comércio e da economia em geral deviam sobrepor se às regras do
Direito patrimonial da Família e por isso o art n é bem mais liberal Mas no
âmbito das sociedades civis não valem essas razões e a clássica proibição mantém
se em vigor

Jurisprudência relevante
 Acórdão do STJ de Uniformização de Jurisprudência de de Outubro 
Sociedades por quotas estão incluídas no n do art E o art tem a
natureza de lei interpretativa art C C tem eficácia retroativa
 Acórdão do STJ de de Outubro de  a proibição do n do art
não se estende às sociedades comerciais e o n compreende as sociedades por
quotas
 Acórdão STJ de de Dezembro de

Admissibilidade de contrato promessa de partilha na circunstância do contrato do


casamento
A partilha tem lugar na dissolução do casamento a questão é saber se na
constância do casamento pode ou não se admitir um contrato promessa de partilha
dos bens dos cônjuges
Pode acontecer que este seja celebrado em termos desequilibrados podendo haver
ameaças inclusivamente contra a própria vida e por essa razão exclui se esta
possibilidade por muito tempo (oje em dia temos uma posição intermédia é
possível desde que não ofenda o principio da imutabilidade desde que não tenha
ocorrido um aproveitamento ilícito por um dos cônjuges da sua posição
relativamente ao outro
Os prof Pereira Coelho e Guilherme Oliveira dizem que não faz sentido uma
proibição do contrato promessa porque se houver um risco de ascensão de um
sobre o outro existem as regras gerais que permitem proteger o cônjuge
nomeadamente a coação moral física etc E a produção de efeitos do contrato
promessa está sempre condicionado à celebração do contrato efetivo
Ac STJ de dezembro de
Ac STJ de Fevereiro de enuncia o principio da tendencial validade mas
neste caso decide pela nulidade

Doações entre casados

a
A doação é um negócio gratuito com a intenção de liberalidade art

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Principio de validade das doações entre cônjuges que tenham por objeto bens
próprios art invalidade das doações entre cônjuges que tenham por objeto
bens comuns

Porque é que não podem ser bens comuns por causa mais uma vez do principio
da imutabilidade o bem deve manter se como comum até ao momento da partilha
Tem que ver com a natureza jurídica do património conjugal é um património
colectivo indiviso
O princípio da validade de doações de bens próprios entre cônjuges é excetuado
pelo legislador no art
Não sendo possível as doações entre cônjuges não se obstaculiza as doações
realizadas entre esposados

principio Proibição de doações reciprocas art n tutela da vontade


livre e esclarecida pode haver o risco de um deles não estar a doar de livre
vontade e sendo o mesmo acto poderia haver o risco de não respeitar o principio
da livre revogabilidade das doações Remissão para o
(á um desvio a este princípio no n

principio da incomunicabilidade dos bens doação n

principio da livre revogabilidade das doações independentemente de uma


motivação prevista na lei é discricionária Articula se com os e ss
Esta livre revogabilidade pode conduzir a soluções e situações de justiça relativa
em casos em que um dos cônjuges queira compensar o outro em alguma medida
há quem critique o principio da revogabilidade nestes casos
Por outro lado o direito de revogar não se transmite por efeitos sucessórios

principio da )rrenunciabilidade ao direito de revogação livre da doação entre


casados art

Objeto das doações entre casados


Tem por objeto bens próprios do doador e só podem ser doados bens presentes e
não futuros art n

Forma das doações aplicam se os princípios gerais Art

Art há uma causa natural para a caducidade morte do doador Causas


jurídicas dissolução do vinculo matrimonial por efeitos da invalidade do
casamento é declarado nulo ou anulado remissão para o regime do casamento
putativo ver se há boa fé ou má fé para ver se doações caducam ou não divórcio
remissão para o separação judicial de pessoas e bens

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Doações entre esposados


Doações para casamento n doação feita a um dos esposados ou a ambos
em vista do seu casamento remissão para o a

Modalidades ver arts a promessa de casamento doações por


terceiros n e n
 Por um dos esposados a outro
 Pelos esposados entre si
 Por um terceiro a um dos esposados
 Por um terceiro a ambos os esposados

Em termos de eficácia as doações entre esposados produzem efeitos com a


celebração do casamento condição Este principio não tem natureza absoluta
n esposados podem negociar outros efeitos a doações que
produzem efeitos por morte do doador que valem como pactos sucessórios art
n

Forma das doações entre esposados redução a escrito e um documento


qualificado com natureza de convenção antenupcial Discute se se os
nubentes não fizerem convenção antenupcial mas outorgarem escritura pub
dizendo que se trata de um negócio pré negocial podem ser consideradas na
mesma Profs Pereira Coelho e Guilherme Oliveira dizem que sim

Art incomunicabilidade dos bens sem prejuízo de estipulação em contrário

Art )rrevogabilidade das doações entre casados

Art caducidade Mas há duas causas extra no art n en

Problema dos direitos de autor a


Art n do código dos direitos de autor Prof Antunes Varela

Art n b em matéria de administração de bens cada um dos cônjuges


tem ainda administração dos seus direitos de autor mas isto significa que são bens
próprios e não comuns

Art n b bens que respondem por dividas o produto do trabalho e os


direitos de autor do cônjuge anterior é bem comum ou bem próprio

Quando se fala no direito de autor temos que distinguir vários planos o direito
moral de autor não está em causa quando se fala nos direitos percebidos é um
bem incomunicável sendo um direito estritamente pessoal art n c O
problema é os direitos patrimoniais e temos que fazer uma subdistinção uma

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coisa é a potencialidade de exploração da obra pode se decidir se guardo o livro


numa gaveta se aliena a uma editora para venda etc e esse direito é um bem
próprio outra coisa é o rendimento efetivamente recebido e esse é comum nos
termos do e art b

Temos que distinguir o plano da potencialidade do beneficio decisão essa que


cabe ao autor e o plano da efetividade do benefício que é comum O art n
não trata do próprio rendimento auferido

Artigo alínea a  Esta norma que é aparentemente inócua determina que


se integra na comunhão o produto do trabalho dos cônjuges
o Coloca se a questão de saber que trabalho está aqui abrangido se o
trabalho subordinado ou se se pode incluir também o trabalho
independente
o Coloca se a questão de saber se se inclui na comunhão o produto de
trabalho prestado com regularidade )nclui se um vinculo duradouro ou
também as atribuições patrimoniais esporádicas Ex uma prática corrente
nos escritórios de advogados é atribuir prémios de produtividade
o As atribuições patrimoniais que são pagas em substituição daquelas que
normalmente teriam lugar Ex uma trabalhadora engravida e passado um
determinado tempo vai de licença de maternidade Durante esse período
quem vai suportar é a segurança social em substituição da retribuição
Outro exemplo são as pensões de reforma )sto entra no artigo

Faz se uma interpretação muito ampla da alínea a do art )ncluem se todas


as prestações de trabalho

Artigo c  Na alínea c quando se refere a mais direitos estritamente


pessoais convoca uma nota de infungibilidade São direitos intuito personae e que
têm um regime particular intransmissíveis irrenunciáveis Todos estes direitos
cairão na parte final da alínea c Também o direito moral de autor cai nesta alínea
o E as atribuições feitas a um dos cônjuges em razão de uma característica
sua particular Ex trabalhador de uma empresa que é sorteado para
receber um prémio Estes tipos de prémios podem cair na alínea c Parece
que sim Sempre que estejam em causa prestações pecuniárias que tenham
sido tituladas em razão de uma particular características do cônjuge que se
repugne que integre a comunhão Só têm de entrar na comunhão os bens
que se possam admitir que houve uma contribuição do outro cônjuge Estas
prestações são desligadas e destacáveis da pessoa do outro cônjuge

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Artigo alínea f  )nterpretação do uso pessoal e exclusivo Ex posso ter


um computador que utilize como instrumento de trabalho sendo muito duvidoso
que se possa considerar como tendo um uso pessoal e exclusivo
o )ncluem se peças de roupa que sejam infungíveis que o outro cônjuge não
pode vestir
o Joias  São tipicamente adornos utilizados pelo cônjuge do sexo feminino
Poder se ia entender que também eram bens incomunicáveis (á muita
jurisprudência neste sentido Mas não podemos assumir um juízo de todo
ou nada em absoluto sob pena de se subverter o regime O critério será o de
sacrifício do investimento que determinou a atribuição
o Não se deve considerar incluída nesta alínea a roupa de cama das casas de
banho instrumentos de trabalho que tenham uso profissional ao contrário
do que o legislador determina
o Quanto às correspondências há um regime especial relativamente ás cartas
missivas arts a

Artigo g  )nterpretação do conceito de diminuto valor económico Não


posso reconduzir a essa alínea tudo o que tenha uma ligação afetiva ao cônjuge

Devemos fazer uma remissão do art para as doações entre esposados e


entre cônjuges art

Cessação de relações pessoais e patrimoniais entre os cônjuges

Podemos ter dissolução do casamento por efeitos do divórcio morte dos cônjuges
invalidade do casamento Pode haver cessação noutras situações não elencadas no
artigo remissão para e

Partilha do casal art  O conceito de partilha pressupõe a existência de


bens comuns isto é uma comunhão conjugal Existindo apenas bens próprios não
há nada a dividir Pretende se liquidar o regime de bens vigente e proceder se à
divisão do património preenchendo as meações que são devidas a cada cônjuge
Vamos imputar bens com um valor à meação de cada um dos cônjuges
o Separação dos bens próprios  Vai se perceber naquela comunhão e à sua
margem se existem ou não bens próprios
o Relação de bens comuns e liquidação dos bens comuns  descritivo dos
bens atribuição dos valores para que possam ser distribuídos por ambos os
cônjuges Esta liquidação pressupõe um apuramento do ativo líquido
comum
o Partilha ou divisão dos bens art  A partilha deve operar
segundo o regime adotado

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Exercício de direitos de crédito entre os cônjuges  Minimizar conflitos durante a


vigência da sociedade matrimonial
 Problema da atualização do valor  Um cônjuge é titular de um direito de
crédito relativamente a outro o valor a que tem direito perante a dissolução
do casamento é o valor atualizado hoje ou o valor que se constitui há
anos
o A jurisprudência não se entende verdadeiramente quanto a este ponto
o PJDP  O art não permite mas permite o art

Jurisprudência
 Acórdão STJ  Atualização do valor devido no caso de estar
em causa uma compensação pelo património comum ao património próprio
de um dos cônjuges
 Acórdão STJ de  Questão da partilha anteriormente à
dissolução do casamento
 Acórdão STJ de  Dispõe acerca do art

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Modificação da relação jurídica matrimonial

A modificação é distinta da cessação antecâmera relativamente ao divórcio fase


intermédia fase de tensão e de conflito por razões pessoais ou patrimoniais

Causas de modificação
 Separação judicial de bens arts a
 Separação judicial de pessoas e bens arts a

Separação judicial de bens

Pode suceder que um cônjuge faça uma administração ruinosa e danosa que o
outro cônjuge queira evitar e pôr termo Por essa razão o art determina que
qualquer dos cônjuges pode requerer a simples separação judicial de bens quando
estiver em perigo o que é seu pela má administração do cônjuge Esta má
administração do cônjuge tem de ser ruinosa isto é causadora de danos Estes
danos atingem o que é do outro cônjuge nomeadamente os bens próprios e a
meação nos bens comuns

É necessária uma ação A tramitação do processo pressupõe que este processo seja
analisado numa ação própria intentada por um dos cônjuges contra o outro art
n Quem tem legitimidade para intentar a ação é o outro cônjuge A
tramitação segue o processo comum e não o especial

Efeitos art  Só se produzem com o transito em julgado da sentença


cristalizada e não recorrível
 Não há interferência no estatuto pessoal deveres conjugais continuam a ter
que ser cumpridos
 As interferências ocorrem no regime patrimonial (á uma convolação do
regime de bens que tinha sido estipulado (á uma partilha imediata do
património comum feita nos termos do art Liquidado o património
comum sobram os bens próprios duas massas patrimoniais
 Termina o regime de administração exclusiva por um dos cônjuges do
património comum ou dos bens próprios do outro cônjuge

Princípio da irrevogabilidade  Uma vez decretada não pode ser revogada art
n

Separação judicial de pessoas e bens

Art BeC
Art n

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A tramitação arts e ss CPC


a CRC

O regime da separação judicial de pessoas e bens é ele sim uma antecâmera para o
divórcio O legislador começa por dizer que é aplicado o regime jurídico do
divórcio art a As modalidades de separação judicial de pessoas e
bens são as mesmas que o legislador consagra em sede de divórcio
 Separação judicial de pessoas e bens com consentimento
 Separação judicial de pessoas e bens sem consentimento de um dos
cônjuges

Causa de pedido  Fundamento jurídico da pretensão Os fundamentos jurídicos


são quanto à sem consentimento o elencado no art Não há causa de
pedido no caso da separação por mutuo acordo

Efeitos
 Não há dissolução do vínculo matrimonial
 Estatuto pessoal há uma extinção de dois deveres conjugais art Os
deveres conjugais que se extinguem são o de coabitação comunhão de
mesa teto e leito e o de assistência art a Apesar de se
extinguir o dever de contribuir para os encargos da vida familiar o
legislador ressalva o cumprimento da obrigação de alimentos arts e
Persistem os deveres de respeito fidelidade e cooperação Mantém
se o direito a utilizar os apelidos do outro cônjuge a menos que ocorra a
ação especial no caso de haver um uso prejudicial do nome
 Campo patrimonial há uma equiparação tendencial ao regime de
dissolução porque vai haver lugar a partilha art e Deixa de
vigorar a proibição prevista no art n proibição de contratos
compra e venda e sociedade Estes contratos deixam de ser vedados no caso
de haver uma separação judicial de pessoas e bens Esta separação de
pessoas e bens pode ser decretada administrativamente ou judicialmente
processo de jurisdição voluntária

O legislador admite a possibilidade de reconciliação Voltando a encontrar se e


havendo conciliação tem de ser tramitada administrativamente para que se
elimine aquilo que entretanto teve lugar

Se os cônjuges não se reconciliarem e houver uma rutura definitiva da vida


comum devem avançar para o divórcio

Separação de facto  A separação de facto não é uma causa de modificação


autónoma É uma figura que releva a ausência de um dos cônjuges relativamente

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ao outro A ausência do cumprimento de coabitação Um dos cônjuges decide sair


de casa Esta circunstância tem relevância tripla
 Sede de cumprimento do dever de assistência
 É fundamento de divórcio
 É fundamento de separação judicial de pessoas e bens

Causas de extinção da relação matrimonial

O legislador refere se à dissolução que se pode fundamentar em duas grandes


hipóteses
a Morte do outro cônjuge  Facto temporal facto jurídico natural Quando
se fala de morte em direito estamos a ponderar um critério de morte de
irreversibilidade das funções do tronco cerebral Com a morte o cônjuge
sobrevivo passa a ter o estado de viúvo
b Divórcio  O divórcio vai já relevar um ato jurídico que pode ter natureza
bilateral resultando de comum acordo dos cônjuges ou ser um ato
desencadeado por um dos cônjuges contra o outro

A dissolução do casamento distingue se da invalidade na medida em que se baseia


num facto superveniente

No caso da invalidade do casamento nós temos a interferência de um facto ou


evento que é originário no sentido de ser contemporâneo em relação ao
casamento O ato do casamento nasce em si mesmo viciado por uma qualquer
perturbação

A invalidade do casamento também tem interferência no estado civil porque a


pessoa deixa de ser casada e passa a ser solteira Esta é uma das diferenças
assinaláveis relativamente à morte e ao divórcio o estado jurídico civil retorna ao
originário

Sem prejuízo da ideia de destruição retroativa dos efeitos decorrentes da


celebração do casamento o legislador impõe nos termos do art a obrigação
de alimentos e portanto pode configurar se a titularidade de um direito creditício
a exigir alimentos por parte do cônjuge que esteja de boa fé
 Esta norma convoca o regime jurídico do casamento putativo arts e

Quanto à dissolução do casamento para efeitos da morte os efeitos jurídicos


associados são os seguintes
 Existe de acordo com o que está previsto no C C o direito por parte do
cônjuge sobrevivo a continuar a utilizar os apelidos Esta é a faculdade
reconhecida normativamente no art A
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 Art n alínea a  no caso de o cônjuge sobrevivo residir no locado


ele tem direito a que o arrendamento se transmita por efeitos da morte do
outro cônjuge
 Direitos sucessórios  O cônjuge sobrevivo que de resto foi uma das
figuras centrais da reforma é tutelado por duas grandes vias em sede de
direito das sucessões herdeiro legítimo e herdeiro legitimário
duplamente relevado
 Direito a alimentos  Este direito vem regulado no art C C sob
epígrafe apanágio do cônjuge sobrevivo O viúvo tem direito a ser
alimentado pelo rendimento dos bens deixados pelo falecido (á uma
pretensão creditícia quanto aos rendimentos dos bens que tenham sido
deixados Este apanágio cessa nos termos dos art isto é se o
alimentado contrair outro casamento entrar em união de facto ou se o
cônjuge se tornar indigno Se celebra um novo casamento já não há razão
material para que continue a ser provido com os rendimentos dos bens do
cônjuge falecido Em caso da união de facto há um esforço comum para o
dia a dia

Art n  Partilha segundo regimes não convencionais (á aqui uma


possibilidade de independentemente do regime de bens em causa havendo
descendentes comuns que na partilhe se cumpram as regras da comunhão geral

Divórcio

O divórcio é uma forma de extinção dos casamentos civis e celebrados sob forma
religiosa art n CRP e da sua dissolução por morte ou divórcio
independentemente da forma de celebração O casamento pode ser dissolvido
por divórcio independentemente da forma de celebração Este é um ponto
importante porque nem sempre o direito ao divórcio foi reconhecido
 O direito ao divórcio surge em e sofreu sempre algumas interferências
por parte da )greja católica que entendia que o casamento sendo um vinculo
perpetuo não podia admitir dissolução
 Esta ideia continua a subsistir em bom rigor a )greja Católica não vê com
bons olhos a figura do divórcio mas o legislador constitucional impõe a
possibilidade
 Temos um sistema híbrido  Os efeitos do divorcio projetam se em
qualquer forma de casamento os efeitos jurídicos são regulados pela lei
civil e restringem se portanto no que diz respeito ao direito matrimonial
civil No direito católico são outras as regras aplicáveis

O C C de adotou uma conceção jurídica de divórcio próximo da tese de divórcio


sanção (avia um princípio de tipicidade de causas e essas causas típicas estavam
diretamente relacionadas com a violação culposa de deveres conjugais Tínhamos
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um regime restritivo por um lado e por outro lado eminentemente subjetivo


relevava a culpa de um dos cônjuges dicotomia cônjuge inocente vs cônjuge
culpado

Esta conceção do divórcio assente na lógica do divórcio sanção foi afastada com a
Lei n que muda o paradigma Atualmente a conceção plasmada é a do
divórcio com constatação da rutura de uma vida conjugal Vem facilitar o regime
jurídico porque deixa de assentar na prova da culpa Determinou uma alteração do
paradigma quanto ao art

Temos duas modalidades de divórcio que assumiram uma nova designação


a Divórcio por mútuo consentimento
b Divórcio sem consentimento de um dos cônjuges é o antigo divórcio
litigioso que o continua a ser na medida em que pressupõe uma
intervenção do tribunal

Divórcio por mútuo consentimento arts a A CC a


CRC arts a CPC

Alguma doutrina chama o divórcio administrativo por poder ser tramitado nas
conservatórias do registo civil Este divórcio por mútuo consentimento é
reconhecido no art n e no art n primeira parte
Também admite uma tramitação judicial que terá lugar em duas grandes
hipóteses
Cônjuges não conseguirem chegar a acordo quanto aos elementos definidos
no art n
No caso de tendo chegado a acordo o conservador recusar a homologação
sendo necessário prosseguir se à tramitação judicial

No divórcio por mútuo consentimento há um acordo de vontades entre os cônjuges


que pretendem pôr termo à sua relação matrimonial Entende se hoje que o
verdadeiro pressuposto vinculativo do divórcio por mútuo consentimento é
precisamente este acordo dos cônjuges ambos querem pôr termo à relação
matrimonial Depois devem acordar sobre uma generalidade de coisas obrigação
de alimentos destino da casa de família destino dos animais de companhia

O divórcio assenta num pedido formulado por ambos os cônjuges Não existe e o
legislador não exige uma causa especial Não é necessário que os cônjuges venham
a revelar o porquê do fim da relação matrimonial descortinar se houve por
exemplo uma terceira pessoa envolvida Não há que discutir a causa especial
 Por essa razão a Escola de Coimbra tem entendido que está em causa uma
liquidação convencional do casamento

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O legislador aconselha depois e requer que os cônjuges cheguem a acordo


quanto a certas questões consideradas importantes art n Estes acordos
complementares não são condição determinante para que o divórcio possa ser
decretado por mútuo consentimento Seja porque o conservador recusa a
homologação seja porque o próprio Ministério Público também duvida sobre a
subsistência do acordo a verdade é que se pode enxertar aqui uma ação judicial

O legislador no art n reconhece a possibilidade de ser requerido o


divórcio por mútuo consentimento a todo o tempo o que tem causado alguma
perplexidade na medida em que se entende que esta possibilidade de extinguir a
relação ad continuum sem que haja um período de reflexão pode pôr em causa a
própria integridade da instituição do casamento
 por outro lado por esta via pode se favorecer as situações de casamentos
fraudulentos

Quanto ao acordo sobre responsabilidades parentais  A guarda das crianças tem


de ser fixada saber com quem as crianças ficarão a residir o exercício das
responsabilidades parentais tem de ser também fixado

Quanto à obrigação de alimentos arts e ss e ss

Quanto á casa de morada de família  Os cônjuges devem acordar sobre o seu


destino e saber se pode ser dada de arrendamento

Divórcio sem consentimento de um dos cônjuges ex divórcio litigioso

Sede normativa  Art n n arts a C C arts e


CPC

É um divórcio de natureza judicial  tem que ser dirimido por uma autoridade
judicial intervenção do Tribunal )sto não prejudica a função da mediação
familiar art

De acordo com o art o legislador procura que haja uma conciliação dos
cônjuges Não sendo possível a reconciliação tenta se um acordo dos cônjuges
para divórcio por mútuo consentimento o processo inicia se litigioso e depois
torna se em divórcio por mútuo consentimento

Princípio do inquisitório  acordo dos cônjuges nos termos do art CPC

Legitimidade ativa art  No divórcio sem consentimento de um dos


cônjuges temos uma ação pedida por um dos cônjuges contra o outro havendo
necessidade de averiguar a legitimidade ativa e passiva Reconhece se a qualquer

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um dos cônjuges o direito de requerer o divórcio nas alíneas a e d A legitimidade


é condicionada na alínea b e c

Tem de ter fundamento nas alíneas a a d do art


 Separação de facto não cumprimento do dever de coabitação propósito de
não reestabelecer a comunhão de vida Exige se que a separação de facto
dure por um ano consecutivo conduz que não se possa considerar
situações de não cumprimento do dever de coabitação que tenham sido
interrompidas i e por tentativa de reconciliação regresso a vida em
comunhão
 Alteração das faculdades mentais do outro cônjuge  Já se entendeu em
tempos que dentro da lógica que o casamento é uma instituição comunhão
plena de vida na doença e na saúde que isto levaria a que o cônjuge
pusesse isso em causa Exige se que a alteração das faculdades mentais
elemento objetivo que seja grave e que dure há mais de um ano (á um
elemento finalístico a alteração tem de ser apta a comprometer a vida em
comum Tenho de concluir que é me inexigível continuar a vida em comum
com aquela pessoa
 Situação de ausência  Esta hipótese convoca o regime jurídico da ausência
arts e ss O art ausente casado está consagrado em matéria de
curadoria definitiva ausência de dois anos ou de cinco consoante tenha
sido constituído representante Nestes casos o legislador determina que o
cônjuge não separado de pessoas e bens pode requerer de imediato a
partilha e exigir os elementos a que tem direito O art surge em sede
de morte presumida Neste caso temos uma ausência de anos ou de se
o ausente tiver completado anos Produz os mesmos efeitos da morte
mas não dissolve o casamento sem prejuízo do artigo seguinte que
pressupõe a celebração de novo casamento pelo cônjuge do ausente A
situação de ausência pressupõe
o Elementos objetivos situação de ausência sem notícias
o Elemento temporal há pelo menos um ano
 Cláusula aberta  A alínea d hoje em dia vem alargar as hipóteses em que
é possível requerer o divórcio litigioso Vem permitir que outras hipóteses
que conduzam a uma rutura definitiva da vida comum sejam provadas Ex
violação de deveres conjugais
o Tem de se alegar e demonstrar factos que conduzam a um juízo de
que há uma rutura definitiva do casamento
o Não pode ser qualquer facto que determina a dissolução do
casamento por divórcio sem consentimento de um dos cônjuges

Natureza jurídica do direito de requerer o divórcio

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Esta matéria anteriormente era confinada ao divórcio litigioso direito potestativo


com eficácia extintiva Era um ato unilateral que se projetava inelutavelmente na
esfera jurídica do outro

Para além de ser um direito potestativo este direito é pessoalíssimo introduz


aspetos de regime muito relevantes Temos uma situação jurídica que é
reconhecida a um sujeito e que se entende ser indissociável da sua pessoa O
direito ao divórcio é reconhecido única e exclusivamente aqueles sujeitos que
tenham contraído casamento Adicionalmente é um direito indisponível não
podendo ser antecipadamente renunciado nem posteriormente e intransmissível

Esta nota do regime não é contrariada pela norma do art n CC o direito


ao divórcio não se transmite por morte

Efeitos jurídicos do divórcio

Sede normativa  Arts a C C arts B e C arts e ss


arts e

Princípio geral art  O divórcio dissolve o casamento É uma das causas


de dissolução do casamento Tem juridicamente os mesmos efeitos que a
dissolução por morte salvo algumas expressamente previstas na lei

No plano da eficácia importa recordar que está em causa uma eficácia restrita para
o futuro não é retroativa em razão das consequências desfavoráveis que
resultariam para terceiros ficariam numa situação de debilidade da sua tutela

Estatuto pessoal
 Relações horizontais entre cônjuges
o Cessação dos deveres conjugais  cessa a obrigação de cumprir
estas prestações com uma importante exceção obrigação de
alimentos O legislador entende que nos termos previstos no art
e se deve manter uma obrigação de alimentos
o )mplicações em matéria de direito ao nome  Por efeitos do
divórcio é possível que se venha a impedir o direito de continuar a
utilizar o apelido art B parte A continuação do direito de
utilizar os nomes do outro cônjuge depende de consentimento
prestado em documento autentico ou autenticado ou declaração
perante o funcionário do registo civil Adicionalmente pode se
requerer ao tribunal que autorize a continuação da utilização do
nome ex mulher que usa profissionalmente o apelido há anos
Não obstante é sempre possível nos termos do art C pedir a

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privação do uso do nome se a pessoa o estiver a utilizar


indevidamente
o Extinção do impedimento matrimonial de casamento anterior não
dissolvido art alínea c  Tem de se respeitar não
obstante o prazo internupcial que continua a ser um prazo misto
visto que se distingue a pessoa do cônjuge mulher vs homem
 Relação vertical descendente com os filhos
o O exercício das responsabilidades parentais que estava moldado em
função da existência do casamento passa a ser exercido nos termos
do art que se aplica quer ao divórcio quer à separação judicial
de pessoas e bens
o Direito dever de os filhos menores habitarem a casa de morada de
família ou aquela que os pais lhes destinaram Esta é uma situação
que se funda normativamente no art
o O direito de o filho menor relacionar se com outros irmãos ou com
ascendentes art A É uma norma muito importante e que é
particularmente eficaz no cenário de divórcio porque pode haver a
síndrome de alienação parental um dos cônjuges transmite ao filho
menor um conjunto de ideias negativas relativamente ao outro
cônjuge e à família do outro cônjuge
 Outras relações familiares
o Afinidade art  cessa pela dissolução do casamento por
divórcio e não por morte Parte do pressuposto de que cessando as
relações pessoais e patrimoniais por efeito do divórcio o legislador
presume que não há interesse dos cônjuges em manter laços
familiares com afins

Estatuto patrimonial
 Relações horizontais
o Com a dissolução do casamento por efeitos do divórcio cessam as
relações patrimoniais )sto significa que deixa de vigorar um regime
de bens entre os cônjuges e deixam de se aplicar as normas vigentes
em sede de administração de bens e os constrangimentos de
negócios celebrados entre cônjuges Vai se proceder à partilha e com
ela deixamos de ter um património indiviso
 Art  em caso de divorcio nenhum dos cônjuges pode
na partilha receber mais do que receberia se o casamento
fosse celebrado no regime da comunhão de adquiridos A
preocupação do legislador foi não pretender interferir na
qualificação jurídica dos bens O legislador está sim
preocupado com um problema de valor e aquilo que deve ser
atribuído a cada um dos cônjuges

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 Quando se fala de partilha as operações aí compreendidas


que temos de observar são o pagamento das dívidas em
relação a terceiros
o Perda de benefícios art  Estão em causa os benefícios que
cada cônjuge haja de receber de outro cônjuge ou de terceiros em
vista do casamento ou de estado de casado O legislador inclui
concretamente as liberalidades atos gratuitos art n Não
se aplica este artigo os presentes art n Quando o
legislador refere benefícios recebidos pelo outro cônjuge ou
terceiros o legislador está a relevar as doações para casamento
 Art B  Um dos casos de caducidade das doações é se
houver divórcio
 Regime das doações entre casados o art alínea c
determina caducidade das doações no caso de ocorrer
divórcio ou separação judicial de pessoas e bens
 )ncluem se as deixas testamentárias
o Direito de um dos cônjuges poder exigir uma indemnização art
por danos que tenha sofrido nos termos gerais da
responsabilidade Esta norma suscita um problema prévio de
qualificação saber que tipo de responsabilidade civil está em causa
Poderíamos conceber duas grandes hipóteses responsabilidade
contratual violação dos deveres conjugais ou extracontratual
violação de deveres de personalidade
 nos termos gerais da responsabilidade remissão para a
responsabilidade extracontratual Ou seja não se enquadra
aqui a responsabilidade contratual Tem de estar em causa a
ofensa de direitos absolutos
 O n cuida da hipótese de ser pedida uma indemnização com
fundamento na alteração das faculdades mentais do cônjuge
O legislador reconhece que o cônjuge ficará adstrito ao dever
jurídico de reparar os danos não patrimoniais causados pela
dissolução do casamento
o Obrigação de alimentos arts e ss alínea a arts
a  O dever de assistência comporta duas grandes
modalidades contribuir para os encargos da vida familiar e
obrigação de alimentos Estando em causa um divórcio extinguem
se os deveres conjugais exceto no que diz respeito à obrigação de
alimento dever de solidariedade pós matrimónio É justo que os
cônjuges prestem auxílio ao abrigo da obrigação de alimentos
 O legislador entende que pese embora a extinção da
comunhão conjugal que esta extinção não é absoluta porque
permanece esta obrigação de alimentos manifestação de
uma eficácia póstuma Este fundamento material i e

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solidariedade não é erigido pelo legislador como absoluto


porque todo o regime da obrigação de alimentos entre ex
cônjuges é pautado pela
 Excecionalidade com o divórcio deve proceder se a
uma autonomização económico financeira de cada um
dos cônjuges art n e n O montante
concreto da obrigação de alimentos não se destina a
repor o padrão de vida que o cônjuge tinha antes
 Tipicidade determinação por força da lei do regime
i e quem pode exigir alimentos quem deve prestar
qual é o montante etc (á uma concretização
normativa preocupando se o legislador a balizar os
parâmetros da obrigação de alimentos
 Conceito de alimento  O próprio conceito de alimento é
precisado pelo legislador nos termos do art entende
se por alimento tudo o que é indispensável ao sustento
habitação e vestuário
 A obrigação de alimentos é bicéfala deve ser prestada ao ex
cônjuge e aos filhos que habitem com o ex cônjuge
 Medida de alimentos art Montante dos alimentos
art A  Tem de se atender à duração do casamento
à colaboração prestada à economia do casal a idade e estado
de saúde dos cônjuges as suas qualificações profissionais
tempo que terão de dedicar à criação de filhos comuns
rendimentos e proventos
 Se o ex cônjuge que recebia alimentos celebrar novo
casamento o dever de assistência que surge leva à extinção
da obrigação de alimentos
 Este regime se aplica à separação judicial de pessoas e bens
 Existe no C P um tipo legal de crime relativo ao
incumprimento da obrigação de alimentos art
 Existe um processo especial de execução por alimentos
o Direito ao arrendamento da casa de morada de família arts
 Reconhece se a um dos cônjuges a possibilidade de ser
constituído na posição jurídica de arrendatário quer a casa de
morada de família seja um bem comum do casal ou um bem próprio
do outro cônjuge
 Já se discutiu muito se esta norma se pode considerar esta
norma plenamente válida e se não é inconstitucional a
possibilidade de impor ao outro cônjuge que fique privado da
faculdade de uso e de gozo da casa seria uma ablação do seu
direito de propriedade art CRP Ao impor o
arrendamento o conteúdo do direito de propriedade é

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restringido Mas não põe em causa a titularidade não há


uma ablação do próprio direito de propriedade o cônjuge
continua proprietário da casa
 (á vários índices relevantes onde o cônjuge exerce a
atividade profissional sacrifícios que determinaria ficar
privado da habitação da casa de família e havendo filhos o
interesse dos filhos Atende se à situação do ex cônjuge e dos
filhos
 Sendo constituída uma situação de arrendamento por um dos
cônjuges é importante articular o valor da renda que é
despendido e pago com a eventual obrigação de prestar
alimentos
 O próprio valor da renda será diverso se a casa de morada de
família for detida em compropriedade ou se for um bem
próprio do outro cônjuge
o Direitos sucessórios  O ex cônjuge deixa de ser chamado para a
sucessão legítima e legitimária Não sendo chamado à sucessão não
vai ser investido na titularidade dos bens que se transmitam por
efeito da morte dos cônjuges art n e d
o Art A foi aditado ao Código sobre os animais de companhia
que são confiados a um ou ambos os cônjuges
 Relações verticais descendentes com os filhos
o Não se extinguem as responsabilidades parentais quer no plano
pessoal quer no plano patrimonial
 Plano pessoal  prover à segurança saúde e educação
 Plano patrimonial  os pais na qualidade de titulares das
responsabilidades parentais têm o poder dever de
administração dos bens dos filhos e a obrigação de prover ao
seu sustento
o Art
o Art n
o Os pais podem ter de continuar a ter de suportar despesas quando
os filhos são maiores de idade se estiver em causa a sua formação
profissional
o Obrigação de alimentos arts c e

Data de produção dos efeitos do divórcio saber quando os efeitos se efetivam


art n primeira parte  com trânsito em julgado da respetiva sentença

É possível que haja um desvio


 Determinado pela lei  No que diz respeito às relações patrimoniais para
efeitos de aplicação do regime de bens responsabilidade por dívidas vamos
atender à data da proposição da ação n parte

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o Relativamente a terceiros pese embora a retroatividade na relação


entre os cônjuges o princípio é outro
 Estando em causa um divorcio fundamentado com base na separação de
facto reconhece se a qualquer um dos cônjuges a faculdade de requerer
que os efeitos do divórcio retroajam à data em que ocorreu a separação
)deia de que o cônjuge ficaria penalizado se não havendo sequer
coabitação o outro cônjuge pudesse vir a beneficiar dos bens que o viesse a
adquirir

Mediação familiar

A mediação familiar é uma figura relativamente recente no sentido de que não se


pode considerar como estando devidamente consolidada na ordem interna
apesar de estar instituída a verdade é que não existe uma vigência social da
mediação familiar em muitos pontos do território por falta de conhecimento ou
estrutura

A mediação familiar é referida no art  proporcionar a intervenção de


terceiros que possam mediar os conflitos e tensões entre os cônjuges i e
responsabilidades parentais ou destino da casa de morada de família

Não se pode considerar que hoje em dia os serviços de mediação funcionem em


todo o território e mesmo quando funcionam há fortes críticas

Divórcio e casamento católico

(avendo divórcio as implicações jurídicas do divórcio estando em causa um


casamento católico são
 O divórcio é reconhecido e não pode ser impedido atendendo à modalidade
de casamento Sem prejuízo disso continua se a reiterar a ideia segundo a
qual um casamento católico é uma instituição indissolúvel havendo uma
obrigação moral dos cônjuges de não requerer o divórcio i e obrigação
moral e não jurídica Devemos atender ao art da Concordata

Jurisprudência
 Acórdão STJ  ação de divórcio sem consentimento onde se
afirma que o atual regime do divórcio conduz à conceção de divórcio
unilateral e potestativo
 Acórdão STJ  Analisa se o problema do art aderindo
se à tese no sentido de que se deve tomar por não escrita
 Acórdão STJ  Analisou se em sede de separação de facto o
problema da obrigação de prestar alimentos

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 Acórdão STJ  Divórcio obrigação de alimentos na relação


entre os cônjuges vai analisar o problema da solidariedade pós conjugal
 Acórdão de STJ de  Destino da casa de morada de família
art

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