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Resposta-padrão - AVF de Criminologia/Noite

1. Criminologia feminista
Resposta-padrão
Uma vez que o sistema penal é seletivo, que seleciona tanto autores como vítimas.
Na medida que o sistema penal, através da seletividade, opera uma estratégia excludente, isso
acabará por minar a coesão, a unidade do movimento feminista.
Além disso, o sistema é em si patriarcal. Quando a mulher for recorrer ao sistema
penal será submetida à violência institucional e plurifacetada do sistema, que reproduz
estereótipos machistas de gênero, de ordem moral.
No mais, o sistema penal tem o foco na punição do autor, não é voltado para a
vítima. Logo, o interesse e a proteção da vítima, no caso a mulher, não é prioridade do
sistema.

Trecho do texto:
“1.°) num sentido fraco, o sistema penal é ineficaz para proteger as mulheres contra a violência
porque, entre outros argumentos, não previne novas violências, não escuta os distintos interesses das vítimas,
não contribui para a compreensão da própria violência sexual e a gestão do conflito e, muito menos, para a
transformação das relações de gênero. Nesta crise se sintetiza o que venho denominando de “incapacidade
preventiva e resolutória do sistema penal”;
2°) num sentido forte, o sistema penal duplica a vitimação feminina porque as mulheres são
submetidas a julgamento e divididas. O sistema penal não julga igualitariamente pessoas, ele seleciona
diferencialmente autores e vítimas, de acordo com sua reputação pessoal. No caso das mulheres, de acordo
com sua reputação sexual, estabelecendo uma grande linha divisória entre as mulheres consideradas
"honestas" (do ponto de vista da moral sexual dominante), que podem ser consideradas vítimas pelo sistema, e
as mulheres "desonestas" ( das quais a prostituta é o modelo radicalizado), que o sistema abandona na medida
em que não se adequam aos padrões de moralidade sexual impostas pelo patriarcalismo à mulher; e
3°) Num sistema fortíssimo, o sistema penal expressa e reproduz, do ponto de vista da moral sexual,
a grande linha divisória e discriminatória das mulheres tidas por honestas e desonestas e que seriam inclusive
capazes de falsear um crime horripilante como estupro, para reivindicar direitos que não lhe cabem.”

2. Racismo

Para superar os condicionamentos indicados pelo autor, é preciso reconhecer a


centralidade do racismo como estruturante da sociedade, e portanto, do sistema penal. A
própria humanidade negra é negada através de uma série de dispositivos de poder/violência
simbólicos e também físicos.
Conforme cita o autor ao referir que “[...] não se enfrenta o racismo combatendo a
pobreza”, não se trata simplesmente de uma questão de desigualdade na distribuição de
renda.
Portanto, é preciso devolver a humanidade ao negro através da construção de novas
narrativas, narrativas marginais, que fugissem da hegemônica representação do humano
enquanto branco.
Uma estratégia concreta para superar seria a presença negra em espaços usualmente
negados, notadamente de formulação política e teórica, ou seja, tanto em
governos/congressos, quanto nas universidades. Em outras palavras, dar voz para que a
própria humanidade negra seja reconstruída de dentro.
Trecho do texto:

“É preciso reconhecer que o racismo estrutura as narrativas sobre nossa noção de humanidade. Não é só a
bala da arma que mata, mas uma série de dispositivos físicos e simbólicos que vão impedindo a possibilidade
de afirmação da humanidade negra em nossa sociedade.”

“[...] não se enfrenta o racismo combatendo a pobreza”

“Neste sentido, a presença negra em espaços de formulação política e teórica cumpriria um papel muito
importante na desconstrução de epistemologias hegemônicas e na construção de narrativas marginais,
narrativas do acostamento.”

3. Política de drogas

Não, a política de drogas dominante é manifestamente ineficaz. Portanto, a autora


propõe o aprofundamento dos debates sobre formas alternativas de lidar com as drogas,
visando o fomento de experiências que fujam do sistema repressivo proibicionista, violador
dos direitos humanos.
Experiências como as de Portugal, Holanda e Uruguai deixam evidente a
possibilidade de tratar o problema de outra forma; portanto, cabe a cada Estado discutir em
um debate público e informado, as estratégias que respeitem seus próprios elementos
culturais, étnicos e econômicos.

Trecho do texto:

“Diante desse quadro, há que se questionar firmemente se tal política internacional é a mais
indicada para lidar com o problema, e destacar a necessidade de levar em consideração a adoção de
alternativas ao modelo atual, em respeito a seus elementos culturais, étnicos e econômicos, em vez de se manter
um sistema uniforme e repressivo, que não tem atendido, em absoluto, aos objetivos a que se propôs.
Notadamente em países em desenvolvimento como o Brasil, onde se constata o grande impacto
social da droga e do tráfico ilícitos e onde a violência contra minorias raciais é ainda muito forte, mostra-se
urgente a crítica ao modelo atual, totalmente ultrapassado, e a busca por novas soluções. Isso inclui a
necessidade de reformulação urgente do sistema internacional de controle de drogas, visando a elaboração de
modelos nacionais que possam ser avaliados
pelos seus bons resultados na efetivação de direitos, e não na restrição destes.
[...] permitir uma interpretação mais flexível (mesmo mantendo a integridade formal) dos tratados,
de forma que os países possam buscar soluções alternativas internas distintas do modelo internacional.
[...] Assim, diante dessa maior abertura internacional para a discussão, a partir das novas
experiências alternativas adotadas em outros países, espera-se que o Brasil aprofunde os debates sobre o tema
para tentar romper com essa tradição repressiva e violadora de direitos humanos e, dessa maneira, alcançar
um novo patamar de país mais justo e efetivador de direitos, o que, no entanto, só será possível se
modificarmos o paradigma atual.”

4. Origem do cárcere

Uma série de princípios buscam legitimar a instituição carcerária de maneira


discursiva, porém funcionamento efetivo da instituição opera no sentido exatamente
contrário. Dessa forma existem objetivos declarados, e objetivos operacionalizados, reais.
Veja-se, por exemplo, o princípio da correção; isto é, a ideia de que a principal
função do cárcere é corrigir o apenado, é ressocializar, reeducar. É evidente que se trata de
um princípio que existe somente no plano das ideias, apenas como discurso legitimador. Na
verdade, a prisão, no lugar de cumprir com essa proposição, confirma a carreira criminosa,
principalmente através do etiquetamento. Uma vez encarcerado, um rótulo de presidiário
acompanhará o indivíduo de forma indelével.

O aluno poderia escolher qualquer um dos princípios abaixo elencados, e em seguida


contrapor com sua operacionalidade real, tal como feito acima.

Trecho do texto:

“A reação da prisão às críticas consiste em recrudescer os princípios da técnica penitenciária,


visando reparar seu fracasso permanente e intensificando a realização do seu projeto corretivo como único
método para superar a impossibilidade de torná-lo realidade.
São sete os princípios da teoria penitenciária, permanentemente reativados e igualmente destinados
ao fracasso (Foucault, 1999b, p.224-5):
a) “princípio da correção”: a detenção penal deve ter por função essencial a transformação do
comportamento do indivíduo, visando sua recuperação e reeducação, ressocializando o condenado;
b) “princípio da classificação”: os detentos devem ser isolados ou repartidos de acordo com a
gravidade penal do seu ato, mas principalmente segundo sua idade, disposições, as técnicas de correção que se
pretende aplicar neles e as fases de sua transformação;
c) “princípio da modulação das penas”: elas poderão ser moduladas de acordo com seu desenrolar
no ambiente institucional, a individualidade dos detentos, a partir dos resultados obtidos e os progressos ou as
recaídas constatadas. Trata-se de uma personalização da técnica penitenciária;
d) “princípio do trabalho penal como obrigação e direito”: peça fundamental no processo de
transformação e socialização progressiva dos detentos, com função essencialmente
disciplinar;
e) “princípio da educação penitenciária”: a educação do detento, sua instrução geral e profissional
são consideradas fundamentais para sua melhora;
f) “princípio do controle técnico da detenção”: o regime institucional da prisão deve ser, pelo menos
em parte, controlado e assumido por um pessoal especializado que possua as capacidades morais e técnicas de
zelar pela boa formação dos indivíduos, tais como médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras,
professores, pedagogos, padres etc.;
g) “princípio das instituições anexas”: o encarceramento deve ser acompanhado por medidas de
controle e de assistência até a readaptação definitiva do antigo detento, visando vigiá-lo até sua saída da
prisão, prestar-lhe apoio e ajuda, buscandosua reinserção social adequada.
O sistema carcerário é um conjunto complexo, combinando numa mesma figura discursos,
arquitetura, regulamentos coercitivos e proposições científicas, efeitos sociais reais e utopias invencíveis,
programas para corrigir a delinquência e mecanismos que a solidificam, contraditoriamente. O fracasso e a
reforma permanente da prisão são partes integrantes do seu funcionamento. É desse modo que ela pode
desempenhar papéis e funções muito específicas no conjunto social.”

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