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SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL
Uma Antologia Poética
LIVRO GRATUITO
Não pode ser vendido
Sammis Reachers
2014
Foto de capa: Soldados americanos agachados num bote de assalto cruzam o rio Reno, na Alemanha,
sob fogo inimigo (Março 1945). ©The U.S. National Archives and Records Administration
2
Bellum dulce inexpertis.
Pindaro
3
Índice
Prefácio .................................................................................................................. 08
Bertolt Brecht (ALE)
Cartilha de Guerra Alemã ................................................................................. 11
Cartilha de Guerra Alemã II ........................................................................... 14
Regresso .................................................................................................................. 16
Abgar Renault (BRA)
Transporte de Guerra ........................................................................................ 17
UBI TROJA EST ..................................................................................................... 18
Carlos Drummond de Andrade (BRA)
Carta a Stalingrado ............................................................................................. 19
Visão 1944 .............................................................................................................. 21
Cecília Meireles (BRA)
Guerra ....................................................................................................................... 24
Pistóia - Cemitério Militar Brasileiro .......................................................... 25
Murilo Mendes (BRA)
Poema Presente ................................................................................................... 27
Tempos Duros ...................................................................................................... 28
Vinícius de Moraes (BRA)
A Rosa de Hiroshima .......................................................................................... 29
Balada dos mortos dos campos de concentração .................................. 30
Pablo Neruda (CHI)
Novo Canto de Amor a Stalingrado .......................................................... 32
Ivan Goran Kovacic (CRO)
Fosso ......................................................................................................................... 36
Vladimir Nazor (CRO)
Mãe Ortodoxa ........................................................................................................ 38
Archibald MacLeish (EUA)
Colóquio Entre os Estados ............................................................................... 40
Dudley Randall (EUA)
Epitáfios do Pacífico ........................................................................................... 44
John Ciardi (EUA)
O Dom ....................................................................................................................... 46
Karl Shapiro (EUA)
Trem de Tropas .................................................................................................... 47
Randall Jarell (EUA)
A Morte do Artilheiro da Torre Giratória .................................................. 49
4
Stanley Kunitz (EUA)
Considerações Junto a Uma Caixa de Correio ......................................... 50
T. S. Eliot (EUA/ING)
Little Gidding ………………………………………………………………………….. 52
Louis Aragon (FRA)
Os lilases e as rosas ............................................................................................. 55
Paul Eluárd (FRA)
Liberdade ................................................................................................................ 57
Coragem ................................................................................................................... 60
A Aurora Dissolve os Monstros ..................................................................... 61
Pierre Emmanuel (FRA)
Dia de Cólera ......................................................................................................... 62
René Char (FRA)
Carta do 8 de Novembro .................................................................................. 63
Pobreza e Privilégio – II .................................................................................... 64
O Verdelhão ........................................................................................................... 65
Giorgos Seferis (GRE)
O último dia ............................................................................................................ 66
Odisséas Elýtis (GRE)
Canto Heroico e Funeral para o Segundo-Tenente Desaparecido
na Campanha da Albânia .................................................................................. 67
Tasos Leivaditis (GRE)
Esta estrela é para todos nós .......................................................................... 69
Gerrit Kouwenaar (HOL)
Terceiro Canto Heroico ..................................................................................... 72
Jan Campert (HOL)
Os Dezoito Mortos ............................................................................................... 74
Gyula Illyés (HUN)
O Vizinho ................................................................................................................. 76
István Vas (HUN)
Mais do que a morte ........................................................................................... 77
János Pilinszky (HUN)
Paixão de Ravensbrück ..................................................................................... 78
Miklós Radnóti (HUN)
Céu espumante ..................................................................................................... 79
Razglednice ............................................................................................................ 80
5
Dylan Thomas (ING)
Cerimônia Após um Bombardeio ................................................................. 81
Entre os mortos num bombardeio ao amanhecer
havia um homem de cem anos ...................................................................... 84
Edith Sitwell (ING)
Ainda Cai a Chuva ................................................................................................ 85
Keith Douglas (ING)
Como Matar ............................................................................................................ 87
VERGISSMEINNICHT ......................................................................................... 88
W.H. Auden (ING/EUA)
1.º de setembro de 1939 .................................................................................. 89
Giuseppe Ungareti (ITA)
Meu Rio Tu Também .......................................................................................... 92
Nas Veias ................................................................................................................. 94
Primo Levi (ITA)
Vós que viveis tranquilos ................................................................................. 95
Salvatore Quasímodo (ITA)
Milão, Agosto de 1943 ....................................................................................... 96
Cânticos ................................................................................................................... 97
Auschwitz ............................................................................................................... 98
Sadako Kurihara (JAP)
Dizendo “Hiroshima” ....................................................................................... 100
Deixemos vir a nova vida .............................................................................. 101
Tamiki Hara (JAP)
Isto É um Ser Humano .................................................................................... 102
Hirsh Glick (LIT)
A Balada do teatro pardo: Espetáculo no cárcere de Lubick ......... 103
Czeslaw Milosz (POL)
Campo di Fiori .................................................................................................... 105
Zbigniew Herbert (POL)
17 de Setembro .................................................................................................. 107
Abandonado ........................................................................................................ 108
Cinco Homens ..................................................................................................... 111
Paul Celan (ROM)
Fuga da Morte .................................................................................................... 113
Jaroslav Seifert (TCH)
Os mortos de Lídice ......................................................................................... 115
Margarita Aliguer (URSS)
De Primavera em Leningrado ...................................................................... 117
6
Marina Tzvietáieva (URSS)
Tomaram... .......................................................................................................... 118
Mikhaíl Dúdine (URSS)
Rouxinóis .............................................................................................................. 119
Olga Fiódorovna Bierggólts (URSS)
A Guerra em Leningrado ............................................................................... 122
Conversa com uma vizinha ........................................................................... 124
Pável Antokólski (URSS)
Filho ........................................................................................................................ 126
Siemión Gudzenko (URSS)
Antes do ataque ................................................................................................. 129
A minha geração ................................................................................................ 130
Bibliografia ........................................................................................................ 131
Sobre o organizador ..................................................................................... 134
7
Prefácio
Sofro da estranha mania de organizar antologias. Já são mais de
dez. A maioria é de temática religiosa, duas delas, creio, de interesse
geral: a Antologia de Poesia Cristã em Língua Portuguesa (2008), bem
intencionada mas com lacunas e alguma injustiça, e a Breve Antologia
da Poesia Cristã Universal, publicada em 2012. Um de meus propósitos
e humilde prazer é tentar fechar ou suprir determinadas lacunas
bibliográficas – lacunas que sempre me parecem ‘imperdoáveis’. No
caso da poesia cristã, simplesmente não havia algo no gênero
(reunindo uma coleção de textos quantitativa e qualitativamente
significativos) nas bibliografias de Brasil e Portugal.
8
não produziu war poets da qualidade de um Siegfried Sassoon ou
Rupert Brooke, como a Primeira Guerra).
9
- é mais que simplesmente ignorar a História, na figura e na pena de
tão especializadas testemunhas: é ignorar a própria Poesia no que ela
tem de mais verdadeiro e humano.
Meu propósito inicial era propor a edição deste livro para alguma
editora. Mas sondagens preliminares me desestimularam. Somaram-se
a isso as dificuldades de edição de uma antologia envolvendo múltiplos
autores e tradutores: presente na questão o mesmerizante fel que
move o mundo ($$$), são mares de autorizações e correspondências,
fabulário de burrocracias que a cultura construiu em torno de si, e que
ao invés de servirem de filtros ou, quiçá, capacitores, quase sempre
alcançam apenas o status de muros. E a seleta estava aqui, há quase
dois anos amadurecendo ‘na gaveta’, o que para mim é um período de
tempo muito dilatado, pois meu ritmo de trabalho, nas demais
antologias que organizei, alcançou em média até (O.K., apenas) quatro
meses (de trabalho o mais ferrenho, entenda-se). Essa espera, essa
latência de gaveta era para mim um renitente incômodo: O
conhecimento precisa sair da gaveta, sair das cabeças, para tornar-se
cultura; na gaveta, é apenas cabala, coletânea de hieróglifos enfeitando
as paredes seladas em breu dum sarcófago.
Por tudo isso, é com prazer, com muito prazer que atropelo uma vez
mais o status quo enrijecido, e ofereço este trabalho gratuitamente a
todos os interessados. Sem editoras, sem bolsas de pesquisa, edição e
publicação, sem patrocínios culturais, sem contar com o braço ativo,
mas um tanto afetado e corporativista da academia, sem licenças além
da poética e a do Conhecimento, esse intimorato arrombador e chão
daquilo que é Homem – enfim, eis (a) informação num canal direto
como deve ser, sem atravessadores, linha reta da poesia ao leitor de
poesia.
Sammis Reachers
10
Bertolt Brecht (Alemanha 1898 – 1956)
Militante de esquerda e opositor do regime nazista desde seu início, o dramaturgo
e poeta alemão Bertolt Brecht foi perseguido, tendo a partir de 1933, com a
ascensão de Hitler ao poder, se refugiado em diversos países europeus e
posteriormente nos EUA. Homem de seu tempo como poucos lograram ser, a
poesia de Brecht é riquíssima em textos sobre o conflito. Optamos por publicar
aqui três poemas singulares, os já clássicos Manual de Guerra Alemã 1 e 2, onde o
poeta, nos anos imediatamente anteriores à Guerra, desvela irônica e mesmo
profeticamente todo o esforço de guerra alemão, com sua hipocrisia e seus
nefastos resultados; e o poema Regresso, sobre seu retorno à pátria (para onde
voltou em 1947), agora derrotada e destruída - como ele mesmo previra, em tantos
e tantos de seus textos.
11
OS DE CIMA DIZEM: GUERRA E PAZ
São de substância diferente
Mas a sua guerra e a sua paz
São como tempestade e vento.
OS DE CIMA
Juntaram-se em uma reunião.
Homem da rua
Deixa de esperança.
Os governos
Assinam pactos de não-agressão.
Homem da rua
Assina teu testamento.
12
Nos corações deve haver
O mesmo ânimo.
Mas nos pratos
Há dois tipos de comida.
13
Cartilha de Guerra Alemã II
O PINTOR DIZ:
Quanto mais canhões forem fabricados
Mais longa será a paz.
É NOITE
Os casais
Deitam-se nos leitos. As mulheres
Parirão órfãos.
OS VELHOS
Levam dinheiro à caixa econômica
Diante da caixa econômica estão carros.
Eles levam o dinheiro
Para as fábricas de munição.
OS ANÚNCIOS DO GOVERNO
Acompanham os boatos
Como sombras.
14
Os governantes rugem
O povo sussurra.
15
Regresso
16
Abgar Renault (Brasil 1901 - 1995)
O poeta e educador Abgar Renault, em seus poemas, deixa claro seu fascínio pela
Inglaterra, predileção que levou-o a traduzir, durante a Segunda Guerra, poemas
dos war poets ingleses da Primeira Guerra Mundial. Esses poemas foram
publicados em jornais do Brasil e do exterior, de 1941 a 1945, vindo também a ser
enfeixados em livro (primeira edição já em 1942). Renault era alto funcionário do
governo Getúlio Vargas, e a própria publicação desses textos traduzidos já deixa
entrever um consciente esforço de mobilização da opinião pública nacional para a
guerra que estava prestes, e acabou por efetivamente arrolar também o Brasil em
seu turbilhão.
Transporte de Guerra
1942
17
UBI TROJA EST
Londres, 1945
18
Carlos Drummond de Andrade (Brasil 1902-1987)
Maior poeta brasileiro e um dos maiores de nossa língua ao lado de Camões e
Pessoa, a II Guerra Mundial exerceu forte impacto sobre o ainda militante
comunista CDA, notadamente nos versos de seu livro A Rosa do Povo. O livro é uma
obra prima que conta com vários poemas inspirados pela guerra, tendo especial
destaque o tema da resistência soviética, que começava a vencer as forças
invasoras do Reich, prenunciando a derrota de Hitler.
Carta a Stalingrado
Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.
20
Visão 1944
21
levadas para longe, num tapete,
funcionando com fúria e com carinho.
22
toda essa força aguda e martelante,
a rebentar do chão e das vidraças,
ou do ar, das ruas cheias e dos becos.
23
Cecília Meireles (1901 – 1964)
Uma das principais poetas da língua portuguesa, a carioca da Tijuca Cecília
Meireles era filha de açorianos. Também professora, pintora e jornalista, os
eventos da Segunda Guerra não passaram despercebidos diante de Cecília. O
poema Guerra (1945) e o livro Pistóia – Cemitério Militar Brasileiro, embora tardio
(1955) são provas cabais disto.
Guerra
Tanto é o sangue
que os rios desistem de seu ritmo,
e o oceano delira
e rejeita as espumas vermelhas.
Tanto é o sangue
que até a lua se levanta horrível,
e erra nos lugares serenos,
sonâmbula de auréolas rubras,
com o fogo do inferno em suas madeixas.
Tanta é a morte
que nem os rostos se conhecem, lado a lado,
e os pedaços de corpo estão por ali como tábuas sem uso.
Tanta é a morte
que só as almas formariam colunas,
as almas desprendidas... — e alcançariam as estrelas.
24
Pistóia - Cemitério Militar Brasileiro
25
Murilo Mendes (Brasil 1901 – 1975)
O mineiro Murilo Mendes é um dos ilustres cavalheiros da segunda geração do
Modernismo brasileiro, geração de ouro que legou à poesia brasileira nomes do
naipe de Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt
e outros. Seu livro Poesia Liberdade (1947) reúne trabalhos escritos durante o
período da Segunda Guerra, onde o autor dá azo a seu lirismo que, mesmo tendo
bebido da fonte surrealista, desdobra-se em sua preocupação social diante das
mazelas e incertezas do período.
Poema Presente
Vergéis tranquilos
Disfarçam espadas.
26
Tempos Duros
27
Vinícius de Moraes (Brasil 1913 – 1980)
O carioca Vinícius de Moraes, arquétipo do boêmio, construiu sua carreira literária
através da poesia, teatro e prosa, destacando-se como um de nossos maiores
sonetistas. O poema A Rosa de Hiroshima, que virou canção musicada por Gerson
Conrad em 1974, foi publicado em 1954 no livro Antologia Poética, livro que
também trazia os poemas Balada dos mortos dos campos de concentração e A
bomba atômica, de temáticas relacionadas à Guerra.
A Rosa de Hiroshima
28
Balada dos mortos dos campos de concentração
Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Ocos, flácidos cadáveres
Como espantalhos, largados
Na sementeira espectral
Dos ermos campos estéreis
De Buchenwald e Dachau.
Cadáveres necrosados
Amontoados no chão
Esquálidos enlaçados
Em beijos estupefatos
Como ascetas siderados
Em presença da visão.
Cadáveres putrefatos
Os magros braços em cruz
Em vossas faces hediondas
Há sorrisos de giocondas
E em vossos corpos, a luz
Que da treva cria a aurora.
Cadáveres fluorescentes
Desenraizados do pó
Que emoção não dá-me o ver-vos
Em vosso êxtase sem nervos
Em vossa prece tão-só
Grandes, góticos cadáveres!
Ah, doces mortos atônitos
Quebrados a torniquete
Vossas louras manicuras
Arrancaram-vos as unhas
No requinte de tortura
Da última toalete...
A vós vos tiraram a casa
A vós vos tiraram o nome
Fostes marcados a brasa
Depois vos mataram de fome!
Vossas peles afrouxadas
Sobre os esqueletos dão-me
A impressão que éreis tambores -
Os instrumentos do Monstro -
Desfibrados a pancada:
Ó mortos de percussão!
Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Vós sois o húmus da terra
De onde a árvore do castigo
Dará madeira ao patíbulo
29
E de onde os frutos da paz
Tombarão no chão da guerra!
30
Pablo Neruda (Chile 1904 – 1973)
O chileno e Nobel de Literatura (1971) Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, conhecido
universalmente como Pablo Neruda, é um daqueles poetas que dispensam
apresentações. Homem de esquerda e eterno engajado, Neruda somou forças na
Guerra Civil Espanhola ao lado dos republicanos, sendo por isso destituído de seu
cargo de cônsul chileno em Madrid. Em 1943 Neruda retorna ao Chile. O livro
Terceira Residência (1947) reúne algumas de suas impressões poéticas acerca da
Segunda Guerra Mundial, como este Novo Canto de Amor a Stalingrado.
31
com pavilhão de fúria hasteado
sobre as lágrimas recém derramadas.
Já não estás a sós, Stalingrado.
32
Os ossos dos assassinos feridos,
os invasores de pálpebras fechadas
e os conquistadores fugitivos
atrás de sua centelha, Stalingrado.
Os que humilharam a curva do Arco
e as águas do Sena transpuseram
com o consentimento do escravo,
se detiveram em Stalingrado.
33
que morri amando-te e que me tens amado,
e se não estive combatendo em tua cintura
deixo em tua honra esta granada escura,
este canto de amor a Stalingrado.
34
Ivan Goran Kovacic (Croácia 1913 – 1943)
O poeta e escritor croata Ivan Goran Kovacic foi morto durante a Segunda Guerra,
quando da ocupação nazista de seu país (então parte da Iugoslávia), ocupação esta
que estabeleceu o estado-títere da Croácia Independente (1941-1944). Deixou um
testamento: o poema épico Fosso (Jama, publicado em 1944), em dez cantos, onde
o poeta narra o extermínio sistemático de judeus, sérvios e outras minorias
durante o período de ocupação.
Fosso
35
Canto X (fragmento)
36
Vladimir Nazor (Croácia 1876 – 1949)
Escritor e poeta, Nazor foi figura relevante do Modernismo iugoslavo. Mesmo com
67 anos durante a Segunda Guerra, o escritor engajou-se na resistência contra a
ocupação nazista e o estado-títere da Croácia Independente. Em 1944 publicou o
livro Canções dos Partizani.
Mãe Ortodoxa
37
Agora coberta de auréola de martírio,
mãe ortodoxa.
38
Archibald MacLeish (EUA 1892 – 1982)
Durante a Primeira Guerra Mundial foi motorista de ambulância, como seu amigo
Hemingway e outros escritores norte-americanos, passando depois para a
artilharia, aonde chegou a capitão. Durante a II Guerra trabalhava como diretor da
Biblioteca do Congresso Americano, e ocupou cargos também no Departamento de
Guerra. Ajudou a formar a célula de pesquisa e informação do que viria a ser a CIA
(Central Inteligence Service). Macleish ganhou três prêmios Pulitzer por sua obra. O
poema aqui publicado saiu em livro em 1943.
39
Acho que não gostam de nós diz Maine.
Vamos
conta diz Connecticut.
Peço-te diz New Hampshire.
Falam que temos maus costumes diz Maine.
Isso mesmo
diz Kansas.
Passa pro meu lugar diz Michigan.
É de nossa maneira de casar diz Maine. Não escolhemos.
Mal nos topamos já nos misturamos. Casamo-nos
Com as irlandesas atraentes e sapecas.
Casamo-nos com as espanholas de olhos noturnos.
Casamo-nos com as inglesas de ar sarapantado.
Casamo-nos com as louras suecas; com as italianas trigueiras;
Com as alemãs de joelhos grossos; com as mexicanas
Magras ao sol com seus penduricalhos sonoros;
Com as chilenas para ter sorte; com as judias por lembrança; com as escocesas
Altas como um homem – prateadas como um salmão;
Com as francesas de habilidosos dedos e longos amores.
Falam que nos casamos com muita gente diz Maine; muito variada.
Dizem que temos sangue ruim; que somos mestiços.
Ouço falarem
que são raça pura diz Maine; que são um povo superior.
40
Latagões vigilantes no comando; comandados audazes;
Bom fôlego na reta de chegada. Já os derrotaram?
41
Há falatório diz Iowa.
Falatório diz Illinois.
42
Dudley Randall (EUA 1914 – 2000)
O afro-americano Dudley Randall foi poeta e importante editor, pautando sua obra
poética pela causa negra e publicando diversos grandes autores afro-americanos.
Durante a Segunda Guerra, serviu no Exército, experiência que o inspirou a
escrever poemas tais como esses Epitáfios do Pacífico.
Epitáfios do Pacífico
RABAUL.
Em Rabaul morri
Pela democracia.
Melhor era cair
No Mississipi.
**
PALAWAN.
Sempre pacífico,
Me enfiei entre
O amiguinho de revólver
E o de metralhadora.
**
NEW GEORGIA.
**
NEW GUINEA.
A linguinha do mosquito
Leu uma historinha pra mim.
**
TARAWA.
43
IWO JIMA.
**
ESPIRITU SANTU.
Odiei armas,
Vendedor de armas
Que não se armava.
**
LUZON.
**
BOUGAINVILLE.
Projétil
Na cavidade abdominal.
Ângulo: trinta e cinco graus.
Penetrou a pars pyrolica.
Desviada, pelo sternum.
Perfurou a auricula dextra.
Ferrou minha carreira médica.
**
VELLA VELLA.
**
BORNEO.
Kil-
Roy
Aqui.
44
John Ciardi (EUA 1916 – 1986)
Natural de Boston, o descendente de italianos John Ciardi foi poeta, escritor,
crítico, editor e tradutor. Durante a guerra serviu na força aérea, tornando-se
artilheiro em um avião B-29. Suas experiências no conflito geraram o livro de
poemas de guerra Other Skies (1947). O tema da guerra continuou a repercutir em
toda a sua obra, como se vê neste poema aqui publicado. Em 1988 publicou-se
postumamente seu diário de guerra, Saipan.
O Dom
45
Karl Shapiro (EUA 1913 – 2000)
Karl Shapiro teve seu livro V-Letter e outros poemas publicado nos EUA enquanto
ainda servia como soldado no teatro do Pacífico. O livro ganhou o Prêmio Pulitzer
de Poesia em 1945. Ao retornar da Guerra, foi eleito Poeta Laureado pela
Biblioteca do Congresso em 46 e 47. Desenvolveu sólida carreira como poeta,
professor e editor de poesia.
Trem de Tropas
46
Os trens levam aos barcos e os barcos à morte ou aos trens, e os trens à morte ou
aos caminhões, e os caminhões à morte, ou os caminhões conduzem à marcha, a
marcha à morte ou a sobrevivência que é nossa única esperança;
e a morte nos devolve aos caminhões e aos trens e aos barcos, porém a vida leva à
marcha, oh bandeira!, finalmente
o lugar da vida encontrado depois dos trens e da morte -
Brilhante anoitecer das nações depois da guerra.
47
Randall Jarell (EUA 1914 – 1965)
O poeta, escritor e crítico literário Randall Jarell nasceu em Nashville, Tennessee.
Em 1942 deixou a faculdade para juntar-se à Força Aérea. Jarell tornou-se
operador de torres de artilharia em aviões como o B-17 e o B-24, função que ele
considerava profundamente “poética”. O pequeno poema abaixo faz referência a
esse fato, e é possivelmente o mais famoso poema de guerra americano do período
da SGM. Suas experiências de guerra redundaram em dois livros: Little Friend,
Little Friend (1945) e Losses (1948).
48
Stanley Kunitz (EUA 1905 – 2006)
Stanley Kunitz nasceu em Worcester, Massachussetts, descendente de judeus
lituanos. Em 1943 foi convocado pelo Exército Americano. Objetor de consciência,
serviu como não-combatente em Washington. Em 1944 publica seu livro
Passaporte para a Guerra. Vencedor do Pulitzer em 1959, o poeta foi duas vezes
eleito Poeta Laureado pela Biblioteca do Congresso Americano.
49
Como iremos nós não criar esta
energia ilegítima?
50
T. S. Eliot (EUA/Ingaterra 1888 – 1965)
Um dos maiores e mais influentes poetas do século XX, o modernista norte-
americano (naturalizado inglês) Thomas Stearns Eliot recebeu o Prêmio Nobel em
1948. O trecho aqui publicado é pertencente a quarta e última parte (Little
Gidding) do poema Quatro Quartetos (que o próprio Eliot considerava sua obra-
prima), e foi escrito em 1942. Nele, o poeta imagina um encontro com Dante nas
ruas e ruínas de uma cidade bombardeada. Eliot serviu como voluntário civil numa
brigada de antiataque aéreo, durante a Guerra. Little Gidding é o nome de uma
igreja anglicana localizada no distrito de Huntingdonshire, na Inglaterra.
Quatro Quartetos
Little Gidding
II
51
Vizinha ao término da noite interminável
No recorrente fim do que jamais se finda
Após o negro pombo de flamante língua
Perder-se no horizonte de sua fuga
Enquanto as folhas mortas se moviam
Vibrando ainda como lâminas de zinco
Sobre o asfalto onde outro som nenhum se ouvia
Entre três bairros de onde a fumaça emergia,
Alguém notei que andava, trôpego e apressado,
Como se vindo a mim tal as folhas metálicas
Que a brisa urbana da alvorada embala.
E ao mergulhar naquele rosto cabisbaixo
Esse pontiagudo olhar inquisidor
Com que desafiamos o primeiro estranho
Surgido na penumbra agonizante
Captei o olhar fugaz de algum extinto mestre
A quem outrora houvesse conhecido,
Esquecido, lembrado após sem nitidez,
Como a um só e a muitos de uma vez;
Sob o castanho sazonado das feições
Os olhos de um complexo e familiar espectro
A um tempo só distinto e incognoscível.
Gritei, cumprindo assim duplo papel,
E uma outra voz ouvi bradar: “O quê!
Tu por aqui?” Conquanto ali não estivéssemos.
Contudo eu era o mesmo, embora um outro fosse
- E ele um rosto ainda em formação;
Mas bastaram as palavras para que aceitássemos
O que já precedido elas haviam.
E assim, obedientes ao vento comum,
Demais estranhos para não nos entendermos,
Concordes nesse instante de erma interseção,
De em parte alguma estarmos, antes e depois,
Em ronda morta o calçamento percorremos.
Disse-lhe então: “É natural o espanto
Que sinto, embora a naturalidade
Seja causa de espanto. Fala, pois: talvez
Eu não possa entender, ou recordar sequer.”
E ele: “Não quero repetir o que esqueceste
Sobre meus pensamentos e doutrinas.
Tais coisas já cumpriram seu destino: deixa-as.
Faze o mesmo com as tuas, e roga aos outros
Que as perdoem, como te rogo que perdoes
A maus e bons. Comido foi o fruto
Da última estação, e a besta empanzinada
Há-de atirar seus coices contra o cocho.
Pois as palavras do ano findo só pertencem
À linguagem do ano findo, e as palavras
Do ano próximo outra voz aguardam.
52
Mas, assim como agora a estrada se abre limpa
Ao intranquilo e peregrino espírito
Entre dois mundos que chegaram a parecer
Demasiado iguais, assim descubro agora
Palavras que jamais pensei dizer
Em ruas que jamais pensei revisse
Quando meu corpo abandonei sobre uma praia.
Posto que nosso fim era a linguagem,
E a linguagem desde sempre nos levara
A purificar o dialeto da tribo
E a instigar a mente para a antevisão
E a pós-visão, deixa-me revelar as dádivas
À velhice reservadas, para que seja
Coroado o esforço de tua vida inteira.
Primeiro, o enregelado atrito dos sentidos
Que expiram sem magia e nada prometer,
Senão a amarga insipidez de um fruto umbroso
Quando alma e corpo, espedaçados, principiam
A tombar cada qual para o seu lado.
Segundo, a lúcida impotência do ódio
Ante a loucura humana, e a laceração do riso
Perante aquilo que cessou de divertir-nos.
Enfim, a lacerante dor de reviver
O que já concluíste, e o que foste; a vergonha
De motivos tarde apenas revelados
E a consciência de todas as coisas mal feitas
Ou feitas simplesmente em prejuízo alheio
Que antes tomaste por virtuosas práticas.
Nesse momento é que se arranca o aplauso
Dos tolos, e a honra se macula.
Erro após erro, o exasperado espírito
Prosseguirá, se revigorado não for
Por este fogo purificador
Onde mover-te deves como um bailarino.”
Raiava o dia. Na desfigurada rua
Ele deixou-me, com uma esquiva despedida,
E evaporou-se ao brônzeo som das trompas.
53
Louis Aragon (França 1897 – 1982)
Poeta e romancista, Aragon destacou-se como membro do movimento surrealista,
ao lado de Breton e Éluard. Durante a Guerra foi um ativo poeta da resistência
francesa, sendo membro do Partido Comunista. O poema aqui transcrito foi
publicado originalmente em 1941, ano da invasão (e derrota) da França pelas
tropas de Hitler.
Os lilases e as rosas
54
Buquês do primeiro dia lilás lilases de Flandres
Brandura da sombra cuja morte os rostos disfarça
E vossos buquês da retirada suaves rosas
Cores de incêndio distantes rosas de Anjou
55
Paul Éluard (França 1895 – 1952)
Grande nome da poesia francesa do século XX, Éluard foi inicialmente dadaísta, e
posteriormente o poeta maior do surrealismo. Engajado na Resistência Francesa
durante a Guerra, foi dos seus mais destacados poetas, ao lado de Louis Aragón,
tendo escrito poemas como ‘Liberdade’ aqui publicado, poema que circulava
clandestinamente entre os insurgentes e teve até mesmo cópias lançadas de aviões
ingleses, por toda a França.
Liberdade
56
Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome
57
Escrevo teu nome
Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome
Liberdade
58
Coragem
59
A Aurora Dissolve os Monstros
Ignoravam
que a beleza do homem é maior do que o homem
60
Pierre Emmanuel (França 1916 – 1984)
Noël Mathieu, poeta e jornalista francês de inclinação cristã, fez-se mais conhecido
pelo seu pseudônimo, Pierre Emmanuel. Membro da Resistência Francesa, durante
todo o período de Guerra publicou diversos trabalhos, sendo, ao lado de Char,
Aragon e Éluard, uma das principais vozes poéticas da Resistência. No pós-guerra
ocupou diversos cargos de importância, e veio a ocupar a cadeira número 4 da
Academia Francesa.
Dia de Cólera
61
René Char (França 1907 – 1988)
O jovem René Char inicialmente foi um filiado ao surrealismo, ao lado de Breton e
Éluard, tendo logo se afastado do movimento. Durante a Guerra, o poeta engaja-se
na Resistência, onde foi figura de destaque, adotando o codinome de Capitão
Alexandre. Sua obra então sofre um hiato, pois o autor recusa-se a publicar
durante a Ocupação alemã. Publicação que é retomada ao fim do conflito, já então
tendo sua obra profundamente marcada pelo mesmo.
Carta do 8 de Novembro*
62
Pobreza e Privilégio
Tradução de Y. K. Centeno
II
... Não quero esquecer nunca que me obrigaram a ser – por quanto tempo? – um
monstro de justiça e de intolerância, um simplificador emparedado, um
personagem ártico que se desinteressa do destino de todos aqueles que não se lhe
unem para abater os cães do inferno. As prisões em massa de israelitas, as sessões
de escalpe no comissariado, os raids terroristas dos polícias hitlerianos sobre as
aldeias estarrecidas, levantam-me do chão, dão ao cieiro do meu rosto uma
bofetada de ferro fundido vermelho. Que inverno! Paciento, quando durmo, num
túmulo que os demônios enfeitam com punhais e tumores.
O humor já não me salva. O que me deprime, e a seguir me arranca a mim
mesmo, é que no interior da nação a que se cortou a crista por meio de correntes
discordantes, seguidas de poderes grotescos e relativamente complacentes –
excetuando a repressão da agitação operária e as cruéis expedições coloniais,
adaga que o ódio de classes e a eterna cupidez enterram a espaços nalguma carne
previamente excomungada – possam ser tão numerosos os indivíduos pensantes
que se entregam com galhardia à esparrela do torcionário e se alistam nas suas
legiões. Nenhuma obra de exterminação dissimulou tão mal os seus objetivos como
esta. Não compreendo, e se compreendo, aquilo que descubro é aterrador. Nesta
medida o nosso globo não seria, hoje à noite, mais do que a bola de um grito
imenso na garganta do infinito esquartejado. É possível e é impossível.
1943
63
O Verdelhão
Tradução de Y. K. Centeno
3 de Setembro de 1939*
De Sós Permanecem
*Neste dia, França, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia declaram guerra à Alemanha, que
dois dias antes invadira a Polônia, dando início à Segunda Guerra (N.O.).
64
Giorgos Seferis (Grécia 1900 – 1971)
Poeta grego vencedor do Prêmio Nobel de 1963. O poema aqui publicado (datado
de 1939) é um prenuncio do que estava por vir, sobre a sua pátria e sobre toda a
Europa, nos anos imediatamente seguintes. Com a deflagração da Segunda Guerra,
ele acompanhou o governo grego no exílio por diversos países, num tour que
começou na ilha de Creta e terminou na Itália. Ao fim da guerra tornou-se
diplomata.
O ÚLTIMO DIA
Atenas, fevereiro de 39
65
Odisséas Elýtis (Grécia 1911 – 1996)
Um dos maiores nomes da grande poesia grega moderna, Elýtis, Prêmio Nobel de
1979, foi desde jovem impactado pela corrente surrealista, notadamente através
de Paul Éluard. Durante a guerra, serviu na resistência albanesa, experiência que o
levou a escrever o livro Canto Heroico e Funeral para o Segundo-Tenente
Desaparecido na Campanha da Albânia, do qual publicamos aqui alguns trechos.
III
Agora ele jaz sobre o capote chamuscado
Com uma brisa detida no cabelo imóvel
Com um raminho de olvido em seu ouvido esquerdo
Parece um jardim abandonado de repente pelos pássaros
Parece uma canção amordaçada nas trevas
Parece o relógio de um anjo que parasse
Quando os cílios diziam “até logo rapazes”
E a perplexidade fez-se pedra
66
IV
Oh sol não eras sempiterno?
Pássaro não eras o instante de alegria que não cessa?
Relâmpago não eras destemor de nuvem?
E tu jardim odeão das flores
E tu crespa raiz da magnólia
Assim enquanto a árvore sacode-se na chuva
E o corpo vazio enegrece o destino
E um doido se flagela com a neve
E os dois olhos estão prestes a chorar –
Por que, pergunta a águia, onde está o bravo moço?
E as aguiazinhas espantadas, onde está?
Por que, pergunta, a suspirar, a mãe, onde está o meu filho?
E as mães todas, surpresas, onde está o menino?
Por que, pergunta o homem, onde está o teu irmão?
E os companheiros todos, estranhando, onde está o pequenino?
Pegam a neve, a febre queima
Pegam a mão, está gelada
Vão morder o pão, goteja sangue
Por que por que por que a morte não se aquenta
Para que um pão assim tão ímpio
Por que um céu como este onde outrora o sol morava?
XI
Ao longe tocam sinos de cristal –
Soa o momento mais exato deste mundo:
Liberdade,
Em meio às trevas os gregos mostram o caminho:
LIBERDADE
Por ti e de alegria há de chorar o sol
Soa o momento mais exato deste mundo!
67
Tasos Leivaditis (Grécia 1922 – 1988)
O ateniense Tasos Leivaditis foi um integrante da Resistência grega, durante a
ocupação de seu país pelas tropas nazistas. Após a guerra foi deportado, em
virtude de suas atividades esquerdistas. De volta à Grécia, em 1951, foi preso pelo
regime direitista, tendo seu livro ‘Sopra o Vento nas Esquinas do Mundo’ censurado.
O poeta foi absolvido em 1955. O poema aqui publicado saiu em livro em 1952.
I
Anoitecia depressa.
O vento vinha de longe cheirando a chuva
e guerra.
Os comboios cheios de soldados passavam rápidos
mal conseguíamos vê-los por detrás das vidraças.
Fechavam o horizonte grandes capacetes de aço.
Rebrilhava o asfalto molhado. Por detrás das janelas
as mulheres debulhavam umas favas secas em silêncio.
E os passos da sentinela
roubavam o silêncio à rua e o calor ao mundo.
Vá, volta os teus olhos, que eu quero fitar o céu,
dá-me a tua mão, que eu quero apertar a minha vida.
Como estás pálida, minha amada!
Como se a noite nos batesse à porta. A tua mãe,
arrastando as grossas socas, foi abrir.
Ninguém. Ninguém, repetiu. Será o vento.
Nós, apertamo-nos um ao outro. É que sabíamos,
é que sabíamos, minha amada, que não era o vento.
Milhares de humanos morriam lá fora da nossa porta.
Olha como o nosso bairro está deserto, minha amada.
O vento entra e sai pelas brechas das casas
as paredes umedecem, incham e depois caem em ruínas.
Para onde foram tantos vizinhos sem se despedirem,
deixando o banco de pedra meio por caiar
o sorriso meio por acabar.
É como se alguém dobrasse a esquina e nunca mais o víssemos.
Como se disséssemos bom dia e caísse de súbito a noite.
Mas para onde vai esta gente toda?
Também aquele amolador louro que cantava pelas manhãs
foi fuzilado
Também o do quiosque que nos dava o troco sorrindo
foi fuzilado
e o rapaz que pesava o carvão - lembras-te dele, a sério?,
foi fuzilado.
A carroça ficou de pernas para o ar na esquina.
68
A amada dele agora há-de fitar de frente a noite
Há-de dobrar-se como um cão a cheirar a camisa dele.
E o carteiro que com a voz abria as janelas
foi fuzilado.
Vá, vá, afasta a tua boca vermelha de mim, Maria.
Tenho frio.
Esta noite, em todas as paredes é fuzilada a vida.
Minha amada
amo-te muito mais do que posso dizer com as palavras
queria morrer contigo, se alguma vez morresses,
e, no entanto, minha amada,
não poderia
não poderia já amar-te como já te amei.
Fechávamos a porta atrás de nós e tínhamos frio
fechávamos as janelas e tínhamos mais frio
e ao voltar-me para ver os teus olhos
vi os olhos da vizinha a quem mataram quatro filhos
e ao estender a minha mão para a tua
era como se roubasse o pão da mão dos que tinham fome.
Abraçavas-me
e eu por cima do teu ombro olhava a rua.
E quando queríamos falar, calávamo-nos de súbito.
Escutávamos da janela aberta lá ao longe
os passos dos moribundos.
Como pode o nosso cobertor aquecer tanto gelo,
Como pode a porta proteger-nos de toda esta noite?
Entre nós os humanos deitaram a sua grande sombra.
Que vai ser de nós, amada?
69
Depois ficamos nós. Onde ficamos? Porque ficamos?
Como hei-de abrir uma porta se não for para ir ter contigo?
Como hei-de atravessar uma soleira se não for para te encontrar?
Não, não podia viver longe de ti, amada minha.
Mas esta noite em todas as esquinas esperam-nos as pessoas.
Dá-me a tua boca por um momento. E prepara a minha trouxa, Maria.
70
Gerrit Kouwenaar (Holanda 1923 - 2014)
Durante a Segunda Guerra Mundial, publicou livros de forma clandestina, além de
editar jornais subversivos. Foi preso, sendo liberado seis meses depois, vindo
então a entrar na clandestinidade. Após a guerra dedicou-se a seu trabalho de
escritor e tradutor.
enterraram-se no local
entre eles o meu companheiro inseparável
de quatro anos de trincheira
71
em voz baixa acerca de um futuro melhor, fumávamos
juntos um cigarro belga, juntos não suspeitávamos
nenhum perigo / ele era
soldado corajoso, obediente
com dignidade, amava
mozart, wagner a pátria, prestava atenção
ao sussurro das suas árvores / escondi
pouco da sua verdade, só omiti
o indizível putas e pulgas e de que modo
estraçalhávamos como carniceiros
72
Jan Campert (Holanda 1902 – 1943)
Poeta, jornalista, crítico e escritor, durante a guerra Jan Remco Theodoor Campert
foi preso em um campo de concentração, por ajudar judeus. Acabou falecendo ali,
em 1943. Seu poema mais conhecido é De Achttien Dooden (Os Dezoito Mortos). O
poema foi escrito em 1941 e publicado clandestinamente em 1943, em forma de
cartão, para arrecadar dinheiro para ajudar crianças judias. Ele fala sobre a
execução de dezoito holandeses (15 combatentes da resistência e 3 comunistas)
pelas mãos dos ocupantes alemães.
Os Dezoito Mortos
73
Ter subjugado o nosso povo
E ter pilhado como um ladrão.
74
Gyula Illyés (Hungria 1902 – 1983)
Poeta, escritor e tradutor, Illyés desde jovem foi um engajado nos movimentos de
esquerda na Hungria. Durante um período em Paris, trava amizade com os
surrealistas franceses. A Segunda Guerra encontra-o como editor de uma das mais
ilustres revistas literárias do país, a Nyugat (“Ocidente”). Em 1944 as forças de
Hitler invadem a Hungria, e o poeta é obrigado a fugir. Já em 1945 retorna e torna-
se membro do Parlamento húngaro. Dois anos após afasta-se da política,
dedicando-se somente à produção intelectual.
O Vizinho
Levaram e mataram
o seu filho soldado.
“Que fazer? Guerra é guerra!”
E pegou no arado.
1943
75
István Vas (Hungria - 1910-1991)
Poeta, tradutor e ensaísta de origem judia, Vas foi aprisionado durante a Guerra no
campo de concentração de Geza Ottlik, onde, em virtude das agruras terríveis do
trabalho forçado, o autor tentou por diversas vezes o suicídio. Sobrevivente, Vas
nos legou uma produção de dezenas de títulos, da poesia ao romance, passando
por novelas, contos e ensaios.
76
János Pilinszky (Hungria - 1921-1981)
Convocado para o exército húngaro em 1944, Pilinsky viu-se obrigado a seguir com
o exército alemão, em sua retirada para a Alemanha. Durante sua estada no país,
totalmente deslocado e perplexo em meio ao caos dominante, o poeta pôde
presenciar a realidade de diversos campos de concentração, ainda em plena
atividade, chegando a servir como guarda do campo de Ravensbrück. O poema
abaixo reflete um pouco dessas experiências. Ganhador de vários prêmios,
homossexual renitente, cristão, Pilinsky foi mais uma das almas marcadas para
sempre pela Guerra.
Paixão de Ravensbrück
77
Miklós Radnóti (Hungria 1909 – 1944)
O poeta e tradutor de ascendência judia Miklós Radnóti nasceu em Budapeste.
Durante a guerra passou por diversas dificuldades, vindo a ser preso e enviado ao
campo de concentração de Bor. Durante uma das chamadas Marchas da Morte,
onde prisioneiros eram obrigados a deslocarem-se a pé por centenas e até
milhares de quilômetros, Radnóti, já debilitado, foi por fim executado e sepultado
em vala comum. Após a exumação de seu cadáver, em 1946, foi encontrado no
bolso de seu casado um caderno com seus últimos poemas, publicados sob o título
de Tajtékos ég (Céu Espumante). Abaixo, o poema que dá título ao livro.
Céu espumante
78
Razglednice*
1
Da Bulgária o selvagem troar dos canhões rola,
ressalta na montanha, hesita, depois tomba;
caos de animais, carroças, pensamentos e homens,
relincha a estrada, erguendo-se, as crinas do céu correm.
No meio do turbilhão és a minha constante,
esplendeces no meu íntimo eternamente estática
e muda como o anjo espantado ante a catástrofe,
o inseto sepultando-se no seio podre da árvore.
1944. 30 de agosto. Nas montanhas.
2
A nove quilômetros daqui ardem
casas e montes de feno,
junto às terras camponeses assustados
fumam cachimbo sentados em silêncio.
Aqui os passos da pastorinha ainda
encrespam a água do lago,
bebe as nuvens reclinado sobre a água
o frisado rebanho.
Cservenka, 1944. 6 de outubro.
3
Da boca dos bois escorrem sangue e baba,
os homens urinam todos sangue,
a companhia é um caos fétido e atroz.
Horrenda a morte sopra sobre nós.
Mohács, 1944. 24 de outubro.
4
Eu caíra a seu lado, o seu corpo convulso
era como uma corda tensa, pronta a estalar.
Um tiro na nuca. – Terás igual destino, -
murmurei para comigo, - basta jazeres em paz.
De cima soou – Der springt noch aug**
Secavam na lama e sangue em minha orelha.
Szentkirályszabadja, 1944. 31 de outubro.
79
Dylan Thomas (Inglaterra 1914 – 1953)
O boêmio bardo galês Dylan Thomas, um dos maiores poetas de seu tempo, trocou
a paz do País de Gales pela alvoroçada Londres durante a guerra, onde trabalhou
escrevendo mensagens para a BBC. Seus problemas de saúde o haviam
impossibilitado de engajar-se no serviço militar. Nos poemas aqui publicados, fica
patente a forte impressão causada no poeta pelos bombardeios quase diários de
que Londres era vítima.
Começai
Com o canto
Cantai
As trevas se iluminaram até o começo
Quando a língua contraída pendeu cega,
Uma estrela se esfacelou
Nos séculos da criança
Aqueles que sou agora sofremos, e os milagres nada podem resgatar.
Perdoai
Perdoai-nos
Dai-nos
Vossa morte para aqueles que sou os crentes
Possam sustentá-la num grande dilúvio
Até que o sangue germine,
E a poeira cante como um pássaro
Enquanto crescem as sementes, como cresce vossa morte, através de nosso
coração.]
Chorando
Vossa morte
Chorai,
Criança além do canto do galo, junto à rua com anões de fogo
80
Cantamos o mar flutuante
No corpo saqueado.
O amor é a última luz falada. Oh
Semente de filhos no dorso da negra casca abandonada.
II
III
81
Dentro do pão num trigal em chamas,
Dentro do vinho que queima como aguardente,
As missas do mar
As missas do mar sob as missas
Do mar que procria meninos
Irrompem como fontes e começam a pronunciar para sempre
Glória glória glória
O dilacerante e último reino do trovão da gênese.
82
Entre os mortos num bombardeio ao amanhecer havia um homem de cem
anos
83
Edith Sitwell (Inglaterra 1887 – 1964)
Filha da aristocracia inglesa, a mais velha dentre três irmãos (seus dois irmãos,
Osbert e Sacheverell, também se notabilizaram como escritores), Edith Sitwell foi
poeta e crítica literária. Com a eclosão da guerra, Sitwell, que então residia na
França, retornou para a Inglaterra. A guerra acabou servindo de inspiração para
muitos de seus poemas, inclusive aquele que talvez seja seu texto mais conhecido,
o belíssimo Still Falls the Rain (Ainda Cai a Chuva), aqui publicado.
Tradução de C. Ronald
No Túmulo:
Ainda cai a chuva
84
Ainda cai a chuva
Por isto saltarei para Deus que me abate -
Olha, olha como o Sangue de Cristo jorra no firmamento:
Flui do semblante profundo que pregamos na árvore
85
Keith Douglas (Inglaterra 1920 – 1944)
Morto com apenas 24 anos, Keith Douglas já despertara atenção na Inglaterra com
seus poemas, antes da Guerra. Alistado no Exército inglês, serviu como
comandante de tanques no Norte da África, experiência que o levou a escrever o
singular livro de memórias Alamein to Zem Zem (publicado em 1946), cujos
poemas vieram a sagrá-lo como um dos maiores war poets da Segunda Guerra
Mundial. Foi morto em combate durante o desembarque na Normandia.
COMO MATAR
O mosquitinho aterriza
sua sombra na pedra, e quão
parecido, quão imenso
que se encontrem sombra e homem.
Fundem-se. Sombra é homem tão
logo o mosquito-morte aproxima
86
VERGISSMEINNICHT
87
W.H. Auden (Inglaterra/EUA 1907 – 1973)
Nascido em 1907, em York, W.H. Auden foi um dos maiores poetas de sua rica
geração. Em 1939, data do poema aqui publicado, Auden muda-se para os EUA,
vindo anos depois a naturalizar-se cidadão americano. Em seus poemas anteriores
à Guerra, já denunciava, com sua característica voz profética, a ascensão dos
totalitarismos na Europa.
Incerto e temeroso
sento-me a um dos parapeitos
da 52.ª Avenida
quando falecem as espertas esperanças
de uma década baixa e desonesta:
ondas de ira e medo circulam
sobre as brilhantes e sombrias terras do planeta
obsedando nossas vidas.
O inominável cheiro da morte
conspurca a noite de setembro.
Neste ar neutro
em que arranha-céus se elevam cegos para o céu
a fim de proclamar a força do Homem Coletivo,
em cada língua se proclamam desculpas conflitantes.
88
Quem entretanto pode viver indefinidamente
num sonho eufórico?
O espelho nos devolve a face do imperialismo,
do erro universal.
Personagens importantes
nos afirmam que o lixo
de hordas militantes
é menos rijo que somos;
o que o louco Nijinsky disse
de Diaghilev é a verdade
sobre todo ser humano,
pois o erro medular de cada homem e mulher
aspira não a querer amor universal
mas ao que não pode ter:
de ser amado sozinho.
Do lado conservador
a onda dos comutantes
invade a vida moral
com sua prece matinal:
“Serei fiel à esposa
Me esforçarei no trabalho.”
Os chefes atarantados
pelas manhãs reassumem
sua rotina habitual.
Quem pode desonerá-los?
quem pode falar aos surdos?
e pelos mudos falar?
89
Só de amor e poeira
como eles feito,
eu possa a eles juntar-me
e sitiado por iguais
negação e desespero,
só de amor e poeira
compor um raio de luz.
90
Giuseppe Ungaretti (Itália 1888 – 1970)
Grande nome do hermetismo italiano, durante a juventude Ungaretti lutou como
soldado na Primeira Guerra Mundial, fato que marcou sua literatura. Quando da
eclosão da Segunda Guerra, o poeta estava no Brasil, onde lecionava Literatura na
USP. Em 1942 retorna à Itália. Os versos aqui publicados são de “Roma Ocupada”,
parte do livro Il Dolore (A Dor - 1942-1945, publicado em 1947), e retratam o
sofrimento e sentimento de vazio do poeta em face à cidade de Roma ocupada
pelas tropas nazistas.
1
Meu rio tu também, Tibre fatal,
Ora que a noite perturbada escorre;
Ora que persistente
E como a custo irrompido da pedra
Um gemido de ovelhas se propaga
Perdido pela estrada apavorada;
Pois a espera sem descanso do mal,
Dos males o mais cruel,
Pois a espera do mal imprevisível
Entrava ânimo e passos;
Que infinitos soluços e estertores
Regelam casas, indivisas covas;
Agora que a noite corre já lanhada,
Que a cada instante somem de repente
Ou receiam a ofensa tantos signos
Vindos, quase formas divinas, a luzir
Pela ascensão de milênios humanos;
Ora que já assolada corre a noite,
E quanto um homem pode sofrer sei;
Agora, enquanto escravo
O mundo de abismal pena sufoca;
Ora que insuportável o tormento
Desata entre os irmãos ira mortal;
Ora que ousam dizer
Os meus blasfemos lábios:
“Cristo, pulsar absorto,
Por que de nós tão longe
Tua bondade?”
2
Ora que ovelhinhas com carneiros
Desnorteiam-se atônitas, e nas ruas
Que já foram urbanas, se desolam;
91
Ora que um povo prova
Depois dos raptos das emigrações,
A estultice iníqua
Das deportações;
Agora que nos fossos
Com fantasia retorta
E mãos despudoradas
Das humanas feições o homem lacera
A imagem divina
E a piedade contrai-se em grito pétreo;
Agora que a inocência
Um mero eco reclama,
E geme até no coração mais duro;
Quando soam em vão os outros gritos,
Na noite triste vejo claramente.
3
Chaga no coração
Soma de tanta dor
Que vai espalhando sobre a terra o homem;
Teu coração é a apaixonada sé
Do amor não frustro.
Cristo, pulsar absorto,
Astro encarnado nas humanas trevas,
Irmão sempre imolado
Perenemente para edificar
Humanamente o homem,
Santo, Santo que sofres,
Mestre, irmão, Deus pai de nós, os débeis,
Santo, Santo que sofres
Para livrar da morte os mortos
E sustentar-nos, infelizes vivos,
De um pranto que é só meu não mais pranteio,
Eis que Te chamo, Santo,
Sofrente Santo.
92
Nas Veias
93
Primo Levi (Itália 1919 – 1987)
Judeu de origem italiana, Primo Levi participou da resistência anti-fascista na
Itália. Capturado pela milícia fascista, acabou prisioneiro em Fossoli, sendo depois
transferido para Auschwitz, de onde foi libertado pelo Exército Vermelho. Dedicou-
se à memorialística, mas também à prosa de ficção e poesia. O poema aqui
publicado está incluído no livro Se Isto É um Homem, que o autor terminou de
escrever em 1946, sendo este seu principal livro de memórias.
94
Salvatore Quasímodo (Itália 1901 – 1968)
Laureado com o Nobel em 1959, Quasimodo desde muito jovem foi impressionado
pelo espetáculo do sofrimento humano, que vivenciou na cidade de Messina, onde
foi morar com sua família um dia após um terremoto que arrasou a cidade, em
1908. Foi engenheiro, profissão que abandonou para tornar-se professor e
dedicar-se à literatura. Também tradutor, verteu diversos clássicos para o italiano.
Durante a guerra, o poeta preferiu apegar-se aos sofrimentos do povo. Após o
conflito a sua poesia voltou-se para expressar os horrores da guerra e do regime
fascista.
95
CÂNTICOS
29 de Abril de 1945
FILHO
MÃE
FILHO
96
AUSCHWITZ
97
e piedade apodreceram, lá longe
sob a chuva, pulsava um não dentro de nós;
um não à morte, morta em Auschwitz,
para não repetir, daquele ninho
de cinzas, a morte.
98
Sadako Kurihara (Japão 1913 – 2005)
Sobrevivente da explosão atômica em Hiroshima, a poeta Sadako Kurihara dedicou
sua poesia a denunciar as mazelas da guerra e do uso de armas de destruição em
massa. Chegou a ser censurada durante o período de ocupação americana no pós-
guerra.
Dizendo “Hiroshima”
Diz-se “Hiroshima”
e ninguém se simpatiza.
Ao invés, a fúria dos asiáticos, agora sem voz,
mortos e violados, aparece.
99
Deixemos vir a nova vida
100
Tamiki Hara (Japão 1905 – 1951)
Nascido em Hiroshima, Tamiki Hara foi escritor, poeta e professor de inglês.
Perdeu a esposa em 1944, vítima de tuberculose. Em 1945 resolve retornar à casa
dos pais em Hiroshima (cidade que havia deixado para dar aulas) e acaba
presenciando a explosão atômica. Sobrevivente, doravante os temas da bomba e da
morte da esposa serão dominantes em sua literatura. Flores de Verão (Natsu no
Hana), escrito em 1946, é seu livro mais conhecido. O poeta suicidou-se em 1951.
101
Hirsh Glick (Lituânia 1920 – 1944)
Judeu lituano, Glick fez parte da resistência instalada no Gueto de Vilna, onde
escreveu o famoso hino Não Digas Nunca (Zog Nit Keinmol), e de cujas ruínas foi
resgatado o texto aqui publicado. Capturado, foi morto pelos nazistas ao tentar
escapar de um campo de concentração, em 1944.
Achtung!
Atenção, fileira de mortos!
Que se apresente, sem murmúrios, nem clamores,
o mais jovem dos defuntos...
E que cante o hino “Horst Wessel”
e o auditório profira o juramento:
sobre o que iremos ver e ouvir
até o galo em seu canto calará!
Achtung!
Alerta, fileiras e mortos!
Onde está o mais jovem dos defuntos?
Quem cantará o “Horst Wessel”?
Surgem da cela, no fundo,
sete defuntos,
com taletim e mortalhas,
e param junto à parede
com uma vela acesa em cada mão...
Os olhares do povo se cruzam,
e impelidos pela febre,
retornam para a dama –
olhos de pais, olhos de mães,
mil corações palpitando.
102
Todos buscam suas pupilas.
E ela balouça a corda, esperando.
Quem for atingido pelo seu olhar agudo
nunca mais retornará...
Balouça-se
esperando
a corda...
No intervalo
saltaram num dó ato
os miolos da cabeça e do ventre as entranhas.
Para satisfazer uma necessidade humana,
o público pagava
com joias e com ouro
e moedas estrangeiras...
A vida corria a preço de um níquel
e um gole de água
custava... um anel de casamento.
O guarda tinha um aparelho
que de fezes fazia pão à vontade:
é o balde de imundícies.
E duas servas ele empregou
que as renovam sem cessar.
Os judeus tem joias e roupas
e o guarda desenvolve o negócio
com um lápis e um caderno.
103
Czeslaw Milosz (Polônia 1911 – 2004)
Filho de poloneses, Milosz nasceu na Lituânia, onde passou parte da juventude.
Retornou à Polônia para os estudos, depois indo para Paris. Durante a Segunda
Guerra entrou na clandestinidade, juntando-se à resistência polonesa e escrevendo
poemas contra a ocupação nazista. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1980.
Campo di Fiori
104
Talvez haja outra moral
Que são fugazes as coisas humanas
Que o esquecimento surge,
Mesmo antes do fogo se apagar.
105
Zbigniew Herbert (Polônia 1924 – 1998)
Poeta, ensaísta e dramaturgo polonês ligado às vanguardas, Herbert começou a
escrever aos 17 anos, em plena Segunda Guerra. Logo se integrou à resistência
polonesa. Após a Guerra, seguiu escrevendo e crescendo em importância, sendo
considerado um dos grandes autores poloneses do século XX, ao lado de Czeslaw
Milosz e Wislawa Szymborska.
17 DE SETEMBRO¹
N.T.:
¹ Em decorrência do pacto entre Hitler e Stálin, o Exército Vermelho invadiu a
Polônia em 17 de setembro de 1939 e anexou suas províncias do leste. Em 1º de
setembro, tropas nazistas haviam ocupado o oeste do país.
² Figura da bandeira polonesa.
106
ABANDONADO
1
Cheguei tarde demais
para a última condução
fiquei na cidade
que não é uma cidade
sem matutinos
sem vespertinos
não há
prisão
relógio
nem água
aproveito
um tempo
fora do tempo
avenidas de açúcar
de vidros quebrados
de arroz
2
há um silêncio terrível
às vezes
não se escuta nada
além do eco das paredes que restam
e o trovão leve
das lages ao vento
há um silêncio terrível
que precede a noite do predador
às vezes
107
um avião absurdo
surge no céu
joga folhetos
demandando rendição
eu adoraria me render
mas não tenho a quem
3
no momento estou
no melhor hotel
um porteiro morto
se mantém no posto
no bar ainda há
remédio para solidão
no teto
a lâmpada lembra
uma caveira de ponta-cabeça
aguardo os vencedores
108
me livrei
das idéias macabras
109
CINCO HOMENS
1
Eles os levam para fora de manhã
para o pátio de pedra
e os botam contra a parede
cinco homens
dois muito jovens
os outros de meia-idade
nada mais
pode se dizer sobre eles
2
quando o pelotão
ergue as armas
tudo se revela de repente
na luz invasiva
do óbvio
a parede amarela
o azul gelado
o fio preto na parede
em vez de um horizonte
esse é o momento
em que os cinco sentidos se rebelam
fugiriam felizes
como ratos de um naufrágio
3
Não aprendi isso hoje
110
já sabia faz tempo
111
Paul Celan (Romênia 1920 – 1970)
Um dos maiores poetas do pós-guerra, Paul Celan teve toda a sua vida e obra
marcadas pelo tição do horror nazista. Romeno de língua alemã e ascendência
judia, durante a guerra, com a aliança entre Romênia e Alemanha, seus pais foram
enviados a um campo de concentração, onde morreram. Também enviado a um
campo, Celan conseguiu fugir em 1944, com o avanço das tropas russas. Data deste
ano a circulação de primeira versão do poema Todesfuge (Fuga da Morte). O poeta
suicidou-se em 1970.
Fuga da Morte
112
eu cabelo de ouro Margarete
teu cabelo de cinzas Sulamita
113
Jaroslav Seifert (Thecoslováquia 1901 – 1986)
O poeta, escritor e jornalista Jaroslav Seifert foi um dos mais destacados autores
tchecos do Séc. XX, tendo recebido o Prêmio Nobel em 1984. Em 1938 prenunciou
a guerra que estava por vir em seu livro Zhasnete Svetla (Apaguem as Luzes).
Seguiu publicando durante o conflito, e em 1945 escreve
Prilba Hlíny (O Capacete de Barro), obra que buscava inspirar os tchecos à
sublevação contra os nazistas que se retiravam, e que lhe deu grande fama,
alçando-o ao título de Poeta Nacional. O poema aqui publicado faz referência ao
chamado Massacre de Lídice, quando toda uma vila tcheca foi exterminada, como
vingança pelo assassinato do sanguinário Reinhard Heydrich, segundo em
comando das SS, e que fora morto por membros da resistência checa. Os homens
da vila foram fuzilados e mulheres e crianças enviadas para campos de
concentração, e a cidade foi dinamitada e depois aplanada com tratores, para
cumprir o desígnio de Hitler de “varrê-la do mapa”.
Os mortos de Lídice
114
As rosas, as melancólicas rosas,
Mesmo elas foram pisoteadas
115
Margarita Aliguer (URSS 1915 – 1992)
Poeta, tradutora, bibliotecária e jornalista, Margarita Aliguer escreveu em diversos
jornais durante a Segunda Guerra. Vencedora do Prêmio Stálin em 1943.
De Primavera em Leningrado
1942
116
Marina Tzvietáieva (URSS 1892 – 1941)
A poeta e tradutora Marina Tzvietáieva teve sua vida e poesia marcadas pelo
trágico. Em 1922 exilou-se com a família em Praga, fugindo da Revolução Russa.
Em 1939 tomam a decisão que custaria a vida de quase toda a família: o retorno à
URSS. Aprisionado junto com a filha Ariadna ainda em 1939, em 1941 seu marido
é fuzilado. Marina, mal vista pelo Regime, não consegue emprego nem moradia.
Sua outra filha, Irina, é enviada para um orfanato, onde morre de fome. Com o
início da Guerra, Marina foi evacuada para a cidade de Ielabya, aonde veio a
suicidar-se.
Tomaram...
"Os tchecos se acercavam dos alemães e cuspiam." (Cf. jornais de março de 1939)
N.T.: 9 de maio de 1939 ( um dos muitos poemas feitos por Marina Tzvietáieva em
protesto contra a invasão da Tchecoslováquia pelos nazistas)
117
Mikhaíl Dúdine (URSS 1916 - )
Dúdine foi um dos importantes poetas de Leningrado, cujo cerco ele suportou
durante a Guerra.
Rouxinóis
118
O mundo abriu-se. Inchou de orvalho.
Como se ainda mal compreendesse,
aqui ao nosso lado ergueu-se outra
de certo modo nova combinação de qualidade.
119
Absurda morte. Torpe. Tanto mais
que, os braços agitando,
disse: “Rapazes, escrevam à Pólia,
que hoje aqui cantam rouxinóis.”
120
Olga Fiódorovna Bierggólts (URSS 1910 – 1975)
Vítima do Grande Terror de Stálin, Olga Bierggólts chegou a ser presa e torturada
em 1938, (pouco depois que o Terror executara seu ex-esposo). Poeta e jornalista,
ela permaneceu durante a Segunda Guerra na sitiada Leningrado (ao contrário de
outros artistas e intelectuais, que eram sistematicamente evacuados para áreas
seguras do país). Atuando como radialista, Olga encorajava a população com seus
poemas e discursos, vindo a tornar-se um símbolo da resistência conhecida em
toda a URSS. Deixou diversos livros sobre o período da Guerra, sendo após a morte
de Stálin reconhecida pelo regime com prêmios e medalhas.
A Guerra em Leningrado
(fragmento)
121
que vivi toda minha vida para chegar estes dias
de impiedosa expansão.
E não escondo o meu orgulho
em ter, como mero soldado, entrado em teu destino,
minha cidade,
e no rol de teus poetas.
Não foste tu,
neste inverno biblicamente terrível,
que me levaste até a trincheira onde meus irmãos combatem,
petrificados, sem pranto,
e lá deste-me a ordem de prantear teus filhos?
e onde não pudeste erguer monumentos
nem contar ou celebrar os mortos,
lá onde se estendia a neve, esbraseada pelo clarão do incêndio,
onde a escavadeira mal conseguia abrir as trincheiras,
onde a dinamite em vão tentava ajudar-nos
a abrir a terra, a alojar os túmulos,
foi lá que obedeci à tua altiva ordem...
E carregando o feixe de minha dura escolha,
do fundo de mim mesma arranquei o poema
sem poupar sua trama de ser vivo.
A ordem de meu destino delineia-se claramente:
com meus versos, eis-me muitos anos à frente,
pregada à tua visão, conquistada, congelada
neste gelo inimitável.
... Quanto a ti, de quem devo, sem cessar,
ter piedade, por que devo entristece-me,
lamentar-te?
Eu quero é celebrar-te com glória anônima
e muda –
a mais alta glória que existe nesta terra – ;
para sempre eis-te confundido
com tudo aquilo que era maior do que a nossa própria vida,
o sonho,
a alma,
a pátria,
a existência
e, para mim, cada lugar tornou-se o local do teu túmulo,
e em toda parte esta a tua ressurreição.
É o que afirma a voz sonora de Moscou
quando, abalando em todas as cúpulas da noite,
ela canta com a mesma força os vivos e os mortos
e, para a Morte, prevê
a pena de morte.
122
Conversa com uma vizinha
123
De firme aço feita, imperecível,
Ela terá tuas formas familiares.
124
Pável Antokólski (URSS 1896 – 1978)
O poeta e tradutor Pável Grigórievitch Antokólski foi ator e produtor de teatro
durante a Primeira Guerra, trabalho que o levou a excursionar pela frente de
batalha, e posteriormente por diversos países. O poema aqui publicado data de
1943, e foi escrito em memória de seu primeiro filho, morto na Segunda Guerra.
Com este texto o poeta foi agraciado com o Prêmio Stálin de 1946.
Filho (fragmento)
125
A vida ia embora. I-a em-bo-ra. Como
se tivesse estado por pouco tempo de visita
e se desse conta de que a vela se apagara,
que a casa estava vazia, as janelas, sem vidros,
que a esperava um longo caminho de volta, à noite,
sozinha, passando por choças carbonizadas e chaminés apagadas.
Serenamente, a vida abandonou, deixou em paz,
na relva do barranco, o cadáver com os braços em cruz.
Não minta, imaginação!
Por que te expandes
e te confundes?
Não estás morta.
Olha, com os olhos bem abertos, até te converteres
na própria agonia de meu filho.
Lembra
com que desespero, quando ele gritou
surdamente, agarrando-se à relva,
logo brotou, em seu cérebro nublado,
o farrapo de esperança:
“Ainda estou vivo!”
Como se arrastou, devagar, pesado, débil,
deixando na relva um rastro vermelho.
Como ficaram a sós, com o moribundo,
a sua vida, os seus dezoito anos.
126
Lembrou, lembrou, lembrou
tudo o que desde o princípio esquecera.
Compreendeu como haveria de ser difícil para mim.
Sentiu pena de mim e me esqueceu.
127
Siemión Gudzenko (URSS 1922 – 1953)
Nascido em Kiev, Gudzenko fez parte da boa geração de poetas russos da Segunda
Guerra Mundial. Serviu como voluntário na Infantaria. Em 1942, durante a
chamada Batalha de Moscou, foi ferido e sofreu uma concussão. Acabou morrendo
anos depois em virtude desses ferimentos, fato que havia ‘previsto’ em um de seus
poemas.
Antes do ataque
128
A minha geração
129
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132
Sobre o organizador
Sammis Reachers nasceu em 09/05/1978 em Niterói – RJ. É poeta, antologista,
editor e blogueiro. Tem se destacado como promotor e divulgador da poesia
cristã/evangélica, através das antologias que organiza e dos blogs como o Poesia
Evangélica, onde já publicou mais de trezentos autores.
POESIA
Uma Abertura na Noite (2006)
A Blindagem Azul (2007)
CONTÉM: ARMAS PESADAS (2012)
Poemas da Guerra de Inverno (2012)
Deus Amanhecer (Impresso: Editora VirtualBooks, 2013)
Poemas da Guerra de Inverno - Edição revista e ampliada (Impresso: Clube
de Autores, 2014)
PULSÁTIL – Poemas canhestros & prosas ambidestras (2014)
CONTOS
O Pequeno Livro dos Mortos (no prelo)
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