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O serialVersionUID é uma dúvida constante entre muitos desenvolvedores.

Afinal,
quando e para que exatamente usá-lo? Devo gerar um número aleatório bem grande, ou um
número qualquer? Essas perguntas são comuns, e ao desenvolvedor experiente é necessário
conhecer a fundo esse detalhe do processo de serialização do Java.
Quando um objeto é serializado no Java, essa sequência de bytes, além de conter seus
atributos de instância não transientes, carrega consigo um número que indentifica a “versão”
da classe que foi usada durante o processo. Esse é o chamado serialVersionUID, ou
seja, o indentificador de versão de serialização de uma classe. Esse número é utilizado para
saber se o objeto que estamos recuperando é de uma versão “compatível” com a versão da
classe que foi utilizada quando serializamos o objeto: em outras palavras, os
arquivos .class não precisam ser necessariamente os mesmos para que o processo de
serialização ocorra com sucesso.
Por exemplo, considere a seguinte classe Usuario:
package br.com.caelum;
public class Usuario implements Serializable {
private String login;
}
Essa classe possui o serialVersionUID igual a 2806421523585360625L. Esse número
não é aleatório! Ele é um hash (SHA) calculado em cima dos nomes dos seus atributos, e
assinaturas dos métodos em uma ordem bem definida pela especificação do processo de
serialização. E como eu sei esse número? O JDK vem com a ferramenta serialver, que
implementa esse mesmo hash:
serialver br.com.caelum.Usuario
Se o serialVersionUID utilizado durante a serialização não bater exatamente com
oserialVersionUID da classe que está sendo usada para recuperar essa informação, uma
exception é lançada: java.io.InvalidClassException.
Por exemplo, se adicionarmos um novo atributo na nossa classe Usuario:
public class Usuario implements Serializable {
private String login;
private String senha;
}
Agora teremos o serialVersionUID valendo 416295346730660862L. Caso você serialize
umUsuario com a primeira classe aqui definida, e tentar recuperar essa informação usando
essa nova versão de classe, receberemos a conhecida java.io.InvalidClassException.
Esse é o comportamente que em muitos casos queremos, mas algumas vezes fazemos
pequenas modificações na classe as quais percebemos que não impactarão no processo de
serialização, e precisamos manter compatibilidade com a versão antiga daquela classe. Para
isso, basta definirmos explicitamente qual é o nosso serialVersionUID, e no caso de
querer manter compatibilidade com a classe Usuario anterior, vamos utilizar o valor
de serialVersionUID que seria gerado pela JVM: 2806421523585360625L. O código
ficaria:
public class Usuario implements Serializable {
private static final long serialVersionUID = 2806421523585360625L;
private String login;
private String senha;
}
Às vezes recebemos um warning do Eclipse, e ele pede para que seja definido
oserialVersionUID da classe em questão. Isso ocorre porque você
implementa Serializableou uma de suas mães a implementa. O Eclipse então te abre
três opções: utilizar o@SurpressWarnings para você assumir o risco, usar um valor
default, ou usar o valor gerado. O gerador de UIDs do Eclipse é exatamente o mesmo
gerador utilizado pelo Java SE para criar os UIDs padrão! Reforçando, esse número não é
um número aleatório!
Quando alguém esquece de manter o mesmo serialVersionUID para duas versões
compatíveis de uma classe, podemos ter problemas em usar diferentes versões do software
que são teoricamente compatíveis. Isso muitas vezes acontece em servidores de aplicação, e
se seu cliente esta desatualizado em relação a versão dos jars necessários pelo servidor,
podemos ter alguns InvalidClassExceptions que poderiam ser facilmente evitados se
o serialVersionUID tivesse sido corretamente aplicado. Claro que algumas outras vezes
as versões realmente não são compatíveis e a exception procede.
Esse grave problema pode acontecer mesmo usando classes do Java SE entre diferentes
versões, como é o caso da
classe java.text.AttributedCharacterIterator.Attribute(utilizada
pela java.awt.Font). Do Java 1.3 para o Java 1.4 essa classe foi levemente alterada, e
o serialVersionUID gerado pelo algoritmo da JVM desta classe mudou de -
1514471214376796190L para -9142742483513960612L. Quando alguém serializava
umajava.awt.Font em uma versão não podia desserializa-la em outra, sendo que as
versões tecnicamente são compatíveis: a não definição explícita
do serialVersionUID gerou um bug no Java SE. Como isto foi resolvido? Definiram
o serialVersionUID como -1514471214376796190L, que é o valor que seria gerado
pela JVM na versão anterior da classe.
Como então devemos proceder para escolher um serialVersionUID apropriado? É muito
simples: se essa classe está nascendo neste momento, você pode se dar ao luxo de utilizar
um serialVersionUID, como por exemplo:
public class Usuario implements Serializable {
private static final serialVersionUID = 1L;
private String login;
}
Porém se você está definindo o serialVersionUID de uma classe já em produção, e sabe
que a mudança que está fazendo é compatível com a versão anterior, você deve utilizar
oserialVersionUID que seria gerado pela JVM na primeira versão, como foi o caso aqui
quando adicionamos o atributo senha na classe Usuario, e também foi o caso da correção
do bug da classe java.text.AttributedCharacterIterator.Attribute. Quando
você fizer uma alteração onde percebe que o cliente precisará de atualização das classes
envolvidas, basta definir umserialVersionUID diferente dos anteriormente utilizados.
Para completar, implementar uma interface que não define métodos (Serializable) e ser
forçado a escrever um atributo sem um contrato mais burocrático é um tanto estranho em
uma linguagem como o Java. Sem dúvida, se esse mecanismo todo tivesse sido inventado já
com a existência de anotações, Serializable seria uma anotação e version um atributo
dela, talvez obrigatório, criando algo como @Serializable(version=12345L). Boas
serializações e invocações remotas!

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