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MES na industria len- nindo as fungdes iatividade nao cabe e onde Ee eet ga dle file como GUIA DO ESTUDANTE OGUIA traz 168 profiss6es detalhadas em todas as Grecs, © com catteza voos val sacar aquele que fem a sua cor, 0580 io, Pro escolher 6 feculdade voce vai prindipolmente fot art ona iE osteo Rs conrlctede 765 sds todo 0 Bros Inédit A eauipe do GUIA DO ESTUDANTE pesauisoue 4.025 cursos superiores com estrelas em Root mae ce eee” ‘excelentes, E ainda rola muite mais: 6 GUIA tom dicas sobre plesios boas de sudo, mercado de jrebuho, vestbular © depoimentos: aa jis em cada Grea. Matou! GUIADO ESTUDANTE. Ter é fundamental, ndo ter é morcacéo. A MAIOR FORCA PRA VOCE ESCOLHER A SUA PROFISSAO. jacana wesn sem enema NAS BANCAS.. (jq| Editora Abril CARTA AO LEITOR consternada a0 Ouvir Numa tarde qualquer de junho de 1860, dizer que pelas novas teorias postas a circular por Charles Darwin o homem era um simples descendente do macaco, a mulher do bispo anglicano de Worcester, Inglaterra, exclamou: “Barbaridade! Esperemos que, nio seja verdade mas, se for rezemos para que isso nao se torne amplamente conhecido” Nés, da Editora Abril, nao partilhamos dessa opiniao Por acreditarmos tanto no valor da descoberta e da acumulagao do. conhecimento cientifico ¢ teenolégico quanto na importancia de sua divulgacdo ao maior ntimero de pessoas, estamos apresentando ao pablico brasileiro uma nova revista mensal. E um novo desatio editorial que enfrentamos certos de que, com ele, damos mais uma contribuigdo a divulgagao do conhecimento € também uma resposta otimista aos pessimistas que falam em crise e recessio. Nao por acaso ¢la se chan SUPERINTERESSANTE, pois oferecerd aos leitores uma visio ampla do que se fez. do que se faz e — por que nao? — do que se fara em termos de pesquisa ¢ realizacao cientifica ¢ uta de assuntos nao tera limites, cobrindo, por exemplo, da Fisica 4 Pré-Historia, da Astronomia & cologia, da Informética A Psicologia ou a Religiao De forma clara, direta, acessivel ao mais leigo dos leitores. SUPERINTERESSANTE mostraré 0 conhecimento cientifico nao como um tesouro a que $6 alguns privilegiados tém acesso, por sua cultura, mas como algo que passa pelo cotidiano de todos nés, influenciando ¢ moditicando até mesmo os momentos mais simples de nossa vida, E sem descuidar da preciso, o que significa dizer que em suas paginas nao havera lugar para as mcias-verdades, o saber por ouvir dizer, a hipdtese sem evidéncia que a legitime. Sao elas que fazem florescer aquelas opinides preconceituosas de que nao partilhamos. Estamos certos de que se fosse nossa contemporanea ¢ leitora de SUPERINTERESSANTE, aquela assustada matrona da Inglaterra vitoriana, mulher do bispo de Worcester, saberia que nds ndo descendemos do macaco, embora tenhamos com ele um ancestral comum. E poderia quem sabe, dormir mais tranqiiila. tecnoldgica. Sua p Victor Civita LINGUAGEM A procura do idioma universal O mundo moderno exige que as pessoas falem uma mesma linguagem. Qual poderd ser ela? TECNOLOGIA Fio maravilha ndutores promete 35es na vida do homem ESPACO Viagem imaginaria a velocidade da luz Quando existir uma nave capaz de viajar rumo a outras galaxias, se passageiros poderaa ver fantasticos fendmenos cobrir uma toda nova de tempo 28 NATUREZA Oalarme soa quando somem as borboletas Se clas desaparc algo de grave es aeontecendo na mata FOTOGRAFIA Quando uma gota cai na agua As eis da Fisica num evento banal MEDICINA Salve 0 coracao. O mésculo cardiaco tem uma hist6ri a forca de uma bomba eo ritmo de de milénios, metralhadora 6 SUPER 20 34 42 46 HISTORIA A guerra sem fim O cavalo de Tréia pode ter sido um barco. Ou talvez nem tenha havido a guerra de Trdia 52 RELIGIAO Pode a ciéneia crer em Deu: O conhecimento cientifico pos a fé em xeque, mas nao tem respostas pare questdes fundamentais 60 BIOLOGIA Ooitavo dia da c: A-engenharia genética devassa os segredos da vida ecria seres inexistentes na natureza 66 PERFIL Leonardo de todos instrumentos Desprezado pelos intelectuais de seu tempo, Leonardo da Vinci deixou uma heranga secreta de extraordinarios inventos que hoje assombram o mundo 74 2 lle EEE i ‘Superdivertido‘solucoes Capa sto Win Roig Aes beak: Wee OAS Seyyocé parde algum nimero de Superineressanto, eta 6 chance de completar sua colegao. Principalmente, porque © primeiros nimeros jé estdio se tornando verdadeiras rari- dades. Os n= 1 e 4, por exemplo, esido totalmente esgola- dos. Por isso, aproveite enquanto ainda hé tempo, Envie hoje mesmo © cupom anexo © complete sua colacéo de ‘Superinteressante. No futuro, muitos leitores superinteressa- iAosice fmonericeanvetaidé voce! Recorte (ou copie em papel & parte) e envie pare: Revista Superinteressante Editora AbrilNumeros atrasados Estrada Velha de Osasco, 132 - Jardim Tereza - Osasco SP - CEP 06040 SS Desejo receber o(s) numero(s) de Superinteressante cs sinalado(s) com um X, pelo preso da shiima edicéo en Benaa, mats despesas postais. Pagareinc correlosomen te quando recebé-ll3). ONS2 ON83 ONSS ONS ONSET ONS8 ONS9 ONTO CN°1T CF NO19 Nome: Enderego: Cidade: Estado:, Aceito receber meu pedido parcialmente, caso o mes mo néo possa ser alendido por completo sco 0 Sim | Néo Cop: Pelo cheiro se conhece o perigo A sobrevivencia de uma espécie muitas vezes depende da capacidade de comunicacio de seus membros. Os. sons emitides por um animal acossado podem fazer a diferenca entre a vida e a morte para seus iguais, ao alcance de um inimigo mais poderoso. Mas a ‘comunieagéo pode ser silenciosa © nem por isso menos eficiente. Certas espécies de ratos, por exemplo, tm uma linguagem peculiar, propria para situagdes de perigo — 0 cheiro. Numa série de experiéncias, psieslogos nor- fe-americanos verificaram que ratos submetidos ao estresse por meio de choques elétricos produzem um cheiro especifico, que funciona como um ver- dadeiro sinal de alarme. Pois, a0 sen- tirem 0 odor, outros ratos entram imediatamente em estado de alerta: tornam-se mais ativos e menos sensi- vyeis a dor. Oodor do rato estressado deixa os companhelros em estado de alerta Essa perda de sensibilidade foi tes- tada com a aplicagao de injegies de formalina, substincia que provo: ritages locais leves, Em. condicdes normais, os ratos ficam lambendo a rea afetada sem parar; mas, expostos a0 cheiro do perigo, lambem menos 0 lugar irritado. Isso se explica, como se descobriu, porque 0 mesmo cheiro es: timula 0 cérebro a produzir mais en- dorfina, um analgésico natural dos or- ganismos. Aparentemente, menos sensibilidade deveria significar chan- ces menores de sobrevivéncia. Mas, no mundo dos ratos, 0 perigo geral- mente envolve uma dor, que precisa ser ignorada. Atacado por ium gato, 0 rato deve saber safar-se e sair corren- do: néo Ihe sobra tempo para lamber feridas. . O mistério dos robés assassinos Destle 1978 dez operérios morreram em acidentes com robds_industriais, no Japao. De tio estranhos, alguns desses acidentes parecem propositais. Um rob6, por exemplo, esmagou o téenico que o examinava, Outro dew um golpe mortal de karaté no operd- rio que trabalhava ao lado. Para o professor Keizo Okabe, da Universi- dade de Téquio, nao ha nada de mis- terioso nesses acidentes. Eles teriam sido causados por interferéncias de ‘ondas eletromagnéticas nos cérebros computadorizados dos robs, Apis um ano de investigagdes, a equipe do professor Okabe contabilizou mais de ‘cem problemas graves provocados por esse tipo de interferéncia. Mas, no ca: 0 dos robos, a culpa das ondas eletro- magnéticas 36 foi provada em uma ‘ocorréncia ‘As ondas eletromagnéticas sao uma presenga comum na atmosfera. Podem ser geradas por emissOes de radio e televisdo, computadores pes- soais, alarmes eletronicos etc, As vezes, 08 campos magnéticos forma- 8 SUPER dos por duas ou mais ondas diferen- tes chegam a se misturar: € a cha- mada neblina eletrdnica, respons4- vel, por exemplo, pela interferéncia nas imagens das telas de TV. Mas ha registro de epissdios bem mais sérios, como interferéncias, em rada- res de aeroportos ou em marca-pas- Sos gue, repentinamente, deixam de fancionar. Mesmo assim, hé quem duvide da conexio eletromagnética nos aciden- tes fatais com robés no Japao. O superintendente do Centro Regional de Tecnologia em Informatica de Santa Catarina, Carlos Alberto ‘Schneider, responsavel pelo primeiro laboratério para testes de robs no Brasil, Jembra que “os equipamen- tos eletrOnicos de um rob. sempre ficam dentro de caixas blindadas, 0 que impede qualquer interferéncia”. Para ele, mesmo se houvesse defeito na blindagem, como suspcita 0 pro- fessor Okabe, nao caberia responsa- bilizar as ondas _cletromagnéticas “A interferéncia pode prejudicar preciso do robé, mas nao o levaria a fazer_movimentos para os. qu: no estivesse programado”. Se assim 6, permanece a questéo: 0 que fez 98 Tobds japoneses agirem como agi- ram? 1 Em poucos | dias produzirao uma celulose na | forma de gel. Coloque-se 0 ma- | terial para seear e ponha-se sob uma prensa. Misture-se 0 papel resultante com cera de abelha —e pronto: cis a matéria-prima. ideal para os diafragmas de alto- | equipamentos eletrénicos, en- rou com o pedido de patente dese material que, segundo seus téenicos, produz um som ‘muito melhor. . Pe te Causa da ulcera pode ser bactéria Vida agitada, comida’ apimentada ¢ bebida fermentada — os suspeitos de praxe nos casos de tleera — po- dem nao ser t30 culpados ou podem no ser os tinicos culpados. Investi- gagdes recentes tendem a levar ao banco dos res uma bactéria — a Campylobacter pylorum — que nio se incomoda de viver em meio a to- da a acidez do estémago e do duo- deno. A tileera é uma inflamacio que surge quando hi um desequil brio entre a secrecdo de dcidos na digestio e a produgéo de substancias. que protegem as paredes do apare- tho digestivo, como a prostaglandina A culpa por esse desequilibrio tem sido tradicionalmente atribuida a uma combinacao de fatores como he- reditariedade, tensio nervosa e in- gestio de substancias (alimentos, be~ Bidas ou remédios) que agridem 0 aparelho digestivo Nos tltimos tempos, porém, os pesquisadores notaram = que a Campylobacter aparece com mais fre- qiéncia no organismo de pessoas com iilcera do que em individuos sa dios. Além disso, verificow-se que baciéria, descoberta em 1983, esta presente nas préprias iileeras, em até 70% dos casos. “A questio a sa- ber”, raciocina 0 gastroenterologista Agostinho Bertarello, da Universida- de de Sto Paulo, “é se a bactéria provoca a dilcera ou a tleera favore- ee 0 ereseimento da bactéria.” Em busca da resposta, a equipe do pro- fessor Bertarello esté inoculando a Campylobacter em animais, para ver © que acontece. Enquanto isso, pa- cientes com dicera estéo sendo trata- dos também com antibiéticos — uma grande novidade. . Aciéncia salva uma paixao de 3 200 anos Nada menos que 950 metros qua- drados de murais registram a paixdo de Ramsés II pela princesa Nefertari — a primeira de suas seis esposas © a tnica a merecer um timulo monu- mental desse celebrado farad egi cio, que foi coroado com menos de 10 anos, reinou 67, de 1304 a.C. a, 1237 a.C. e teve mais de cem filhos. A obra, construfda ha 3200 anos, ficou escondida entre as rochas da regio de Luxor até 1904, quando for descoberta por arquedlogos ita- lianos. Seus murais, —considerados um dos maiores exemplos de_arte do Antigo Egito, mostram Nefertari muitas vezes a0 Iado da deusa do amor, como uma bela jovem cober- ta de jéias. Na época da descoberta as pinturas estavam impregnadas de misteriosos graos de sal, que dani caram as imagens. Por isso, em 1950, 0 monumento foi fechado pa- ta visitantes. Finalmente, em 1986, equipes de restauradores de diversos paises comegaram a pesquisar 0 lo- Gal, Até 0 fim do ano, os trabalhos de restauracao serao iniciados. Trata-se de um empreendimento faradnico: executado com #s melho- res técnicas do século XX, milhares de tiras de papel de arroz foram gastas para segurar as dreas onde as paredes coloridas ameagam descas- car; para reconstituir as partes dani- ficadas, correspondentes a 20% da frea dos murais, os cientistas estio usando ondas de ultra-som, que de- vem revelar os desenhos’ que ali existiam originalmente, Om portante, porém, sera descobrir, com © auxilio de raios laser, todos os canais de gua que se formam na regio, nas raras chuvas pesadas que caem ali; se a umidade de um des- ses canais for a justificativa para 0 aparecimento de sais no timulo de Nofertari, seré possivel evitar que 0 problema se repita. Dessa maneira, ‘os murais poderao. finalmente ficar expostos, sem risco de novos danos.m tWmulo (a0 lado) & a imagem de Bi para proteger ‘SUPER 9 ‘No centenério da Torre Eiffel, um ane! feito de cem balées (a0 alto) ficard em érbita como uma grande tua cheia A Torre Eiffel do espaco Haja grandeur. Com um magnifico, inusitado — e polémico — espeticulo de luzes no eéu, os franceses preten- dem comemorar em 1989 03 cem anos de existéncia da Torre Eiffel, cravada no coracio de Paris. Apesar dos pro- testos de astronomos de todo 0 mun- do, a empresa que explora 0 monu- mento erguido para celebrar 0 cente- nario da Revolugéo de 1789 quer lan- ar no espago, a cerca de 804 quil6m itos da Terra, um ofuscante holofote Trata-se de um anel de 24 quilémetros de cireunferéncia, composto de cem ba- Wes inflaveis destinados a refletit a iuz solar. Ser4 algo semelhante a uma gran- de lua cheia, que ao girar em torno da terra podera ser visto no mundo inteiro, todas as noites. O anel permanecerd no espago de trés meses a dois anos. ‘Compreende-se © mau humor dos astrénomos: durante esse periodo, suas pesquisas © observagoes ficarao nte paralisadas. Além disso, © anel em nada contribuira para avango da ciéncia. Os cientistas te- mem, também, que se abra um peri- goso precendente — qualquer organi- zacio poders colocar em drbita 0 que bem entender, menos armas nuclea- res, se tiver como pagar a conta da ‘operacao. Ha quem enxergue outros riscos ainda. Para o astrénomo Exigénio Sea- lise Kinior, do Instituto de Pesquisas 10 SUPER Espaciais (INPE), por exemplo, “pes soas desinformadas, como um indio no Amazonas, poderao achar que 0 mundo esté acabando”, A empresa francesa argumenta que o anel simbo: lizard a passagem do século XX para o século XXI, da mesma forma que a O Everest nao é mais aquele Por irtisérios onze metros, 0 magnifico monte Everest, cuja con- quista em 1953 por uma expedic inglesa tendeu manchetes no mun- do inteiro, foi destronado da condi- ‘20 de pico mais alto da Terra. Re- centemente, cientistas da Universi dade de Washington, nos Estados Unidos, trabalhando com base em fotos de satélites, refizeram contas | que pareciam verdades tao eternas | como as neves que cobrem a cordi- | theira do Himalaia, onde fica o Everest, na fronteira do Nepal com | a China. A conclusio dos cientistas que © ponto culminante do plane- ta é 0 monte K2, da cadeia do Ca- racoram, que separa a China do Paquistio. O K2 passou a ter ofi- | cialmente $859 metros (¢ nio | 8611 como se supunha), ou seja, Torre Eiffel — duramente criticada na época de sua construcio pelos intelec- tuais — marcou a chegada do século XX. A esperanga dos astronomos & que a empresa nao consiga arrecadar 95 trezentos milhées de francos, ou 2,3 bilhoes de cruzados, a precos de agosto, necessarios a construcao e lan: amento do anel . O Everest @ esquerda) ficou ‘onze metros abalxo do K2 ‘onzea mais do que os 8 848 metros do Everest. A hegemonia do K2 porém, deve esperar uma confir: magio definitive — quando as mes- mas téenicas de medicao que 0 ele- varam 20 primeito lugar forem uti- lizadas para recalcular a altura do Everest. $6 ento se saber real- mente quem & quem entre os maio- res deste mundo. ‘Cal 0 miolo do ediicio da CESP Porque este prédio esta desabando No incéndio que consumiu os dois prédios das Centrais Elétricas de S40 Paulo (CESP), bem no coragio de Sao Paulo, em maio ultimo, a parte central de’ um deles desabou. Nao existe uma explicacio definitiva para © desabamento — apenas hipdteses. Durante um incéndio, quando uma estrutura de concreto armado. — composta de gua, cimento, arcia. pedra e mais as barras de armadura de ago — fica exposta a temperatu- ras superiores a 600 graus, 0 mate- rial concreto simplesmente desidrata, Em conseqiiéncia, suas moléculas se contraem, enquanto os cristais que formam 0s agregados se expandem. resultado € a desagregacio do ma: terial. Por sua vez, as barras de ar- madura de ago, sob temperaturas elevadas, perdem suas principais ca- racteristicas-mecanicas, ajudando a enfraquecer o conereto Mas nem sempre 0 desabamento pode ser explicado apenas pelo calor das chamas. O engenheiro Eduardo Horta, do Instituto de Pesquisas Tec- também a estrutura do edificio. problema ocorreu devido 4 ruptura de alguns dos dezesseis pilares que sustentavam a construcio. Eles fo- ram submetidos a enormes esforcos or terem que conter a expansdo dos Uma fonte radiativa de vapor de gua particularmente intensa e br , que indica uma regiao de for- ago de estrelas, foi captada recen- temente pelo radiotelescépio do Ob- de Itapetinga, em Atibaia, [= Sao Paulo. A fonte tem a caracteri He tica de emitir radiagio por efeito ‘maser, num proceso semelhante a0 laser. Mas em lugar dos feixes de luz deste, 0 maser emite radiacao ampli- ficada na faixa dé microondas. Os dados obtidos até agora pelos pes quisadores do Instituto de Pesquisas Espaciais ¢ do Instituto Astronémico © Geofisico revelam que essa fonte est provavelmente situada na rea da comstelagio de Escudo, a cerca de cinco mil anos-luz da Terra, ou seja, a 47 quatrithes de quilometros. A estrela mais vizinha do sistema solar € a Proxima Centauri, que fica a 4,3 anos-luz. O Sol dista cerca de oito nolégicas (IPT), de Séo Paulo, lem- bra que € preciso levar em conta No caso da CESP, a hipstese € de que 0 L A = L -=captada pela antena parabdlica do rediotelescdpio do NPE elementos horizontais da estrutura — painéis de laje, vigas etc — causada elas altissimas temperaturas. Com essa sobrecarga toda, os pilares se romperam por cisalhamento, ou seja. por corte. Segungo o engenheiro Horta, ““é comum ‘ocorrer esse tipo de ruptura em pilares de prédios in- cendiados”, . iros acham fonte no espaco minutos-luz da Terra. Diversas nebu- losas da nossa galfxia, a Via Léctea, emitem radiacao, 0 que indica a pre- senga de moléculas de vapor de gua. Tais moléculas provam, segu- ramente, que ali estéo se formando estrelas, Na nebulosa de Orion, dis- tante cerca de 1500 anos-luz, por exemplo, dezenas de estrelas estao ‘em proceso de formacao. . Z 7 \ / SUPER 11 Reproducao Existem espécies que se ropro- duzem sem a participacso dos machos? ‘A maioria das espécies de lagartos se reproduz assim. No sudoeste dos Estados Unidos e no norte do Méx co, por exemplo, vive uma esp de’ lagarto (Cnemidiphorus unipa- ens), formada somente por fémeas que se reproduzem por partenogéne- se — ou seja, sem a participagao de machos. Nesse tipo de reproducao, cada fémea € um clone: as filhas sG0 geneticamente idénticas & mic. A partenogénese pode nao ser mui- to romantica, mas tem Ié suas van- tagens — uma delas € dar A espécie um potencial maior de crescimento demografico. E l6gico: afinal, todos 0s lagartos, e nfo apenas cerca de metade, sdo capazes de colocar ovos. Mas 0 que chama a atengio na reprodugio dos Cnemidophorus uni- Parens, especificamente, ¢ a simula- Fevereiro Por que © més de fevereiro tom apenas 28 dias? No ano de 46 a.C. o imperador romano Jilio César promoveu uma reforma no calendario: um dia foi ‘Omperador romano Jillo César promovew a reforme do calendério 12. SUPER go do ato sexual: um lagarto se comporta como a fémea que de fato & outro age como se fosse macho — monta sobre a parceira, enros- cando-a com o rabo. A cada duas semanas, aproximadamente, os pa- péis se invertem: 0 aumento acen- tuado da quantidade de progestero- na — 0 horménio que regula o crescimento dos ovsirios — no orga- nismo da fémea que acabou de por vos indica-lhe que chegou a sua vez de representar 0 macho. Passa- das mais duas semanas, seus ovérios estao crescidos © comesam a secre- tar outro horménio, 0 estrégeno: é © sinal de que deve reassumir 0 ver- dadeiro papel de fémea Qual a finalidade desse teatro to- do para a reprodugéo? Segundo 0 professor David Crews, da Universi- dade do Texas, nos Estados Unidos, as fémeas Cnemidophorus uniparens ovulam com mais facilidade, quando ha outras fémeas por perto, imitan- do machos: . acrescentado a cada quatro anos — dai. ano bissexto — © os meses passaram a ter, _alternadamente, trinta ou 31 dias. Nos anos bissex: tos, 0 més de fevereiro, que_tinha 29 dias, ficava com trinta, Em 44 aC., no segundo ano de vigéncia dese Calendirio Juliano, 0 Senado decidiu homenagear 0 imperador e propos que 0 més Quintilis — que tinha 31 dias — passasse a se cha- mat Julius (julho). Trinta e seis anos depois, em 8 a.C., 0 nome do itavo més, Sextilis, foi mudado pa- ra Augustus (agosto) em honra a0 entio imperador César Augusto. Mas, como o més escolhido para homenagear Augusto tinha trinta dias, um a menos que 0 de Julio César, optou-se por tirar um dia de fevereiro — que ficou com 28 dias € adicioné-lo a Sextilis. Para manter 0 critério de alternancia do Calendério Juliano — um més com trinta, outro com 31 dias —, ja que I2 agosto ficou com 31 dias, setembro passou para trinta © assim sucessiv mente. ‘Aproximidade do equador faciita ‘colocar 0 satélite em érbita Quanto mais préximas estiverem do equador as bases de lancamento de satélites, mais facilmente eles al- cangardo a rbita geoestaciondria em que permanecerao no espaco, 36 mil quilémetros acima do equador. Em Orbita geoestacionaria, 0 satelite da a impressdo de estar parado no céu. Na verdade, cle esta girando na mesma velocidade da Terra. Os satélites sto langados perto do equador — como € 0 caso da base de Kurou, na Guiana Francesa — aproveitam a propria rotacio terres- te, 0 que faz com que suas trajet rias requeiram aperias uma corregio As figurinhas carimbadas valem prémios: bolas e camisetas minima, 1 _ exclusivas da Copa Uniao 88! (ee ‘ £29 trar suns divides ecg é es a ie ee ss ) ACH U! a, f J : Album e fiaurinhas ia nas bancas! A pilula anticoncepcional Combatido a principio até com a prisdo, ocontrole da natalidade acabou se impondo como. uma das marcas registradas deste século. E um invento contribuiu decisivamente para essa fantastica revolugdo no comportamento humano 5222s Malis € cit conte: cido em relagdo as controvérsias sobre a populagao terrestre que se ini- ciaram em fins do século XVIII; nao 0 tanto, porém, o de Joseph Towsend, que, alguns anos antes, a partir dé uma viagem & Espanha, havia publica- do um livro (A Journey Through Spain in the Years 1786 and 1787) em {que reproducio humana e fome sio apresentados como termos de um dile- ma insoliivel. “Um apetite tem que regular 0 outro”, dizia. ‘A questo estava no ar, quando 0 lérigo inglés Thomas Robert Malthus (1766-1834) publicou, em 1798, seu Ensaio sobre 0 Principio da Popula- ao, em que desenvolvia a célebre te- se de que a humanidade se multiplica segundo uma progressio geomet (1,2,4,8,16...), enquanto a producio de alimentos segue uma progressa aritmética (1,2,3,4,5...); uma crise al mentar global seria inexordvel. althus, que anos depois foi no- meado professor de Economia Politica no colégio da Companhia das Indias, nao via saida para o dilema, pois a idéia de controlar os nascime: {os era repugnante para suas crengas. © matriménio tardio para os pobres ou a voluntiria abstencio do contato sexual erum seus tinicos métodos acei- taveis. Sua aversio era compartilhada por uma grande maioria e nao apenas de crentes, mas também dos que con- sideravam’ que sexualidade sem pro- Criagio era uma prostituigao da mu- Iher. Entre eles se encontravam as pri- meiras sufragistas © feministas. Ou- tros, porém, inspirados por Malthus, advogavam 6 controle da maternidade para as massas. Ficaram_conhecidos ‘com o nome de neomaltusianos. Em todo caso, até fins do século 14. SUPER Gregory Pincus, o pal da pilula: ‘horménio para impedira ovulacio XIX, a obscura € paciente promogio de alguns médicos ¢ higienistas iniciou a popularizagio de certos métodos simples de contracepao. O mais co- nhecido foi o preservative ou camisi- nha, concebido antes como um profi- Latico contra a infeegio do que como barreira contra a fecundagio. Incomo- do a principio — era feito com tecido, pele ou tripas de animais —, 0 desco- brimento do processo de vuleanizacao da borracha, em 1843, tornou-o mais sutil e barato. Em 1870, ja era indus- trializado para a venda. © método de obstruir 0 acesso a0 titero é conhecido desde a antiguidade egipcia, quando se empregavam ex- crementos de crocodilo e,, posterior mente, compressas vegetais, emplas- tros de linho etc, tio inconvenientes quanto perigosos. Friedrich Adolph Wilde, um alemao, sugeriu, em 1833, fazer um molde de cera do colo do. ‘itero, do qual se poderia obter uma espécie de preservativo de borracha que aderiria perfeitamente. A idéia desta capa cervical nao teve muito éxi- to inicialmente; porém, em 1870, ou- tro alemio, o doutor Mensiga, inven- tou o diafragma, uma lamina eléstica que, ao cobrir a maior parte da pare- de vaginal, nao precisava de ajuste prévio individual, 0 que contribuiu pa- ra sua répida popularizacao. stes e outros métodos incipientes se viam reclamados pela agitagao social e demogréfica que caracterizou as tltimas décadas do século passado, devido 3 emigracao, & industrializacao, € is colonizagdes, que se acentuam e se estendem prodigiosamente nos pri- meiros anos do século XX, agravadas. de imediato pela Primeira Guerra Mundial. indubitavel ¢ que, desde 0 come- 0 de nosso século, se vai plasmando uma preocupacao universal pelos pro- blemas do sexo ¢ da populacio. No que se refere ao controle da natalida- de, duas figuras femininas se destacam desde 0 inicio do século. Nascida em Edimburgo, Escécia, doutorada na Universidade de Muni- que, Alemanha, Marie Charlotte Car- michael Stopes’ (1880-1958) era, aos 24 anos, uma reputada especialista em paleobotinica, graduada para investi- gar f6sseis no Japao. Atraente ¢ apai- xonada, casou-se com um colega de profissio que se descobriu ser impo- tente. As ansiedades, ignordncias decepgdes daguela experiéncia — 0 matrimdnio no consumado foi anula- do depois — a levaram a investigar e Jogo eserever, embora ainda virgem e inexperiente, 0 que seria considerado tum dos grandes manuais conjugais do século XX. A primeira edigao de seu livro Married Love (Amor Conjugal) vendeu imediatamente. ‘A autora recebeu uma infinidade de cartas solicitando ajuda e conselho. ‘Aos 37 anos, voltou a contrair matri ménio com um aviador de 40 anos, Humphrey Verdon Roe, com quem publicou em 1918 seu segundo livro, Wise Parenthood (Paternidade Pru: dente), um guia pratico de contracep- gio que foi recebido com fortes criti- cas. Apesar delas, Marie e seu marido fundaram, trés anos mais tarde, a pri- meira clinica de controle da natalida- de, em Londres. Ela dedicou o resto de sua vida a divulgar e lutar por suas dias. Menos literdria_mas nao menos combativa e tenaz foi a norte-america. na Margaret. Higgins _ Sanger (1883-1966), que, em 1914, fundou a National Birth Control League dos Es- tados Unidos ©, em 1916, abria em Brooklin, Nova Torque, a primeira cli nica para 0 controle da natalidade. A clinica foi fechada e sua fundadora presa por 30 dias, Margaret nao se acovardou por isso: em 1921, fundava a American Birth Control League, sob ‘cujo patrocinio se inaugurou 0 Sanger Research Bureau, uma nova clinica em Nova Torque, que nao s6 sobreviveu como induziu o presidente da nova li- ga, James F. Cooper, a fundar uma Companhia dedicada ‘a fabricar dia- fragmas para mulheres, tornando-as independentes do fato de os homens usarem ou ndo preservativos, ma nova incursdo da policia fe- chou a clinica em 1929, 0 que no fez mais do que agugar a tenaci- dade de Margaret Sanger, que prosse- gui. com suas campanhas fune goes, Sua incansével atividade a le- you, em 1951, a visitar um renomado bidlogo da Fundacéo Worcester de iologia Experimental, para pedir-lhe que investigasse as possibilidades de lum contraceptivo oral, efetivo e segu- ro, para liberar as mulheres das conse- quéncias da maternidade desordenada ¢ irregular. Ele se chamaya Gregory Goodwin Pincus (1903-1967), ¢ tinha estudos de agricultura, completados com genética ¢ fisiologia da reprodu- Gao na Universidade de Harvard. Ha- Via conseguido induzir a primeira par- te no génese, em coelhos da India, is- to €, a reproducao sem concurso dire- to do macho. A visita de Margaret Sanger, argu- mentando com cifras e sua larga ex- periéncia, causou to profunda im. pressdo cm Gregory Pincus que este mudou radicalmente a orientagao de seus estudos bioldgicos e, dois anos depois, investigava os efeitos esterili zadores dos horménios esterdides nos mamiferos. ‘A busca de um contraceptivo oral temonta, antes de Pincus, a ensaios com um hormonio feminino chamado progesterona e os procedimentos so- bre sua obtencéo. Um dos avancos bioldgicos do século havia levado jus- tamente a um melhor entendimento do processo de fecundacéo, de seu mecanismo bioquimico. Dito mente, uma mulher gravida nao pode engravidar de novo porque o dvulo f cundado se rodeia ce horménios init dores que impedem uma nova ovula- ‘ao. Portanto, se fosse possivel produ- zir algum tipo de gravidez falsa na mulher, mediante a ingestio de hor- inibidores, por exemplo, se evitaria a fecundacao, A progesterona vinha sendo usada para desordens menstruais ¢ a preven- io de certas formas de aborto, porém sua obtencéo era muito trabalhosa © cara, Um professor de quimica do Ins- tituto Rockfeller da Pensilvania, Rus- sell E. Marker, estudando um grupo de esterdides, descobriu um processo de obtencéo da progesterona. Marker yerificou também que esses esterdides existiam em grande quantidade em al- gumas variantes dos yams, fruta de uma rvore silvestre mexicana, Ven- cendo nao poucos obstaculos financei- ros, Marker recolheu umas dez tone- ladas de yams © sintetizou dois mil gramas de progesterona, que entio custava 80 délares o grama. ‘0m 05 doutores Chang e Rock na Fundacao Worcester, Pincus des- cobriu os estrogenos e progestégenos, derivados da. progesterona que mais inibiam a ovulacao, e deles saiu a pi la anticoncepcional. Os primeiros saios, realizados em Porto Rico e Hai ti, demonstraram sua eficécia. Uma larga série de modificagdes ocorreu desde entio com sucessivos apertei- goamentos ¢ corregoes dos efeitos se- cundérios. O séeulo XX havia encon- trado sua pilula reguiadora da mater- nidade como uma de suas mais trans- cendentais invengoes. . Celso Collazo Pilula, diatragma, camisinha: acessivels hoje a miles de pessoas SUPER 15 LINGUAGEM A procura do idioma universal té 0 ano 2000, a populacdo mundial — inclusive ado Ter- ceiro Mundo —estaré viajan do tanto que a exigéncia de uma lingua comum entre os povos se- 4 uma necessidade imperiosa, O do- minio de um idioma universal para se comunicar ja nao sera privilégio a nas dos que tém maior acesso ac ra. Ainda no se decidiu qual sera es- ta linguagem. Sabe-se apenas que ela no deverd ter fronteiras, além de ser pensada para a préxima.e nao para es: ta geracio. ‘A ONU (Organizagdo das Nagoes Unidas) tem cinco idiomas oficia inglés, espanhol, russo, chinés frat céS; € seus tradutores ndo dao conta das montanhas de papéis acumuladas sobre suas mesas. Aqueles que, por causa do trabalho, sio obrigados a percorrer diversos_ paises, acabam aprendendo varios idiomas. Mas esta ‘circunstancia, em geral, implica em um conhecimento muito superficial. Defender-se nao € dominar. Por este motivo, € possivel eserever até uma enciclopédia com os erros de inter- pretacdo cometidos, inclusive na drea diplomatica Na visita que fez a Moscou em maio pasado, o ministro de Assuntos Exte- riores da Espanha, Fernando Morin, que fala inglés, cometeu uma gafe. Quando um jornalista the perguntou ‘em inglés se havia tratado do proble~ ma do dissidente Andrei Sakharov com as autoridades sovieticas, ele res- pondeu que “‘o tema do Sahara nao foi incluido nas conversagses”. Outro exemplo: hé alguns meses, a imprensa espanhola publicou a noticia “intoxi- cago alimenticia mata milhares de turcos”, Na realidade, as vitimas ndo |, €ram turcos, mas perus. Eles traduzi- {ram a patavra turkeys (em ingles, pe- : tus) por tureos (em inglés, turks). Existem aproximadamente trés mil A inguas no planeta. Cerca de cem sio 16 SUPER Nesta torre de Babel chamada Terra existem cerca de trés mil linguas diferentes. Mas 0 intercambio entre os povos exige cada vez mais uma comunicac¢ao universal. E ela somente foi possivel até hoje em campos especificos, como a musica e a matematica. As tentativas de maior alcance foram mal-sucedidas. utilizadas por mais de um mithao de pessoas. A metade da populacdo mun- dial se comunica em chinés, inglés, es- panhol, russo, arabe, indu. ¢ portu- gués. O comércio internacional, 0 tu- ismo, a politica, os descobrimentos cientificos obrigaram a intercomunica- ao entre homens e culturas e areas ingOisticas distintas. J4 € necesséria a introducao de uma lingua para a hu- manidade. No entanto, esta idéia, de -vantagens indiscutiveis, no € tao fécil de ser colocada em pratica. O inglés, devido ao predominio po- litico € econémico dos Estados Uni- dos, se converteu em idioma quase universal. Um em cada quatro habi- tantes do planeta pode se entender, mais ou menos bem, nesta ingua. Mas thineses (mais de um bithdo de ha- bitantes) e 05 soviéticos (277 milhdes) se negam a aceité-la; ¢ os dois paises somam mais do que a quarta parte da populagao mundial, Esta circunstancia levou os fildlogos a considerar que s mente um idioma novo deixaria de la- do conotacdes politicas e sociais, pertenceria a todos ¢ a ninguém ao mesmo tempo. Nao deixa de parecer absurda, no entanto, a implantacao de uma lingua inventada quando existem mais de trés mil faladas. Anos atras, foi apresentada a proposta de eleger 0 finlandés ou o nayatl (asteca), para evitar ressentimentos e lutas de poder. A sugestio, no entanto, nao foi levada em consideracio. As tentativas de fabricar um meio de expressio artificial sio antigas, As primeitas aproximagoes produziram linguas-catélogos, inuteis para a co- municagao humana, Um bom exem- plo disto € a invencio do escocés Dal- Bamo, composta de palavras divididas em partes: 0m equivaleria a tudo 0 gue se referisse a seres vivos; em com- Dinagio com a letra grega eta formaria © conceito de animais; completado com o k, animais de quatro patas. Mas um idioma vivo nunca é tio 16- gico. tao fechado, téo regulado. Por {sso também no triunfou a fantasia de um francés chamado Francois Su- Gre, que em 1817 criou 0 Sofresol, mé- todo baseado no solfejo: dé significava sim; 1é era e; mi se tomou ou etc, A. palavra sola ja, tres tons as- cendentes, indicaria subida, € assim seria construida uma variedade de fra- ses, Esta linguagem permitiria tam- bém 0 canto, o que entusiasmou mui- tos dos intelectuais contemporincos de Sudre; 0 poeta Victor Hugo e 0 im- perador Napoleao III cram scus fas incondicionais. O Solreso! € hoje uma simples curiosidade da Historia da Lingiifstica Além dos idiomas artificiais, surgi ram outras tentativas a partir da com- binagio de linguas vivas. No ano de 1879, 0 monsenhor aleméo Johan Martin Schleyer inventou um sistema original, denominado Volapuk, que, em. um primeiro momento, parecia uma revolugéo. Semelhante em sua ZHABLA UD. ESPANOL? Como inventar uma lingua nova i aes ‘Amisica, tanto quanto a matematica e 2 quimics, consegulu superar as barreiras culturals e lingdisticas entre os povos. Qualquer que seja 0 ais de origem do musico, ele é-capaz de ler e interpretar as notas de uma partitura @ transmithlas para pessoas de idiomas diferentes estrutura 20 hingaro ¢ a0 turco, al- cangou grande éxito no final do século passado. Foram publicadas 316 gra- méticas, traduzidas em 25 idiomas, 25 revistas € 283 clubes se dedicaram & promogio da lingua. Esta difusio, no entanto, foi blo- queada pelo proprio Schleyer. Duran- te um congresso, varios delegados propuseram a introdugéo de mudan- ‘gas gramaticais. Schleyer as recusou violentamente, argumentando que aquele era o seu idioma ¢ nao havia autorizado ninguém a fazer modifica- es. Como se pode pretender que um meio de expresséo pertenca a apenas uma pessoa? Esta situagao € ainda mais incongruente quando se trata de ‘um modelo de linguagem universal. Felizmente, muitas das tentativas de criagio de idiomas nao foram adiante. Foi 0 que ocorreu com 0 Tuidnico, mistura de um mau inglés eum mau alemao, nascido no final do século pasado ¢ morto no comeso. deste. Surgiram ainda varias inovagdes lin- giisticas, entre elas uma feita a partir da combinagdo do grego cléssico, la- tim e chinés, Nos Estados Unidos, apareceu a idéia de promover um in gles bisico, composto por 850 pala- vras; a idéia nao prosperou porque seus defensores se esqueceram de que se tratava da lingua materna de mais de duzentos milhdes de pessoas que teriam um vocabulério mais rico, com expressGes. incompreensiveis para os praticantes da versao reduzida, Somente 0 esperanto, um dos idio- mas inventados, chegard a superar os cem anos de vida. Criado pelo oftal- mologista polonés Ludwig Leizer Za- menhof em 1887, € formado pela sin- tese de varias linguas européias. Toda aa sua gramética se resume a dezesseis regras, 0 que garante a aprendizagem no prazo de um ano. Pelas experién- cias comparativas, 0 esperanto exige tum tergo do tempo necessério para aprender um idioma como o francés. Atualmente, € empregado, com dife- rentes graus de perfeicao, por dez mi- IhGes de pessoas em todo 0 planeta. Inglés ¢ o esperanto do mundo ocidental Umgrande niimero de romancese pe- gas de teatro foi escrito originalmente em esperanto, para o qual jd fo- ram traduzidas cerca de dez mil obras da literatura universal. Emissoras de rédio de Viena, Varsévia, Pequim, Berna, Roma, Sofia e Zagreb transmi- tem programas em esperanto. E 0 sis. tema internacional de telegrafia o aceita como meio de comunicagio, junto com as linguas vivas ¢ o latim Apesar de tudo, 0 esperanto nao al- cangou seu objetivo © nem est a ca- minho de fazé-lo. Grande parte dos idiomas vivos podem ser considerados muito mais universais, ainda que te nham uma aprendizagem mais lenta Alguns fildlogos tentaram explicar a aceitacao limitada do esperanto com razdes de cardter fonético. Diziam que a proniincia cra complicada para pessoas de certas regides. Por exem- plo, os habitantes do Pacifico Sul te- iam enorme dificuldade para pronun- ciar agrupamentos de letras como sp, ‘i, sch; 0s chineses lutam com or, 08 japoneses com o {. Mas em que lin- uagem isso nao acontece? $6 quando a fonética ¢ ensinada desde a infancia 6 possivel ultrapassar esta barreira, ‘0 verdadeiro motivo est4 no fato de No ano 2000,seremos bilingues Linguagens de tipo Basic, Assembler, Fortran ou APL sao utiizadas ‘Polos computadores de todos os paises. Mas 0 desenvolvimento cada vez malor da intormética exige a criacao de uma linguagem universal, que tenderd 4 se impor sobre todas as outras ja conhecidas {que 05 paises que possuem 0 predomi- nio econdmico ¢ politico impdem sua lingua nas areas em que exeroem in- fluéncia. Por isso o inglés se converteu no esperanto do mundo ocidental Apesar do seu uso estar restrito a de- terminados pafses, tamanha é a sua di- fusdo que, dentro de uma década, os jovens de todos os pafses industrializa- ‘dos do Ocidente jé poderdo comuni- car-se sem problemas neste idioma. De fato, nas nacoes mais desenvolyi- das da Europa, as geragoes mais jo- ‘ens, com um nivel cultural médio, 0 praticam como segunda lingua O que se pretende porém nao é uma lingua ocidental, mas mundial. E em grandes regides da Terra nao se percebe nenhuma inclinacdo pelo in- alés. Portanto, ainda esta pela frente a tarefa de elegé-lo linguagem universal @ assumir 0 compromisso de ensiné-lo ‘como primeiro idioma estrangeiro a todas as criancas do mundo. Segundo 05 estudos psicolégicos ¢ lingitsticos, a idade apropriada para estudar um segundo idioma € em torno dos seis anos. Apesar disso, as criangas do futuro nunca chegardo a ser bilingites. Entre ‘outros motives porque o bilinguismo puro ndo existe. Nos casos em que 0 pai fala uma lingua diferente ou que 2 familia tenha emigrado para outro pais, a crianca estabelece inconscien- femente uma separagio entre as duas inguas: a_materna é reccbida com mais emogéo enquanto que a paterna ou a do novo pais [he permite pensar de maneira mais madura e intelectua- lizada. A possibilidade de um conilito JingOistico entre a primeira e a segun- da lingua, entre 0 idioma vernéculo © estrangeiro, pode provocar atrasos nna aprendizagem, principalmente se 0 ensino comeca cedo. Nao € possivel esquecer também que a riqueza do pensamento caminha paralelamente & da linguagem ditador soviético Stalin sonhava que, quando a revolucdo comunista mundial estivesse conclufda, todos os homens falariam russo. Ninguém seria pressionado a fazé-lo. Mas ele estava Convencido de que 0 ideal comunista estabeleceria lacos to estreitos na hu- manidade que os diversos idiomas da Terra resultariam em um nico. Dei xando de lado os desejos ut6picos de Stalin, o certo é que existem alguns exemplos de linguagem universal no campo da cultura e da ciéncia. Pense- mos na miisica, na_matemética, nas fOrmulas quimicas. Todos os matema- ticos € todos os quimicos sao capazes de entender os resultados dos traba- Ihos de seus colegas, sejam quais fo- remos paises de origem. Todos os mii- sicos tém condigdes de escrever, ler € interpretar qualquer partitura. Ciéncia tem exemplos de linguagem universal Estamos iniciando uma nova era em que se torna mais necessario do que nunca uma base de entendimento: a era da eletrOnica, que somente alcan- gard a plenitude quando todos os com- putadores se expressarem com a mes- ma Finguagem. ‘Uma equipe de especialistas norte- americanos em Semistice comecou a estudar um sistema de sinalizagao para © futuro, O método de identificacdo deverd ser compreensivel em qualquer linguagem humana. Trata-se de um programa governamental que tem co- mo objetivo fazer com que todos os ha- bitantes do planeta saibam reconhecer residuos radioativos que a indistria ica aloja sob a superficie. O res- é Thomas Sebeok, presidente da Associagao Semiética In- temacional, especializada no tema da comunicagdo animal ¢ humana. Poder falar com todos os habitantes da Terra. Entender qualquer estran- geiro. O velho sonho da humanidade. Em épocas passadas, a lingua cosmo- polita foi o latim; com ela se expressa~ vam as pessoas mais cultas, os estadis- tas, a Igreja. Nos Estados Unidos se 64 muita importincia a0 aprendizado do chinés. © homem conquistou o es- pago e ensinou os computadores a fa- lar, mas ndo superou a historia biblica da torre de Babel . ‘SUPER 19 % _ TECNOLOGIA : Se tudo der certo, antes ainda do final do século estarao prontos os frutos da revolugao dos supercondutores — 08 fios de ceramica que sao capazes de transportar eletricidade sem as _ nenhuma perda de energia e cujos - poderes magnéticos vao criar novidades fantasticas, como, por exemplo, o trem que anda no ar aaltissimas velocidades , Fas antigas e delicadas porvelinas ~ F Finesas as sofisticadas telhas usit- i para proteger do calor 0 nariz do Onibus espacial americano, a ceramica tornou-se uma das téenicas mais bem conhecidas do homem. O que nin- guém nunca imaginou, porém. & que la. podia também ser empregada para construir fios elétricos — pela simples rario de que sempre foi tida como péssima condutora de eletricidade excelente isolante nas Tinhas de alta tens. Mas ayuela conviecdo desmo- rondu em meados de 1986 quando. t0- talmente por acaso. dois _quimicos franceses tiraram do forno uma cer’i- mica capaz de fazer milagres. Els nd ‘Como oaco para acivilzacao Industrial, 08 cabos de ceramica com seus tricidade, mas possuia eficien: luta, coisa munca viste sequer em um superpoderes fio metilico. No novo condutor de bs rata barro. uma vez iniciadas. as correntes ‘05 novos tempos cletrieas jamais se interrompiam, ‘SUPER 21 Tilo que éckétrco vai muda "Circuito supercondutor: progresso A pattir de entdo, os pesquisadores comegaram a sonhar com as mil e uma utilidades capazes de advir desse fio maravilhoso, Alguns cientistas chega- ram a sugerir que estava aberta a via para a levitacao — qualquer um pode- ria andar sobre as aguas, a exemplo de Cristo sobre o Jordéo. "Em ver de esteiras como as que existem nos ae- roportos mais modernos, as pessoas poderio deslizar acima de um tapete magnético”, prevé, por exemplo, um dos mais imaginativos especialistas nas novas possibilidades da ceramica, Pra- ven Chaudhari, vice-presidente da empresa de computadores IBM. Todo fio que transmite eletricidade se trans- forma em um fraco ima, argumenta Chaudhari. A sua forga se multiplica em uma bobina, que contém grande extensio de fio entolado. Por isso, os poderes magnéticos dos fios de cere mnica criariam novidades fantsticas. Mesmo os mais eéticos acreditam que essas novidades comegarao a in- vadir a Vida cotidiana num prazo nao superior a cineo anos. Uma usina co- mo a de Itaipu fornece um bom exem- plo das mudancas que poderao ocor- ter rapidamente. Toda hidrelétrica desperdiga energia, pois, devido a contingéncias geograficas, esta em ge- ral sempre longe dos centros de con- sumo. No trajeto entre a usina € 0 22 SUPER consumidor perde-se energia, porque a resisténcia dos fios metalicos cria uma espécie de atrito que dificulta a passagem da eletricidade. A corrente elétrica acaba se transformando em calor, que nao serve para nada. Esti- ma-se que as perdas por esse motivo representam até 20 por cento da pro- ducdo de enrgia. Esse desperdicio po- deré ser evitado com uma ceramica supercondutora — isto é, capaz de transmitir eletricidade sem nenhuma resisténcia. dos depois, os ~ alas do meta nib. Veja na_| cronologia abaixo que apenas no salto sa ns Em segundo lugar, haveria ganhos nos prdprios geradores de Itaipu que, como todo motor elétrico, opera com o.auxilio de bobinas eletromagnéticas, Com a eficigncia dos novos eletrot mas, essas maquinas se reduzirao a um ‘décimo. do seu tamanho atual, multiplicando a sua poténcia. Mas ha ainda um meio muito especial de aproveitar os supercondutores nas hi- drelétricas: estocando a forca da que- da dos rios, & noite. Ela ndo pode ser usada por completo porque nesse pe: iodo 0 consumo é muito baixo € nao hé para onde enviar a energia produ- zida. As méquinas “giram no vazio” ‘como dizem 0s operadores, enquanto © rio corre sem proveito. Mas uma bo- bina supercondutora poderia receber essa energia ¢ manté-la_girando nos fios de ceramica sem nenhuma pertur bacdo. Pela manha, conectada a rede de transmissio, a bobina devolveria a eletricidade estocada como se tivesse avabado de recebé-la Do tamanho de um punho, a bobina ergue um carro O mesmo truque poderia ainda ser m um futuro carro elétrico — al- g0 com que se sonha desde o advento da eletricidade. Esse carro, além de um motor reduzido, mais viével que 08 prot6tipos existentes, dispensaria também as baterias quimicas, caras € pesadas. como fonte de energia: teria uma bobina supercondutora de esto- cagem clétrica no lugar dos tanques de gasolina. Isso, se alguém ainda se animar a construir automoveis, ironiza Chaudhari, da IBM. Segundo ele, de fato, todo sistema de transportes Ppessoais poderd ser alterado com pos- Sbilidndes inesperadas, dagul para frente, Bobinas magnéticas embutidas ‘nos sapatos das pessoas poderiam car regé-las por toda a parte, sobre uma rede de tapetes magnéticos. E verdade que os engenheiros ainda gastarao muitas noites sobre as pran- chetas até que estas € outras maravi- Ihas se tornem parte da vida cotidia- nna. Mas nia Universidade de Sio Pau lo ja existe um modelo antigo de bobi- na supercondutora — 2 base de fios metalicos super-resfriados — que tem ‘© tamanho de um punho fechado mas € capaz de levantar um automovel. Nada impede que as cerimicas super condutoras revolucionem as méquinas elétricas que povoam casas, fabricas e escritérios no mundo moderno. Pois tudo que funciona com eletricidade poderé mudar — dos reldgios de pulso e secadores de cabelo até as linhas fér- reas e 0s metros. “Os superconduto- res so uma mina intocada de so hos”, definiu de modo preciso e poé- tico 0 especialista americano Paul Grant De inicio, as descobertas surpreen- deram os prdprios cientistas. Poucos acreditaram que existia um material capaz de trazer para @ temperatura ambiente 0s segredos do comporta- mento das substancias em condigoes de frio absoluto — ou seja, perto dos 273 graus_abai fronteira silenciosa do Universo, onde 10 ha o mais leve vestigio de ca lor, ocorre a supercondugio. Mas, pa- ra efeitos praticos, isso equivale a nao hhaver superconduedo alguma, pois 0 esforgo de conservar um fio a tal tem: Peratura ndo pagaria o resultado. Por 1880, 08 supercondutores metélicos fi- jode-se comparar a supercondu- ¢éo A conhecida brincadeira de derrubar dominds enfileirados. Esse jogo funciona apenas se a fila estiver muito bem arrumada: assim, quando © primeiro dominé € derrubado, os demaiscaem inevitavelmente um pds 0 outro, em um movimento de cascata. A figura 1, acima, representa ‘© movimento ordenado que ocorre durante a superconducdo, segundo imaginam os fisicos. Na figura 2, en- tretanto, o arranjo dos dominds se as- semelha’ mais & condugio comum de cenergia elétrica pelos fios. Nesse caso, ndo hd uma ordem adequada na fila de dominds: eles caem a0 acaso, ou se chocando de raspio com as pegas se guintes, ou mesmo tombando no va- io. O movimento se interrompe ¢ preciso fazé-lo recomecar com outro empurrao. ‘A superconducio, de fato, € ape- nas uma forma dle organizar 0 movie ‘mento das partfculas que existem den- tro de todo fio elétrico, Veja a figura 3:00 fio supercondutor ¢ composto de tomos enfileirados, como no jogo de dominds, e a corrente elétrica € for ‘mada pelos elétrons, particulas que se soltam dos tomas a que pertencem. Nesse caso, 0 movimento dos elétrons € dos atomos se toma perfeitamente harmonioso. Os elétrons nunca se chocam com os atomos ou entre si mesmo, € nem a corrente se transfor- ‘ma em calor —o responsavel pela re- sisténcia elétrica nos cabos comuns € vverdadeiro sindnimo de caos. ‘A figura 4 representa 0 fluxo nor- mal da eletricidade. Empurrados pela forga dos geradores de energia — 0 {que equivale a0 empurrio nos domi- ngs —, os elétrons avangam aos tram- bolhdes. Acabam transformando a sua energia em calor, isto €, em movi- mento cadtico dos étomos ou mole: las dos fios (moléculas sio grandes grupos de dtomos que se agregam nas Os détrons brincam de dominos substancias). A supercondugéo permaneceu um mistério até a Segunda Guerra Mun- dial. Ela havia causado grande espan- to quando foi descoberta, no inicio do século, porque até entio se pensava que todo movimento devia cessar na auséncia de calor. E 0 que ocorre pro ximo dos 273 graus negativos — ou ero absoluto, como dizem 0s fisicos, pois nada pode ser mais frio que isso. Por tal razao, dizia-se que calor € ape- nas dtomos em movimento: se nao ha tum, néo hé outro. Mas essa é uma conclusio apressada, mostrou o fisico sueco Heike Kamerlingh Onnes, 0 descobridor da supercondugio, em 1911, quando estudava o comporta mento do mercdrio a baixas tempe- raturas. Ele viu que, na auséncia de calor, surgia de fato uma espécie de movimento perfeito entre Stomos € elétrons, Apenas 45 anos mais tarde, se d cobriu que esse movimento é gerado por uma notavel cooperacio entre as Particulas atomicas. Ocorre que os tomos se entregam a uma suave on- ulagéo, onde 0s clétrons deslizam 405 pares como surfistas no mar. Pois € esse balango invisivel nas profunde- as atdmicas dos cabos 0 responsével pela supercondugéo. As cerimicas, aparentemente, sto capazes de imité- lo, mesmo em altas temperaturas, de- vido a algum detalhe quimico em sua arquitetura: esse € 0 enigma que a | cigncia agora espera desvendar. SUPER 23 Avancos espantosos em pouco tanpo caram inicialmente confinados as insti- tuigdes de pesquisa. A coisa muda de figura quando a superconducio pode ser criada em temperaturas mais ame~ fas, a “apenas” 200 graus negativos. Este € 0 horizonte descortinado pe- las novas cerimicas, uma simples mas extraordindria mistura de quatro ele. mentos quimicos relativamente facets de encontrar: cobre, oxigénio, bario ¢ outro ingrediente que pode ser o lan- jo ou alum dos seus parentes, co- mo 0 itrio. Basta misturs-los em de- terminadas proporgées, moé-los e de- pois assé-los em um forno para ter & mao © novo material magnético. As- sim, quando se deram conta de que a descoberta era real, em toda a parte (s cientistas langaram-se a explorar melhor os seus ingredientes. A febre da supercondugao mobilizou também sgnéticaaberta pelos Supercondutores. promete muito mais que a revolugao dos reatores nu- cleares nos anos 60. Isso porque, a0 contrario desta, ela ndo 6 nem cara rem seereta. Mesmo paises de esc sos recursos técnicos, como o Brasil, poderao ingressar no novo clube tec- hol6gico, e no como meros copiado- res de projetos alheios. muito, micas”, explica © fisico Armando Padwan, “da Universidade de S20 Paulo. “Por isso, fd hoje pelo me- ‘nos uma centena de pesquisadores bprasileitos contagiados pela nova fe bre”, contabiliza ele Na yerdade, a energia nuclear ou gerando conhecimentos Gteis aos brasileitos, no estudo ca Superconducio. “A” tecnologia so- fisticada de meiais usada nessa area esta nos auxiliando”. afirma o fisico nuclear Spero Morato, do Instituto de Pesquisas Nucleares (IPEN), lo- calizado nos fundos da Cidade Uni- versitaria, em Sao Paulo. Ele traba tha em estreita colaboragao com Paduan, mas em seu laborat6rio ja 24 SUPER 05 cérebros no Brasil (veja abaixo ). nee rique, Sufga, com dois. pesquisadores da IBM local, George Bednorz.e Alex Milller. Ele descobriram que um: certa ceramica estudada ma Franca, por motivo completamente diverso, era capaz de conduzir corrente sem resisténcia, a uma temperatura relati vamente alta. Ate entao, os supercon- dutores de metal funcionavam a cerea de 250) graus negatives. De imediato, a cerimica clevava o patamar para 238 graus negativos — um espanto, coluna do termome- pois desde 1911 Paduan, da USP, com uma bobina ‘Supercondutora: “Mutio simples” no ha o charme misterioso da tec- nologia nuclear, € sim prosaicas ti« gelas de misturar argilas e fornos para cozer supercondutores. Como outros cientistas nacionais, Morato alerta contra 0 excesso de entusias- mo, mas também acredita que po- demos avancar muito, ‘Um dos caminhos da pesquisa no Brasil pode ser a construgio de fios, para aplicagdes médias, como nos fomografos, que jé usam supercon- ducio a baixas temperaturas. Eo que pensa o fisico Sergio Gama, da Universidade de Campinas. A Uni ‘camp foi alias a primeira a construir no Brasil fios supercondutores do metal niobio, ha cinco anos. Esses fios poderao ser produzidos em massa e exportados para a Itélia. 10 50 havia avancado 20 graus, a con do zero absoluto, até chegar aos 0 graus. Os primeiras testes de Miil- ler e Bednorz, realizados com o lanta- ni na mistura de argita, datam de ja neiro de 1986 e foram publicados em setembro do mesmo zno, Logo em seguida, os seus mimeros comecaram a ser melhorados — especialmente pelo professor Paul Ching-Wu Chu da Universidade de Houston, nos Estados Unidos. Em navembro. igualado aos europeus. Enta Chu ja havia se no dk curso de uma verdadeira.maratona contra 0 frio — da qual participam cientistas do mundo inteiro — ele aca- dou substituindo 0 lantinio pelo itrio € estabeleceu 0 recorde: uma cerami ca supercondutora a temperatura de ISL graus negativos — trés vezes mais Pelo menos ha _negociagoes_ em curso. Gama actedita que ja se poderia tentar descnvolver tam: bem os fios ceramicos nessa linha de produgio lembra. por outro lado, que se pesquisam supercon dutores para circuitos eletrénicos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Essa € outta iregio em que se deve avancar” diz ele. © Brasil apenas reproduz. resulta dos obtidos pela poderosa maquina ntifica dos paises ricos, Mas nunca se havia conseguido empatar com 0 terior em tao pouco tempo —uma | procza do fisica Heitor Cury Baso. da | USP de Si Carlos, no interior de Sio Paulo, que fez 0 primeiro supercon- dutor brasileiro, dois meses. depois dos europeus. “Isso basta para atestar | amaturidade da ciéncia nacional”, diz | Roberto Nicolsky, da UFRJ. A nova linha de pesquisa também acordou os brasileitos para a extraordinaria cién Ga dos materiais, na qual se criam plisticos que conduzem eletricidade como se fossem metais ou ceramicas tio duras como ago. E um campo muito prdximo da técnica dos super- condutores, que se pode estimular € desenvolver. “$6 por isso, jé vale 0 esforeo atual”, acredita 0 isico rioce Ennio Candotti, vice-presiden te da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciéneia do que 0 obtido nos 65 anos anterio- res de pesquisas. A proeza foi realiz da em feverciro deste ano; de 1a para ca, diversas combinacoes de argilas de- ram resultado idéntico. Apenas Chu sua equipe acharam mais nove mist ras, e 0s laboratérios Bell, nos Estados Unidos, testaram outras doze. Em varios laboratGrios 20 redor do mundo ja foram construfdas cerdmicas supercondutorus em _temperaturas bem mais elevadas. Os cientistas so- viétieos anunciaram ter alcangado me- nos 23 graus. Pouco depois, divulzou- se que pesquisadores japoneses hi viam conseguido 0 recorde dos recor des: 20 graus positivos. Mas, nos dois casos, 0 efeito durou apenas um par de horas. A corrida prossegue para se chegar a0 fabuloso supercondutor que se mantenha 2 temperatura am- biente. No entanto, os resultados ob: tidos até agora jé garantem transfor: magoes tecnolégicas profundas. As ceriimicas estio sendo manipuladas por técnicos especializados, que pro- curam transformar esse material que~ bradigo em pegas priticas como tios. filmes ou placas © que causa furor no mundo da ciéncia ¢ da inddstria & a velocidade dos avaneos, Apenas este ano os Esta- dos Unidos vao gastar 38 milhoes de dolares em pesquisas nessa area, A maior parte das dotagoes vem do go Tubo por onde circula o gas hélio para a superconducao abaixo de 0* Alex Miller e Paul Chu demonstram as propriedades da superconducéo s.escolas (8m coniligies de ver ficar como funciona a super conducdo, Sob a diregao do profes- sor, o§ alunos podem construir sua propria pestilha ¢ depois vé-la flu tuar sobre um ima na sala de aula. Os ingredientes sto adquiridos nas lojas de material diditico, » come- {ar pelos dxidios: 5 gramas de dxido de ttrio (¥p O,), 20 gramas de Gxido de bario (BaO) e 30 gramas de dxido cuproso (CuO). Eles de- vem ser misturados com um pouco de agua e moidos por trés horas em um cadinho, com um pikio. Leva-se a0 forno © auments gradualmente a temperatura a 00 graus, por seis horas, desaque- cenda-se por mais seis horas até desligar Opi preto obtido precisa. ser twiturado durante té@s horas, Bem fino, pode ser prensado em. forma de pastilha em uma cuixa de ago Com um torno ou um macaco de carro, tem-se a pressao_ necessé ria: mil atmosferas. A pastilha vol ta ao forno por mais 12 horas. agora.a 1 050 graus e com boa cir- culacao de ar. Pronto, 0 supercon- dutor flutuard entre os polos de Receila depastiha ‘No forno, o8 ingredientes deve ficar um total de doze horas ma de ferro-boro, de 3 quilo gauss, imerso em uma vasilha de vidro ou plistico cheia de nitroge nio liquide, A empresa White Martins, de S30 Paulo, produz 0 nitrogénio Ifquido. Todo o mate- rial — com excegao do forno — saira por cerea de cineo mil cruza- dos, O professor deve tomar o cuidado de nao tocar no nitroge- nio com a mao. SUPER 25 Protétipo do “Maglev” japoné: ‘524 quilémetros por hora no ar ‘yerno, mas também as. empresas pri- vadas estao fazendo planos: querem investir pesado nos produtos que po- dem nascer @ partir das experiéneias Pelo menos um bilhio de délares de- ‘vem rolar nessa direcao, até 1990. ‘Alguns sonhos da superconducao ja se conyerteram em realidade — ainda ‘que, por enquanto, a base dos super- condutores. antigos. Em_primeiro lu- gar nessa lista esto os. tomégrafos médicos que operam por ressonancias magnéticas. Trata-se de uma espécie dde maquina de raios X que se aprovei ta dos fracos imas existentes em todas as substincias — especialmente nas moléculas do organismo. Uma bobina nos tomdgrafos. perturt las cargas elétricas dessas. moléculas. Um computador analisa as perturt gOes e assim pode dizer 0 tipo das mo- Igculas examinadas e a forma do r- giio em que estio contidas. Os tomégrafos atuais operam com supercondutores metélicos & base de nidbio, mas para isso & preciso resfrié Jos com gs hélio liqueteito. Eis 0 nd do problema: deseoberto no Sol antes de ser avistado na propria Terra, € di- fieilimo manter o hélio em forma l- 26 SUPER quida, pois isso ocorre a cerea de 270 graus negativos ¢ exige capas especiais de isolamento térmico, que custam 100 mil d6lares a peca. Se forem cons- truidos com as novas ceramicas, 0s to- mografos poderao ser resfriados com nitrogénio liquido, a apenas 196 graus negativos, dispensando, portanto, os sofisticados protetores térmicos. Além disso, enquanto 0 suprimento anual de hélio custa aos hospitais em torno de 30 mil délares, 0 nitrogénio custa- ria quarenta vezes menos, isto € gatela de 750 détares a0 ano. 0 “Maglev” so usa as rodas Para pousar e decolar ‘© mesmo poder de criar fortes per- turbagées magnéticas € que deu aos Japoneses a idéia de usar a supercon- dugio em seu Maglev. Essa maquina é ‘um trem experimental que nao precisa de trilhos: flutua sobre forgas ow cam- pos magnéticos fortissimos, gerados por ims supercondutores. Sem o atti to da roda com 0 trilho, © gasto de combustivel para mover_ 0 comboio ferrovidrio € minimo. Assim, a sua ve- locidade pode chegar a 524 quiléme- ‘ros por hora — uma proeza alcanga- da ja em 1979, Esse desempenho é quase duas vezes melhor que 0 do ‘mais veloz trem em operacio comer. cial no mundo, 0 TGV, que circula entre Paris e Lyon, na Franca, e atin- -g¢ 298 quil6metros por hora. (O supertrem japonés — cujas ima- {gens sd0 0 simbolo até agora mais vis- {oso da nova era tecnologica — opera com oito magnetos em cada vagio. Seus trilhos sio milhares de bobinas enfileiradas no leito de uma ferrovia de oito quilémetros, onde € testado. Como a forca magnética dos vagbes aponta em direcdo oposta a forca das bobinas-trilhos, 0 Maglev € mantido no ar a cerca de dez centimetros de al- tura. $6 usa as rodas para pousar € decolar, como os avides. ‘Os governos parecem mais propen- sos a gastar grandes somas num ins- trumento formidavel da pesquisa cien- tifica: os aceleradores de particulas, onde a forca dos eletroimas impulsio: nna fragmentos de stomos a altissimas velocidades e os obrigam a se chocar violentamente entre si, Estudando 0s restos das colisoes, 05 fisicos esperam. descobrir como o dtomo € construido por dentro. $6 nos Estados Unidos es- se gastando 25 milhées de dolares com esses aceleradores, soma que de ve subir para 300 milhoes até 199). Pelo menos metade dessa montanha de dinheiro sera empregada em super- computadores muito menores que os menores existentes no mercado. O que impede a redugéo ainda mais acentuada dos computadores atuais é © calor criado pela resisténcia dos fios metélicos: 8 medida que os microcir- cuitos ficam cada vez mais compacta- dos, 0 calor se concentra e tende a fundir os fios. Ese problema, natu- ralmente, néo surge quando os fios nao tém resisténcia, como nas cera- micas. E por esse motivo, alias, que ‘05 novos materiais de mil € uma utili- dades ndo prestam para uma coisa: fazer chuveitos elétricos, que depen- dem de alta resisténcia para gerar ca- lor e aquecer a dgua. Mas ndo € s6 no tamanho que a su- perconducao vai melhorar os compu- tadores: eles também deverdo se tor- nar ainda mais precisos. Na Inglater- ra, por exemplo, ja se testou uma mé- quina supercondutora usada para f3- bricar circuitos eletronicos mais ef cientes. Ela pode eriar detalhes até dois milhes de vezes menores que um metro, dobrando a precisdo das atuais linhas de montage. Em outro caso. um microcircuito dotado de fios supercondutores pode dominar cor- rentes elétricas infinitamente fugazes, que duram até dois trilhoes de vezes ‘menos que um segundo, Nesses casos, 0 que est em jogo é a arquitetura microscdpica das. subs- tancias — o reino abissal das molécu- las e dtomos. A moderna ciéncia esta cada vex mais proxima desses tijolos fundamentais da matéria, mas 0 seu mundo fica tio distante da nossa ex- petiéneia que parece mégico. Eo que imaginou o escritor argentino Ernesto Sabato. “A fisica moderna parece uma feira de diversdes, com salas de espelhos, labirintos de surpresas © ho- mens que apregoam fendmenos”, es- creveu ele em um artigo denominado “Fisica Escandalosa”, de seu livro revit? Ele ¢ um dos auxiioes mais importantes. da equige responsive pelos testes de automé- vis ue QUATRO RODAS publica todo més. ns talado na lateral da caro em teste e eritindo um foco constante de uz para chda,o Corevit ‘ransmite pare um computador 2s velocidades, temperatures, consumo, rides e m- tos outros datos. No Brasi apenas gem, aGM, a Mercedes Banzea sua revista QUA ‘TRO RODAS possuem o Correvit. E das cente- nas de revistas espciazadas no mundo apenas doze 0 tim. Ito quar dizer que voot Ie aqui no ‘Brasil, ume das mais atualzadas revistas de au: ‘oméveis do mundo: @ nica capaz de mastrar | ceanasar com al preciso iquze de detaho, ‘cons 0 nossis cas, numa inguagem qe vo entende Que otra pubicagto node dar isso pera vod? S6CURTRO RODS! Una rae eo do seu itor. QUATRO JROBRS: N6s.¢ 0 Universo. final, dizem os fisicos, mesmo 0 ago macico € feito em sua maior parte de nada. Uma barra de qualquer ma- terial é de fato um agregado com um numero imenso de particulas minéscu- las que estio a grandes. distancias uumas das outras, comparativamente ao seu tamanho. Essas particulas vi- vem em perpétuo movimento. Sio os Atomos ou moleculas, a0s quais se po- de chegar, partindo ¢ tomnando a re- partir as substincias. Por exemplo, pode-se dividir uma laranja a0 meio € depois dividir uma de suas metades ‘novamente: se a operagao for repetida apenas 38 veres, seri possivel chegar aos seus atomos. Nao € facil como po- deria parecer — os Atomos io mais de cem milhdes de vezes menores que lum metro, € ndo se conhecem muitas facas capazes de corté-los a0 meio, Sem calor, os atomos fazem uma espécie de bale No entanto, jé existem instrumen- tos para construir um material traba- thando molécula por molécula, como se fosse um quebra-cabeca infinita- mente pequeno. Com os supercondu- tores, € preciso pensar em algo seme- Ihante: como € possfvel projetar as moléculas de um fio? Quando se des- cobrir a resposta a esse desafio, sera possivel montar supercondutores que funcionem a qualquer temperatura A. teor explica porque as atuais cerimicas podem imitar um comportamento que normalmente sé corre a baixissimas temperaturas. Os fisicos esta procurando adaptar idéias que foram elaboradss inicial- mente na década de 50 ¢ que resulta- ram notransistor. Segundo eles,quando rio ha calor, os étomos realizam uma espécie de balé altamente coordena- do, que acaba levando & supercondu- 0. Essa teoria demorou 43 anos pa~ Ta ser formulada, desde a descoberta da supercondugéo, em 1911 Desde entio, nada de novohavia sur- ido até que 0 pioneirismo dos suigos Miller e Bednorz os levasse a sua ceramica, abrindo uma fronteira inesperada por onde a pesquisa pul poderé agora avancar. . PETER gE ESPACO Tea ATTA TAT Tea A bordo de uma nave capaz de cruzaro espago com estonteante rapidez, rumo ER Ea ee oe humanos a sairdo sistema solar verao oy PT rt Eee ee ae irao adquirir uma nova nocao de tempo ad Cnr maior velocidade a que o homem — fendmenos luminosos durante a viagem. eee Pere ter ae CUR Bere ee Et 40 mil quitdimetros por hora, al- volver um sistema de propulsio sificien- Rear er mm cee ue ar PO Oe Coe RUN Ck Utara cnet ees an ot Roce cet OM i Orage rec Tad Ce ee me ee ee Me SE proximo o homem ficara dos 300 mil a viagem a uma yelocidade constante. A. tecnologia on Coe nner erie merece en tee nt eae eee ore ‘com ar a soc Cee eet ey eee ear ete eter ey et ies mes ente meen Tr Ps Pree’ Soran cM ae ae arn ar eee ear ie er mmm ee ee ee ee % Fesespe pial que for matéria se transformard em ou seja, sete vezes 9,81 metros (68,67 _tente, possa ser armazenado em espuco ~ rier ee Cn a ee eae Ce OG an rN eon rere Oe re a Pers et en eae ee kc tc ene eee amet ects ren SO eee a a on er cee Coy pea * -_ rs »_ Per) Um foguete movido a energla de f6tons sorta 0 Idea! ‘para se aproximar da velocidade da luz. A energia ‘esultaria dafuséo de matéria e antimatéria, altisimas_velocidades, Quando um fo- guete estiver a 10% da velocidade da Iuz, ou 30 mil quilémetros por segundo, ‘ou ainda 0,1 ¢ (em Fisica, ¢ 6 igual a ve~ locidade da luz), sua massa comecara a crescer. Logo, a forga necesséria para aceleré-lo seré cada vez maior. Resulta- do: para obter uma aceleracao constan- te, se precisara sempre de mais € mais energia. A NASA, a agéncia espacial norte-americana, jf desenvolveu um acelerador atémico, capaz de deslocar particulas de matéria a alta velocidade. Num téinel construdo em tomo da cida- de de Chicago, nos Estados Unidos, ace- lerou-se um proton, miniscula particula de um dtomo de matéria, Ao completar ‘© pereurso, a particula estava muito pro- xima A velocidade da uz Ji se pensou em um foguete movido a laser: canhies emissores de energia re- fletiriam 0s raios do sol em direcao a nax ve, de forma a impulsioné-la no espago.. HA também um projeto de foguete mo- vido a hidrogénio, capaz de abastecer-se em v6o, captando as particulas de hidro- genio que existem em abundancia no Cosmos, Assim, nio_precisaria partir carregado de combustivel. Outra alter- nativa, ainda, seria 0 foguete de propul- 40 iénica, em que se obtém energia — ‘no caso, energia nuclear — a partir da desintegragdo de fons (étomos com car- ga elétrica negativa muito alta). O siste- ma j tem sido utilizado para corrigir as Srbitas dos satélites artificiais. O ideal, porém, seria um foguete movido 20 que 0 cientistas chamam de energia forén a, gerada pela fusio de matéria e ant matéria, ou seja, fusio de particulas at6- 30 SUPER FOGUETE A LASER Canhées roffetiiam os ralos solaros na dlrecao da nave. Assim 6 0 projeto do foguete movido 4 laser, que ndo precisaria armazenar combustivel. ‘micas com massas idénticas, mas com ccargas elétricas opostas. Quando essa fu- so acontece, sa0 liberados energia € {6- tons — particulas atémicas com carga clétrica nula. A energia obtida sera tao potente que, gracas a ela, um foguete de 100 mil toneladas alcancaria a velocida- de de 1 100 quilémetros por segundo em menos de dez dias € meio. Claro que is- so, por enquanto, & apenas um sonho. Entre outros problemas, hé 0 de como armazenar o combustivel ‘Vamos imaginar, porém, que tais pro- blemas ja foram resolvidos e que, num Tuminoso dia qualquer do futuro, seres hhumanos estarao instalados a bordo de ‘um foguete pronto a partir com destino a ‘Andromeda, a galéxia mais proxima da Via LActea, situada & assombrosa cia de dois milhées de anos-luz. da Terra. (O ano-luz é uma unidade de medida de distincia equivalente aos 9,4605 x 10! quilémetros percorridos pela luz, no pe- todo de um ano). As trés primeiras se- ‘manas da viagem a Andrémeda nao ofe- recem grandes novidades — pelo menos em relacio 20 que viré depois. J4 na quarta semana, por exemplo, tem-se 0 primeiro espeticulo, propiciado pela ve- locidade com que se realiza a viagem: as estrelas mudam de cor. As estrelas que parecem aproximar- se, medida que a nave se desloca, assu- ‘mem tons de azul e violeta. Ao se afasta- rem, ficam avermelhadas e esverdeadas. Quanto mais répido 0 foguete, maior a variedade de cores, a ponio de 0 espaco se assemelhar a um imenso arco-itis. Eo chamado efeito Doppler: quando uma fonte de luz ou de som se movimenta em FOGUETE A HIDROGENIO de hidrogénio do Universo, reabastecendo-se constantemente, relacio a um observador, ou vice-versa, a freqiéncia das ondes luminosas ou so noras aumenta na aproximacdo e cimi- ‘mui no afastamento. Em relacao a luz, 0 efeito Doppler nao pode ser percebido, pela simples razao de que as maiores ve- ocidades até agora conseguidas pelo ho- ‘mem séo de longe insuficientes para que © fendmeno oeorra Mas os astronautas em viagem a An- drOmeda certamente verio tudo 0 que estiver & frente em tons violéceos — € tudo 0 que tiver ficado para trés em to- nalidades quentes. Isso porque a fre- A partir de 0,23 ¢ (23% da volocidade de luz), as estroias ‘que parecer aproximar-se assumem tons azulados. E, a0 se afastarem, adquirem tonalidades quentes. “FOGUETE A TONS nergia a partir a desintegragao de ions. quéncia das ondas luminosas é maior no azul ¢ menor no vermelho. Quando a velocidade da nave chegar a 0,23 c, ou 23% da velocidade da luz, Andromeda deixard de ser apenas uma mancha leito- sa — como, por sinal, pode ser vista da Terra até a olho nu, em noites limpidas —cemitiré raios amarelados. Enquanto ‘sso, a espiral azulada da Via Léctea, ca- dda vez mais distante, ict adquirindo tons de vermelho e parpura Essa diferenca na freqiéncia des on- ‘das luminosas aumenta tanto que, quan- do 0 velocimetro da nave marcar 0,94 ¢ AS LINHAS SE DEFORMAM Por causa da alta velocidade, a pari de 08, 0 astronauta vé Imagens distorcidas: as galéxias so transformam em espirals eo foguete parece percorrer um tine! colorido, DE ANDROMEDA ‘A.299 898,82 km's, a luz branca de Andrémeda alcanca @ nave na forma de ralos X. Se, nesse instante, 0 foguete pudesse ser visto da Terra, sua Imagem seria transparente como a de uma radiogratfa. (282.000 quildmetros por segundo), os raios procedentes de Andrdmeda esta- rio na gama dos ultravioletas. E a fre- guéncia das ondas luminosas da Via Léctea caira para 0 infravermelho. A 0,9999994 ¢, ou seja, quando a nave avi- Zinhar-se da velocidade da luz, deslocan- dorse a precisos 299 999,82 quikimetros por segundo, a freqiiéneia do brilho de ‘Andromeda ultrapassaré a gama dos ul- travioletas, ficando equivalente aos raios X. Se nesse instante fosse possivel ver 0 foguete da Terra, num telescdpio, sua imagem seria a de uma radiografia. Ou seja, a nave espacial seria visvel, j4 que a luz de AndrOmeda que chiega 2 Terra é branca. Mas, 20 mesmo tempo, seria possivel enxergar através da nave e dos roprios astronautas, como se fossem fransparentes, pois a luz. visivel de An- dromeda passa pela nave como ondas de raios X. ‘Além das alteragbes de cores, quando ‘os astronautas estiverem viajando a uma velocidade proxima da luz, havera também mudancas no formato das oi sas. As linhas se deformam, as galéxi parecem espirais. Pouco a pouco, o Un ‘SUPER 31 verso comeca a se transformar em um ttinel colorido, estreito ¢ infinito. Isso acontece por dois motives: primeiro, por causa das diferencas na frequéncia das ondas luminosas; segundo, porque quando a velocidade € altissima, logi- camente a distancia entre um observa- dor € um objeto qualquer em sua dire- Go diminui com uma rapidez tao in- crivel, que causa a impresso de haver distorgoes. Talvez 0 mais fantéstico de tudo nao seja esse caleidoscdpio em que parece ter-se transformado 0 Univer- 80. Nao sio apenas as ondas lumino- sas que parecem diferentes para 0s as- tronautas, em relagao aos observado- res da Terra: o tempo também passa a ser percebido de maneira diferente. A Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, afirma que, a partir de um movimento no Universo, pode-se me- dir uma parte do espaco e uma parte do tempo. O que quer dizer isso exa- tamente? Quer dizer que quanto mais veloz estiver a nave, néo aumentard apenas a distancia entre ela ¢ a Terra, ‘aumentaré também a diferenca entre © tempo medido na Terra € 0 tempo dentro do foguete Avelocidade da luz, ‘0 tempo deixa de existir Dezessete minutos marcados pelo relégio do astronauta equivalerao a uma hora na Terra, quando a nave atingir 96% da velocidade da luz. A 0,97 ¢, a hora terrestre ficaré ainda menor no foguete: apenas doze minu- tos. Enfim, & velocidade de 0,99 c, uma hora terrestre inteira valera irti- sOrios seis minutos a bordo. Em resu- 32 SUPER A NAVE ViRA UM BURACO NEGRO ‘Seo foguete atingiese (0s 300 000 kris da velocidade da luz, sua ‘massa cresceria tanto que ‘acabaria nao tondo fim. Seria uma catdstrofe: a nave so transtormarie num buraco negro, atraindo para Si tudo o que hd 1n0 Universo. mo, o tempo na nave € mais lento que na Terra. Se o foguete conseguisse voar a velocidade da luz, aconteceria algo espantoso: o tempo simplesmente deixaria de existir para quem estivesse a bordo. Evidentemente, 0 astronauta nio tem a sensagdo de que o tempo trans- corte mais devagar. Para ele, 0 relé- gio parece funcionar como. ‘sempre, marcando uma hora a cada sessenta minutos. fendmeno pode ser explicado ao se imaginar dois observadores: um, dentro de um trem a alta velocidade ¢ outro, parado na estacio. No teto desse trem foi colocado um espelho, que reflete a Juz de uma lanterna deixada no chao do vagio. Para o passageiro do trem, 0 fei- xe de luz forma uma linha perpendicular ‘com comprimento equivalente 2 altura da cabine. Jé para 0 observador da esta- 40, 0 feixe luminoso forma um triéngu- Jo; até que a luz consiga alcancar 0 teto, © espelho estéi mais adiante, porque 0 trem se movimenta; da mesma maneira, quando a luz é refietida pelo espelho ¢ volta em diregao & lanterna, esta tam- bém ja se deslocon a frente, pelo mesmo motivo. Assim, a distancia percorrida pela luz parece ser muito maior para 0 homem da estacio, que vé duas linhas inclinadas formando o trigngulo. Entio,, embora na verdade a luz tenha a mesma velocidade para os dois observadores, ‘como a distancia entre a lanterna e 0 ¢3- pelho é menor para quem esté no trem, em relagio a quem esté na estacao, logi- camente 0 tempo necessério para a luz ir € voltar refletida € menor para 0 passa- geiro, em relacéo ao homem da platafor- ma. O fendmeno da luz refletida € 0 ‘mesmo para os dois observadores, mas 0 tempo parece diferente. Esse mesmo exemplo permite notar ‘que, em altas velocidades, aumenta a re- Jagd entre espaco e tempo, Pois a velo- cidade nada mais € do que determinado cespaco percorrido em determinada uni dade de tempo. Se nao fosse assim, 0 ¢s- paaco seria absoluto para os astronatutas ¢ a distancia entre o planeta Terra ¢ a Ga- léxia de Andromeda nada teria a ver ‘com a velocidade do foguete. Nesse ca- ‘0, mesmo viajando a velocidade da Iuz, tum terrestre levaria dois milhdes de anos para chegar & galdxia, Como, porém, a distancia € relativa, se o astronauta via- jase a 99% da velocidade da luz, gasta- ria apenas 28 mil anos até seu destino — fantastica economia de tempo em com- pparagao com a hipotese anterior. Mas is- so nao € nada: a 99,999999% da veloci- dade da luz, a viagem duraria 283 anos; © a 99,9999909909% levaria um piscar de olhos — brevissimos trés anos. Duragao da viagem: sel anos ou quatro milhdes? Essa contracio das distancias 86 pode ser observada a velocidades muito altas Mas, gracas a ela, o ser humano pode cultivar @ esperanca de viajar até galé- xias distamtes. O Gltimo desafio seré sempre o da enorme quantidade de cenergia necesséria para movimentar 0 metade da velocidade da luz, da nave espacial aumentaré ‘velocidad da luz, cla seria inf nita, Em consequéncia, a nave se trans- formaria num buraco'negro, atraindo ppara si tudo o que ha no Universo. Tudo se fundiria em um estado conhecido por singularidade, onde nao ha tempo nem ‘espago reais. 'Um final mais do que ca- tastr6fico para a viagem a Andromeda, sem divida. ‘Mas, como o foguete imagindrio se- gui quase a velocidade da luz, sem al- cancé-la, 0 limite entre o tempo ¢ 0 es- Paco fieara preservado ¢ a nave poderé voltar a Via Lactea. Entre a partida € 0 regresso, pouco mais de seis anos teréo transcortido para o astronauta. Para quem ficou no planeta, porém, ter se passado a bagatela de quatro milhdes de anos — bastante para que 0 astronauta sequer reconheca a Terra onde nascetu. m Joseph Scheppach Peer dare) Contrapor a cién- cia a religido é coisa de gente pouco informada tanto em um como no outro as- sunto. Pru Sabatier 1ee0-1041 uimeo vaneds Se Deus € bom, nao po- de ser 0 autor de todas as coisas que acontece a0 homem. Platte costae rioeo pt Nao temo nossa extin- . O que realmente receio € que 0 homem arruine 0 planeta antes de sua partida Loran orso7r Saber que nao vou du- rar para sempre me consolador. A morte 6 fator essencial de mu- danea.e fonte de vida. Sobre as coisas que nao se conhece sempre se tem melhor opi Gontieg vive 1646-1716 Fibsafo and Trés é demais ‘Num dos intervalos para o ché da reunido ds Sociedade Real de Astronomia da Inglaterra, Sir Arthur Stanley Eddington foi importunado por um puxa-saco: “Professor, osenhor deve ser ‘uma das trés pessoas ‘no mundo que entendem a Teoria da Relatividade”. Fisico, astronomo e matemitico, autor da primeira dissertagio em inglés sobre a obra de Albert Einstein, Eddington nao se Qualquer pessoa pode ter conhecimentos, mas a arte de pensar é 0 dom mais escasso da natureza.. rreceeot, 9 Grande Peres Inporacr da Prissia Quando a medicina nao faz mal deveriamos ale- grarnos ¢ nio exigir que, além disso, sirva para algo. Parte de Benumarensie 1721708 Powe ances Em ciéncia, a autoridade de um milhar nao é supe- rior a0 humilde racioe’- nio de uma s6 pessoa Gatto Gatey teen teas iso talano ‘Si annur Stamey Eddington sentiu lisonjeado. Fez uma espécie de careta, que levou Ochato a se exceder: “Ora, também nao precisa dar-se ares de modéstia...”” Ao que O cientista respondeu: “Nao é modéstia, Apenas estou me perguntando quem sera essa terceira pessoa. Nao hé livro téo ruim que nao se possa apren- der nele algo de bom. Pinio,o Jovem ‘oatre Esertor mano O futuro permanece es ‘condido até dos homens que o fazem. Anatole France “esa-190e seater ances No campo da ciéncia aprendemos quéo grande €a.estranheza do mundo, ‘overt Oppenneiner 19081067 Fisco potesnerano Nao se pode alimentar famintos com estatisticas. Loyd George 1853-1945, Patt ngs Por que se mata as pes- soas que mataram ou- tras pessoas? Para de~ monstrar que nao se de- ve matar? A forca nao provém da capacidade fisica, mas da vontade férrea. Mahatma Gancns 1900-1988 Poiteoindiane A ciéncia 6 ineapaz de re- solver os mistérios finais da natureza, porque nds somos parte da. natureza €, portanto, do. mistério «que tentamos resolver. ax Plc 1666-1947 Freee some © mito consubstancia a maior aproximagao da verdade absoluta que pode ser formula- da em palavras. Cre por toda parte, a eer emi esté ameacada eed Peery ee cre Oalarme soa quando somem as PIS 7 BORBOLETAS Quando elas (rT rere ea) trecho qualquer da mata, é sinal de que EU merit muito grave esta acontecendo com aquele ecossistema. UE ed PT EMER) ele ed ee Ed Tee Ce Ree ae Co Peer eee ne eee ray de explorador, ja mio tem mais sentido — se € q chegou a ter, algum dia. Pois cacadores de borbo- pode orn ca Pe et nea CoS ON oad Rare eC Rn RNR ete PEYTON eRe Re Re ce Cs Eon ee ere et On Oe ec Ie. EI Oo OO eS Ue Sec rer ene SiN € quiosques especializados TO eR ec ee remem etn er Cee Ree TCNa mesas ¢ biombos executadas por encomer de essay delicadas borboletas, habitantes dos tropicos ami f eR ONE eer ee oe Oe aN eee ee CR Ree Pe ET Rs oN Sr Cre Per eee een egal ns ee Meas Ben ence eno CREM cea geo Re eR eee ae ee Cee os aday de extingao, mesmo submetidas a esse Fanti Pe eee ee ae oe Toe tne Sars ec eee ee Sn enero are PL ey erent # (0 azul metélico das _ mee PLACAR AGORA = ie sacs E MAIS PLACAR tm : . P le fazort-se bandejes, oS ‘ 5 bibet6s, movets ¢ NG E blombos. S80 necessérias 3 a mithares de asas pare aS OME: - Oy produzir uma peca dessas. _ * i S i i las alcangam precos s i E s fantésticos no exterior. ‘Assembiéia Nacional Constituinte Sao as fémeas que garantem a s0- brevivéncia das borboletas azuis, gra- gas a algumas peculiaridades "bem marcantes. Em primeiro lugar, elas sio extraordinariamente férteis: numa » tinica desova, uma dessas fémeas é ca- ‘ paz de gerar centenas de lagartas. Em ae | segundo lugar, elas nio so azuis — i le | ou, pelo menos, nao so muito azuis i f de modo que nao chegam a atrair 4 rengio dos cacadores. Finalmente, costumam voar muito alto, acima dda copa das drvores, fora do aleance de qualquer cacador. Resistem aos cacadores, mas no ao progresso azuis, bonitos, atraentes e voam baiso—e por isso engordam sozinhos aquelas estatst- ‘eas apresentadas pelos cientistas ingle- ses. Mas, por mais machos que sejam ‘capturados, sempre sobra algum para fe- ‘cundar as fémeas que voam ld no alto ¢ garantir, assim, a sobrevivéncia. Pode-se afimmar, portanto, que com redinhas & chapéus de explorador ndo se acabaré nunca com as borboletas azuis, por mais aasgs que sejam necessarias para fabricar moveis e bandejas, ‘Mas nao se pode afirmar que as bor- boletas, azuis ou que cor tenham, so- breviverdo a sanha predadora de um tipo de progresso. Antes de che- idade adulta, quando adquire sas € passa a gozar de ampla liber de, a borboleta passa uma fase rel: PLACAR VIROU UMA REVISTA MAIOR, MAIS COLORIDA E MAIS BARATA. ondicionada a viver agar laa uma espécie qualquer de vege- , gue the garanta a sol fornecendo-the alimento nas g quantidades de que ela tem necessida- de. As lagartas que se mostram exces- sivamente seletivas na escolha de sua planta-alimento esto, teoricamente, ‘S00 macho (no alto) Ineressa aos eacadores, por causa ameagadas, pois se 0 homem acabar | * das suas asas azuls. A fémea (abaixo) voa alto domals ¢ nao tem boas cores. com @ planta, acabara também com a 36 SUPER borboleta. E cada vez mais escasseiam no Brasil € nos demais patses da Amé- rica'Latina, as espécies nativas de bam- bus e ingazeiros, que fazem as delicias das larvas. Isso tem se tornado um: marcante, que as borboletas acabaram sendo reconhecidas como uma espécie de bardmeiro para detectar os ataques do homem ao meio ambiente. Foram cientistas americanos, europeus e ja- poneses que chegaram a essa surpreen- dente conclusio, a partir do alarme que soou na costa ocidental dos Esta- dos Unidos, mais precisamente na baia de Sao Francisco, na Califérnia Animais fluem na mata ‘como o sangue no corpo Lé estava localizado o tltimo recan to onde sobrevivia uma_ pequenina borboleta azulada, a Glaucopsyche Xerces, uma espécie que vinha se tor- nando cada ver mais rara. Depois que 65 tillimos exemplares de [61us nativos da bala de Sao Francisco foram de: truidos pelos servicos de aterro neces- sirios para ampliar a faixa urbanizada da cidade, a frégil borboletinha azula- da nunca mais foi encontrada. Suas k gartas alimentavam-se exclusivamente ‘eom as folhas do f6nus © desaparecimento da’ Xerces des- pertou a atengio dos cientistas para im fato de conseqiiéncias mais graves: se uma determinada espécie de borbo- leta escasseia, ou mesmo desaparece. numa determinada regio que antes © grave pode estar or ali com 0 equilfbrio ecoldgico. E simples: um ecossistema em perfeito eguilibrio pode ser com: parado a um organismo complexo, cu: jas fungdes se desenvolvem normal: mente. Ambos sao compostos por di- ferentes elementos, fixos ¢ méveis. Por exemplo, num ccossistema os ve- tais so elementos fixos, os animais elementos méveis. Tal como os componentes do san- , que fluem através dos 6rgios fixos do nosso organismo, certos anima fluem através de uma floresta, Ora, aguilo que num exame de sangue de” nuncia o mau funcionamento de um se- tor do organismo pode ser, talvez, a di- minuigio repentina dos gldbulos ver- melhos circulantes. Da mesma for a diminuigao da circulagao de uma bor. boleta numa clareira da floresta pode ser a primeira noticia de que, em al gum setor daquele ecossistema, as coi- sas ndo andam bem. B, tal como no or- 38 SUPER ganismo humano, bastard essa peque- na falha para logo fazer desandat tud Assim, torna-se urgente descobrir 0 gue esté errado, e comecar a corrigir. Pois, na natureza, corregdes desse tipo exigem um tempo enorme, Quanto in- tes comecarem a ser feitas, tanto me- thor. E sobretudo, quanto antes forem tomadas providéncias para evitar que 0 desequilibrio continue a se acentuar, tanto melhor ainda A Ascanius desaparece Por falta de alimento Voltemos agora a Xerces, que desa- pareceu da bafa de Sao Francisco. In- Gignados com 0 que havia acontecido ali, cientistas americanos fundaram uma associagéo, batizada com 0 nome da borboletinha — a Xerces Society , € dedicaram-na ao estudo dos pro- blemas do meia ambiente, a extingao das espécies e, nesse capitulo. em par- ticular, das borboletas, por eles desde entdo consideradas ¢ proclamadas co- ‘mo valiosos ss de alarme contra agressOes & Natureza Agui no Brasil, ja falta pouco para que tenhamos ¢ nossa primeira borbo- Teta extinta pela acéo irrefreada dos predadores humanos do meio ambien: te, Ela se chama Parides ascanius, ¢ Sempre habitou uma faixa estreita ¢ curta do litoral do Rio de Janeiro. ju tamente a area do litoral brasileira que mais vem sofrendo os efeitos da voracidade imobilidria que abocanha praia apds praia. Ela é uma borboleta de asas negras, listradas de branco e grend, Nabitante dos mangues e das Do acasalamento surgem cantenas de oves (oto 2) que logo evoluem ‘para a forma de larvas (foto 3), vorazes consumidoras de folhas. Mais tarde elas se transformaréo em crisdlides (fol0s 4 0 5), que, a0 longo co tempo, sofrerdo transformagées, mudando de cor. Nos fotos 6 e 7a borboleta (nesta Sequéncia uma Methoratnemisto) 78 ost se libortando da erisalida, ‘para logo aparecer em todo seu colorido, pronta para voar. matas litorineas. Suas larvas alimen- tam-se com as folhas de uma trepadci ra silvestre, a Aristolochia macroura, ma planta rara € venenosa © caso dessa borboleta e de sua lanta-alimento é um bom exemplo de como se faz, a0 longo de um tempo que se mede por milénios, a evolucio de um relacionamento bioid po inseto-planta, A Aris parte de um grupo de pl caracterizam por estar sempre em guerra, defendendo-se qui dos. atagues dos animais herbivo- ros. Mas sao exatamente as substin- cias venenosas que clas usam para se proteger desses.animais que mm como chamatri SUPER 39 cie particular de herbfvoro. No caso, a Parides ascanius. Durante um longo processo evoluti: yo, certos animais foram selecionados pelos mecanismos bioquimicos, opera- dos pela prépria fisiologia dos vege- tais, € tornaram-se dependentes de uma tinica planta venenosa. Assim, 9 que para 0s outros bichos se tornou um fator de repulsio, em relacio Aquela planta, para o eleito se tornou um fator de sobrevivencia. Instalados através de raizes, caules ¢ folhas, ¢s- ses mecanismos caprichosos, gerados por uma alquimia vegetal quase mégi- a, definem com extrema preciso &s- sas dependéncias alimentares dos ipse- tos. Na raiz dessas intrigantes mani- festacdes bioguimicas estdo entidades microscdpicas, enoveladas sobre suas malhas de ligagdes atémicas: os alca- I6ides. Sao compostos orginicos capa- es de operar profundas alteracoes fi- siol6gicas no organismo dos animais Aristolochia é mortal. Mas pode curar também So essas substancias que determi- nam quem come 0 qué nas dietas ve- getarianas dos animais herbivoros ¢, automaticamente, protegem as plantas contra uma legido de possiveis atacai tes famintos. Os alcaldides so ambi- guos, podem servir como remédio, cu- rar doengas, tanto quanto podem ma- tar. Os que se enquadram nesse se- gundo caso sio considerados venenos naturais, € as plantas que 0s elabo. ram, conseqilentemente, so classifi- cadas como venenoses. A Aristolochia € uma dessas plan- tas. Ela produz um alcaldide particu- lar, a aristoloquina. Foram necessérios alguns milhdes de anos de evolugio conjunta entre aristoléquias pré-hist6- ricas e certas lagartas irogloditas para que, lentamente, se desenvolvesse a tolerancia a aristoloquina demonstra: da pelas lagartas da borboleta Parides, Atualmente, quase todas as lagartas dessa espécie alimentam-se exclusiva- mente das folhas indigestas da Aristo- lochia, mortal. para todos os outros herbivoros da floresta J4 0 homem, com sua capacidade de investigar, descobrir € operar mu- dancas e (ransformagdes. vem usando a aristoloquina hd muitos & muitos. Acor éumaarma ec uma armadilha Dorin meritico que ta cin ar as asas de uma borboleta azul ndo é um enfeite. Ele confere ao inseto um precioso recurso para esquivar-se dos ataques de passa: ros predadores. Quando mergulha em direcao a uma borboleta, o passaro tenta enfiar a cabeca entre Suas asas pata apanhar, com 0 bi- co, 0 corpo pequeno de sua presa Que € 0 que Ihe interessa. Se errar 0 golpe, a borboleta te- 4 alguns segundos para executar uma série de acrobacias se em- brenhar no, mato, para fugir a per- segui¢io, E nessas ocasioes que 0 rapido abrir ¢ fechar das asas de colorido metilico produz uma su- cessao_ de lampejos desencontra- dos. O ziguezague da evasio im- pressiona a retina da ave com um salpicado de flashes, fazendo perder os verdadeiros. posiciona- mentos da borboleta Mas é esse mesmo brilho metéli- co que livra @ borboleta azul dos péssaros que a tornou cobicada por ‘outro perseguidor: 0 homem. Sao cacadores profissionais que forne- ‘eem a matéria-prima para o com cio internacional, e seu trabalho j4 se fornou um excelente negécio. Afinal, o resplandecente azul-me- télico esses insetos € algo muito aro na natureza, € mesmo entre as borboletas. dos trépicos poucas s: as espécies que o possuem: © colorido das borboletas, em geral, € produzido por uma, nume- Tosa ‘concentragao “de minasculas plaquinhas alinhadas sobre as asas, que sio as escamas. Trata-se da- quele conhecido porinho (errada- mente considerado perigoso) que Sioasescamas que coneentram 2 cornas asas das borboletas azuls, gracas a decomposi¢ao daluz-solar sobreas arestas das finissimas ranhuras que elas apresentam. ‘Quanto mais escamas, ‘mals.cor. as borboletas largam em nossos de- dos quando as agarramos_pelas sas. Nas escamas brilhantes des borboletas azuis a cor € considera- da estrutural, pois € criada pela in- cidéncia da luz sobre a estrutura das escamas. Essa cor azul € produzida pelo fe- nomeno ético de decomposicao da luz solar sobre as arestas de finissi- mas ranhuras paralelas, encontra- das na superficie de cada escama, O fendmeno pode ocorrer em muitas espécies de borboletas e sua maior ‘ou menor intensidade depende do mumero de escamas geradores de cores estruturais que elas apresen- tarem sobre as asas. Entretanto, na maioria das espécies, 0 colorido € produzido pela composicéo quimica de um pigmento difundido sobre cada escama. 40 SUPER. ‘A Atistolochia fem veneno e muttos nomes: ‘anos como remédio. Na Grécia anti- 2a, os extratos de suas raizes eram uti- lizados pelas mulheres para. garantir partos perfeitos. Aliés, foram os gre- gos quem deram nome & planta — aristos, © melhor; lokkeia, parto. Nao 4 nenhuma diivida quanto & agio be- néfica exercida pela aristoloquina so- bre 0 aparelho genital feminino: ela favorece a menstruagao, ativa as con- tragdes uterinas ¢ acentua nitidamente as descargas vaginais do pés-parto. Usada com moderacao, a aristolo- quina é fantistica. Calmante, diuréti- ca, antisséptica e febrifuga, pode fun- cionar, de quebra, como um excelente tOnico digestivo. Isso ¢ apenas 0 que sabemos dela com certeza, Mas, além disso tudo, ela j4 foi apontada ‘como um eficiente cicatrizante de feridas ¢ iilceras rebeldes, um bom remédio pa- ra combater orquites (inflamacées dos testiculos) e certos tipos de paralisia, e auxiliar eficiente no combate ao béri- beri. Usada sem moderacao, @ aristo- Joquina se revela o veneno que é: pro- duz néuseas, diarréias, taquicardia e, ‘em casos extremos, chega a provocar tum quadro clinico complicado, chama- do embriaquez aristoléquica, caracteri- mil-homens, flor-de-sapo, papo-de-peru, jarrinha, casa. zado por sérias perturbagdes mentais. Isso & muita coisa, sem dtivida ne- nhuma, mas é bem possivel que a Aris- tolochia ainda seja capaz de muito mais. Acontece que as espécies nativas brasileiras foram pouco estudadas pela bioquimica, até agora. Infelizmente, essas curiosas trepadeiras silvestres jd se tomaram muito raras nas matas da regiao do Rio de Janeiro, devido as agressoes sofridas por seus ambientes naturais. Assim, é muito provavel que rnem cheguemos a conhecer tudo 0 que elas poderiam nos oferecer, se as tra- tassemos com mais carinho e atencao. E junto com a Aristolochia extingu se, pouco a poco, a nossa bela e frag borboleta Ascanius, que s6 sabe ali- ‘mentar-se com as suas folhas que todos 95 outros bichos consideram veneno mortal. Na verdade, para essa borbole- ta original, a Aristolochia representa muito mais do que um simples alimen- to; & uma verdadeira garantia de so- brevivéncia mesmo na fase adulta, Pois. a toxicidade e 0 cheiro do alcaldide da planta passam a fazer parte do corpo da lagarta, que come as folhas, ¢ conti- nuam integrados na borboleta, mesmo na fase adulta. Isso confere a Ascanius uma segura defesa contra seus preda- dores, passaros em particular Tronicamente, as poucas ¢ raras la- gartas da Ascanius ainda existentes no Brasil, talvez as Gltimas, sio cultiva- das e preservadas, em cativeiro, por um cacador de borboletas que hé mais de quarenta anos se dedica a capturar ¢ exportar esses belos animaizinhos para varios paises. Trata-se do catari- nense Herbert Miers. Atarantado com as exigéncias burocriticas do governo para que possa exportar suas azuis — registro, alvaré ¢ manter uma criacio de larvas —, ele reclama: “Isso s6 faz sujeira, nZo é eficiente™. Eficiente se- prestar atengio aos alarmes natu ‘ais — como as borboletas que desa- parecem das matas —e corrigir as dis- {orgdes que os fazem soar. . Roberto Muylaert Tinoco ‘Borbolotas — Livro do Naturalist {it Sotedage Otro, Ears NEC = FAE Ro do anova. 1866. ‘Gelege Zoe Sraaten 10 une, Snes, Eolera Mate, Bolo Honzone, ‘008 SUPER 41 FOTOGRAFIA Quando “id Guia Cal ddgua ragas 2 camera fotografia ult rapida, vooé pode acompanhar 0 que acontece quando uma gota de agua (colorida de vermetho) | cai numa superticie de agua em epouso (colorida de azul). A agio con- tida nessas quinze fotos durou 1/8 de -gundo e comecou quando a exatamente sobre a superficie da agua em repouso, Na segunda foto, ela ja ‘mergulhou pela metade, mas ainda con: serva sua forma Nas fotos seguintes, € possivel obser- var como a gota desloca um volume de gua igual ao seu (conforme o Principio de Arquimedes), A ‘agua azul deslocada forma uma espécie de coroa, que se alar- a1como se fosse uma cratera, Em s destaca, na superficie da gua uum cone que eresce, se 3 sua ponta uma bota. que raras dele: € a primiiva bola vermetha§ {ue voliaa subir, A agua sermetna fot absorvids se mist nsdo superficial, que § leva cada iquido a procurar manter sua 5 forma original. Na primeira vez, a gota olpeou a erte com uma detern nada forga e consex sem deformar-se. Mas, quando eair segunda vez, encontra saul em & tum tran hamado flaca laminar reversivel. w0- taainda conservard sua forma, mas ca dda vez eaird de mais baixo e com menos forea — até que sua energia se iguale 2 da agua azul, Entio, as moléculas das 8 das se misturarao. ' 42 SUPER SUPER 43 ‘odem até parecer partes de um novo quebra-cabegas essas.per- gun — 0 que ha de comum entre o ngimero de escamas de certas espé- cies de peixes © 0 niimero de seg- mentos da superficie de uma pinha? — Qual a relacio entre a disposi- ‘¢d0 dos ramos e das folhas de algu- mas drvores ¢ a métrica definida em alguns poemas de Virgilio e de ou- tos poetas romanos? © trago comum que responde a essas € a uma centena de outras perguntas, sugeridas na revista Fibo- nacei Quarterly, editada pela Asso- ciagio Fibonacci da California, pare- ce estar escrito na natureza e nas artes € foi formalmente lido por um exuberante matemitico, Leonardo. de Pisa, ow Leonardo Pisano, ou ‘ainda Leonardo Fibonacci, por volta do final do século XII ¢ inicio do. século XII de nossa era. Tempos dificeis, aqueles. Estava-se em plena Idade Média, quando descobertas © conhecimento circulavam muito lene tamente, pois as cidades se isolavam ‘umas das outras e os livros eram ra- 05 e caros — afinal, sequer fora in- ventada a imprensa. No Ocidente os algarismos arabi- os ainda eram pouco conhecidos, de modo que os mimeros ram anotados de varias formas, todas complicadas, = Por Luiz Barco ‘como por exemplo os nossos conhe- cidos algarismos romanos, formados por letras. Pouco se sabe da vida de Leonardo, a nao ser que era filho de um mercador de Pisa, Certamen- te por forca do trabalho, que 0 co- locava em contato. com os _drabes que mantinham ativo comércio com ‘a Europa atraves das cidades italia- nas, © pai aconselhou 0 filho a estu- lar’ as téenicas de céleulo orientais, imaginando que elas Ihe seriam tteis no futuro, quando assumisse 0 co- mando dos negécios da familia © consetho foi seguido quando Leonardo ainda era menino € 0 pai foi _viver uns tempos no norte da Africa, como uma espécie de repre- sentante diplomitico da comunidade we Wy WY WF Ye VI VY A progressio dos casals de coelhos {quo se reproduzom ‘mensalmente. Ao fim de um ano, ‘ou doze meses, eles serao 144 casals (om vormetho, (08 casals f6rtols) WI YS YY YY WY YE Ve VY WY Wa Ve Ve VY 44 SUPER O cientista é um privilegiado leitor da natureza Veja como a seqiiéncia de numeros,descoberta na Idade se Média, estatambém f nas plantas, nos animais,na arte R grega, nos versos latinos estudou céculo com um mestre ara be ©, embora jamais tivesse se tor- nado um comerciante, soube apro- veitar sua utilidade. Como matem: tico, ele foi um i io daquelas técnic sobretudo dos. algarismos ardbicos ‘que tanto simplificaram a Aritméti- a, embora ele pessoalmente nao os chegasse a utilizar largamente cm seu trabalho. Seu livro, completado em 1202, recebeu um titulo que nao the faz justice: Liber Abact ou Livro do Abaco. Abaco, na sua forma ma simples, € uma moldura retangular, com arames onde correm pequenas bolas que servem para cilculos ele- mentares de Aritmética. Ainda hoje muito usado nos paises orientais. Muito do que o livro contém nao chega a interessar nos nossos. dias. Mas alguns dos problemas ali expos- tos foram a alavanca de-numerosas consideragées mateméticas que se sucederam nos séculos seguintes © que mais inspirou as geragoes posteriores de_materndticos foi esse intrigante problema: Quantos pares (um macho ¢ wna fémea) de coelhos sero. produzidos em wm aro, comecando com um tinico par, se em cada més cada par gera um novo par que se torna fertil @ partir do segundo més? Este célebre problema da origem 4 seqiiéncia que leva © nome de Fibonacci Quantidade de pares do 1 més 1 Quantidade de pares do 2° més 1 Quantidade de pares do 3° més 2 Quantidade de pares do 4.* més 2+1 Quantidade de pares do 5. més 3+2 Ou simplesmente 1, 1, 2, 3, 5, 8 13, 21, 34,55, 89, 144, Observe que cada term, apés os dois. primeiros, € a soma dos dois imediatamente precedentes. Com um pouco de esforgo qualquer pessoa medianamente treinada podera criar ‘outras seqiténcias desse tipo. Mas o que certamente nenhum leigo conse- guird — e é isso que tora a se- qiéncia de Fibonacci deveras inte- ressante — € a frequéncia e a varie- dade de suas aparigoes na natureza © nas artes. i Wy i2 oes, cxzmplos: 0. nimero de pequenas flores que formam 0 miolo do girassol € um dos nimeros da seqiiéncia de Fibonacci; 0 nime- to de escamas de certos peixes e 0 nimero de segmentos da superficie de uma pinha sio nimeros da se- quéncia de Fibonacci; pode-se verifi- cat que Virgilio e outros poctas ro- manos escreveram poemas nos quais métrica esta definida conforme ag tegras da seqiiéncia de Fibonacci. Num artigo sobre simetria, Hermann Weyl, notavel matematico efi alemio radicado nos Estados Uni- dos, que foi companheiro de Albert Einstein, mostra uma ilustragio da concha do Néutilo, um caracol. Ali se observa uma espiral logaritmica, que tambem € encontrada nas flores do girassol gigante. Neste, na verda- de, sto duas séries de expirais log ritmicas, entrelacadas_em_ sentidos ‘opostos. Outras investigagées no campo da Botinica tm mostrado que as fragdes que representam a disposigao espiral das folhas nos ra- mos sio, com freqiiéncia, membros da sequiéneia de Fibonacci: 8 13 1 No esplendor da Grécia antiga, no século V aC. ‘cola mate- mitica chamada Pitagérica, um no- me que vem de sua maior figura, Pittgoras de Samos (580-500 a.C. aproximadamente), criou um simbo- lo muito especial: 0 pentagrama ou tragando-se as cinco diagonais do pentagono regular (A B CD E). ity ees LY O pentigono estrelado e suas dlagonais éureas £ interessante observar que essas dia cortam-se_formando novo pentégono (A’ B’ C’ D” E’), opera io que pode ser repetida 4 vonta- de. Essas diagonais e seus pontos de encontro guardam uma —relagio curiosa: ——— ‘A razao, ow divisio, entre sua medida (BD) ¢ a medida de seu maior pedago (BA’) € igual & razio, ow diviséo, entre seu maior pedaco (BA’) © seu_menor pedago (A’D). Essa razio foi denominada, quase dois mil anos depois, secao durea de um segmento, Ela foi usada larga- mente pelos gregos como um padrao Dessa seco dwea, ou proporcao durea, obtém-se uma equacdo de Se- gundo grau cuja raiz. positiva resul ta, aproximadamente em 1.61803. E exatamente para esse valor que con- verge a seqiiéncia de fragdes cons- truida pelos botinicos. Efetuando-se as divisbes, quanto mais avancarmos nessa. seqiiéncia mais proximos che- garemos dle 1,61803, 2156 1625 eet J stn 1 5 ae) Vemos, assim, que 0 critério esté- tico que herdamos da Grécia antiga Pode matematicamente ser descrito como uma propriedade da sequéncia de Fibonacei; 2 mesma propriedade usada pela natureza para construir flores © caraccis. Parece ter razio quem defende a idéia, discutivel, de ue 0 cientista nao cria, mas tem si- 0 um privilegiado leitor, capaz de entender uma linguagem nem sem- pre imediatamente perceptivel, sob a qual a natureza foi construida, ou ceriada, ou simplesmente escrita, = Lulz Barco ¢ protessor oa Escola ce Comuni- cagdes @ Artes da Universidade de Sio Paulo, ‘SUPER 45 MEDICINA Levou milénios para ser 0 que é, funciona com a forga de uma bomba € 0 ritmo de uma metralhadora, daa impressao de fabricar todas as emogoes, pode trabalhar sem descanso durante mais de um século, mas tem poderosos inimigos externos alve 0 coracao esde que 0 mundo é mundo, 0 coracao considcrado a sede dos sentimentos —¢ assim conguistou um lugar de honra na linguagem e na lit ratura produzida ha milhares de anos. $6 no Antigo Test mento, por exemplo, 0 cora- cdo € mencionado nada me- nos que oitocentas e cingiien- ta vezes, Nas ltimas déca- das, porém, 0 mito comegou @ perder a aura, Os sucessi- vos avangos da ciéncia pa ram a desvendar, um a um, os segredos desse Srgio tide como 0 mais nobre, sendo 0 mais importante, do corpo humano. © primeiro trans- plante cardiaco, realizado em 1967, causou tanta sensacao quanto a chegada do homem 2 Lua, dois anos depois. Ho- je, sequer se fala nisso, t rotineiras e variadas se torn: ram as possibilidades de tra- tamento em cardiolo; © que sempre foi reveren- ado como matriz das emo- (es ¢ descrito com frieza cli- nica apenas como um muiseu- lo oco, do tamanho apro: mado de um punho, que pesa entre 280 © 340 gramas nos homens € de 230 € 280 gramas nas mulheres. Sabe-se também que 0 co- 70 € uma maquina tremendamente efi trabalham em sincro jindo-se e relaxando-se a cada batida, p bombear cerca de cinco litros de san- gue oxigenado, cheio de vida, ao or- ganismo. Essa operacio se repete umas 80 vezes por minuto. Assim. 0 coragio pulsa 4 800 vezes por hora, 113 mil vezes por dia e 41 milhdes de 46 SUPER ‘A rigor, pode-se dizer que 0 cor Gio apareceu e evoluiu em conseqiién- Gia da sofisticacao da vida no planeta. ‘A medida que os seres vivos foram desenvolvendo mais drgaos e fungoes. maior se tornou a necessidade de um sistema que levasse substancias nut tivas para todo 0 seu corpo. Nos seres ‘mais primitivos — unicelukires, como as amebas, por exemplo, e alguns plu- Mas nem sempre ele ricelulares, como 03 corais nao ha indicio desse sistema circulatorio. Os _ alimentos so absorvidos. diretamente do meio ambiente e dissolvi- dos no corpo. No caso dos pluricelulares. a absore feita por uma cavidade tiva, que passa 0 alimento as células _proximas. uma série de contracdes faz com que as eélulas troquem seus liquidos internos entre si, transportando, dessa ma- neira, 0 alimento, Jas esponjas — embora sejam contemporaneas desses seres primitivos, surgidos hd mais de dois bilhoes de anos sportam as substancias pelo corpo de forma diferen te. Por motivos ainda desco: nhecidos, em ver de passar os alimentos de eélula a céln: la, as esponjas tém canais por onde a agua circula, en: trando pelos poros. A igus vai até uma cavidade cenira e volta distribuindo as subs tancias, Intimeros. flagelos existentes dentro dos canais, se movimentam. ajudando @ liquido avangar, Os canais das esponjas até podem ser fs antecessores das artérias, mas nao se pode dizer que. por caus disso, esses seres tém um sistema cir culatério. O sangue como solvente do organs: mo, as ariérias flexiveis e uma espécic de bomba hidrdulica, capaz de manter a circulacao constante — enfim. 0s ele ‘mentos basicos do sistema circulatorie —aparecem somente cerca de | bilhac € 50) milhdes de anos mais tarde. Hi 570 milhdes de anos, um coragio cud: ‘mentar surge nos anelideos, como sik chamados os animais da familia das mi mhocas. De fato, 0 que se considera co- racito no anelideo sao cinco artérias em forma de anéis que se encontram em torno do aparelho digestivo, Na verdade, existem coracdes e co- ragdes. Algumas espécies, que surgi- ram bi hoes de anos, como os crustéceos e os moluscos, desenvolve- sistemas cireulat6rios abertos, ou seja, coragdes em forma de tubos, que ondulam de trés para frente, bombean- do 0 sangue para as artérias, que. por sua vez, desembocam em lacunas den- tro do organismo. Ai o sangue entra vol- tando ao coragio pelo mesmo can nho. Os insetos, que apareceram m. tarde, hd 250 milhoes de anos, também {em sistemas circulatorios abertos, Ja no sistema de cireulacao fechado, presente nos vertebrados — e sabe-se 1é por que razao nas minhocas, com seus anéis-coracées — nfo ha lecunas. O sangue Yiaja por uma complexa re Poe Hoje, a ciénc ree roses ae! Ce rae ee eer Coenen irey eras rey ets Sy ater) rena ey ts) de de canais cada vez mais estreitos & com paredes cada ver ma pelas artérias (como sio canais que partem do coracio). que se ramificam em. arterfolos. Finalmente, © sangue percorre os milimétricos ca” ‘AS substincias, como 0s assam para as c¢lulas e as células, por sua vez, devolvem outras clas a0 Sangue, através das pa- redes desses capilares. Finalmente, 0 ue faz 0 caminho de volta pelas (como so chamados os canais que chegam ao coragio). A essa altura da evolucdo das espé- cies, quando a cem 05 peixes, ha cerca de 400 milhoes de anos. © dos seres humanos, por estar dividi- do em cimaras. O coracdo do tuba- io, um dos mais antigos animais ver- tebrados, possui, por exemplo, uma camara superior chamada auricula e outra, inferior conhecida por ventriculo. A auricula recebe © sangue do corpo ¢, ao s¢ contrair, o expulsa para © ventriculo. Este, por sua vez, com suas paredes musculosas, bombeia ‘com toda forga o sangue para 0 corpo; as vavulas impede que ele volte. Do grande vaso central, que sai do cora- eGo do tubario, 0 sangue passa para uma das oito artérias branquiais, que se transformam em capilares, jd no i terior das branguias, onde o exigénio € captado. Enquanto a vida que se prezava transcorria debaixo d’égua, esse coragao dividido em duas cama” ras dava conta do recado. Mas, 20 surgicem animais com respiragio pul- monar, ha 340 milhdes de anos, 0 co- ragdo precisou mudar de novo: adqui- riu uma terceira camara. No crocodilo, o primeiro coragao em quatro partes Os anfibios possuem dues auriculas € um ventriculo. A auricula esquerda acolhe 0 sangue oxigenado vindo dos pulmées; a direita recebe o sangue que acabou de circular pelo organis- mo. No ventriculo, 0 sangue arterial e ‘© venoso se misturam, antes de partir rumo aos pulmdes e demais érgdos. © coragio com trés partes dos anff- bios foi uma boa solucdo encontrada pela natureza — mas ndo a melhor. A bomba propulsora mais eficiente seria ‘conseguida pelos crocodilos, um dos. itimos répteis surgidos na Terra, ha 130 mithdes de anos. Seu coragéo tem quatro. divis6es. E praticamente 0 mesmo coracao das aves e dos mamt- feros, que vieram muito mais tarde — ha 26 milhdes e 2,3 milhdes de anos, respectivamente. Ele opera, ao mes” mo tempo, dois tipos de circulagio — ow seja, uma ida-e-volta aos puimdes € uma ida-e-volta ao restante do cor- po. O misculo ja tem, entéo, o seu caracteristico perfil triangular. No ho- mem, situa-se quase no centro do cor- po. Sua auricula direita — ou dtrio di- reito, como também é chamada — ca na parte superior e recebe o sangue do organismo ao relaxar-se. Esse é um sangue escuro, porque distribuiu todo © oxigénio pelos érgdos, recebendo, em toca, 0 gis carbonico produzido nas células apés a queima do oxi nio, Numa contragéo, a auricula em- ppurra o sangue para o ventriculo direi- to, logo abaixo; imediatamente, fe- cha-se a valvula que separa essas duas ‘cimaras, impedindo que © liquido vol- te. A valvula chama-se tricispide, porque da a impressio de estar dividi- daem trés. 48 SUPER Do ventriculo direito, numa segunda contragdo, 0 sangue sai por uma arté- ria grossa e forte, que se bifurca em dois ramos, um para cada pulmao. Lé, ‘© sangue troca 0 gés carbnico por uma nova dose de oxigénio ¢, por isso, assume uma tonalidade vermelho vivo. O caminho de volta a0 coragio ¢ feito por quatro veias pulmonares, duas de cada lado. O sangue, entdo, chega 20 trio, ou auricula esquerda. Dai, numa ‘contracio, desce para o ventriculo es- querdo e, mais uma vez, uma valvula se fecha, para que 0 sangue ndo volte. Esta € a valvula mitral, porque sua ponta bipartida lembra uma mitra, 0 chapéu usado pelos bispos. O ventricu- lo esquerdo — onde se da a etapa final da circulagio pelo coracio — € bem mais forte que o ventricuio direito. Faz sentido. Afinal, enquanto o lado direi to do mésculo manda o sangue apenas para os pulmées, 0 esquerdo deve eje- tar 0 liquido, num movimento vigoro- 50, para todo 0 corpo, como se estives- se Ihe dando um verdadeiro empurrdo inicial. ‘O sangue parte do coracio pela aor- ta, a mais espessa ¢ larga artéria de todo 0 organismo, € percorre uma ‘enorme rede de tubos. As veias ¢ ar- térias, que séo clésticas, ajudam o ‘sangue a correr, com pequenos movi- mentos, Por isso é que o sangue € ca- paz de dar uma volta inteita pelo cor- po em apenas um minuto, aproxima- damente. Nesse percurso, 0 Iiquido faz de tudo um pouco: transmite men- sagens quimicas de um ofgio a outro, através dos horménios; alimenta e, 20, mesmo tempo, recebe toda espécie de excretas das células. Tradicionalmente, 0 coragéo foi comparado com uma bomba. Ainda hoje, essa € a analogia que ocorre aos leigos. Mas os cientistas jé adotaram ‘reas mals irigades do organism. ‘uma imagem mais precisa: a da metra- Ihadora automética. De fato, o miiscu- lo se contrai, num movimento chama- do sistole, ¢ imediatamente se expan- de, na chamada didstole, com bastante forca, contorcendo-se | bruscamente. Mas isso ndo significa que 0 corago necessite dle energia para os dois movie mentos: a mesma forga que ele utiliza para contrair-se é usada, na seqiéncia, para aspirar o sangue. Ou seja: quando O coragdo relaxa, permite que o sangue entre automaticamente. Daf a idéia da metralhadora, que nao precisa ser re- carregada constantemente, coracdo parece um drgao essen- cial demais para ser governado apenas pelo cérebro. Seus disparos sao. con- trolados também por um sistema ner- oso proprio. O cérebro envia suas or- dens na forma de impulsos elétricos, que indicam a freqiiéncia e a amplitu- de das contragées. Assim, exigira que ‘Ampltacao de um capliar: canal imilimétrico que chega #s células. © coragio trabalhe mais depressa se 0 corpo estiver em exercicio; ou manda- 4 que bata mais lentamente, durante © sono. Jé o sistema nervoso do cora- Géo, localizado num pequeno nédulo sobre 0 étrio direito, cuida que 0 mii culo cardiaco nao perca a. sincro ‘a0 mesmo tempo em que os ventricu- los expulsam o sangue, j4 estio rece- bendo mais sangue das auriculas, e as- sim por diante. AS vezes, por causa de infecgoes, traumatismos ou mé irrigacdo, 0 cora- Go passa a receber dois comandos proprios. Forma-se um segundo ¢, em alguns casos, até um tercciro nédulo nervoso. [sso provoca uma doenca chamada arritmia, Submetido a ot dens diferentes, 0 coracéo se desgo- verna, Nao recebe nem expulsa 0 san- gue. E a parada cardiaca. Para com- bater a arritmia, a medicina desenvol- Yeu um pequeno aparelho, instalado No peito: © marca-passo. Quando o coragio ameaga parar, 0 marca-passos emite descargas elétricas entre 20) € 400 volts, 0 que o obriga a trabalhar. © marca-passo é apenas um entre os cada vez mais numerosos recursos aperfeigoados pelos cardiologistas pa- ra prevenir, remediar ou compensar 0 mau funcionamento do coragao. Dro- gas controlam os depésitos de gordura nas artérias, para impedir que fiquem obstrufdas; ‘Sendo impossivel evitar a obstrucio, cirurgias substituem as ar- térias invélidas; eletrocardiogramas. sio complementados por exames mui- to mais complexos, como tomografia computadorizada (que consiste em analisar a imagem do coracio, obtida por raios X, com a ajuda de um computador). A revolucao das cirurgias de transplante cardiaco A maior proeza da ciéncia, porém, foi tomar o coragao substituivel, Tudo comecou no dia 3 de dezembro de 1967, quando o médico Christian Bar- nard, do Hospital Groote Schuur, na Africa do Sul, anunciou que havia realizado 0 primeiro transplante de coragdo em um ser humano. O pa- iente, que sobreviveria apenas dezoi- to dias, era Louis Washkansky, de 55 ‘anos, portador de uma doenga fatal nas corondrias. Ele recebeu 0 eoracio de uma mulher, Denise Ann Darvall, morta em acidente de carro. Wa: shkansky morreu porque seu organis- mo nao aceitou 0 coracio estranho. De fato, a rejeigio revelou-se o maior ‘obsticulo no caminho dos transplan- tes, Nem por isso eles cessaram de imediato — muito ao contréri Nos doze meses seguintes & cirurgia pioneira do doutor Barnard — que se tornaria uma celebridade — 96 trans- plantes foram realizados no mundo. A moda s6 comecou a arrefecer na vira- da da década. No inicio dos anos se- tenta, @ freqiéncia dos transplantes caiu drasticamente, e, com 0 passar do tempo, outras’alternativas mais ‘atracntes passaram a ser pesquisadas.. Hoje, 0 problema da rejeicdo esta sob controle ¢ a medicina deu outro passo figantesco 20 criar o coragao ati frata-se de uma bomba_propulsora metélica, capaz de substituir 0 coragao humano. Considerado a solucao ideal para of casos incurdveis, o coragio ar- tificial tem a evidente vantagem adi- ional de nao se desgastar com 0 es- tresse provocado pelas tensoes da vida SUPER 49 A Bens seit meses aps o primes ro transplante de coragao reali- zado,no mundo, a equipe do profes- sor Euryclides de Jesus Zerbini, do Hospital das Clinicas de Sao Paulo, ‘anunciou, a 26 de maio de 1968, que - 0 boiadeiro Joao Ferreira da’ Cu- nha, um matogrossense de 23 anos. havia recebido um coragéo novo. O paciente parecia ter reagido bem a ‘operagao. Mas, passados 21 dias, 0 coracao de Joao parou por 90 se- gundos € cle voltou & UTI. O pro- blema foi contornado. Seis dias de~ is, porém, uma segunda crise ma- foublos Borsdns le acute, nao porque a cirurgia tivesse sido malsucedida, mas porque seu orga- nismo rejeitou 0 coracéo transplantado — como vi- nha acontecendo em toda parte com pacientes com coragio novo. O segundo transplantado brasileiro, 0 comerciante Ugo Orlandi, chegow a so- breviver 13 meses e 13 dias, morrendo em outubro de 1969. Nesse meio tempo, ‘um terceiro transplantado sobreviveu apenas dois me- ses. Mas foi a morte de Or- landi que induziu os cardio- logistas brasileiros a decre- felizmente, aqui nao se faz pre- vengio de doengas do coracao”, cri- tica 0 professor Radi Macruz, da Universidade de Sao Paulo. AS ci rrurgias para correcio de problemas de vilvulas, por exemplo, nfo tém resultados duradouros: 05. proble- ‘mas yoltam apés cerca de dez anos =e, se isso ocorre repentinamente, fa pessoa morre. As deficiéncias nas valvulas, que respondem por 15.a 20 por cento das cardiopatias no Bras sil, tém uma causa tinica: a febre reumética, causada por uma infec gio, @ estreptococcia, que atinge cerca de trés em cada cem bra ros. “Bastaria que 0s portadores da doenea fossem identificados”, ob tarem uma moratéria nos fransplantes de coracao. ‘Como explicou, na época, 0 professor Zerbini, eles esta- Vam_ sispensos, “enquanto Euclydes Marques, do Hospital das Clinieas, com 0 equipamento de laser: técnica revotucionérla no se encontrassem medi- ‘camentos que realmente evitassem as rejeiedes. Com isso, 0 Brasil s6 reto- mou a corrida dos transplantes em 1979. “A rejeicio esta controlada ¢ realizamos esse tipo de cirurgia tao bem quanto em qualquer iugar do mundo”, diz. professor Adib Jate~ ne, diretor do Instituto do Coragao (lncor) do Hospital das Clinicas de Sao Paulo. Em matéria de coragao, por sinal, © Brasil oferece um retrato contea- dit6rio, Faz-se, no pats, todo tipo de cirurgia cardiaca ¢ também se desenvolvem tratamentos. revolu- ciondrios. Em compensacao, au- menta, @ cada ano, 0 mimero de pessoas com problemas cardiacos setva Macruz, “e tomassem um comprimido de penicilina por dia. Em conseqiiéncia, teriamos quase 20 por cento de cardfacos a menos.” niimero de pessoas com ateros- clerose (entupimento das corond- rigs) também esta erescendo, por falta de campanhas de prevencio. Logo aumentara bastante o nimero de cirurgias para corrigit 0 proble- ma. Em todo caso, 0 Brasil oferece ‘as mais avaneadas alternativas a0 bisturi, como a angioplastia, técnica utilizada em Sao Paulo — pela pri- meira vez no mundo — ha trés ‘nos: um cateter (tubo com largura de trés milimetros) € colocado mu- ma artéria do brago ou da perna e No Brasil, mais doentes e mais inovacdées chega até 0 coracio; dentro do co- ragio, é inflado por um balao de ‘gis, de modo a comprimir os dep6- sitos de gordura. Mais revoluciondria € a angio- ‘da no Brasil, ainda em fase experi- mental. Mediante essa tecnica, se destréi tudo o que obstruir a arté- ria."A questo é que, sem ver a ar- téria por dentro, fica dificil colocar ‘ cateter em posicio pararela ao de~ pésito de gordura”, explica 0 tinico médico no pafs a usar 0 Jaser em ci- rurgias cardfacas, doutor Euclydes Marques, do Hospital das Clinicas de Sao Paulo. “Se o instrumento se inclinar, 0 laser pode furar a arté- ria.”” Esse problema sera resolvido quando houver um equipamento ético que ppossa ser acoplado ao cate- ter do laser. Em cirurgia, o laser é uma espécie de bisturi elé- trico, $6 que mais preciso, A particularidade, em rela- edo a cirurgia cardiaca, € que ajuda a estancar he- morragias nas grandes arté- rias, onde 0 bisturi elétrico go pode ser utilizado, por- que destruiria as_paredes dos vasos. Atualmente, os cardiologistas brasileivos se- ‘guem duas outras linhas de Pesquisa, Uma busca nada mais nada menos que usar 0 laser para der 20 coragio uma nova rede de irrigacio através de perfuragses, seriam criados cerca de cem capilares por centimetro quadrado. A outra pesquisa, j4 desenvolvida com éxito, pretende usar o laser para a sutura de artérias. Nas mios de um cirurgiéo habilidoso, emendar uma artéria com pontos de niilon leva quinze minutos —e numa cirurgia cardfaca geral- mente sio feitas, no minimo, quatro suturas desse tipo; com o laser, uma sutura gasta apenas cinco minut Orgulha-se 0 doutor Euclydes Mar- ques: “Durante anos, os melhores institutos de pesquisas cardioldgicas do mundo tentaram fazer isso © nao. conseguiram, Nés somos os primei- rosa acertat” 50 SUPER cotidiana, nem padece dos males da alimentagao errada, habitos sedenta- rios e fumo — que 0 entopem a ponto de inutilizar a metralhadora autométi= ca do nosso organismo. “O homem pode viver perfeitamen- te até os 120 anos. Quem morte antes, morre precocemente”, afirma, com seguranca, 0 cardiologista Radi Ma- cruz, professor adjunto da Universida- de de Sao Paulo. Ele ndo parece oti- mista demais. De fato, a idéia de que © coracio inevitavelmente comeca a falhar quando a pessoa chega a casa ddos quarenta, nao se sustenta em teo- ria médica. Livre dos inimigos exter- nos, nada impede que © coragao se mantenha em bom estado durante um século inteiro. © bom coragio, além do mais, bombefa com precisao o san- gue para o organismo, mantendo os diversos 6rgdos bem irrigados — por- tanto fortes e igualmente capazes de funcionarem sem problemas. Longe dos inimigos, o musculo vive um século Se isso nao acontece, ja se sabe por qué: usa-se © abusa-se de alimentos com colesterol — lipoproteinas de alta densidade, presentes em carnes gor- das, mariscos, leite integral e seus der vados, ¢ ovos — que se depositam em forma de gorduras nas artérias do cora- Gio, chamadas coronarias. Com 0 en- tupimento ou aterosclerose, o misculo cardfaeo, que também precisa receber nutrientes e oxigénio através do san- ‘ue, fica sem irrigagao ¢ morre. E 9 in- farto agudo do miocérdio, responsivel por trés em cada quatro mortes causa- das pelo coragao. O cigarro também ajuda 0 aparecimento da aterosclero- se, porque o fumo estimula 0 coragio a bater mais depressa que © normal Com isso, ele se esforga mais e necessi- ta de oxigenio extra, Ao mesmo tem- pO, para piorar as coisas, 0 oxigénio chega ao sangue em doses cada vez menores, devido a nicotina acumulada 10s pulmoes. Oxigenado inadequada. mente, 0 miocardio acaba morrendo ‘ou, na menos ruim das hipéteses, so- frendo lesdes. Além disso, a nicotina também torna as artérias mais estrei- tas, facilitando os entupimentos. A falta de exercicios € outro inimi- 20 do coracio. A vida sedentéria au- menta a sensibilidade do organismo 40 colesterol: as gorduras nio so queimadas, acumulando-se nas arté- ras. Mas, sem divida, 0 estresse no pode ser subestimado, Pessoas que vi- O sangue chega as auriculas do coragao por velas (1), que passam 2 liqulco, imedlatamente, pare os ventieulos (2); numa contorcio brusea, o coracio expulsa o sangue para todo 0 ‘organismo (3). Como uma mola, 0 corarso 2 forge desse ‘movimento para reiniciar o ciclo (4). ‘Yem com 0 coragio na mio, como se diz, ansiosas ¢ angustiadas, obrigam o coracéo a trabalhar dobrado, abrindo. inho para que um problema fisio- T6gico — do tipo entupimento das co- rondrias — se manifeste num periodo mais curto, Como as emogSes afetam © coracio, é facil entender por que as pessoas, desde os tempos primitivos, se acostumaram a achar que 0 coracao produ os sentimentos. Essa € uma das erengas mais dura- douras do homem. E ha mesmo, nos dias de hoje, quem tente dar fundae qoentactb cuties al exes aia 0 dos cientistzs que quiseram pro» Var que 0 coragéo seereta hormdnios responsaveis pelas emocies. Tudo o que se sabe, porém, ¢ que esse drgdo produz, na auricula direita, um prosai fo bormionie siureise, B inceavel que © coracéo € 0 érgio mais vulnerével aos sentimentos, Esse madsculo que funciona feito maquina, também se descontrola, acelera ou diminui o rit- mo diante do perigo ou da surpresa agradavel, muda de comportamento diante do que se ama ou se odeia. En- fim, é onde sao percebidas as verda- des’ bésicas de cada ser humano suas emocées. . Lucia Helena de Oliveira ee ed Q Coreeso, na sadde ena doen, EcerTezza Germania Eta Nasional So Paul, 1987 SUPER 51 aes Oey ey Cee aa Poor Pay HISTORIA c ree Me ern re ec Cc ee ects een ree mre Cem a enemies res Eee ts. c ic cs anid Alenda do cavalo de madeira ‘No poema de Homero, 0 estratagema do cavalo permitiu aos gregos ‘entrar em Trola e conquista-la Foram dez longos anos de luta em que a sorte ora pendeu para um lado, ora para outro, E acabou senco Ulis ses, um guerreiro prego sem nenhum poder extraordindrio, a nao ser uma cabeca fértil para inventar truques expedientes, quem pensou no estrata- gema que 05 levaria a vitéria: cons- truir um grande cavalo de madeira, capaz de abrigar, em seu interior, al- guns guerreiros. Os troianos, que con- sideravam 0 cavalo um animal sagra- do, recolheram © presente deixado diante do portio de suas muralhas, acreditando ser um reconhecimento da derrota por parte dos gregos. & passaram @ noite comemorando a vi- (ria. Os soldados escondidos dentro do cavalo aproveitaram a festa para stir, abriram 0s portoes — e Troia foi invadida e destruida. Nasceu at a ex pressio presente de grego. Essa € a lenda, em linhas bem ge~ rais. Em 1870 0 negociante alemao Heinrich Schliemann, autodidata e ar- queslogo amador, apés estudar deti- damente os textos de Homero, lan- gowse & localizagao de Tria, fazendo Tréia fotografada por satélite Um satéite particular fotograrou Tala pela primeira vez, « 820 auilometros ae altura. Da colina de Hissarit, 0 dominio estrateqico a planicte @ dos portos. A area em vermelho indica fruticulturas 54 SUPER escavacées por conta prépria. Deteve- se na colina de Hissarlik, na entrada do estreito de Dardanelos, atual Tur- quia. Em companhia di rulher, So- fia, € de outros colaboradores, desco- briu vasos de ouro, jan ras de prata braceletes e colares cuidadosamente fabricados. Deduziu, entao, que te- iam pertencido a um rico € poderoso senhor: seria 0 tesouro de Priamo, ret de Tréia ¢ pai de Paris. Mas a declara- ao de Schliemann, de que havia en= contrado Trdia e seu famoso tesou no resistiu. aos ataques: dos histor = ae ee ores especializados. Hoje, a maioria dos arqueélogos afirma que 0 tesouro apresentado por Schliemann nao passava de um con: junto de pecas isoladas recolhidas du- rante as escavagoes. O grande mérito do pesquisador alemao foi descobrir que na colina de Hissarlikexistiram varias Trdias, cada uma construida so: bre as ruinas da outra, € que a regiao estava habitada desde a Idade do Bronze, por volta de 3.000 a.C, até o 10 400 da nossa era. Ao todo existi- ram nove Trdias. As primeiras, de wes os - lee) Deter) tela Cre Troia I a V, correspondem a Idade do Bronze egeu; Troia VI, 20 Bronze médio ¢ final; Tréia VII ieria sido ha- bitada por um povo diferente que dei- xou 0 local cerea de 700 a.C, época que corresponde ao inicio de Tréia VIII; ©, por fim, Troia IX, que era a cidade romana de ium Novum, Como foi possivel fazer de uma montanha a base de varias cidades? Especialistas explicam que Troia L es tava sobre a base ¢ ali se levantaram casas feitas de pedra, terra, adobe, madeira ¢ palha: pouco resistentes, eram sujeitas a ineendios que rapida- mente as destruiam por estarcm, além do mais, muito préximas umas das ou- tras. Na época do cobre ¢ do bronze, as cidades apenas comecavam a se de senvolver. Se ocorria um terremota ou um incéndio, tirava-se 0 que era aproveitavel das ruinas, aplainava-se 0 que restara e construiam-se novas ca- sas em cima. Assim, uma cidade se edificava sobre a outra. Era costu- me naquela época jogar no chao des- de restos de comida até utensilios que: Um obstaculo para os gregos A guerra terla acontecido quando os gregos, ricos comerclantes, dominavam o Mar Egeu e Creta. Mag ‘para chegar ao Mar Negro, tinham que atravessar Dardanolos ¢ 0 Mar de Matmara, dominios de Trola. brados. Mas, a partir de determinado momento, ficava insuportivel convi- ver com a sujeira e entao cobria-se 0 chao com uma espécie de capa de bar ro € tudo ficava novo e limpo. O pouco recomenctavel costume dos troianos teve pelo menos uma server dou os arquedlogos a descobrir seas casas — das quis, na maioria das vezes, s6 ficavam os muros — fo- ram habitadas por muito ou pouco tempo. Para Schliemann, a Troia de Priamo era a Troia II. Depois de sua morte, em 1890, outro pesquisador, 0 arquedlogo Wilhelm Dorpield, tam: bem alemao, prosseguiu as escavacoes em 1892 c 1893 ¢ estabeleceu que Tréia VI tinha sido o cenério da guer- ra. No entanto, pesquisadores da uni- versidade norte-americana de Cinci- ntti, que ali realizaram escavagées de 1932'a 1938, concluiram gue Téoia VIL era a Troia de Priamo, A chave para se saber qual era a Tréia da guerra era provar a existéncia do inimigo, isto ¢, dos gregos do final da Idade do Bron ze, a época de Troia VIL Tudo estaria esclarecido nao fosse por uma questéo: embora Homero di- za que Tréia foi destruida por um in- Céndio, as tiltimas escavaces provam que 6 que houve ali foi um terremoto € que depois os assentamentos conti= nuaram. Diante disso, © historiador inglés Moses Finley, falecido em 1986, abriu fogo: “Nao ha uma sO. prova consistente de que a colina de Hissar- lik coincida com a Tr6ia da Idade do Bronze que Homero desereve, nem de que a guerra entre troianos & gregos fenha alguma vez cxistido. Propomos tirar definitivamente a guerra de Tria dos livros de Histéria”™ Entretanto, uma descoberta do tine SUPER 55 giista Calvert Watkins, professor da Universidade de Harvard, nos Est dos Unidos, desmontou um dos prin cipais argumentos dos criticos de Ho- 0. Ao examinar primitivos docu- ata li da antiga Anatlia, na regio oriental do que hoje é a Turguia, Watkins en- controu o seguinte fragmento de tex. to:"... quando vinham os aleantitados de Wilusa...” Para ele, 0 fragmento seria parte de uma primitiva Tiada es: crita em hitita, a lingua dos troianos, Os alcantilados de Wilusa (que signiti- cam rochas escarpadas de Wilusa) segundo Watkins, os que apare- cem na Tlfada como “os alcantilados de Ilion”. Troia era também chamada de Ilion, As causas da guerra podem ter sido econémicas Tal descoberta derrubava a teoria de que uma cidade grande poderosa como Trdia, que apoiava o império hi- tita, nao constava dos testemunhos es- eritos sobre aquele povo. Os criticos de Homero também duvidavam da descrigdo dos funerais de Patroclo grande amigo do guerreiro Aquiles — mencionados no final da Iliada. O poema diz que ele foi cremadio. Os cé: ticos afirmavam que naquela época ndo era costume cremar os mortos. Recentemente, porém, arquedlogos alemies, que ha trés anos realizam es cavagées no porto de Trdia, na baia de Besiea, sob 0 comando do profes sor Manfred Korfmann, da Universi dade de Tibigen, descobriram yesti- gios de piras onde'os mortos eram cre mados. Mas se ‘Trdia existiu, seré que isso quer dizer necessariamente que houve também a guerra de Tréia? Co- mo e por que ela se dew? Ao que pa rece, 0s motivos foram mais banais do que 0 resgate da honra de Menelau sua mulher, Helena. Como a corrente maritima na parte mais estreita dos Dardanelos & muito mais forte, um arco mereante da Idade do. Bronze 86 poderia chegar ao Mar Negro se contasse com bons ventos a seu favor Mas, & excessio dle uns poucos dias do ano, 0 vento sopra na diregio oposta de Leste a Oeste. Por isso, os grezos preferiam desembarcar suas mereado- Fias no porto de Troia para que fos. sem transportadas até o Mar de Mar- mara — a meio caminho entre 0 ¢s- treito © 0 Mar Negro — através da planicie troiana (veja 0 mapa) Mesmo que resoivessem esperar p los ventos favoriiveis os gregos depen- 56 SUPER Tréia VI diam dos troianos, E estes certamente cobravam pelos servigos prestados, tais como estadia na baia, abasteci- mento de gua ¢ alimentos, transporte de mercadorias por terra ete. E possi ai que os troianos cobrassem pe- gio ou sagueassem um barco de vez em quando. Do ponto de vista ar- queoldgico nao hi nada que prove que Troia fosse um covil de ladroes, mas é cabivel que uma cidade situada no cixo do comércio entre 0 Mar Egeu e o Mar Negro representasse um problema para os gregos. Logo, qual- quer pretexto servia para liquidar ‘Ao fongo de mais de trés mil anos, fevantou-se fortificagao sobre fortficagao, cidade sobre cidade. ‘cima, as quatro principals Troias: Trola |, a mais antiga, repousa sobre a base aa colina; ‘rola i, considerada por Schliemann como a da guerra ‘rola VI, que Dérpteld estabeleceu como a vordadeira. Trola Vit 6 hoje considerada a Tréia descrita na liada de Homero Schliemann encontra otesouro ‘Oarquediogo alemao ¢ descobridor de Trota, acompanhado pela mulher Sofia, recolhe as pecas que encontrou durante as ‘escavagdes e imaginou teram pertencido a0 tesouro de Priamo, ret de Troia e pai de Paris ‘As pecas do tesouro foram descobertas no local onde a rampa 20 muro da cidade se encontram. Tréie l estava rodeada de muros ¢ fossos; na ép0ca nao se conheciam ‘as pontes levadicas aqueles que tanto atrapalhavam seus negocios. © historiador Francisco Murari Pi res. professor de Historia Antiga da Universidade de Sao Paulo, acha pro- vavel que um evento como a. guerra de Tréia tenha existido, embora 0 conjunto de documentos descobertos. mio permita uma afirmagio exata, precisa, O que a lenda quer preservar, cle, & que 0 fim da Idade do Bron z¢.€ 0 inicio da Idade do Ferro corres: pondem a um periodo de desestrutu- racao do império hitita. Havia uma si tuagio de conflito permanente entre hititas e gregos. Ambos disputavam 0 controle sobre 0s reinos que a tradicionalmente 0 impé ‘As posquisas do Schliemann foram continvadas pela equipe dirigida por outro arquedlogo alemio, Withelm Dérpfeld. Este concentrou Seu trabalho nas ruinas de Troia VI ‘gregos. comecaram a se desest ‘Com base nos conhecimentos histo- ricos € arqueokigicos disponiveis, 0 arquedlogo alemao Franz Stephan re constituit © que em sua opiniao pode ter sido a guerra de Troia: os tro nos, enfraquecidos por causa de um terremoto, nfo estavam_ preparados para enfrentar uma guerra, Os gre- 20s, sabendo disso, atracaram no po to inimigo um veleiro com aparéncia Je de barco mereante: 6 que. em vee ‘Schliomann supés que essas ruinas fossem do Palicio de Priamo. Sabe-se ‘hoje que pertencem a uma construcdo levantada mil anos antes da guerra SUPER 57 e e de mercadorias. transportava uma tropa de elite. Durante a noite 0 co- mando grego tomou a cidade. Nessa | versio, nao ha lugar para o Cavalo a \ de Trdia. O professor Murari Pires diz que € impossivel resolver essa questio. Mas, verdade histérica ow nio, a lenda é importante por fixar 0 principio de que uma guerra nio se decide s6 pela forca. “Tanto 0 valor da astdcia, da manobra enganosa”, ‘observa Murari, “quanto 0 valor guerreiro propriamente dito esto em é de igualdade,” Por mais que histo- riadores © arquedlogos tentem de- monstrar a veracidade do episédio, 0 | {que parece prevalecer na memoria do homem comum € a imagem postica da lenda, que tem contornos muito mais fortes do que a realicade. Por mais pesquisas que se facam, & pouco provivel que um dia essa situa ja invertida Lele mee Mea ~~ od errs st Tea ae ae dominio bees ES [ria ox tomes. Car W. Begs, ten vo | ‘A principal vantagem de Tréia estava om sua situaeao privliegiage. Do alto, os troianos controlavam os movimentos dos bareos no estel Sips ce Iiolegia Grogs. unto Ge Seuze Brando, Ed sae {ern Voces Perooate, 1986. Enoida Vor, Edlors ito Povo, sare VOCEESTACOMTUDO == Rspostas réplidas ¢ seguras para as dividas do sou dia-a-dia, sé no ALMANAQUE ABRIL Nele voce tem tudo a mao. ‘$0 28 capitulas sobre os mais variados ternas e uma sega0 especial scbreo Brasil Tudo junto num volume 6. bie #« Spsesto Sapentressave, pega yo fata pra vcd clei ss revit, fete, mato price e pod canon ‘Yoo8 acha o que precisa em segundos. 0 ALMA: a ones NAQUE ABRIL tem um superindice remissivo com tudo em cima, sm es Es Giatis: Mapa! MGA om cores, com as bandeiras de todos os paises @ estados brasiteiros, Ben st eae et ei Specs schoo sepuin era de pagan: fata vio oe 30711788 ALMANAQUE ABRIL. Abriu, achou Sov epi 6280.0] sees 298000 (itr nearest NACOES DO MUNDO. tudo sobre os 170 paises. OS FATOS QUE MARCARAM O ANO: em desta: or eitaro desc oe vec em di, mca Wind, dotno___ | i.e ms om pn que.os acontecimenigs de maior relevo de 6i87 cece sabe o bax chiro equete que entica 0 seu —— «oeue0nan ange ede ltr Bs ESTADOS E TERRITORIOS BRASILEIRO. dados cer de srt, be Ne 0, cope SA de ung, SOS, Sn Por estatisticos @ histéricos sobre todos eles. Ae rere i, Sb dps ep vot echt St ‘© MUNDO EM QUE VIVEMOS: aspecios geogr’ tune ds Cane enone de | let» He ander que eos Cake ficos, humangs e curiosos sobre nosso planeta. {Gir And SA.pghele wpa. foe cor nosa Ce be hie pe ele ‘OALMANAQUE ABRIL tem tudo isso e muito mais, feu atomic) our, nas suas 768 paginas. compare do oyster vet gus ose es, ope ir moxtimsue ss des oetcbg econ. iste ALMANAOQUE ABRIL'B8 Nas bancas: Aatorizo 0 dabito em mou extio do crit, = R *____wwiee | INTERESSANTE RELIGIAO PODEA CHENG CHER EM DELS? 60 SUPER A luz das pesquisas mais recentes, a fé religiosa nao tem mais sentido, sobretudo quando procura explicar o Universo, a vida e as leis que os regulam. Mas, quando recuam até o principio desse processo, ciéncia e religiao encontram-se diante do mesmo e (até agora) inexplicado mistério: de onde surgiu tudo isso? Por PAUL DAVIES, lisico @ escrilor inglés as AB certo que em muitos ligtio se eneontra ¢ ccupa das questoes tesiens dtp tit 6 Universo ou como ele suri Em geral, a ciéncia no desfruta de uma imagem social muito simpatica, hoje em dia. Ela ¢ considera impessoal. carente de sentimentos. Ha até quem a eulpe pelo fato de que © homem ja nao seja considerado 0 ponto central e absoluto de todas as coisas. tal como acontecia no tempo em que a imagem do mundo era escrita pelas ecli- SUPER 61 ides tradicionais, e de que tenhamos de nos conformar com a idéia de que a humanidade € algo insigai jada num planeta sem importancia que se desloca a enorme velocidade pelo vazio do Universo. Assim, nao sobra do homem muito mais do que a teoria de que € um mero acidente, sem alma, sem objetivo e sem finalidade alguma em um Universo sem sentido, que sur- giu sem nenhuma planificagio prévia. Mas comecemos pela questio da criagdo, ou melhor, da formacao do Universo. Por quem ¢ com que meios foi ele criado? Todas as religides pos- suem cus mitos proprios sobre a cria~ a0, um ato planificado de uma divin- dade que ja existia anteriormente. Ve- jamos agora o ponto de vista da cién- ia, O conjunto do Universo apareceu hha aproximadamente quinze bilhées de anos devido a uma gigantesca expl 0, que popularmente ficou conheci- da como Big Bang, Dela ha duas pro- vas importantes: 0 Universo ainda con- tinua em expansio ¢ conserva um rnimo do calor daquela explosio, cuja magnitude jamais se calcalou. No en- tanto, é possivel medir esse calor que ainda esté no Universo, como uma ra- diagdo remanescenie, ¢ ele € mais ou menos de quatro graus acima do zero absoluto (N. da R.: Mais ou menos 270 graus abaixo de zero, pois na escala Celsius, que wtlizamos no Brasil, 0 2e- ro absoluto corresponde a 273 graus negativos). Antes do Big Bang nao havia tempo nem espaco Por outro lado, a maioria dos pes- quisadores do Cosmos aceita, atuale mente, que no momento da eriagdo do mundo 0 tempo e 0 espago estavam in- finitamente distorcidos, numa situag que se chama singularidade. Essa sin- gularidade também pode se chamar li ‘mite ou fronteira, Ou seja, limite ou frowteira do espaco ¢ do tempo. De qualquer forma, nao ¢ possivel falar de estado de singularidade €, simultanea- mente, de espaco e tempo, Em um es- tado de singularidade nao existe abso- lutamente nada, nem espaco nem tem- po. Dessa forma, no estado de singula- ridade temos diante de nds a verdadei- ‘a origem do espago e do tempo. Muita gente ainda tem uma idéia equivocada do Big Bang, 0 que € mais do que desculpavel. Normalmente se acredita que havia um pedago de maté- ria, extremamente comprimida, que existia por toda a eternidade, num pe- 62 SUPER ‘queno pedaco de um vazio sem limites. O pesquisador, ao contrario, ve isso de forma muito diferente. Se se toma a sé- Tio 0 estado de singularidade, entao ti- ca desde logo excluida a possibilidade de existéncia do tempo antes do Big Bang. Da mesma forma, nao existia 0 espaco vazio. Ambos surgiram do nada no momento da explosao. E assim, por mais diffeil que nos parega chegar a en- tender tudo isso. Pelo menos nos primeiros tempos, essa teoria do Big Bang provocou mui- tas discussdes entre os cientistas, pois mesmo entre eles havia quem imagi- nase que no aparecera, apesar de tu- do, nenhuma explicagdo para o surgi mento repentino do Universo. E m: rninguém podia também explicar de onde vieram a matéria ¢ a energia que apareceram naquela hora. Para muitos, dessa forma, continuow pare~ cendo possivel acreditar em algo seme- thante & criagdo, tal como descrita nos livros religiosos. E ha ainda outro mis- tério a explicar: por que o Universo to- mou a forma e a organizagio que hoje conhecemos? Fica claro que, imediatamente apds © Big Bang, matéria e energia ficaram Aistribuidas de um modo assombrosa. mente uniforme. O Big Bang é, todo ele, uma coisa extraordinariamente uniforme. Todas as regides do Univer so nasceram da explosio no mesmo momento ¢ exatamente com a mesma forca. Mas isso ainda nao € tudo. Em todo esse Universo, to regular em suas caracteristicas, havia desde o prin- cipio uma pequena dose de diversi de, impossivel de caleular. Um: cumprimento das regras. Dai 0s primeiros passos rumo & formacio dos sistemas edas galiinias, ‘Muitos pesquisadores acreditam que ja no primeiro momento ficaram deci- didas as questoes mais importantes que definem nosso Universo e que se pode explicar por que tudo € assim € nao de outra forma qualquer. A chave do en- tendimento de todo esse conjunto esta na Fisica Quantic. Normalmente, suas leis tém aplicacao apenas em pro- eessos que ocorrem dentro das meno- res coisas, como os atomos, ou ainda nos micleos dos étomos, Mas 0 estado do Universo imediata- mente apés o Big Bang era tao extre- mo que & muito possivel que os efeitos dos quanva tenham provocado a sua es- ‘truturacdo tal como a conhecemos ago: ra. Calculos j realizados demonstram que muitas das peculiaridades do Cos- Frei Benjamin de Souza Ramos, da ordem dos beneditinos, é professor de Histbria de Filosofia Medieval no Departamento de Filosofia da Uni- versidade de Sao Paulo e Universida- de Estadual de Campinas. Para ele, a | existéncia de Deus esid acima das ex- plicagdes da Fisica sobre a origem do Universo. ‘ © conjunto da tradigfo erista se bas seia em um dado da fé, ou seja, que Deus € 0 primeiro principio de todo 0 Universo, alm do qual néo existe ou- ‘0, Segundo este principio, Deus criou © Universo em um ato de total liberda- de, de total independéncia de qualquer condicionamento ou de alguma maté- ria-prima prévia que no tenha sido ‘eriada por ele. Qualquer que seja a ‘matéria de que se constitui 0 Ur € como quer que ela se defina em suas formas mais remotas, foi criada através de um ato exclusivo e livre que teve Deus como sujeito. Esta base € comum a todas as tra- digdes cristas, mas a maneira como ela ¢ explicada depende de cada ted- ogo e do seu didlogo com a filoso- fia. .Para citar um exemplo, nos sécu- los XII € XIII, 0s tedlogos, princi mente Sio Tomas de Aquino, fundamentaram nao apenas a exis: téncia de Deus como também a rela- cio mundo-tempo, tendo em vista que 0 ato criador de Deus é, em si, eterno, Este ato alcanca qualquer homem, animal ou partieula de &to- mo surgida em qualquer instante do Universo. Com isso, tentou-se mos- trar que Deus pretendeu criar 0 0 que a aéndia nao explica mundo desde toda a cternidade, mas © resultado de sua acao ¢ temporal. ‘A ciéncia se impés, como princi pio, 0 parametro da experimentacio —o que nio deixa de ser legitimo. Mas nenhuma teoria cientifica, de Atistételes a Galileu e de Galilew a Newton, se impés como a dnica. O cristianismo admite como compativel ‘qualquer teoria cientifiea que, mes- mo que silencie sobre a existéncia de Deus, ainda assim nao 0 negue. As teses ‘de Newton ou de qualquer Fre! Benjamin: Deus 60 inicio cientista que 0 tenha sucedido po- ‘dem ser incorporadas apenas como hipéteses. Pois, na maioria das ve- ze, se sustentam porque explicam melhor um conjunto de fendmenos € go como evidéncias absolutas, A cigncia nao pode e nao tem meios pa- ra se elevar além dos principios sob ‘os quais trabalha. Quando optamos por uma concepgdo do mundo a par- tir da Fisica, permanecemos sempre ‘no limiar do horizonte metafisico. O que a religiao nao alcanca 0 fildsofo ¢ fisico José Raimundo Chiappin, professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Séo Paulo, € wn dos poucos especialistas brasileiros em Historia e Filosofia da Giéncia. Ele questiona a exisiéncia de Deus como hipétese cientfica. Quem acompanha a historia e 0 desenvolvimento da ciéneia através dos séculos observa que, & medida que cla avange nas explicagdes dos fenémenos da natureza, tende a eli- CChiappin: Deus 6 um obstacuto minar a erenga do homem naquilo que ele considera sagrado, Nesse sentido, a hipdtese da existéncia de Deus pode se tornar um sério obsta- culo a0 progresso da investigagio cientifica. Pois funciona como um li- mite ao que, aparentemente, é um processointerminavel do conheci- mento da natureza, © surgimento da ciéncia moderna nos séculos XVI e XVII. para o qual contribuiram Kepler, Tycho Brahe, Galileu, Descartes ¢ Huygens entre outros, destruiuy a imagem dos céus como moradia dos deuses. O movi- mento. dos corpos celestes deixou de ter origem divina com a explicagio meeanica do Universo. Da mesma forma, a teoria da evolugio das espé- cies e, mais recentemente, a desco- berta da estrutura e fungio do DNA (Gcido desoxirribonucleico) ajuda- tam a explicar 0 surgimento da vida ‘Atualmente, as leis da Fisica sio ‘ientes para explicar de maneira satisfatéria a constituigao © 0 surgi mento do Universo. Mas aqucles que nio estio satisfeitos ainda ‘véem um espaco para Deus na cién- cia, desta vez para explicar a har- monia e estrutura das proprias leis da Fisica, partem de uma pressupo- sigio controvertida. Para varios au- tores. como 0 fisico norte-america- no Richard Feynman, a sistematiza- ‘Gio das leis cientificas nao pertence 3 natureza, mas foi eriada pelo ho- mem para organizar e entender os fatos empiricos. Outros cientistas, ganhadores de prémio Nobel, como 0 francés Jac- ques Monod 'e 0 norte-americano Steven Weinberg, negam a existéncia de um sentido na natureza, Para eles, 10 Universo basta a si mesmo e cabe & ciéncia apenas descobrir e explicar a sua constituicdo e as leis que 0 gov nam. O significado ¢ o valor moral da existencia de Deus podem ter algum tipo de fundamentacao. Mas quest nO a Validade das tentativas de argu mentagao racional da existéncia de Deus com fatos cientificos. Se RO mos. que hoje ainda parecem misteri sas, tém explicagao perfeitamente ni tural quando se aplicam a elas as leis dda mecéinica quantica, Isso também va- le para quando se deseja investigar por ‘que 0 Universo, de um lado, € tao uni- forme e, de outro, esté estruturado de forma tao irregular que tornou possivel o apareeimenio das ga Desde que se consiga explicar isso, nao sera mais necessiirio colocar nas maos planificadoras de Deus a respon- sabilidade por tais peculiaridades. do Universo: tudo acontece numa ordem sucessiva adequada, de acordo com as da Fisica Quantica. E hd algo mais nificativo: essas leis permitem expli- car por que podem surgir do nada, com toda naturalidade, a energia ea matéria As leis explicam tudo, menos as proprias leis Em Roma, ha cerea de dois mil anos. 0 poeta Lucrécio escreveu: “Do la”. Agora pare- ce, a0 contririo, que do nada pode tudo: espago, tempo. energia, mat ‘e até mesmo ordem, Dito isso, fica cl To que 0 conceito de Deus est outra ‘vez excluido das preocupagdes da cién- cia, pois as leis da Fisica sao suficientes para explicar todo o Universo, inclusi- Ye sua aparigao. Isto significara, entdo. que a ciénc suprimiu: definitivamente Deus? Nesse particular, $6 posso falar por min thesmo. Eu ereio que o antigo concel to de Deus, que tocou com 0 dedo um botdo qualquer e pos em marcha todo © Universo, © agora se dedica a con- templar seu desenvolvimento, ficou totalmente desacreditado pela nova Fisica e pela nova Cosmologia, No en- tanto. um ponto. ainda permanece obscuro: se hoje temos leis que po- dem explicar praticamente tudo. como explicar a existéncia dessaspré- prias leis? Muita gente aceita as leis da nature- za sem nenhuma outra preocupac’ AS coisas sio assim, € pronto, O Sol nasce de manha; uma maga cai da ar- vyore para 0 chao, mas nao eai do chao xira_a drvore; 0s polos magnéticos iguais se repelem ete, Essas pessoas nao pensam mais adiante, nem se per- ‘guntam por que é assim, ou acontece assim. Mas, par quem alimenta tais diividas e preocupagées, € facil imagi- nar um mundo cadtico, sempre regido pelo caso, no qual energia e matéria se desenvolvem desordenadamente. SUPER 63

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