Forjando a democracia – a história da esquerda na Europa, 1850-
2000. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2005.
A POLÍTICA DE GÊNERO: AS MULHERES E A ESQUERDA
Para as mulheres, nos anos revolucionários as ambiguidades das mudanças
eram agudas. O fim da guerra trouxe a primeira vitória para a emancipação feminina. Antes de 1914, as mulheres votavam apenas na Finlândia (1906) e na Noruega (1913), mas já em 1918 participavam da democratização da Europa.
Por outro lado, pouco se fez para reduzir a dependência econômica das mulheres.
Direita e esquerda tinham em comum o desejo de reestabilizar as relações
entre os gêneros, alteradas pela guerra. Resumindo, apesar de conquistarem ganhos constitucionais, as mulheres se tornaram objetos de políticas sociais que implicaram pouca mudança real.
CIDADÃS, MÃES E CONSUMIDORAS
Em síntese: as mulheres foram incluídas na cidadania e os direitos políticos de
homens e mulheres finalmente se igualaram, apenas para que as políticas sociais reafirmassem a diferença entre eles. A característica fundamental dessa política de gênero era o maternalismo – idéias e políticas que definiam a maternidade como crucial para a saúde pública, a competitividade global e a ordem moral da nação.
Como a esquerda reagiria à cultura comercial do entretenimento de massa
passou a ser uma questão política fundamental. Para feministas e socialistas, as mulheres jovens corporificavam esse desafio. De um lado, elas eram clamorosamente esquecidas pela esquerda; de outro, o consumismo oferecia uma fuga da domesticidade. As militantes feministas denunciavam as novas modas como forma de distração, enquanto os socialistas do sexo masculino caíam facilmente num desprezo misógino. (ELEY, 2005, páginas 227-228).
Mas o aparelho emergente da “indústria cultural”, desde a algazarra do cinema
e do salão de danças até o surgimento do esporte espetáculo, do star system e das máquinas da propaganda e da moda, foi notavelmente bem-sucedido no atendimento aos desejos populares da década de 1920. Ele invadiu exatamente o espaço diário da vida humana que os socialistas não se preocuparam em ocupar. (ELEY, 2005, página 260).