Você está na página 1de 7

Universidade

Estadual de Londrina

YASMINE ESTEVAM BERNARDO ALIMARI

POLÍTICA, MEMÓRIA E COTIDIANO

LONDRINA-PR

2012
YASMINE ESTEVAM BERNARDO ALIMARI

POLÍTICA, MEMÓRIA E COTIDIANO EM PORECATU:

A POLÍTICA DO COTIDIANO DOS MORADORES DE PORECATU.

Pré-projeto apresentado ao Curso de


Ciências Sociais como requisito parcial
ao desenvolvimento do projeto:
Patrimônio Cultural e Memória Coletiva
em Porecatu.

Orientador: Prof.ª Deise Maia

LONDRINA 2012.
POLÍTICA, MEMÓRIA E COTIDIANO:

A POLÍTICA DO COTIDIANO DOS MORADORES DE PORECATU.

Introdução

Este trabalho faz parte do projeto Patrimônio Cultural e Memória Coletiva em Porecatu,
cadastrado na PROEX sob o número 01636, vinculado ao programa IPAC/Lda, que tem
como objetivo reconstituir por meio de depoimentos de moradores do Paraná Moderno
bens materiais e simn[olicos – o patrimônio cultural – significativos para aqueles que
compõem diferentes cidades do norteparanaense.

Em linhas gerais, este estudo tem como tema principal, dentro de uma perspectiva
antropológica, as práticas e representações políticas de dois grupos de moradores de
Porecatu. Grupos jovens que se apropriam de espaços da cidade e têm suas concepções
sobre política, bem como grupos de idosos que têm a memória política de Porecatu e
reúnem-se diariamente na praça central da cidade para discutir o rumo político da
cidade.

Justificativa

A relevância de um estudo de antropologia política, em geral, vai muito além do


universo acadêmico, pois somente por meio deste é que conseguimos compreender
símbolos políticos que muitas vezes passam despercebidos por pessoas que vivem neste
meio (como políticos, intelectuais), mas que podem ser determinantes na formação de
uma cultura política de um grupo ou indivíduo.

Portanto, é de suma importância em um estudo político e cultural de mais amplo (não se


restringindo ao âmbito institucional e partidário) que se tente dar sentido às palavras,
sentimentos, ações e ideias que para muitos seriam irrelevantes. Assim sendo, neste
trabalho em específico, esses símbolos a serem estudados são referentes à dois grupos:
jovens e aos idosos de Porecatu, de modo a tentar definir um paralelo entre ambos os
setores e descobrir o que mudou em relação aos costumes, ideologias, ações e
sentimentos em relação à política ao passar dos anos, bem como relacionar os fatores
políticos externos com essas mudanças. No entanto, antes de tudo é preciso descobrir o
que a palavra política significa tanto para um, quanto para outro.

Problematização
O questionamento inicial desta pesquisa é saber o que significa a política para ambos os
grupos. Como se sentem em relação aos acontecimentos políticos da cidade? Como se
percebem inseridos na vida pública? A que classes sociais os entrevistados pertencem e
de que modo isso pode influenciar na concepção política, no voto e na ação desses
grupos? Como é a relação entre ambos os grupos e no que cada concepção difere?
Como os vários tipos de política estão inseridos no cotidiano desses grupos e o que
mudou através dos anos? Durante o desenvolvimento do projeto, estas são as principais
indagações que devem permanecer como norte para questões mais específicas da
cidade.

Pressupostos Norteadores

Partindo de observações já realizadas em campo, é possível definir algumas hipóteses


para guiar este projeto, tais como serão descritas aqui.

A política aparenta ser um tema bastante disseminado na cidade de Porecatu. No


entanto, após a realização de algumas entrevistas, percebemos que muitos moradores
têm certo receio ao tocar no assunto, quando lhes é pedida a opinião sobre. Ainda assim,
alguns espaços específicos foram aparecendo, como o Bar do Garrido e a Praça
Central. O primeiro ambiente localiza-se em uma esquina que fica entre a Prefeitura e a
praça, de modo que este se torna, ao anoitecer, um ponto de encontro das pessoas da
cidade e, majoritariamente, dos jovens. Como a sua localização é de fácil acesso para os
membros da prefeitura, é no bar que as notícias da Prefeitura chegam primeiro e
começam a ser discutidas. Aparentemente, que quem dá a linha do debate, no entanto,
não são os jovens, mas sim os parlamentares e funcionários mais velhos do bar, que
incentivam os jovens a debaterem assuntos políticos de forma “amigável”, tendendo não
a problematizar, mas sim a achar soluções para problemas que já estão aparentes.

Em contrapartida, do lado oposto do Bar do Garrido, encontram-se diariamente alguns


idosos (ex-funcionários da Usina) com o objetivo de conversar durante as tardes
enquanto suas mulheres fazem tarefas domésticas. O assunto mais discutido por eles
também é a política, mas não do mesmo modo que o primeiro grupo discute. Os
aposentados frequentadores da praça se ocupam em discutir política de modo mais
“opositor”, fazendo críticas fundamentadas em números e dados e revelando terem um
forte posicionamento e engajamento político. Orgulham-se ao contar um episódio em
que fazem um vereador sair correndo (literalmente) da praça. Apesar das divergências
até aqui notadas, um ponto em comum é a forma como tratam de política, que é a forma
tradicional institucional e partidária que habita o senso comum brasileiro.

Deste modo, uma hipótese a ser levantada no primeiro momento é que enquanto para os
jovens a política é assunto de “mesa de bar” e só vale a pena uma movimentação mais a
fundo quando é incentivada por alguém com mais experiência no assunto, para os
aposentados é um tema de bastante importância, pois se reúnem cotidianamente com o
objetivo de debater e se preocupam em levantar dados para fazer críticas com
propriedade na fala.
Objetivos

Objetivo geral:

Compreender o que é política para os jovens e os idosos que frequentam as


proximidades da Praça Central de Porecatu, de que modo isso se reflete no cotidiano
dos grupos e, a partir disso, fazer um comparativo entre as duas concepções.

Objetivos específicos:

Compreender sobre o que os jovens que frequentam o Bar do Garrido falam quando
discutem sobre política, identificar qual é o sentimento geral quando este é o tema da
conversa, como reagem e se posicionam em relação ao que entendem por política e de
que modo isso se reflete, cotidianamente, em suas vidas.

Do mesmo modo compreender os fatores acima citados entre o grupo de idosos que se
reúne na praça diariamente para discutir política, para então traçar um comparativo
entre as duas percepções.

Caminho Teórico

O caminho teórico a ser seguido neste projeto será um composto das teorias e métodos
dos antropólogos urbanos José Guilherme C. Magnani, Teresa Pires do Rio Caldeira e
uma adaptação do que foi proposto por Almond e Verba quando usaram pela primeira
vez o termo Cultura Política (1963), relembrado recentemente por Karina Kuschnir e
Leandro Piquet Carneiro.

A Antropologia Urbana proposta por José Guilherme Magnani busca estudar o “outro”
próximo nas cidades industrializadas e urbanizadas. O background dessa antropologia
veio junto de um processo histórico que a área sofreu. Como relembra Magnani, a
Antropologia, ao final do século XIX – em um contexto de viagens marítimas – passou
a ter como objeto o “outro” distante, povos que viviam em aldeias e foram denominados
de “selvagens” pelos evolucionista da época. Deste modo, o problema principal que
rondava os antropólogos era saber se esses povos faziam parte de uma cadeia evolutiva
e, mesmo, se eram seres humanos. Com este debate encerrado, o início das pesquisas de
campo, a relativização das diversidades culturais e o desaparecimento de muitas aldeias,
o objeto desta ciência teve de começar a se moldar para que a própria ciência pudesse se
desenvolver e se consolidar.

Já na década de 60, Lévi-Strauss, em meio à essa crise de objeto na Antropologia, já se


preocupada com os rumos da Antropologia, alertando para a preocupação de virar uma
ciência sem objeto. Contudo, em sua passagem pelo Brasil, na então novata Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, incentivou seus alunos para um estudo
Antropológico dentro da cidade de São Paulo. Nos anos 80, Geertz começou a perceber
essa mudança de objeto, o que o levou a afirmar que “Somos todos nativos.”.
A Escola de Chicago, que durou da Primeira Guerra Mundial até os anos 30, também
teve bastante influência no que chamamos hoje de Antropologia Urbana. Com o rápido
crescimento de Chicago nos anos 20, as mudanças na cidade e nos grupos urbanos
começaram a ficar em evidência e um grupo de teóricos de Chicago logo percebeu esse
dinamismo e novos fenômenos que surgiriam na cidade passaram a serem seus objetos
de estudo. Apesar de não serem exatamente antropólogos, a metodologia e a teoria
empregadas por esses intelectuais era antropológica, adaptada ao urbano e seus estudos
eram empíricos.

No Brasil, os principais temas de estudos antropológicos eram os indígenas, as culturas


caboclas e a aculturação de alguns grupos étnicos. No entanto, nos anos 70, esses
grupos começaram a ocupar espaços urbanos, a antropologia ganhou destaque no Brasil
e os grupos antes estudados começaram, também, a ocupar um lugar na política (em
movimentos sociais, associações de bairros, etc.). Deste modo, o debate da
Antropologia passou não mais a se limitar o âmbito acadêmico, mas deu início a um
processo de expansão dessa ciência que acontece até hoje.

Para determinar então, dentro desta perspectiva, o objeto desta pesquisa, utilizarei um
caminho semelhante ao percorrido pela autora Teresa Pires do Rio Caldeira, em sua
obra “A Política dos Outros” tanto para a caracterização dos grupos a serem estudados,
quanto para a análise do cenário e contexto que os cerca. Para tanto, o enfoque a ser
dado não é diretamente no âmbito geográfico da cidade ou nos acontecimentos políticos
dos órgãos públicos, mas no cotidiano de quem vivencia tais coisas. Deste modo, no que
diz respeito à caracterização dos grupos, buscarei identificar qual é a posição social dos
membros dos grupos, profissão, sexo, idade, em que lugar da cidade moram, como são
constituídas suas famílias, qual é o papel desses indivíduos na família e, em relação à
cidade, fazer um resgate histórico de Porecatu, entender como a cidade se formou e o
que contribuiu para a consolidação da mesma como conhecemos hoje (política e
geograficamente falando). E, por fim, compreender de que modo isso tudo contribui
para a formação de culturas políticas entre os grupos.

Para Almond e Verba, o objeto pode ser estudado a partir de duas dimensões. A
primeira diz respeito aos tipos de orientação com relação aos objetos políticos, são elas:
orientações cognitivas ( conhecimentos e crenças relativas à política), orientações
afetivas (sentimentos dos indivíduos com relação à política) e orientações avaliativas
( julgamentos e opiniões).

A segunda dimensão tem relação com o tipo de objeto político ao qual se destinam essas
orientações acima e, entre os tipos que os autores classificam, o que mais convém
utilizar neste projeto é “trabalhar a percepção do sujeito como ator político”.

É deste modo, portanto, que essa pesquisa será realizada: dentro de uma perspectiva
antropológica política e urbana para conhecer o cotidiano dos grupos recortados de
Porecatu, uma cidade com pouco mais de 14 mil habitantes, que foi constituída a partir
de uma usina açucareira.
Metodologia

Nesta pesquisa serão utilizados como método: entrevistas, conversas informais,


questionários semiabertos e, posteriormente, a realização de grupos de debate para
aprofundar a discussão em grupo e observar se o comportamento, linguagem, atitude e
posição dos entrevistados mudam nestes espaços.

Bibliografia

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. A Política dos Outros: O cotidiano dos moradores
de periferia e o que pensam do poder e dos poderosos.

GOLDMAN, Marcio. Os tambores dos mortos e os tambores dos vivos. Etnografia,


antropologia e política em Ilhéus, Bahia.

KUSCHNIR, Karina. Antropologia e Política. Revista Brasileira de Ciências Sociais –


Vol. 22, N.º 64.

KUSCHNIR, Karina; CARNEIRO, Leandro Piquet. As Dimensões Subjetivas da


política: Cultura Política e Antropologia da Política.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Quando o Campo é a Cidade: Fazendo


antropologia na metrópole. EDUSP, São Paulo, 1996.

Você também pode gostar