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VALERIO DE OLIVEIRA MAZZUOLI CONTROLE JURISDICIONAL DA CONVENCIONALIDADE DAS LEIS Seas FORENSE : Capitulo 2 Controle de Convencionalidade no Direito Brasileiro 21 Inteodugdo Como se estudou no Capitulo anterior, a Emenda Constitucional n.° 45/2004 (que acrescenton 0 $ 3° ao art, 5,° da Constituigio) trouxe a possibilidade de os tratados internacionais de direitos humanos serem aprovados com um quorum qualificado, para o fim de passarem (desde que ratificados e em vigor no plano internacional) de um status material- : mente constitucional para a condigao (formal) de tratados “equivalentes as emendas constitucionais’: Esse acréscimo constitucional reforgou, no | direito brasileiro, a exigincia de os juizes ¢ tribunais controlarem a con- vencionalidade das leis. De fato, & medida que os tratados de direitos hu- manos 9u sio materialmente constitucionais (art. 5°, § 2.°) ou material ¢ formalmente constitucionais (art. 5°, § 3.2), passou a ser Iicito entender que, para além do clissico controle de constitucionalidade, devem tam- ‘bém os juizes e tribunais internos empenhar-se no exercicio do controle de convencionalidade das normas domeésticas, compatibilizando a producéo normativa interna com os tratados de direitos humanos (mais benéficos) em vigor no Estado. Poderia se objetar tratar-se de controle de constitucionalidade 0 que se exerce em razéo dos tratados de direitos humanos internalizades pela sis- tematica do art. 5, § 3., por ostentarem equivaléncia de emenda constitu ional. Para nés, apenas quando existe afronta & Constituigio mesma é que pode haver controle de constitucionalidade propriamente dito. Ainda que 0s tratados de direitos humanos (material ¢ formalmente constitucionais) sejam equivalentes as emendas constitucionais, tal nao autoriza a chamar : iy ay 116 | coNrOcEURSDIGOWAL OA CONENCIONALIOADE OAS ES + Unsko oe Oven Mazes de controle “de constitucionalidade” o exercicio de competibilidade vertical que se exerce em razao deles, notadamente no cas0 de o texto constitucional permanecerincélume de qualquer violagao legislativa (ou se, no caso de @ lei ndo violar a Constituicao propriamente, mas apenas 0 tratado de direitos hhumanos.em causa). Em suma, doravante s¢ falaré em.controle de constitu cionalidade apenas pata o estrito caso de (in)compatibilidade vertical das leis com a Constituicao, ¢ em controle de convencionalidade para os casos de (in)compatibilidade legislativa com 0s tratados de direitos humanos (for- malmente constitucionais ou nao) em vigor no Estado. Portanto, a ideia que se ira defender nas paginas abaixo é a seguinte: quer tenham os tratados de direitos humanos “status de norma constitu- onal” (nos termos do art. 5, § 2.°, da Constituigéo), quer sejam “equiva- lentes as emendas constitucionais” (posto que aprovados pela maioria qua- lifcada prevista no art. 5°, § 3.°), em ambos os casos serdo paradigms de controle das normas domésticas brasileiras, ao que se nomina de controle de convencionalidade das les (em suas modalidades difusa e concentrada) Ocorre que os tratados internacionais comuns (que versam temas alheios ‘as direitos humanos) também tém status superior ao das leis internas no Brasil se bem que no equiparados as normas constitucionais, os instru mento convencionais comuns tém status supralegal em nosso pais, por tio poderem set revogados por lei interna posterior, como esto a de- monstrat varios dispositivos da propria legislacao infraconstitucional bra~ sileira, dentre eles 0 art. 98 do Cédigo Tributério Nacional ¢ as normas internacionais que regem a matéria (em especial, o art. 27 da Convencio de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969). Nesse illtimo caso, tais tratados (comuns) também servem de paradigma ao controle das normas infraconstitucionals, por estarem situados acime delas, com a tnica dife- renga (em relagdo a0s tratados de direitos humanos) de quie nao servirdo de paradigma do controle de convencionalidade (expressio reservads aos tratados com nivel constituctonal), sendo apenas do controle de supralega- lidade das normas infraconstitucionais.? Perel + Gp.2 + COMIROLEDE CONVENCIONAUDKOE NODIRETOSRASERO | 117 E evidente que se poderia pensar (etal raciocinio nao estaria equivoca- do) que qualquer controle a envolver a compatibilizacao de uma norma do- miéstica com uma convengdo internacional (qualquer que seja ela, de direitos humanos, ou ndo) seria um controle “de convencionalidade” Tal é mesmo verdade, nao havendo qualquer problema nesse raciocfnio, Toda convergdo internacional (utilizando-se a nomenclatura “conven” apenas generica- mente, podendo ser um “tratado’ “acordo’ “pacto” etc.) & paradigma do controle de conwvencionalidade lato sensu. Apenas preferimos nominar de controle de convencionalidade o exercido exclusivamente em relacio aos tra- tados de direitos humanos (que, no Brasil, podem ter status ou “equivalén- cia” de emenda constitucional, a depender do quérum de aprovagéo, como 8 se vig), tendo em vista o fato de que, & luz da jurisprudéncia das cortes internacionais de direitos humanos, nao se utiliza essa expresséo quando se trata de compatibilizar as obrigagées do Estado relativamente aos tratados comuns. Outro motivo pelo qual preferimos reservar a expresséo “controle de convencionalidade” para a compatibilizagéo das normas internas com os tratados (apenas) de direitos humanos é 0 de nao perder de vista que esses tratados igualam-se em hierarquia as normas constitucionais (dai a proximi- dade do neologismo “convencionalidade” com “constitucionalidade”). Nesse sentido, a expressio “controle de convencionalidade” andaria lado @ lado & expressao “controle de constitucionalidade’. Por esse motivo, pareceu-nos melhor diferenciar a nomenclatura do controle que tem como paradigma os tratados comuns ("controle de supralegalidade”) daquela relativa aos trata- dos internacionais de direitos humanos (“controle de convencionalidade”). Repita-se, contudo, que ndo é tecnicamente incorreto nominar de “controle de convencionalidade” a compatibilizacio vertical das normas internas com quaisquer tratados internacionais (de direitos humanos, ou nao) ratificados pelo governo e em vigor no Estado. Seja como for, o que doravante se vai demonstrar é que todas as normas infraconstitucionais que vierem a ser produzidas no Estado devem ~ para a andlise de stra compatibilidade com o sistema do atual Estado Constitucional ¢ Humanista de Direito? - passar por dois niveis de aprovaco, quais sejam: (1) a Constituigao © 0s tratados de direitos humanos (material ou formalmen- te constitucionats) ratificados e em vigor no Estado; e (2) os tratados inter- nnacionais corsuns também ratificados em vigor interno. A compatibilidade das leis com a Constituigdo ¢ feita por meio do cléssico e bem conhecido 7 Sobre ese novo modelo de Estado, v, Gontes, Luiz Flvio & Mazzvout, Valero de Ol velrs, Direlto supraconsttuconal.. cit, p. 188-198, 118 | conrpote unsconA. oe conMEACONAIOADEDASLES + Vaio or Ouvna zis ‘controle de constitucionalidade, e a relativa aos tratados internacionais em ‘igor no Estado (sejam ou no de ditetos humanos) por meio dos controles de convencionalidade (no que tange aos tratados de direitos humanos) ¢ de “supralegalidade (no que toca aos tratados comuns). EmPortugal, mesmo a melhor doutrina no percebeu essa diferenga centre o controle de convencionalidade e o de supralegalidade, CANOTHLHO, tig, em todo 0 tpico desinado 20 estudo da compatibilidade das leis com bs tratados internacionais (L6picointitulado Processo de Verificagto da Con- trariedade de uma Norma Legislative com wma Convengdo Internacional), indo se utiliza das expresses ctadas, chamando de “relagdo de contrarieda- de’ o que, em verdade, deveria ser chamado de “controle” (de convenciona Jidade ou de supralegalidade) da legislacdo interna, Mesmo quando admite aque alguns tratados possam ter “valor constitucional’ 0 autor nomina & poy ‘vel relaglo de contrariedade com as eis de “inconstituctonalidade indireta” (¢ também aqui no aparece 2 expressio “controle de convencionalidade, como deveria) Por fim, 20 explicar 0 procedimento de aferigao dessa “con- tratiedade” perante o Tribunal Constitucional portugués, diz CanoriLHo qe o ‘Tribunal niojulg 0s ato legislativos como “inconstitucionais’ (0 x pressio correta, em nosio entender, seria “inconvencionsis”) ou como “ile- fais” mas profere “uma sentenca de natureza declaratéria através da qual se Tecomhece ajusteza oundo justeza da decisio do tribunal a quo, que recusow ‘ aplicagao de uma norma em desarmonia com anteriores sentencas do Tri- bbunal Constitucional’* Em suma, depois de estudado o status hierérquico dos tratados de di- reitos humanos no Brasil (¥. Cap. 1, supra) j4 se pode comegar a entender eeca nova temética que tem nos compromissos internacionais assumidos pelo Estado ~ especialmente os compromistos relativos a direitos humanos Plom novo e mais racional paradigma de controle da legislagao doméstica. 2.2 Pioneirismo da teoria no Brasil ‘A teoria que se irk defender nas linhas que seguem ¢ pioneira no Bra sil, Antes, porém, de nos debragarmos sobre ela, & necessério mencionar que os autores que, antes de nés,fizeram referéncia& expressio “controle de 7 Vapor lado, Cavortito Jost Joaquim Gomes, Ditto contitucionale teria da Conse tradgo, ct, p 12-101. O constitacionalistaportugats Tonk MinaxDa 8 i ‘desde 2012 feelers a0 controle de convencicnalidade; cf, Minaw a, Jorge, Curso de “Gireito internacional pbc, cp. 1 (90 falar na existéneia “de am controlo de con- ‘vectenlidade paralo ao contolo de consttuclonalidadee a0 de legslidade’). Perel + Cap2 + CONTROLEDE CONVENCIONALOADE NO OREO BRASLERO | 119 convencionalidade” versaram o assunto sob outro angulc mente o da cesponsblidee itrnaclona do sade por iega de diets amanon em razio de atos do Poder Legislativo? Para tais autores, o controle de con- vencionalidade seria 0 método a impedir o Parlamento local de adotar uma_ lei que violasse (mesmo que abstratamente) direitos humanos previstos em tratados internacionais ratifcados pelo Estado. Em outras palavras seria a ‘éenica legislativa pela qual o Parlamenta, tendo em: conta um tratado de di- eseerraneerrea em vigor no Estado, deixaria de adotar uma lei que com dito twatado confitasse, a fim de nao dar causa a responsabilidade internacional do Estado em razao de ato do Poder Legislativo; seria também a obrigacio do Legislatvo de adaptar a leis doméeticas aos comands dos tratades in temnacionais ratificados ¢ em vigor no Estado. Também jé se empregou a expressio “controle de convencionalidade” para aferir a compatibilidade das normas locais diante das normas internacionais de direitos humanos, nao pela via judicidria interna, sendo exclusivamente pelos mecanismos interna- clots de epuragto do respi pot pate de um Estado de sus obcigases internacionais?” ; 3:¢ Ramos, André de Carvalho, Responsabilidade interna ional ola de tos humanos... Cit, p. 169-170. eae pa oe See Bajos te eae Ae te Ce Secor eer alr Conds; Lancia del derecho poet earsttcna tues en homenajea reito constitacional internacional, cit, p. 239 (esta dltima diz, ne quea Ce Interamericana "sinda pode opi de precast 120 | covet sCIGONAL DA CORVENCIORALIDADEDAS LES = Yano oe Quvena Marz Avon ps Canvassto Ramos, vg, depots de dizer que “[e]sse controle de convencionalidade pode ser feito de modo unilateral pelos demais Bs- tados participants da sociedade internacional, o que é 0 modo tradicional de aputacio do respeito por um Estado de suas obrigagbes internacionais, afirma que 0 modo unilateral é questionsvel, endo em vista que estabelece 0 jes in causa sua’. Interprete-se 0 seu raciocinio: se de todos os Esta- dos responsives pelo “modo unilateral” de controle de convencionalidade das leis - faz parte um Poder Judiciério, que é reconhecidamente sua lon- ‘ga manus, o que o ator est a sugerir € que nao confia na imparcialidade dos juizes etriunas internos para controlar a convencionalidade das lels no Brasil, una vez que, tendencialmente, deciditiam sempre em favor do Estado, édize, in causa sua. Mais & frente, no anesmo texto, em reforgo & premissacolocada, 0 autor exalta o segundo modelo de controle, que seria “aquele feito por mecanismos coletivos, nos quai é apurado ce determinads conduta do Estado (por exemplo, a edicio de lei, « prolagio de uma senten- ‘2.01 tm ato administrativo) é compativel com as normas internacionis condluindo, em seguida, que [als diferencas sto claras: no mecanismo uni lateral prevalve[perceba-se a subida de tom, do que era “questionsvel’ & ‘que agora “prevalece”|o principio do juder i eausa sua, o que € substituido, nos mecanistios coetivos, por procedimentos onde a imparcialidade ¢ o devido process legal imperam indaga-se se néo haveria imparciatidade e devido processa legal também no plano interno...) no processamento da responsabildade internacional do Estado’, Por fim, cita 0 reconhecimento, pelo Brasil de jurisdigdo obrigatbria da Corte Interamericana de Direitos Humanos, e diz que “exemplo marcante do controle de convencionalidade cefetuado por mecenismo coletivo, afetando o Brasil, éaquele feto pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, quer na su jurisdisao contenciosa, quer na su jurisdicio consultiva’® Em outrs palavras, a doutrina que se acaba de expor no reconhece ‘© contra de convencionslidade interno como verdadeiro controle ~ por = Fanos Andi de Carvatho, Tratados internacionsis: novos espagos de atnagao do Mi isto Pali, ct, p. 86-87, No que tange 20 afrmado pelo eutor na parte final do seutet, de que controle de convencionalidade eferusdo pela Corte Interamericana sed "quer na su jsisdigdo contenclose, quer na sua jurisdic consuliva,perceba se ‘em terco de ler que no plano da competénciaconautiva da Corte Interamerica ta he cn de convencionalidade, © texto também a, €erréneo, pois jf se vis que apenisno plage contenioca & que ha efetivo controle da convencionaidade da less no nat dacompetineaconsultiva o que exist & simples eferifda de conrencionalidade, posto niose tata de opinito vinculante aos Estados-partes (Parte I, Cap. Litem 8.5, ‘ape ane» Cap.2 + CONTROLEDE CONVENCIONALOADE NODIRGTO BRASLERO | 121 no acreditar na imparcialidade dos julgadores nacionais no controle de convencionalidade, partindo do equivocade principio de que os Srgéos do Estado decidem sempre em causa prépria, como se 0s cidadios nao pudes- ‘sem, jamais, lograr éxito em demandas contra o Estado — e, de outro lado, exalta 0 controle internacional de convencionalidade, que seria, segundo ele, 6 tinico controle imparcial e garantidor do devido processo legal (como se juizes e tribunais nacionais decidissem seripre e em quaisquer circunstancias exclusivamente em favor do Estado), Nada mais equivocado, Que as instan- cias judiciérias internacionais controlam a convencionalidade das normas do direito interno dos Estados-partes (sempre de modo complementar ou coadjuvante, ou seja, de forma secundéria & oferecida pelo direito interno) nao se tem qualquer diwvida. Ocorre que os préprios tribunais internacionais determinam que o controle primrio e principal de convencionalidade nao Ihes cabe, sendo apenas aos juizes ¢ tribunais internos dos Estados-partes. A Corte Interamericana de Direitos Humanos ~ a que 0 Brasil se sujeita, em Ambito contencioso, desde 1998%- ordena expressamente que o controle de convencionalidade deva ter lugar, em primeiro plano, no ambito do Po- der Judiciério interno dos Estados-partes aos tratados de direitos humanos (especialmente pela via difusa). Nas palavras éa Corte, “somente quando tum caso nao tenha sido solucionado no plano interno, como corresponderia primariamente fazé-lo a qualquer Estado-parte na Conven¢éo no exercicio Com efeito, continua FeRRAsoLI, “o sistema des normas sobre ‘ producdo de normas ~ habitualmente estabelecido, em nossos ordenamen- tos, com nivel constitucional ~ no se compée somente de normsas formals sobre a competéncia ou sobre os procedimentos de formagio das leis) in- Gluindo também “normas substanciais, como 0 principio da igualdade ¢ os direitos fundamentais, que de modo diverso limitam e vinculam o poder Jegislaivo, exchuindo oa impondo-Ihe determinados contedidos’ 0 que fez com que “uma norma ~ por exemplo, uma lei que viola o principio constitu- Gional da igualdade — por mais que tena existencia formal ou vigencla, pos- Sa smuito bem ser irvalida e, como tal, suscetivel de anulago por conteastar com uma norma substancial sobre sua producio™™ Com efeito, @ existéncia de normas invalidas, ainda segundo Ferra- your, “pode ser faciimente explicada distinguindo-se das dimensGes 6a re- gularidade ou lgitimidade das normas: a que se pode chamar‘vigtnci! ou “existéncia, que faz referéncia & forma dos atos normativos e que depende da conformidade ou correspondéncia com as iormas formais sobre sua forma- zo; ea Validade propriamente dita ou, em se tratando de leis, a ‘eonsttur Eonalidade’ (e, podemos acrescentar, também a ‘onvencionalidade], que, pelo contrario, em que ver com seu significado ou contetdo ¢ que depend ee eoerencia com as normas substanciais sobre sua produio™” Nesse senti- doa vigencia (ou exsténcia) de determinada norma guardaria selagie com ‘forma dos atos normativos, enguanto a sua validade sesia uma questo de coeréucia ou de compatiblidade das normas produzidas pelo direito domés- tico com aquelas de carater substancil (a Constituigao e/ou 9s tratados in id fa objeto dos comentivis de KutsaN, nests termos:"A determinasie coreta desta fag ¢ um dos problemas mais importantes a0 esr tempo mals differs de ums TE jnidica postivita B apenas ura caso especial da relagio entre o deverser da weotaw Juridica‘ o er da realidade natural Com eft também o ato com o qual & a novina jridica positiva &~ tal como a efiedcia da norma juniica - wm ato see lum do sex Uma tori juridica posiivsta# posta perante atarefa de encontrar caer os dois extremon abe’ irsustentaveis, © meio-termo correo” (Teor pure do diet, ct, p. 235) ® Funafoti, Luigh Derechos ygaratia... cit p20. Fpnnarott, Luigi, dem, p. 20-2) pnmajocs, Lai, Mem, p21 Prete» Cap.2 + coNTROLEDECONVENCIONAUDAZENOORETOSRASLERO | 129 ‘ernacionais em vigor no Estado) sobre sua produg i) sobre sua produgéo* Como explica Fer- ay deve cama devia "n aliadeapena formal das norms las results da regulriade do ate normative’ devendo-s its“ so alavra ‘validade’ a validade também material das aher dizer ds ses sigfcados ou cones normativer® Dee enter dex que declragio de inconstitucionlidade de ume norma tal (eisso & bastante vsvl no contrledfiso de consituionaliade) fea a valdade ssa norm,” e nao a sua vigencia (uma ver.que ela cates aos conto mum pocasn enucours parse)” Em nosso pais, ¢ certo que tods lei vigora fo é : yue tods lei vigora formalmente até qui revogada por otra ou al leanjr osu terme field vigtnla (no ca ds leis exeepsionis ou temportis). A vigéncapressupbe a publicagto da lei na imprensa oficial e seu eventual periodo de vacatio legis, se néo houver nano mid moder ese credo Ete acon, Catia Coca e Me fa lo Pan ar Fern p 3 Ee ee mas cbsernes de Onto Suenorebica nels eae Coscia So al set tra. Baonon On Noes cain at Send ond Cen Cae Cte hind Sp 88 {reshpon gue ne sores ttre on ug arts. ls Hoon ented boro febrero Ietiatc ce Sera tems sel pt ti fn Seg ts ro ep Ne Ss nr ep eerie pen err ines aps psn ee nr ‘peers neem ice rp dap Sot in eases a eb ocean ct 31 _Deve-se admits, contudo, uma hips contude, uma hipétese excepcionsl, que ocorte quando a lei ¢ delat = ee eee cee ee Sots no mo seagrass de nctesiae i logo) o plano da validade da norina, més, além disse, também o da vigéncia, Um git soi agua 0 posdineta etic, pv dead un evs lend a By Get pret ve Stata gure er nents mel ea eae ernie eters nema como to menace Sa Ca elnino a ech 9 wastes + Vaceno oe Ouna Mazzs0 1130 | controte umsiconAl on CONENCIONALIDADEDAS LEIS * Vs nu seja, a Jet entra em vigor ‘yacatio, segue-se a regra do art, 1° da LINDB, ou seja, @ igor ‘apes rent e cinco dias, Eno, tendo sido aprovada pelo Patlamento ¢ sancionada plo Presidente da Repiblic (com promulasi ¢ pubis é : ®) em territério nas 0° iteriores), ale é vigente® (ou seja, existente™) em territ ona ddendo tr gu respi, repita-se, eventual periodo de vaca legato que tio significa qo std materialmente valida (e, tampouco, eficaz) = Poscebe “sea propria redacio da LINDB, segundo a qual (art 1°): “Salve disp Go contri, a lel comesa a vigorar em todo o pals quarenta ¢ cinco dias epois de offcalmente publicads’. Portanto, ser vigente € ser existente no ‘Somes woe ene ea et tlre tnoegon Emer Fi os fee se ne gece i gem ve eo eat oo cen ae neo ake “nese exato sen- cb Fame a Bra pearing tan om Saeeer : form de oii cue produto ¢conteddo mates se conforma & Const re sis constitucionais [¢ internacionais] poli ico ou ético-filosoficos. Afora isso, ricer ee penton ce ager mc spre p. 12}. Panel + Cap.2 + CONTROLE DECONVENCIONALIDADENODRETOSRASLERO | 131 plano legislative, Lei vigente & aquela que jé existe;* por ter sido elaborada pelo Parlamento e sancionada pelo Presidente da Repiiblica,” promulgada e publicada no Diério Oficial da Unio. Depois de verificada a existéncia (viggncia) da lei é que se vai aferir a sua validade, para, em iltimo lugar, perquirir sobre a sua eficdcia.® Esta tl- tima (e eficécia legislativa) std ligada & realidade social que a norma almeja regular; conota também um meio de se dar “sos jurisdicionados a confianca de que o Estado exige o cumprimento da norma, dispoe para isso de meca- nismos ¢ forca, € 08 tribunais vo aplicé-las"3" Mas vigencia e eficacia nao coincidem cronologicamente, uma vez que a lei que existe (que é vigente) e que também ¢ valida (pois de acordo com a Constituigao e com os tra- tados ~ de direitos humanos ou comuns ~ em vigor no Estado) jé pode ser aplicada pelo Poder Judiciétio, 0 que ndo significa que ters eficacia."* No bd como dissociar a eficacia das normas & realidade social ow & produgio de Perceba-se que 0 proprio Kuss aceita esa assertiva, quand leciona: "Com a polavea ‘vigincla’ designamos a exstincia especfica de uma norma. Quando descrevemos 0 sentido ou 0 significado de um ato normativo dizemos que, com o ato em questo, ua ‘qualquer conduta humana é preceituada, ordenads, prescrita, exigids, probida, ov en {Ho consentiéa, permitida ou facultada’ (Teoria pura do diet, ct, p. 11) Em caso de veto do Presidente, pode 0 Congresso derrubi-o em sesso conjanta por maloria absoluta de wotos (CF, art, 66, 4), devendo ser novamente erviado a0 Pret e da Repaiblica, agora para promulgacéo (CE, art. 66, $52). Se s lei nfo for prom sada dentro de quarenta eoito horas pelo Presidente da Republic, nos casos dos $8 3° £54, Presidente do Senadoe promlgar es este noo fizer em igual prazo,cabers ao Vice-President do Senado faxt-lo (CF, ut. 68, $7). Apde @ promulgagdo, lel & Dublicada, devendo entcar em vigéncia« partir dese momento, se assim dlepuser ex Dressamente. Sendo o fzere nfo houverperioda de vacato legis, vigorard em: quarent ince dias (LINDA, at. 1) (CE Tatuss Justo, Gofited,tniiagto na citncla do direito, i, p 193 ScunatD, David, Filosofia do dieito e interpretaga, ct, p. 62-63. 0 mesmo autor, pégh- has & feente, conclu: eficdcia de uma norma esti na sa obrigatoriedade tanto pars (0s sujeitos passivos como para 0s 6rgios ectaais, que devem aplicé-leefetivamente™ ‘idem, p. 93) [esse sentido, posicdo coincidente de KELsEN, Hans, Teoria pure do direito, cit. p 12, nests termes: "Urn tribunal que aplica uma lei nam casa conereto imediatamente spée a sua promulgasio ~ portanto, antes que tenha podide tornar-se efica ~ aplica ‘uma norma juridic vida [para nds, uma norma vigente, que podera ndo ser valida, @ \depender da conformidade com o texto corsttncionale com os trades internacionais (de direitos humanos on comuns) em vigor no pais], Form, uma norm juridiea de até de ser considerada valida quando permanece duradouramente ineficez’. Depois, Por isso, no aeitanos os conceitos de validade e vigencia de “TeRcIo Sampaio Fenn J pare quem norma vdlda € V.Biazewori, Valerio de Olver, A tse da supralegaldade dos tatados de dts sane, Revit area Conder ano XII 2° 195, Bras, br. 2008, p. 45, Ci. Viowaus, Heber Acbuet antic Fan Michel, Os vinculas ett o dito interna ional piblco eo sera: terme, Renata de IformeatoLegislaia an0 29,1. 155 Basin ul-sct 1992, p.4atse Cano, Ermsto Rey, Conta deconvencionalidd de as teyesy derechos humans, lp XLVI Ex tio autor chega at mesmo a amar aque“ sipremacia da Constitute ete em crise cor as Sentences intemacionals (p. Xvi) « que"a Convengio Amerata¢ normavdadeinternalonal de herarqua superior que eobordin o drt itero (Const, ei, ato administratnos jri- prance pritices arinieatas fades ete) do Etado-pate”(p.XLDN. FPartall + Cap.2 » CONTROLEDECONVENCIONALIDADE NODIREITO BRASILEIRO | 141 Na Alemanhe esse é também o critério adotado para a generalidade dos tratados ratificados (art. 59, 2, da Lei Fundamental: “Os tratados que regu- lem as relagdes politicas da Federacao ou se referem a matérias da legislagio federal requerem a aprovacio ou a participagao, sob a forma de uma lei fe- deral, dos érgios competentes na respectiva matéria da legislagao federal”), que passam a prevalecer (inclusive com aplicagao imediata, se eles contém direitos individuals) sobre toda 2 normatividade inferior ao dieito federal, a exempls das normas provenientes dos Estados Federados e dos decretos expedidos pelo governo, Esse entendimento vale, na Alemanha, inclusive ara os tratados de direitos humanos, 0 que ¢ criticivel, por permitir a apli- cacao do brocardo lex posterior derogat legi priori 20 caso de conflito entre tratado de direitos humanos € lei federal posterior? mas é bom fique nitido que, naquele pafs, também se encontram correntes doutrinérias tendentes a atribuir njvel constitucional ao menos a Convengio Europeia de Direitos, Humanos.”* Franga, o Consetho Constitucional, na Decisio n° 74-54 DC, de 15 de janeiro de 1975, entendeu ser incompetente para analisar a conven cionalidade preventiva das leis, pelo fato de no se tratar de um controle de constitucionalidade propriamente dito. Naquele julgamento se indagava se 4 recém-criada lei relativa & interrupgio voluntitia da gestagio estaria em contradic2o com @ Constituicdo, uma vez que violaria a garantia do “dire to a vida" prevista na Convencao Europeia de Direitos Humanos, ratificada. pela Franca.” A inconstitucionalidade nao foi declarada e a lei, a0 final, foi GE Scunrerizen, Michael Staatsrerht IT: Staatsrecht, Vkerect, Europarecht,9, Aufl, Heidelberg: C.F Mile, 2008, p. 168 ¥., por tudo, Bawx, Roland, Tratadas internacionales de derechos humancs bajo el or enamiento jutico sleaa, Anuario de Derecho Consttucional Latisotmericana, 10. ‘ao, Tomo TI, Montevideo: Konrad-Adenauer-Stifting, 2004, p, 721-734, Sobre o tema, ‘-ainda Gaos Esptrtt, Hector,La Convention américaine tla Convention européenne es droit de Yhomme: analyse comparative, Recueil des Gouas, val. 218 (1989-VD, p 167-412; ¢ Faccmn, Roberto, Linterpretazione giudiiaria della Convencione europea dei rit delvomo, Padova: CEDAM, 1980, Pats um estado do papel da Unio Baro Pela em matéra de direitos humanos, v- RIDEAN, Joel, Le rélede'Union européenne en ati de protection des droits de homme, Recueil des Cours, vol. 265 (1997) p.9-480. CE Auanp, Denis coord), Droit international publ, cit, p. 370-372; CowsraNrs 0, Vlad & Jacque, Jean-Paul, Laplication du doit international et communautaire a regard de la Constitution frangalse, in Konno, Pierre & Rowen, Wolfgang (ed), Die Kontrolle der Vr fessungsrfigait in Frankreich wid fx der Bundesrepublik Detschand, ‘Koln: Carl Heymann Verlag, 1985, p. 175-213; Bruce, Eva, Controle de constittion- alte et controle de conventionnalit., it, p.2-3; DusiEiiuer De Lavon, Olivier Controle de consttutionnalté et contrdle de conventionnalit,fager fi we 142. | contaote sisorIONAL DACONVENCORALIDADE DAS + Vash oe Ouvana Mazz! editada. © Conselho Constitucional também descartou 0 argumento de que seria competente para a anilise prévia da convencionalidade pelo silogismo de que toda Jel que viela um tratado também viola a Constituigao, uma vez que a propria Constituigao francesa, no art. 55, prevé @ superioridade dos tratados em relagdo as leis." Nao obstante as criticas que poderiam ser for- ‘muladas a citada decisio do Conselho Constitucional francés, 0 certo € que, para os fins que interessam ao nosso estudo, ali se reconheceu que ume lei interna tem de passar por dois crivos de compatibilidade para que seja vélida ¢,em tltima anilise, eficaz: (1) a Constituicio e (2) os tratados internacio- nais em vigor no Estado. 2.4 Teoria da dupla compatibilidade vertical material Sob o ponto de vista de que, em geral, os tratados internacionais tém superioridade hierérquica em relagio As demais normas de estature infra- ‘ado o tema a Subsea I da Serio Especializada em Dissidios Individuas do TSF, contraiou-se todas as conveng6es internacionais da OTT sobrs ¢ matéria ¢ descartow-se o principio da primazia da norma mais fav trabalhador. ara nds, soa inacrditavel que um tribunal superior consi dies Ps cialmente no moment atual de engsimento cadaver maior do Estado bs, silo na seara internacional, que os tatads de dietos humanos (queso uatades especiis)nio se sobrepéem as norms nternas menos benéess,¢ aque, ademas, as normas da OFT de proteso dos trabalhadores cong apenas “cigos de cont” incapares de cia obrignies para as aris Trata-se, como sata aos othos, de exemplo a nto sex ceguido, Decne dessa indole, que desprea ans de conquistes dos direitos ds uabalhadore fe toda evolugio da doutrins sobre o controle de convencionalidade, conf gura verdadeiro contrassenso ~ desde o eae da ie STE que aloca os tratados de direitos humanos & supralegal, “ostentam contetido aberto, de cunho genérico” ~ capaz de responsebili Estado brasileiro na seara internacional. 3.7 Convencionalidade do tipo penal militar de posse de substincia entorpecente para uso proprio (STM) 0 édigo Penal Militar dsciplina, no art. 290 o crime de trifica posse on us de entorpecente ou substancia de feito sitar, cominande pene 2¢ teclusdo, de até cinco anos, para quem “[r]eceber, preparar, produzir, vender, 12.0884, Ac. ne 1572/2014, 74 Tarma, rel. Min, CuAvDIO jug 24.09.2014. TST RR 1072-72.201 MASCARENHAS BRAN Parte Cap.3 + PRATICA JUISPRUDENCIAL CO CONTROLEDE cONVENCONAUDADE | 211 fornecer, ainda que gratuitamente, ter em depésito,transportar, trazer con- sigo, alnda que para uso préprio, guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma a consumo substancia entorpecente, ou que determine dependéncia fisica on psiquice, em lugar sujeito a administracio militar, sem autorizagao owem desacordo com determinagao legal ou regulamentar”, ‘Tem-se constantemente alegado, perante a Justica Militar inconven- cionalidade desse tipo penal militar, sob o argumento de que violaa Conven- s40 Unica sobre Entorpecentes, de 1964 (promulgada no Brasil pelo Decreto n° 54,216/1964), ¢ a Convencio Contra o Trifico Iiicito de Entorpecentes ¢ Substincias Psicotrépicas, de 1991 (promulgada no Brasil pelo Decreto n.2 154/191). Os recorrentes (¥.g, a Defensoria Publica da Unio) entendem que a imposicio de pena privativa de liberdade ao usuério de droge, além de excessivamente gravosa, nio se mostra adequada & prevencao do crime, ja que nao € apta a ressocializacéo do usuério. No julgamento do Recurso de Apelacéo n.* 199-68.2015,7.01.0101/ Ry, 0 Superior Tribunal Militar ~ depois de expor o nosso entendimen to sobre os controles de convencionalidade e de supralegalidade das leis ~ entendeu, no entanto, que “embora as citadas convengées mencionem, expressamente, a importancia do tratamento e da reabilitagao dos viciados em entorpecentes, em nada se opem & cominagao de pena privativa de liberdade ao usuario de droges’, e que, “falo conteitio, a profilaxia dos necessitados € medida complementar, que poderd funcioner como subs- titutiva da pena nos casos legalmente antorizados, & exemplo da situagéo do semi-imputavel”. A Corte castrense argumentou, ainda, que “os milita- res manusejamn artefatos bélicos de elta periculosidade’, pelo que “conduta como a descrita nos autos coloca em risco nao s6 a integridade do militar, ‘mas também a de terceiros’™ Na maioria dos seus julgamentos, o raciocinio que faz 0 STM é 0 se- guinte: pelo fato de os tratados de direitos humanos aprovados por maioria simples no guardarem (conforme orientacgo da STF) hierarquia constitu- ional, sendo apenas supralegel, a pritica delituosa descrita no art. 290 do CPM se mantém no direito brasileiro, por restar conforme o texto constitu- cional. A Corte militar argumentou que o préprio STF (HC n.° 107.688, 24 ‘Turma, rel. Min. Anes Britto, DJe 19.12.2011) ja reconheceu “a compa- 2M STM, Apelacéo no 159-68,20157.01,0101/R}, rel. Min, Pénicuss Avngiio Luca DE ‘Quetnoz, julg 13.09.2017, Dje 2809-2017. Em identico sentido, v. STM, Apelagzo n= 36-15:20167.1LON1UDR, rel. Min. Manta Etszaperm Gumtanies ‘Tatstina, jal, 15.08 2017, De 28.08.2017

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