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2C – Vicente Greco Filho: em hipótese alguma dados podem ser explorados para fins não
penais, mesmo que a título de prova emprestada. Justificativa:
Não se pode admitir que a forma prepondere sobre o conteúdo, pouco importa que a
prova emprestada tenha formalmente natureza de prova documental, é documento cujo
conteúdo remeteria a uma conversa telefônica interceptada, a dados que, por
mandamento constitucional, só podem ser explorados para fins penais.
Burla ao art. 5º, XII da CRFB.
o Marco Aurélio adota essa posição.
3C – Marcellus Polastri e Tribunais Superiores: admite-se sim a exploração de dados e a
interceptação em casos correlatos ao crime ensejador. Justificativa:
As esferas penal, cível e administrativa se comunicam, de maneira que é possível se
admitir que uma sentença penal condenatória, pautada v.g. na quebra de sigilo ou na
interceptação telefônica, a depender do teor da condenação, importe na perda do cargo
de um réu servidor público. Hipótese na qual essa interceptação estaria repercutindo
administrativamente. Por outro lado, um título condenatório transitado em julgado é
um título executivo judicial, desse modo, os dados cujo sigilo fora afastado e que
embasam a condenação repercutiriam civilmente.
o Não podemos admitir que as esferas seriam estanques.
ATENÇÃO! Pronunciamentos recentes das 1ª e 2ª turmas do STF:
Compartilhamento pode ocorrer independentemente da fase persecutória.
Em um primeiro momento, todavia, o Pleno do STF chegou a ter o seguinte
pronunciamento anterior a essas manifestações: compartilhamento só poderia ocorrer
se a persecução penal já estivesse na fase processual, para evitar que, no fim das
contas, esse material acabasse por ser utilizado somente para fins não penais, o que
fatalmente aconteceria se a investigação viesse a ser arquivada.
o Decisão no inquérito 3014, Ag. Rg do Paraná (2012), da relatoria do ministro
Marco Aurélio.
Nesse precedente o Supremo glosa o compartilhamento, ponderando que se o
inquérito venha a ser arquivado, em verdade a quebra do sigilo ou
interceptação telefônica acabou sendo usado somente para fins não penais.
Inq 3014 AgR / PR – PARANÁ AG.REG. NO INQUÉRITO Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO Julgamento:
13/12/2012 Publicação: 23/09/2013 Órgão julgador: Tribunal Pleno Publicação ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-186
DIVULG 20-09-2013 PUBLIC 23-09-2013 Partes AGTE. (S): MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROC.(A/S)(ES):
PROCURADORGERAL DA REPÚBLICA AGDO.(A/S): NELSON MEURER ADV.(A/S): EDUARDO ANTÔNIO LUCHO
FERRÃO E OUTRO(A/S) Ementa COMPETÊNCIA – PRERROGATIVA DE FUNÇÃO – DIREITO ESTRITO. A competência
do Supremo, presente a prerrogativa de função, é de direito estrito. Não a alteram normas processuais comuns,
como são as da continência e da conexão. COMPETÊNCIA – JUÍZO NATURAL. O princípio do juiz natural surge
com envergadura maior. O cidadão comum não pode ficar prejudicado pelo fato de haver corréu detentor da
prerrogativa de ser julgado por este ou aquele Tribunal. PROVA – INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS –
COMPARTILHAMENTO – IMPROPRIEDADE. Consoante dispõe o inciso XII do artigo 5º da Constituição Federal,
mostra-se inadequado o compartilhamento de prova que, no campo da exceção – afastamento da privacidade
–, implicou interceptação telefônica determinada por órgão judicial e para efeito específico, ou seja,
investigação criminal ou instrução processual penal. Decisão O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do
Relator, negou provimento ao agravo regimental, vencidos os Ministros Rosa Weber e Presidente, e,
parcialmente, os Ministros Teori Zavascki, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes. Ausente, licenciado, o Senhor
Ministro Celso de Mello. Presidiu o julgamento o Ministro Joaquim Barbosa. Plenário, 13.12.2012. Indexação -
VIDE EMENTA. Legislação LEG-FED CF ANO-1988 ART-00005 INC-00012 CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Observação Número de páginas: 3. Análise: 30/09/2013, MAR. fim do documento
Tema voltou a ser analisado pelas turmas, e tem sido no sentido de permitir o
compartilhamento ainda na fase inquisitorial.
Compartilhamento pelo particular?
1C – Não. Supremo tem admitido o compartilhamento objetivando a exploração dessa
prova pelo Estado e não pelo particular.
V.g. compartilhamento para informar o inquérito civil público, para informar uma
ACP, um PAD, uma ação de improbidade administrativa.
o Prova foi feita pelo Estado, então se admite que seja explorada a fim de prova
emprestada também pelo Estado.
2C – Sim, mas pelo particular vítima
Autores como Marcellus Polastri admitem o compartilhamento dessa prova, para ser
explorada pelo particular vítima. Se pensarmos na vedação à proteção ineficiente,
porque não admitir que a vítima se valha da interceptação telefônica, da quebra de
sigilo determinada para formalizar de pronto uma ação indenizatória? Não há pessoa
mais vulnerável que o particular pessoa física. Se as instâncias são independentes e a
vítima não precisa aguardar o trânsito em julgado de eventual sentença penal
condenatória para só então buscar efetiva indenização, se existe nítida correlação entre
as esferas porque não explorar?
o No entanto, essa não é a posição do Supremo, que só tem permitido esse
compartilhamento pelo estado.
A posição da Defensoria vai depender do cenário, se está pela vítima, em processo civil, vai se colocar
favoravelmente ao compartilhamento, se estiver pelo réu, criminal, vai se colocar contra. Em prova para
CESPE (meros reprodutores da juris dos Tribunais Superiores) atentar para todos esses cenários.
DEFENSORA, se o pedido do MP viesse a ser acolhido, a prova dos autos desafiaria desentranhamento.
Impetrar HC para desentranhar essa prova por ofensa ao contraditório, residindo aí constrangimento
ilegal (explorar uma prova contra quem não teve oportunidade de rebatê-la ainda no seu nascimento).
Em todos os exemplos examinados não teríamos esse problema, pois estávamos falando de
exploração da interceptação a titulo de prova emprestada contra o mesmo réu imputado
criminal, numa ação de improbidade, por exemplo. Não haverá qualquer ressalva quanto ao
valor da prova emprestada.
o Indiscutível que esse último caso vai compreender sigilo das comunicações telefônicas.
o Posição do STJ
STJ já tem outra percepção: assim como a gravação, a escuta também independeria de
autorização jurisdicional;
Se a gravação telefônica independe de autorização do juiz, pois é o interlocutor gravando
a própria conversa, o mesmo raciocínio valeria para escuta, já que nesta haveria a
anuência do interlocutor, seria este também dispondo da sua intimidade, consentindo
terceiro a gravar a sua própria conversa.
CUIDADO! STJ, de maneira capciosa, cita o Supremo. Um leitor desavisado vai achar que
o Supremo teria entendido o mesmo, e não é o caso (julgados falavam de gravação e não
escuta).
o Em todos os casos analisados pelo STF, havia ponto em comum: emprego da prova pela
vítima, ou seja, todas as situações eram cenários equivalentes a legitima defesa.
Gravações clandestinas, telefônicas ou ambientais:
Gravação ambiental: captação de todos os sinais ópticos, eletromagnéticos e acústicos de
um ambiente;
Quando essas gravações são realizadas pela própria vítima daqueles crimes, outro argumento
utilizado pelo STF, a par das gravações serem lícitas, é de que naquele momento era a forma
que a vítima tinha para se defender, remetendo a situações de legítima defesa.
Do ponto de vista penal, não seria uma situação idêntica, mas seria próxima, excludente
de ilicitude que é e, portanto, neutralizaria a aparente ilicitude na obtenção dessa prova.
o Isso é extremamente importante, pois, se aproveitando dessa jurisprudência, já estão começando
a pipocar casos de produção deliberada dessas gravações pelo Estado, valendo-se de
particulares, previamente orquestrados, para gravar conversas telefônicas e ambientais com
claríssimo propósito de incriminá-los, e aí surgem variantes que não foram enfrentadas:
(1) Ofensa ao direito ao silêncio: gravações que, muitas vezes, foram produzidas
deliberadamente pelo Estado a fim de incriminar determinado interlocutor. Isso traduz ofensa
ao direito ao silêncio.
Estado, diante potencial imputado, tem o dever de adverti-lo do direito ao silêncio.
O que por si só já macularia a prova, mas se soma a outras ofensas;
(2) Ofensa à garantia da não autoincriminação: prevista no art. 8º, 2 ‘g’ da CADH e art.
14, 3 ‘g’ do Pacto de direitos civis e políticos da ONU.
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto
não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito,
em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
g. direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada; e
3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualmente, a, pelo menos,
as seguintes garantias:
Se não pode nem participar, muito menos executar sendo particular. Isso porque poderes
de polícia judiciária traduzem atividade exclusivamente estatal, considerado o art. 144,
§1º, IV e 4º da CRFB/88
Poderes esses recentemente ampliados para o MP, para o próprio Estado, nunca para o
particular
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido
pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
Tudo isso já era articulado e não podemos deixar de trazer isso em prova. É a grande questão que surge
em provas de DP sobre o tema:
Em qual medida uma gravação clandestina pode ser reputada ilícita, desafiando desentranhamento dos
autos, inclusive eventual HC trancativo do inquérito ou da ação penal, se todas as provas tiverem sido
produzidas as partir dessa gravação?
R. Quando essas gravações clandestinas tiverem sido produzidas deliberadamente pelo Estado, com o
escopo de induzir o interlocutor a produzir prova contra si próprio, em desatenção ao dever estatal de
alertá-lo quanto ao silêncio, ao dever de não compeli-lo a produzir prova contra si próprio e em
desatenção ao preceito constitucional segundo o qual qualquer atividade investigatória é dever estatal,
jamais exequível por particulares (o que seria uma negação do próprio devido processo legal, sob pena de
retrocedermos em séculos e retornar à justiça penal privada).
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de
detenção.
LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS
Aproveitamento das informações relevadas pela interceptação – art. 2º, §único, Lei 9296/96
o Quando se tem uma interceptação, é como se abrisse uma caixa de pandora, é um mergulho na
intimidade alheia. Novos infratores podem ser revelados, novos crimes podem se descobertos.
o Até onde essas revelações podem ser aproveitadas? Posição dos Tribunais Superiores:
Novos envolvidos:
Art. 2º, Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a
situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos
investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
A descoberta de novos envolvidos tem que ser sopesada, levada em consideração. Essa
descoberta será lícita, o próprio legislador apostou nisso; aqui o próprio legislador
reconhece que, por vezes, não será possível ter a identificação completa de todos os
envolvidos.
Nem seria propriamente encontro fortuito de provas, pois é um fenômeno já esperado pelo
próprio legislador, que não exige que o decreto de interceptação telefônica individualize
de maneira exaustiva todos os envolvidos.
Novos crimes
Descoberta de novos crimes seria lícita, pois estaria dentro do encontro fortuito de
provas ou serendipidade ou crime achado. A questão é o que fazer com essa
descoberta:
1C – Tribunais Superiores
o (1) Com conexão – se o crime for conexo ao da apuração, haverá unidade de
processo e julgamento, art. 79 do CPP. Em razão disso, a interceptação servirá para
ambos, alcançando tanto aquele em apuração (reclusivo) quanto os conexos. Nesse
caso, independentemente se punido com reclusão ou com detenção, isso se torna
irrelevante, pois são crimes conexos ao que ensejou a interceptação.
Em prova objetiva para DPE, são esses pormenores que devemos atentar.
Contudo, em prova discursiva e oral, devemos defender que a interceptação telefônica só pode ser
aproveitada para novos crimes descobertos, desde que conexos ao que ensejou a interceptação
telefônica e de escala penal igual ou superior ao crime ensejador da medida, para guardar a
proporcionalidade de gravidade. Não vamos abrir mão do requisito conexão.
Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz,
de ofício ou a requerimento:
Thiago Abude, defensor público do RJ, tem um livro sobre interceptação telefônica e traz o seguinte:
Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz,
de ofício ou a requerimento:
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao
juiz de ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das
indicadas pelas partes. § 1 o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a
que as testemunhas se referirem.
Posição que não deve ser esquecida na prova, ainda mais se tiver uma atuação oficiosa em
sede de inquérito:
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas
observando-se a:
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou,
quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou
mediante requerimento do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)
Importante!! Qualquer medida cautelar que por lei desafie a atuação ex officio do juiz vai se submeter a
essas três posições (v.g. produção antecipada de provas)
Interceptação telefônica como medida cautelar preparatória da ação penal (art. 3º, I, Lei
9296/96)
o A requerimento do MP;
o Por representação da autoridade policial*.
* ATENÇÃO!!!! Posição defendida abertamente pelo MP (Marcellus Polastri, Pacelli) no
sentido de que medidas cautelares são jurisdicionais. O que isso significa na prática?
Só podem ser buscadas por quem tiver legitimidade ad causam – até porque para se
provocar validamente a jurisdição precisa ter legitimidade ad causam –, o que não se
aplicaria aos delegados, na medida em que os delegados não são partes.
Representação lançada pela autoridade policial apenas se tornaria cognoscível pelo juiz se
o MP opinasse favoravelmente, de forma a ser o MP encampando aquela representação.
No final das contas, a representação da autoridade policial seria dirigida ao MP.
Se o parecer ministerial for contrário, a hipótese seria de não conhecimento da
representação pelo juiz.
Se ainda assim ele apreciasse a representação, seria o juiz atuando de ofício no inquérito.
Prova ilícita.
Na realidade em prova para defensoria abraçar essa orientação, ela é boa pro réu. Delegado não tem como
provocar validamente a jurisdição. A depender do caso, buscaríamos relaxamento da prisão ou
desentranhamento da prova dos autos ou levantamento dos bens.
Essa orientação não tem grande penetração no STF, pois para o Supremo os delegados
atuariam investidos numa legitimatio propter officium, ou seja, em decorrência do próprio
ofício que desempenham, o exercício dos poderes de polícia judiciária, lhes confiado pela
CRFB, art. 144, §§ 1º, IV e 4º.
Pedido formulado oralmente?
o Art. 4º, §1º da Lei 9.296/96 admite que o pedido de interceptação seja oficializado oralmente,
mas condiciona a concretização à redução desse pedido a termo.
o O art. 5º prevê a interceptação telefônica pelo prazo de até 15 dias renovável por igual período.
o A posição defensiva é no sentido de permitir apenas uma renovação, ao argumento de que a
vida privada, a intimidade não podem ficar permanente devassadas.
Cuidado em provas objetivas,e ssa orientação não foi acolhida pelo STF e STJ. Assim,
podemos ter “n” renovações, admitindo-se aqui a técnica decisória aliunde ou per relationem,
ou seja, não precisa trazer fatos novos para renovação da interceptação, pode se reportar aos
fundamentos motivadores do primeiro decreto, mas sinalizando que aquela ratio ainda
persiste.
Diante desse cenário, é possível ter sucessivas renovações.
o Sucessivas renovações sem evolução sensível
Questionar se haveria fumus comissivi delicti que justificasse a continuação da interceptação
telefônica.
o Competência: essas renovações não são da competência funcional do juízo de plantão, logo,
eventual pronunciamento que aprecie a renovação será nulo. As provas obtidas doravante se
mostrarão ilícitas, em razão da acintosa burla a garantia do juiz natural.
Violação do juiz natural: não podemos esquecer que, a depender da hipótese, a distribuição
do pedido de interceptação telefônica ou a decisão acerca desse pedido importa prevenção:
Vários juízos potencialmente competentes, na mesma circunscrição judiciária:
distribuição do pleito de interceptação já o torna prevento (art. 75 do CPP).
Múltiplos juízos potencialmente competentes, espalhados em diferentes circunscrições
judiciárias: a precedência no cometimento de ato decisório importa prevenção (art. 83 do
CPP)
Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou
mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver
antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este
relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3 o ,
71, 72, § 2 o , e 78, II, c).
Basta que a transcrição alcance as conversas mais relevantes do ponto de vista penal.
Todavia, é fundamental que todo material interceptado esteja disponível.
Nada impede que essa disponibilidade seja alcançada por conta da catalogação em mídia
digital. Tudo isso para evitar a quebra da cadeia de custódia da prova (antes do Pacote
Anticrime, previsão sutil no art. 245, §6º do CPP):
Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir
que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e
lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a
abrir a porta.
Existem provas que são produzidas fora do processo, provas em relação as quais não
teremos contraditório e ampla defesa em tempo real. Logo, é fundamental que esse
material seja conservado na íntegra, para que depois possa ser feito o contraditório
diferido. Quando pensamos em interceptação, o contraditório será diferido e, para que
ele seja validamente exercido, é necessário que a prova como um todo seja
conservada, do contrário isso frustrará o contraditório e a ampla defesa.
Mantido todo material interceptado à disposição da defesa em mídia digital, se tiver
um vírus que destrua parte desse material, a prova com um todo se mostrará
imprestável, por ter havido a quebra da cadeia de custódia.
o Será imprestável como um todo, pois não temos como mensurar se essa conversa
destruída elucidaria outra conversa aparentemente suspeita. Nunca se terá a
convicção que uma conversa aparentemente suspeita seria sim incriminadora,
afinal de contas em meio à conversa telefônica destruída – mesmo que
voluntariamente – poderíamos ter elucidado a anterior, mostrando ser prova
amena, com absolutamente nada reprovável.
Esse fenômeno se chama quebra da cadeia de custódia da prova.
Lembrar da problemática envolvendo acesso ao espelhamento do
WhatsApp:
o Mesmo por determinação judicial é inaceitável, pois significa dar aos
agentes estatais carta branca para não só interagir, mas modificar o
conteúdo da prova que está sendo produzida (apagar msgs, distorcer,
sem deixar rastros).
o Violação a não autoincriminação quando interage com outros
o Fragilização do contraditório e da ampla defesa, em virtude da
impossibilidade de produzir prova em sentido contrário; seria uma prova
diabólica.
o STJ, 6ª Turma, Min. Laurita Vaz
Dizer o Direito
É nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp via Código QR para acesso no WhatsApp
Web. Também são nulas todas as provas e atos que dela diretamente dependam ou sejam consequência,
ressalvadas eventuais fontes independentes. Não é possível aplicar a analogia entre o instituto da interceptação
telefônica e o espelhamento, por meio do WhatsApp Web, das conversas realizadas pelo aplicativo WhatsApp.
STJ. 6ª Turma. RHC 99735-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/11/2018 (Info 640).
Aproveitando essa toada do intervalo de tempo, é obvio que não temos uma justa posição
entre deferimento e efetivação da interceptação, haverá um espaço.
Deferida a interceptação, temos que oficiar os profissionais responsáveis pela
interceptação para que ela efetivamente comece.
O inverso também é verdadeiro: quando cessada a interceptação, haverá um interregno
entre a revogação e a efetiva paralisação das interceptações.
Material que vier a ser interceptado nesse período é ilícito, pois será sem autorização
jurisdicional. A licitude estava condicionada à autorização que não mais existe.
o Os responsáveis pela interceptação não responderão criminalmente, se eles
imaginavam que ainda estava em vigor. Só vão responder criminalmente se
informados da revogação permanecerem interceptando.
Art. 8º, caput – SIGILO da interceptação telefônica
o É imprescindível à efetividade da medida, uma vez que é o caráter sorrateiro que acaba lhe
conferindo efetividade. Se a interceptação é revelada, ela perde a razão de ser, pois o investigado
não falará nada de relevante ao telefone.
o Para se garantir esse sigilo, a interceptação telefônica é processada em autos próprios, que serão
anexados, depois de encerrada a medida, aos autos do inquérito ou processo (art. 8º, §único)
Se for incidental ao inquérito, ela será juntada aos autos imediatamente antes do relatório
final. Isso é óbvio.
Se for incidental ao processo (observar que o sigilo da interceptação não é inconstitucional,
pois inerente à efetivação da medida; tampouco exclui o contraditório, que será diferido), os
autos da interceptação serão juntados aos autos do processo antes das alegações finais
(prazo final).
Como chegamos a essa conclusão? Art. 8, §único faz remissão aos arts. 407, 502 e 538
do CPP. Esses dispositivos versavam (passado) sobre alegações finais. Na letra da lei, os
autos da interceptação seriam anexados até a fase das alegações finais, porém, se isso
ocorrer, o defensor vai pedir ao juiz a conversão do julgamento em diligências, em
deferência do contraditório e da ampla defesa. Justificativa:
Alegações finais não é uma peça, tampouco pronunciamento probatório, mas
argumentativo. São alegações finais, momento em que as partes tecerão suas
manifestações derradeiras. Com a apensação dos autos da interceptação telefônica aos
autos do processo, temos elementos probatórios novos.
Nesse caso, para evitar cerceamento do direito de defesa, o juiz deverá convolar o
julgamento em diligências, justamente para oportunizar a defesa do imputado e a
produção de provas que possam contradizer o apurado na interceptação telefônica ou
elucidar conversas telefônicas suspeitas, incluindo um novo interrogatório.
Questão recursal
o Decisão que indefere pleito do MP de interceptação telefônica
Caberá apelação residual do art. 593, II, do CPP, pois seria decisão com força de definitiva
inatacável por RESE.
Atenção! Lembrar da imprescindibilidade do sigilo: interposta apelação pelo MP, descabe
notificar a parte contrária para apresentar contrarrazões. Haveria uma preclusão lógica do
recurso caso a parte soubesse que está sendo monitorada. Por isso, excepcionalmente
essa apelação será examinada apenas à luz das razões da apelação.
o Incidente de inutilização (art. 9º, Lei 9296/96)
Também desafia apelação residual, inatacável por RESE.
Art. 9° A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial,
durante o inquérito, a instrução processual ou após esta, em virtude de requerimento
do Ministério Público ou da parte interessada.
Incidente pode ser instaurado em qualquer fase da persecução, tanto que o art. 9º, caput diz
que a gravação que não interessar a prova será inutilizada por decisão judicial em qualquer
fase persecutória. O requerimento pode partir do MP e da parte interessada (terceiro).
V.g. imputado é amante de uma pessoa casada, preocupada com o fato de o
relacionamento extraconjugal vir à tona. Nesse cenário, esse terceiro tem interesse em
buscar o incidente de inutilização.
Se a conversa for inútil ao deslinde da demanda, poderá ser inutilizada. Mas se for
útil, não pode.
DP: qualquer procedimento probatório que se imponha coercitivamente ao imputado, com potencial para
incriminá-lo, se mostrará ilícito.
o Ainda dentro da garantia a não autoincriminação, muito cuidado com esse artigo que estabelece a
possiblidade de condução coercitiva do réu para interrogatório, reconhecimento ou qualquer
outro ato que exija a sua presença.
STF:
Ao examinar a constitucionalidade da condução coercitiva, STF entendeu por reputá-la
não recepcionada pela CRFB quando voltada apenas ao interrogatório.
Isso porque seria uma prova evasiva que exigiria postura ativa.
Todavia, o STF não evoluiu para a condução coercitiva para o reconhecimento, pois seria
uma prova evasiva que demandaria postura passiva, um não fazer, um tolerar.
E para o STF isso é ok, desafiando coerção.
Também nada disse quanto à condução coercitiva para qualquer outro ato que dependa
do imputado.
Posição Defensoria – Nicollit (minoritário): se for um procedimento probatório que pode
incriminá-lo e que exige a sua colaboração, deve haver espontaneidade do imputado, do
contrário o procedimento será ilícito, seja ele invasivo, evasivo de postura ativa ou evasivo de
postura passiva.