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PROJEÇÃO DIGITAL DE CINEMA – FORMATOS DE EXIBIÇÃO

José Augusto de Blasiis*

Passamos a viver o momento da chamada tripla transição, no qual a produção (captação), a


pós-produção e a exibição, transitam dos meios analógicos para os digitais em todo o mundo.

A terceira ponta do tripé é o da exibição digital. O processo de transição se acelerou muito


rapidamente no mundo1 em razão da forte demanda dos filmes em 3D. A troca de plataformas nos
cinemas tem andado ao ritmo de mais de 70% ao ano nos EUA e na Europa. A crise de 2008
retardou um pouco este processo, mas já se antecipa que em 2013 a maioria do parque de
exibição dos EUA já estará migrado. Lembrando que neste mercado americano existem perto de 40
mil salas de cinema, e deste montante 65% já são digitais 2D e 3D. Na Europa o índice de
digitalização já chegou a 50%, na Ásia em 41% e na América Latina 22%.

No Brasil hoje temos 779 salas em 364 complexos de cinemas no padrão chamado DCI (salas
de 2k e 4K que seguem as normas das majors de Hollywood), e aproximadamente umas 120 salas
no padrão de E-Cinema (cinema eletrônico), onde a resolução dos projetores fica em sua maioria
em 1368 X 768 (half HD) e encodados em WMP (Windows Mídia Player). O Brasil possui perto de
2.500 salas de cinema (2.346 em 2011)2, com as salas digitais no padrão DCI chegando em 31% do
mercado. Mais um montante em torno de 5% de salas no padrão E-Cinema, temos um total de
36% do mercado com salas digitais Projeta-se que o Brasil terá majoritariamente salas digitais 2K
em 2015. Nem sempre as previsões se cumprem e o mundo passa por uma crise sistêmica, mas
mais cedo ou mais tarde o mundo terá que migrar os seus parques de projeção para o D-Cinema
(cinema digital), pois se não o fizerem, não terão os filmes mais cobiçados (os blockbusters
americanos) do mercado.

Com a expansão dos projetores digitais, teremos cada vez menos cópias analógicas para
exibição dos filmes (são por volta de 160 mil salas de cinema no mundo todo), o que contribuirá
para a antecipação do fim do uso de película como a melhor forma de se captar imagens.

Como preparar o máster de exibição dos filmes de curta e longa metragem

Com o avanço das salas DCI no país os filmes brasileiros estão cada vez mais procurando
fazer uma masterização DCP para poderem ter acesso a este novo parque exibidor. Por enquanto o
parque DCI ainda é majoritariamente usado na exibição de filmes 3D, mas o avanço do numero de
salas (alguns complexos já nascem só com salas digitais) propicia que os filmes planos (2D) possam
ter acesso a este mercado. Ainda o que mais temos é a exibição em festivais (principalmente os

1
A primeira exibição de cinema digital em alta definição aconteceu em 1999 com o filme “Guerra nas Estrelas –
Episódio 1”.
2
Fonte Revista Filme B – maio 2012.
internacionais) em DCP. Filme brasileiro com distribuição em DCP de maneira geral são só os de
grandes lançamentos e com forte apelo de público. Para os filmes chamados independentes o que
existe ainda é o mercado de projeção analógico (cópias 35mm) ou a projeção em E-Cinema. Os
festivais também usam muito o formato de exibição eletrônica com WMP e com H.264. São dois
formatos que contemplam muita compressão de informação para gerarem arquivos leves e de fácil
projeção em sistemas mais modestos de servidores e projetores.

1- Masterização DCP
Encode no padrão DCI com o codec JPEG-2000 em resolução 2K e 4K, com chave KDM ou
sem esta chave. KDM é a sigla Key Delivery Message (chave de mensagem de distribuição).
A chave de segurança para cada filme é entregue em uma única KDM para cada servidor de
cinema digital. A chave de segurança é criptografada dentro do KDM, o que significa que a
entrega de um KDM para o servidor errado ou local errado não vai funcionar, e assim esses
erros não podem comprometer a segurança do filme.
O KDM é um pequeno arquivo, e é normalmente enviado para o exibidor. A maioria dos
fabricantes TMS pode entregar KDMs de forma mais eficiente dentro de seu ecossistema.
Além disso, as técnicas de entrega por envio por internet com segurança estão sendo
testadas.
No momento atual do mercado o melhor é não se trabalhar com KDM, pois os piores
problemas que estão acontecendo no mundo em projeção digital advêm do erros com as
chaves KDM.

Formatos e resoluções DCI:

Resolução 2K – 1.85:1 = 1998 x 1080 (24 FPS e 48 FPS)


Resolução 2K – 2.30:1 = 2048 x 858 (24 FPS e 48 FPS)3
Resolução 2K – 1.89:1 = 2048 x 1080 (24 FPS e 48 FPS) [nova relação de aspecto que utiliza
toda a resolução do formato 2K da DCI]
Resolução 4K – 1.85:1 = 3996 x 2160 (24 FPS)
Resolução 4K – 2.39:1 = 4096 x 1716 (24 FPS)
Resolução 4K – 1.89:1 = 4096 x 2160 (24 FPS) [nova relação de aspecto que utiliza toda a
resolução do formato 2K da DCI]

Se um filme for finalizado em resolução Full HD de 1920 x 1080 ele terá masterização DCP
nesta resolução, criando uma pequena área de Pillar Box na projeção, como o aspecto
1.85:1 também cria ao ser projetado na resolução de 1998 x 1080.

3
Formato não indicado para projeção em 2K, pois o aspecto 2.39:1 fica só com 858 linhas de resolução o que lha faz
perder foco nos planos mais abertos. No sistema de projeção DCI não há lentes anamórficas. Existe sim uma ampliação
da imagem digital para que ela tome toda a lateral da tela no cinema. Assim perdemos no numero de linhas e com este
processo de ampliação digital da imagem. Infelizmente para o aspecto 2.39 a melhor projeção só ocorre em salas com
projetores 4K, que são pouquíssimas no mercado atualmente.
A DCI resolveu que o seu 2K teria o mesmo numero de linhas dos sistemas de TV de alta
definição – 1080 – provavelmente para facilitar o acesso de programas ao vivo em HD para
as salas de cinema.

2- Masterização WMP
Máster em WMV, AVI, MPEG-4 ou Quick Time (.mov). O WMV é um codec padrão do
WMP/PC é o mais recomendado para uso em cinema.

Resolução para projeção em cinema:

Full HD – 1.78:1 (16 x 9) = 1920 x 1080 (23.98 FPS) [O máster tem que ter frame rate de
23.98 FPS para ser exibido nas salas de cinema E-Cinema]
Full HD – 1.85:1 (16 x 9) = 1920 x 1038 (23.98 FPS) [O máster tem que ter frame rate de
23.98 FPS para ser exibido nas salas de cinema E-Cinema]
Full HD – 2.39:1 (16 x 9) = 1920 x 803 (23.98 FPS) [O máster tem que ter frame rate de
23.98 FPS para ser exibido nas salas de cinema E-Cinema]. Este formato scope não é
recomendável para ser exibido nas salas de E.Cinema, pois alem da projeção ficar na tela ao
mesmo tempo com letter e Pillar Box, o numero de linhas de resolução fica bem baixo. Não
existe lente anamórfica para este tipo de projeção.

A exibição ocorrerá de maneira geral em projetores Half HD de 1368 x 768. Para este tipo
de projeção as resoluções serão as seguintes:
Half HD – 1.78:1 (16 x 9) = 1368 x 768 (23.98 FPS) [O máster tem que ter frame rate de
23.98 FPS para ser exibido nas salas de cinema E-Cinema]
Half HD – 1.85:1 (16 x 9) = 1368 x 739 (23.98 FPS) [O máster tem que ter frame rate de
23.98 FPS para ser exibido nas salas de cinema E-Cinema]
Half HD – 2.39:1 (16 x 9) = 1368 x 572 (23.98 FPS) [O máster tem que ter frame rate de
23.98 FPS para ser exibido nas salas de cinema E-Cinema]. Este formato scope em Half HD é
menos recomendável ainda para ser exibido nas salas de E.Cinema, pois além da projeção
ficar na tela ao mesmo tempo com Letter e Pillar Box, o numero de linhas de resolução fica
muito baixo. Não existe lente anamórfica para este tipo de projeção.

3- Masterização H.264/AVC
O codec H.264 tem uma infinidade de possibilidades de combinações, indo do nível 1 ao
5.1. Para uso em projeção digital em festivais e eventos o que se usa está entre o nível 3.2 e
4.1, sendo que o nível 4 deve ser a melhor media de uso no mercado.
Aqui devemos seguir as mesmas relações de aspecto dos exemplos da masterização em
WMP.
Exemplos para
Máximo Bitrate Máximo Bitrate
Tamanho Máximo resolução máxima @
Máximo de de Vídeo para Máximo Bitrate de Vídeo para
Máximo de Bitrate de Taxa de Frames
Nível macroblocos Baseline, de Vídeo para High 4:2:2 e High
Frame Vídeo para (Máximo de Frames
por segundo Extended e Main High Profile 4:4:4 Predictive
(macroblocos) High 10 Profile Guardados)
Profiles Profiles
por nível

128x96@30.9 (8)
1 1485 99 64 kbit/s 80 kbit/s 192 kbit/s 256 kbit/s
176x144@15.0 (4)

128x96@30.9 (8)
1b 1485 99 128 kbit/s 160 kbit/s 384 kbit/s 512 kbit/s
176x144@15.0 (4)

176x144@30.3 (9)
1.1 3000 396 192 kbit/s 240 kbit/s 576 kbit/s 768 kbit/s 320x240@10.0 (3)
352x288@7.5 (2)

320x240@20.0 (7)
1.2 6000 396 384 kbit/s 480 kbit/s 1152 kbit/s 1536 kbit/s
352x288@15.2 (6)

320x240@36.0 (7)
1.3 11880 396 768 kbit/s 960 kbit/s 2304 kbit/s 3072 kbit/s
352x288@30.0 (6)

320x240@36.0 (7)
2 11880 396 2 Mbit/s 2.5 Mbit/s 6 Mbit/s 8 Mbit/s
352x288@30.0 (6)

352x480@30.0 (7)
2.1 19800 792 4 Mbit/s 5 Mbit/s 12 Mbit/s 16 Mbit/s
352x576@25.0 (6)

352x480@30.7(10)
352x576@25.6 (7)
2.2 20250 1620 4 Mbit/s 5 Mbit/s 12 Mbit/s 16 Mbit/s
720x480@15.0 (6)
720x576@12.5 (5)

352x480@61.4 (12)
352x576@51.1 (10)
3 40500 1620 10 Mbit/s 12.5 Mbit/s 30 Mbit/s 40 Mbit/s
720x480@30.0 (6)
720x576@25.0 (5)

720x480@80.0 (13)
3.1 108000 3600 14 Mbit/s 17.5 Mbit/s 42 Mbit/s 56 Mbit/s 720x576@66.7 (11)
1280x720@30.0 (5)

1280x720@60.0 (5)
3.2 216000 5120 20 Mbit/s 25 Mbit/s 60 Mbit/s 80 Mbit/s
1280x1024@42.2 (4)

1280x720@68.3 (9)
4 245760 8192 20 Mbit/s 25 Mbit/s 60 Mbit/s 80 Mbit/s 1920x1080@30.1 (4)
2048x1024@30.0 (4)

1280x720@68.3 (9)
4.1 245760 8192 50 Mbit/s 50 Mbit/s 150 Mbit/s 200 Mbit/s 1920x1080@30.1 (4)
2048x1024@30.0 (4)

1920x1080@64.0 (4)
4.2 522240 8704 50 Mbit/s 50 Mbit/s 150 Mbit/s 200 Mbit/s
2048x1080@60.0 (4)

1920x1080@72.3 (13)
2048x1024@72.0 (13)
5 589824 22080 135 Mbit/s 168.75 Mbit/s 405 Mbit/s 540 Mbit/s 2048x1080@67.8 (12)
2560x1920@30.7 (5)
3680x1536@26.7 (5)

1920x1080@120.5 (16)
5.1 983040 36864 240 Mbit/s 300 Mbit/s 720 Mbit/s 960 Mbit/s 4096x2048@30.0 (5)
4096x2304@26.7 (5)

Exemplos para
Máximo Bitrate Máximo Bitrate
Tamanho Máximo resolução máxima @
Máximo de de Vídeo para Máximo Bitrate de Vídeo para
Máximo de Bitrate de Taxa de Frames
Nível macroblocos Baseline, de Vídeo para High 4:2:2 e High
Frame Vídeo para (Máximo de Frames
por segundo Extended e Main High Profile 4:4:4 Predictive
(macroblocos) High 10 Profile Guardados)
Profiles Profiles
por nível
4- Masterização Apple ProRes
Tem um dos melhores custo benefício de arquivamento e de masterização para que uma
produtora possam ter um máster de uso geral, do qual pode gerar várias mídias (DVD, Blu-
ray) e todos os usos de internet e TV que o projeto tenha como necessidades de
distribuição digital. Não é um formato usado em projeção no Brasil, mas tem sido bem
comum como máster digital de baixo custo. Este é o codec usado pela Arri Alexa, que se
tornou uma dos grandes sucessos na área da captação digital no mundo.
Outros codecs menos usados, mas de excelente qualidade, são o DNxHD (também usado
pela Arri Alexa) da Avid e o CineForm usado pela Blackmagic e o próprio JPEG-2000, que
ainda é pouco usado, mas que é um codec extremamente sólido e confiável.
Todos estes codecs trabalham com resolução HD, 2K e 4K e as relações de aspecto vertical e
horizontal se mantêm às mesmas em relação aos formatos já listados nos demais sistemas
de masterização para exibição.

5- Masterização sem compressão


Para uma masterização sem compressão nos temos os formatos de arquivos chamados de
encapsuladores – DPX 8 e 10 bits, TIFF 8 e 16 bits e Cineon 8 e 10 bits. Estes formatos são
usados para exportar material em alta resolução para finalização, correção de cor e transfer
tape to film. São também formatos ideais para um backup de longa duração em mídias com
o LTO, por exemplo.

* José Augusto de Blasiis é consultor especializado em mídias digitais. Coordenador de operações do CasablancaLab, laboratório do

grupo Casablanca/TeleImage e coordenador do curso de Cinema Digital da Universidade Metodista de São Paulo

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