Você está na página 1de 19

COMO INOVAR EM CORPORAÇÕES

COM STARTUPS
Cada vez mais grandes corporações têm que escolher entre inovar ou ficar para trás e virar história
Por: Isabela Borrelli

Não é de hoje que conforme novas tecnologias são lançadas, ideias com
pouco tempo de vida já se tornam obsoletas. E não é só isso: a velocidade
das inovações não tem previsão de parada ou de desaceleramento. Apesar
de na maioria das vezes isso remeter somente ao constante lançamento
de novos produtos, a realidade também atinge grandes corporações, que
têm a tendência a se acomodarem e, consequentemente, acabam ficando
para trás.
Gigantes como a Blockbuster, por exemplo, sucumbem diariamente
diante de empresas inovadoras, muitas delas startups, que conseguem
oferecer um novo olhar para o produto e que buscam permanentemente
se reinventar. Afinal, no mundo da Quarta Revolução Industrial, em que
ocorre a fusão de várias tecnologias com o objetivo de criar soluções
transformadoras, não há espaço para conformidade.
O Banco Original surgiu como uma solução para o modelo de bancos
atuais: sem agências, sem filas, tudo é digital. Segundo Guilherme Stocco,
head de estratégia e inovação, um dos empecilhos das grandes empresas
para inovar é sempre querer retorno financeiro rápido. “Em um primeiro
momento, investir em uma startup, por exemplo, não traz lucro. Mas isso
pode salvar a empresa, perpetuar ela. Não dá mais para não abraçar a
inovação”.
Isso já é perceptível até no tempo de vida útil de uma empresa: a queda
é inevitável. Chegar ao topo não é mais sinal de sucesso garantido, pelo
contrário, agora a luta é constante para manter o seu lugar no mercado e
não ser enterrado pela concorrência.
Sobre isso, Felipe Leal, head de corporate do StartSe, comenta: “As
startups são hoje a forma de empreendedorismo mais intensa, ágil,
escalável e de potencial impacto na vida das pessoas. Basta ver que, em
boa parte das nossas atividades cotidianas e profissionais, nós interagimos
com empresas e tecnologias que não existiam há poucos anos atrás”.
Além disso, a velocidade do desenvolvimento de uma startup está cada
vez mais intenso. Como startups são um negócio de crescimento rápido,
elas normalmente tem uma evolução planejada para ser superior à média.
Mas, com o avanço de tecnologias e inovações, elas estão alcançando
cada vez mais sucesso em pouco tempo.
Como exemplo, no mesmo período de tempo em que o Facebook
levou para alcançar 145 milhões de usuários ativos, o WhatsApp quase
quadruplicou o número, atingindo 419 milhões. Ou seja, o tempo é curto
para as empresas que desejam inovar e continuar na liderança. As startups
estão chegando com toda potência e velocidade, prometendo revolucionar
produtos, serviços e a forma como enxergamos o mundo.
Talvez o mais importante de tudo para corporações seja se
conscientizarem de que esses dados não são uma previsão: eles já são
uma realidade. As startups de fato são uma ameaça perigosíssima e alguns
casos famosos, como o da Blockbuster e Netflix são ótimos exemplos disso.

Sem inovação, sem chance:


o fim da gigante Blockbuster
É até estranho lembrar os dias em que, para assistir um filme, era preciso sair de
casa e ir até uma franquia da Blockbuster, gigante do mercado de videolocadoras.
Era impensável imaginar que alguns anos mais tarde, ela chegaria ao fim e o pior:
derrotada por uma tecnologia que se recusou a comprar por achar que não tinha
potencial.
Em seus 20 e poucos anos de vida, a Blockbuster foi referência mundial,
chegando a ter mais de 9 mil lojas e 70 milhões de associados por todo o mundo.
O que nem todo mundo sabe é que em 2000, Reed Hastings teve uma reunião
com John Antioco, CEO da Blockbuster, para vender a Netflix por US$ 50 milhões,
que, na época, era um serviço de DVD por correspondência.
Segundo a Variety, Antioco não se interessou no negócio por achá-lo muito
específico. Mas isso não significa que a Blockbuster não fez investimentos: ela
fez escolhas erradas. A companhia percebeu tarde demais que ter um serviço
de entrega era necessário, o que resultou em dificuldades para competir com
outros serviços como a própria Netflix e o Redbox.
Em 2010, enquanto a Blockbuster declarava falência, a Netflix ascendia e já
chegava a valer US$ 2,2
bilhões. No ano seguinte,
a Dish Network, terceira
maior operadora de TV
dos EUA, comprou a
videolocadora por US$
320 milhões. Apesar de
tentar deixar as lojas
abertas, o negócio
não decolou e, em
2013, Charlie Ergen,
co-fundador da Dish
Network, admitiu que
comprar a empresa foi
um mau negócio.

Outro dado que comprova a necessidade das corporações se


reinventarem é o de que, segundo o Innosight, companhias icônicas
norteamericanas, como Texaco, Quaker e The New York Times foram
removidas do S&P 500 Index, lista das empresas com maiores capitalizações
no mercado de trabalho dos EUA. No lugar do The New York Co., por
exemplo, novas empresas como a Netflix entraram.
O cenário é determinante e métodos clássicos como Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) não bastam. Apesar de poder ser uma alternativa
mais tradicional para a identificação de possíveis tendências, uma área
de P&D, por exemplo,
dificilmente tem foco
exclusivo nisso, sendo
responsável também
por conhecer melhor
o cliente, entre
outros. Dessa forma, é
preciso buscar outras
formas de dar vazão
à necessidade de se
reinventar e, para isso,
é preciso investir.
Segundo Kelly Galesi, head do programa de aproximação com startups
da BRF, o investimento em inovação deve parar de ser visto como uma
despesa: “A empresa deveria olhar para isso como uma alavanca de
investimentos e oportunidades. Hoje, o diferencial entre as empresas é
quem faz e quem não faz inovação”.
A questão que você pode estar se perguntando é: se só há duas opções
para corporações – inovar ou morrer –, e os métodos tradicionais não dão
conta de acompanhar as novidades, como fazer para inovar da forma certa
e manter a empresa sempre atualizada?
Na realidade, há várias formas de não ficar para trás. As mais comuns,
e que serão abordadas neste eBook, são cinco: programas de aceleração,
intraempreendedorismo, compra de negócios concorrentes, contratação
de startups e investimento como corporate venture capital.

Aceleração de startups
Enquanto um Corporate Venture Capital (CVC) – um fundo de
investimento criado em grandes empresas – tem como ação principal e
quase exclusiva o investimento de capital em startups, os programas de
aceleração oferecem mais do que isso. Por sinal, segundo Tzahi Weisfeld,
gerente geral do programa de aceleradoras da Microsoft, a aceleração
chega a solucionar o problema, enfrentado por diversos CVCs, de
acrescentar mais valor às startups.
No caso, há vários modelos de programas de aceleração, mas, no
geral, as aceleradoras investem o que é conhecido como smart money, ou
seja, o dinheiro não vem sozinho, mas acompanhado de conhecimento.
Dessa forma, além de possivelmente receberem um apoio financeiro
para se desenvolverem, as startups que
são aceleradas têm acesso a mentorias,
consultorias, contato com um bom
networking e infraestrutura, entre outras
vantagens que o programa pode oferecer.
Um exemplo de programa de aceleração
é o Track, da Visa em parceria com o
GSVLabs, centro de inovação do Vale do
Silício. Com duração de 6 meses, as startups
que são selecionadas passam os dois primeiros sendo preparadas pela
equipe de ambas empresas para ficar um mês no Vale do Silício.
O objetivo da preparação é exatamente otimizar o tempo no Vale:
“É muito caro estar lá e várias startups acabam indo para ficar tentando
montar o modelo de negócio, sendo que isso poderia estar sendo feito no
Brasil”, afirma Erico Fileno, head de inovação na Visa.
Assim, quando estão mais sólidas e com um modelo de negócios bem
definido, elas são enviadas para passar um mês no Vale do Silício, visando
aumentar networking, trocar experiências e estar em contato com venture
capital, por exemplo. Por fim, as startups passam os últimos três meses no
Brasil, com mentoria da GSVLabs, e encerram o processo com um Demo
Day, no qual os empreendedores apresentarão pitches pra investidores.
Claro que com uma maior participação e mentoria, as startups que
entram em programas de aceleração têm menos liberdade do que as
que optam por um CVC, por exemplo. Ao mesmo tempo, a consultoria e
infraestrutura oferecidas podem ajudar startups a alcançarem um sucesso
mais certeiro.

Criação de startups internas


A criação de startups internas, também conhecida como
intraempreendedorismo, nada mais é do que o empreendimento dentro
de uma corporação, ou seja, é quando ela incentiva seus funcionários
a sugerirem e desenvolverem projetos internos que têm como foco
melhorar algum aspecto da companhia. Essa opção de inovação é muito
interessante, uma vez que o intraempreendedor já conhece a corporação,
então os possíveis atritos que poderia ter com uma startup dificilmente
existiriam nesse caso, por exemplo.
Em primeiro lugar, é importante saber que toda empresa tem potenciais
empreendedores com ideias disruptivas, mas eles geralmente estão
escondidos. Para descobri-los, é preciso criar um mecanismo que não
só reúna as melhores sugestões de funcionários como também consiga
identificar quem está disposto a se dedicar inteiramente ao projeto.
No caso, o Banco do Brasil pode ser um excelente exemplo de como
quebrar barreiras por meio do intraempreendedorismo. Com programas
voltados para diferentes estágios do processo, desde a criação de soluções
inovadoras até o desenvolvimento de projetos em um laboratório no Vale
do Silício, o banco revela não só ter visão para as mudanças que estão
ocorrendo, como também ter a iniciativa de ser exemplo para grandes
empresas e corporações brasileiras que desejam seguir esse caminho.
O programa principal
tem quatro etapas:
Pensa, Action, Garagem,
incubação e aceleração.
A primeira é focada em
estimular os funcionários
a inscreverem ideias para
melhorar alguma área do
banco em uma plataforma
online. A segunda, já parte
para uma abordagem mais
prática e reúne participantes selecionados em grupos para aprofundar
as ideias e apresentá-las. Delas, só 5 são selecionadas e passam para a
próxima etapa, onde irão para a Garagem, uma pré-incubação de até três
semanas que ajuda esses projetos a tomarem mais corpo e a elaborarem
um MVP factível, por exemplo. Novamente, há uma seleção e a equipe
com o melhor trabalho vai para o Laboratório Avançado Banco do Brasil
(LABB), localizado no Vale do Silício, para uma incubação de três meses.
Depois, há a apresentação do trabalho final para os possíveis investidores.
Vilmar Grüttner, executivo de negócios digitais e responsável pelo LABB,
explica a escolha do banco de ter optado por começar a se reinventar por
meio do intraempreendedorismo: “O banco tem um conjunto de talentos
muito grande que podemos potencializar. Por exemplo, hoje nós temos o
aplicativo mais bem avaliado de mobile banking tanto na App Store quanto
na Google Play Store e ele foi desenvolvido dentro de casa, com talentos
do banco”.
Mas não é só isso. Grüttner também revelou que um dos motivos
do banco ter optado por essa escolha foi a mudança na mentalidade e
postura dos próprios funcionários para facilitar uma possível contratação
de startups externas no futuro: “A partir do momento que os funcionários
estão em contato com esse mundo, eles passam a entender melhor as
diferenças entre corporações e startups”.
COMO IDENTIFICAR
O FUNCIONÁRIO EMPREENDEDOR
Dessa forma, no caso do intraempreendedorismo, principalmente,
uma das principais questões é engajar e atrair os funcionários e conseguir
identificar os que têm a natureza empreendedora. No entanto, como fazer
isso? Segundo Vijay Govindarajan, professor na Dartmouth’s Tuck School
of Business, e Jatin Desai, cofundador e chefe executivo do Grupo Desai,
há seis padrões que empreendedores geralmente seguem. São eles:

1. DINHEIRO NÃO É TUDO 4. ELABORAÇÃO DE SOLUÇÕES


A principal motivação para Somente depois de um
empreendedores internos é amadurecimento, o empreendedor
poder influenciar com liberdade. será mais capaz de formular
Eles querem ser pagos de forma e visualizar diversas soluções
justa, mas não fazem isso pelo para a sua ideia. A partir daí, ele
dinheiro. provavelmente refletirá bastante
sobre as possibilidades e em como
desenvolver a melhor delas.
2. CABEÇA NO FUTURO
Possíveis empreendedores estão 5. DISPOSIÇÃO PARA
sempre pensando no que está por CORRER RISCOS
vir e geralmente são altamente
engajados e consistentes no seu Às vezes, é necessário tomar uma
trabalho. Eles não ficam sentados decisão corajosa, como mudar a
esperando o mundo mudar: eles direção da estratégia atual. Pode
estão tentando adivinhar quais são soar assustador para a maioria
as mudanças que estão a caminho. das corporações, mas às vezes é
exatamente isso que evita a morte
de uma empresa.

3. CUIDADO COM AS IDEIAS


Empreendedores têm a tendência 6. AUTENTICIDADE E
de ficar desenvolvendo uma ideia INTEGRIDADE
por dias e semanas entre reuniões,
conversas e ligações. Apesar de Os empreendedores estudados
ficarem cultivando essa ideia por um demonstraram confiança
bom tempo até tomar uma forma, e humildade, diferente da
eles dificilmente irão compartilhá-la ideia, geralmente associada a
com medo de possíveis opositores. corporações de sucesso, de um
inovador excêntrico e individualista.
No entanto, algo que o intraempreendedorismo não consegue suprir
é o olhar de fora. Segundo Scott Robinson, fundador e vice presidente
da Plug and Play FinTech: “É um bom começo, mas se você está focado
somente nisso, está perdendo uma grande parte do que está acontecendo.
É sempre importante trazer alguém de fora que traga uma nova visão e
ajude a mudar a cultura da empresa”.
Dessa forma, apesar de ser importante valorizar os talentos internos,
focar apenas nessa forma de inovação pode deixar as ideias muito fechadas
e acabar não cumprindo o propósito de inovar. “Um dos grandes erros de
corporações é sempre subestimar a capacidade de organizações externas
trazerem novidades”, afirma Kelly Galesi, da BRF. De fato, é importante
manter contato com o mundo externo e uma forma de fazê-lo é apostar
em novas formas de inovar.
A respeito disso, Richard Foster, autor do livro Creative Destruction,
afirma que a vida útil de uma empresa é determinada por meio do equilíbrio
de três fatores decisivos: o primeiro é fazer as operações ocorrerem de
forma efetiva, o segundo, criar novos negócios que supram as necessidades
dos clientes, e o terceiro, deixar de lado negócios que podem ter sido o
coração da empresa, mas que não acompanham mais o crescimento dela.
O caso da Nintendo é um exemplo importante de como reinventar um
negócio que não funciona mais pode dar certo.

Reinventar para sobreviver:


o caso Nintendo
Inovar nem sempre é fácil ou uma escolha óbvia, ainda mais se isso envolve
mudar completamente o foco dos negócios. A história da Nintendo é um exemplo
bem interessante de como reinventar a empresa pode não só salvar da morte
certa como até transformá-la em uma referência mundial.
A Nintendo que conhecemos hoje definitivamente é bem diferente do que
ela já foi e, acredite, ela já foi muitas coisas... Desde uma companhia de cartas
até uma tentativa falha de motel, a gigante dos videogames atual teve que errar
muito até acertar em cheio!
Em 1889, a Nintendo nascia voltada para a fabricação de cartas de hanafuda,
um jogo tradicional japonês que, no final do século 19, era uma marca registrada
de gângsteres. Com o passar do tempo, o negócio procurou se diversificar,
comprando direitos da Disney para fazer cartas dos personagens e também
tendo uma linha só de cartas com fotos de mulheres nuas.
Essas não foram as únicas apostas da empresa, que investiu em produtos
como: sopa de macarrão, blocos de encaixar muito similares ao LEGO,
fotocopiadora, companhia de táxi e até um motel. Com tantos insucessos, a
Nintendo tinha tudo para morrer, mas uma aposta mudou o rumo da empresa
para sempre: videogames.
Foi no final da década de 1970 e começo de 1980 que
a Nintendo se tornou um gigante no ramo dos videogames.
Cercada por uma equipe com profissionais como Gunpei
Yokoi, inventor do Game Boy, e Shigeru Miyamoto, criador
de jogos como Mario e Zelda, a
empresa decolou e se tornou o
que conhecemos hoje.

Contratação de startups
Contratar uma startup é diferente de fazer CVC ou um programa de
aceleração, porque, além de não necessariamente existir um fundo de
capital, ela fornece um trabalho para a corporação em questão e não recebe
investimentos contínuos para criar uma tecnologia para ela, por exemplo.
Lívia Gandara Prado, head de inovação da Libbs, indústria farmacêutica
nacional, explica: “Uma das vantagens de trabalhar junto com uma startup
é que você acelera algumas etapas, por exemplo, a empresa está querendo
fazer um programa de carona solidária corporativa. Para fazer isso, a gente
teria que pensar no programa, na plataforma, como fazer, etc.. Quando já
existe uma startup que faz isso, o passo é muito mais rápido”.
Segundo o exemplo, a startup no caso vende essa tecnologia para a
corporação interessada. Dessa forma, por meio da contratação de uma
startup, além da corporação economizar capital, uma vez que não precisa
fazer alterações internas na empresa, ela também consegue ficar mais
veloz, já que não precisa criar a tecnologia, no caso.
Ao mesmo tempo que a contratação
de startups para acelerar a inovação de
corporações é vantajosa para ambos os
lados, também é preciso se atentar a
possíveis problemas. “No dia-a-dia, a gente
encontra dificuldades dos dois lados, por
exemplo, às vezes a startup não entende
a linguagem da grande empresa, porque
ela tem uma velocidade diferente. Isso
não acontece necessariamente porque
empresa é burocrática, é porque ela tem
um risco maior, então tem que dar passos
um pouco mais lentos”, afirma Prado.
Para ter um bom relacionamento
entre as empresas, é preciso que as duas
estejam dispostas a ceder. Por isso, definir os principais objetivos e alinhar
o máximo de detalhes possíveis é indispensável para ter uma colaboração
rica entre ambos os negócios.

Compra de startups
Muitas vezes, uma possível solução para inovar é comprando uma startup.
Geralmente, essa opção é mais viável para grandes empresas que tenham
mais recursos para gastar alguns milhões ou até bilhões para incorporar um
negócio que já despontou e promete crescer cada vez mais.
Claro que não precisa ser um valor milionário para comprar um negócio
inovador, muito menos é obrigatório comprar uma empresa que já ascendeu.
Pequenos negócios também valem a pena, principalmente se a companhia
consegue perceber uma possível ameaça, e podem agregar à empresa tanto
quanto os grandes, ou, quem sabe, até mais.
No entanto, quando startups começam a incomodar corporações que ou
não conseguiram competir com elas ou estão ficando para trás indiretamente
por não terem enxergado o potencial desse novo serviço, a compra pode ser
uma forma de acabar com o possível perigo... E o valor para uma compra igual
a essa pode ser exorbitante, assim como foi o da compra do YouTube pelo
Google.
Comprando a concorrência:
a venda do Youtube para o Google
Em 2006, o YouTube era uma startup de um ano e pouco que foi comprada
por US$ 1,65 bilhão pelo Google. Apesar de o negócio ter recebido críticas por
causa do valor pago, ele acabou valendo a pena e sendo uma das melhores
aquisições do mercado tech, segundo The Ringer.
Não só foi um bom negócio em termos de lucratividade: antes da compra,
tanto o YouTube queria achar um modelo viável de monetização, como também
o Google teve problemas ao criar um canal de vídeos próprio, de nome Google
Videos. No caso, a tentativa falhou e o canal não foi tão bem aceito como o
YouTube, que tinha mais opções para as redes sociais, por exemplo. Como
resultado, o Google comprou seu concorrente mais forte.
Não só o YouTube recebeu a bolada de mais de um bilhão de dólares, mas
também o Google transformou a antes startup em uma das maiores, senão
a maior, empresas do ramo. Com o modelo de monetização implantado pela
companhia, no ano de 2016, por exemplo, a receita de vendas de anúncios ficou
por volta de US$ 5,2 bilhões.
Outra questão é que o YouTube
se tornou uma peça chave para
a empresa, uma vez que hoje ele
também é uma das principais opções
do resultado da busca e, afinal de
contas, nada é melhor para o Google
do que levar o usuário de um serviço
Google para outro.

Investimento em startups
Como já abordado, um Corporate Venture Capital é o fundo de uma
empresa voltado para fazer investimentos em startups como uma forma
de, além de conseguir lucros, trazer inovações para a companhia. Os seus
benefícios são, segundo Josh Lerner, professor de investimento em Harvard,
ser uma opção mais barata, rápida e flexível de fazer a firma responder às
mudanças tecnológicas do que a tradicional P&D. Outras vantagens são que,
além de estimular a demanda por produtos internos, o CVC também pode
conseguir retornos atrativos e ainda se beneficiar de um meio que ajuda a
capturar ideias determinantes para o futuro da empresa.
No entanto, esse modelo é mais indicado para empresas mais experientes
no assunto. Segundo Felipe Leal, do StartSe: “Os CVCs são uma boa opção
para as grandes empresas que já têm um amadurecimento em relação a como
trabalhar e interagir com startups”. Dessa forma, para começar a inovar, outras
opções, como intraempreendedorismo e a contratação de startups podem
ser mais indicadas.
A importância de CVCs vem crescendo continuamente e a tendência é
que cada vez mais corporações adotem essa medida. Um exemplo sobre isso
é o gráfico abaixo, que revela um aumento no número de novos grupos de
CVC de aproximadamente 70%, entre 2010 e 2015.

Número de novos grupos de CVC nos


EUA por ano do primeiro investimento
(entre 2010 e 2015)
INVESTIMENTO DE VENTURE CAPITAL X
CORPORATE VENTURE CAPITAL
Antes de tudo, no entanto, é preciso saber as diferenças de um
investimento de risco independente e o de uma corporação. Uma delas é
que, enquanto um fundo de venture capital investe em uma startup visando
estritamente o seu lucro no futuro, uma corporação, além de ter interesse
no rendimento do capital, também tem como objetivo trazer as inovações e
novas tecnologias para dentro dos seus negócios.
Como consequência disso, os CVCs tendem a investir muito menos do
que fundos de investimentos independentes. No caso, segundo a Business
Insider, no ano passado nos EUA, os investimentos independentes somaram
US$ 8,3 milhões, enquanto os de Corporate Venture Capital chegaram a
somente US$ 4,2 milhões. Afinal, para as corporações o retorno financeiro é
um dos objetivos, mas não é o único.
Outras diferenças, segundo a CB Insights, também se mostram presentes
em outros fatores, como nível de controle, estágio da startup que a corporação
ou o fundo dá maior prioridade para investir, entre outros.
MOTIVOS PARA APOSTAR EM UM CVC
O Corporate Venture Capital promete várias vantagens para empresas
que desejam inovar. A primeira e mais clara delas é a de que a empresa
não tem que mudar nada na sua estrutura, ou seja, não há necessidade
para reinventar a forma com que uma área inteira funciona, por exemplo.
Basta encontrar um projeto interessante e investir nele para ter acesso aos
benefícios.
Outros fatores interessantes e que
estão conectados são a economia de
dinheiro e de tempo. Em relação ao
dinheiro, como já citado, o CVC tende a
apostar menos capital em startups por ter
objetivos além do lucro do investimento
e também economiza por não precisar
realizar grandes mudanças na estrutura
da empresa.
Por sua vez, a startup pode usufruir
da estrutura da corporação e ainda
acelerar o processo das coisas lá dentro. O que acontece é que grandes
organizações geralmente têm mais a perder, por isso, elas tendem a
responder mais devagar às inovações e muitas vezes não conseguem dar
atenção a questões que não são primordiais para os negócios. Nesse caso,
a vantagem das startups está exatamente no fato de que elas são tipos de
empresa focadas em criar novos modelos de negócio que escalem rápido.

Bases ou laboratórios
em polos de inovação
Outra opção para corporações que decidem estar conectadas às últimas
novidades é ter uma base ou laboratório em polos de inovação, como, por
exemplo, o Vale do Silício. O motivo é simples: estar no meio da criação de novas
tecnologias e do surgimento de ideias inovadoras é estar um passo a frente de
todas as novidades que estão por vir.
“A vantagem principal é a empresa estar perto dos locais onde a inovação
está sendo pensada, desenvolvida, testada primeiro. O Vale do Silício hoje é a
região mais inovadora do mundo e estar presente permite que a empresa beba
da fonte mais limpa da inovação mundial”, afirma Felipe Leal.
De fato, o Vale do Silício é considerado o polo de inovação mais conceituado
do mundo, lar de empresas como Apple, Netflix e Facebook, localizado na Baía
de São Francisco, Califórnia, EUA. Conhecido por ter tecnologia de ponta e ser o
berço das últimas novidades, a faísca inicial para transformar esse lugar no que é
hoje ocorreu na Guerra Fria.
Segundo Chris Haroun, parceiro na Artis Ventures e professor na Hult
International School of Business, como uma revanche pela conquista russa do
lançamento do Sputnik, a NASA foi criada e precisava das melhores cabeças
para por a primeira pessoa na Lua. Quem atendeu essa demanda foi a Fairchild
Semiconductor, empresa de tecnologia localizada no Vale do Silício, que de certa
forma influenciou a região com cultura inovadora e sem medo de riscos.
Quem vai para a região percebe a diferença logo de cara: o espírito
empreendedor e a colaboração entre profissionais são compartilhados pela
grande maioria da população. Recentemente, o Banco Original disponibilizou
sua plataforma API, não só como forma de divulgar o negócio, como também
para compartilhar a tecnologia e facilitar o trabalho para outras empresas que
precisem de um serviço igual. Em relação a isso, Guilherme Stocco é categórico:
“Empresas sem mentalidade de
compartilhar vão morrer!”.
Scott Robinson, da Plug and
Play, explica o porquê disso:
“Hoje, nenhuma corporação tem
que ser a primeira, mas olhar
pro lado, buscando colocar
toda indústria pra cima. Como
resultado da colaboração,
não é só uma empresa que é
bem sucedida, mas todas se
beneficiam!”.
PRINCIPAIS PONTOS PARA NÃO ESQUECER
l Inovação é uma necessidade urgente!
l Programas de aceleração dão smart money, mas exigem mais controle
l Corporate Venture Capital não é o mesmo que fundo de venture capital
l Contratar startups agiliza a inovação, mas é preciso alinhar os objetivos
l O olhar de fora sempre agrega para os negócios
l Colaboração é a chave para o futuro
l Não se contente, sempre vá atrás de mais novidades

Você quer inovar? A gente pode te ajudar!


Mande um e-mail para
CORPORATE@STARTSE.COM.BR

Você também pode gostar