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O NOVO MAPA DA INDUSTRIA NO BRASIL: AS AGLOMERACOES INDUSTRIAIS RELEVANTES NO PERIODO 1995-2015 Aristides Monteiro Neto’ Raphrael de Oliveira Siva Danilo Severian? 1 INTRODUCAO (O debate académico sobre a desconcentracio produtiva no Brasil ganhou novos contornos quando passou a ser avessado por meio de recorte ou escala territorial das microrregioes geogréficas ‘Movimentos ¢ caracteristicas territoriais da atividade produtiva foram mais amplamente visualizados quando as tradicionais escalas macrortegional eestadual se somou a microrregional. Na década de 1990, Diniz (1993) ¢ Diniz ¢ Crocco (1996) trouxeram para a discusséo regional brasileira 0 conceito de aglomeragio industrial relevante (AIR), correspondendo & microrregifo com 10 mil ou mais empregos industriais em cada ano. © objetivo dos autores foi colocar em foco a compreensio da forga das economias de aglomeragio produzidas pela indiistria no territério nacional. Com base em evidéncias para 1970, 1980 ¢ 1991, verificaram que estava em curso no pais um processo — por eles denominado —de “desconcentragio concentrada” erestrita a um chamado poligono industrial, _g7esso modo, compreendendo um conjunto delimitado de microrregiées industrais das regiées Sul e Sudeste do pais Por essa via analitica, modificou-se o olhar para o tema da concentragio da atividade industrial pela percepcio de o problema nio se resumir relagio Sudeste versus demais regi6es do pais. Naverdade, constarou-se a existéncia de um bem definido campo aglomerativo e de atragio da indiistria no Brasil. Esse campo de reorganizacio das atividades industriais tem como seu. epicentro a metrépole paulista~ a regiéo metropolitana (RM) de Sio Paulo -, e seu movimento de desconcentracio se dirige para éreas preferenciais: em primeiro lugas, rumo ao interior do préptio estado de Sio Paulo, passando em seguida para as demais economias da prépria regiso Sudeste ¢, finalmente, para a regiéo Sul 1. Técnico de planejamento pesquisa na Dietria de Email 2. Pesquisado do Programe Pesausa para Deservokinenio Nacional PNPD) a Ditutpes Ema 3. Pesqusador do PNPD na Dirurlpea malt , ose Palticas Reglonais,Utbanas e Ambiental (iu) do pea Esse veio de pesquisa teve desdobramentos subsequentes em vitios artigos ¢ estudos, alguns deles muito recentes, indicando um renascimento do interesse da trajetéria da indistria no territ6rio, como os de Saboia (2001; 2013), Saboia, Kubrusly e Barros (2014) «© Géis-Sobrinho ¢ Azzoni (2014). Esses trabalhos — pelo emprego de dados microrregionais, posteriores a 1991 e pelo conceito de AIRs ~ continuaram a concluir pela desconcentragio territorial da indstria para além do poligono preferencial nas regides Sudeste ¢ Sul Aanilise aqui apresentada conctibui para a atualizagio e renovagio desse debate. Representa ‘um esforgo de pesquisa da Diretoria de Estudos e Politicas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirus) do Ipea, no sentido de retomar linhas de pesquisas sobrea dindmica territorial brasileira e gerar insumos para a permanente qualificagio da Politica Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR). Alguns dos resultados jé assentados por ess linha de pesquisa estio em Monteiro Neto ¢ Silva (2018) e Monteiro Neto, Silva e Severian (2019), os quais entendem que o processo de twansformagio da indiistria no perfodo de 1995-2015 tornou-se substancialmente diferente daquele observado por Diniz (1993) sobre o periodo 1970-1991 Cabe destacar; inicialmente, que a atividade industrial vem perdendo participagio no conjunto da economia nacional desde o inicio dos anos 1990. Por exemplo, o valor adicionado bbruto (VAB) da indtiscria total ede transformago tinha as seguintes referéncias, respectivamente, ‘em 1995, 2005 ¢ 2014: 27,5% e 18,6%; 29,3% e 18,196: e 23,8% e 12,0%. Em parti indiistria de transformagio é atividade que mais sofrew uma trajetéria de redugso nesse period. ‘Quaisquer trajecérias terttoriais que a atividade industrial tenha assumido nesse intervalo de ‘tempo em relevo devem ter em conta esse quadro de mudanga estrutural de carsterregressivo. As modificagées néo se limitam a uma perda de importincia relativa da industria. Pelo conttario, como identificado por varios autores, houve, ademais, reduio da produtividade na indiistria brasileira associada 4 reespecializacio em atividades ligadas 4 abundancia de recursos naturais e diferenciais de custo de mao de obra (Sampaio, 2015; Sarti ¢ Hiratuka, 2017; Monteiro Neto e Silva, 2018), 2 MENSURANDO AS AGLOMERACOES INDUSTRIAIS As AIRs correspondem a microrregides definidas por apresentarer 10 mil ou mais empregos industriais. Esse recorte foi adotado por Diniz (1993) e seguido pelos estudiosos que posteriormente continuaram a avaliar essas aglomeragées. Por meio de dados do emprego formal na indstria extrativa e de transformagio disponibilizados pela Relagio Anual de Informagées Socioeconémicas (RAIS) do Ministério do Trabalho ¢ Emprego (MTE) para 1995, 2000, 2005, 2010 ¢ 2015, edo valor da transformagio industrial (VIT) e populagio ocupada (PO) do Instituto Brasileiro de Geografiae Estatistica (IBGE) para o perlodo 2000-2015, as aglomeragées industriais passaram a ser identificadas e analisadas no seu potencial produtivo.4 Em particular, avangou-se, neste breve capitulo, num recorte das aglomeragées relevantes por classe de tamanho de populagio, de maneira a compreender mais amplamente a relagio atual centre as escalas regionais de aglomeragio populacional ea de atividade industrial. 4, Em seu estudo origina Diniz (1995) considera como emregos industias apenas os da indisia de transformacéo, num na econemia nacional, Para ecikul das ARs no presente texto, ora inchis também os empregos da indstiaexratva, Uma rao plausivel para essa mudanga € a cescerte cia rolatva que assumiram essasatvdades de exvagéo (octtéleo, minéras de frra exc) na estutura produtva naconal 3 pat dos anos 2000, sende que o su contd teenolgcoavangado~ pricipalmente em exragao de petleo~ passou 48 contibuir mais expressivamente pare uma nova configuracdo tecnoligica das atvdades extra com rebatmentos ramsém mais fortes sobceo canunto da initia nacional ‘Sua preocupagio é com a dmensdo técnica da atividade manufaturcira coma centro dingmico da atvidade indust momenta en que ainda tisha eleva pavticpag a2 boletim regional, urbane e ambiental | 20 | anjun. 2019 ipea ‘O quadro geral das AIRs, no perfodo recente, em termos de sua quantidade, do ntimero de cempregos industriais e de empresas, assume as caracteristicas identificadas na tabela 1. Partindo cde um total de 85 em 1995, as AIRs vio sucessivamente se ampliando até atingirem um total de 160 unidades em 2015, Séo 75 novas aglomerayées industriais no pais, ntimero que praticamente duplica a situasao original de 1995, Desse modo, constata-se que, em meio ao forte ajustamento prodtivo, com baixa produtividade e predominancia de expansio do VT em grupos de atividades baseadas em recursos naturais e mio de obra —como dito anteriormente - 0 territério nacional, ppara as aglomeragées industriais, nZo encolheu no periodo, ‘As AIRs responderam, em 1995, por 80,9% (3,8 milhdes) do total do emprego industrial do pais, cifra que se elevou para 82,6% em 2005 e para 84,4% (6,2 milhées) em 2015 (tabela 1). Os empregos na indéistria extrativa foram multiplicados por trés no periodo, levando sua participagio no coral sair de 1,0% para 2,1% do total das AIRs. As atividades da indiistria de transformagéo séo a parte mais significativa do emprego das AIRs (com parcela superior a 95% do total em cada ano). Algumas explicagdes para a trajetdria de evolugio a associada a reducio da atividade industrial no conjunto da economia brasileira podem ser aqui levantadas. Em primeiro lugar, mudangas apés 2003 na legislacio trabalhista e no regime uwibutétio diferenciado para apoio ao micro e pequeno empreendedor (criagio do Simples Nacional, Lei Complementar n? 123, de 14 de dezembro de 2006) incentivaram, por meio da redugio de custos ¢ desburocratizacio, a formalizacéo do emprego no pais. Em segundo lugar, o governo federal aumentow a oferta de crédito piblico para o setor produtivo a partir de 2008, permitindo uma ampliagio do financiamento para a indtstria, rada do emprego industrial TABELA 1 Quantidade e numero de empregos nas AIRs (entre 1995 ¢ 2015) icoregies 1585 % 205 zie ws Quantade des Numero dee as 8 1% 50 160 rast mines se se ss se se Fever 52 wa ne 263 2 ARs eal asi aaa s0is6 estes 62605 Alora 499 06 89 8 1519 AIR eransfomagio sears, 37647 9638 aaa 61025 frask micorenses ano aor eure 1.0 14072 prego Is versus ca Bas) Atel so9 wee ne 83 ae ARs erain 10 10 4 W a Ace asfomagio 139 mas oe as aa Fore 9S R017, a ltrs os sures 3 TERRITORIOS DAS AGLOMERACOES INDUSTRIAIS A distribuigio regional das AIRs por tamanho de populagio revela aspectos significativos da dinamica territorial dessas concentragées industriais nos anos escolhidos de 2000 e 2015 (abela 2). Sio quatro os tamanhos de populacio para uma tipologia de AIRs investigadas: i) abaixo de 99,9 mil habitantes; ii) entre 100 mil e 499,9 mil habitantes; iff) entre 500 mil 99,9 mil habitantes; ¢ iv) acima de 1 milhéo de habitantes ipea boletim regional, urbane e ambiental | 20 | anjun. 2019 a TABELA 2 Brasil e regides: quantidade, populacdo e produtividade média das AlRs, por regio e tamanho de populacio Tamanho de sopulgSo Niner des Peoulie total das ARs Produindade én DPMet) em Af de2015 do mddarac oral dogr30 Pet come propaga) yoo 201—~aeed~—~=«TS~=SC«tOO «CONS CDR ~=CTS Werte Menasde 96 9rithas == - - - - - - Be tcornilaceagmthah 11 nes 30028 1355803 e500 ila 993.9 ab as ce ibibo 2 2 3425 asaya Is a8 as ee Total 333564 nays an2s rent 1550 88 Nodesre eno de 969 rib De tcorilaceggmthah «48 akSnss0 5999 ta 33 882 Descomilaseagmthah 8 «= gt623 Saree toads an us 8 asset ibibo, ee ee YT) otal 1527163528 269263 15K08 1493888 Sudete ens 969 ilo, De comila4e99rmthah 27 ae RATST 123011581083 DeS00 ila9e99mthoh 1015 a8 865908892 eT 36) Ma Mais et mihithab NR aktses 79959 mage taste? t002 otal 48540868 70.4846 20638 160911371078 sl MenosdeS6rilha == - - - - - - De 0omila4999mthah 2-38 «GIM]S OTIS 106 6B wR DeStomnil29999mthah «ST HS SSeS 110 98 Be aT Mais 1 miso 2 2 aes 754d Teng T616 ne 18 Total me 4S AIS MHS 19522 ATS Genie Menasde $8 9ritha, == - - - - - - De cola s999mthoh 2g 596218786 amas tam roa 1647 e500 mil 999.9 Ua 5 mig 30492653781 Wis et minha 2 2 33s 5257 2761952856 Toul 513 Soars tosay2 tan2s 17499931170 Bal MenosdeS@9rithas, == - - - - - - De comilaceagmthah S$ 96==S OSB DTaNRS «ITSO coo 1000 De500 ila 9999 bob 24351656574 ISRT 62 eno 00 ise 1 ibibo wm slo waa IS twee co 1900 Total 89160 94680.2 1353355 tad 14,5 100.0 1000 Tore 9 G7 AA Elster or sus, ‘orsnupodsbea?Oen aleate Noxa-se, em primeiro lugar, confirmando 0 padrio reconhecido por Diniz (1995), que & no Sudeste que o niimero de AIRs de todos os tamanhos de populagéo € maior. Sua participagio no total nacional das AIRs foi de 48,5% em 2000, que foi reduzida para boletim regional, urbane e ambiental | 20 | anjun. 2019 45% em 2015, a despeito de o niimero absoluto ter ainda aumentado no periodo, pasando de 48 para 72, num total nacional de 160, Juntamente com a regido Sudeste, a atividade industrial encontra sua melhor localizagio na regio Sul. Nesta iltima, 0 nimero de AIRs passou de 28 para 45 entre 2000 ¢ 2015, isto é, de 28,3% para 28,1% do total nacional em cada ano. Portanto, a regiéo manteve sua patticipacéo em aglomeragées industriais no periodo. ‘Também se constata que é maior o contingente populacional no grupo de tamanho de populagio superior a 1 milhio em todas as regi6es do Brasil, exceto na regio Sul. Em 2015, as 29 AIRs com populacio acima de 1 milhio de habitantes correspondiam a um total de 84 milhées de habitantes, ou 62% do total da populagio nas AIRs brasileiras. A regio Sudeste detinha naquele ano, por sua vez, 57,1% do total nacional desse grupo superior de populagio. Em apoio a esses resultados recentes, Lemos ¢ Cunha (1996) haviam focado nesse tema em investigacio de regides industriais no perfodo 1986-1994, constatando a cstreita relagio entre hierarquia urbana ¢ economias de aglomerasio. Desse modo, 0 tecido industrial brasileiro das AIRs se apresenta, portanto, fortemente enraizado no tertitério metropolitano e de grande dimensio de populacio. Quanto a0 comportamento observado para a produtividade média, aqui obtida pela razio entre VAB ea PO, as AIRs apresentam produtividade mais elevada quanto maior for o tamanho de populagao correspondente. Esse padrio predomina para 0 conjunto do Brasil ¢ em como cexpressbes mais representativas os padres nas regides Sudeste e Sul. Nas demais trés grandes regides, esse quadro é menos claro e, em certo momento, como em 2015, a produtividade das AIRs com tamanho de populacio superior a 100 mil ¢ inferior a 499,9 mil habitantes no Nordeste ¢ mais elevada que a do grupo de tamanho de populacio imediatamente superior. Em 2000, a produtividade média regional da industria das AIRs foi superior & média nacional em todos os tamanhos de populagio, na regiéo Sudeste, no conjunto das metrdpoles nortistas (muito mais em fungio de Manaus que de Belém) eno grupo de AIRs com populagio entre 500 mil ¢ 999,9 mil habitantes no Centro-Oeste. Nas regides Sul e Nordeste, em todos os tamanhos de populagao, a produtividade se mostrou abaixo da nacional de seu grupo. Em 2015, por sua vez, a produtividade média foi maior em todos os tamanhos de populacéo de AIRs do Centro-Oeste, tornando-se superior as médias das registradas na regiso Sudeste No geral, a produtividade média em cada grupo definido por tamanho de populagio por AIRs somente foi supcrior 4 média nacional do mesmo grupo, nos anos verificados, na regio Sudeste. Contudo, jem 2015, as AIRs no Centro-Oeste apresentaram elevados valores de produtividade, até mesmo acima dos padrées da regio Sudeste Vale notar a heterogencidade de resultados entre as grandes regiées brasileiras. De um lado, as atividades industriais na regio Sudeste, o centro dinamico da atividade industrial, que permanecem com niveis de produtividade acima da média nacional. De outro, a permanéncia de um quadto de produtividade abaixo da média nacional nas AIRs da regio Sul e inferior 4 produtividade em todas as demais regiées do pais (inclusive das regides que sio objetos da politica regional explicita). Também se observa o fortalecimento da produtividade na regiso ‘Centro-Oeste, que passa a ter indices médios desse indicador acima da média nacional e em convergéncia com os da regiio Sudeste, em 2015. Num quadro getal da trajetéria da producividade, a regra que prevaleceu no periodo foi de queda no valor absoluto desse indicador, entre 2000 ¢ 2015, em todas essas regides. Sem diivida, a forte depressio econdmica que se instalou no pafs nesse tltimo ano foi fatal para a redusio no VAB por pessoa empregada da indistria. ipea boletim regional, urbane e ambiental | 20 | anjun. 2019 45 A representacio das AIRs em 1995 ¢ 2015 esté disponibilizada nos mapas 1 ¢ 2, com as aglomeragées distinguidas por grupos de tamanho de emprego industrial. O cssencial no mapa 1, para 0 ano de 1995, é a visivel concentragio territorial nas regides Sudeste Sul e na faixa litorinea da regio Nordeste. Em 2015 (mapa 2), alteragées significativas no tertit6rio sio reveladas. As tadicionais teas de localizagio da indiistria prevalecentes nas regides Sudeste ¢ Sul tornam-se mais compactas com relagio 4 expansio de AIRs. Nos estados de Sio Paulo, Parané e Santa Catarina, as AIRs ganham contiguidade e se aproximam numa grande mancha de atividades industriais. Hi ainda uma expansio visivel em ditecao & regiéo Centro-Oeste, principalmente no eixo Goidnia-Brasilia. Na regio Nordeste, as capitais dos estados se tonam mais represencativas que no inicio do perfodo de analise, somadas também as novas aglomeragdes que surgiram. no interior (agreste ¢ sertio nordestino) de seu tertitério. Na regiéo Norte, 0 niimero de AIRs pouco se altera no periodo. MAPA 1 rupos de ARs do Brasil (1995) Fore RA Eber os autos (os Nalgene cab cranes és oases 46 boletim regional, urbano e ambiental | 20 | jan-jun, 2019 ipea a ae ee es i) ‘wi oie ‘a Bs ea Ben: Legee ‘nm 0) a ae 10 mat 20 miler frac Pomlat somiempregar nau fa ae Somat loom enoregor nurs] BEBE flores eet ac i nau 6 Eber os ns Das Nalgene cols craps as ices em can 4.0 POLIGONO PREFERENCIAL PARA A “DESCONCENTRACAO CONCENTRADA” DA INDUSTRIA [Nos estudos originais de Diniz (1993) ¢ Diniz Crocco (1996), a preocupagio fundamental foi asseverara existéncia de uma drca poligonal em que sc localiza a dinimica da indvstria brasileira. ‘As AIRs que perfazem esse poligono preferencial para a atividade industrial estio situadas cexclusivamente nas regides Sudeste ¢ Sul do pais. Compéem, portanto, um territ6rio relativamente hhomogeneo e favorivel ao desenvolvimento das atividades industrais de maior valor agregado.> Posteriormente, Saboia (2001; 201), Saboia, Kubrusly ¢ Barros (2014) e Géis- Sobrinho © Azzoni (2014), citados anteriormente, investigaram 0 caso brasileiro no periodo subsequente aos estudos de Diniz. (1993). Com algumas alteragSes metodolégicas, pelo uso de dados 5.0 palgoro originalmente deinido por Dini (1993) ndo compreende tadas as AlRs da regio Sudeste, Dessa reqiso ‘so excluldas as AIRS do estado do Rio de Janeito, do norte de Minas Geral (acima de Belo Horizont) e as do estado do Esptito Sant, Na reido Sul no séo consieradas as do sul do Rio Grande do Sul a0 sul de Porto Alegre, Para efeitos de corrpaabilidade, foram sequidos os mesmos procediments para o period atual ipea boletim regional, urbano e ambiental | 20 | jan-jun, 2019 a7 mesorregionais, os autores concluiram que, pelo menos até 2011, 0 poligono preferencial ainda constitufa drea relevante para a ind\istria brasileira. Em cada um dos estudos, essa inferéncia é compativel com 0 fato de que também se verifica a desconcentragio espacial da indtistria ora dentro do poligono — com crescimento mais acentuado em AIRs de menor tamanho de populagio em detrimento das mais consolidadas, em geral as RMs do Sudeste -, que ocorre com mais vigor; ora para fora do poligono, em diregao a AIRS localizadas no Centro-Oeste, Nordeste ¢ Norte, com menor forca ‘Os dados de 2000 ¢ 2015 indicados a seguir apontam que essa érea poligonal continua a se revelat 0 espago significativo da atividade industrial no pais. Contudo, sua forga aglomerativa apresenta sinais de reversio. Verifica-se, inicialmente, que 0 ntimero total de AIR localizadas no poligono diminuiu relativamente ao total nacional, entre 2000 ¢ 2015, pasando de 69,7% para 65,6%. Sua participagio correspondente no VAB nacional caiu de 74,3% para 66,3% nos mesmos anos, Destaca-se a perda ocorrida no grupo de AIRs de tamanho superior de populagio — no poligono, em 2000, correspondia a 71,0% do VAB total nacional do grupo, ¢ em 2015 sofreu redugao para 61,6%. Houve uma nitida alteragio no perfodo nos niveis de produtividade das aglomeragées cextrapoligono, com ganhos tio pronunciados para estas ltimas que resultaram, no conjunto, em 2015, em valores superiores aos das aglomeragées intrapoligono, Outra distingio no indicador de PMT, entre as AIRs do poligono ¢ as do nio poligono, esté relacionada & dispersio ~¢, portanto, & heterogencidade produtiva —da média da PMT entre os grupos de AIR por tamanho de populagio: nos dois anos considerados é maior na dtea fora do poligono. Adicionalmente, se verifica, em 2015, que a PMcT apresenta uma relacio dircta com ‘ tamanho de populagio na regio do poligono (a produtividade é tao mais elevada quanto maior for o grupo de populacio). No territério extrapoligono, a relacio observada entre produtividade e tamanho de populagao nao ocorre da mesma forma: isto & quanto menor ‘© tamanho de populagio das AIRs, maior a produtividade média. Adinamica de desconcentragio territorial da industria no Brasil, portanto, alia elementos de desconcentragio em escala macrorregional ~ em que 0 Sudeste perde e ganham as demais regides brasileiras ~ com elementos da escala microrregional, com continua reducio da participagio da importincia do poligono industrial. Em tom conclusivo, pode-se constatar que o quadro geral da atividade industrial no terric6rio vem se tornando mais nuangado de transformagées. O niimero de AIRs se expandiu mesmo «em presenga de contragio da atividade industrial na economia brasileira. Essa expansio ganha contornos de desconcentragio em diregéo As regises Nordeste ¢ Centro-Oeste, principalmente. O poligono da “desvoncentragso concentrada” vem se reduzindo, mas ainda representa a drea preferencial da indstria brasileira, com dois tergos do VAB c do emprego industrial de todas as AIRs do pais em 2015 No tertitério fora do poligono, hi mudancas significativas: a expansio do nimero e da relevancia das AIRs é uma delas. Comportamentos distintos se observam nas regiées que sio alvos de politicas regionais — Norte, Nordeste ¢ Centro-Oeste. Na regiio Norte, a forca das aglomeragées ainda estd nas duas metrépoles ¢ capitais dos estados do Amazonas (Manaus) do Paré (Belém), sem que AIRs no interior da regiio tenham se expandido, exceto pela microrregiso de Carajés. No Nordeste, o quadro é bem diverso, com ganhos de produtividade «©, portanto, fortalecimento do valor agregado gerado nas aglomeragées de tamanho inferior (catre 100 mil ¢ 500 mil habitantes),cesforgo de manutencio do nivel nos demais grupos de “ boletim regional, urbane e ambiental | 20 | anjun. 2019 ipea tamanho de populacio. Nessa regido, consolidaram-se como AIRs virias das capitais regionais (o grupo passou de trés para dez unidades no periodo), as quais, até pelo menos 2000, ainda nao contavam com a quantidade de empregos industria para se enquadrar na tipologia. Por fim, na regio Centro-Oeste, a reestruturasao produtiva associada a clevado dinamismo de valor agregado e produtividade média—cujos niveis se elevaram acima das médias nacionais — parece ter se beneficiado do dinamismo exportador de commodities (agricolas ¢ minerais) no sentido da reverberagio sobre atividades da ind\istria regional de transformacio, TABELA 3 Brasi: quantidade, populacdo, trabalhadores, VAB da indistriae produtividade média em AIRs, dentro e fora do poligono preferencial (2000 e 2015) (Em praerco percenual do ta eas ARs rast erate de pope tenn “évaks "sondern PMT 2088 loon rteenel 100-9999 mth a be 0 il 9999 mia SS ace ooo Toa sr ses Nt) aes do pal be 0 il 4999 iat moe De 500 ia 999 ita ee Mais de iio 50 9 A859] Teta yor 57 tn 5 Felons preteen be 100 mi 989 Boo Ms mS be 500 mia 9988 has yoo Mais riohab ee | Tout 66 sus ors Rages fr do be 109 is 699i so ISS tw be 0 i 3999 os 00S Ms eth ee ee ee Tota mas saat fist Res deol” faa Rs doe espa guar no grupo cas ARS Toad pl ly roi Gr oS aqua pai a gan gz es toa Lagan no Rl rane ue ors Cs am Mra Gea as REFERENCIAS DINIZ, C. 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