ROMANTISMO

(Caspar David Friedrich, Viajante sobre o mar de névoa)

 ROMANTISMO
(séc. XVIII-XIX)
a revolta da subjetividade contra o mundo moderno
O romantismo é um dos períodos
mais marcantes do pensamento moderno. Ele
denota a transição entre duas concepções de
mundo, entre duas formas de temporalidade
e de experiência humana.
Situado na passagem dos antigos
modos de governo (Antigo Regime,
Monarquismo absolutista) e as Repúblicas
influenciadas pelos ideias da Revolução
Francesa, entre o antigo e o moderno, ou
ainda, entre o moderno clássico e o
contemporâneo, o romantismo representa
muito da nova postura de interpretação da
realidade que irá se desenvolver, seja na
filosofia, nas artes em geral, ou mesmo nas
ciências.
Até hoje, o romantismo, seja por
sua estética ou pelos seus ideias, continua a
chamar atenção e a despertar interesse,
influenciando a cultura contemporânea.
Estamos no final século XVIII, as
antigas formas de compreensão estão caindo
por terra e aquilo que era sólido e certo
começa a se desmanchar no ar. As antigas
tradições monárquicas, os ideias da nobreza,
as crenças religiosas hegemônicas não dão
mais conta de sustentar uma visão de mundo
onde a liberdade individual e a igualdade
passam a ser o norte das ações humanas.
Nesse momento, surge uma classe
social, a burguesia, e com ela uma série de
transformações tomam conta do mundo. Com
a burguesia, vieram os avanços tecnológicos e
científicos que irão produzir uma sociedade
muito diferente da que existia.
Agora, estamos vendo a natureza se
transformar radicalmente, a Revolução
Industrial explode, o calculo e uma intensa
racionalização da vida são as marcas da nova
sociedade.
 Com a revolução industrial, a paisagem do mundo muda completamente, a
natureza não é mais a mesma e, junto com ela, também a relação entre as pessoas. Toda
uma forma de vida fica para trás, está perdida, restam apenas ruínas. E é dessas ruínas e da
busca pelas origens perdidas que os românticos se alimentam.
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Contexto, influências, contradições...
Com a alavancada da burguesia e a
explosão da Revolução Industrial, o mundo
antigo parece arruinado, junto com seus
sonhos e devaneios.
O ser humano, que antes nascia
quase determinado como servo ou nobre, não
tendo liberdade de construir seu destino ou
escolher seus representantes, agora nasce livre
e deve construir sua própria vida, por si
mesmo. Ao invés de servo, um camponês
passa a ser cidadão livre e está submetido (ao
menos teoricamente) às mesmas leis que
qualquer outra pessoa, seja quem for. A
Revolução faz de nobres e servos iguais, são
todos cidadãos.
Com isso, surge uma nova categoria
social, o povo! O povo é a nova expressão de
um país, e um povo é formado por cidadãos
livres que lutam pelos seus interesses numa
coletividade orgânica independente. Surge aí
também a pátria. O nacionalismo será uma
marca importante do espírito romântico.
Curioso é que esse povo surge ao
lado do trabalhador assalariado,
autônomo, que acorda cedo rumo às
indústrias e a longa jornada. Junto ao povo
surge o proletariado e novas contradições
materiais. Ao lado do ideal de igualdade e
liberdade, do desenvolvimento e do
progresso, se produz a desigualdade, a
submissão, a miséria.
O progresso traz consigo as
marcas da barbárie. A razão que constrói
fabulosos monumentos industriais, que
produz bens e novas tecnologias quase
mágicas, que calcula, que mede, que geri,
que administra, também é aquela que
carrega a destruição, a desunião, a
fragmentação. Com um olhar, vemos brilhar
o avanço, com outro, o retrocesso.
Do excesso de brilho da razão
nasce a melancolia e o antirracionalismo
romântico!
O povo, trabalhador,
livre, autônomo.
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Negação e afirmação
A época moderna que está nascendo
junto ao romantismo é marcada pela
contradição, e os românticos irão manifestar
essa contradição, críticos e continuadores dos
ideais burgueses, rebeldes e ao mesmo tempo
sintoma de uma sociedade em transformação.
Os românticos irão criticar
duramente os avanços tecnológicos e se
distanciar das conquistas industriais. A razão
que fora bravamente fundamentada pelos
filósofos durante os dois ou três séculos
anteriores (XVI-XVIII) e que era a grande
promessa dos cientistas, será vista como fonte
de mal estar para os românticos. Onde há
progresso, razão, ciência, os românticos verão
a dor, a tristeza, a solidão. Ao invés de luz,
escuridão, ao invés do dia, noite, contra a
clareza racional, a profundidade das emoções.
Ao crescente avanço da confiança na
razão e na técnica, os românticos respondem
com seu contrário extremo, a intuição e os
sentimentos.
Se, por um lado, os românticos
negam os avanços burgueses (e do
capitalismo), por outro lado, eles adotam os
ideais impulsionados por essa nova classe e
pela Revolução Francesa.
A atitude romântica representa a
expressão de ideais burgueses tais como o
individualismo, a autorrealização individual, a
liberdade e livre manifestação dos
sentimentos, a negação das regras pré-
estabelecidas do classicismo.
Mas, ao invés do burguês
empresário, racional e calculista, indivíduo
empreendedor que domina a natureza com a
técnica, o ideal romântico pretende se realizar
como seu irmão gêmeo renegado, o artista
incompreendido e exaltado, solitário,
espontâneo e autêntico, que se perde junto à
imensidão mística da natureza, tornando-se
uno com totalidade da vida que foi perdida e
fragmentada quando a razão se tornou dona
da natureza.
O mito do bom selvagem (lembram de Rousseau?) influencia profundamente o romantismo e
representa muito bem seus ideias: um ser humano unido à natureza, vivendo intensamente,
pleno e livre, espontâneo, criador, intuitivo, não corrompido pela razão. Os românticos irão
criticar a sociedade tendo em vista essa origem perdida. Desejam recuperar a relação com a
tradição, com um passado idealizado. Eis que a nostalgia expressa o sentimento romântico.
 Resumindo, conforme o romantismo:

A sociedade burguesa moderna O gênio romântico

• Perda da unidade com a natureza e • Sujeito como centro do mundo:

da origem
• Distanciamento das tradições e do
“espírito do povo”
• Racionalização
• A razão promove fragmentação, é
símbolo da ruptura social, cultural,
estética
ATENÇÃO, não confunda!
• Romance: gênero literário que tem • Sentimento, intuição e emoção
origem nos romances de cavalaria
medievais, mas que se desenvolve
amplamente na modernidade
• Romantismo: movimento literário,
artístico, filosófico
artista solitário
• Livre criador
• Retomada das tradições e do
“espírito do povo”: nacionalismo
• Ideal de união com a natureza
• Espontaneidade e autenticidade
• Elogio do místico, do mistério, do
profundo
• Imaginação
unificam, aproximam, atraem
Típico quadro romântico. Quais
características do romantismo
(Caspar David Friedrich,
você consegue percebe nele?
Dois homens contemplando a lua)
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Antecedentes filosóficos
O sujeito transcendental kantiano
Kant havia realizado sua “Revolução copernicana”.
Com ela, o sujeito (Eu/Consciência de si) passa a
ser o centro através do qual torna possível
conhecer a realidade. Aquilo que chamamos de
realidade é na verdade o conjunto de fenômenos
percebidos pela consciência, ou seja, a realidade é
construída pelo sujeito que conhece. Essa
consciência que constrói a realidade por meio de
suas categorias do entendimento e da
sensibilidade é chamada também de sujeito
transcendental.
Sujeito transcendental = sujeito que é a condição
de possibilidade de qualquer experiência válida.
Kant critica toda a filosofia anterior a ele
propondo o sujeito transcendental como a
condição do conhecimento, ou seja, fazendo dele
o centro de irradiação de sentido.
Ele considerava que das coisas só
podemos conhecer a priori (necessária
e universalmente) aquilo que nós
mesmos colocamos nelas. Isso quer
dizer que só podemos conhecer o
pensamento ou a consciência que
temos das coisas. Para esse filósofo,
portanto, a condição última do
processo de conhecer é a existência do
eu como princípio da consciência. Em
outras palavras, é a existência do
sujeito como centro (o eu) que torna
possível o conhecimento e lhe dá
forma, pois é o sujeito que organiza o
conhecimento dos objetos, ao passo
que este apenas se encaixa nos
“moldes” da percepção humana.
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Antecedentes filosóficos

A realidade depende, portanto, da perspectiva do sujeito.

Mas, para Kant, essa perspectiva não é particular, ela é a mesma para
todos os seres humanos (universal e necessária), pois está fundada na
estrutura do sujeito, na nossa própria constituição racional que está
presente em todos seres humanos.
Os românticos irão se inspirar em Kant e concordar que a
realidade depende completamente da perspectiva do sujeito,
entretanto, essa perspectiva não é puramente racional. Assim, eles
criticam Kant por valorizar excessivamente a razão, sufocando outras
capacidades também tão importantes ou ainda mais fundamentais: as
emoções e a imaginação.
Ora, os românticos irão substituir o sujeito do conhecimento
transcendental kantiano pelo sujeito da imaginação, da intuição.
Nesse sentido, eles tanto negam quanto continuam a filosofia
kantiana. Daí surgirá uma linha filosófica muito próxima do
romantismo, chamada de Idealismo Alemão. Não é coincidência que
muitas das grandes obras e autores românticos irão aparecer na
Alemanha.
Há ainda espaço para o profundo e para a contemplação no mundo
moderno? Ou os românticos estavam certos em buscar as ruínas
do passado e da tradição como forma de superar a destruição da
vida?