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e
Jess Stearn
O ROMANCE DA ATLÂNTIDA
2ª edição
Tradução de
Isabel Paquet de Araripe
Editora Record
***
"Mas agora eles desejam um país melhor, celestial; pelo que Deus
não se acanha de ser chamado seu Deus; pois preparou para eles uma
cidade."
Hebreus 11:16
Prefácio
O Palácio Real ficava sobre uma elevação num grande parque, com
luxuriantes jardins suspensos, repletos de estátuas e fontes e pequenos
lagos artificiais alimentados pelos canais de Lamora. Da sua colunata sul
saía uma estrada larga que ia dos enormes portões ao fosso oceânico. A
estrada, que tinha mais de um quilômetro e meio de comprimento,
oferecia uma visão clara do oceano, da colunata. Salustra havia
acrescentado uma galeria a um dos andares superiores, e era aí que ela,
com freqüência, buscava a solidão.
Enquanto guardava Tyrhia, cuidadosamente, sentia-se grata por
terem nascido de mães diferentes. A sua própria mãe, Máxima, provinha
de uma família mais antiga e mais distinta até do que a do pai. Lazar, um
Nobre guerreiro da Quinta Província, havia sido adotado pelo estéril
Imperador Clito. Lazar possuía uma veia melancólica, e Salustra às vezes
se perguntava se o seu tédio crescente fazia parte do legado dele.
Nessa noite, a sua disposição estava mais sombria do que de
costume. Tendo obtido a lista dos convidados da rebelde Tyrhia, ela
enviara mensagens aos convidados mais velhos e sofisticados da festa de
aniversário, para que ficassem depois que a arraia-miúda tivesse deixado
a festa.
Ocorrera-lhe, de modo desconcertante. que não tinha nenhum
companheiro para partilhar com ela as horas tardias. Esteve quase
tentada a chamar Lústri de volta. Ele tinha a capacidade de excitá-la a
um grau superlativo, se ela conseguisse não pensar em absolutamente
nada. Abandonou a idéia com um suspiro. Ele era tão previsivelmente
cansativo! Quem mais, então? Mentalmente, percorreu a lista de
convidados, e a sua boca fez um trejeito de desgosto. Moços ou velhos
demais, anêmicos ou gordos em excesso, ingênuos ou cínicos, ignorantes
ou dessecados demais pelo saber. Era a sua mente, mais que o seu corpo,
que tinha que ter o interesse despertado, ao menos no começo.
Ela saiu da galeria para o banquete, de mau humor. Cinqüenta
convidados estavam à espera da Imperatriz na antecâmara que dava para
o grande salão de baile. A maioria deles eram jovens, filhos e filhas de
Nobres e amigos de Tyrhia. Entre eles os filhos de Cicio, Rei de Dímtri, e
os filhos de Pátus, Rei de Nahi. Os rapazes usavam túnicas brancas,
apertadas à cintura por cintas douradas. As moças usavam vestes
translúcidas, através das quais se percebiam os membros bem feitos,
numa sensualidade sutil. Os convidados mais velhos, todos homens,
estavam compenetrados nas suas togas roxas. Conversavam entre si, com
ar sério, lançando olhares ocasionais e indulgentes aos rapazes
inexperientes. As moças recebiam olhares mais prolongados, que
avaliavam a curva suave de um seio virginal ou uma coxa tentadora.
Em meio a essa reunião, abriu-se mansamente a grande porta de
bronze na extremidade do aposento, e a Imperatriz, sozinha, sem
nenhum acompanhante, surgiu no arco do umbral da porta. O corredor
às suas costas estava escuro, mas a luz da antecâmara atingiu-a com um
efeito estonteante. Ela usava uma túnica longa de ouro brilhante, presa
na cintura por uma faixa incrustada de pedras preciosas. Seus cabelos
estavam completamente ocultos por um capacete bem justo, do qual
saíam doze pontas douradas, de uns 60 centímetros de comprimento. O
brilho escuro dos seus olhos e o vermelho voluptuoso da sua boca
destacavam-se na palidez fria do rosto.
Embora tivessem visto a sua Imperatriz muitas vezes, os
convidados fitaram-na, admirados. Era quase como se a deusa Sáti
tivesse aparecido. A cada movimento, a cada gesto, a pessoa dela se
incendiava como se fosse o próprio sol.
Nas mesas do banquete, a disposição dos lugares era de tal ordem
que cada homem tinha uma donzela de cada lado. Salustra
providenciara, já tendo em mente as festividades da meia-noite, para que
os gostos já meio saciados dos convidados mais velhos pudessem agitar-
se com as donzelas de cabelos fofos; os desejos assim despertados seriam
satisfeitos mais tarde por mulheres mais experientes do que essas
adolescentes ingênuas.
Os homens mais velhos estavam visivelmente enfadados com os
mais jovens, mas apreciavam, de modo óbvio, as mocinhas, e implicavam
com elas, e as acariciavam, como se tudo fosse um jogo, como se fosse um
tributo impessoal prestado por pessoas tão distanciadas delas pela
disparidade dos anos. O vinho era fraco e servido com gelo em cubos.
Lindas escravas despidas da cintura para cima traziam bandejas
carregadas de faisões raros, assados em molho de vinho, línguas de
rouxinóis, esturjões do norte, frutas exóticas, bolinhos dourados, peixes
minúsculos no seu próprio óleo e doces perfumados.
Tyrhia sentava-se em frente à irmã, na mesa principal, e sua voz
estava um pouco estridente com a excitação, enquanto brincava com um
rapaz ao lado dela, de quando em vez dando-lhe palmadinhas na mão,
muito ousada e experimental.
Salustra sentava-se impassível na sua cadeira. Sorria por dever de
ofício, e com esforço visível. Fazia a maior parte dos seus comentários a
Máhius, sentado à sua esquerda. Falava-lhe bem baixinho, pois não
queria que os outros ouvissem:
— Que dizem os teus geólogos e astrônomos desta neblina? — Meus
cientistas? — suspirou o ministro.
— Não sofismes — ela disse bruscamente.
— Francamente, Majestade, como todos os que estão confusos, eles
falam bastante, sem dizer muito. Molânti, o geólogo, ressalta que essa
névoa apareceu alguns dias após um misterioso tremor de terra ao norte,
que foi indicado pelos sismógrafos do Instituto Geológico. Estabelecendo
uma conexão entre o terremoto e a neblina. Molânti acredita que poderá
vir a explicar a falta de força.
Ela resmungou para si mesma.
— Teorias, sempre teorias. Dize a Molânti que precisamos é de
respostas. E que se ele resolver esse mistério, providenciarei para que
receba o raro privilégio de visitar a câmara de rejuvenescimento.
Máhius suspirou pesadamente.
— Tem certeza, Majestade, de que essa prolongação da vida é uma
recompensa adequada para um serviço tão meritório?
Ela sorriu, astutamente.
— Molânti, embora seja um cientista, considerará esse
rejuvenescimento como valendo mais do que 12 palácios ou do que o
mais verde dos bosques. Os cientistas lá entendem da vida?
— E qualquer um de nós entende, Majestade? Ela sorriu, e disse de
modo prático.
— O que entendemos é que a vida se tornará insuportável, se não
soubermos logo por que a eletricidade, normalmente transmitida pela
atmosfera, se dissipou. — Ela apertou os lábios, pensativa. — E que diz o
físico Goleta? Ele já foi indicado para o Templo Belo pela descoberta que
fez do raio da saúde.
— Majestade, Goleta relata que a atmosfera está tão carente que os
sinais eletromagnéticos experimentais que ele está enviando não
produzem nem a mínima estática.
Salustra estava ficando cada vez mais irritada.
— Será que esses idiotas não entendem que não podemos viver por
mais tempo deste modo primitivo? Não somos bárbaros como os
althrustrianos.
Máhius deu de ombros e afastou de si a comida que nem sequer
provara.
— Não subestime esses bárbaros, Majestade. Eles possuem o
modificador de atmosfera nuclear, e farão uso deles, se puderem.
Salustra fitou-o, pensativa.
— Isto é o que tu dizes, mas ele talvez nem possa funcionar nesta
atmosfera amortecida.
O rosto de Máhius ficou cinzento.
— Mas podemos arriscar-nos, Majestade?
Ela cerrou os dentes pensando na traição que levara Signar a
possuir essa arma.
— Virar-se contra o próprio país é uma coisa terrível. Contudo
sempre fico agradavelmente surpreendida quando um amigo não me
atraiçoa. — Ela estendeu a mão confortadora, ao perceber a reação de
Máhius. — Eles pagarão, por meu intermédio ou por de Signar, pois
nenhum governante confia naquele que atraiçoa a sua própria gente.
— Eles são tão numerosos, Majestade!
— É, não vale a pena salvar a maçã podre. Ele riu, um riso sem
nenhum humor,
— Vossa Majestade concorda com a Alta Sacerdotisa Júpia, que
profetiza uma terrível catástrofe.
A Imperatriz bufou.
— Aquela bruxa velha! Ela vem profetizando o dia do juízo final
desde que Sáti lhe fechou o ventre. De que outro modo pode expressar
suas frustrações?
Os olhos dela percorreram os convivas, demorando-se nos Nobres e
Senadores agrupados em mesas que haviam sido rebaixadas para que os
comensais pudessem sentar-se ou reclinar-se confortavelmente. Eles
pareciam indiferentes às ameaças crescentes à própria existência do seu
país. Disfarçando uma expressão de nojo, ela virou-se para Máhius.
— Que mais dizem esses teus cientistas?
Máhius deu de ombros.
— Goleta e Molânti concordam em que o tremor recente foi o
responsável não apenas por esta maldita opressão do ar, mas também
por certos movimentos irregulares nas marés oceânicas que podem afetar
toda a potência elétrica dentro em breve.
Salustra riu, tristemente.
— Como dá para ver - apontou para os escravo que agitavam
enormes abanos — o sistema de refrigeração do ar do palácio já parou de
funcionar. — Apoiou o queixo na mão. — Sabes ao certo se o divisor de
átomos foi explodido subterraneamente, ou na atmosfera?
Ele respondeu, sombrio.
— Não posso ter certeza, Majestade, mas mesmo subterraneamente
ainda pode gerar calor suficiente para derreter o mar congelado e fazê-lo
desabar sobre as nossas cabeças.
Ela meneou a cabeça.
— Meus cientistas me afirmam que a massa de terra subterrânea
pode bem absorver uma explosão atômica e a radiação subseqüente, mas
que na atmosfera ocorre uma reação em cadeia, com mais calor e energia
se acumulando até que os próprios céus se incendeiem.
Máhius deu de ombros, expressivamente.
— Como sabe, o nosso próprio modificador de atmosfera foi
utilizado uma vez, contra um exército invasor de dinossauros
saqueadores. Não somente eles desapareceram, mas junto com eles o
vasto território que saqueavam.
Ela cerrou os sobrolhos.
— E há quanto tempo foi isso, Máhius?
— Há muitos séculos, Majestade.
— E nunca mais fizemos uso dele.
— Somos civilizados demais, Majestade. Ela teve uma expressão
amarga.
— Civilizados não, Máhius, mas sim decadentes, degenerados,
covardes. Não conseguimos suportar a idéia de infligir a morte a milhões,
contudo não é igualmente horrível matar uma só pessoa? Se essa vida
não tem importância, então um milhão de vidas não tem importância
maior.
Como costumava acontecer quando ficava sentado por muito
tempo, os olhos cansados do Ministro começaram a ficar turvos, e sua
cabeça grisalha já não se sustentava no pescoço.
Tyrhia levantara os olhos do rapaz que não sabia controlar as mãos.
— Uma cara tão séria no meu aniversário, Salustra?
A incongruência do comportamento de Tyrhia, em face a um perigo
tão real para a nação irritou Salustra mais do que ela imaginara ser
possível. "Igualzinha à mãe", deu-se conta de que estava pensando,
enquanto admirava a beleza frágil da moça.
Antes que Salustra pudesse responder, foi posto à sua frente um
braseiro fumegante. Ela derramou uma taça de vinho sobre ele, em honra
de Sáti. A fragrância da oferenda perfumada perdurou na atmosfera
pesada, enquanto as escravas esguias, brilhando na sua nudez,
apressavam-se a servir os convivas, pisando macio,
Salustra continuou a conversar a sério com Máhius, Ela pouco
bebia do vinho fraco, e ainda fazia uma cara amarga.
— Ficarás para a continuação da festa, Máhius? Ele olhou para a
Imperatriz com olhos súplices.
—- Haverá mulheres mais tarde, não é, Majestade? Os lábios de
Salustra encresparam-se um pouco e ela inclinou a cabeça.
— Nada de virgens comportadas; nada de mulheres com vinho
fraco nas veias. Mas haverá fêmeas, Máhius, isso eu te garanto.
Máhius enfrentou o olhar dela, e havia algo no seu olhar que fez
com que fosse ela a desviar os olhos,
Ela lançou um olhar pela sala, aos homens mais velhos, os
cientistas, filósofos, escritores, engenheiros, músicos, escultores,
dramaturgos. Esses homens distintos já estavam caceteados com as
donzelas afetadas que os ladeavam, especialmente porque todas as
tentativas deles haviam sido rechaçadas com risinhos encabulados. As
mocinhas não se furtavam de modo tão óbvio às liberdades dos rapazes,
nem mesmo quando uma mão caía casualmente sobre um seio macio. Os
mais velhos começaram a conversar por sobre as cabeças das donzelas e a
contar as horas com impaciência.
Percebendo tudo isso, Salustra sorriu para si mesma, antecipando
um fim próximo para a fase da festa que pertencia a Tyrhia.
— Tu ficarás? — ela insistiu, na sua voz baixa e lânguida. Máhius
deu um suspiro preocupado.
— Vossa Majestade se aborreceria se eu me recusasse? Ando muito
cansado. Tenho um pressentimento de um desastre próximo, Não sou
supersticioso, mas há algo no ar, algo sinistro. Não, não! Nenhum
inimigo humano, nenhum perigo humano, não desta vez. Perdoe as
minhas baboseiras, ó grande Salustra. As previsões dos astrólogos
sempre me despertaram o mais profundo ridículo. Não, não! É outra
coisa, algo de mais terrível...
Salustra fitou-o, incrédula. O seu seio ergueu-se, como se ela
estivesse sufocando o riso,
— Com que medo infantil nos agachamos no abrigo do conhecido,
escondendo-nos do vento frio do desconhecido. Mil legiões não
conseguiriam perturbar a tua serenidade férrea, Máhius, mas ao primeiro
sopro da caverna negra e gélida da superstição tu te congelas até os
ossos! Besteira! Eu tenho um pó muito eficaz que meu médico me deu. É
um laxativo esplêndido. Agita os intestinos como uma chicotada. A
religião e a sua irmã gêmea, a superstição, não são nada mais nada
menos que os fantasmas de um fígado preguiçoso, Máhius!
Máhius sentiu o golpe, mas não deu resposta.
Ela tocou de leve o braço dele.
— Existem três épocas na vida de um homem em que ele acredita
nos deuses, Máhius. Quando ele é criança, quando está bem alimentado,
e quando está velho. Tu estás velho, caro amigo. Teu sangue já não corre
rápido e quente; teus olhos já não buscam os seios virginais e os lábios
jovens. A música já não te excita; tu preferes voltar aos seus livros e à
grave contemplação dos deuses. O homem que diz a si mesmo que é
velho, é velho, não importa que tenha pouca idade; o avô de cabeça
branca que garante a si mesmo que é jovem, é realmente jovem.
Máhius olhou para ela, quase com tristeza.
— Eu sou velho, e Vossa Majestade é eternamente jovem. Talvez
seja porque sou velho que tenha medo, que sinta algo perigoso no ar. Eu
sei que a velhice é sempre apreensiva. Mas quando olho para Vossa
Majestade, tenho tanto medo! É como se visse uma grande sombra sobre
Vossa Majestade. Sabe o quanto eu a amo, e o quanto amei seu pai, e
pode avaliar como a idéia de que corre perigo me enche de pavor e
confusão. Medo! Eu, que nunca senti medo antes, sinto-o agora, e o vento
gélido do medo faz meus dentes baterem e meu coração ficar tão frio! —
A voz dele era tão autêntica, tão insistente que o sorriso tranqüilo
desapareceu dos lábios de Salustra.
Ela reagiu desafiadoramente, mais impressionada do que gostaria
de admitir.
— Medo! — exclamou, com desprezo. — Sáti, creio eu, pode achar
possível perdoar ao tolo, ao adúltero, ao mentiroso e ao traidor. Pode até
descobrir circunstâncias atenuantes para o hipócrita, pois qual de nós
não é forçado a dissimular, de algum modo? Mas duvido que a Grande
Deusa consiga perdoar ao covarde, que enche os salões escuros e altos
dos céus com seus gritos pusilânimes e que perturba até mesmo a ela
com os seus gemidos poltrões. E eu, alguma vez, tive medo? Não, o medo
nunca me tocou com a sua mão encarquilhada. Não descendo de sangue
covarde, meu Máhius!
Ela tocou a face do seu ministro com as costas da mão; depois,
mudou depressa de disposição, e sentiu-se invadida por uma súbita onda
de melancolia.
— Abomino esta cidade, e estou exausta. Sabes por que aqueles
bárbaros enviados por Signar solicitaram uma audiência especial para
amanhã?
As sobrancelhas grisalhas de Máhius cerraram-se, enquanto ele
refletia.
Salustra abriu as mãos, num gesto descuidado.
— Gostaria que viesses aos meus aposentos por uns momentos.
Essas crianças não sentirão a nossa falta.
Ela se teria levantado naquele momento, se seus olhos não se
tivessem detido num outro par de olhos. Um rapaz de 27 ou 28 anos,
talvez um pouco mais moço que ela, fitava-a intensamente por sobre a
borda de uma taça, do outro extremo da mesa. Ela nunca o vira antes.
Seus olhares se sustentaram, e ela viu uma cabeça bem formada e olhos
azuis sensíveis. Enquanto ela o fitava, ele largou devagar a taça, e deixou
ver um nariz reto e uma boca forte, mas delicada. Ela rapidamente se deu
conta do pescoço firme, dos ombros largos, dos braços nus e musculosos
e das mãos de artista. Ela o observava com excitação crescente, e ele
devolvia o olhar dela ansioso, mas com ar confiante. Ela olhou de novo
para o rosto dele, e ele sorriu, inclinando a cabeça respeitosamente.
Possuía um ar distinto, tão diferente dos jovens de Lamora.
Máhius estivera observando o pequeno drama com uma sensação
de cansaço. Olhou para o rapaz e franziu o cenho.
Salustra recostou-se na cadeira. Um leve sorriso pairava-lhe nos
lábios. Sua respiração estava mais rápida. Ela voltara a ser ela mesma.
Máhius respondeu logo à pergunta que não fora feita.
— Aquele, radiante Majestade, é primo de Cicio, Rei de Dímtri —
disse com secura. — Ele me implorou hoje de manhã que lhe conseguisse
uma entrevista. É poeta de grande fama no seu país e busca o apoio de
Vossa Majestade sabendo que é tão devotada às artes. O nome dele é
Erato.
Salustra assentiu devagar, sem tirar os olhos do poeta, que agora
sorria ironicamente. Ele levou de novo a taça aos lábios e na sua mão um
grande rubi, como um olho irreverente, piscava para a Imperatriz.
Salustra sorriu.
— Ele deve ficar para o banquete a ser servido mais tarde, Máhius.
Estamos sempre dispostos a servir à Poesia, especialmente quando ela
tem um defensor tão galante e bonito.
Salustra levantou-se, e os convivas espantados levantaram-se com
ela. Ela fez um gesto com a mão cheia de jóias.
— Voltaremos — disse e deslizou para fora da sala, acompanhada
pelo velho ministro. O poeta sorriu, e seus dedos nervosos batucaram na
mesa.
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Pós-escrito - 1974