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Gabriel E. Pires
1998
Conteúdo
1 Integração 5
1.1 Teorema de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2 Consequências do Teorema de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3 Índice de um Caminho Fechado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.4 Fórmulas Integrais de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.5 Teorema de Morera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.6 Teorema de Liouville . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.7 Teorema Fundamental da Álgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.8 Zeros de Funções Analı́ticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.9 Teorema do Módulo Máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.10 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2 Singularidades 25
2.1 Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 Série de Laurent . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3 Resı́duos e Aplicações 37
3.1 Teorema dos Resı́duos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2 Zeros e Polos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.3 Cálculo de Resı́duos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.4 Cálculo de Integrais e de Séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Z ∞
3.4.1 Integrais do tipo: f (x)dx . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
−∞
Z ∞
3.4.2 Integrais do tipo eiax f (x)dx . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
−∞
3.4.3 Integrais trigonométricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.4.4 Valor principal de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.4.5 Integrais de funções multivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.4.6 Soma de séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.4.7 Exemplos diversos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
3.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3
4 CONTEÚDO
Capı́tulo 1
Integração
{γ(t) ∈ C : a ≤ t ≤ b}.
Seja A = γ(a) e B = γ(b). É claro que a linha definida por γ será percorrida do ponto
A para o ponto B.
Note-se que a função α(t) = a + (b − a)t estabelece uma bijecção entre os intervalos
[0, 1] e [a, b].
Seja g = γ ◦α. Assim, a linha definida pelo caminho γ : [a, b] → C será também definida
pelo caminho g : [0, 1] → C. Podemos então definir uma linha através de um caminho no
intervalo [0, 1].
Seja γ : [a, b] → C um caminho seccionalmente regular, ou seja, um caminho de classe
C 1 excepto num conjunto finito de pontos do intervalo [a, b] (cf. [5],[2],[6]). Seja γ ∗ a
respectiva imagem, S ⊂ C um conjunto aberto tal que γ ∗ ⊂ S e seja f : S → C uma
função contı́nua. Então as funções Re(f ◦ γ)γ ′ e Im(f ◦ γ)γ ′ serão seccionalmente contı́nuas
no intervalo [a, b] e, portanto, integráveis em [a, b].
Assim, define-se integral de f ao longo do caminho γ, ou integral de f ao longo da linha
γ ∗ , da forma seguinte:
Z Z b
f (z)dz = f (γ(t))γ ′ (t)dt
γ a
Z b Z b
Re f (γ(t))γ ′ (t) dt + i Im f (γ(t))γ ′ (t) dt.
= (1.0.1)
a a
5
6 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO
1
2. Seja ψ : [α, β] → [a, b] uma função
R de classe RC com derivada positiva e seja γ̃ = γ ◦ψ
uma reparametrização. Então, γ̃ f (z)dz = γ f (z)dz.
R R R
3. Para γ = γ1 + γ2 tem-se, γ
f (z)dz = γ1
f (z)dz + γ2
f (z)dz.
Im
γ
−γ
Re
Dem.:
1. Basta ter em conta o facto de que (ver figura 1.0.1)
Im
γ2
γ1
Re
Figura 1.0.2: Concatenação de dois caminhos
donde se obtém,
1
Z Z
2
Z 1
f (z)dz = 2 f (γ1 (2t))γ1′ (2t)dt
+ f (γ2 (2t − 1))γ2′ (2t − 1)dt
1
γ 0 2
Z Z
= f (z)dz + f (z)dz.
γ1 γ2
Deste Lema concluı́mos que o integral está bem definido porque não depende da para-
metrização usada para o calcular.
Note-se também que o integral muda de sinal quando a linha é percorrida no sentido
contrário.
Exemplo 1.0.1 Seja r > 0 e γ(t) = reit , (t ∈ [0, 2π]) a parametrização de uma circun-
ferência de raio r, centrada na origem e percorrida no sentido directo como mostra a figura
1.0.3.
Então,
Z Z 2π
n
z dz = (reit )n ireit dt
γ 0
Z 2π
n+1
= ir ei(n+1)t dt
0
Z 2π Z 2π
n+1
= ir cos(n + 1)t dt + i sen(n + 1)t dt
0 0
0, n 6= −1
= (1.0.2)
2πi, n = −1.
8 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO
Im
γ
r Re
Dem.: (cf. [5]) Consideremos apenas o caso em que γ é regular. Para o caso em que γ é
seccionalmente regular basta ter em conta a propriedade 3. do Lema 1.0.1.
Z Z b
′
F (z)dz = F ′ (γ(t))γ ′ (t)dt
γ a
Z b
= (F ◦ γ)′ dt
a
= [Re(F ◦ γ)(t)]ba + i[Im(F ◦ γ)(t)]ba
= F (γ(b)) − F (γ(a)).
obtemos,
Z Z
−iθ
r=e f (z)dz = e−iθ f (z)dz
γ γ
Z b
= {Re[e−iθ f (γ(t))γ ′ (t)] + i Im[e−iθ f (γ(t))γ ′ (t)]}dt
a
Z b
= Re[e−iθ f (γ(t))γ ′ (t)]dt
a
Z b
≤ | Re[e−iθ f (γ(t))γ ′ (t)]|dt
a
Z b
≤ |e−iθ ||f (γ(t))γ ′(t)|dt
a
Z b
= |f (γ(t))γ ′ (t)|dt
Za
= |f (z)|dz ≤ Ml(γ).
γ
1
Exemplo 1.0.2 1. Seja f (z) = 1+z 4 e γ(t) = Reit , (0 ≤ t ≤ π). Então,
π
Z Z Rieit Rπ
f (z)dz ≤ dt ≤ 4 .
4 i4t
R e +1 |R − 1|
γ 0
1
2. Seja f (z) = z
e γ(t) = eit , (0 ≤ t ≤ 2π). Então, |f (γ(t))| = 1 e |γ(t)| = 1 e, portanto,
Z
| f (z)dz| ≤ 2π.
γ
Dem.: (cf. [5, 6]) Sejam a, b, c os vértices de ∆ e sejam a′ , b′ , c′ os pontos médios dos
segmentos [b, c], [c, a] [a, b], respectivamente, como mostra a figura 1.1.4. Consideremos os
quatro triângulos ∆j , j = 1, 2, 3, 4, cujos vértices são, respectivamente,
b′ a′
a c′ b
∆ ⊃ ∆1 ⊃ ∆2 ⊃ ∆3 ⊃ · · ·
L
O comprimento da fronteira de cada um dos triângulos ∂∆n é igual a 2n
, em que L é
o comprimento de ∂∆. Portanto,
Z
n
|I| ≤ 4 f (z)dz , (n = 1, 2, 3, . . .).
∂∆n
1.1. TEOREMA DE CAUCHY 11
para |z − z0 | < r.
Tendo em conta que os triângulos estão encaixados, existe n tal que se z ∈ ∆n então
|z − z0 | < r.
Note-se que, pelo teorema 1.0.1, se tem
Z
z n dz = 0 , (n 6= −1).
∂∆
Portanto, temos
Z Z
f (z)dz = [f (z) − f (z0 ) − f (z0 )(z − z0 )]dz ≤ ǫ(2−n L)2 ,
′
∂∆n ∂∆n
donde obtemos
F (z) − F (z0 ) 1
Z
− f (z0 ) = [f (w) − f (z0 )]dw, (1.1.1)
z − z0 z − z0 [z−z0 ]
para z 6= z0 .
12 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO
Sendo f contı́nua em z0 , dado ǫ > 0, existe δ > 0 tal que, se |z − z0 | < δ então
|f (z) − f (z0 )| < ǫ. Portanto, de (1.1.1) obtemos,
F (z) − F (z )
0
− f (z )
0 < ǫ
z − z0
a z
Note-se que qualquer conjunto convexo é uma estrela. Tome-se para ponto a qualquer
ponto de S.
Um corte do plano complexo, ou seja, o conjunto que se obtém retirando ao plano
complexo uma semi-recta, dado por
Cα = C \ {w ∈ C : arg(w) = α}
é uma estrela. Tome-se para ponto a qualquer ponto de Cα sobre o segmento de recta
{w ∈ Cα : arg(w) = α + π}, tal como se ilustra na figura (1.1.6).
O plano perfurado, ou seja, o conjunto que se obtém retirando um ponto ao plano
complexo, não é uma estrela.
A demonstração do teorema 1.1.1 é facilmente adaptável a esta classe de conjuntos. De
facto, dados dois pontos z1 e z2 em S, se o segmento de recta [z1 , z2 ] ⊂ S então cada um
dos segmentos de recta [a, z] com z ∈ [z1 , z2 ] estará contido em S e, portanto, o triângulo
fechado de vértices {a, z1 , z2 } estará igualmente contido em S.
Do teorema 1.1.1 e do teorema fundamental do cálculo obtemos imediatamente o teo-
rema de Cauchy:
1.1. TEOREMA DE CAUCHY 13
Im
Re
a
Figura 1.1.6: Corte no plano complexo
Teorema 1.1.2 Seja f uma função analı́tica, definida num aberto e em estrela S, e γ ∗ ⊂ S
um caminho fechado. Então Z
f (z)dz = 0.
γ
Im
Re
Figura 1.3.7: Índice de um caminho no ponto z
Seja
t
γ ′ (s)
Z
φ(t) = exp ds , (a ≤ t ≤ b).
a γ(s) − z
Derivando φ obtemos,
φ′ (t) γ ′ (t)
= ,
φ(t) γ(t) − z
excepto, possivelmente, num conjunto finito D em que γ não é diferenciável. Assim, a
φ
função γ−z é contı́nua em [a, b] e tem derivada nula em [a, b] \ D. De facto,
γ(t) − z
φ(t) = , (a ≤ t ≤ b).
γ(a) − z
Dado que γ é um caminho fechado, ou seja, γ(a) = γ(b), fica claro que φ(b) = 1. Por
outro lado, φ(b) = exp (2πi Indγ (z)). Portanto, φ(b) = 1 se e só se exp (2πi Indγ (z)) = 1.
1.3. ÍNDICE DE UM CAMINHO FECHADO 15
Dado que
w−a 1
= z−a ,
w−z 1 − w−a
1
podemos expressar w−z
em termos de uma série geométrica:
∞
X (z − a)n 1
n+1
= .
n=0
(w − a) w−z
Portanto,
1
Z
dw
Indγ (z) =
2πi γ w−z
∞
1 (z − a)n
Z X
= dw.
2πi γ n=0 (w − a)n+1
Se for possı́vel trocar a série com o integral na expressão anterior, concluı́mos que a
função Indγ pode ser expressa na forma de uma série de potências:
∞
X
Indγ (z) = cn (z − a)n , (z ∈ Dr (a))
n=0
Lema 1.3.1 Seja γ um caminho, fk uma sucessão de funções contı́nuas em γ ∗ tais que,
X∞
∗
para todo z ∈ γ , a série fk (z) converge. Suponhamos que existem constantes Mk tais
k=0
Mk converge e, para todo z ∈ γ ∗ , se tem: |fk (z)| ≤ Mk . Então
P
que a série
X∞ Z ∞
Z X
fk (z)dz = fk (z)dz.
k=0 γ γ k=0
16 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO
Exemplo 1.3.1 Seja γ(t) = a + reit em que r > 0 e 0 ≤ t ≤ 2π. Então, para |z − a| < r,
Z 2π Z 2π
1 1 ireit 1
Z
dz
= dt = dt = 1,
2πi γ z − a 2πi 0 reit 2π 0
1.4. FÓRMULAS INTEGRAIS DE CAUCHY 17
ou seja,
1, se |z − a| < r
Indγ (z) = (1.3.1)
0, se |z − a| > r.
1 f (w)
Z
f (z) Indγ (z) = dw. (1.4.2)
2πi γ w − z
1 1 f (w) − f (z)
Z Z
0= g(w)dw = dw
2πi γ 2πi γ w−z
1 f (w) 1 f (z)
Z Z
= dw − dw
2πi γ w − z 2πi γ w − z
1 f (w) f (z) 1
Z Z
= dw − dw
2πi γ w − z 2πi γ w − z
1 f (w)
Z
= dw − f (z) Indγ (z).
2πi γ w − z
Para o caso em que Indγ (z) = 1 obtém-se uma fórmula integral para a função f o que
permitirá representar funções analı́ticas em termos de séries de potências. De facto, se
tomarmos para γ uma circunferência, o teorema seguinte estabelece essa representação.
Dem.: Seja a ∈ S e R > 0 tal que DR (a) ∈ S. Seja γ uma circunferência centrada em a, de
raio r < R e percorrida uma vez no sentido positivo. Sendo DR (a) um conjunto convexo,
18 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO
estão satisfeitas as condições do teorema anterior. Note-se que, para esta circunferência se
tem Indγ (z) = 1 em que z ∈ Dr (a). Portanto,
1 f (w)
Z
f (z) = dw , (z ∈ Dr (a)).
2πi γ w − z
Seguindo os mesmos passos da prova de que a função ı́ndice é analı́tica, concluı́mos que
existe uma sucessão de coeficientes (cn ) tais que
∞
X
f (z) = cn (z − a)n , (z ∈ Dr (a)).
n=0
Da unicidade dos coeficientes cn , obtemos a mesma série para qualquer r < R desde
que a esteja fixado. Portanto, a representação em série de potências é válida para todo
z ∈ DR (a) como era pretendido.
z2 z2
Z Z
dz = dz
γ z2 + 1 γ (z + i)(z − i)
2
z
= 2πi = −π.
z + i z=i
R Re z
3. Para calcular o integral γ z− 1 dz, em que γ é o caminho do exemplo anterior, não
2
podemos usar a fórmula de Cauchy porque Re z não é uma função analı́tica.
1.5. TEOREMA DE MORERA 19
eit + e−it z + z −1 z2 + 1
Re z = cos(t) = = = .
2 2 2z
Portanto,
Re z z2 + 1
Z Z
dz = 1 dz
γ z − 21 γ 2z(z − 2 )
Z
1 1 5
= − + dz
γ 2 z 2(2z − 1)
π πi
= 0 − 2πi + 5 i = .
2 2
e, portanto,
1 |a − b|
|f (a) − f (b)| ≤ 2πRM 1 2 ,
2π ( 2 R)
20 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO
Teorema 1.8.2 Sejam f, g duas funções analı́ticas num aberto e conexo S. Se f (z) = g(z)
num conjunto com pontos de acumulação em S, então f (z) = g(z) em S.
Note-se que este teorema deixa de ser válido para o caso em que S não é conexo. De
facto, se S = S1 ∪ S2 em que S1 , S2 são abertos disjuntos, considere-se a função definida
por
0, se z ∈ S1
f (z) =
1, se z ∈ S2 .
Teorema 1.9.1 Seja f uma função definida e analı́tica num disco DR (a) e tal que |f (z)| ≤
|f (a)| para todo z ∈ DR (a). Então f é constante.
22 CAPÍTULO 1. INTEGRAÇÃO
Dem.: Seja 0 < r < R e γ(t) = a + reit , 0 ≤ t ≤ 2π. Pela fórmula integral de Cauchy
temos,
1 f (z)
Z
f (a) =
2πi γ z − a
Z 2π
1 f (a + reit ) it
= ire dt
2πi 0 reit
Z 2π
1
= f (a + reit )dt.
2π 0
Dado que r < R e, por hipótese, |f (z)| ≤ |f (a)| para todo z ∈ DR (a), obtemos,
2π
1
Z
|f (a)| ≤ |f (a + reit )|dt ≤ |f (a)|
2π 0
e, portanto, Z 2π h i
it
|f (a)| − |f (a + re )| dt = 0.
0
Sendo a função integranda contı́nua e não negativa, deve ser nula, ou seja, f é constante
em DR (a).
f (0) = 0,
|f (z)| ≤ 1 ; |z| < 1.
f (z)
g(z) = , z 6= 0,
z
g(0) = f ′ (0).
1.10. EXERCÍCIOS 23
Sendo g analı́tica em D1 (0), pelo teorema do módulo máximo concluı́mos que se tem
|g(z)| ≤ 1
ou seja
|f (z)| ≤ |z| , z ∈ D1 (0)
e, em particular,
|f ′ (0)| ≤ 1.
Se para algum z ∈ D1 (0) tivermos |g(z)| = 1, então, pelo teorema do módulo máximo,
a função g será constante em D1 (0), ou seja, g(z) = λ em que |λ| = 1. Portanto, a função
f terá a seguinte forma
f (z) = eiα z
em que α ∈ R é tal que λ = eiα .
1.10 Exercı́cios
Nesta série de exercı́cios, iremos denotar por γ(a, r) a circunferência centrada em a ∈ C
e de raio r e percorrida no sentido positivo, ou seja,
3. Considere a função f (z) = z 1/2 com f (0) = 0 e |z| > 0 ; − π2 ≤ arg(z) < 3π
2
. Seja
γ ∗ = {z : |z| = 1; RIm(z) ≥ 0}. Mostre que o teorema de Cauchy não se aplica no
cálculo do integral γ f (z)dz. Calcule esse integral.
z 3 +5
R
a) γ z−i
dz,
1
R
b) γ z 2 +z+1
dz,
R sen(z)
c) γ z 2 +1
dz,
R cos(z)
d) γ zn
dz,
dz
R
e) γ z
.
f ′ (w) f (w)
Z Z
dw = 2
dw.
γ w − z0 γ (w − z0 )
f (z)
6. Seja f uma função inteira tal que lim = 0. Prove que f é constante.
|z|→∞ z
9. Seja f uma função analı́tica no disco fechado D1 (0). Prove que, se para algum r > 0
e algum a ∈ C se tem f (∂D1 (0)) ⊂ Dr (a), então
10. Prove que uma função analı́tica numa estrela tem primitiva.
12. Seja f uma função analı́tica num domı́nio S ⊂ C. Considerando a função ef , mostre
que Re(f ) não pode ter máximo em S.
Capı́tulo 2
Singularidades
2.1 Classificação
Consideremos a função f (z) = z1 , que, como vimos, desempenha um papel importante
no teorema de Cauchy e, especialmente, nas suas consequências. Esta função apresenta a
particularidade de não estar definida na origem e é analı́tica em C \ {0}. Em particular, é
analı́tica em qualquer coroa circular centrada na origem. Nesta secção analisaremos, com
algum pormenor, as funções que são analı́ticas excepto em pontos isolados e obteremos
uma classificação desses pontos a que chamaremos singularidades.
Seja S ⊂ C um aberto, a ∈ S e f uma função analı́tica em S \ {a}. Diz-se, neste caso,
que f tem uma singularidade em a.
Se limz→a f (z) existe, diz-se que f tem uma singularidade removı́vel em a. Neste caso,
f pode ser definida em S tomando f (a) = limz→a f (z).
Chamaremos disco perforado em a ao conjunto Dr∗ (a) = Dr (a) \ {a}.
Teorema 2.1.1 Seja f uma função analı́tica em S \ {a} e limitada em algum disco per-
forado Dr∗ (a). Então f tem uma singularidade removı́vel em a.
Dem.: Seja h : S → C definida do seguinte modo:
0, se z = a
h(z) = 2
(z − a) f (z), se z 6= a.
Sendo f limitada em algum disco perforado, obtemos,
h(z) − h(a)
= |(z − a)f (z)| ≤ M|z − a|,
z−a
em que M é tal que |f (z)| ≤ M, ∀z ∈ Dr∗ (a).
Portanto, h é diferenciável em a e h′ (a) = 0.
Assim, h é analı́tica em S e pode ser representada pela série de potências
∞
X
h(z) = cn (z − a)n , (z ∈ Dr (a)).
n=2
25
26 CAPÍTULO 2. SINGULARIDADES
Note-se que a função f (z) = z1 não se encontra nas condições do teorema anterior o que
nos leva a pensar no tipo de singularidades que uma função pode apresentar. O teorema
seguinte resolve este problema apresentando uma classificação exaustiva das singularidades
isoladas.
Teorema 2.1.2 Seja a ∈ S uma singularidade de f. Então, apenas três casos podem
ocorrer:
lim |f (z)| = ∞
z→a
Dem.: (cf. [6]) Suponhamos que c) não se verifica. Então, existem r > 0, ǫ > 0 e w ∈ C
tais que |f (z) − w| > ǫ em Dr∗ (a). Seja g a função definida por
1
g(z) = , (z ∈ D ∗ ). (2.1.1)
f (z) − w
Então, g é analı́tica em D ∗ e |g| < 1ǫ . Pelo teorema 2.1.1, g é analı́tica em D, pelo que,
dois casos podem ocorrer.
1
Se g(a) 6= 0, sendo f (z) = w + g(z) , obtemos que f é limitada em algum disco perforado
∗
Dρ (a), o que, pelo teorema 2.1.1, significa que f tem uma singularidade removı́vel em a.
Se a é um zero de g de ordem m ≥ 1, temos
em que b0 6= 0.
Por outro lado, de (2.1.1), obtemos para z ∈ D ∗ ,
5. I(γ) designa o conjunto aberto e limitado pela linha simples e fechada γ ∗ e chama-se,
abusivamente, interior de γ ∗ .
Lema 2.2.1
f (w) f (w)
Z Z
dw = dw , 0 < r < R , n ∈ Z. (2.2.2)
γ(0,r) wn γ(0,R) wn
Note-se que cada um dos caminhos γi está contido num quadrante do plano complexo.
Portanto, pelo teorema de Cauchy, obtemos:
f (w)
Z
n
dw = 0, i = 1, 2, 3, 4.
γi w
Portanto,
f (w) f (w)
Z Z
dw = dw.
γ(0,R) wn γ(0,r) wn
2.2. SÉRIE DE LAURENT 29
Im
γ2 γ1
r R Re
γ3
γ4
Teorema 2.2.1 Seja f uma função analı́tica na coroa circular A(R, S). Então,
∞
X
f (z) = cn z n , (z ∈ A), (2.2.3)
n=−∞
em que
1 f (w)
Z
cn = dw, (2.2.4)
2πi γ w n+1
Dem.: Seja z ∈ A(R, S) e P, Q > 0 tais que R < P < |z| < Q < S (ver figura 2.2.2).
30 CAPÍTULO 2. SINGULARIDADES
Im
R P Q S Re
1 f (w) 1 f (w)
Z Z
f (z) = dw − dw
2πi γ(0,Q) w − z 2πi γ(0,P ) w − z
∞ ∞
1 zn wm
Z X Z X
= f (w)dw − − f (w)dw. (2.2.5)
2πi γ(0,Q) n=0 w n+1 γ(0,P ) m=0 z m+1
Pelo Lema 1.3.1, podemos trocar o integral com a série em (2.2.5), ou seja,
∞ ∞ Z
1 f (w) n X
X Z
m
−m−1
f (z) = dw z + f (w)w dw z .
n=0
2πi γ(0,Q) w n+1 m=0 γ(0,P )
1 f (z)
Z
cn = dz. (2.2.7)
2πi γ (z − a)n+1
1
Exemplo 2.2.1 1. Seja f (z) = z(1−z)
. Então f é analı́tica em cada uma das coroas
A(0, 1) e A(1, ∞).
Podemos reescrever f na forma seguinte
1 1
f (z) = +
z 1−z
e, portanto,
∞
X
f (z) = zn , (z ∈ A(0, 1)). (2.2.8)
k=−1
32 CAPÍTULO 2. SINGULARIDADES
1
2. A função f (z) = z(1−z)2
é analı́tica na coroa A = {z : 0 < |z − 1| < 1}. Sendo
obtemos
∞
1 2
X
f (z) = [1 − (z − 1) + (z − 1) − · · · ] = (−1)n (z − 1)n . (2.2.9)
(z − 1)2 n=−2
1 1 z2 −1 1 z2
+ O(z 4 ) + O(z 4 ) ,
cosec(z) = = 1− = 1+ (2.2.10)
sen(z) z 6 z 6
para |z| pequeno.
2. A função
cos(z)
cot(z) =
sen(z)
é analı́tica para 0 < |z| < π. Numa vizinhança da origem, temos,
z2 1 z
+ O(z 4 ) + + O(z 3 )
cot(z) = 1−
2 z 6
1 2 1 1
+ O(z 4 )
= 1+z − −
z 2 6
e, portanto,
1 z
cot(z) = − + O(z 3 ) , (0 < |z| < π). (2.2.11)
z 3
2.2. SÉRIE DE LAURENT 33
P∞ zn
3. Dado que exp(z) = n=0 n! em C temos
∞
1 X 1
exp( ) = , (2.2.12)
z n=0
n!z n
em C \ {0}.
em que a
∞
X
fa (z) = cn (z − a)n
n=0
• a é uma singularidade essencial se não existe algum m tal que cn = 0 para todo
n < −m.
Teorema 2.2.2 Seja f uma função analı́tica num disco perforado Dr∗ (a). Então f tem um
pólo de ordem m em a se e só se
Da condição (2.2.14), dado ǫ > 0 existe δ > 0 tal que, se 0 < |z − a| < δ, então
e portanto,
|(z − a)−n−1 f (z)| ≤ (|D| + ǫ)s−n−m−1 .
Assim, os coeficientes cn podem ser estimados do seguinte modo
Portanto, para n < −m, s−n−m → 0 desde que s → 0, ou seja, cn = 0, o que quer dizer
que podemos escrever
∞
X
f (z) = cn (z − a)n .
n=−m
2.3. EXERCÍCIOS 35
1 z2 z4
f (z) = − + +···
2! 4! 6!
1
2. De (2.2.8), (2.2.10) e (2.2.11) concluı́mos que cada uma das funções z(1−z)
, cosec(z) =
1
sen(z)
e cot(z) apresenta um pólo simples na origem.
2.3 Exercı́cios
1 + 2z 1 1
1. Mostre que 2 3
= 2 + − 1 + z − z 2 + z 3 − · · ·, para 0 < |z| < 1.
z +z z z
2. Classifique as singularidades de cada uma das seguintes funções:
1
a) ze z ,
z2
b) ,
1+z
sen(z)
c) ,
z
cos(z)
d) ,
z
z+1
e) ,
z 2 − 2z
cos(z)
f) ,
z
z
g) ,
cos(z)
36 CAPÍTULO 2. SINGULARIDADES
f (z)
h) g(z) = em que f (a) = 0,
z−a
f (z)
g) g(z) = em que f (a) 6= 0.
z−a
Capı́tulo 3
Resı́duos e Aplicações
Lema 3.1.1 Seja f uma função analı́tica tendo um pólo no interior de uma linha simples
e fechada γ ∗ e seja
X∞
f (z) = ck (z − a)k
k=−m
= 2πic−1 .
37
38 CAPÍTULO 3. RESÍDUOS E APLICAÇÕES
Teorema 3.1.1 Seja f uma função analı́tica com um número finito de pólos em I(γ) em
que γ é um caminho fechado, simples e percorrido no sentido positivo. Sejam a1 , a2 , . . . , am
esses pontos. Então
Z Xm
f (z)dz = 2πi res(f, ak ).
γ k=1
Teorema 3.2.1 Seja f uma função analı́tica com um número finito P de pólos e um
número finito Z de zeros em I(γ), sendo γ um caminho fechado e simples percorrido no
sentido positivo. Suponhamos que f é não nula sobre γ ∗ . Então
Z ′
1 f (z)
dz = Z − P.
2πi γ f (z)
′
Dem.: (cf. [6, 5, 1]) A função ff é analı́tica excepto nos zeros e pólos de f. Se a é um zero
de f de ordem m, então existe uma função analı́tica g tal que
g(z)
f (z) =
(z − b)n
e,
f ′ (z) n g ′ (z)
=− + .
f (z) z−b g(z)
′
Portanto, ff tem um pólo simples em b e o respectivo resı́duo é −n.
Tendo em conta o teorema 3.1.1, fica estabelecido o resultado pretendido.
O teorema seguinte (Teorema de Rouché) estabelece que duas funções têm o mesmo
número de zeros num conjunto se, na fronteira desse conjunto elas estão, de certa maneira,
próximas uma da outra.
h′ (z) 1
Z Z
dz = dz = Indh◦γ (0) = 0.
γ h(z) h◦γ z
Exemplo 3.2.1 1. Seja h uma função analı́tica em D1 (0) e tal que |h(z)| < 1 para
|z| = 1. Então a equação h(z) = z tem apenas uma solução em D1 (0).
40 CAPÍTULO 3. RESÍDUOS E APLICAÇÕES
De facto, considerando
γ ∗ = {z : |z| = 1, }
f (z) = z,
g(z) = z − h(z),
temos,
|f (z) − g(z)| = |h(z)| < 1 = |z| = |f (z)|.
Pelo teorema de Rouché concluı́mos que g e f têm o mesmo número de zeros.
2. Dado um polinómio p de grau n dado por p(z) = a0 + a1 z + · · · + an z n com an 6= 0,
seja f (z) = an z n e g(z) = p(z). Então
|f (z) − g(z)| = |a0 + a1 z + · · · + an−1 z n−1 | ≤ (n − 1)a|z|n−1 ,
em que |z| > 1 e a = max{|a0 |, · · · , |an−1 |}.
Seja γ ∗ = {z : |z| = R} com R > max{ (n−1)a
|an |
, 1, R0 } em que R0 é tal que os zeros do
polinómio p se encontram no disco de raio R0 e centro na origem. Assim, temos
|f (z) − g(z)| < |an |Rn = |f (z)|
o que, pelo teorema de Rouché, permite concluir que p tem n zeros em C.
• Suponhamos que f tem um pólo de ordem m em a. Em algum disco perforado Dr∗ (a)
temos:
g(z)
f (z) = ,
(z − a)m
em que g é analı́tica e g(a) 6= 0. Pelas fórmulas integrais de Cauchy para derivadas
obtemos,
(m − 1)!
Z
(m−1) g(z)
g (a) = dz
2πi γ(a, r2 ) (z − a)m
(m − 1)!
Z
= f (z)dz
2πi γ(a, r2 )
Portanto,
1
res(f, a) = g (m−1) (a). (3.3.2)
(m − 1)!
1
Exemplo 3.3.1 1. A função f (z) = (2−z)(z 2 +4)
tem pólos simples nos pontos {2, −2i, 2i}
e, portanto, por (3.3.1), temos
1
res(f, 2) = −
8
1 1−i
res(f, −2i) = =
4i(2 − 2i) 16
1 1+i
res(f, 2i) = = .
−4i(2 + 2i) 16
(2k+1)πi
1
2. f (z) = 1+z 4
tem pólos simples nos pontos zk = e 4 , k = 0, 1, 2, 3.
Considere-se h(z) = 1 e k(z) = 1 + z 4 . Então, por (3.3.3), temos
1 1 (2k+1)πi
res(f, zk ) = 3 z=z
=− e 4 .
4z k 4
eiz
3. f (z) = z4
tem um pólo de ordem quatro na origem. Por (3.3.2),
1 d3 iz i
res(f, 0) = 3
e z=0 = − .
3! dz 6
4. f (z) = π cot(πz)
z2
tem um pólo de ordem três em z = 0 e pólos simples nos inteiros
n = ±1, ±2, . . . . Por (3.3.3) temos
cos(πz)
z2
1
res(f, n) = π z=n
= , n 6= 0.
π cos(πz) n2
42 CAPÍTULO 3. RESÍDUOS E APLICAÇÕES
Im
γR
−R R Re
Figura 3.4.1: Concatenação dos caminhos [−R, R] e γR
Im
γ
−R S Re
Figura 3.4.2
RR
• limR→∞ 0
f (x)dx designado por integral impróprio de f em ]0, ∞[.
RS
• limR,S→∞ f (x)dx designado por integral impróprio de f em R.
−R
R∞ R∞
Portanto, poderemos calcular integrais do tipo 0 f (x)dx ou −∞ f (x)dx entendidos
no sentido dos integrais impróprios de Riemann ou no sentido do integral de Lebesgue caso
existam. Será também possı́vel calcular integrais de funções trigonométricas.
Z ∞
3.4.1 Integrais do tipo: f (x)dx
−∞
Seja f uma função analı́tica excepto para o conjunto de pólos {a1 , a2 , · · · , aN } com parte
imaginária positiva.
Suponhamos que existem constantes M e R tais que, para |z| > R, se tem
M
|f (z)| ≤ , α > 1. (3.4.4)
|z|α
P
Note-se que se f = Q em que P e Q são polinómios de grau n e m, respectivamente, e
tais que m ≥ n + 2, então f verifica a condição (3.4.4).
Seja r > R e consideremos o caminho (ver figura 3.4.3)
γ = γr (r, −r) + [−r, r]
de tal forma que os pólos de f se encontram todos em I(γ).
Pelo teorema dos resı́duos temos
Z N
X
f (z)dz = 2πi res(f, ai ).
γ i=1
44 CAPÍTULO 3. RESÍDUOS E APLICAÇÕES
Im
γ
−r r Re
Figura 3.4.3
Por um lado, Z Z r Z π
f (z)dz = f (x)dx + f (reit )ireit dt
γ −r 0
existe.
Por outro lado temos, Z π
M
f (reit )ireit dt≤ π α−1
0 r
que converge para zero quando r → ∞, desde que α > 1.
Portanto,
Z ∞ N
X
f (x)dx = 2πi res(f, ai ).
−∞ i=1
Portanto,
∞
1
Z
π
dx = √ .
−∞ 1 + x4 2
Note-se que se tem
1
|f (z)| ≤
|R4 − 1|
para z = Reit , ou seja, f verifica a condição (3.4.4).
Z ∞
3.4.2 Integrais do tipo eiax f (x)dx
−∞
Suponhamos que existem constantes M, R > 0 tais que, para |z| > R, se tem
M
|f (z)| ≤ . (3.4.5)
|z|
Seja
g(z) = eiαz f (z); α>0
e consideremos o caminho (ver figura 3.4.4)
Im
γ
p
−r s Re
Figura 3.4.4
Z ∞ N
X
iαx
e f (x)dx = 2πi res(f (z)eiαz , ai ).
−∞ i=1
∞
cos(x) πe−b
Z
dx = , b>0
0 x2 + b2 2b
1
consideremos a função g(z) = eiz f (z) em que f (z) = z 2 +b2.
e−b
res(f, bi) = .
2bi
Mas,
2π 2π
eit + e−it eit − e−it ieit
Z Z
R(cos(t), sen(t))dt = R, dt
0 0 2 2i ieit
Z 2π Z
it it
= f (e )ie dt = f (z)dz,
0 γ
ou seja,
Z 2π N
X
R(cos(t), sen(t))dt = res(f, ai ).
0 i=1
Exemplo 3.4.3
Z 2π
dt
I = ; a > 0, a 6= 1
0 a2
1 + − 2a cos(t)
Z
dz
= 2 2a
1
γ iz 1 + a − 2 z + z
Z
dz
=
i[−az 2 + (1 + a2 )z − a]
Zγ
idz
= .
γ (z − a)(az − 1)
i
Os pólos da função integranda f (z) = (z−a)(az−1)
são z = a e z = a1 .
48 CAPÍTULO 3. RESÍDUOS E APLICAÇÕES
i
res(f, a) = .
a2 −1
1
Para a > 1, f tem o pólo z = a
em I(γ) e o respectivo resı́duo é dado por
1 i
res(f, ) = .
a 1 − a2
Portanto, temos,
2π
1−a2
, se a < 1,
I= 2π
a2 −1
, se a > 1.
b
f (z) = + h(z)
z−a
em que h é analı́tica, b = res(f, a) e, portanto,
Z Z Z
b
f (z)dz = dz + h(z)dz.
γǫ γǫ z − a γǫ
quando ǫ → 0.
3.4. CÁLCULO DE INTEGRAIS E DE SÉRIES 49
Im
γǫ
ǫ
Re
Figura 3.4.5
Seja f uma função contı́nua em R \ {a1 < a2 < · · · < aN }. Se para todo ǫ > 0,
a1 −ǫ
Z Z a2 −ǫ Z ∞
lim f (x)dx + f (x)dx + · · · + f (x)dx
ǫ→0 −∞ a1 +ǫ aN +ǫ
existir,
R ∞ diz-se que este limite é o valor principal de Cauchy e representa-se pelo sı́mbolo
P V. −∞ f (x)dx.
Seja f uma função analı́tica excepto para um conjunto finito de pólos simples {a1 <
a2 < · · · < aN } sobre o eixo real e para um conjunto finito de pólos {b1 , . . . , bK } tais que
Im(bi ) > 0. Suponhamos que uma das condições seguintes se verifica:
i) Existem M, R > 0 tais que para |z| > R e Im(z) ≥ 0 se tem
M
|f (z)| ≤ , (3.4.7)
|z|2
ii) f (z) = eiαz g(z), em que α > 0 e existem M, R > 0 tais que, para |z| > R e Im(z) ≥ 0
se tem
N
|g(z) ≤ . (3.4.8)
|z|
Seja γ = γr (r, −r) + γ1 + · · ·+ γN + γ̃ em que r > max {|ai | : i = 1, 2, . . . , N}, γi designa
a semicircunferência γǫ (ai + ǫ, ai − ǫ) e γ̃ designa os segmentos de recta sobre o eixo real
tais que o caminho γ é fechado (ver figura 3.4.6).
R
A condição (3.4.7) permite concluir que γr (r,−r) f (z)dz → 0 se r → ∞.
R
O Lema 3.4.1 garante que limǫ→0 γj f (z)dz = −πi res(f, aj ) , j = 1, 2, . . . , N.
Portanto, temos
Z ∞ XK N
X
P V. f (x)dx = 2πi res(f, bj ) + πi res(f, aj ). (3.4.9)
−∞ j=1 j=1
50 CAPÍTULO 3. RESÍDUOS E APLICAÇÕES
Im
aj
Re
Figura 3.4.6
consideremos a função
eiz
f (z) =
z
e o caminho
γ = γr (r, −r) − γǫ (ǫ, −ǫ) + γ̃
em que γ̃ designa os dois segmentos de recta sobre o eixo real tais que γ é fechado como
mostra a figura 3.4.7.
Im
ǫ r Re
Figura 3.4.7
3.4. CÁLCULO DE INTEGRAIS E DE SÉRIES 51
R∞ sen(x)
Então, por (3.4.9), P V. −∞ x
dxexiste e tem-se
∞ Z ∞
sen(x) sen(x)
Z
P V. dx = 2 dx.
−∞ x 0 x
Mas,
eiz
Z
f (z)dz = πi res( , o) = πi,
γ z
o que estabelece o que se pretendia.
Im
−R −ǫ ǫ R Re
Figura 3.4.8
Do mesmo modo,
π
(| log(ǫ)| + π)ǫ
Z Z
f (z)dz ≤ dθ.
γǫ (ǫ,−ǫ) 0 1 − ǫ2
Fazendo R → ∞ e ǫ → 0, obtemos,
Z ∞ Z ∞
log(x) 1 1
2 2
dx + iπ 2
= π 2 i.
0 1+x 0 1+x 2
Im γN
SN
1
N+ 2
Re
Figura 3.4.9
eiπ[x±i(N + 21 )] + e−iπ[x±i(N + 12 )]
| cot(πz)| = iπ[x±i(N + 1 )] −iπ[x±i(N + 12 )]
e 2 −e
π(N + 12 ) −π(N + 21 )
e +e
≤ π(N + 1 ) −π(N + 21 )
e 2 − e
1
= coth(N + )π
2
3π
≤ coth( )
2
porque a função coth(t) é decrescente para t ≥ 0.
Sobre as arestas verticais z = ±(N + 21 ) + iy, temos
que tem pólos simples nos pontos z = 21 (2n + 1)πi , (n ∈ Z) e consideremos o caminho
seguinte (ver figura 3.4.10)
πi aπi
res(f, ) = −ie 2 .
a
Portanto, pelo teorema dos resı́duos temos,
Z R Z π Z −S
eax iea(R+iy) eaπi eax
dx + dy + dx
−S cosh(x) 0 cosh(R + iy) R cosh(x + πi)
Z π
iea(−S+iy) aπi
+ dy = 2πe 2 .
0 cosh(−S + iy)
3.4. CÁLCULO DE INTEGRAIS E DE SÉRIES 55
Im
γ
π
−S R Re
Figura 3.4.10
2
consideremos a função f (z) = eiz e o caminho seguinte
iπ iπ
γ = [0, R] + γ(R, Re 4 ) + [Re 4 , 0],
Im
π
4
R Re
Figura 3.4.11
Usando a desigualdade
2 sen(t) π
≤ ≤1, (0 < t ≤ )
π t 2
podemos estimar o segundo integral
Z π Z π
4 4
iR2 ei2t it 2
e−R sen(2t)
e Rie dt ≤ R dt
0 0
Z π
4 −4R2 t
≤ R e π dt
0
2
π(1 − e−R )
≤ .
4R
R∞ √
2 π
Fazendo R → ∞ e tendo em conta que 0
e−x dx = 2
, obtemos
∞ ∞ √
(1 + i) (1 + i) π
Z Z
ix2 −r 2
e dx = √ e dr = √ .
0 2 0 2 2
Igualando as partes reais,
∞
Z r
2 π
cos(x )dx = .
0 8
consideremos as funções
z −a π 3π
f1 (z) = ; |z| > 0 , − < arg(z) < ,
z+1 2 2
z −a π 5π
f2 (z) = ; |z| > 0 , < arg(z) < ,
z+1 2 2
e os caminhos γ1 e γ2 como se mostram nas figuras (3.4.12, 3.4.13) e em que ǫ < 1 < R.
Im
γ1
ǫ R Re
Figura 3.4.12
Por sua vez, a função f2 apresenta um pólo simples no ponto z = −1 em I(γ2 ). Por
definição temos
z −a exp [−a Log |z| + i arg z]
f2 (z) = =
z+1 z+1
em que π2 < arg z < 5π
2
.
O resı́duo de f2 em z = −1 é dado por
e, portanto Z
f2 (z)dz = 2πi e−aπi . (3.4.11)
γ2
Dado que f1 (z) = f2 (z) sobre o segmento de recta no segundo quadrante temos,
58 CAPÍTULO 3. RESÍDUOS E APLICAÇÕES
Im
−1 ǫ R Re
γ2
Figura 3.4.13
Z Z Z R Z R
f1 (z)dz + f2 (z)dz = f1 (x)dx − f2 (x)dx (3.4.12)
γ1 γ2 ǫ ǫ
Z Z Z Z
+ f1 (z)dz + f2 (z)dz + f1 (z)dz + f2 (z)dz,
Γ1 Γ2 γǫ1 γǫ2
ou seja,
R−a
Z
fk (z)dz ≤
2πR
Γk R−1
e, portanto Z
lim fk (z)dz = 0 (k = 1, 2). (3.4.13)
R→∞ Γk
Sobre γk temos −a
z −a
|fk (z)| = ≤ ǫ ,
z + 1 1 − ǫ
ou seja,
ǫ−a
Z
fk (z)dz ≤
2πǫ
γk 1−ǫ
3.5. EXERCÍCIOS 59
e, portanto Z
lim fk (z)dz = 0 (k = 1, 2). (3.4.14)
ǫ→0 γk
3.5 Exercı́cios
1
1. Calcule os resı́duos correspondentes aos pólos da função f (z) = (z+1)2 (z 3 −1)
.
a) cosec2 (z),
cosec(z 2 )
b) ,
z3
1
c) zcos( ).
z
3. Calcule o resı́duo em z = 1 do ramo analı́tico da função
√
z
f (z) =
1−z
correspondente a
4. Calcule o integral
1
Z
dz
γ z 3 (z + 4)
para os dois casos seguintes:
i) γ ∗ = {z ∈ C : |z| = 2},
ii) γ ∗ = {z ∈ C : |z + 2| = 3}.
1
Z
ii) dz.
γ senh(2z)
6. Calcule os integrais:
1
R
a) γ(0,8 1+e z dz,
R 2π 1
b) 0 1+8 cos 2 (t) dt,
cosec(z)
Z
ii) dz,
γ z
Z
1
iii) ze z .
γ
12. Seja f uma função analı́tica excepto nos pólos 1 e −1 de ordem dois com resı́duos
a e b, respectivamente. Além disso existem M, R > 0 tais que |z 2 f (z)| ≤ M para
|z| > R. Prove que a + b = 0.
13. Prove que a equação z 5 + 15z + 1 = 0 tem precisamente quatro soluções no conjunto
{z : 32 < |z| < 2}.
[2] J. Bak and D.J. Newman. Complex Analysis. Springer Verlag, 2nd. ed., 1996.
[3] R.V. Churchill, J.W. Brown, and R.F. Verhey. Complex Variables and Applications.
International Student Edition, 3rd. ed., 1974.
[5] H.A. Priestley. Introduction to Complex Analysis. Oxford Univ. Press, 1990.
[6] W. Rudin. Real and Complex Analysis. McGraw Hill, 3rd. ed., 1987.
63