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DIAGNOSE
LEITURA
Lê o texto.
Os donos da língua
A estória que vos vou contar aconteceu no tempo em que os animais falavam, ou
melhor, em que falavam todos os mesmo idioma. O Senhor Cão, o animal mais velho da
Floresta, era uma espécie de guardião1 do verbo. Na verdade, via-se a si próprio como o
legítimo proprietário da fala.
5 – A palavra foi criada pelos cães, os quais, por gentileza, a emprestaram aos outros
animais – explicava aos filhos. – O vosso avô, o Velho Cão, andou por esta Floresta,
descobrindo e nomeando as coisas: rios, lagos, rochedos, montes e vales, árvores, ervas,
flores, frutos, os pequenos insetos, nevoeiros, chuvas, o lodo e a lama. Enfim, tudo. O que
nós, cães, não conhecemos, não existe. Assim, a existência da Floresta deve-se a nós.
10 Este é um Mundo Cão.
A Senhora Sucuri2 não gostava de ouvir aquele discurso. Era o animal maior da
Floresta, falava tão bem como o Senhor Cão, e, como ele, usava chapéu. “A língua
pertence a todos”, dizia, “da mesma forma que um rio constrói o seu caminho e depois é ele
esse caminho, assim nós fazemos uma língua e a seguir ela nos refaz.” A Senhora Palanca3
15 achava o mesmo, mas era dramática: “A língua sou eu!”; e o Senhor Papagaio repetia: “A
língua sou eu, a língua sou eu!” Tímida, a corça propunha uma outra formulação: “A minha
Pátria é a minha língua”; e o Senhor Papagaio repetia: “A minha Pátria é a minha língua, a
minha Pátria é a minha língua”.
Um dia o Senhor Cão foi passear para a zona mais remota da Floresta, como
20 costumava fazer, empurrado pelo desejo de descobrir coisas novas às quais pudesse dar
nome (e existência). A luz era escassa, húmida e verde, naqueles deslimites. Uma lama
espessa escondia o chão. As próprias árvores pareciam perigosas. Algumas tinham os
troncos cobertos de picos, outras de resina ácida, flores de uma melodia crespuscular 4
devoraram tudo em seu redor.
25 Ali, meio imerso na lama, o Senhor Cão descobriu o esqueleto de um animal
desconhecido. Aproximou-se para o estudar melhor, ansioso por lhe dar um nome,
agregando-o dessa forma à Floresta, ao universo, à imensidão das coisas existentes, mas
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não lhe ocorreu nada. Ficou assim muito tempo, rondando aquela morte que lhe
desorganizava o pensamento, “Como te chamas?”, perguntou, já desesperado, e então,
para seu grande espanto, o esqueleto ergueu-se e respondeu: “O meu nome? Nunca tive
nome.”
O Senhor Cão assustou-se,
– O nome é um resumo da alma – disse –, tudo o que existe ou existiu, ou até que
se acredita que possa vir a existir tem de ter um nome.
O esqueleto chocalhou os ossos, indiferente à perplexidade do outro:
35 – Eu nunca tive. Vivi e morri sem que ninguém me nomeasse5.
Naquela tarde os outros animais viram o Senhor Cão regressar a casa de cabeça
baixa. Achava-se um falhado. Descobrira algo de novo na Floresta e não fora capaz de lhe
dar um nome. Adoeceu de desgosto. Alguns dias depois, preocupada, a Senhora Corça foi
saber o que se passava e encontrou o Cão às portas da morte. “Morro”, disse-lhe este,
40 “sem ter cumprido o meu papel nesta Floresta.” E morreu.
Durante uma semana os animais choraram, dançaram e beberam o morto, conforme
a tradição, e depois lançaram o seu cadáver ao rio, e o rio arrastou-o até à zona mais
remota da Floresta. Anos depois, ou séculos depois, não importa, o Cão foi parar junto às
ossadas do animal desconhecidos.
45 – Estou a conhecer-te – disse o esqueleto. Tu és o Cão. Aquele que se julgava o
dono da língua. Mas morreste e a língua continua. Os outros animais servem-se dela,
agora, como se fosse um perpétuo domingo.
– Já alguém te deu um nome? – quis saber o Cão. – Só isso me interessa.
O outro riu:
50 – Sim – disse –, chamam-me escuridão.
1. Aquele que protege. 2. Cobra do Brasil que atinge dez metros de cumprimento. 3. Espécie de antílope. 4.
Próprio do fim do dia. 5. Atribuísse um nome.
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1. Assinala, de 1.1. a 1.3., a opção que permite completar cada afirmação, de
acordo com o sentido do texto.
a. estudavam a língua.
b. governavam o mundo.
c. falavam a mesma língua.
Relê o texto.
2. Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.
2.1. O narrador define o Cão como o dono da língua por direito próprio. Transcreve
uma expressão que confirme esta afirmação.
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2.2. O Senhor Cão afirma que “Este é um Mundo Cão.” Que argumentos apresenta
para justificar esta ideia?
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GRAMÁTICA
1. Considera a frase.
“O vosso avô, o Velho Cão, andou por esta Floresta, descobrindo e nomeando as coisas:
rios, lagos, rochedos, montes e vales, árvores, ervas, flores, frutos, os pequenos insetos,
nevoeiros, chuvas, o lodo e a lama.”
1.1. Transcreve cada palavra sublinhada para a coluna que corresponde à classe
de palavras a que pertence.
2. Lê a seguinte frase.
“A corça propunha aos animais outra formulação.”
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2.1. Completa as seguintes informações, associando as expressões da frase às
funções sintáticas indicadas.
a. Sujeito →
b. Predicado →
c. Complemento direto →
d. Complemento indireto →
3.1. Identifica o grau em que se encontram os adjetivos em cada uma das frases.
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4. Considera a frase.
“Descobrira algo de novo na Floresta e não fora capaz de lhe dar um nome.”
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ESCRITA
O Esperanto
Em 1887, o médico polaco Zamenhof publicou, sob o pseudónimo de Dr.
Esperanto, um manual de língua universal. Esta língua foi criada, não para substituir as
línguas nacionais, mas para facilitar a comunicação entre os povos e estabelecer uma
ponta entre duas culturas: seria a segunda língua de cada povo. A ideia foi tão bem aceite
que a língua, que, no início, não tinha nome, rapidamente passou a ser conhecida pelo
pseudónimo do seu criador, Esperanto – aquele que tem esperança, em Esperanto. Após
1995, com a disseminação da Internet, o movimento esperantista ganhou uma nova força
propulsora, com mais artigos escritos do que os de muitas línguas étnicas.
1. Zamenhof sonhou criar uma só língua para toda a população mundial. Redige
um texto, entre 50 a 70 palavras, em que apresentes a tua opinião sobre as
vantagens e as desvantagens de uma língua única.
ORALIDADE
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1. Prepara uma breve exposição oral em que apresentes à turma a opinião que
registaste no texto que criaste no exercício anterior.