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PERCURSO 1

Aluno/a: ______________________________ Ano: ___ Turma: ___ Data: ____________

DIAGNOSE

LEITURA
Lê o texto.

Os donos da língua
A estória que vos vou contar aconteceu no tempo em que os animais falavam, ou
melhor, em que falavam todos os mesmo idioma. O Senhor Cão, o animal mais velho da
Floresta, era uma espécie de guardião1 do verbo. Na verdade, via-se a si próprio como o
legítimo proprietário da fala.
5 – A palavra foi criada pelos cães, os quais, por gentileza, a emprestaram aos outros
animais – explicava aos filhos. – O vosso avô, o Velho Cão, andou por esta Floresta,
descobrindo e nomeando as coisas: rios, lagos, rochedos, montes e vales, árvores, ervas,
flores, frutos, os pequenos insetos, nevoeiros, chuvas, o lodo e a lama. Enfim, tudo. O que
nós, cães, não conhecemos, não existe. Assim, a existência da Floresta deve-se a nós.
10 Este é um Mundo Cão.
A Senhora Sucuri2 não gostava de ouvir aquele discurso. Era o animal maior da
Floresta, falava tão bem como o Senhor Cão, e, como ele, usava chapéu. “A língua
pertence a todos”, dizia, “da mesma forma que um rio constrói o seu caminho e depois é ele
esse caminho, assim nós fazemos uma língua e a seguir ela nos refaz.” A Senhora Palanca3
15 achava o mesmo, mas era dramática: “A língua sou eu!”; e o Senhor Papagaio repetia: “A
língua sou eu, a língua sou eu!” Tímida, a corça propunha uma outra formulação: “A minha
Pátria é a minha língua”; e o Senhor Papagaio repetia: “A minha Pátria é a minha língua, a
minha Pátria é a minha língua”.
Um dia o Senhor Cão foi passear para a zona mais remota da Floresta, como
20 costumava fazer, empurrado pelo desejo de descobrir coisas novas às quais pudesse dar
nome (e existência). A luz era escassa, húmida e verde, naqueles deslimites. Uma lama
espessa escondia o chão. As próprias árvores pareciam perigosas. Algumas tinham os
troncos cobertos de picos, outras de resina ácida, flores de uma melodia crespuscular 4
devoraram tudo em seu redor.
25 Ali, meio imerso na lama, o Senhor Cão descobriu o esqueleto de um animal
desconhecido. Aproximou-se para o estudar melhor, ansioso por lhe dar um nome,
agregando-o dessa forma à Floresta, ao universo, à imensidão das coisas existentes, mas
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não lhe ocorreu nada. Ficou assim muito tempo, rondando aquela morte que lhe
desorganizava o pensamento, “Como te chamas?”, perguntou, já desesperado, e então,
para seu grande espanto, o esqueleto ergueu-se e respondeu: “O meu nome? Nunca tive
nome.”
O Senhor Cão assustou-se,
– O nome é um resumo da alma – disse –, tudo o que existe ou existiu, ou até que
se acredita que possa vir a existir tem de ter um nome.
O esqueleto chocalhou os ossos, indiferente à perplexidade do outro:
35 – Eu nunca tive. Vivi e morri sem que ninguém me nomeasse5.
Naquela tarde os outros animais viram o Senhor Cão regressar a casa de cabeça
baixa. Achava-se um falhado. Descobrira algo de novo na Floresta e não fora capaz de lhe
dar um nome. Adoeceu de desgosto. Alguns dias depois, preocupada, a Senhora Corça foi
saber o que se passava e encontrou o Cão às portas da morte. “Morro”, disse-lhe este,
40 “sem ter cumprido o meu papel nesta Floresta.” E morreu.
Durante uma semana os animais choraram, dançaram e beberam o morto, conforme
a tradição, e depois lançaram o seu cadáver ao rio, e o rio arrastou-o até à zona mais
remota da Floresta. Anos depois, ou séculos depois, não importa, o Cão foi parar junto às
ossadas do animal desconhecidos.
45 – Estou a conhecer-te – disse o esqueleto. Tu és o Cão. Aquele que se julgava o
dono da língua. Mas morreste e a língua continua. Os outros animais servem-se dela,
agora, como se fosse um perpétuo domingo.
– Já alguém te deu um nome? – quis saber o Cão. – Só isso me interessa.
O outro riu:
50 – Sim – disse –, chamam-me escuridão.

José Eduardo Agualusa, Este e outros texto estão acessíveis em


http://cvc:instituto-camoes.pt (consultado a 1 de setembro de 2020)

1. Aquele que protege. 2. Cobra do Brasil que atinge dez metros de cumprimento. 3. Espécie de antílope. 4.
Próprio do fim do dia. 5. Atribuísse um nome.

Responde ao que te é pedido sobre o texto que acabaste de ler, seguindo as


orientações.

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1. Assinala, de 1.1. a 1.3., a opção que permite completar cada afirmação, de
acordo com o sentido do texto.

1.1. A história que acabaste de ler passou-se no tempo em que os animais

a. estudavam a língua.
b. governavam o mundo.
c. falavam a mesma língua.

1.2. Na Floresta onde viviam os animais, havia

a. rios, lagos, rochedos, montes e vales, lodo e lama.


b. muita luminosidade em todos os lugares.
c. quintas com prados e erva verdejante.

1.3. As personagens que intervêm

a. discutem sobre a língua.


b. defendem os direitos dos animais.
c. procuram significados no dicionário.

Relê o texto.
2. Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

2.1. O narrador define o Cão como o dono da língua por direito próprio. Transcreve
uma expressão que confirme esta afirmação.
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2.2. O Senhor Cão afirma que “Este é um Mundo Cão.” Que argumentos apresenta
para justificar esta ideia?
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2.3. Os outros animais discordavam do Cão. Associa os pontos de vista


apresentados ao respetivo animal.

PONTOS DE VISTA ANIMAIS

1. “A minha língua é a terra onde a. Senhora Palanca


nasci.”

2. “Eu sou a língua.” b. Senhora Sucuri

3. Partilha da opinião dos outros c. Corça


animais.

4. A língua é um bem de todos. d. Senhor Papagaio

1. _____; 2. _____; 3. _____; 4. _____

2.4. Um dia, o Senhor Cão encontrou um esqueleto de um animal desconhecido e


sem nome. Que consequências resultaram desse encontro?
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3. No texto, o autor recorre à personificação.


3.1. Dá um exemplo.
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3.1.1. Explica o seu valor expressivo.


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GRAMÁTICA

1. Considera a frase.
“O vosso avô, o Velho Cão, andou por esta Floresta, descobrindo e nomeando as coisas:
rios, lagos, rochedos, montes e vales, árvores, ervas, flores, frutos, os pequenos insetos,
nevoeiros, chuvas, o lodo e a lama.”

1.1. Transcreve cada palavra sublinhada para a coluna que corresponde à classe
de palavras a que pertence.

NOMES ADJETIVOS VERBOS DETERMINANTES PREPOSIÇÕES

2. Lê a seguinte frase.
“A corça propunha aos animais outra formulação.”

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2.1. Completa as seguintes informações, associando as expressões da frase às
funções sintáticas indicadas.
a. Sujeito →
b. Predicado →
c. Complemento direto →
d. Complemento indireto →

2.2. Reescreve a frase, substituindo a expressão que desempenha a função


sintática de complemento direto por um pronome pessoal.
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3. Atenta nas frases.

a. O Senhor Cão, o animal mais velho da Floresta, era o guardião do verbo.


b. A Senhora Sucuri era tão eloquente como o Senhor Cão.

3.1. Identifica o grau em que se encontram os adjetivos em cada uma das frases.
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4. Considera a frase.
“Descobrira algo de novo na Floresta e não fora capaz de lhe dar um nome.”

4.1. Identifica o tempo em que se encontram as formas verbais sublinhadas.

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4.2. Reescreve a frase, colocando as formas verbais no pretérito perfeito do


indicativo.
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ESCRITA

O Esperanto
Em 1887, o médico polaco Zamenhof publicou, sob o pseudónimo de Dr.
Esperanto, um manual de língua universal. Esta língua foi criada, não para substituir as
línguas nacionais, mas para facilitar a comunicação entre os povos e estabelecer uma
ponta entre duas culturas: seria a segunda língua de cada povo. A ideia foi tão bem aceite
que a língua, que, no início, não tinha nome, rapidamente passou a ser conhecida pelo
pseudónimo do seu criador, Esperanto – aquele que tem esperança, em Esperanto. Após
1995, com a disseminação da Internet, o movimento esperantista ganhou uma nova força
propulsora, com mais artigos escritos do que os de muitas línguas étnicas.

1. Zamenhof sonhou criar uma só língua para toda a população mundial. Redige
um texto, entre 50 a 70 palavras, em que apresentes a tua opinião sobre as
vantagens e as desvantagens de uma língua única.

ORALIDADE

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1. Prepara uma breve exposição oral em que apresentes à turma a opinião que
registaste no texto que criaste no exercício anterior.

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