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Uma das mais importantes fontes de divisão na escrita histórica do Renascimento foi sobre a
questão de saber se a história era uma ciência ou uma arte. Por um lado, seguindo modelos
antigos de escrita histórica, escritores históricos da Renascença, como seus antecessores
clássicos, tratavam a história como uma arte ou um ramo da retórica e da literatura. Assim,
seu objetivo principal era oferecer uma narrativa literária coerente que pudesse servir como
fonte de lições políticas para o presente, tornando questões de estilo e forma mais
importantes para eles do que a erudição e a pesquisa.
Ironicamente, então, o próprio traço que viria a distinguir a história como disciplina - a análise
crítica de fontes primárias - tinha raízes em áreas fora da história.
Como parte de seu desejo de estabelecer o status da história como ciência, os estudiosos da
Renascença não apenas adotaram novos métodos de estudo histórico, mas tornaram-se cada
vez mais autoconscientes sobre a necessidade de articular um método que tornasse o estudo
da história mais uniforme e sistemático. . Consequentemente, um gênero literário conhecido
como ars historica - significando a arte da história - entrou em cena entre o final do século XV
e início do XVII. [...] Assim, muitos dos autores associados a este gênero dedicaram atenção
extensiva a comentários e críticas a historiadores anteriores, a fim de demonstrar como avaliar
a confiabilidade de diferentes fontes e reunir relatos conflitantes sobre o mesmo assunto.
Dessa maneira, a ars historica estabeleceu a base para os métodos críticos de análise que mais
tarde viriam a definir a história como uma disciplina.
O jurista e historiador francês Jean Bodin (1530 a 1596) – [foi] um dos contribuintes mais
influentes para a ars historica [...] sua publicação "Método para a Fácil Compreensão da
História" em 1566 trouxe-lhe renome internacional.
“Assim sendo, na Grécia antiga a História se ocupava em “extrair” do passado alguma lição
moral isolada, particularizada, culpo que levou Aristóteles a torcer o nariz para este campo
do saber” [...] ”Mesmo na época do Renascimento e, inclusive depois, a História
desempenhou papel bastante secundário no elenco das disciplinas universitárias. A primeira
cátedra de que se tem notícia foi criada em Mayence, Alemanha, no ano de 1504. Depois
disso, outras cadeiras de História foram também criadas na Europa. Mas sempre como
iniciativas isoladas, até os finais do século XVIII. Entre os homens que brilharam como
historiadores nos séculos que se estendem do humanismo até o romantismo figuraram
muito poucos formados nas escolas, reitera Huizinga” [...] “os finais do século XVIII era uma
Babel de opiniões que, se possuía objetos históricos em comum, nada tinha que unificasse as
formas de abordagem sobre tais objetos. Ao que parece, soa mesmo anacrônico falar em
História da Historiografia para séculos anteriores ao XIX, o que não é verdade quando se fala
em historiadores da Idade Média, do Renascimento, dos séculos XVII e XVIII.” [...] “Alta
Idade Média (séculos IV/X), Baixa Idade Média (séculos XI/XV) e Época Moderna (séculos
XVI/ XVIII)” [...] “Durante a Idade Média, a História era assunto para teólogos, moralistas e
clérigos. Ela não fazia parte de uma cultura leiga. Um balanço do período poderia ser assim
descrito: os gêneros anteriormente definidos eram indiferentes à historicidade dos eventos
que narravam. Tudo era igual a tudo nesses antigos textos medievais; não havia a menor
ideia de diferença dos valores culturais das sociedades no tempo. Os diversos gêneros de
História eram “enciclopédias do fantástico” — como dizia Voltaire das histórias lendárias —
sem a preocupação de distinguir as especificidades dos tempos históricos.” [...] “Roger
Chartier acrescenta que, de modo geral, as Histórias da França do século XVII correspondiam
ao programa monárquico, mesmo que não tivessem sido encomendadas ou patrocinadas
pelo Estado. Por isso, elas se conformavam às exigências do poder soberano. Dessa forma, a
História produzida ao longo do século XVII — por historiógrafos a soldo régio e pelos demais
homens de letras, muitos deles pensionistas da monarquia —, acabou por se transformar
num eficiente instrumento de propaganda do Estado monárquico”
“O positivismo, uma criança tardia do Iluminismo do século XVIII, teria conquistado nossa
admiração no século XIX. Sua principal contribuição para a história foi a introdução de
conceitos, métodos e modelos das ciências naturais para a investigação social e a aplicação
de tais descobertas nas ciências naturais como pareciam adequadas à história. [porem...] A
fraqueza do positivismo (ou Positivismo) era que, apesar da convicção de Comte de que a
sociologia era a mais avançada área das ciências, tinha pouco a dizer sobre os fenômenos
que caracterizam a sociedade humana, distintos daqueles que poderiam derivar diretamente
da influência de fatores não sociais, ou modelados nas ciências naturais. Que pontos de vista
ele tinha sobre o caráter humano da história eram especulativos, se não metafísicos” [...]
“uma característica essencial do pensamento histórico de Marx é que não é nem
"sociológico" nem "econômico", mas ambos simultaneamente. As relações sociais de
produção e reprodução (isto é, organização social em seu sentido mais amplo) e as forças
materiais de produção não podem ser divorciadas.” [...] “De fato, uma das características
mais marcantes da historiografia marxista ocidental contemporânea é a crítica dos
esquemas simples e mecânicos de um tipo econômico-determinista. No entanto,
independentemente de os historiadores marxistas terem avançado substancialmente para
além de Marx, a sua contribuição hoje tem uma nova importância, devido à mudanças que
estão ocorrendo atualmente nas ciências sociais. Enquanto a principal função do
materialismo histórico no primeiro meio século após a morte de Engels era aproximar a
história das ciências sociais, evitando as simplificações excessivas do positivismo, hoje
enfrenta a rápida historização das próprias ciências sociais. [...] “Aqui o valor do
materialismo histórico de Marx é grande, embora seja natural que os cientistas sociais de
mentalidade histórica se sintam menos necessitados da insistência de Marx na importância
dos elementos econômicos e sociais na história do que os historiadores dos primeiros
tempos do século 20; e, inversamente, podem se sentir mais estimulados por aspectos da
teoria de Marx que não causaram grande impacto nos historiadores das gerações
imediatamente pós-marxistas.”