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CAPÍTULO 9

DISCIPULADO POR AMIZADE

Quando uma pessoa aceita o Senhor, ela é imediatamente colocada em uma situação de
tensão. De um lado está sua nova fé cristã e de outro lado está sua antiga religião, família e
comunidade. Normalmente o convertido vem a Cristo através do testemunho e ensino de
outro crente, e à medida que ele cresce no Senhor, a tensão aumenta. Com quem o
convertido deveria se relacionar? Como um convertido de uma religião como o Islamismo
ou o Budismo pode conciliar sua nova fé com a família e a comunidade na qual ele vive?

Tragicamente, muitos convertidos decidem que eles não podem conciliar os dois. A solução
óbvia e rápida para essa questão é desenvolver dois lados. Com um lado, eles recebem o
cristianismo, reúnem-se com outros cristãos, oram, leem a Bíblia e fazem estudos em
grupo. É aí que está seu coração. Com o outro lado, eles vivem e se relacionam com sua
família e comunidade. Eles têm mães, irmãos, irmãs e talvez cônjuges e filhos. Aí também
está o seu coração, e assim a tensão se forma. Logo uma de cinco coisas acontecerá.

Primeiro, o convertido pode abandonar sua nova fé e voltar ao que é conhecido para ele.
Isso pode acontecer por causa de perseguição ou pressão, mas muitas vezes acontece
porque ele acha que não pode viver numa situação de dois lados. Enquanto ele tiver dois
lados, sempre haverá a forte tentação de abandonar o lado cristão e voltar para o antigo.

Segundo, o convertido pode escolher se identificar totalmente com o lado cristão e rejeitar
seu antigo lado. Isso foi muitas vezes encorajado pelos missionários no passado, então os
convertidos mudavam de nome e se identificavam totalmente com a comunidade cristã.
Nos casos mais extremos, estes convertidos emigravam para o ocidente ou para outro país
onde eles pudessem abandonar seu antigo lado e viver somente com seu lado cristão.

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Ao fazer isso, eles sacrificavam o relacionamento com sua família e comunidade e sua
capacidade de testemunhar para eles. Em anos recentes, alguns destes convertidos
começaram a restabelecer o contato com sua família e comunidade, mas na maioria dos
casos é um caminho difícil de trilhar e se passa um bom tempo antes de serem aceitos
novamente.

Uma terceira possibilidade é que o novo convertido se torne um crente secreto, enquanto
mantém exteriormente seu estilo de vida anterior. Crentes secretos muitas vezes estão
cheios de medo de serem descobertos. Um homem que conheci vivia em constante medo
de seu filho adolescente, que voltava da escola cheio de raiva e amargura contra cristãos e
judeus, a quem ele considerava ser a fonte dos problemas do mundo.

Outros convertidos ficam tão perturbados com os dois lados que eles acabam se tornando
mentalmente instáveis. Sei de um homem desses que mora em minha cidade. Ele passeia
pelas ruas com roupas ridículas, visto por todos como louco. Em outro caso, sei de um
árabe convertido que alega que ele não é árabe, mas sim um ocidental. Ele se chama por
outro nome, se recusa a reconhecer sua família e alega ser um cidadão de um país
ocidental. Sua condição mental se deteriorou lentamente ao longo dos anos.

A quinta possibilidade é que, através da obra do Espírito Santo, e muitas vezes com a ajuda
de um discipulador sábio, o convertido possa aprender a unir os dois lados, descobrindo a
liberdade em Cristo. Ele já não se esconde mais por trás de dois lados, mas agora vive
apenas um lado, vivendo livremente como um seguidor de Jesus em meio à sua família.
Creio que isso deveria ser o maior e principal alvo de um discipulador.

O que vem a seguir é o que acho serem as cinco áreas de maior interesse da pessoa que
está tentando discipular um novo convertido de uma religião principal como o Islamismo, o
Hinduísmo ou o Budismo:

• Manter o convertido vivo


• Unir os dois lados
• Encorajar o crescimento espiritual
• Levá-lo a "revelar-se" como um seguidor de Jesus
• Integrar-se em uma comunidade

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Juntei recomendações de vários evangelistas sobre estas preocupações e as inclui no
material abaixo.

Reconhecendo os dois lados

É importante reconhecer que, no começo, quase todos os convertidos desenvolverão dois


lados. Isso é normal e, inicialmente, pode ser vantajoso. Em casa, e em sua comunidade,
eles continuam sendo quem eles sempre foram. Eles frequentemente têm medo de trair
seu grupo familiar, assim eles continuam a retratar seu lado original. Se forem
muçulmanos, eles talvez continuem a orar cinco vezes ao dia, e em alguns casos, até
mesmo participam da Peregrinação. Como quer que eles ajam em relação a suas famílias,
eles normalmente o fazem por pressão e não por escolha.

Uma vez que eles também estão buscando ou já encontraram a Cristo, eles desenvolvem
um segundo lado. Esse é aquele com o qual o professor religioso e outros cristãos estão
mais familiarizados. Quando eles estiverem com seus amigos cristãos, estes convertidos se
abrirão um pouco e farão perguntas, buscarão, discutirão e orarão.

Muitos obreiros cristãos são encorajados quando veem a pessoa que está à procura ou o
novo convertido crescendo na fé, aprendendo a Bíblia e desenvolvendo alguma maturidade
espiritual. E então, de repente, ele se foi, ou dramaticamente começa a diminuir o avanço e
logo para de buscar ou crescer. O obreiro cristão pode se perguntar o que aconteceu.
Embora eu não possa falar de todas as situações, a maioria dos evangelistas bem-sucedidos
enfatizou que unir os dois lados dos convertidos com sucesso é o primeiro passo para trazer
o novo convertido à maturidade em Cristo.

A maneira mais eficaz de fazer isso é o discipulador se tornar intimamente familiarizado


com ambos os lados. Isso naturalmente exige muito trabalho e tempo.

O discipulado não pode ser equiparado com a expectativa de se encontrar com alguém uma
ou duas noites por semana. O discipulador precisa se comprometer a passar muitas horas
com o novo convertido, visitando sua família e demonstrando a ele que a vida cristã é
honrosa, mesmo

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em outros contextos religiosos. Esse tipo de "discipulado por amizade" exigirá conhecer os
membros da família, familiarizar-se com seus contextos e compreender as pressões e as
bênçãos que eles trazem para a vida do convertido. Ainda mais importante do que isso é
que o discipulador não pode permitir que o convertido viva uma vida dupla para sempre.
Quando inconsistências e mentiras se tornam aparentes, o discipulador precisa reconhecê-
las, expô-las e lidar com elas. É muito importante que o novo convertido venha a se dar
conta de que a força da fé cristã está enraizada na verdade. Jesus é o caminho, a verdade e
a vida, e esse conhecimento precisa ser exercitado na cultura alvo, onde mentiras muitas
vezes são usadas como um método aceitável de mascarar a realidade.

Mantendo um convertido vivo

Em algumas situações, um novo convertido será tentado a correr para casa e contar ao seu
grupo sobre o que encontrou. Em sua imaturidade espiritual e zelo, ele pode até mesmo
atacar sua antiga religião e rapidamente invocar a ira do grupo familiar. Algumas vezes,
convertidos impetuosos são expulsos do grupo; algumas vezes eles são mortos. É
imperativo que você, o mensageiro, faça tudo o que puder para guiar o novo convertido
nos primeiros dias de sua nova caminhada com Cristo.

A maioria dos evangelistas encoraja o novo convertido a tentar não chamar a atenção por
algum tempo, pelo menos até que estejam prontos a "se revelar". O professor então
concentra o processo de discipulado na preparação do convertido para se revelar como
cristão, não de maneira desonrosa ou desrespeitosa, mas de uma maneira corajosa,
honrosa e respeitosa, tanto em relação à família quanto em relação a Deus. Afinal de
contas, seguir a Cristo não é algo desonroso.

Encontrando o outro lado

A chave para unir os dois lados é conhecer o segundo lado do convertido. Você deve
presumir que existe outro lado e então começar a visitar o convertido em seu lar,
observando-o em seu ambiente natural, a fim de compreender

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os principais relacionamentos familiares e de grupo. Existem cinco alvos nessa fase:

01. Compreender como o novo convertido se relacionava com o grupo familiar no passado.

02. Reconhecer aqueles que vão se opor ao novo convertido e torná-los um motivo de
oração intensa.

03. Reconhecer fraquezas e comportamentos pecaminosos do grupo, para que possam ser
tratados nas reuniões de discipulado. Não generalize, mas seja muito específico com o
convertido nessa área.

04. Reconheça as fraquezas e os comportamentos pecaminosos do próprio novo


convertido. Eles também terão que ser tratados nas reuniões de discipulado.

05. Sutilmente, mas claramente, ajude o novo convertido a compreender que ele não pode
viver uma vida dupla. Prometa, e lhe dê todo o apoio que ele necessita para colocar em
prática sua nova fé em seus antigos ambientes.

Unindo os dois lados

É necessário muito tempo para ajudar o novo crente a lidar com o reconhecimento e
compreensão dos dois lados. Uma vez que o novo crente souber que você o compreende
em seu contexto familiar, torna-se bem mais fácil identificar e lidar com questões que
surgem em sua vida. No passado, o convertido relacionava todos os seus problemas com
seu grupo familiar e adquiria deles a sabedoria que precisava a fim de tomar decisões
sábias. Agora que ele tem um novo professor e uma nova comunidade cristã, ele precisa
começar a adquirir sabedoria deles também.

Quanto antes o discipulador começar a conhecer o outro lado, mais fácil o processo de
discipulado será ao longo prazo. Caso o professor comece esse processo mesmo antes que
a pessoa à procura faça um compromisso total de fé, essa pessoa não se sentirá culpada ou
terá vergonha de sua origem religiosa e de seu grupo. Caso o professor demore muito, o
novo convertido pode sentir medo de ser rejeitado pela comunidade de crentes, porque ela
somente o conhece como alguém à procura.

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Esse processo é importante e exige bastante esforço, especialmente se o professor e outros
contatos cristãos não conhecerem o novo convertido há um bom tempo. O discipulador
terá que julgar quanto ensino o novo convertido teve antes de vir a Cristo. Assim, ele
saberá quanto tempo será necessário para o processo de discipulado. Não se deixe
desencorajar; a maioria de nós levou anos antes de se tornar capaz de discipular outros
com sucesso.

Discipulado por amizade

A maioria dos evangelistas bem-sucedidos concorda que não é sábio investir todos os seus
esforços evangelísticos em pessoas que não estão interessadas. Um bom tempo e energia
podem ser gastos construindo amizades e pontes que talvez nunca levem a lugar algum.
Contudo, estes evangelistas insistem que uma vez que alguém venha a Cristo, essa pessoa
agora exige um grande investimento de tempo e esforço. Isso muitas vezes significa algum
contato com o novo convertido todos os dias, e frequentemente por extensos períodos de
tempo. Existem três coisas a serem percebidas e que podem ser importantes para o novo
crente:

1. Ele precisa sentir que pertence e que se juntou a um novo grupo de amigos e de
estrutura de apoio.

2. Ele precisa de orientação espiritual diariamente. Ele não sabe como se alimentar. Um
assunto bom sobre o qual conversar é o que ele leu da Palavra de Deus naquele dia. Caso
ele não tenha lido nada, isso pode significar que ele não tem oportunidade de fazê-lo em
casa. Dê a ele tempo de ler por si mesmo e então discuta sobre o que ele leu.

3. Ele pode querer discutir questões não espirituais. Esse é um passo importante em sua
vida, à medida que ele aprende a relacionar tudo em sua vida a Cristo e à comunidade de
crentes. Você terá que separar tempo para isso também.

Crescimento Espiritual

A dinâmica na área de crescimento espiritual pode ser mantida começando uma série de
estudos bíblicos desenvolvidos para ajudar o novo discípulo

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a crescer. A dificuldade em usar a maioria dos materiais de cursos produzidos no ocidente é
que eles presumem certo nível básico de conhecimento cristão.

Ao desenvolver seu próprio material de discipulado, certifique-se de que você abranja


assuntos fundamentais. Considere abordar assuntos como: Quem é Deus; As diferentes
pessoas da Trindade; Autoridade bíblica substituindo o medo; Características do crente;
Vida e dons do corpo; Fé; Louvor; O crente e o sofrimento; O reino de Cristo; Batismo; o
custo do discipulado.

“Revelando-se” e tomando uma posição

É possível para um novo convertido ser reconhecido por sua família e comunidade como
um seguidor de Jesus e ainda assim ser aceito na comunidade? Cada um dos evangelistas
com os quais conversei, acreditava que é possível. Contudo, uma série de coisas é
necessária para que isso ocorra.

No início, o novo crente perderá um pouco de credibilidade na comunidade. Sempre


existirão aquelas pessoas que permanecerão desconfiadas. Contudo, caso a comunidade
seja preparada apropriadamente, e os novos crentes viverem vidas santas e piedosas,
então a maioria dos membros da família pode ser encorajada a aceitar as mudanças em sua
vida como positivas e não negativas.

Toda a questão do "revelar-se" pode ser muito assustadora para o novo convertido e até
mesmo para o discipulador. Muita oração e preparação são necessárias no processo. A
sensibilidade precisa ser exercitada a fim de que o novo discípulo possa perceber
oportunidades dadas por Deus que permitam a ele abrir-se um pouco e compartilhar com
sua família.

Um jovem muçulmano que conheço, a quem chamaremos de Ahmed, estava sendo


discipulado por um crente ocidental que chamaremos de Charles. Todos os dias ou a cada
dois dias, Ahmed se encontrava com Charles para o Estudo Bíblico. Nos intervalos desses
dias, eles muitas vezes se encontravam para tomar café ou Ahmed ia até a casa de Charles
para visitá-lo. Charles separava em páginas um pequeno Novo Testamento a fim de que
Ahmed pudesse levar para casa uma ou duas páginas em seu

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bolso da camisa a cada dia. Quando ele tinha tempo, Ahmed secretamente lia as páginas,
frequentemente estudando-as repetidamente.

Um dia a mãe de Ahmed estava lavando roupa e pediu que Ahmed desse sua camisa. Sem
pensar, Ahmed entregou a camisa à sua mãe e foi ao quarto pegar outra. Quando ele
retornou, encontrou sua mãe lendo as páginas que estavam em seu bolso. Ahmed ficou
horrorizado, aterrorizado com a possibilidade de ser descoberto. Ele rapidamente tirou as
páginas das mãos de sua mãe. Quando sua mãe perguntou o que eram, ele disse que não
eram nada e saiu de casa. Pouco tempo depois, um Ahmed trêmulo relatou a história a
Charles.

Quando ele terminou, Charles se sentou e olhou para ele. Então, calmamente Charles disse:
"Então, é assim mesmo. É nada?" Ahmed ficou atordoado. Não era essa a impressão que
ele queria dar ao relatar a história. Charles continuou: "Depois de todo esse tempo juntos,
depois de tudo que você disse e fez... isso tudo é nada?"

"Não!" Ahmed protestou. "Isso tudo não é 'nada'. Eu conheci Jesus. Ele mudou minha vida.
Antes disso minha vida era vazia. Deus estava muito distante. Mas agora ele tocou minha
vida, ele me transformou e eu sou Seu seguidor. Não é 'nada'".

Charles sorriu. "Ahmed, isso é maravilhoso. Você acabou de dar o seu testemunho. Você
acha que poderia repetir isso para sua família?" Juntos, eles consultaram a Palavra de Deus,
estudando o que significava falar sobre sua fé e não se envergonhar do evangelho de Cristo.

No dia seguinte, o irmão mais velho de Ahmed veio falar com ele. Ele explicou que seu pai o
havia enviado para descobrir o que eram os papéis que sua mãe havia encontrado. Ahmed
fez uma pausa e reuniu suas forças, sabendo que Charles estava orando por ele (a mais
importante obra que o discipulador pode fazer pelo novo crente). Então ele compartilhou
seu testemunho com seu irmão. Seu irmão escutou, e então disse: "Eu conversarei sobre
isso com nosso pai".

Alguns dias depois, o irmão de Ahmed o abordou novamente. "Conversei sobre isso com
nosso pai", ele disse, "e nós concordamos que

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durante os últimos meses temos visto uma transformação real em sua vida. Você
realmente está diferente, melhor do que antes. Nós decidimos permitir que você continue
a ler os escritos do profeta Isa".

Naquela noite, quando Ahmed se encontrou com Charles, ele estava surpreso e cheio de
alegria e gratidão. Ele deu seu primeiro passo para revelar-se. O caminho não seria fácil,
mas agora que ele havia começado a trilhá-lo, ele estava empolgado e se sentia encorajado.
Talvez, algum dia, ele poderia ser livre para amar Jesus abertamente em sua própria
comunidade, e não somente ele, mas também outros com ele.

Quando fizer "discipulado por amizade", é importante que o discipulador chegue a


conhecer a família. Ter o respeito da família pode ajudar. Certamente é melhor do que a
família descobrir que um de seus membros está seguindo e dando ouvidos a alguém
totalmente estranho. Envolvendo-se logo de início, o discipulador pode dar assistência ao
novo crente em sua experiência de revelar-se. Por exemplo, durante os primeiros meses de
sua nova caminhada com Deus, o novo crente deve se tornar um exemplo para a família.
Depois disso, ele poderá querer abordar o mais compreensivo ancião da família
(possivelmente um tio ou uma tia), e explicar que ele tem um problema tentando agradar a
Deus. Ele então poderá compartilhar parte de sua experiência, sendo cuidadoso em não
ofender ou alarmar a família. Ele deve enfatizar que não quer ferir ou desonrar sua família,
mas quer seguir a Deus de todo seu coração. O discipulador (e sua comunidade) deve
instruir o novo crente no que ele irá dizer, e cobri-lo com oração durante esse tempo.
Geralmente, o ancião da família irá tentar persuadi-lo a abandonar sua nova fé, mas se ele
ou ela se convencer de que o convertido é íntegro, sincero e honroso, aquele ancião da
família poderá vir a exercer o papel de mediador com o resto da família. O fato de o novo
crente ter buscado uma maneira de preservar a honra da família será um ponto muito
favorável.

Lidando com o Processo de Discipulado

O discipulado tem duas partes. De um lado, há o crescimento em conhecimento intelectual


acerca da nova fé. Do outro lado, há uma mudança nas ações, estilo de vida e atitudes. No
ocidente, muitos obreiros cristãos

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veem o discipulado como sendo o acúmulo de conhecimento teórico, mas, na realidade, o
discipulado tem a ver com o que você faz e por que você o faz. Jesus raramente ensinou em
termos doutrinários. O discipulado é uma forma de aprendizado. Isso é o que Jesus fez com
seus discípulos. O discipulador precisa comunicar claramente ao novo crente que o que o
novo discípulo faz é mais importante do que o que ele diz.

O discipulador precisa considerar quais as mudanças ele espera ver na vida diária e semanal
do novo crente como resultado de sua fé em Cristo. Ele deve, então, considerar quais
destas mudanças envolvem um claro mandato bíblico e o que se deve ser feito com relação
aos outros. É necessário ter cautela para assegurar que estas questões sejam realmente
questões bíblicas e não simplesmente perspectivas culturais. Muitas vezes é bom checar
estas ideias com outros obreiros cristãos a fim de se obter uma melhor ideia do que é
necessário. Trabalhar em equipes multinacionais e multidenominacionais nos ajuda, uma
vez que você obterá uma perspectiva bem mais ampla.

Alguns obreiros com os quais conversei descobriram que uma abordagem catequética no
discipulado parece funcionar bem. O novo crente claramente compreende o ensino e reage
bem às perguntas e respostas e pode memorizar um catecismo completo, dada a
oportunidade. Contudo, o professor precisa ter certeza de que o crente compreende
claramente ao que o ensino se refere e por que ele crê nele, visto que suas crenças
religiosas anteriores eram simplesmente para serem aceitas e talvez não entendidas.

Além dos elementos básicos da fé, precisamos ser cuidadosos na interpretação das
Escrituras. Mesmo que digamos que a Palavra é nossa regra de fé e conduta, nós temos
dificuldade em saber quais partes dela devemos ler de forma literal e quais partes de forma
figurada, quais partes são mandamentos e quais partes tratam mais de atitudes do coração.
Por que esperamos mais de novos crentes?

Além disso, precisamos ser muito cuidadosos nesse ponto em permitir que novos crentes
compreendam as Escrituras no contexto de seu próprio pano de fundo e relacioná-las à sua
própria cultura do seu jeito.

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Muito de nossa compreensão das Escrituras é ditada por nossa própria cultura. É
irresponsável colocar sobre alguém nossa bagagem cultural. Todos os convertidos que virão
depois estarão amarrados por isso.

Dê uma nova olhada para a Bíblia e descubra a tremenda liberdade que há em Cristo de
adorá-lo de muitas maneiras. A forma que nosso estudo e nossa adoração tomam é menos
importante do que o fato de a adoração e o Estudo Bíblico realmente acontecem. Em suas
várias cartas, Paulo demonstrou que o evangelho deveria ser praticado em cada
comunidade específica. Essa prática, contudo, precisa ser realizada com grande cuidado
(temor e tremor).

Muitos dos evangelistas com os quais conversei descobriram que tentar trazer novos
convertidos para um estudo bíblico tem tanta probabilidade de falhar quanto tentar levar
muçulmanos a lerem seu Corão. Normalmente isso não acontece. Não tenho certeza
quanto a outras culturas, mas no geral, os muçulmanos não são uma sociedade voltada à
leitura. Embora o Corão seja para suprir as crenças e regulamentações doutrinárias, a
maioria dos muçulmanos confia na umma (decisões dos anciãos da comunidade) para sua
direção.

Numa situação dessas, o discipulador pode precisar ajudar novos crentes a encontrarem
métodos de aprendizagem baseadas na interação em grupo (Isso é tratado na terceira
seção desse livro). Ao mesmo tempo, ele ainda precisa enfatizar a necessidade da cada
crente gastar tempo em comunhão com Deus através da leitura da Palavra em oração.

Um Lugar de Refugio

Quando pensamos na leitura das Escrituras, normalmente pensamos em encontrar um


lugar solitário em nossa casa onde possamos ler. Quando um muçulmano pensa na leitura
do Corão, ele muitas vezes pensa em ir à mesquita para ler, meditar e escutar os outros.

É importante para todo discipulador visitar a mesquita ou o templo local para observar o
que está acontecendo ali durante o dia. Na mesquita, acontece mais do que oração e
momentos de pregação. Mesquitas e templos normalmente ficam abertos, dia e noite, e os
fiéis sempre podem

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encontrar um lugar para ler e meditar. Alguns desses locais têm salas de estudo ou escolas
anexas. Amigos muitas vezes se encontram do lado de fora e se alguém está em viagem e
não tem um lugar para dormir, o muçulmano pode sempre dormir na mesquita.

Quando ele aceita Cristo, o novo crente fica isolado da mesquita ou do templo. Como
resultado, ele precisa de um lugar onde possa ler, meditar e estar calmamente com outros
crentes. Infelizmente, igrejas muitas vezes são apenas locais de encontro que normalmente
ficam trancados quando não há reuniões e por isso não oferecem uma alternativa à
mesquita.

O lar do discipulador pode ser o único lugar de refúgio com uma atmosfera espiritual cristã
que ele conhece. Assim sendo, é muito comum para um novo crente querer ir à casa de seu
professor para ler, meditar e participar de discussões com outros. A medida que mais e
mais pessoas vão a Cristo, um local de refúgio comum deve ser estabelecido.

Em uma ocasião, dois jovens cristãos que eu conhecia conduziram um muçulmano a Cristo.
No dia após sua conversão, Muhammad apareceu na casa deles. Ele ficou lá por horas. Ele
voltou no próximo dia e em todos os dias da semana seguinte. Preocupados, os dois jovens
falaram comigo. Eu os encorajei a deixá-lo vir, pois ele precisava de um lugar para ir. "Vocês
não precisam entretê-lo. Vocês precisam providenciar para ele um lugar onde ele possa ler
e meditar. Pode ser que ele simplesmente curta ficar perto de vocês, em um lugar onde não
há conversa chula e a discussão contínua sobre mulheres e dinheiro".

Inicialmente, eles se sentiam mal, já que Muhammad ia regularmente à casa deles, ficando
muitas vezes durante horas. Frequentemente ele passava uma hora ou duas lendo, fazendo
perguntas e então lia novamente. Ele gostava muito das visitas que outros faziam à casa. As
semanas se passaram e estes dois jovens lhe deram tanta atenção quanto podiam,
oferecendo-lhe, ao mesmo tempo, um espaço em seu lar.

Algumas semanas depois, Muhammad trouxe seu primeiro convertido. Ele não queria que
os rapazes fizessem nada, exceto permitir ao jovem ler, meditar e fazer perguntas quando
ele tivesse alguma. Nas semanas que se

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seguiram, Muhammad levou mais e mais amigos e conhecidos a Cristo e à quieta solidão do
lar destes rapazes.

Estudo Pessoal

Qualquer um que chega a Cristo precisa descobrir uma maneira pessoal de orar e louvar
que não seja estranho a ele, juntamente com uma maneira e um local de encontro com
Deus através da Palavra. Aqui estão algumas atividades que podem ser úteis:

• Depois de ler uma série de versículos, pergunte-lhe se ele pode identificar um provérbio
ou dito que expresse o mesmo pensamento. Caso ele não saiba ler, você terá que ler para
ele, devagar, várias vezes.
• Peça-lhe que memorize um versículo chave a cada visita.
• Depois de um tempo, peça-lhe para memorizar e contar histórias bíblicas,
• Peça-lhe para elaborar uma oração baseada na lição. Pode ser somente uma sentença ou
duas de cada seção, mas isso significa que ele tem algo a oferecer a Deus, e também serve
como um lembrete do que ele aprendeu.
• O novo crente também precisa de um local para comunhão, onde ele possa ser
encorajado, um local para encontrar e compreender a vontade de Deus, e uma maneira de
relacionar sua nova fé com sua comunidade de tal maneira que ele, no futuro, venha a ser
livre para ser ele mesmo, tanto em sua caminhada com Jesus quanto em sua comunidade.

Perguntas para Reflexão e Discussão

01. Os novos crentes são colocados em uma situação de tensão em sua comunidade? Você
conhece pessoas que fizeram o seguinte: Abandonaram sua nova fé, se tornaram como
cristãos estrangeiros, se tornaram crentes secretos, viveram uma vida instável, indo de um
lado para o outro?

02. É importante aconselhar novos convertidos a fim de mantê-los vivos durante suas
primeiras semanas após a conversão? O que você diria a eles?

03. Você reconheceu a "síndrome dos dois lados" entre os novos crentes em seu contexto
cultural? O que você acha disso?

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04. Pense em um novo crente que você gostaria de ajudar. De quais maneiras você poderia
se empenhar para compreender como esse novo crente se relacionou com seu grupo
familiar no passado?

05. Quem você acha que pode se opor ao novo crente?

06. Existem pecados ou hábitos específicos que o novo crente terá de tratar? Quanto disso
foi aprendido com sua cultura, família, seu grupo ou sua antiga religião?

07. O que você pode fazer para ajudar a unir os dois lados do novo crente?

08. Você tem um plano para ajudar o novo crente a crescer espiritualmente? Quais
assuntos ou qual material você planeja abordar ou usar?

09. Você tem um bom local de encontro no qual dois ou três de vocês possam estudar as
Escrituras juntos durante a semana? Onde fica esse local?

10. Qual a frequência dos encontros? Esse é um tempo adequado? Existe uma maneira de
haver encontros mais frequentes?

11. Os novos crentes têm lugares de refugio aonde eles possam ir se quiserem estudar a
Bíblia, escutar pregações gravadas e passar tempo com Deus ou em comunhão com outros?
Quão acessível esse lugar é para eles?

12. Leia Atos 12.8-14. Pedro tinha um lugar para ir quando foi liberto da prisão? De quem
era a casa? A que horas ele chegou? Esse era um lugar de refugio?

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