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Resumo
* Fonoaudióloga. Aperfeiçoamento em Fonoaudiologia e Cirurgia Ortognática pela Universidade do Sagrado Coração, Bauru/SP.
Especializanda em Audiologia Clínica e Saúde do Trabalhador pelo CEFAC.
** Fonoaudióloga. Aperfeiçoamento em Fonoaudiologia e Cirurgia Ortognática pela Universidade do Sagrado Coração, Bauru/SP.
Mestranda em Odontologia em Saúde Coletiva pela Faculdade de Odontologia de Bauru/ Universidade de São Paulo, Bauru/SP.
*** Professor Assistente Mestre das Disciplinas de Cirurgia e Implantodontia da graduação e pós-graduação da Faculdade de Odon-
tologia da Universidade do Sagrado Coração, Bauru/ SP.
**** Fonoaudióloga da Clínica de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial da Universidade do Sagrado Coração, Bauru/SP. Professora Doutora do
Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru/ Universidade de São Paulo, Bauru/SP.
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Características das funções orais de indivíduos com má oclusão Classe III e diferentes tipos faciais
Fatores ambientais e/ou interferência em algum eversão do lábio inferior, lábio superior encurtado,
órgão do sistema estomatognático podem influen- postura habitual de lábios entreabertos, dificuldade
ciar no crescimento craniofacial, alterando sua di- de incisão dos alimentos com dentes anteriores1.
nâmica. As desarmonias estruturais, as quais podem De acordo com as tipologias faciais, Cabrera e
ser ósseas, dentárias e/ou de tecidos moles, influen- Enlow6 definiram por mesofacial o tipo de face em
ciam as condições funcionais, bem como a estéti- que os vetores de crescimento e desenvolvimen-
ca facial e os aspectos psico-sociais do indivíduo3. to facial apresentam-se em harmonia com a face,
Os indivíduos adultos portadores de desproporções crescendo e se desenvolvendo de modo equilibra-
maxilomandibulares possuem características mio- do para baixo e para frente. Já no dolicofacial exis-
funcionais orofaciais específicas, de acordo com o te o predomínio do crescimento vertical, ou seja,
tipo de desproporção que apresentam. Estas altera- há uma predominância dos vetores de crescimen-
ções funcionais são, na verdade, adaptações, consi- to e desenvolvimento da face no sentido inferior
derando-se cada padrão das bases ósseas4. do que no anterior. No braquifacial há um maior
As deformidades podem ocorrer em diferentes crescimento no sentido horizontal, onde o vetor
sentidos: vertical, transversal e horizontal. No que de crescimento e desenvolvimento facial é maior
se refere às deformidades horizontais, são comu- no sentido anterior que no inferior, caracterizado
mente encontradas as alterações no desenvolvi- pela musculatura forte contendo o vetor vertical.
mento da mandíbula e maxila, nas quais o maior Os indivíduos dolicofaciais ou dolicocefálicos
crescimento da primeira em relação à segunda apresentam esqueleto ósseo mais longo que as
resulta no prognatismo mandibular, onde há po- partes moles, maior tensão muscular na face, com
sicionamento oclusal do tipo Classe III, segundo a provável mordida aberta esquelética, nariz verti-
classificação de Angle8,20. calmente mais longo e com maior protusão, arco
De acordo com a literatura consultada, indi- maxilar e palato duro longos, estreitos e profun-
víduos com prognatismo ou Classe III de Angle dos, ângulo mandibular (goníaco) aberto e base
apresentam as seguintes características miofuncio- posterior do crânio mais curta. Os músculos da
nais: língua hipotônica e posicionada no assoalho mastigação estão em hipofunção, o lábio superior
da cavidade oral, mastigação com prevalência de encontra-se curto, hipotônico e funcionalmente
movimentos mandibulares verticalizados e utili- incompetente, o inferior hipotrófico e evertido,
zação do dorso da língua esmagando o alimento gerando déficit de vedamento labial com signifi-
contra o palato, bem como deglutição com inter- cativa distância interlabial, o músculo mentual
posição anterior de língua1,18,21. apresenta-se hipertônico na tentativa de auxiliar
Outras características podem ser observadas: o vedamento labial, a língua mais anteriorizada,
palato mole verticalizado, hipotonicidade do lábio com dorso alto e marcas laterais. Nas funções orais
inferior e hipertonia do músculo mentual, masti- de mastigação, deglutição e fala notam-se: inter-
gação com pouca ou nenhuma ação dos músculos posição de língua e participação da musculatura
bucinadores, fala com inversão labial para os fone- perioral, articulação prejudicada quanto ao ponto
mas bilabiais e fricativos, anteriorização de língua articulatório dos fonemas plosivos bilabiais (/p/,
na produção dos fonemas linguodentais, enquanto /b/ e /m/), linguoalveolares (/t/, /d/, /l/, /n/, /s/ e
os linguoalveolares e sibilantes são produzidos com /z/) e dorsais (/k/ e /g/), sendo que os fonemas fri-
a utilização da parte média da língua21, deglutição cativos são articulados com sigmatismo (repetição
com participação da musculatura perioral1,18 e mo- viciosa do /s/ e outras sibilantes15). A respiração é
vimentos associados de cabeça18, respiração oral ha- freqüentemente oral9,18,21.
bitual, disfunção temporomandibular, palato ogival, Uma vez que o fonoaudiólogo atua junto a
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76%
pacientes com deformidades dentofaciais, nos di- 20
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Características das funções orais de indivíduos com má oclusão Classe III e diferentes tipos faciais
Tabela 1 - Distribuição da ocorrência de respostas quanto Tabela 2 - Distribuição da ocorrência de respostas quanto
à postura habitual dos lábios de acordo com o tipo facial. à postura habitual da língua segundo o tipo facial.
Tipo facial Postura de lábios Total Tipo facial Postura de língua Total
Tabela 3 - Distribuição da ocorrência de respostas quanto Tabela 4 - Distribuição da ocorrência de respostas quanto
ao modo respiratório de acordo com o tipo facial. ao tipo de mastigação de acordo com o tipo facial.
Tipo facial Modo respiratório Total Tipo facial Tipo de mastigação Total
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que não houve diferença estatisticamente signifi- rência significantemente maior de anteriorização
cante entre os grupos, no que diz respeito à pre- de língua e ceceio durante a fala no grupo dolicoce-
sença de desvio mandibular (a). Porém, ao ana- fálico em relação à ausência dessas alterações (B).
lisar a ocorrência deste aspecto, para cada grupo Na tabela 8 pode-se observar que, tanto para
estudado, foi possível verificar que a ausência de a anteriorização de língua como para a presença
desvio mandibular foi predominante em relação de ceceio durante a fala em relação à presença de
à presença (B). interposição de língua durante a deglutição, não
Os resultados da tabela 7 demonstram que o foram encontradas diferenças estatisticamente sig-
grupo dolicocefálico apresentou maior ocorrência nificantes entre os grupos (a). Por outro lado, na
de anteriorização de língua durante a fala em re- presença de interposição de língua durante a de-
lação ao mesocefálico (b), enquanto que para o ce- glutição houve predomínio de ocorrência de ante-
ceio não houve diferença entre os grupos. Quando riorização de língua na fala e ceceio em relação à
comparados os grupos entre si constatou-se ocor- ausência dessas alterações (B).
Tabela 5 - Distribuição da ocorrência de respostas quanto à participação dos músculos (mm) periorais e interposição de língua
durante a deglutição de acordo com o tipo facial.
Tabela 6 - Distribuição da ocorrência de respostas quanto ao desvio mandibular durante a fala de acordo com o tipo facial.
Tabela 7 - Distribuição da ocorrência de respostas quanto à anteriorização de língua e ceceio durante a fala de acordo com o
tipo facial.
Teste de GOODMAN.
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Características das funções orais de indivíduos com má oclusão Classe III e diferentes tipos faciais
Tabela 8 - Distribuição da ocorrência de respostas quanto à anteriorização de língua e ceceio durante a fala de acordo com a
interposição de língua durante a deglutição.
Interposição de língua na
Anteriorização de língua na fala Ceceio
deglutição
Ausente Presente Ausente Presente
Mesocefálico 3 (33,33) a A 6 (66,67) a A 3 (33,33) a A 6 (66,67) a A
Teste de GOODMAN.
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em decorrência da posição da maxila em relação especialmente a face longa, pode ter contribuído
à mandíbula18. Uma das conseqüências dessa ca- para tal ocorrência5. Assim, pode-se considerar
racterística observada é a dificuldade na trituração que ambos os tipos de face estudados contribuem
de alimentos, que acarreta um déficit na eficiência para a ocorrência da participação da musculatura
mastigatória12. Além disso, a alteração do modo perioral.
respiratório nos dolicocefálicos pode ter contribu- A fala foi analisada quanto aos seguintes aspec-
ído para o comprometimento do padrão mastiga- tos: desvio mandibular, anteriorização de língua
tório29, assim como a presença de mordida cruza- e ceceio, relacionados ao tipo facial. Além disso,
da verificada em ambos os grupos estudados, pode analisou-se a relação entre interposição de língua
ter resultado em mastigação do lado cruzado18. durante a deglutição e anteriorização de língua e
No que se refere à função de deglutição, ve- ceceio durante a fala.
rificou-se ocorrência de interposição de língua No que diz respeito ao desvio mandibular
significantemente maior para o grupo de indiví- (Tab. 6) não houve diferença estatisticamente sig-
duos mesocefálicos (Tab. 5) em relação aos doli- nificante entre os grupos considerados. Verificou-
cocefálicos. Porém, ambos os grupos apresentaram se, ainda, predomínio de ausência deste aspecto,
predomínio desta característica durante a degluti- para cada grupo estudado. De acordo com a litera-
ção. A interposição de língua durante a deglutição tura, o desvio mandibular durante a fala pode ser
pode ser resultante da má oclusão Classe III4,16, da devido à presença de contatos prematuros, interfe-
presença de mordida aberta16, do tamanho des- rências oclusais2, respiração oral, mordida cruzada
proporcional da língua em relação à cavidade oral, lateral ou aberta anterior e a quadros de disfunção
da hipotensão da língua, da ocorrência de hábitos craniomandibular (DCM)22. Vale considerar que
orais deletérios, bem como da respiração oral ou todos esses aspectos poderiam estar presentes, de
oronasal7. De acordo com os achados deste estudo, modo isolado ou combinado, nos indivíduos des-
era esperado encontrar predomínio de interposi- se estudo, não sendo possível, nesta pesquisa, de-
ção de língua durante a deglutição nos dolicocefá- monstrar tal relação.
licos, uma vez que os mesmos apresentaram maior Outro aspecto investigado diz respeito à an-
ocorrência de respiração oral, assim como maior teriorização de língua durante a fala, com relação
porcentagem de mordida aberta. Assim, parece aos tipos faciais (Tab. 7). Verificou-se predomínio
que, para os indivíduos da amostra, a presença de desta alteração para o grupo de indivíduos dolico-
hábitos e as condições da musculatura da língua cefálicos, conforme achados anteriores24. É impor-
(não consideradas nesse estudo), bem como seu tante ressaltar que, neste estudo, os dolicocefáli-
posicionamento habitual, semelhante em ambos cos apresentaram maior porcentagem de mordida
os grupos, foram determinantes nesse aspecto. aberta, o que está relacionado às causas prováveis
Outra característica observada quanto à de- de anteriorização de língua durante a fala16,22, além
glutição diz respeito à participação exagerada da da relação molar Classe III3.
musculatura perioral para os indivíduos com má A investigação quanto à presença de ceceio
oclusão Classe III, que ocorreu de modo predomi- durante a fala não indicou diferença significante
nante, independentemente do tipo de face (Tab. entre os grupos estudados (Tab. 7). Os indivíduos
5). Esta característica de deglutição tem como com má oclusão Classe III, para compensar as al-
causa mais provável a hipotonicidade dos órgãos terações estruturais e funcionais que apresentam,
fonoarticulatórios e projeção de língua7, tendo podem manifestar alterações na articulação dos
sido observada maior ocorrência desta última no sons da fala26. No entanto, é importante considerar
grupo mesocefálico. Além disso, o padrão facial, que, no grupo de indivíduos dolicocefálicos, houve
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Características das funções orais de indivíduos com má oclusão Classe III e diferentes tipos faciais
Characteristics of the oral functions of individuals with Class III malocclusion and
different facial types
Abstract
Aim: the present study aims at investigating whether the facial pattern may cause any alterations in the performan-
ce of breathing, mastication, deglutition and speaking functions in individuals with Class III skeletal malocclusion.
Method: data from evaluation of 50 adult patients with Class III malocclusion were analyzed, of which 25 were
dolicocephalic and 15 mesocephalic. Aspects related with the habitual posture of the lips and tongue, breathing
manner, masticatory type, deglutition and speaking pattern were also considered. Results: the altered posture of
the lips was significantly higher for the dolicocephalic group, whereas the tongue posture on the floor of the mouth
was predominant in both groups considered. As for the breathing manner, it could be observed that the oral or
oro-nasal manner was significantly higher for the dolicocephalic group. The presence of tongue interposition in
deglutition showed itself related with the occurrence of fronting of the tongue in speech. Conclusions: the dolico-
cephalic type contributes towards the occurrence of alterations in the habitual lip posture as well as in the breathing
and speaking functions, while the mesocephalic type has influenced the deglutition characteristics in individuals
with class III skeletal malocclusion.
Key words: Malocclusion. Angle Class III. Respiration. Chewing. Deglutition. Speech.
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