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14ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos

COTEQ2017 - 243
CARACTERIZAÇÃO DE AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS ESTABILIZADOS
AO TITÂNIO COM DIFERENTES TEÔRES DE CARBONO POR MEIO DO ENSAIO
DE CORRENTES PARASITAS
J.F.V. Slezjf1, J.M. Pardal2, S.S.M. Tavares3, J.L.F. Martins4, R.O. Carneval5, G.R. Pereira6
V.M.A. Silva7

Copyright 2017, ABENDI, ABRACO, ABCM , IBP, PROMAI.


Trabalho apresentado durante a 14ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos.
As informações e opiniões contidas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do(s)
autor(es).

Sinopse

Os processos de conformação a frio são normalmente empregados nos aços inoxidáveis


austeníticos (AIA) em estágios finais da fabricação de fios, barras, placas e tubos de modo
atingir um ajuste preciso das dimensões da peça fabricada visando ainda uma melhora nos
valores das propriedades mecânicas. Neste processo pode ocorrer a transformação da fase
austenita para martensita em função da composição química do aço inoxidável.
Recentemente, a influência do teor de carbono na transformação martensítica de aços
inoxidáveis estabilizados ao titânio foi investigada por ensaios destrutivos mediante uso de
um Magnetômetro de Amostra Vibrante (Vibrating Sample Magnetometer - VSM). Com base
nessas informações, o ensaio não destrutivo de correntes parasitas mostra-se interessante na
determinação da quantidade de martensita que é influente nas propriedades mecânicas e na
resistência a corrosão. Os resultados, do emprego dessa técnica não destrutiva, mostraram-se
promissores na caracterização da transformação martensítica de aços inoxidáveis austeníticos
estabilizados ao titânio.

1 Graduando, Engenharia Mecânica – Universidade Federal Fluminense (UFF).


2 Doutor, Engenheiro Mecânico – Universidade Federal Fluminense (UFF).
3 Doutor, Engenheiro Metalúrgico – Universidade Federal Fluminense (UFF).
4 Doutor, Engenheiro Mecânico – Universidade Federal Fluminense (UFF).
5 Mestre, Engenheiro Metalúrgico – Petrobrás – Petróleo Brasileiro S.A.
6 Doutora, Engenheira Nuclear – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – LNDC –
Laboratório de Ensaios Não Destrutivos, Corrosão e Soldagem.
7 Doutorando, Engenheiro Metalúrgico – UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro –
LNDC – Laboratório de Ensaios Não Destrutivos, Corrosão e Soldagem.
Introdução

Os processos de deformação plástica a frio em aços inoxidáveis austeníticos (AIA) são


muito empregados nas etapas finais de fabricação como consequência de sua grande
ductilidade, assim como do elevado coeficiente de encruamento (n) que conduz ao
endurecimento por este mecanismo podendo-se obter ganhos expressivos na resistência
mecânica desta família de aços inoxidáveis (AI), sem levar ainda em consideração que os
mesmos comumente não endurecem por tratamento térmico. Exemplos de processos de
endurecimento por encruamento são a trefilação de tubos e arames, nos quais se ajustam ainda
as dimensões finais dos componentes assim trabalhados (1-2). No entanto, outras aplicações
onde são requeridas deformações plásticas, são observadas em AIA, como na fixação por
deformação de tubos em acessórios, em conexões especiais e flanges. A união por
mandrilagem de feixes tubulares a espelhos de trocadores de calor convencionais de casco e
tubo é outro exemplo de fixação por interferência muito empregada na indústria (3). Além
disso, o processo de hidroestiramento de vasos de pressão é uma metodologia adotada pela
ASME para beneficiar as propriedades mecânicas de determinadas designações de AIA,
tornando a construção e economia de peso do vaso competitiva com outros tipos de materiais
para serviços de criogenia (4-5). Por outro lado, determinados componentes de processo
construídos em AIA que operam em serviços cíclicos, tais como autoclaves e outros vasos de
pressão, podem experimentar deformações plásticas locais alterando as propriedades
mecânicas e resistência à corrosão nas referidas regiões.
Nos exemplos de processamento e operação supracitados pode ocorrer uma
transformação da austenita em martensita que dependerá da composição química da liga, do
nível de deformação verdadeira imposta, além da temperatura de arrefecimento do material,
dentre outros fatores (6-7). Portanto, nesta família de aços inoxidáveis diversas pesquisas
tiveram como intuito o estudo do efeito da transformação martensítica por deformação
plástica a frio, fundamentalmente nos aços AISI 201, 301, 304 e 316 (8-12). Entretanto, nos
AIA estabilizados ao Ti foi recentemente noticiada a significativa influência do teor de
carbono na transformação martensítica, onde baixos teores deste elemento de liga aceleram
consideravelmente esta transformação aumentando a sua temperatura de transformação (Ms)
próxima à da ambiente (6-7).
Assim, considera-se necessária a utilização de técnicas de caracterização não destrutivas,
de modo avaliar a transformação martensítica em aços inoxidáveis austeníticos visando tanto
o controle de qualidade de peças conformadas a frio assim como o monitoramento na
inspeção de componentes em serviço, que possam promover mudanças indesejáveis nas
propriedades mecânicas e na resistência à corrosão. Deste modo, o ensaio de correntes
parasitas surge como uma alternativa viável, pois é simples e rápido de ser executado no local,
através de uma calibração prévia e a posterior obtenção dos valores dos parâmetros amplitude
e ângulo de fase. Neste sentido, Khan et al. (13) observaram a queda do ângulo de fase nos
AIA AISI 304 e 321 em relação ao percentual de deformação a frio imposto. Liu et al.(14)
comprovaram que esta técnica é sensível à detecção prematura de danos por fadiga no AIA
AISI 321. Adicionalmente, Surkialiabad et al.(15) obtiveram resultados promissores na
aplicação desta técnica no AIA AISI 304 quando deformado a frio. Nesse trabalho, ainda
verificou-se uma distribuição uniforme da martensita ao longo da espessura do material em
virtude de que não houve variações significativas do sinal obtido quando aplicadas diferentes
frequências de excitação.
Materiais e Métodos

Amostras de aço inoxidável austenítico (AIA) estabilizado ao Ti, contendo baixo (BC),
médio (MC) e alto (AC) teor de carbono, foram retiradas na direção longitudinal de tubos
como recebidos, tal como observado na Figura 1. A composição química destes materiais é
detalhada na Tabela 1.

Figura 1: Amostras de tubos como recebidos: (a) BC, (b) MC e (c) AC.

Tabela 1: Composição química dos AIA estudados.

Percentagem em Peso do elemento (%)


Id
Cr Ni Mn Si Ti C S P Mo N
BC 17,1100 9,2200 0,8530 0,5220 0,1000 0,0148 0,0024 0,0320 0,0620 0,0140
MC 17,1600 9,0800 1,5000 0,4100 0,3800 0,0350 0,0090 0,0240 --- 0,0160
AC 17,5267 9,7933 1,6537 0,3033 0,4500 0,0642 0,0062 0,0280 0,3170 0,0084

Amostras com dimensões de 10,0 mm x 7,5 mm x 3,2 mm, foram confeccionadas para
avaliação da transformação martensítica por correntes parasitas (EC). Entretanto, estas
amostras foram previamente solubilizadas à temperatura de 1100ºC durante 40 minutos em
um forno tubular em atmosfera controlada contendo argônio como gás inerte. As amostras
assim tratadas foram posteriormente laminadas a frio na direção longitudinal, obtendo-se
deste modo diferentes valores de deformação verdadeira (εv) mediante uso da equação 1, onde
tf é a espessura final da amostra e ti é o valor de espessura inicial da mesma (3,2 mm).

εv = Ln(tf/ti) (1)

Ressalta-se ainda que as deformações verdadeiras impostas são semelhantes às


consideradas em trabalhos recentes (6-7) nos mesmos materiais, onde a fração volumétrica de
austenita transformada em martensita (FVM) foi determinada pelo uso de um magnetômetro
de amostra vibrante (VSM). As medições por correntes parasitas ou Eddy Current (EC) foram
realizadas em um equipamento da marca Olympus, modelo Nortec 500D, mostrado na Figura
2, empregando-se uma sonda tipo superficial pontual de marca Nortec, modelo 9222164, de
2,0 mm de diâmetro. Os parâmetros de ajuste no equipamento foram Probe drive de 1,0 volt;
Frequência de 500 kHz; Rotação de 15º e Ganhos Horizontal e Vertical de 47,0 e 59,1 dB,
respectivamente.
Figura 2: Medições das correntes parasitas em amostras de AIA com aparelho da marca
Olympus, modelo Nortec 500D.

Nas medições pela técnica de correntes parasitas foram escolhidos como padrões 5
(cinco) amostras de cada material estudado cujos percentuais de martensita, determinados
previamente por VSM, caracterizem locais intrínsecos da função sigmoidal reportada em
diversos trabalhos (6-8) tal como indicado na Figura 3 para a condição MC. Os valores de
martensita, levantados pelo uso do VSM, em função da deformação verdadeira imposta são
também apresentados na Tabela 2, onde em negrito são destacadas as condições que foram
empregadas na calibração em cada liga estudada.

Figura 3: Fração de austenita transformada em martensita versus o módulo da deformação


verdadeira obtida pelo VSM no AIA MC, contendo a identificação das condições empregadas
na calibração por EC.
Tabela 2: Valores percentuais de austenita transformada em martensita versus o módulo da
deformação verdadeira obtida pelo VSM nos AIA BC, MC e AC. Condições empregadas na
calibração por EC.

Porcentagem de
│εv│ Martensita (α')
BC MC AC
0 3,12 0,94 0,38
0,09 10,96 1,30 0,56
0,17 50,71 1,72 0,61
0,33 76,77 6,72 0,88
0,52 92,75 15,05 2,91
0,76 95,06 30,94 5,37
1,01 96,14 37,42 8,22
1,26 99,20 38,44 14,01
1,64 97,36 56,77 16,85
2,01 95,73 66,40 31,83
2,29 100 85,91 31,34
2,77 - 100 44,67
3,2 - 100 58,66
3,68 - - 61,50
3,82 - - -

Os valores assim obtidos foram correlacionados com os valores de amplitude e ângulo


de fase obtidos por correntes parasitas. Nestas condições exibiu-se uma melhor correlação
quando o teor de austenita transformada em martensita é correlacionado com o ângulo fase
(AF), tal como apresentado na Figura 4. Neste caso, a fração volumétrica de austenita
transformada em martensita (FVM) pode ser determinada a partir do AF medido pelo uso de
uma função do tipo (2):

Figura 4: Fração volumétrica de austenita transformada em martensita versus ângulo de fase.


Resultados e Discussão

As Figuras 5-7 exibem os resultados comparativos dos valores da fração volumétrica de


austenita transformada em martensita (FVM) em função do módulo da deformação verdadeira
imposta mediante ensaios destrutivos, via magnetômetro de amostra vibrante (VSM), e não
destrutivos, por meio da aplicação da técnica de correntes parasitas (EC). Em todos os casos
se exibe uma grande similaridade nos resultados obtidos atentando que quanto maior for o
teor de carbono contido na liga menor será a susceptibilidade de transformação martensítica
nas ligas estudadas. Denota-se ainda o clássico comportamento de uma função sigmoidal
assim, como reportado por Tavares et al. (8).
Assim, esta técnica de inspeção não destrutiva, de rápida execução, torna-se uma
potencial ferramenta na caracterização da martensita induzida por deformação nesta classe de
AIA, embora se requeiram padrões de calibração em função do teor de carbono contido na
liga para efetuar medições em forma mais acurada.

Figura 5: Análise comparativa na determinação da FVM em função do módulo da deformação


verdadeira por meio de ensaios destrutivos (VSM) e não destrutivos (EC) no AIA BC.
Figura 6: Análise comparativa na determinação da FVM em função do módulo da deformação
verdadeira por meio de ensaios destrutivos (VSM) e não destrutivos (EC) no AIA MC.

Figura 7: Análise comparativa na determinação da FVM em função do módulo da deformação


verdadeira por meio de ensaios destrutivos (VSM) e não destrutivos (EC) no AIA AC.
Conclusões

O presente trabalho permite concluir que o ensaio de correntes parasitas (EC) mostrou-se
promissor na caracterização da fração volumétrica de martensita induzida por deformação em
aços inoxidáveis austeníticos AISI 321 contendo diversos teores de carbono, embora
calibrações específicas sejam necessárias, com base em padrões para cada designação de aço
inoxidável austenítico a ser avaliado em função do teor de carbono dos mesmos.

Referências Bibliográficas

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Cryogenic Stretched Austenitic Stainless Steel Pressure Vessels” Procedia Eng. 130, 628-637.

(6) Teixeira Tavares, M. “Avaliação da Transformação Martensítica por Deformação a Frio


no Aço Inoxidável AISI 321”. Niterói, 2014. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal
Fluminense.

(7) Pardal, J.M.; Montenegro, T.R.; Tavares, M.T.; Tavares, S.S.M.; Fonseca, M.P.C.; DA
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por Deformación a Frio en el Acero Inoxidable” AISI 321. In: 11º Congreso Iberoamericano
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(9) Abreu, H.F.G., Carvalho, S.S., Neto, P.L., Santos, R.P., Freire, V.N., Silva, P.M.O.,
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(10) Tavares, S.S.M, Neto, J.M., Da Silva, M.R., Vasconcelos, I.F., Abreu, H.G.F. “Magnetic
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(11) Mangonon, P.L., Thomas, G., 1970. “The martensite phases in 304 stainless steel” Metall
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(13) Khan, S. H., ALI, F., Khan, A. N., Iqbal, M.A. “Eddy current detection of changes in
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(14) Liu, K., Zhao, Z., Zhang Z. “Characterization of Early Fatigue Microstructure in AISI
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(15) SurkialiabaD, R., Hedayati, A., Alam, A. S. “Monitoring of Martensitic Transformation


in Cold-Rolled 304L Austenitic Stainless Steel by Eddy Current Method” v.2, n.10, pp 312-
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