Você está na página 1de 13

A Tecnologia Digital e a Educação de Jovens e Adultos

Autora: Ednete Orquizas Viriato


Orientador: Profº Sérgio Amadeu da Silveira
Co-orientação: Melina Rombach e Tiago Filgueiras Pimentel
 

Ao meu companheiro José Luiz pela colaboração, incentivo, carinho e firmeza, para que os
resultados fossem alcançados.
 

AGRADECIMENTOS
- À Deus, pelas diversas oportunidades que me tem oferecido de aprimorar e estender o meu
conhecimento e utilizá-lo em benefício das demais pessoas;
- À minha mãe Edna, por ser companheira em todos os momentos de minha vida;
- À minha irmã Edaguimar, pelo apoio, sugestões, reflexões e questionamentos que me fizeram rever
a minha prática como profissional e pessoal;
- A direção, professores e demais companheiros do CIEJA, que me auxiliaram para o cumprimento
desta jornada;
- Aos amigos, que me incentivaram, apoiaram e acreditaram em mim;
- Ao meu orientador Melina e Thiago, pelo empenho, zelo e dedicação, na orientação deste trabalho.
- A mim mesma, pela dedicação e vontade em superar os obstáculos, para o resultado deste
aprendizado.

SUMÁRIO
 INTRODUÇÃO

 I TECNOLOGIA DIGITAL E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS


I.1 Tecnologia Digital: algumas reflexões
I.2 A educação de jovens e adultos: contribuições de Paulo Freire

 II DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: O USO DO COMPUTADOR


COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM
II.1 O CIEJA-CL
II.2 A EJA e o uso do computador
2.1 Oficina de Descontração
2.2 Oficina Pedagógica

 CONSIDERAÇÕES

 REFERÊNCIAS

 ANEXO

INTRODUÇÃO
A monografia A tecnologia digital e a educação de jovens e adultos teve por finalidade verificar a
possibilidade de ampliar os recursos da tecnologia digital para a educação de jovens e adultos.
Salientamos que a educação de jovens e adultos (EJA) é a modalidade de ensino nas etapas do
ensino fundamental e médio, para aqueles que não completaram os anos da educação básica na faixa
etária correspondente. Desde sua implantação, a EJA vem passando por constantes adaptações, com
importantes conquistas na legislação. Um dos fatores para a melhoria desta modalidade de ensino é o
recebimento de recursos desde o ano de 2009, provenientes do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais de Educação
(FUNDEB) [1]. Esses recursos contribuíram para a aquisição de diversos materiais pedagógicos e de
consumo, necessários à execução de oficinas pedagógicas e outras atividades realizadas em salas de
aula.
São evidentes as diversas dificuldades encontradas nos cursos de EJA, desde a falta de estrutura
física adequada, onde as cadeiras e carteiras são adaptadas ao público do ensino regular, sendo
usadas em alguns momentos por crianças e em outros, por jovens e adultos; alto índice de evasão
escolar devido a diversos fatores, desde transferência de local de residência, alteração de horário de
trabalho, dificuldades de aprendizagem, insatisfação porque o curso não corresponde às expectativas
do jovem e/ou adulto, professores não preparados para trabalhar com esse perfil de aluno. Essas
dificuldades têm resultado na evasão escolar/não conclusão do curso.

A EJA tem amparo legal na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, na qual
consta no Título V, Capítulo II, Seção V, dois Artigos relacionados especificamente à Educação de
Jovens e Adultos:

Artº 37: A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram
acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade
própria.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos,
que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades
educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus
interesses, condições de vida e trabalho, mediante cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do
trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
Art. 38 – Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que
compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao
prosseguimento de estudos em caráter regular.
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
I. no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos;
II. no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios
informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames. (BRASIL, 1996)
Há amparo ainda no Plano Nacional de Educação (PNE)1, no qual prevê como um dos objetivos e
prioridades a

Garantia de ensino fundamental a todos os que não tiveram acesso na idade


própria ou que não o concluíram. A erradicação do analfabetismo faz parte
dessa prioridade, considerando-se a alfabetização de jovens e adultos como
ponto de partida e intrínseca desse nível de ensino. A alfabetização dessa
população é entendida no sentido amplo de domínio dos instrumentos básico da
cultura letrada, das operações matemáticas elementares, da evolução histórica
da sociedade humana, da diversidade do espaço físico e político mundial da
constituição brasileira. Envolve, ainda, a formação do cidadão responsável e
consciente de seus direitos. (Plano Nacional de Educação – introdução:
objetivos e prioridades dois)
Para alcançar o objetivo anunciado procuramos:

a) compreender a tecnologia digital como mecanismo de comunicação;


b) verificar as potencialidades do uso do computador como ferramenta de aprendizagem para a
educação de jovens e adultos.

O estudo pretendeu contribuir com o ingresso do jovem e adulto ao mundo virtual, tendo em vista
que o uso da tecnologia digital é um eixo norteador de aprendizagem que pode propiciar aos jovens e
adultos a construção de conhecimento solidário e de ampliação de vínculos, por meio da
comunicação e conexão de e.mail, das redes sociais e de relacionamento, permitindo estabelecer
contatos com os familiares, amigos, colegas de escola, emprego, entre outros.

As redes digitais têm se configurado como uma possibilidade democrática de divulgação de práticas
solidárias, tais como as trocas de experiências e de informações discutidas em sala. Por este motivo,
se faz necessário utilizar e compreender o recurso digital como forma de ampliação de conhecimento
coletivo dentro do curso de EJA.

O mundo contemporâneo tem demandas que se utilizam da comunicação digital e a EJA não pode
desconsiderar o seu uso. O principal desafio em trabalhar as tecnologias da informação e da
comunicação digital com jovens e adultos é superar resistências pois, a minha experiência em campo
tem demonstrado que os jovens mais novos sentem-se familiarizados e têm domínio sobre a
máquina, os adultos, utilizando as mais diversas desculpas, fazem de tudo para não usá-la.

Assim, fazer a interação com os novos tempos, neste caso, com as tecnologias da informação e da
comunicação digital, incluindo os jovens e adultos, significa valorizá-los perante a sociedade e o
mundo do trabalho. Cabe a escola proporcionar esse acesso, essa interação, permitindo a inclusão
educacional e social.

Em conformidade a Léa Fagundes, em entrevista a Revista Nova Escola, Edição 184,

“A inclusão digital não é só o amplo acesso à tecnologia, mas a apropriação


dela na resolução de problemas e que a escola pratica a inclusão digital quando
incorpora em sua prática a ideia de que, se educa aprendendo, quando usa os
recursos tecnológicos.”
Ao conhecer e utilizar as tecnologias, o jovem e o adulto podem superar as barreiras culturais
impostas pela idade e, sem dúvida, se sentirão incluídos na sociedade do conhecimento. Ao iniciar as
aulas de informática devemos proporcionar aos alunos a exploração do aparelho computador para
que possam se familiarizar com a máquina. O professor, nesse contexto, deve evitar cobranças
demasiadas, mas deixar claro que a aprendizagem é algo colaborativa, resultado de tentativas e erros,
sendo importante a experiência proporcionada através dessa interação solidária.

Nesta direção, o uso do computador no espaço escolar servirá como mais uma ferramenta de
aprendizagem, cabendo ao professor mediar  os conhecimentos que o adulto e jovem possuem acerca
das tecnologias da informação e da comunicação digital, tornando assim os conteúdos significativos
e integrados e que o computador não seja só para receber informações, mas que seja utilizado como
fonte de pesquisa, de criação e de ampliação, voltado para o cotidiano do jovem e adulto, ampliando
o conhecimento coletivo e comunicação em rede.

Não podemos esquecer que trabalhar com a educação de jovem e adulto prescinde do respeito às
diversidades, uma vez que lidamos com heterogeneidade d respeito às diferenças é muito importante
para a construção e a ascensão do aprendizado.

Como nos ensina o grande mestre Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento, é dialogar”.
Quem trabalha com educação de jovens e adultos não atende pessoas desencantadas com a educação,
mas sujeitos que chegam à escola carregando saberes, vivências, culturas, valores, visões de mundo
e de trabalho. “Estão lá como sujeitos da construção desse espaço que tem suas características
próprias e uma identidade construída coletivamente entre educandos e educadores”. (ARROYO,
2003, p.7).

A monografia, além do texto introdutório, está estruturada em duas seções seguidas pelas
considerações finais. Na primeira seção, denominada Tecnologia digital e a educação de jovens e
adultos, encontra-se a apresentação da pedagogia freiriana e alguns aspectos da tecnologia digital.
Na segunda seção, Desafios da educação de jovens e adultos: o uso do computador como ferramenta
de aprendizagem, comentamos a respeito das atividades realizadas durante duas oficinas
pedagógicas. Nas considerações finais buscamos mostrar as possibilidades dos recursos da
tecnologia digital para a educação de jovens e adultos.

I – TECNOLOGIA DIGITAL E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS


Buscaremos, nesta seção, comentar alguns aspectos da tecnologia digital. Pensamos que, assim,
poderemos situar de que forma os docentes e os discentes da EJA poderão se apropriar de tal
conhecimento. Na sequência trataremos da EJA e a grande contribuição de Paulo Freire para a
educação.

I.1 Tecnologia Digital: algumas reflexões


(…) a minha questão não é acabar com a escola, é mudá-la completamente, é
radicalmente fazer que nasça dela um novo ser tão atual quanto a tecnologia. Eu
continuo lutando no sentido de pôr a escola à altura do seu tempo. E pôr a
escola à altura do seu tempo não é soterrá-la, mas refazê-la. (FREIRE &
PAPERT, 1996).
Com a epígrafe, queremos reafirmar a defesa de Freire com relação à permanência e importância da
escola – principalmente para os materialmente desfavorecidos – bem como a necessidade de que a
mesma sempre esteja em processo de construção e reconstrução, refazendo-se. Decorre daí a
importância da escola não ficar a margem do conhecimento produzido sistematicamente pelo
homem, ou seja, é preciso que a escola incorpore, de forma crítica e democrática, no seu fazer
cotidiano, a ciência, a técnica e a tecnologia.

Especificamente no que diz respeito às inovações tecnológicas, se estas representam para algumas
crianças, jovens e adultos acesso “naturalizado”, para outras, representam algo a ser conquistado. A
escola, como já afirmado no decorrer do trabalho, pode se um importante espaço de acesso à
tecnologia, à aprendizagem das linguagens tecnológicas específicas.

Neste processo, como afirmado em Salto para o Futuro, TV Escola, Boletim XIX, a formação de
professores é de fundamental importância para “o desenvolvimento de currículos e projetos
pedagógicos em que as tecnologias da informação e da comunicação não sejam apenas ferramentas,
mas recursos instituintes de novas formas de aprender e ensinar, na perspectiva das redes
colaborativas e de autonomia do sujeito”.

Refazer a escola, nestes termos, é possibilitar as condições institucionais e de formação de


professores necessárias para que o docente tenha o conhecimento para utilizar-se dos recursos
digitais. É preciso sublinhar que a tecnologia digital evolui rapidamente, sendo, portanto,
imprescindível não somente o domínio da ferramenta em si, mas o domínio do conhecimento
tecnológico, da apreensão deste conhecimento por parte do docente, inclusive para acompanhar as
evoluções tecnológicas, podendo, assim, fazer as mudanças e as adaptações necessárias quando do
processo de ensino e aprendizagem dos discentes. Isto é procurar refazer a escola.

Como argumenta Salgado,

A escola não pode ficar alheia ao universo informatizado se quiser, de fato,


integrar o estudante ao mundo que o circunda, permitindo que ele seja um
indivíduo autônomo, dotado de competências flexíveis e apto a enfrentar as
rápidas mudanças que a tecnologia vem impondo à contemporaneidade.
(SALGADO, 1999, p. 207).
Ao pensar nos discentes do CIEJA-CL e, por conseguinte, no propósito deste trabalho, qual seja, o
de verificar a possibilidade de ampliar os recursos da tecnologia digital para a educação de jovens e
adultos, procuramos no site Wikipédia  um pouco da historia da internet e redes sociais. Com isso,
queremos ampliar e socializar o nosso conhecimento acerca do assunto.

O marco do acesso da internet para a população foi o ano de 1990. Esta década representa a era da
expansão da internet, surgindo navegadores como o internet Explorer da Microsoft. O surgimento
acelerado de provedores de acesso e portais de serviços on line contribuíram para esta expansão.

Alguns jovens passaram a utilizar a internet como fonte de pesquisa para seus estudos bem como
meio de diversão por meio de sites de games. As redes sociais também começaram a ser utilizadas.
Sublinhamos que as redes sociais são relações que são estabelecidas entre os indivíduos de modo
virtual, por meio de comunicação por computador. Pode ser também denominado de interação
social, cujo objetivo é buscar, conectar as pessoas e proporcionar a comunicação, estabelecendo
nesta relação, laços sociais, via internet e páginas da web.

Sem dúvidas, essa forma de comunicação facilita a interação entre as pessoas oriundas de diversos
locais, ou seja, as redes sociais existem para proporcionar meios diferentes e interessantes de
interação entre as pessoas. E a escola? Como fica a escola neste processo?

Como já dissemos, faz-se necessário que a escola, por meio dos seus professores, possibilitem aos
seus alunos o acesso a ciência, técnica e tecnologia. Particularmente às inovações da tecnologia –
expressão do mundo virtual – não há dúvidas da necessidade de inserir os professores e discentes,
proporcionando-lhes o domínio e as habilidades requeridas. Para tanto, pensamos ser necessário,
entre outros “refazeres” institucionais, o vencer barreiras existentes pela idade ou mesmo pelo medo
de aprender esse conhecimento específico.

No CIEJA-CL já existe a preocupação de inclusão digital e para atender a essa preocupação, existem
na escola dois professores de informática e um laboratório com acesso a internet, softwares e
programas básicos (editores de textos, programas de imagens, planilhas de cálculos e entre outros).

Esses dois professores ministram cursos básicos e avançados para os discentes, no contra turno. Há
muita procura, principalmente quando os professores afirmam que vão ensinar desde o ligar a
máquina. Procuramos, com isso, utilizar o computador como recurso didático de forma
significativa, incentivando-os a produção dos conhecimentos, orientando-os através de um projeto
pedagógico, desenvolvido de acordo com as disciplinas. Instruímos os alunos a elaborar pesquisas,
ajudamos na edição e revisão de texto, auxiliamos também na escrita das palavras que também os
leva a alfabetização.

A nossa preocupação enquanto docentes é utilizar as ferramentas tecnológicas como um incentivo


para a criação e imaginação do nosso aluno. O importante ao utilizarmos os recursos tecnológicos na
sala de aula é transformar a máquina num dos recursos educacionais, propiciando a integração, as
relações pessoais para a aprendizagem, para a aquisição de conhecimento. Isto proporciona ampliar,
assim, um leque de possibilidades – bastante reduzidas, dadas as condições materiais de nossos
alunos – efetivando as condições de acesso do nosso aluno na sociedade, no mundo do trabalho, na
vida plena. Conforme Salgado (1999), estamos procurando, dentro de nossos limites institucionais,
“enfrentar as rápidas mudanças que a tecnologia vem impondo à contemporaneidade”.

I. 2 A educação de jovens e adultos: contribuições de Paulo Freire


Não poderemos discorrer a respeito da EJA sem mencionar o nosso grande educador Paulo Freire.
Freire formou-se em Direito e é um maiores educadores que já tivemos. Interessou-se pela educação
dos mais necessitados, através de iniciativas populares e desenvolveu projetos para crianças, jovens
e adultos.

Paulo Freire, educador e sonhador, acreditava que o ser humano é um sujeito autônomo, com
liberdade de escolhas e expressão. Via na educação o caminho para essas transformações e para uma
sociedade igualitária, justa e democrática. Sua concepção é centrada no potencial humano,
criatividade, liberdade e que a transformação social decorre da conscientização. Propunha uma
abordagem praxiológica para a educação através de uma reflexão crítica baseada na prática, capaz de
transformar o ser humano, através do conhecimento de seus direitos e deveres e criando-lhe
condições de exercer sua cidadania com dignidade e respeito. Iniciou seus trabalhos através de
iniciativas populares. Eram projetos que objetivavam a formação de professores e desenvolvimento
do currículo, através das discussões com os diversos segmentos envolvidos (alunos, professores,
comunidades), organizados com igrejas católicas e abrangiam alunos, desde crianças aos adultos.

O “Sistema Paulo Freire” foi desenvolvido a partir dessa iniciativa. Tratava-se de um sistema de
técnicas educacionais que podia ser aplicado em todos os tipos de educação. A partir das décadas
70/80, passou a ser denominado “Método Paulo Freire”, mas, devido às pressões da igreja, interesses
políticos diversos, esse método sofreu bastante resistência em seu início e somente após 1970, a
teoria e a prática pedagógicas de Paulo Freire tornaram-se reconhecidas mundialmente.

Freire tinha conhecimento das dificuldades que iria enfrentar, além dos custos para implementar seu
programa pedagógico, mas esse era um dos desafios a superar. Após a criação do Movimento de
Cultura Popular (MCP), Freire passou a ser um líder atuante e o Projeto de Educação de Jovens e
Adultos passou a ser aplicado em todo o Brasil, ganhando credibilidade e respeito. Na época, eram
cerca de 40 milhões de analfabetos que poderiam alfabetizar-se. Como somente podia votar os que
eram alfabetizados, reformistas e revolucionários de esquerda investiram e apoiaram Freire e em
1963 era implementado o Plano Nacional de Alfabetização (PNA).

Devido a ocupação pelas forças militares brasileiras e consequente queda do Governo Federal, na
época João Goulart, a execução e continuidade do projeto foi interrompida. Para alguns, o projeto
era considerado subersivo, fato que levou Freire em duas ocasiões à prisão.

Superando dificuldades, períodos de exílio, Paulo Freire em 1967, foi pela primeira vez, aos Estados
Unidos como conferencista de seminários promovidos nas Universidades de vários Estados.

Freire trabalhou em São Tomé e Príncipe, Moçambique, Angola e Nicarágua, entre 1975 e 1980,
como um militante, cuja causa é a libertação dos oprimidos. Coube a Freire um programa de
alfabetização no estado africano de São Tomé e Príncipe, cujos resultados desse programa superaram
as expectativas.

No mês de agosto de 1979, Freire fez uma visita ao Brasil e seu retorno definitivo ocorre em março
de 1980. Era necessário reaprender o que aconteceu durante o tempo em que permaneceu distante
deste país. Chegara quando o Movimento de Educação Popular estava em seu segundo momento de
influência, era uma época de crise econômica, impopularidade dos governantes, desejo de poder dos
militares e forças armadas. A classe trabalhadora estava mais organizada, ainda sofrendo os
desgastes da “crise da dívida brasileira”, mas trabalhava seus ideais políticos e formava-se então, o
Partido dos Trabalhadores (PT), no qual Paulo Freire, tornava-se um membro-fundador.

A classe trabalhadora passava a ter como aliada a classe média, vítima de perdas constantes de
renda. Unidas buscavam uma redemocratização do país.

Muitos intelectuais do Primeiro Mundo, que não acreditavam nesta forma de educação, tiveram que
rever seus conceitos, pois a filosofia e sistema freiriano ultrapassaram barreiras internacionais e
continuam sendo utilizados nos debates pedagógicos nestas últimas décadas. A experiência da
opressão vivida por Freire serviu de base crítica para permanecer na busca de estabelecer uma
sociedade justa e igualitária.

A ética de que falo é a que se sabe traída e negada nos comportamentos


grosseiramente imorais como na perversão hipócrita da pureza em puritanismo.
A ética de que falo é a que se sabe afrontada na manifestação discriminatória de
raça, de gênero, de classe. É por essa ética inseparável da prática educativa,
não importa se trabalhamos com crianças, jovens, ou com adultos, que devemos
lutar. E a melhor maneira de lutar por ela é vivê-la em nossa prática, é
testemunhá-la, vivaz, aos educandos em nossas relações com eles (FREIRE,
1996:17).
Neste processo de luta contra todos os tipos de discriminação, situamos o desafio de inserir as
tecnologias da informação e da comunicação digital como ferramentas de aprendizagem ao Jovem e
Adulto, possibilitando a estes o acesso ao mundo virtual.

II – DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: O USO DO COMPUTADOR


COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM
Nesta seção teceremos considerações acerca do uso do computador como ferramenta de
aprendizagem para a EJA, tomando como base de análise duas oficinas pedagógicas ministradas por
mim no CIEJA-CL. Por este motivo, realizaremos primeiro um breve histórico a respeito do CIEJA-
CL, para, num segundo momento, descrever o trabalho realizado nas duas oficinas.

II.1 O CIEJA-CL
Ao debruçarmos nosso olhar sobre o CIEJA, estamos pensando numa escola conectada com a vida,
na qual, o professor, preparado e com formação compatível para o exercício da docência, respeite os
conhecimentos prévios dos alunos. Isto requer do professor sensibilidade para perceber a totalidade,
pois tudo tem significado: saúde, esporte, trabalho, lazer, religiosidade. Trata-se de um público com
especificidades distintas que devem ser respeitadas. O currículo, por sua vez, deve ter características
próprias e não, simplesmente, fragmentar o conteúdo do curso regular; ser abrangente incorporar
atividades relacionadas à arte, à cultura, utilizando linguagens alternativas, como a música, o cordel
e o teatro, e proporcionando o acesso aos diversos meios de comunicação sociais.
Que a educação seja o processo através do qual o indivíduo
toma a história em suas próprias mãos, a fim de mudar o rumo da mesma.
Como? Acreditando no educando, na sua capacidade de aprender, descobrir,
criar soluções, desafiar, enfrentar, propor, escolher e assumir as conseqüências
de sua escolha.
Mas isso não será possível se continuarmos bitolando os alfabetizandos
com desenhos pré-formulados para colorir, com textos criados por outros
para copiarem, com caminhos pontilhados para seguir, com histórias que
alienam, com métodos que não levam em conta a lógica de quem
aprende. (FUCK, 1994, p. 14 – 15)
 

Os CIEJAS foram criados através do Decreto nº 43.052, de 4 de abril de 2003, na gestão da ex-
prefeita da cidade de São Paulo Marta Suplicy. Apontava-se a necessidade de ampliar-se o acesso ao
ensino fundamental dos jovens e adultos que não tiveram oportunidade de cursá-lo e concluí-lo na
idade própria, assim como de implantar-se programas de educação especialmente dirigidos a esses
educandos, com ênfase na preparação para o mundo da cultura e na orientação para o mundo do
trabalho, em conformidade com as diretrizes da política educacional adotada pela Secretaria
Municipal de Educação, consubstanciadas na democratização do acesso e da permanência,
democratização da gestão e qualidade social da educação.

Os Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos possuem como finalidade promover cursos
de ensino fundamental, articulados com a educação profissional de nível básico, atendidos os
interesses da comunidade e as peculiaridades locais, acolhendo a todos que procuram a educação de
jovens e adultos, pessoas com necessidades especiais, trabalhadores, pessoas que estão em liberdade
assistida, entre outras.

São 14 os CIEJAS em funcionamento, sendo que o presente trabalho, como já referenciado, foi
realizado no CIEJA Campo Limpo. O CIEJA Campo Limpo, conforme mostramos na Foto 1,
situado na Rua Cabo Estácio da Conceição, 176, no Bairro Parque Maria Helena, Capão Redondo,
pertence à subprefeitura de educação do Campo Limpo, Região Sul da cidade de São Paulo, que é
considerada uma região com altos índices de violência, entre os bairros do Jardim São Luiz, Capão
Redondo, Jardim Angela, Parque Santo Antonio, entre outros.

FOTO 1 - CIEJA-CL
A maioria dos alunos e funcionários são moradores das regiões ou adjacências. O CIEJA-CL tem
como diretora a Sra. Eda Luiz [2] e atende jovens e adultos, com uma demanda de mais ou menos
1300 educandos das subprefeituras de M’Boi Mirim e Campo Limpo, dos quais 14% apresentam
pelo menos uma deficiência (física, mental, auditiva, visual, etc). É um centro de educação de ensino
fundamental I e II, modular, em que os módulos I, ll, lll e lV correspondem à alfabetização, pós-
alfabetização, intermediário e final, respectivamente.
A instituição tem como filosofia uma Escola Democrática, em que os educandos tomam partido nas
decisões de funcionamento, processo de ensino-aprendizagem, bem como o que estudar, cuja
principal fundamentação teórica é Paulo Freire, ou seja, o trabalho desenvolvido é baseado no
respeito, na solidariedade, na sustentabilidade, criticidade e muito diálogo, centrando o planejamento
no sujeito. As decisões são tomadas em assembléias envolvendo alunos, funcionários e participantes,
conforme podemos conferir na Foto 2.

FOTO 2 - ASSEMBLÉIA
O Projeto CIEJA tem como norteador Pedagógico / Curricular o trabalho com áreas de
conhecimento e não com disciplinas como é comumente encontrado nas redes municipais de ensino.
Desta forma, temos as seguintes áreas de conhecimento: LC (Linguagens e Códigos, envolvendo as
disciplinas de Língua Portuguesa e Inglês); CH (Ciências Humanas, que envolve as disciplinas de
Geografia e História); ELA (Ensaios Lógicos e Artísticos, que envolve as disciplinas de Matemática
e Arte) e CP (Ciências do Pensamento, que envolve as disciplinas de Ciências e Filosofia).

Assim, o aprendizado não é realizado em séries, mas em áreas de conhecimento com blocos que
unem assuntos interdisciplinares. Na primeira semana de aula é perguntado os temas que o aluno
quer aprender, dentre dos que forem apresentados, o que ele tem curiosidade, para que o
planejamento dos professores seja realizado com base nos interesses do aluno, ou seja, todo
educando passa por um diagnóstico, cujo objetivo é levantar os conhecimentos prévios dos
educandos e sinalizar algumas dificuldades. A partir daí, fazemos agrupamentos em módulos:
módulo I (alfabetização, educandos que estão iniciando o registro alfabético e numérico), módulo II
(pós-alfabetização, educandos alfabéticos que iniciam a construção textual e elaboram cálculos no
campo aditivo e multiplicativo), módulo III (intermediário, educandos que são apresentados para as
áreas de conhecimento e a partir de seus conhecimentos prévios se embrenham na sistematização de
conceitos específicos) e módulo IV (etapa final, extrapolação de reflexões, o uso do conhecimento
das áreas para uma profunda leitura de mundo).

Como fazemos agrupamentos por conhecimento e não por equivalência idade/série ou seriação, para
facilitar o trabalho, as salas de aula compõem-se de mesas sextavadas (hexagonais), o que possibilita
uma maior interação entre os educandos e, principalmente, no trabalho em grupo em que praticam,
possibilitando o relacionar-se com o outro, respeitando as diferenças, num exercício da democracia e
cidadania.
FOTO 3 - SALAS DE AULA
A instituição vem se utilizando da metodologia didática investigativa no desenvolvimento de temas
(Trabalho e Cultura, no primeiro semestre e no segundo de 2011, respectivamente), os quais são
decididos pela comunidade escolar no inicio do ano letivo. Nos módulos lll e lV, os educandos
fazem um rodízio a cada duas semanas passando pelas áreas de conhecimento: LC (Linguagens e
Códigos, envolvendo as disciplinas de Língua Portuguesa e Inglês); CH (Ciências Humanas, que
envolve as disciplinas de Geografia e História); ELA (Ensaios Lógicos e Artísticos, que envolve as
disciplinas de Matemática e Arte) e CP (Ciências do Pensamento, que envolve as disciplinas de
Ciências e Filosofia).
O trabalho dos educadores se dá em dupla docência, propiciando um trabalho conjunto de maneira a
atender não só as especificidades dos saberes, como a singularidade de cada sujeito imerso em cada
ambiente do Centro.

FOTO 4 -DUPLA DOCÊNCIA


O CIEJA Campo Limpo possui um diário de bordo local onde o aluno anota o que aprendeu, sua
opinião e entendimento sobre a aula, algo que aconteceu, suas impressões, relaciona o assunto com
suas experiências anteriores e extra-classe, além de tudo que julgar pertinente. O objetivo desta
prática é estimular no aluno o hábito de escrita, leitura, argumentação e compreensão, colocando em
prática a escrita do dia-a-dia e a importância de que a história de vida é feita de registros.

As turmas se distribuem em seis períodos com 2:15h de estudo e, para complementar a carga horária,
desenvolvem atividades extraclasse; dentre elas, como já dissemos, a produção de diário de bordo
(um caderno no qual registram como foi o encontro no horário letivo, as atividades desenvolvidas, o
que aprendeu, como pode utilizar no seu dia-a-dia esse conhecimento e experiências vivenciadas,
além de ser um canal para opinar e sugerir), pesquisas e relatórios a partir da leituras de livros,
documentários, reportagens, filmes, peças teatrais e outras vivências.

Diferentemente da práxis de uma grande maioria de instituições de ensino, no controle arbitrário e,


muitas vezes, intolerante à entrada e saída dos educandos, esse Centro adotou a política da
autonomia com responsabilidade, permanecendo com os portões abertos das 7h até 22:30h, com
livre acesso pela comunidade para acesso a biblioteca, computadores, ao espaço em geral.
Atualmente as aulas acontecem com duração de 2h30min por dia de segunda-feira à quinta-feira e na
sexta-feira acontecem oficinas para os alunos e formação do professor, cumprindo as leis de
diretrizes da educação que exige carga horária de 200 horas anuais. Em outras palavras, a estrutura
física e metodológica do CIEJA Campo Limpo sai dos moldes da escola regular.

II. 2 A EJA e o uso do computador


Com a pretensão de verificar o uso do computador como ferramenta de aprendizagem para a
educação de jovens e adultos, desenvolvemos no CIEJA-CL duas oficinas com os alunos.

As oficinas foram realizadas a partir dos temas pré-estabelecidos durante o planejamento e de acordo
com as necessidades e sugestões fornecidas pelos alunos, com o objetivo de que seja observado na
prática, o que foi trabalhado em sala de aula durante a semana, reforçando que o computador é um
recurso tecnológico que é um facilitador da aprendizagem.

A primeira oficina, denominada de Oficina de Descontração, consistia em estimular o uso da


ferramenta por meio de atividades lúdicas tais como: jogos interativos, vídeos no youtube, músicas,
produções como desenhos, textos, cartas, conforme relatamos na sequência.

A segunda, Oficina Pedagógica, possibilitou o aluno a visitar os diversos sites com a finalidade de
que os mesmos aprendam a acessar os links relacionados com o mundo social e do trabalho.

 Oficina de descontração
 Oficina Pedagógica
 

CONSIDERAÇÕES
O estudo buscou verificar as potencialidades de ampliar a utilização dos recursos tecnológicos na
educação de jovens e adultos. Para tanto, procuramos compreender a tecnologia digital como
mecanismo de comunicação e verificamos as potencialidades do uso do computador como
ferramenta de aprendizagem para a educação de jovens e adultos.

O percurso efetuado para desenvolver as intenções da monografia foi o estudo teórico de Paulo
Freire e a realização de duas oficinas com os alunos do CIEJA-CL, local que ministro aulas. Além
do próprio referencial sobre tecnologias.

O caminho metodológico percorrido nos permitiu observar o quanto as tecnologias estão presentes
no cotidiano dos nossos alunos, jovens e adultos, ou seja, em todos os segmentos de suas vidas, de
seus afazeres diários, de suas relações com a vida social, os discentes se deparam, de algum modo,
com as tecnologias. Isto não significa que eles tenham o domínio desse conhecimento tecnológico. É
preciso, portanto, proporcionar a esse aluno a autonomia para que ele torne um ser capaz de ir, por
exemplo, ao banco e fazer as transações bancárias necessárias, de modo virtual, sem precisar
solicitar ajuda ao funcionário do banco ou a qualquer outra pessoa. Saliento que a aquisição dessa
autonomia, desse conhecimento é de responsabilidade da escola.

Entretanto, o estudo também nos levou observar a necessidade de formação continuada para os
professores nesta área. Faz-se necessário adotar uma postura pedagógica capaz de capacitar docentes
para o uso das tecnologias e a implementação de projetos pedagógicos que estimulem o aluno e os
professores a aceitarem a inovação do uso de novas ferramentas em suas aulas. Assim, a escola e,
particularmente, a educação de jovens e adultos, poderiam efetivamente se inserir no mundo
globalizado bem como se estaria oportunizando as condições para que os alunos se utilizem desses
recursos e obtivessem uma aprendizagem significativa e de qualidade.

Outro aspecto que observamos com estudo foi a formação continuada dos professores na área das
tecnologias e no que diz respeito as relações entre aluno/aluno e aluno/professor.
Percebemos que o uso das tecnologias permite uma relação de aprendizado mútuo, uma relação de
cooperação, de respeito e crescimento acadêmico e pessoal. Provavelmente isto se deve ao fato de
tanto o professor quanto o aluno pesquisarem um determinado assunto juntos, ou seja, o
conhecimento com o uso da ferramenta. Trata-se de uma construção coletiva e, como já dizia Paulo
Freire: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. Os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo”.

Esta observação nos leva a outro aspecto apreendido durante o desenvolvimento do estudo e
realização do curso de especialização em economia solidária. Ficou muito nítida a possibilidade em
estabelecer vínculos solidários entre a ferramenta e nossos discentes, quando permitimos que os
alunos que sabem mais ajudem o professor e os alunos. Esta conexão passa pela cooperação entre
todos os agentes envolvidos no processo de aprendizagem.

Para finalizar, reafirmamos que para introduzir nossos alunos no mundo conectado temos que aguçar
a curiosidade, o prazer de inventar e de explorar as novidades. Esse caminho o professor tem que
percorrer, não tendo medo de errar e nem vergonha de pedir ajuda àquele jovem que sabe. Este
diálogo, tão necessário na educação de jovens e adultos, faz toda a diferença no processo de ensinar
e aprender.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARROYO, Miguel. Uma escola para jovens e adultos. Conferência – Reflexão sobre a Educação de
Jovens e Adultos na perspectiva da proposta de Reorganização e Reorientação curricular, SP, 2003,
7.

BRASIL. LDB – Lei de Diretrizes e Bases. http://portal.mec.gov.br

BRASIL. PDE – Plano Nacional de Educação. http://portal.mec.gov.br

CADERNO EDUCAÇÃO, fevereiro/2006, ano II, nº 9. www.sme.pmmc.com.br

FUCK, Irene Terezinha. Alfabetização de Adultos. Relato de uma experiência construtiva. Ed.
Petrópolis: vozes.

FREIRE, Paulo & PAPERT, Seymour. Diálogos impertinentes: O futuro da escola. São Paulo: TV
PUC, 1996

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 9 ed., Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra. 1981, p.79

[1]
1.  Fundo de Manutenção e desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), regulamentado
pela Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007. ↩
[2]
2.   EDA LUIZ – Coordenadora Geral do CIEJA/Campo Limpo, desde sua
fundação em l998. ↩

Tags
informática e inclusão digital, redes sociais

Você também pode gostar