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“Um uivo.

Isso foi tudo o que deu para se escutar naquela fria noite.

Tudo perdeu o sentido em apenas um segundo. Numa única encarada para a morte, as pilastras que
sustentavam a loucura acima de Nathaniel simplesmente se romperam em uma tormenta devastadora. Jazia
sua filha em sua frente brutalmente lacerada, descarnada e mastigada. Sua morte hedionda e repentina
incendiou em cadeia os sentimentos mais negativos dentro de Nate antes dele finalmente sentir-se
completamente entorpecido pelos seus próprios sentidos.

Durante seus mais profundos sonhos, suas memórias embaralharam-se em um emaranhado de traumas e
pesadelos. Ele sentia a morte clamando por seu nome, sem parar, uma vez após a outra. Os próximos dias e
noites passaram sem que ele mal conseguisse perceber. Mas uma única cena ele não conseguia esquecer:
Um lobo raivoso no fundo de um beco sujo e mal iluminado sob a cintilação perversa da lua cheia. Aquele
animal fitava sua alma com um olhar ambíguo, que estarrecido e curioso observava os detalhes da fera que
seria os motivos de seus pesadelos. A heterocromia de seus olhos, indo do mais abissal azul em seu lado
direito, ao mais pavoroso dos castanhos em seu lado esquero. Sua poderosa mandíbula gotejava sangue
fresco, resíduos fatais de uma vítima recente.

Dizem que quando se olha fixamente para o Abismo, ele tende a olhar de volta. Da mesma forma que
Nathaniel encarava e gravava em suas mais profundas memórias os aspectos primitivos daquela besta, a
criatura fitava sua alma de volta.

Nem as bebidas e nem os cigarros conseguiam trazer sua sanidade, apenas a ânsia de fazer justiça com suas
próprias mãos. E foi nesse momento, que a chegada de uma pessoa mudaria o rumo de sua jornada.
Caiaphas Smith, era o nome do velho - mas robusto e vigoroso - religioso que se apresentou como um
conhecedor do oculto e da forma de descobrir a identidade do assassino de sua filha.

Desde aquela noite, Londres nunca mais foi a mesma.”

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