O discurso de Sócrates (199c-212b), de longe o mais elaborado filosoficamente, pode
ser dividido em três partes. Primeiro, há um diálogo com Agathon (199c-201c) no qual sócrates estabelece um ponto acerca da noção de “desejo”. Todo desejo tem dois aspectos: (i) é relacional, pois é desejo de algo; (ii) é carência, pois é desejo de algo que não se possui atualmente. Agathon tinha argumentado em seu discurso que a natureza de Eros possui o atributo da beleza e que tal posse permite ao Amor transferir seu atributo às coisas com as quais se relaciona. Sócrates faz Agathon assentir que essa afirmação não se sustenta, pois Eros é desejo de beleza e o que deseja x não possui x. Portanto, o Amor em si não transfere a beleza. Ele é uma busca pela beleza, cujo efeito psíquico é levar o indivíduo a aprender quais meios permitem obter as coisas belas.
Tendo exposto isso, Sócrates passa para a segunda parte de seu discurso (201e-209e).
BORGES, Anderson de Paula. O Banquete. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017