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Grand Palais, Paris, França
Foto Thiago Costa, 2015
O Art Nouveau teve muitos nomes. Lançado pelo belga Victor Horta, em Bruxelas,
a partir da inauguração do Hôtel Tassel, em 1894, o movimento arquitetônico da
riqueza decorativa e renúncia ao passado ganhou seu nome a partir da loja do
alemão Samuel Bing. Aberta em Paris, em 1895, dedicava-se à venda de produtos
artísticos de vanguarda, criados por Toulouse-Lautrec, Lalique, Beardsley,
Will Bradley (ilustrador americano), Gallé, Tiffany, dentre outros. Era a
ideia de romper com o passado e com as academias dos séculos 18 e 19. Nesse
contexto, a chamada "arte pela arte" fez do Art Nouveau uma "doença
decorativa", como era conhecido à época. Suas formas sinuosas, explorando
motivos naturais e estamparia japonesa, foram imediatamente associados ao Art
Nouveau.
Em 1902, Auguste Perret (1874-1954) lançou moda na arquitetura da capital
francesa, pois saía do papel o primeiro edifício residencial cujo esqueleto
era feito inteiramente em concreto armado, na 25-bis Rue Franklin e a sua
decoração inteiramente ornamentada com motivos fitomorfos. Segundo Janine
Casevecchie (2), faltava aos jovens arquitetos do fim do século 19 a
autorização para modificar os gabaritos definidos pelo Barão de Haussmann
(1809-1891) aos edifícios de Paris. Assim, durante vinte anos, o Art
Nouveau abandonou essa função estética do imóvel, e a capital francesa foi o
centro desse movimento, muito mais por seu status de cidade mundial das artes
do que pela superioridade de seus artistas.
Em Paris, Hector Guimard foi quem melhor e mais impôs um estilo Art Nouveau na
arquitetura, mas não somente por ter desenhado suas 167 entradas para o metrô.
Influenciado por Viollet-le-Duc, admirador da arte japonesa, realizou o Castel
Béranger com apenas 27 anos. Ele assim concebeu mais de trezentos imóveis nos
arredores de Paris, nas cidades de Passy e Auteuil.
Outro arquiteto, mas de imaginação delirante, Jules Lavirotte, quase inventou
o imóvel ''vestido'', graças às cerâmicas de Alexandre Bigot, segundo Janine
Casevecchie (3). Lavirotte cobria fachadas inteiras de imensos painéis
cerâmicos e os decorava com figuras de animais fantásticos ou esculturas, nas
quais se podiam ver diversos símbolos sexuais, como por exemplo na 29 Avenue
Rapp.
A seguir, vamos conhecer melhor quatro ícones dessa época, além das duas
principais obras já citadas de Guimard – as entradas do metrô e o Castel
Béranger – e aquela de Lavirotte, ainda a suntuosa cúpula das Galeries
Lafayettes.
Hector Guimard fez uma casa para uma jovem viúva, Elisabeth Fournier. Um
imóvel de trinta e seis apartamentos, pequenos e confortáveis, conhecido como
Castel Béranger. Segundo Casevecchie (2014), a arquitetura é livre à
imaginação de Guimard, utilizando-se diferentes materiais e não hesitando à
mistura de cores, o que não era somente novo, mas impensável na época. Outra
inovação foi a utilização do ferro forjado, o que era exclusivo às estações de
trem e usinas. Na fachada, uma surpresa, a pedra esculpida e duas colunas que
ornam a porta de ferro fundido e placas de cobre. Esse projeto foi mantido em
segredo por bastante tempo, visto a concorrência da época que obrigava os
arquitetos a isso.
Somente quatro lojas sobreviveram à época gloriosa descrita por Emile Zola em
"Alegria das Mulheres". Nos anos 1900, viu-se florir a Printemps, a
Samaritaine, o Bon Marché e as Galeries Lafayette, todas no estilo Art
Nouveau, segundo Janine Casevecchie (4). A Samaritaine desapareceu e o Bon
Marché foi luxuosamente modernizado. Somente a Printemps e as Galeries
Lafayette guardam as lembranças dos “anos loucos”.
Quando entramos nessa magnífica loja, não podemos deixar de admirar, no alto,
a vidraçaria à 33 m de altura, de inspiração Art Nouveau e bizantina. O
arquiteto Fernand Chanut, em 1908, imaginou essa obra constituída de dez faces
de vidraria pintada, encerrada em uma armadura metálica, ricamente esculpida
de motivos florais. Para as balaustradas, os pavimentos inferiores e a grande
escadaria, Chanut chamou Louis Majorelle, que o ajudou a pôr de pé essa
glória.
notas
1
WEBER, Eugène. France Fin-de-Siècle, Harvard University Press Cover. Boston, 1988.
2
CASEVECCHIE, Janine. Paris Art Nouveau, Hachette Livre, Éditions du Chêne. Paris,
2014.
3
Idem, ibidem.
4
Idem, ibidem.
sobre o autor
Thiago Augusto Ferreira da Costa é arquiteto e urbanista pela UTFPR (2017) e
Bacharel em Segurança Pública pela APMG (2009), trabalhou no IBGE (2010) e foi
Pesquisador no Observatório de Conflitos Urbanos de Curitiba (2012-2014). Além
disso, estagiou em Planejamento Urbano no IPPUC (2016) e, em 2014/2015, foi
bolsista Capes/CNPq em Paris, desenvolvendo como projeto final uma intervenção em
edifício do século 13.