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JORNAL & ANNO. TOMO VII. — DOMINGO, 7 DE JANEIRO DE 4835. ~ AS SENHORAS. JORWAL DA BOA COMPaNaA, ” Modas, Litteratura, Bellas-Artes ¢ Theatros. © programma ¢ condig6es deste jornal encontrao-se na ultima pagina da capa, 0 ANNO NOVO, Bons annos, bons annos, minhas queridas lei- toras! A deush da fortuna ‘faga espargir sob ‘vis Lodos os prazeres que adornao o altar da fe- licidade, e assim vos embelleze a existencia por todo o volver deste anno de 4835 , para que pos- samos tanibem tera satisfagao de contar-vos cous- tantemente uo numero de nossas assignantes. Para ys merecerinos esta prova de estima e apreco no deixaremos de empregar todos os re- ‘cursos de que pudermos dispor. AS niossas esti~ maveis collaboradoras nos promettem a couli~ nuagie de sua valiosa cooperacao. ‘AS modes ser-vos-hao do mesmo motto apre- sentadas em bellos figurinos; sobre os quaes entendemos dever advertir-vos que , sendo elles feitos em Pariz, recebemos as colleegdes que encommendamos’ em estacdes diferentes: ¢ por isso a natureza de algumas fazeudas welles indi~ cada deve ser substituida pelo yossv boin gosto , conforme as indicagdes do verio ou do invervo. Entretanto os adorns, feitios, penteados, etc., serao sempre dos mais modernos. Coutinuaremos @ dar-vos meusalment de bordados, ¢ uusicas inteirameute novg tis das quaes expressamente composts para © Jornal das Senkoras. : Esperamos que 0 vosso espirito fique sati feito com a feitura dos romances eseolhidos que vos offereceremos, originaes om traduzides, seu AP ext do as Lraduccdes Tettas*for uma de nossas dis- Lnotas collaburadoras que com muita beuign dade se diguou tomar sobre si este encargo. ‘AS noticias que houvermos de vos transmittir sev-vos-hao dadas em artigos especiaes aos di versos assumiptos a que ellas se reterirem, Nelles tratavemos dos ealdes, dos theattos, dos passeins, dos divertimentos novos ¢ curiosos que appare: cerem, prucuratdo sempre nioralisar os factos , -censurar e covrigir 08 abusos quo Uo frequen temente se commettein nas sociedades, e que & ninia delicadeza tolera ou que a propria digi dade despreza. Além disto teremos sempre extremo prazer em ollerecer-vos arligos que pussdo conter ale gumas ideas, dignas de as reunirdes a vussa ins: iructao, quer sobre litteratura, historia, yeo- graphia’ cte., quet sobre musica ou sobre qual= ucr outta das muftas preudas que adoruio o nosso 80x0. is aqui, minhas hous amigas, quanto vos promeitemds, Se eouber em wosses foryas me Ihorar a publieagao deste jornal pelo ausilio que nuos prestardes com as vostas assiguaturas, cun- fiamos muito pava isso na intelligencia da pessoa a yjem ineumbimos a geveneia do material da fnpreca para que bem sejuo realisadas as vossas esjlerangas de inelhioramento, Em tuo 0 caso hnauca Yes daremus wn jornal menos digno de f weer ee Bie. vés, que nelle achareis sempre alguma cousa que possa satisfazer a yossa espectativa a res- peito. do desempepho do uosso, compromisso , para-o qual contamys com a sincera dedicacao ¢ ~ estima das amigas que promettérdo auxiliar-nos. Tal &, leltoras, 0 nosso: programma para 0 anno de 1853. Aceitai-o ¢ protegei-nos, A REDAcgio. . GHRONICA DOS SALOES, Boas festas ¢ bons annos, minhas leitoras. Kis-nos aqui de novo a’ dar cumprimento ao nosso recente compromisso de trausmittir=vos uioticias semanaes das occurrencias havidas nos elegantes saldes do Rio de Janeiro. Permitta Deuis que teubamos saude e tranguillidade de es- pirito para “que possimos em todo o correr deste atno satisfazer a vossa justa espectativa, com 0 que nao menos fulgaremus do que vos ou tms; pois é sempre para nds muito agradavel mio ter incommodos, physicus ou morges, nem mesmo motives para’ nos eausar 0 insupportavel hau humor, que tanto afllige a quem o soffre como a quem 0 observ. . ‘Temos naturaluente ‘up, caracter jovial ( ¢ izem as mossas amigas, qué ‘dmos exigracada), © por isso gustamos de toda essa viriedade de ‘objectos, pessoas e plirases que. se Véem € ouvem no grande tuntulio de un salad concorvido, que representa cada um de per si tm mundy ent mi niatura; 0 qual, pelos .couselhps e maximas te~ cebidas de nosses paig, estasys acostumada 2 enearar como um quadro de shashico, delicado sim, was represcutando allegatiaé que, se uao io 'vidieulas, provocad sempre 0 riso a quem o. considera como nds. Neste parecer nos asseme- Ihamos a um eelebre philusopho dos tempos an- tigos para quem era este mundo nm ridiculario que Ihe proyocaya coustante hilaridade. Entre- tanto com isto ndo queremos dizer que nos jul = gamos isenta de um dia ser acconimettida de algum desses delirios, que os homens se lembré: 10 denominar Amor para wio causar tanto hor vor a quem 0 conheee so pelo nome. Fizerio bem nisse:_porém bem poderiio erismal-o hoje, porque é ji muito conhiveido em seus efeitos; & por isso es'atnos fio prevenida contra a supposta divindade, Nao uos castigue Deus: porém tenes Fé de que somos refractaria 4 sua iufluencia pela natureza de nosso caracter jovial, pela preven «G20, e ainda sais porque estamos tiv acostumada a rire briucar, que uos seri, muito provavel- meute, impossivel abandouar 0 constaute variar de nostos alegres pensameutos para nus concen trarmos toda nessa mathematica do seutinenta~ lismo do coraco para resolver um caleulu abs tracto de uma felicidade impossivel de gozar-se, ¢ para uds até inconcebivel. Conta wis, conv wosso espivito sempre bein disposto para encarar,o mundo como elle 6, € as paixies como convém que sejio. Este auno comecou para nds cum bastante sa: lisfagio; @ nao. sabemus se esta expausio de nossa ulna seré algum bom ou méu ageuro. ‘Tambem acreditamos pouco em agouros. Mas, assim como nés, 0 anno tambem trouxe a ale~ gria eo prazer’a muita geute, que, nos subur- bios desta cidade, se tem entretido em animadas companhias, nao’ obstante haver o miu tempo tentado interromper os recreios da estacio com constante chuva desde muitos dias. E, como wio ha obstaculos onde ha boa vontade, a chuya viu- se forcada a ceder ao sol radiante’a presidencia de todas as companhias, cujas distracedes e en- tretenimentos nao se tem interrompido desde a vespera do dia de Natal. ‘Temos tido a fortuna de haver participado do enthusiasmo de algumas de mosses amigas, cm companhia das quacs Lemos passado alguns ‘des- tes ultimos dias, gracas 4 permissio de nossos pais. No Cattete,”e dahi por diante até S. Cle- Mente, oude passdmos dous dias, muitas reu- uides tem havido cuja descripcao, ‘se a tentassc— ara encher todos os nume~ r0s Uo Jornal das Senhoras no correute anno. So 03 episodios, earreirinhas e golpes de vista Jancados para a estrada em todas as huras ealeu- ladas da chegada da barea ou dos omnibus do Botafogo seria para nds materia yasta. As in- quietacdes causadas por demoras se prestariio a longos dialogos; e Gualneute as amayeis recep~ des de alguns recem-chegados conyivas forne- ceria assumpto para excellentes episodio: Dous dias no Rio Comprido, um em Andaraby, e dous na Ponta do Caji nao foro menos ferteis cm acontecimentos de sentimentalismo, nem iuenos prazeuteiros para as pessoas que s¢ acha~ rao nesses logares. Mais felizes talvez do que nds, ainda se con servao reuuidas tudas essas conipanhias, ao tem- po que ja nos achamos na.cidade escrevendo a Chranied, dos Saloos. D © Dia de Reis, e cheiv de satis __ Dow feliz fi facio para nds: porém abstemos-nos de coular dell: alguma cousa para que uo proximo numero Possamos dar-vos uma historia completa dos acontecinentos, tanto dos saldes da cidade, econ dy campo, que preseneiimos, auxiliada pels noticias de amigas predilectas’ com quem ainda nao pulemos eneontrat-nos, ¢ que combi nadameute se separio de nds quando ha muitos divertimeutos simultaneus para nos commu carmos depois todas as noticias, e podermos assim todas saber muitas cousas oecorridas na meswia oeeasiao em diversos lugares. Nao digais ser isto umn estratagema de curio~ sidade feminina, nao: nao faremos mais do que imitar eertos clegantes cavalheiros, que costu- e. eS ee) mio yeunir-se em sessdes diarias ng rua dos In- validos, e que procedem deste medo em cumpri- mento de um artigo dos estatutos do Club que formarao sob a denominacao de Club solidario, no qual por este systema se sabe tudo quanto se ~~ 5, alé mesmo n9 palacio das Talherias, Tiered do uma sotto solidario que esta om ariz. . ‘AL6 domingo prosimo, leitoras. Alina. DESCRIPCAO DA ESTAMPA. VESTUARIO DE ESTAR EM CASA. — Saia de nobreza verde. . Cazawech de veludo preto, enfeitado de galao, renda e botdes. Sub-mangas, camisinha e modestia de: cam- braia de linho, guarnecidas de valencianas. YESTUARIO DE PAssEI0.—Vestido de nobreza lisa : saia enfeitada com dous folhos guarnecidos de fita de veludo da mesma cor. Mantelete da mesma fazenda ; énfeitado tam- dem de igual veludo, ‘ Chapéo de seda com blonde e flores. VESTUARIO PARA UMA CRTANCA DE UM ANNO, — Yestidinho de cambraia, curto e decotado, de mangas curtas, enfeitado de tiras de bordade ingles. e lagos de fita de nobreaa cdr de vosa, * eo DIA DE REIS. Desde principio da era christi a igreja com: meinora em todos 0s paizes ehristaos a chegada los tres Magos & Jerusalem, trazendo do Oriente ricas offrendas consagradas’ao Filho de Deus. Os ‘povos tambem solemuisio este aconteeimento re- Tigioso com divertimentos diversos ¢ confurmes a0 estylo desde longo tempo estabelecido em cada i. Muitas eeremonias téom logar, mais ou menos interessautes , que Se repetem t0dos 08 annos , ¢ se transmitiem de geracoes a geracdes. E’ admirayel a influencia do ebristianismo , que até mesimo nos prazeres publicos por mo- tivos delle nao se alterio os estylos primeira~ mente estabeleeidos entre cada povo. Seria longo, Ieitoras, euumerar-vos todos os usos dos dilferentes povos por occasiaio da festa dos Magos: nem mesino 0 poderiamos fazer com. esactidao, porquc uy Lemos presumpede de sa~ er tudo quanto no mundo se faz por este mo- tivo. Em Franca, por esemplo, & costume reuni~ rem-sef as familias para briuear alegremente , escolhendo d'entre as pessoas prescutes uma para presidir aos divertimentos. Para esta es- colli prepara-se_um delicado bilo, em cuja massa se fem lancado uma amendoa, 0 qual, par tido cm tantos pedacos quantas so as pessoas presentes, & servido aos convivas, e aquclic que toma 0 pedacu que contém a amendoa ¢ por to~ los 0s outros acelamado o rei, ¢ preside a festa, que cousiste em musica , dancas , passeios, bau quetes, etc. So Sabels o que se passa entre nds. Concorre mnuita gente para os arrebaldes da cidade: abi se JED, =. férmao brithantes companhias, que, entoando hymnos acompantiados por orchestras, viu dar descantes as portas das casas de pessoas de sua amizade. Geralmente se recebye ayiso, ¢ os donos das casas preparao casa ¢ esplendidas mesas para Teceber as companhias que os obsequeiao. Em geral é depois das onze horas da noite que sahem os bandos alegres de musices ¢ cantoras,, cujas suaves vozes parecem canticos celestes que inientio despertar a natureza evvolta no manto da noite, Eehodo as harmonias nos montes, e as dellas melodias vio esconder-se entre as folhas orvalhadas dos pomares ou repousar sobre as frias petalas das flores, que lamentio talvez nao ter uma vor. para respontier-hes. encantatlor e magnifico vor eaminhar pelas estradas esses batalhoes das mais bellas e ele gantes damas da nossa sociedade, ajando apr priados e seductores loiletles, ¢ acompanhar 0 ando festival até que a aurofa desperte a0 san dos hymmos, ¢ surja do Oriente a poli que se cscondio para que 0 sol possa brilhar sem dle Reis é sempre passado em numerosa companhia, em enjo seio nao cessa 0 constante folgar em que a surprehendeu o dia. Os musicos compoem hymnos; os poctas es- crevem 9s versos; as belias prepario todas as armas do foile(fe para o combate sempre renhido da conquista do throno da elegancia; os c: Iheiros dispoem com caleulada premeditaczo toda a sua affabilidade c delicadeza, 20 mesmo tempo que imaginio mil variadas impressoes que de~ verid equsar-Ihes tantos doces risus , tantos lindos olhos, tautos delicados collos, tantos. RES tantos encantos reunides.em cada companhia | Ihes uma poesia nossa como um brinde do Dia de para coummemorar os tres Reis Magos. Reis, esperamos que sejio aceitas as que transere- Quizeramos poder produzir um pensamento | vemos em seguimento deste artigo, por nos yare~ allusivo ao assumpto, ¢ digno delle e das nossas | cerem muito delicadas para merecerem a honra Jeitoras: na impossibilidade, porém, de offerecer- | de serem lidas pelas nossas clegantes amigas, PORSEA. MAGOS. I. Nos eos @ luzir, . De noite, de dia, E sempie se via Mais linda sorrir! Prostrai-vos, 6 povos, prostrai-vos por terra, Que a voz da verdade jé ides saber: Silencio nos valles! silencio na serra! Que'o livro dos anjos prophetas Yao ler! UL. Enxuga teu pranto , bom povo escolhido, _ Qu’o Géo vem remir-te, bemdita Juda ; Qs Magos tanto andario AAs duras algemas do pobre opprimido Tanto andara0,, que pariBo Bem cedo yartil-as o Eterno vird! Ao pé de Jerusalem Aos e608 volvendo a vista, Debalde... jf nio s'avista Estrella que jé ndo téem!!... ‘A yor dos prophetas fatlou inspirada Do altivo cabego do Monte Sinai; A tribu captiva, d'alegre pasmada, Eseuta bradar-lhe: « Judeus, exultai!! ‘Tantos sabios na cidade! A’s gentes é novidade Ea Herodes tambem ; Os Magos sémente créem, Qu’entr’os astros fulgir vem Estrella que ja nfo t¢em. Os annos passayao; 0 povo gemia Nos ferros pesados da vil servidio; « Mentirio prophetas, 0 povo dizia, As nossas algemias eternas serio! E todos perdidos, sem f8, sem esp’ranca, Ein breve s’esquecem da vor d’Isaias ; No crime se abysmio, ndo vem 4 lembranga Qu’o tempo chegira de vir o Messias busear em pacos d’ouro Divino, rico thesouro, « Qu’inda nio vira ninguem ; Mas debalde... errade o trilho A 44 wo céo nao luz o brilho, A estrella ja It mio teem Estrella formosa De luz radiosa Sacerdotes congregados, Se via luzi E d'Herodes perguntados... Eera tio bella Que respondem ? « Bethelem |... » A fulgida estrella Logo os Magos couhecério , De mago sorrir!... Pela estrella estremectrio, Oh uae cosa Estrella que ja nao tem! A virio lizente, NV. Risonha fulgir; . ‘Nos eéos accendida , E os Magos vierao, A senda da vida A Herodes disserao: Par'eia florir! «N63 vimos aqui Jue um astro luzente E logo a estrella i E logo « Li desde 0 Oriente 9 Seguirio tio bella No cé0 nos sortii... » BQ EXQeo pty « Vos vindes buscando (Lhes disse occultando A custo o furor) 0 Rei dos Judeos? 0 Eleito dos eéos?. Fallai sem temor « Sim... nds 0 buseamos , Na terra vagamos . Apox do Messias , Seguimos a estrella Que o fim nos revela Das mil prophecias!... » « Pois ide... ew espero, De vés saber quero ‘Tal Rei ond’esta Para ir adurato, Seguil-o e amal-o Com todo Juda! 0s Magos partidos Caminhao perdidos. Perdidos hio de ir?. A-estrella apagada Li foi avistada Nos céos a sorrir!... Oh! Magos! a estrella Segui, que revela A voz da yerdade. Das gentes 0 esp'rado Sera encontrado Em pobre humildad v. Os Magos tanto andario , ‘Tanto andario , que paririo, Entrados em Bethelem , E a0 eéo erguendo a vista, Nao debalde... que s'avista A estrella que os eéos 1 tem. E ld ao... ld vio seguindo Pelo trilho, que Iuzindo A estrella mostrar-Ihe vem... Entao em pobre pousada Entrdo... que fulge dourada A estrella que os céos li tem !... EY possivel?... Divindade Ser aqui nesta bumildade Ser aqui... tG0 sem ninguem?! oh! - que sobre ella x Cada vez briliia mais bella "CIEE Acestrella que os céos la tem!... Vi. Os Magos entrao... veem, Vendo eréem Assombrados Do fulgort... Era ali recem-nascido Filho q’rido Do Senhor!... Os pasiores ali se vido, Que dizia « Redemptor! » 0s Magos,, no que Ih'off'recem, Nao esquecem Seu amor'... E dali sahem folgando, E clamando: « Salvador! » E caminbio pressurosos , Receosos, Com temor; Mas um anjo se divisa Que 0s avisa Do traidor! Partem... fogem apressados , Desviados, Com terror... Vio todos louvar contentes , Reverentes, ‘Ao Senhor!! E Herodes raivoso aos Magos espera , Debalde que os Magos mui longe sio jd... E manda, bramindo, com raiva de fera, Matar innocents por todo Judd Matar innocentes! mas 0 anjo dos Magos 0 filho da Virgem do p'rigo salvou, E diz-lhes que fujio, em sonhos presagos... E logo fugindo, seu anjo 0s guiou!... Christios! a verdade, fallou-a singela 0 Filho do Eterno , Divino Jesus! Segui-at segui-a! que JG. de Barros ¢ Cunha. m vez d’uma estrella No cimo do Golgotha la tendes a cruz!! Que estrella tao ratilante Ali no Géo resplandece?! Que differenca tamanha No Mundo inteiro aparece?! Que Mai 180 pobre 6 aquella ?t ‘Tao pobre! no se desdoura De dar 4 luz seu Filhinho Numa alheia mangedoura Onde vio os Reis da Terra Seguidos de um povo immenso?t Que berco é esse quem levio 0 ouro, a myrrha, 0 incenso?? A luz de todos os astros Essa Estrella em si contém... Seu clarao mostra um caminho! Onde vai ter?!... a Bethlém! it NATUS EST JESUS ! © mundo, triste até hoje, F hoje um mar de alegrias! Por quem esperava 0 Mundo’... Por quem o salva—o Messias!... ‘A Mai to pobre & mais rica" Do que 08 Archanjos dos Géos ! Ella € quem livra os hymanos Da culpa de que ero réos! Os Reis da Terra se humilhio Diante da Divindade!.. Naquelle bereo descanga Todo o Bem da Humanidade!. Deus quiz descer hoje & Terra, Quiz—homem—ser dado 4 luz... De quem naseeu?... De MARIA! Como se chama?.. JESUS! Dr. Symphronio. a oe AS TRES NOWTES DE NATAL, I A LOJA DE MODAS. Em Lyon, em uma loja de modas situada na praca de Terreaux , esquina da rua de S. Pedro, estavaio cinco mocas, que pareciio muito occu padas. As cortinas da vidraga estavao corridas neira que se nav podia ver do lado de fra: davio dez. horas nu grande relogio da casi da municipalidade , e eraa vespera do Natal. — Vamos, mogas, aeabemos coin isto, se que- reis que facimos eeiata esta noite, disse com ar meio familiar, meio imperigso,,” outra moca , Anastacia, primeira cgstureiza de M.™ Cay ¢ que se di por sua magreza ¢ por suas preteneoes a dominar. Meu Deus, senhora,, nio se péde trabalhar mais do que & possivel, replicon uma mocinha de physiouomia viva, e'cujo nariz. fino ¢ arre- bitado estava sempre en ’air: demais, se a obra nio ficar hoje prompta, se acabara’ depois de amanha, — Isso uo, Sra. Tonina respondoua, bem sa- _beis que madame disse que estas encommendas tinhio pressa, ¢ que nao queria que as largassem sem estar acabadas. — Entio, toruou uma otra moga gorda , de cara cheia e’corada,, enjos hombros e peito lar gos annunciayao mais Vigor do que actividade , € se chamava Rosalia: cutao, se nao acabarmos hoje, nio iremos 4 missa da meia noite? Assim, antes quero ir ja deitar-me ¢ trabalbar amauh: — Nao digo'eu isso, respondeu Clarisse , t gueitinha, de olhos e cabellos negros, de physio homia viva e sagaz, e um olhar meigo ¢ pene- trante: eu nio quereria {altar 4 esta festa por todo o dinheiro do mundo: moga, dé a cada uma a sua tarela, e quem for preguivosa queixe-se! ‘A primeira costureira approvou e pox em exe- cugio a prudente proposta. Durante um quarto de hora era tal o silencio que se podia cuvir 0 barulho das azas de uma mosea, Be vez em quando Tonina levantaya o sou na- rizinho toreido © fazia uma car pava a moca primeira costureira. — Ab! senhora, consinta que se converse um pouco: se nao, dormirei em cima da costars — Esta Rosalia ¢ insupportavel com o seu de~ sojo de tagarellar, retorquin Clarisse: miuha ca- marada, Lendes muito tempo de dormir em todas as noites dla anno para passar esta acordada. — Enlao dize-mé, Clarisse: irds sdsinha a S. Pedro esta noite? — E voeé, Tonina? — Bem sabes que nao; 0 meu noivo Ernesto 6 muito eiumento para consentil-o. — Foiseu, disse Rosalia, ja mandei dizer ao meu Charlesle-Gros que \ueria comer chou Tigos braucos, com vinho wraneo, e... Ostras... e... € uma sopa de cebolas ¢ queijo. Gésto muito disto. noe — Esta Rosalia vive para 4 boda! replitou com desdém a Sra. Anastacia. — Eis ahi! € preciso tratar bem da saude. ‘Vés, para quem tudo passa seat proveito , fazeis em ein nav comer. . — Abt acabei! exclamon Tonin: = Tambem ea, disse Clarisse: que fortuna ! Ainda ndo so onze horas: Lemos tempo de taga- rella win poueo, Clemenca, 10 dizes cousa al- una est noile . GUN Na forma do costome, tornou Tonina: & a Sra. Taciturna que rumina 0 seu pasado. ‘Aquella de quem Tonina zombava era uma moca de dezoito annos,, alta, delgada, morena , de olhos azues ¢ compridos cabellos pretos. Una physionomia pallida e melancolica , faces uin pouco descarnadas, aununciavao um soffrimento lento ¢ continuo: fallava pouco, mas vonca de objecto que Ihe dizia respetto. A’sua brandara ¢ condesceudencia a fazito amada por suas compa- uheiras, cujos prazeres ella nae partilbava. Ape- zar do yr uobre e distinclo , simples ¢ modesto de suas maneiras, tinha sabiddo evitar o seu ciume. Emifim ,snunca se ouvia uma queisa da sua boca; nunca, desde um anno que ella ahi es- tava, se The tivha*ouvido fallar de passagens de prazer, nem conhecido a mais pequena intriga. Muitas vezes, ao amanhecer, tinha ella us ollios fondos fela insomnia, ¢ vermelhos pelo pranto; porém, como a sua dor era muda, uinguem a in~ terrogava. Clemencia edrou com o dito de Touina, ¢ seus olhus, cheios de lagrimas, abaisarao-se com presteza, ; — Sois muito mi, Tonina, disse Clarisse na~ turalmente affectuosa, e principalmente, para Clemeneia, com quem ella muito sympathisava. — Mocas, interrompeu Anastacia, se vos agrada, mandemos avisar esses seuhores para nds virem buscar 4 meia noite. Eu sei onde cucontrar 0 Sr. Gustavo: esti no café de da oune France, ries tambem , disse Rosalia. —E Ernesto tambem, disse ‘Tonina. —E yoeé, Clarisse, fornou a yer aquelle su- geito trigueiro, que ihe fallou o vutro dia em Breteans. —Sim, disse Clarisse, deve esperat-me a meia noite ia porta de §.’Pedto. mie me — Foig bain! Havenios de convidal-o para a nossa celata, — De que feitio é élle? perguntou Anas- tacia. . — E° trigueiro, com cabellos ptetos e anne- lados, nariz granle, olhos pretos e to brilhan- tes-que causao nfedo« —Como se chama? perguntou tinidamente Clemencia, edtando e sém levantar 08 olhas. — Ainda néo sei; mas penso que nio'é Francez. - - —Talvez soja Maliano, tornou Clemencia ainda mais periurbaba. — Gu Hespanhol, disse Tonina: cu j4 0 ouvi falar mas elle tem a lingua bem desembara- ada. —.Que méu gosto seu, Clarisse! Eu sé gésta dos Francezes, ¢ particularmente dos Lyonuezes. ‘Todos o3 mais sio enganadores; nao é assim , Clemencia? Clomeneia parecia estar incommodada, e nio sabia como responder; inas Clarisse veiv ‘ao seu soccor ra, se para esperar a hora se contasse historias? — Sim, sim: bem Jembrado! Tiremos 4 sorte quem contaré primeiro, disse ‘Touina, pusando um baralho de cartas do bolso do avental. — Quem tirar um rei serd a primeira. — Ah! bem; cahin bem, disse Tonina: é Cle- mencia, quem’ comega. Que sorte! Ella, que thunea fall! — Mocas, eu nio svi his outra. storias; pego que uma 30, no, nao, sois vis! Nac ha remedio, ha de comegar. Clemencia esforgou-se; no obteve desculpa ¢ foi obrigada a contar a historia. — Pais bem! deixem-me subir a0 meu quar= to; eu vos lerei um manuseripto qu: jussuy. ~ Pois sim, vi depressa, ¢ volte ja. Um momento depois, Clemencia ‘estava de volia. ‘As quatro alegres mocas collocérao-se em rola de un lampeio, ¢ Clemencia, assentada perto da mesa, @ veeuita pela sombra do tapa- {uz do lampeto, depois de um momento de pausa, comecou a seguinte leitura. (Continiia). ooo BOLETIM MUSICAL, Como ha ja bastante tempo que no havemos tratado do inundo musical, cumpre que, come- gando 0 anno, digamos alguma cousa sobre os progressos qe, a Srieucin tem feito pelo ausilio, do grande numero de difettanti deste bello Rio de Janeiro, Comegarei por noticiar-vos, leitoras, que al- guns amadores, quereudo cantar um Te-Deun ho ultimo dia Wo anno, em acgio de gracas a Deus, por lhes haver conservado a vida até esse dia, preferirao para esse fim a Igreja da Veuera- vel Order Tereeira do Hospicio, cuja adminis aragie no $6 de boa voulade prestou a igreja como tambem acompanhou os devotos, assi Lindo em corporagao a esse acto réligioso, que comecou por uma eloquente locugio feita’ pelo Rev." conego Paiva ; seguindo-se a exposi do $S., durante a qual o-céro enteou um novo dies Taiilum ergo, composicio de admirayel impro- viso do iusigne pnd Giannini. ‘Seguiu-se ‘umm novo Te-Deum, bella composigao de um ama- dor, executado por seis senhoras, uma mening, um professor e quatro cavalkeiros, que forao acompanhados no, orgio pelo Sr. Giannini, com violoncello ¢ contra-baixo. As Sras. Dona F. R. e Dona If. de C. can- tério 0 duetto Te gloriamus ;.0 Sr. J. J. da S. Re Junior cantoy o soloSanctuim quogue ; a Sra. Dona $. R: de M. eantouo solo Tiv devicio ; a Sra Dona M.R. eo Sr. L. 0 duetto Dignare Domine. . Durou_a ceremonia das 7 42 is 9 horas, quando foi coneluida, tendo produzido admira~ vel effeilo a exceliente execucdo e concerto de todas as yozes, nao obsiaitte 0 estado do orgio nio correspunder aos desejos de tio distinclos amadores, oma £? um grande melhoramento na scieneia mu- sical o gosto que se manifesta pela musica sacra, que até agora tem sido Larbaramente confun- dida com a profana, a ponto de se tiravem pe~ dacos de operas italianas pava os applicar as pa- Javras dos psalmos ¢ as oragdes dus Solemnidacles religiosas. sa 0-Sr, Bento Fernandes das Mereés tem con—— seguido formar uma. oscolhida bibliotheca. de musica sagrada, .¢ sentimog que este’ servico prestado a sciencia, por este distincto professor nao seja apreciado em toda a sua importancia. Sabemos que Ja hove idéa de organisar-se uma sociedade ou companhia destinada a constituir uma bibliotheca em grande-eseala: ¢ é muito para sentir que mio, vigorasse esta idéa_util pura o paiz, ¢ sem dayida-lucrativa para:a enipréza. Fe- lizmente 0 gosto que comega ‘agora a desenvol- ver-se parece prometier um futuro mais bri- Ihante para esta sciencia no Brasil, onde o ta lento © 0 genio, convenientemente aproveitados e cultivadds, rivalisardo talvex ‘com os da afa— mada Italia, sob e1jo eéo tem nascido os maiores ‘compositores, e tem sido produzidas as mais ad- miraveis e inspiradas lrarmonias, Procuraremos ter a possivel regularidade em day este: artigo 4s nossas assignantes todos os domingos, procurando nelle informal-as de tudo quanto possa ter chegado 20 nosso conhecimento a tal respéito. Corina, $$ Sar PRECO DE UMA MULHER APRICANA, Uma partida de colonos inglezes em Africa, cacando no interior, reéolheu-se uma noite em uum rancho de Indios eafres, e a conversagio re- cahiu sobre as mulheres. « Quantas mulheres (perguntou 0 Cacique ) costuma ter um marido em inglaterra? » Um da partida responder ¢ que nenhum Inglez, nem mesmo El-Rei, tinha ‘mais de uma. » E qual é em Inglaterra 0 prego de uma mulher regular? replicou 0 Indio. Entao © informérao que ém Inglaterra nao se dava di- uheiro por mulher alguma’, e que era raro 0 que ia uma, se ella nao Crazia dinheiro para o marido. «Vs. sio gente celebre, replicoir 0 Indio; entre nés ninguem pode obler uma mu- Ther regular por menos de doze bois , e uma su- perior custa até sessenta animaes. J vejo que as Inglezaz nio prestéo para cousa_algunia, -visto que seus pais dio dinheiro aos mavidos para que as tomem, » Anecdotas. Uma dama soffrivelmente feia, gracejando com ‘wma sobrinha, rapariga de quinze anos, verda- doira aujo-demouico , dizia-lhe — Luiza» io Acompanka este n, fagas caretas, que isso enfeia,—ao que o diabrete respondeu : — Ento muitas fzestes vés, minha tia. Admirando-se um amigo do celebre poeta Mil- ton, que este ainda depois de cego tivesse acha- do uma senhora que com elle houyesse querido casor, retorquiulte Milton — Ah! nieu amigo, se eu fosse tambein surdo, era o melhor maride de toda a luglaterra, CHARADA. Sea Lilia ingrata Assim chamaya , 1 Sem piedade De mim zombava ! 2 Eu, de seus olhos, Preso, captivo, A meu pezar, Ind’hoje vivo! GM. a a. eee A charada do n.° passado é: Cosmetico. 4 uma estampa com figurinos de estar em casa, de pasceio, e de crianca. Tre. Do Jornal das Senhoras, ROA vo CANO N. 165.

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