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DEDINHOS DE PROSA COM UM FLAUTISTA MIRIM

Dóris Leandra

Ilustrações: Helena Dantas


DEDINHOS DE PROSA COM UM FLAUTISTA MIRIM
Dóris Leandra

Salvador
Dóris Leandra da Silva Barbosa
2019
Autora: Dóris Leandra
Ilustrações: Helena Dantas

Copyright © 2019 Dóris Leandra


Todos os direitos reservados
dorisleandra@gmail.com
Dedico esta obra aos meus pais e avós, meus filhos, familiares, amigos.
Aos meus mestres, educadores, a todos e todas que iniciam.
O início a que me refiro não é um partir do zero. É não linear. Atemporal.
Início aqui é o espaço para desenhar novos caminhos...
O ASSOBIO 6

PULANDO COM SACI 8

DESEMBOLANDO 11

CAPOEIRA 14

AGOGÔ 17

MEU BERIMBAU 20

BRINCADEIRA DE ANGOLA 23

UM FIM 26
O ASSOBIO

Oi, camarada! Meu nome é Patápio, sou um flautista mirim,


tenho 8 anos, já sei ler, escrever, agora estou aprendendo a
reconhecer as notas na pauta musical! Gosto de tocar flauta
embaixo do araçazeiro no quintal da casa dos meus avós, onde os
pássaros podem me acompanhar nas melodias que invento quando
recordo minhas aventuras, isso acontece todo final de semana.

Um dia meu avô estava lavando roupa, depois eu quis


estender as roupas já lavadas, enxaguadas, bem limpinhas! O varal
é um pouco alto, mesmo assim tentei, esticando bem os braços
para alcançar a corda amarrada no pé de araçá. A árvore estava
cheia de frutas maduras, cheirosas, deliciosas!
Estica daqui, encolhe de lá, aquele silêncio um ruído veio
quebrar! Escutei um som fininho, longo e tão fraquinho,
parecendo um assobio. Eu abaixava para pegar a roupa molhada
na cesta, mas era só eu levantar os braços para alcançar o varal,
olha o som outra vez! Talvez tenha sido o canto de algum pássaro
feliz por bicar araçá, o timbre doce parecia com o da flauta.

Só sei que até hoje aquele assobio atiça a minha curiosidade!


O que ou quem pode fazer esse som?
PULANDO COM SACI

Minha avó tem o costume de contar histórias antes de eu


dormir, ou então leio um livro até o sono chegar. Uma noite vovó
contou uma história que ela ouvia quando era mocinha, dizia que
nessa região mora um menino ágil e brincalhão chamado Saci, um
redemoinho de vento que vive assobiando pelas redondezas!

Na escola aprendi que o saci-pererê é personagem tradicional da


cultura popular, presente em livros, cinema e televisão. Ele
inspirou importantes compositores brasileiros, como Villa-Lobos,
Chiquinha Gonzaga, Tom Jobim. Pererê também encanta nas
histórias em quadrinhos de Ziraldo, elas já se transformaram até
em animação!
Sexta-feira fui dormir depois de ler uma das aventuras do saci
de Monteiro Lobato, aquele do Sítio do Picapau Amarelo, não é
que acabei sonhando com o danado? Saci me chamando para
passear e eu avisando: vou, mas vou rápido, pulando igual pipoca
na panela, ou como costumam dizer por aí, vou num pé e volto no
outro!

Vou ali, volto já


Com Saci vou passear
Vou num pé, vou ali
Vou pulando com Saci.
PULANDO COM SACI
DESEMBOLANDO

Depois de uma noite cheia de sonhos foi tão bom acordar com o
cheirinho do café da vovó! Minha avó cozinha muito bem, faz
delícias para o café da manhã, prepara pamonha, cuscuz, beiju,
mingau, ela até cultiva a raiz da mandioca no quintal.

Minha bisavó ensinou minha avó, minha avó ensinou minha


mãe, eu também quero aprender! Ainda vou fazer maniçoba,
cuscuz de tapioca, porque a mandioca pode até ser venenosa, mas
dependendo do preparo ela não é perigosa.

Vi minha avó preparando mingau de carimã, ela me explicou


que é preciso mexer bem com a colher de pau para não embolar.
Fiquei pensando, se um dia isso me acontecer, já sei o que vou
fazer!
Vou cantarolando
Lá, lá, lá! Nhã, nhã, nhã!
E desembolando
O mingau de carimã.
DESEMBOLANDO
CAPOEIRA

Ontem minha amiga Iaiá veio me visitar, estava um lindo


sábado de sol, então ficamos brincando no quintal. O quintal da
casa dos meus avós é grande, andamos pra lá, corremos pra cá, até
subimos no pé de araçá. Perseguimos borboletas, fizemos de tudo
um pouco, nos divertimos muito!

Quem disse que eu fiquei cansado? Perto do araçazeiro tem


um mato bem ralinho, perfeito para o meu jogo preferido,
capoeira! Começamos a cantar, dançar, passamos a tarde toda
gingando, caindo pra um lado, saltando pra o outro, imitando os
animais com o nosso corpo.
Vou tocar, vou cantar
Capoeira vou jogar
Vou dançar com Iaiá
Vou brincar sem me cansar.
CAPOEIRA
AGOGÔ

Hoje bem cedinho Iaiá veio brincar e trouxe junto Ioiô, seu
irmão mais novo. Iaiá e Ioiô é uma forma carinhosa que eu tenho
para chamar meus amigos. Iaiá tem a minha idade e também adora
brincadeiras radicais, mas seu irmãozinho acabou de aprender a
andar, precisamos ter cuidado, se ele está por perto, nós não
vamos muito longe.

Ioiô adora percutir, então pegamos a caixa dos instrumentos,


ele escolheu logo o agogô e já saiu batendo com uma vareta. A
cada som que produzia ele ria. Cada tom, cada tim, fez Iaiá se
divertir! Gostaram tanto da brincadeira que convidei os dois para a
roda de domingo, na Capoeira meu avô é mestre.
Vou tocar agogô
Na roda do meu avô
Eu vou lá com vovô
Com Iaiá e com Ioiô.
AGOGÔ
MEU BERIMBAU

Eu gosto tanto da Roda de Capoeira e do Samba de Roda


também! Hoje fui com meus amigos, toquei agogô, mas eu
também já sei tocar reco-reco, atabaque, pandeiro, agora estou
aprendendo berimbau.

Já dizia seu Pastinha, mestre do meu avô, “bom capoeirista,


além de jogar, deve saber tocar berimbau e cantar”. Eu gosto
muito de cantar e mais ainda de tocar, quando escuto o berimbau
viola, o menor berimbau da roda, é tão bom!
Tocar meu berimbau
É tão bom, vou tocar meu berimbau
Meu berimbau, meu berimbau
Txi-txi, tom, tom-tom, tom
Txi-txi, tom, berimbau.
MEU BERIMBAU
BRINCADEIRA DE ANGOLA

O fim de semana na casa dos meus avós está quase acabando,


eu já estou ficando com saudade do cheirinho do araçá, do
gostinho do mingau da vovó, das brincadeiras com os meus
camaradas! Saudade também do som do gunga, o maior berimbau
da roda, tocado por meu avô.

Mas amanhã tem aula de música! Vou contar a história que


estou terminando de escrever e em plena segunda-feira apresentar
uma canção que fiz relembrando a Capoeira.
Brincadeira de Angola
Tim, txi-txi
Tim, txi-txi
Tim, tom, tom

Capoeira tem viola


Tim, txi-txi
Tim, txi-txi
Tim, tom-tim, tom

Toca gunga sem demora


Tim, txi-txi
Tim, txi-txi,
Tim, tom, tom

A canção que fiz agora


Tim, txi-txi
Tim, txi-txi
Tim, tom-tim, tom.
BRINCADEIRA DE ANGOLA
UM FIM
DEDINHOS DE PROSA COM UM FLAUTISTA MIRIM

Dedinhos de Prosa com um Flautista Mirim conta as aventuras do menino Patápio


durante um final de semana na casa dos avós, ele compartilha suas memórias
cotidianas com um sotaque regional, apresentando diversos saberes da cultura
popular. O livro estimula fazeres musicais e artísticos, tendo por principal inspiração
a Capoeira Angola e o seu universo lúdico. A história vem acompanhada por
ilustrações e versos que podem ser recitados e/ou representados, por exemplo, com
movimentos corporais. As melodias, afinadas pela voz daqueles que iniciam a
aprendizagem musical, especialmente com flautas e pífanos, deixam a prosa ainda
mais interessante!

Dóris Leandra nasceu em Salvador, Bahia, Brasil, 23 de junho de 1984. Iniciou os estudos
musicais em 1990. Em 2008 começou a experimentar os saberes da Capoeira Angola. Em 2011
retomou os estudos em Dança, também iniciados nos anos 90, graduando em 2018 nesta área de
conhecimento. Apaixonada por literatura, celebra quase 30 anos de vivência artística em sua
primeira obra publicada, Dedinhos de Prosa com um Flautista Mirim.

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