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ELES NAO FALAM, NEM VEEM, NEM OUVEM; ELES SE MEXEM 0B ESSE TITULO ENIGMATICO, tratarei do gazeteiro moderno e, em seguida, da crianga agitada e sua mae. A RESPEITO DO GAZETEIRO | Os sintomas de inadaptagao_da_crianga_a escola nao_alarmam_os _analistas_tanto_quanto_os educadores: a normalidade escolar em nada garante a satide mental. Em psicandlise, alids, € tradiga0 con- siderar a normalidade escolar um sintoma, ao mesmo tempo que a distancia em relacdo 4 norma atrai nossa indulgéncia. Os superdo- tados, os conformes, os demasiado obedientes macaqueiam demais © mestre para receberem nossa simpatia. Em compensagao, reve- lamos no desvio uma espécie de protesto da libido. De Jean Vigo a Jacques Prévert, acrescentando Frangoise Dolto e Annie Cordié, ndo se quer mal ao gazeteiro por sua impertinéncia ou malicia. Nio €squecamos ainda o poema de Prévert: Eapesar das ameacas do mestre, sob a gritaria das criangas prodigio, Com gizes de todas as cores, 53 Digitalizado com CamScanner Ele desenha 0 rosto da felicidade sobre o quadro-negto dos d bores (Prévert, 1949: 63), Cito outro da mesma veia: Bandido! Pivete! Panga! ‘A matilha das pessoas de bem Esta a caga da crianga (: 86).? Hoje, é claro, a psicandlise nado é mais ingénua o sintoma escolar com a insurreicao da criatura, vamos ficar na contracorrente das orientacdes adaptativas, da per- formance e do rendimento escolar. Nao apenas 0 clinico nao retira seu pedo do jogo, como também a psicanilise aplicada ao sintoma escolar quer rivalizar com 0 comportamentalismo, triunfante e as demais psicoterapias. E por isso, vez mais solicitada. De minha parte, assinalo: Para confundir mesmo que de. 0 Cognitivismo alias, que ela é cada Débil! Autista! Drogado! Tratante! A matilha de pais e maes Esté a caca dos cuidantes. Onde entao as praticas de ontem e as de hoje diferem em face do sintoma escolar? No que respeita as dificuldades de aprendiza- gem observadas — distracio, disortografia, na leitura de textos literdrios, inclusive ni deram-se esses déficits tradicionalmente dislexia, incompreensio as salas de prova -, consi- sintomas, ou seja, signos N- do 1. No original: “Et malgré les menaces dur mattre/ Sous les huées des cnfints prodiges/ Avec des craies de toutes es couleurs) Sur le tableau noir du tmalheut/ Il dessine le visage du bonheur”, Nn. do, No. original: “Bandit Ul Voyou! Chenapant/ C’est la meute des honnétes Bens! Qui fait la chasse aTenfant™, N do t.. No original: “Débile! Autiste! Drogué! Remuant!/ C'est la meute des Parents/ Qui fait Ia chasse aux soignants 4 ENSAIOS DE CLINICA PSICANALITICA Digitalizado com CamScanner ge uma crise subjetiva, dos deslocamentos de conflitos, dos efeitos 1e. A orientagio freudiana consagrou 0 valor do conceito Jesignar o conjunto dos fendmenos que entra- aja vista os afetos o perturbarem. No entanto, com 0 saber, o valor do recalqu de inibigao para ¢ yam o pensamento, vnesmo que a neurose se cristalize na rel agalmitico deste nao estd em questdo. Ao contrario,.o sujeito, de jcordo com Freud, tropeca devido ee eee 3 idealizagao da performance, Ele faz. nun sta east masiada ou licizagdo.do saber. A paixao pelo fracasso entra em jogo, assim como a autopuni- censura do supereu etc. Quando se trata de elucidar a estrutu- ra conflitiva do sintoma, a psicandlise se vé como um peixe n’4gua. Hoje, penso, devemos enfatizar outra vertente do sintoma. Sera ele ainda decifravel em termos de conflito? E ele que est4 em jogo num conflito com 0 Outro? Em suma, falemos do gazeteiro moderno ou gio, a pos-moderno. ‘Antes de decidir sobre o diagnéstico e inclusive para ajudar a estabelecé-lo, verifiquemos que relacao 0 sujeito mantém com 0 va- lor do saber. Vé-se que a disposigao do sujeito para aprender, para se decidir a aprender ou, como diz Lacan, para “aprender_a.apren- der” implica o saber como objeto..O saber é.causa de desejo? Assim como hoje realgamos as consequéncias do discurso da ciéncia sobre a produgao de objetos, constatamos a confusao entre o saber esco- lar e qualquer outra mercadoria rotulada com a categoria de util. O “despotismo do util’, como enfatizado por Jacques-Alain Miller, homogenefza todos os saberes. Antes de ser subjetivado, 0 saber se encontra.no real, Disso decorre 0 protesto do débil, descrito por Marguerite Duras, que declara nao pensar em “aprender coisas que nao sabe” (Duras, 1990). Define-se 0 pés-modernismo como 0 pro- prio princfpio desse rebaixamento: se todos os saberes se equivalem, testa saber como fazer para distingui-los. Acrescentemos que o saber como objeto-4, agalmitico, Outro, sendo preciso, portanto, supor.o saber-ao Outro. O gazeteiro moderno faz, a disjungao entre 0 Outro parental e 0 Outro tesou- reiro do saber. Nessa perspectiva, a indiferenga em relagao aos valo- tes escolares nao se resume ao recalque. Avancemos 0 termo recusa estd no 8 LES NAO FALAM, NEM VEEM, NEM OUVEM; ELBS SE MEXEM 55 Digitalizado com CamScanner (Versagung), “rect ‘© sujeito recusa € § ‘Tal espécie de anorexia mental, ou melhor, de a ao mental, evoca-nos lembrangas. Aqui, todavia, xia mental invertida, Para Lacan, o sintoma do He frescos nao estava centrado no conflito com o p; ago, como ousa uma tradugio, De tog recusa, © modo, trata-se de nore. oMeM dos miolos cent ali. Prevalecia est, fantasia: apenas as ideias dos outros sio boas para serem comid, las, A possibilidade de ele préprio ter ideias nao lhe ocorria, De todo modo, as ideias eram boas nao para se ter, e sim para comer, reme. tendo ao que Lacan chamava de “uma relacao oral primordialmente “truncada”, Isso quer dizer que uma simbolizacao nao operou como sublimagio sobre a pulsio. Em nosso caso, ao contrério, por o Ou- _tro.em questio retira todo o apetite, resultando disso duas funcées conjugadas em tal recusa: em primeiro lugar, a epistémica—o saber inutil; em segundo, a anorexia, falta de gosto pelas ideias. O esforco incluido na cogitagéo implementa a castragao, assim como abala a certeza de ser. Caberia declinar esse sintoma com base nas elaboragées de Lacan feitas na subversio do cogito em “O Seminario, livro 15: 0 ato analitico”: “Nunca se est tao seguro de seu ser do que quando nao se pensa” ~ ali onde sou, nao penso (Lacan, 1967-8a). O saber, se ele di- vide, ndo é uma aquisicao, sendo possivel defender seu gozo em face _da divisio pelo saber. E possivel ser gazeteiro e orgulhoso de sé-lo. Das formulagoes precedentes nao se pode concluir por uma desafeicao pela instituicgao escolar. Muitas fungdes e objetos pre- ciosos se encontram nelas concernidos: as mogas, os rapazes, 0 haxixe, a ostentacio, a extorsio. Os mais delinquentes nao sao 0s mais indiferentes coisa escolar. Algumas vezes, eles atestam @ disjungao entre escolaridade e pedagogia, tao cara a Jean-Claude Milner (1984: cap. 3). Contaram-me um caso de um jovem ne- gociante manipulado por chefes de gangues de subtirbio. Ele j4 esta miliondrio; percorre, de bolsos cheios, as boates dos Champs- ~Elysées com seus colegas: turné geral, nos bares! Um dia, a co's vai mal com um de seus comparsas, a quem ele fere na perna com uum tiro de revélver, Foi preso. A jovem psicéloga que lhe pergunt © que acha desses estragos responde que era injusto prendé-lo na cA 56 ENSALOS DE CLINIGA PSICANAHITH Digitalizado com CamScanner gua idade: “Se soubesse, teria mira a minha educagio” Melhor na escola do que na prisio, & claro. Ao menos para os gazeteiros, defendamos a escola republicana. lo mais alto, A juiza fudeu com A CRIANGA AGITADA E SUA MAE Constatamos.a.existéncia de comportamentos chamados de hiper- ativos: a.ctianga.nao para no lugar, agita-se sem_que seu comporta- mento possa-ser imputado a.uma necessidade. Um corre em todas as diregdes, outro se excita durante todo o dia vendo videos, outro ainda foge de casa para correr de carro nas ruas. Essa clinica ressalta, sobretudo, o-corpo.como_puro_objeto_pulsional, enfatiza-o-card- ter.acéfalo da pulsdo, a auséncia_de_intencionalidade e de identi- _dade subjetiva num movimento perpétuo. Obviamente, atribui-se a agitacdo a supostas intengGes do Outro. Poder-se-ia dizer que a crianga se defende da angustia desencadeada pelo Outro, por meio de uma fuga desenfreada? Trata-se de uma formula que serve para qualquer coisa, assim como esté ultrapassada no que concerne as observagées, hoje classicas, de Rosine e Robert Lefort a propésito do jogo e de Robert: “sua corrida sem fim de um canto ao outro, de uma sala a outra” (Lefort & Lefort, 1981: 25), valendo-lhe o diagnés- tico de “paraplegia espasmédica”. Por meio dessa agitacao, a. crianca aterrorizada atesta_antes_a impossivel separacdo de um “Outro_es- sencialmente presente” (Laurent, 2002). No que diz respeito 4 an- Bistia na psicose da crianga, a psicandlise, portanto, atualizou-se: érelacionada a presenga e no a auséncia do Outro. ATRASO DA PRATICA Antes de avangar, no entanto, vejamos como 0 problema se apre- Sentava para os educadores e psicoterapeutas nos anos 1970. Nessa €Poca, um conflito opés os partidérios de uma psicandlise ortodoxa 4 praticas marginais que se inscreviam nas pegadas de maio de 1968, BLES NAO FALAM, NEM VEEM, NEM OUVEM} ELES SE MEXEM 57 Digitalizado com CamScanner vale dizer, a corrente antipsiquiditrica e antieducatiy, : ¢ a1 de que da crianga de 1967 se fe 0 sim. © eco ( i 1968), conduzidg posio sobre a psico: 1.0 tempo de uma contestagio do Edipo psicanalitico, depois por Gilles Deleuze ¢ Félix Guatt Pode-se dizer que ha um atraso da prtica analitca com erianga em felagio ao ensino de Lacan dessa mesma época: clinica dot do objeto a, do gozo. Esse atraso propiciou o sucesso de O anti. ipo (1972). Em seguida, Mil platés (1980) se dedicaria ao tema das derivas esquizofrénicas com suas linhas de fuga, a ideologia da vagabunda- gem, as intensidades opostas as estruturas e a repercussio sobre sintoma moderno do mais-gozar capitalista, agente das grandes sub- verses pulsionais, chegando ao corpo sem érgios. Nada que Lacan no tivesse dito em seus Seminarios dos anos 1970. Em tal contexto, a pratica de Fernand Deligny, por exemplo, al- canga certo destaque, ao se pautar pela criacdo de uma espécie de refiigio nas Cevenas, verdadeiro parque de animais onde as crian- as psicéticas podem dar livre curso aos seus delirios. Tidas como -Seres que se haviam despedido da linguagem_e eram indiferentes 4 fala, essas crian¢as sao observadas em seu trajeto.e, nas palavras.de Deligny, em “seus rastros de errancia” Eo caso de se dizer: os no tolos do Outro e da linguagem erram. Trajetos e linhas de fuga delineiam um programa que, para Deleuze, torna-se o mobil de uma batalha ordenada contra a psica- nilise: 0 programa contra a fantasia, o fora de sentido do real con- tra a interpretacao familista. Alids, procede-se a tragados que ates- tam esses trajetos sem finalidade como se eles fossem 0 contorno de um vazio e consagrassem um real a retornar sempre ao mesmo lugar, tal qual um ritornelo. Dir-se-ia que o sujeito traga um terri- tério que nada limita. Trata-se do vir a ser animal da crianga que Deligny se esforca em descrever numa linguagem pottica. A respeito da agitacao, ele invoca a Coisa freudiana nao sem uma referéncia embaragada: “Ao vé-los tomados por esse balangar, dizemos que eles se balangam quando, para dizer a verdade, o ‘se’ que lhes atri- bufmos é bastante conveniente. De saida, nés 0 borrifamos neles, ainda que para exorcizar o que os assombra, este ndo nominavel terrivel que os impele a gesticular” (Deligny, 1975: 132)- 58 ENSAIOS DE CLINICA PSICANALITICA Digitalizado com CamScanner \ FANTASIA MATERNA E SUA ES ATICA ssa etologia clinica desencadeou, é claro, a raiva de Maud que farejava ai uma ideologia fascinante, 4 qual opunha “Mora entrea crianga e 0 desejo da mae ou suafantasia, io se dava muita atengao a essa diferenga. Tal didlogo de surdos chama a nossa atengao hoje, em razio da clinica postulamos. Considerar esse real nao equivale.a deixar do real que d re gitar na linguagem ou-no-desejo-de restacar Ja co social. a apenas a Ritalina para tratar da Se nao fosse esse 0 CaSO, have! Mannoni, a fala medi pois nessa época Ni hiperatividade. O congresso de 1967 foi, ematica estava em const portanto, a ocasiao de afirmar que uma clinica cin trucao. Entendo por isso uma cli- nica do corpo em movimento, que nao deve ser confundida com outra, energética: a de um corpo sem 6rgaos entregue @ méquinas de gozo. Tree clinica do movimento.certamente se-opoe-hestatica da fantasia, uma vez que acinética da pulsdo se diferencia do cine- ao neomaciente.O que €a energia de um. corpo.em. mavinen-® nao existe, segundo Lacan,energética do goz0,se¢ aagao.do sig- nificante sozinha, ou sua retirada, que opera sobre as.intensidades jonais? ‘As necessidades 6 se satisfazem bra Lacan. Acrescentemos: sem ritmo, O Manual Diagnéstico e Estatistico de Transtornos Men insiste em distinguir os transtornos obsessivo-compulsivos (roc) dos casos de hiperatividade. O carretel de Freud.é ce quéncia, quando se trata de inscreve! gitagao da crianga no Fort- Da imposto pela fantasia do. Outro. Outros. modelos cinéticos, po- rém, esto A nossa disposicao, quando distinguimos umaclinica do i i to impulsivo do acting-out por meio do movimento, lem- sem trajeto estereotipado. tais (psM1V) tasia se refere as du: sujeito pr onimia lo; de Freud, 0s histérico ali onde acre- exual (Freud, 1909: 165). através do aro de papel da fant niaca, por rejeigio do objeto.a, torna.o- num deslizamento interminavel da.met vertente mortal da excitagio. Logo depois deram a generalizar o problema do ataque ditavam perceber a pantomima da relagao ELES NAO FALAM, NEM VEEM, NEM OUVEMS BLES SE MEXEM 59 Digitalizado com CamScanner Lacan faz uso do termo “pantomima’, que merece sep Fetoma c sip para além das formagoes do inconsciente (Lacan, 1957: 452), A dificuldade reside em articular tal cinética com 7 1 Fantasia do Outro, notadamente nos casos de comprovada ABILAGIO Psicgt, ica, para nao ceder aos pres igios imagindrios do cinema de agio, p D a pages anes “i samos no efeito que o significante “charivari” tem sol ei | bre 0 pequeng Hans, certamente mais discreto do que os videos Pornograf tos no quarto dos pais pela crianga indiscreta, Por fim, o vocabulirio freudiano inspira hoje alguns Cognitivis. tas que reabilitam a paraexcitagéo como tradugao possivel da Passa. gem do cognitivo ao analégico. Aprendemos a esse Tespeito: “o que se vé sob a forma motora s6 pode ser o reflexo da maneira como isso ocorre no interior. A crianga é agitada tal como suas ideias 9 sio” (Tassin, 2001). Essas observacées, é claro, sao favoraveis ao uso de Ritalina, que, longe de ser um inibidor, é uma anfetamina: Poe- se em marcha a paraexcitagao. Eo momento de atualizar o par sintomatico a crianga agitadae sua mae, parafraseando um célebre titulo de Maud Mannoni, Cabe combinar-a agitacao_pulsional.com.a estatica da fantasia materna, tal.como.dissemos. Contrariamente ao que afirmam a neurobiolo- gia e os especialistas em transtorno de déficit de atencao e hipera- COS vis. 2\2. tividade [attention deficit hyperactivity disorder], é dificil imputar a I~ sindrome a um deficit da atensao. Quando os médicos se esforcam < \ % para observar e se dar conta de tais condutas, seu préprio estilo 2S 3 se entusiasma, passando a imitar o que tratam, numa espécie de 3 JV mensagem auténima. O gozo vem rechear todos os sintagmas ver- “&_ 4 bais. Podemos dizé-lo assim: “As criancas hiperativas tem também 3 5 Recessidade de tocar em tudo [...]. Esse comportamento traduz, a 3 i os um 86 tempo, sua grande agitacdo, sua falta de controle motor e sua 8 ) Q impulsividade. Remexer, amassar, agarrar, sacudir, triturar, que- 2 brat, estalar, torcer, revolver, dobrar, morder, estirar, deformar, cor- ‘ar, roer, chupar... os.verbos parecem nao bastar para descrever-os compartamentos etc.” (Lecendreux: 2003: 63). Alias, essa descriga0 sbaforida nao para af. Cada vinheta clinica faz figurar o par forma- do , ela crianga dinamite e a mae exasperada: “Nicolas, cinco anos. Na til, ™ Vez que foi ao mercado, conseguiu, enquanto sua mae 60 ENSAIOS DE CL{NICA PSICANALITICA Digitalizado com CamScanner comprava legumes, desmontar uma parte do estande” (: 60). “Ma- 11 anos. rar numa fila é impensével, Para ir ao cinema e descontrola, sua mie deve comprar os pilhetes antecipadamente e chegar justo no momento em que a ses- sio comega, sob pena de viver um inferno”(: 62), “Nicolas e os 40 lapis, [..] 40 ou 50 por més é o niimero astronémico de lapis que a mamae de Nicolas, aluno de alfabetizacao, diz ter de providenciar” (:64). A familiaridade que a maioria de nossos colegas especialistas tem com esse par infernal contrasta com a indiferenga absoluta do neurologista a respeito do consentimento materno com tal desen- cadeamento. No décimo terceiro ntimero de La petite girafe, Maryse Roy atualiza a categoria lacaniana da crianga fetiche Para a mae no artigo “Crianga fetiche e falo hiperativo”. Ultrapassa-se_a dialética imagindria da crianga_presa no desejo fusional da mae, que tanto inspirou. os. anos_1960,. para.afirmar-se, sem rodeios, que “a aten- ‘do dessas criangas se encontra totalmente fixada na libido.da mie” (Roy, 2001: 69). xenee, yer filmes, ond: RECENTRAR A SEXUALIDADE Estamos, portanto, em condig6es de rivalizar com a biologia mais avangada. Se seguirmos a reflexao de Jacques-Alain Miller sobre a biologia lacaniana (Miller, 2000: 7-59),-distinguiremos 0 corpo-es- Quizofrénico mortificado pelo significante do corpo agitado, vivifi- cado pelo falo, Entendamos com isso um falo nao negativizado, o avesso de um -9: substancia gozante em atividade. Trata-se nao do 8020 falico da crianga, e sim da pantomima de um gozo do proprio “Corpo. nao fora dele, a nao ser fora do.corpo materno e, portanto, indiferente a toda fusio, O tecentramento na sexualidade da mie reconduz, aqui, Paradigma da crianga objeto transicional da fantasia do Outro ¢ convida ao confronto da sindrome de hiperatividade com 0 que Michel Lecendreux chama de disturbios associados, notadamente distarbios da linguagem, aos quais acrescentamos a alucinacdo ¢ a Petseguicio, ou seja, a psicose verificada em muitos casos (quanto LES NAO FALAM, NEM VEEM, NEM OUVEM BLES SB MBXEM 6 Digitalizado com CamScanner nto desta, ver Sauvagnant, 2001). Nosso colega ant fornece as s socioldgicas que explicj. do transtorno de déficit de atengao ¢ hiperativida. ados Unidos. Aos problemas de droga ¢ de delinguéncig rdens caracteristicas das familias desintegradas se assim se pode dizé-lo, seu agalma clinico no fendmeno da crianga “sozinha com sua mae’. Encontrar- _ge-d aqui a ocasido de aprofundar ou completar a galeria de retratos das caréncias paternas, listados é tigo “De uma see ga prlimina a todo tratamento Posse dt PSS notada- mente os.efeitos devastadores do_pai irxis6rio.como pai passeador (Lacan, 19584: 585), cujo papel. | na época era minimizado devido 4 imprecisiio da categoria quanto. causalidade_das psicoses. Hoje, sem ditvida, nossa atengao é menos atraida pela importancia dada pela mae “a palavra do pai” por ser tao solida a importancia que ela dé,.com toda cumplicidade, ao g0z0 de seu filho, por vezes numa excitagao reciproca. Para concluir, embora se impute 0 familismo a psicanilise, afas- tamo-nos da norma pela ateng4o que damos ao infantilismo dos pais (: 579), dos ‘educadores e dos médicos. Afinal, estes nao enfati- zariam cada vez mais as diferencas entre adultos e criangas para lan- car um véu sobre a diferenga dos sexos e maquilar 0 acontecimento de corpo na tirania doméstica? conhecime vagn Frangois Sau de nos agregam-se as desot e monoparentais. Extraimos, 6 ENSAIOS DE CLINICA PSICANALITICA Digitalizado com CamScanner coprricnt ©, 2011 Serge Cottet CAPA, PROJETO GRAFICO E PREPARAGAO Contra Capa correr, Serge Ensaios de clinica psicanalitica. Rio de Janeiro: Contra Capa, 201. ‘21cm, 144 p. Opgao Lacaniana, n. 8 ISBN 978-85-7740-110-9 ‘Tradugao: Vera Avellar Ribeiro 1. Psicandlise. 2. Clinica. 3. Depressio. 1. Titulo. 1. Serge Cottet. 201 ‘Todos os direitos desta edigdo reservados a CONTRA CAPA LIVRARIA LTDA. www.contracapa.com.br Rua de Santana, 198 | Centro 20230-261 | Rio de Janeiro — xy Tel (55 21) 2507.9448 | Fax (55 21) 3435.5128 Digitalizado com CamScanner

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