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EXCELÊNCIA EM FUNDIÇÃO:

UNINDO ARTE
À CIÊNCIA
Johnson Campideli Fonseca
SOBRE O AUTOR:

Prof. Johnson Campideli Fonseca é formado em Odontologia


pelo Centro Universitário de Lavras (UNILAVRAS – Lavras – MG),
tendo feito os Cursos de Mestrado e Doutorado na Faculdade de
Odontologia de Piracicaba – UNICAMP. Atuou nestes cursos em
pesquisa na área de fundição de ligas metálicas e cerâmicas.
Como proprietário de Laboratório de Prótese, tem buscado apli-
car a ciência no dia a dia de trabalho, aproximando-a do trabalho
cotidiano e contato com os TPDs. Atualmente leciona no Centro
Universitário de Lavras nas Disciplinas de Clínicas Integradas I,
II, III e IV e em atividades Pré-Clínicas, sendo Supervisor Clínico
do Curso de Odontologia
SUMÁRIO

Fundição: Entendendo
o processo como um todo.......................................... 5

Moldes e obtenção de
modelos de gesso....................................................... 6

Ceras, enceramento e
montagem dos padrões.............................................. 8
Ceras e enceramentos............................................ 8
Montagem dos padrões........................................ 12

Revestimentos para
fundição odontológica.............................................. 14
Composição e propriedades..................................14
Líquido...................................................................14
Pó......................................................................... 15
Resistência mecânica do
revestimento aglutinado
por fosfato............................................................. 15
Por que e como controlar
a expansão?.......................................................... 16
Proporcionamento e espatulação ..........................17
Anéis e Vazamento de revestimentos.................... 18
Por que e como fazer o
aquecimento do bloco?......................................... 19
Técnica de aquecimento
convencional (Técnica do aquecimento
lento ou em Patamares)................................................. 19
Técnica de aquecimento
rápido................................................................... 20
Como ocorre a eliminação
da cera e/ou resina acrílica?.................................. 22

Metais, ligas e fundição............................................ 24


O equipamento de fundição.................................. 24
O maçarico........................................................... 24
A “máquina de fundição”....................................... 26
Posição do bloco na
máquina de fundição............................................. 26
Metais e ligas metálicas........................................ 27

Considerações finais................................................ 29

Referências
Bibliográficas ........................................................... 30
INTRODUÇÃO

Sem dúvida alguma, a Fundição odontológica é o processo que mais deixa o Téc-
nico em Prótese Dental (TPD) com dúvidas e inseguro dos resultados. Deparei-me com
essa situação quando eu mesmo tive que fazê-lo em minha pós-graduação. Imagine
só: graduado em Odontologia e direto trabalhando com fundição. Um, dois, três erros
e daí um sem fim de dificuldades. Sentimentos como frustração e sensação de incapa-
cidade foram os primeiros a acontecer. Acalmou-me saber que muitos viveram e ainda
vivem estas dificuldades. Mas logo depois esta calmaria temporária tornou-se inquieta-
ção. Achei que seria fácil a solução: era só procurar um livro que descrevesse passo a
passo tudo que eu precisava saber sobre fundição. Com certeza deveria existir...
Esta busca foi árdua e sem resultados.

Em um momento encontrava livros tão complexos que me deixavam mais desani-


mado. Em outros momentos, bons manuais, porém escritos totalmente na base do
“achismo”. Muitas vezes deparei-me com textos que eram cópias de manuais antigos,
com informações que não poderiam ser aplicadas na sua totalidade aos materiais mais
modernos.

Sempre permaneceu essa inquietude de pensar que os TPDs passavam por tais
dificuldades com relação à fundição. Assim, em dezembro de 2008 trouxe toda infor-
mação que acabei de compartilhar com vocês até a Angelus. De pronto, a ideia de não
somente trazer um produto novo e inovador ao mercado odontológico (Revestimento
Aglutinado por Fosfato Nanovest M), mas agregar conhecimento ao produto fez olhos
brilharem (e dentre eles os meus). Firmou-se ali o compromisso de trazer um produto
inovador ao mercado e também informação aos TPDs para que o sucesso seja cada
vez maior e sustentável, colaborando e trabalhando lado a lado com o crescimento dos
TPDs no Brasil.

Coube então a mim esta tarefa, cujo resultado você encontrará nestas páginas.
Nunca tive a pretensão de escrever um texto que fosse definitivo e que por si só
bastasse com relação à fundição. A junção da Ciência com a Prática nunca chegará
ao fim. Mas em cada tecla digitada sempre tive como objetivo escrever algo que um
aluno do curso técnico em prótese dental pudesse ler e compreender e que ao mesmo
tempo servisse para o TPD já formado que queira “subir cada dia mais um degrau” em
direção à qualidade.

Você notará que em determinadas partes do informativo haverão quadros com in-
formações de grande importância para seu dia a dia e por isso encontram-se em des-
taque. Foram aqui excluídas ideias puramente teóricas de quem nunca viveu o dia a
dia de um Laboratório de Prótese, como querer que o mesmo se transforme em Labo-
ratório de Pesquisa, com umidade e temperatura controlada e coisas assim. Foram
colocadas soluções práticas, diretas, testadas, com o devido embasamento e de fácil
acesso. Todas originadas de dados científicos, experiências diárias e boas conversas
em corredores de Congressos com amigos e profundos conhecedores de fundição.
Esta é a ideia! Vamos juntos nessa jornada?

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FUNDIÇÃO:
Entendendo o processo como
um todo...

Reproduzir o padrão de cera em metal, com re- Vê-se que estes são os processos básicos que de-
sultados precisos e previsíveis, tem sido sempre um vemos controlar. Vamos observar agora alguns dos
problema para o TPD. Ao longo dos anos, pode-se materiais e acessórios que possivelmente estarão
notar uma grande progressão de um trabalho pura- envolvidos em cada processo no quadro a seguir:
mente artesanal para um trabalho que ainda é arte-
sanal, porém mais focado em precisão constante. • OBTENÇÃO DO MOLDE
- Moldeiras
O processo de obtenção de uma peça protética - Materiais de moldagem
pela técnica da fundição envolve uma quantidade • CONFECÇÃO DO MODELO E TROQUEL
considerável de materiais, fases e variáveis. Pode-se - Gessos (tipos diferentes)
fazer uma comparação do processo todo com uma - Água
corrente, sendo que cada etapa e/ou material cor- - Pinos para troquel ou bases posicionadoras
responde aos elos dessa corrente. Por mais fortes e - Isolante
sólidos que sejam os elos, se um deles falhar, então • ENCERAMENTO
toda a corrente falhou e já não há mais o que fazer. - Ceras
Assim, vai aqui um alerta primordial: ATENÇÃO AOS - Resina acrílica para padrões
DETALHES. Se você ainda acha que 1ml de líquido - Espaçadores
funciona do mesmo jeito que 1,5ml e que não existe - Isolantes
diferença entre as ceras, então deve parar e começar • INCLUSÃO E FUNDIÇÃO
a repensar seus passos. Pode até ser que pequenos - Anéis de silicone ou metal
erros isolados não signifiquem tanto. Mas quem - Sprues ou condutos de cera
disse que no processo de fundição podemos consi- - Revestimento + Líquido especial
derar estes erros de maneira isolada? Claro que não! • DESINCLUSÃO E AJUSTES
Os erros vão se somando ao longo do processo e o - Partículas abrasivas para jateamento
final muitos de nós sabemos qual é: margens desa- - Discos abrasivos
daptadas, copings que não encaixam nos preparos - Pontas de acabamento e polimento
e daí por diante. Tudo bem... então assumo que er-
rei! Agora vem a parte mais difícil: descobrir qual ou Assim, começamos agora a ter uma ideia mais
quais dos “erros pequenos e sem importância clara de quanto o Processo de Fundição é depen-
isolada” mais contribuíram para a falha. Você já vi- dente de cada material e etapa envolvida. Não existe
veu essa situação, não é? Eu também! E descobri qualidade usando 80% de materiais de boa quali-
que muitas vezes é difícil determinar com exatidão tal dade e 20% de materiais ruins. Veja bem: material de
causa em um Laboratório de Prótese. qualidade não é sinônimo de material importado ou
DICA: caro. Sempre friso que um ótimo material pode ter
O seu sucesso em E agora? Como resolver? Ao ler bastante so- um péssimo desempenho dependendo de quem o
fundição odontológica bre os mais variados aspectos relacionados com a utiliza. Mas nunca vi um péssimo material ser trans-
começa na aquisição dos Fundição Odontológica pude verificar que o caminho formado em material de boa qualidade ainda que
produtos. Pense, leia, con- mais seguro é criar um método de trabalho. Cada quem o manipule seja um expert.
verse com pessoas mais etapa do processo deve estar muito bem descrita no
experientes, busque opin- Laboratório e ser seguida à risca. Assim, em caso Começaremos então a analisar daqui pra frente
iões. Atenção aos prazos de falha, pode-se analisar cada um destes proces- cada material e sua relação com os processos en-
de validade quando for sos e descobrir em qual houve uma falha. Veja bem: volvidos na fundição odontológica. Fique atento, pois
comprar e veja como os isto apenas minimiza a chance de erro! Aquele que este informativo não tem o objetivo de lhe trazer in-
produtos estão armaze- diz que sempre tem 100% de acerto em fundição formações simples como receitas, o que para mim
nados nas Dentais. Um MENTE! Eu sei, e você também, que muitas vezes refletiria a desconfiança na sua capacidade de racio-
pote de gesso guardado coisas inesperadas ocorrem em fundições, mesmo cinar. Aqui serão apresentadas “ferramentas” para
ao lado de uma parede com todos os processos feitos de maneira correta. que você possa iniciar um trabalho sólido e o princi-
úmida e mofada não Veremos abaixo um fluxograma das etapas para pal, que seja capaz de adequar as informações aqui
vai lhe ajudar muito em a confecção de uma prótese fixa pela técnica de contidas para o seu dia a dia, fazendo com que o
termos de resultado! fundição: sucesso e resultado sejam cada vez maiores.

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MOLDES E OBTENÇÃO DE
MODELOS DE GESSO
Foi feita a opção de inserir algumas informações diferentes. Já o TPD deve ficar atento para identificar
sobre moldes e materiais de moldagem, pois o mol- o tipo de material ou perguntar ao cirurgião-dentista
de pode ser considerado como o elo de ligação qual material foi usado para que possa adequar o seu
entre cirurgião-dentista, paciente e técnico em esquema de trabalho para obter o modelo dentro do
prótese dental. Assim, alguns erros poderão cau- prazo viável.
sar consideráveis transtornos a todos os envolvidos
no processo de obtenção de uma prótese fixa. Hoje, todos da área de saúde e dentre eles os
TPDs convivem diariamente com um risco c o n s i d -
Como são ou como deveriam ser selecionados os e r áve l de contaminação por microrganismos como
materiais de moldagem? Bem, um dos primeiros cri- os causadores da AIDS e da Hepatite B. Assim, nun-
térios é a necessidade que o caso clínico tem de ob- ca despreze este risco na sua prática diária e repasse
ter precisão. Para obtenção de modelos de estudo, as informações a todos do laboratório. Busque infor-
pode-se utilizar materiais com menor precisão e as- mações sobre métodos de desinfecção aplicáveis a
sim menor capacidade de cópia. Os alginatos, muito cada tipo de material e protocolos de vacinação.
utilizados para esta situação que foi citada, possi-
bilitam a obtenção de bons modelos de estudo, pois Considerando então que o molde exibe condições
neste caso a precisão não é um fator crítico. Para que de ser utilizado e que já foi devidamente desinfecta-
você tenha uma idéia, bons alginatos conseguem co- do, passa-se à confecção do modelo de gesso. Um
piar estruturas maiores que 75µm (como referência, modelo incorreto fará com que todas as próximas
imagine que um fio de cabelo tem em média 50µm etapas sejam comprometidas.
de diâmetro).
O gesso é composto basicamente por uma subs-
Entretanto, para situações como obtenção de tância chamada sulfato de cálcio hemidratado, sen-
moldes e modelos para prótese fixa, a precisão é do adicionados também modificadores de tempo de
primordial. Assim, opta-se por materiais que exibem presa, corantes, e em alguns casos, resinas para que
boa capacidade de cópia e que ainda tenham outras a superfície fique mais lisa e dura. É um material com
características em conjunto como: alta afinidade por água e umidade. Por isso, a ma-
neira como o gesso fica guardado no laboratório é de
o Resistência à ruptura: é a capacidade que o importância singular.
material de moldagem tem de, após a reação, ser
removido de áreas retentivas (como ameias e sul- Para o proporcionamento entre gesso e água,
cos gengivais) sem rasgar ou deformar de maneira deve-se optar sempre por proporcionar o gesso pelo
irreversível; “peso” e a água por volume. Quanto mais precisa a
o Hidrofilia: determina a afinidade que o material balança que você utilizar, maior será a padronização
de moldagem tem pela água ou umidade, fator im- conseguida. Já para a água, recomenda-se o uso de
portante, pois o mesmo é utilizado em ambientes uma seringa plástica descartável de 20ml, pois é de
úmidos; fácil manuseio e tem a precisão adequado ao uso.
o Estabilidade dimensional: é a capacidade que o
material tem de manter suas dimensões e assim a Atenção especial deve ser dada à água utilizada,
precisão da cópia obtida com o passar do tempo. visto que a pureza da mesma é um fator que
influencia diretamente nas alterações dimensionais
Um dos maiores problemas vivenciados por téc- do gesso durante a presa. Recomenda-se o uso
nicos em prótese dental são margens de preparo co- de água destilada ou no mínimo uma água mineral,
piadas de maneira incorreta. Contudo, este problema como estas disponíveis em galão. Alguns tipos de
muitas vezes pode ser facilmente visualizado nos água podem conter uma quantidade excessiva de
moldes ou modelos de gesso, evitando-se assim que sais e minerais (“água dura”) que podem influenciar
as próximas etapas sejam feitas. Já a alteração das na reação de presa do gesso.
dimensões do molde devido à perda da estabilidade
dimensional é um inimigo silencioso, pois dificilmente O proporcionamento de água e gesso deve ser fei-
conseguiremos olhar para um molde e dizer com to imediatamente antes da espatulação. Sempre que
certeza se houve ou não alteração das dimensões possível deve-se optar pelo espatulador mecânico
originais do mesmo. com vácuo. Este tipo de equipamento promove uma
espatulação com velocidade uniforme, eficaz e sob
Assim, cabe ao dentista programar suas ativi- ação de vácuo, reduzindo incorporação de ar na mis-
dades para que o molde seja vazado com gesso tura. Siga fielmente a recomendação da proporção
dentro do prazo correto, ou seja, enquanto o material feita pelo fabricante do gesso, pois isto lhe garantirá
ainda mantém suas dimensões de modo estável. Tal padronização dos resultados obtidos. Colocar água
estabilidade pode apresentar valores diferentes entre a mais na tentativa de fazer com que o gesso fique
o mesmo tipo de material e entre materiais de tipos mais fluido e fácil de vazar pode funcionar somente

6
sob este aspecto, mas piora uma séria de outras cristais”.
propriedades do material. Se a intenção é facilitar o
vazamento, talvez seja melhor optar por outra marca O fenômeno descrito acima é o responsável pela
de gesso que possua melhor escoamento. expansão de presa do gesso. Porém, em um dado
momento, os cristais encontram-se tão “unidos e en-
Sempre, na manipulação do gesso, devemos co- trelaçados” que a expansão de presa praticamente
locar o pó sobre a água para evitar que o ar seja apri- cessa (figura 1B). Contudo, esta expansão de presa
sionado na mistura e forme bolhas no modelo. pode ser modificada principalmente pelos fatores
abaixo:
Basicamente os tipos diferentes de gesso diferem
entre si com relação a duas características princi-
pais: precisão e resistência mecânica. A quantidade Fator O que causa
de água exibe direta relação com as partículas do Aumento no tempo • Diminuição da resistência
gesso, ou seja, partículas mais compactas precisam de espatulação mecânica;
de menos água para hidratar e reagir, como no gesso • Aumento da expansão de presa
tipo IV (veja figuras 1A e 1B). Ao iniciar a reação de • Diminuição o tempo de
presa, todos os gessos passam por uma fase na qual trabalho
pequenos cristais começam a ser formados. Após a
formação, estes cristais começam a crescer e em um Aumento da • Diminuição da resistência
dado momento começam a “tocar” uns nos outros. É quantidade mecânica;
como se cada cristal começasse a “empurrar os que de água • Aumento da expansão de presa
estão próximos, pois há pouco espaço para muitos • Escoamento excessivo

1A Assim, para prótese fixa, a escolha recai no gesso


tipo IV ou V, sendo este último com maior expansão
de presa e por dificuldades de padronização no pro-
cesso, sendo menos utilizado. Comprar um gesso
tipo IV de ótima qualidade e manipulá-lo sem pro-
porção alguma, é a maneira mais rápida de perder
dinheiro e trazer problemas. Isto porque um gesso de
ótima qualidade, mal manipulado, vai se comportar
como um gesso de qualidade muito inferior, porém
com alto custo.


DICA:
FIGURA
1:
A)
Imagem
de
microscopia
eletrônica
de
varredura
(aumento
de
1300X)

Não se deve deixar o gesso em contato com moldes
1B
mostrando
grãos
de
gesso
IV
antes
da
manipulação.
Note
a
forma
relativamente
regular

de alginato por mais de 45 minutos. Após estes tempo
inicia-se no alginato a formação de ácido algínico que
do
mesmo
e
superfície
compacta.

B)
Imagem
de
microscopia
eletrônica
de
varredura

“ataca” a superfície do gesso, fazendo com que esta
(aumento
de
1300X)
de
um
gesso
tipo
IV
após
a
presa,
mostrando
cristais
já
formados
e

fique manchada e frágil, como se estivesse “esfarelan-
entrelaçados.
(Imagens:
Prof.
Dr.
Johnson
C
Fonseca)

do”. Já em moldes de silicone isto não ocorre.



pia
eletrônica
de
varredura
(aumento
de
1300X)

FIGURA 1: A) Imagem de microscopia eletrônica de varredura (au-
a
manipulação.
Note
a
forma
relativamente
regular

mento de 1300X) mostrando grãos de gesso IV antes da manipulação.
Note a forma relativamente regular do mesmo e superfície compacta.
)
Imagem
de
microscopia
eletrônica
de
varredura

B) Imagem de microscopia eletrônica de varredura (aumento de
o
IV
após
a
presa,
mostrando
cristais
já
formados
e

1300X) de um gesso tipo IV após a presa, mostrando cristais já forma-
gens:
Prof.
Dr.
Johnson
C
Fonseca)

dos e entrelaçados. (Imagens: Prof. Dr. Johnson C Fonseca)

7
CERAS, ENCERAMENTO E
MONTAGEM DOS PADRÕES
Ceras e As ceras para uso odontológico são considera- A quantidade de resíduos formados após com-
Enceramentos: das como materiais termoplásticos, ou seja, quando bustão de uma cera indicada para confecção de
aquecidos a determinada temperatura mudam sua padrões de fundição não deve ultrapassar 0,02% de
viscosidade, com maior capacidade de copiar deta- um grama de cera testada. Neste teste recomenda-
lhes de uma superfície. Ao esfriarem, retornam a um do pela Associação Dentária Americana (ADA), um
estado “sólido”. Esta característica é a responsável grama de cera é queimado até 500°C em condições
por podermos utilizá-la na escultura de próteses. específicas e depois o resíduo é analisado.

Estas ceras normalmente têm como principais As ceras para padrão de fundição passaram por
componentes uma CERA BASE (normalmente para- avanços consideráveis nos últimos tempos, havendo
fina), CERAS MODIFICADORAS (melhoram proprie- no mercado ótimas opções. Para que este tipo de
dades como dureza e estabilidade dimensional) e cera tenha adequado desempenho, deve atender
ADITIVOS (como corantes e controladores de opaci- aos seguintes critérios:
dade). Ainda, as ceras podem ser de origem mineral
(ex.: parafina), vegetal (ex.: carnaúba) ou animal (ex.: • Boa adaptação e cópia de detalhes de superfí-
cera de abelha). O mais importante é sabermos que cie, como as paredes de um troquel em gesso;
uma determinada cera só desempenha sua função • Ótima estabilidade dimensional em temperatura
corretamente se o aquecimento for feito de maneira ambiente;
adequada e evitarmos as distorções do padrão obti- • Queima com nenhuma ou reduzida formação de
do. O aquecimento excessivo de uma cera pode cau- resíduos, evitando assim a contaminação da liga.
sar a carbonização de alguns de seus constituintes,
alterando seu desempenho. Em hipótese alguma Muitas vezes o TPD dedica pouca atenção ao
sugere-se o uso de ceras de baixa qualidade e baixo ato de trabalhar a cera nas etapas de aquecimento
custo como forma de economia, da mesma maneira e escultura. Considero um dos principais momentos
que a manipulação errada de uma ótima cera não no qual se define se haverá precisão na cópia dos
trará bons resultados. detalhes ou não. Todos os erros cometidos nestas
etapas aparecerão sob a forma de distorção ao final
A preferência deve sempre recair sobre as chama- do processo. Li certa vez uma frase que repasso a
das ceras orgânicas, ou seja, que possuem ele- vocês: “A peça fundida nunca será melhor que o
mentos orgânicos em sua composição. Isto porque enceramento que a originou, independente da
alguns tipos de ceras possuem componentes inor- técnica e material utilizados”, ou seja, não há téc-
gânicos em sua composição, sendo estes de difícil nica ou material que possa melhorar um padrão em
combustão, fazendo com que resíduos permaneçam cera inadequado.
após o aquecimento do bloco de revestimento. Nota-
se facilmente que estas ceras inorgânicas, quando As ceras para confecção de padrões de fundição
aquecidas com um instrumental, apresentam sepa- normalmente são fornecidas em três diferentes graus
ração dos componentes inorgânicos da cera líquida de dureza: macia, média e dura. Abaixo pode-se veri-
e permanência dos resíduos sujando o instrumental ficar no quadro as propriedades de cada uma:
durante o enceramento.

Cera Macia • Baixa temperatura de fusão
• Sujeitas a alterações dimensionais por
alterações de temperatura do ambiente
• Baixa contração por resfriamento
• Facilidade de manipulação mesmo em finas
camadas
• Dificuldade de obter superfícies lisas por
polimento e realizar esculturas complexas

Cera Média • Ponto de fusão intermediário


• Considerável contração pelo resfriamento
• Estável após resfriamento

Cera Dura • Alta e constante temperatura de fusão


• Alta contração por resfriamento
• Alta estabilidade dimensional
• Frágil e quebradiça

8
FIGURA 2: Padrão utilizando ceras de
diferentes características. Nota-se na
região cervical o uso de cera específica
para margens (cor vermelha), que por
exibir baixa contração quando esfria,
possibilita melhor precisão nesta área.
Contudo, por ser muito macia, usa-se
uma cera de dureza média para o res-
tante do padrão (cera de cor verde)

Após a leitura do quadro, torna-se importante fri- motivo, deve-se usá-las para refazer o selamento da
sar que a alta ou baixa precisão não depende exclu- área cervical somente pouco tempo antes de fazer a
sivamente da cera, mas sim da indicação correta de inclusão do padrão.
cada uma e o respeito às suas limitações. A técnica
de uso de ceras de dureza e características diferen- O preparo do troquel para iniciar o enceramento
tes constitui uma ótima alternativa, técnica esta pro- é um passo que influencia diretamente no resultado
posta e publicada em 1980 por McLean. É comum o final. Lembre-se que existem três superfícies que
uso de uma cera média ou dura para enceramento estarão sempre em contato e que deverão estar em
da maior parte do padrão e uso de uma cera macia equilíbrio: o instrumental, a cera e o troquel. Assim,
para a confecção do selamento do padrão, na área se o troquel está em temperatura muito diferente do
cervical, como mostrado na figura 2. restante das superfícies, ocorrerá um resfriamento
brusco da cera em contato com esta superfície. Com
Encontramos no mercado ceras denominadas isso, a capacidade de cópia de detalhes fica com-
ceras para cervical (cervical wax) ou também chama- prometida e tensões são induzidas no enceramento.
das de ceras para bordos, sendo exemplos de ceras Com o mínimo aquecimento estas tensões serão li-
de baixa fusão. Estas exibem baixa contração de beradas, ocorrendo distorção do padrão em cera.
resfriamento, sendo muito precisas. Contudo, espe-
cial atenção deve ser dada para que sejam usadas No preparo do troquel, provavelmente o selamen-
somente na região cervical e nunca utilizadas para to da superfície seja tão importante quanto o isola-
a confecção total de um padrão de fundição, pois mento da mesma. Mas por que selar o gesso se a
são muito macias e sujeitas a distorções. Por esse superfície aparenta estar tão lisa e brilhante? Veja na

9
CERAS, ENCERAMENTO E MONTAGEM DOS PADRÕES

figura 3 uma microscopia eletrônica de varredura da mecânica do gesso, característica importante em


superfície de um gesso tipo 4 após a presa. As ir- áreas delgadas como o término do troquel. Mas fique
regularidades existem e por isso aplica-se um selante atento ao selante que irá usar: este deve selar so-
de superfície no gesso. Este consegue vedar parte mente as irregularidades, sem formar uma camada
das irregularidades, tornando a superfície mais lisa. espessa na superfície do gesso já isso prejudicaria a
Assim, após a aplicação do isolante, consegue-se precisão da prótese. Ao marcar o término com uma
remover o padrão em cera sem grande aplicação de lapiseira, faça-o antes da aplicação do selante, pois
forças, minimizando a chance de distorção da cera. o mesmo irá fixar a marcação e evitar que saia. Ai-
nda, sempre use mina ou “grafite” orgânico para esta
Ainda, faz com que haja aumento da resistência marcação. O uso de grafite comum (rico em carbono)
pode contaminar as margens do enceramento com
resíduos de grafite e causar margens serrilhadas em
alguns tipos de ligas.

Sempre lembre-se que as ceras podem


apresentar distorção tanto causada por variações de
temperatura quanto pela aplicação de força sobre a
mesma. Muitas vezes vemos relatos de copings que
não adaptam nas paredes mesial e distal, ou então
vestibular e lingual. No momento de remover o padrão
em cera do troquel, pode ser que o profissional aplique
força excessiva com os dedos nestas superfícies
FIGURA 3: Imagem de microscopia eletrônica de varredura mostrando (veja figura 4) e o resultado é a falta de adaptação
a superfície de um modelo de gesso (tipo IV) sob aumento de 5.000 em paredes opostas do coping. O correto selamento
vezes. O selante para gesso veda a maior parte das falhas entre os

e isolamento do gesso praticamente eliminam este
cristais e diminui a aderência da cera aquecida nestes locais. Com isso, problema.
a remoção do padrão é facilitada.
FIGURA
3:
Imagem
de
microscopia
eletrônica
de
varredura
mostrando
a

superfície
de
um
modelo
de
gesso
(tipo
IV)
sob
aumento
de
5.000
vezes.
O
selante

para
gesso
veda
a
maior
parte
das
falhas
entre
os
cristais
e
diminui
a
aderência
da

cera
aquecida
nestes
locais.
Com
isso,
a
remoção
do
padrão
é
facilitada.


 


FIGURA 4: A aplicação de força com os dedos para remoção e manipulação do padrão em cera pode trazer sério comprometimento à prótese
após a fundição. Veja, neste caso, a força sendo aplicada no coping em locais extremamente delicados, como as bordas do padrão.

10
Em alguns casos é utilizada uma técnica de con- • Ao terminar de confeccionar a parte em resina
fecção de padrões chamada de técnica mista, na acrílica do padrão, aguarde um mínimo de 30 minu-
qual se usa uma cobertura fina do troquel com resina tos antes de iniciar a deposição de cera sobre a re-
acrílica de ativação química (resina acrílica “autopo- sina acrílica. Com isso, a maior parte da contração já
limerizável”) específica para confecção de padrões terá ocorrido e reduzirá tensões e distorção do ence-
para fundição, e depois termina-se a confecção do ramento;
padrão e o selamento da região cervical com cera.
Esta técnica, quando corretamente empregada, traz • Caso possível (e sabemos que nem sempre é...),
resultados similares ao uso somente de cera. Con- após confeccionar parte do padrão com resina acrí-
tudo, lembre-se que a eliminação da resina acrílica lica, aguarde 24 horas antes de depositar a cera;
no forno ocorre de maneira diferente da que ocorre
com a cera. Inicialmente a resina sofre uma expansão • Ao confeccionar áreas de pôntico, nunca faça
com o aumento da temperatura para depois ser car- de modo direto a união entre os padrões unitários
bonizada. Notam-se casos freqüentes de microfratu- com resina acrílica. Construa a partir de um padrão
ras internas do revestimento em padrões de fundição uma barra que quase toque o outro padrão vizinho.
volumosos confeccionados com esta técnica quan- Aguarde os 30 minutos e só depois acrescente uma
do submetidos ao processo de aquecimento rápido pequena quantidade de resina acrílica para terminar
do bloco, em especial quando são utilizados grandes a união. Isto evita que haja uma grande quantidade
volumes de resina acrílica. de resina acrílica contraindo e que esta contração
gere tensão no sentido de aproximar um pilar de
Para estes padrões recomenda-se o aquecimento outro. Tenho certeza que você já confeccionou pa-
convencional para garantir que a expansão e a drões para prótese parcial fixa com boa adaptação
posterior eliminação do acrílico ocorram de modo no modelo, mas que depois de removidos não mais
gradual, sem comprometer o resultado final. Outro adaptaram-se passivamente.
cuidado importante é sempre recobrir as partes
externas do padrão feito em resina acrílica com cera. • Para padrões feitos exclusivamente em resina
Assim, durante o aquecimento, a cera é eliminada acrílica (como no caso de núcleos metálicos fundi-
antes do acrílico e fica no local um espaço para dos), quanto antes forem feitas inclusão e fundição
que a resina acrílica expanda sem aplicar forças nas do padrão, melhor. Nenhum meio ou método de
paredes do bloco. armazenagem impede totalmente a progressão
da contração do padrão, ou seja, a distorção.
Como toda resina acrílica, estas destinadas a con- Contudo, o meio que menos permite a distorção é
fecção de padrões para fundição apresentam con- mantê-lo em 100% de umidade, sob temperatura
tração durante a polimerização. Mas quando e como próxima de 25°C e por no máximo 24 horas. Note
ocorre esta contração? Sabe-se que estas resinas que 100% de umidade é conseguida colocando o
acrílicas específicas apresentam cerca de 8% de padrão em uma embalagem vedada junto com um
contração de seu volume inicial. Isto é, sem dúvida algodão ou gaze úmida (e não encharcada!), ou seja,
alguma, um grande problema quando trabalhamos não é colocar o padrão imerso diretamente em água.
buscando precisão em fundição. Contudo, sabe-
se, através de pesquisas, que 80% desta contração • Lembre-se que o responsável pela contração é
ocorre nos primeiros 17 minutos após o contato en- o líquido da resina acrílica (monômero), pois o pó já
tre o pó e o líquido da resina acrílica. E ainda, que está polimerizado. Assim, usar mais líquido do que
a contração só apresenta relativa estabilização após o recomendado ou necessário, causa aumento da
de cerca de 24 horas, atingindo o valor citado. Assim, contração e assim da distorção.
alguns cuidados são primordiais para conseguir boa
precisão:

11
CERAS, ENCERAMENTO E MONTAGEM DOS PADRÕES

Montagem dos Infelizmente, muitos profissionais não creditam região de maior espessura do padrão em cera. Com
padrões devida importância à montagem dos condutos de isso, facilita-se o fluxo do metal fundido, pois o mes-
alimentação ou sprues. Erros em princípios relativa- mo flui de áreas mais amplas para áreas mais res-
mente simples relacionados com a montagem dos tritas. Imagine se o contrário ocorresse e o conduto
padrões levam a uma porcentagem alta de falhas de fosse montado em uma área bem fina de um padrão.
fundição, como o uso de condutos muito finos e lon- O resfriamento da pequena quantidade de liga que
gos, causando porosidades nas peças fundidas. passa neste local ocorre de modo rápido, solidifican-
do a liga. A partir deste momento, a passagem de
A montagem dos padrões tem sido descrita ba- mais liga fundida para as áreas mais espessas fica
sicamente através de duas técnicas: a montagem comprometida, gerando falhas na fundição.
direta (um conduto leva o metal fundido direto da
base do bloco até a área dos padrões) e a monta- • Deve-se manter uma distância entre superfí-
gem indireta (um conduto leva o metal fundido até cies de cera montadas de 5mm no mínimo. A pro-
uma barra intermediária e desta segue para condutos ximidade extrema dos padrões e dos condutos pode
menores até a área do padrão). Normalmente a téc- causar trincas no revestimento localizado entre esta
nica de montagem direta é utilizada para montagens estrutura na parte interna do bloco, principalmente se
de padrões unitários ou de pequena extensão. Já a o aquecimento for feito de forma muita rápida. Quan-
técnica indireta é utilizada com maior frequência para do a liga é injetada, além de preencher os condutos,
a fundição de peças protéticas de maior extensão. preenche também estas fendas, gerando rebarbas
na peça fundida (veja figura 5). Dependendo da lo-
Para a montagem dos padrões em cera na base calização, podem comprometer a peça de modo re-
formadora de cadinho (anel de silicone), pode-se uti- versível (onde ainda seja possível o desgaste, com
lizar tanto condutos com câmaras de reserva (sprues) óbvia perda de tempo de trabalho) ou irreversíveis (re-
quanto condutos de cera de secção cilíndrica. Devi- barbas localizadas nos términos ou áreas internas de
do à versatilidade, optamos pelo uso destes últimos. componentes protéticos para implantes). Esta ocor-
Para isso, algumas considerações básicas devem rência pode se tornar ainda mais comum quando se
ser respeitadas, como as que seguem abaixo: usa concentrações mais baixas de líquido especial
na manipulação, devido à resultante diminuição da
• O conduto de alimentação deve ser fixado à resistência mecânica.

FIGURA 5: A ocorrência de pequenas fratu-


ras no interior do revestimento possibilita,
após a injeção da liga fundida, a formação
de rebarbas que podem inviabilizar o uso
da peça fundida quando ocorrem em áreas
como bordos de copings, como na figura.

12
• Os padrões devem ficar a uma distância míni- mais direto possível, evitando voltas e ângulos que
ma de 5mm de qualquer parede do anel de silicone possam causar turbulência. Na montagem dos pa-
(paredes laterais e base). Isto evita trincas e possi- drões, muito cuidado deve ser dispensado em acres-
bilita uma expansão térmica mais uniforme. Caso, ao centar cera nas regiões de encontro entre condutos
montar com estas distâncias, você note que o pa- de cera para que todos os ângulos fiquem arredon-
drão ficou no centro térmico do anel, a montagem dados. Caso isto não seja feito, podem permane-
deverá ser refeita usando um anel de silicone maior. cer ângulos nas junções (“quinas”) e que podem ser
O custo de gastar um pouco a mais de revestimento fraturadas quando a liga fundida colidir com estas
é mínimo se comparado a perder um dia a mais de áreas. Normalmente isto resulta em fratura do reves-
trabalho refazendo um enceramento e frustrando o timento e presença de fragmentos na peça fundida.
cliente em termos de prazo de entrega devido à falha
na fundição. Não se vê grande vantagem em montar uma
quantidade absurda de padrões em mesmo anel na
• A montagem das peças colocando o conduto tentativa de reduzir o custo com o revestimento. Isto
com inclinação de 45° possibilita que o padrão não leva à necessidade de fundir grandes quantidades de
fique posicionado no centro térmico do anel e tam- liga em um só tempo, além de outros inconvenientes.
bém diminui a velocidade em que a liga chega ate a Mas se ainda assim, desejar fazê-lo, nunca monte
região onde estava o padrão, reduzindo o impacto e todos os padrões em um mesmo plano. Coloque
chance de trincas no bloco em áreas mais delicadas. alguns um pouco acima e outros um pouco abaixo
dos outros. Isto minimiza bastante o risco de ter uma
• Lembre-se de ter o máximo de cuidado para que fratura ao redor de todo o bloco, comum quando se
o calor fornecido pelo instrumental aquecido não afe- monta muitos padrões no mesmo plano.
te os padrões em cera no momento da montagem.
As alterações de temperatura podem causar distor- Estando os padrões montados, deve-se dar aten-
ção nas ceras. ção especial ao uso do antibolhas, produto este que
possui substâncias químicas que tornam a superfície
A correta identificação da região central do bloco de materiais sólidos (como a cera) “mais receptiva”
(excluindo-se a parte do bloco que corresponde à ao molhamento por substâncias líquidas ou viscosas,
base formadora de cadinho) é importante para loca- como o revestimento manipulado. Apesar de auxilia-
lizarmos o centro térmico do anel. Este corresponde rem, se utilizados de modo errado trazem prejuízo
à parte central desta parte acima descrita, sendo o considerável.
último local a perder calor para o meio externo. Assim
sendo, o padrão em cera nunca deve ficar no cen- Aplique o antibolhas com um pincel pequeno e
tro térmico do anel. A colocação do padrão em cera bem macio e tenha depois o cuidado de secá-lo to-
em, tal local faria com que a prótese fundida fosse talmente antes de proceder ao vazamento do reves-
a ultima parte da liga metálica a solidificar. Lembra- timento. Isto pode ser feito com um jato bem suave
se que ao solidificar a liga sofre contração? Nesta de ar isento de contaminantes. Caso o antibolhas
situação, as contrações ocorridas na liga próxima do permaneça na superfície dos padrões em cera (veja
padrão fariam com que a liga ainda líquida presente figura 6), pode reagir com o revestimento e retardar
no centro térmico do anel (e assim na prótese) fosse a reação de presa, causando rugosidades e defeitos
“puxada” pelas áreas que contraíram na tentativa de na superfície da peça fundida. Mas atenção: nunca
compensar a contração. Assim, partes da prótese aplique antibolhas em superfícies de resina
apresentariam falhas devido à falta de metal, sendo acrílica, somente em superfícies de cera. Nas
chamadas de porosidades por contração localizada. superfícies de resina acrílica o antibolhas permanece
impregnado e altera a reação do revestimento em tal
Recomenda-se sempre que o padrão fique fora do local, prejudicando a adaptação do metal.
centro térmico do bloco. Assim a prótese resfriaria
primeiro e o metal ainda fundido presente no cen-
tro térmico de anel funcionaria como um reservatório
que irá fornecer metal líquido às áreas que solidificam FIGURA 6: Veja na área indicada
e contraem, evitando as porosidades. pela seta azul, a presença de uma
gota de antibolhas após a aplica-
Imagine a velocidade e força que a liga fundida en- ção do mesmo. Caso o vazamento
tra no bloco de revestimento. Como o esfriamento e do revestimento seja feito nesta
solidificação da liga fundida ocorrem de modo muito condição, este seria um local em
rápido, temos que garantir que essa liga chegue até que o revestimento não copiaria o
onde estava o padrão de cera também de forma rá- padrão em cera. Assim, provavel-
pida. Por isso, o caminho desde a entrada da liga no mente aí haveria uma falha de
bloco até a região onde estava o padrão deve ser o fundição, como a formação de um
nódulo de metal ou cópia imper-
feita da borda do padrão.

13
REVESTIMENTOS PARA
FUNDIÇÃO ODONTOLÓGICA
Um REVESTIMENTO ODONTOLÓGICO pode ser certeza você sabe muito bem o que ocorre quando
considerado como um material cerâmico que é ca- um refrigerante congela ao ser aberto. Há formação
paz de formar um molde com precisão e resistência de pequenos cristais, que logo aumentam em núme-
mecânica tal que permitem a injeção de metal ou liga ro e tamanho, causando aumento de volume. O fenô-
metálica fundida no interior deste molde. meno físico é basicamente o mesmo.

Sempre cito que há uma regra de ouro para os Com a adição de sílica presente na solução,
materiais odontológicos e em especial para revesti- aumenta-se a possibilidade de expansão térmica
mentos que se encontra no quadro abaixo. durante o aquecimento. Por isso, a concentração
do líquido especial (na mistura líquido especial +
água destilada) influencia tanto a expansão de presa
NUNCA SE ESQUEÇA quanto expansão térmica. Esta adição de sílica
SEMPRE que fizer algo no uso dos revestimentos buscando mudar al- presente no líquido especial também traz aumento
guma característica (Ex.: valor de expansão térmica), lembre-se que na resistência mecânica.
haverá alterações em outras propriedades também (Ex.: resistência
mecânica). Assim, pense sempre em tudo que pode ocorrer e não de Tenha muito cuidado com o líquido especial quan-
forma isolada! to à armazenagem e qualidade do mesmo no mo-
Geralmente os revestimentos odontológicos são mento do uso. Não o deixe exposto ao sol, claridade
Composição e constituídos por três elementos básicos: material intensa ou a temperaturas muito baixas (abaixo de
propriedades refratário (ex.: cristobalita), aglutinante (ex.: sílica) e 10°C). Pode haver degradação do líquido, com for-
modificadores (ex.: grafite). Contudo, as porcenta- mação de cristais (ver figura 7) que ficaram no fundo
gens de cada elemento são extremamente particu- do frasco ou suspensos. Quando comprar frascos
lares a cada tipo e marca comercial. Por isso, não de líquido especial que estejam em frascos opacos
é recomendado utilizar instruções ou proporções de que não permite visualizar o líquido, agite-o e passe
uma marca comercial em outra. um pouco para um frasco transparente. Observe se
existem cristais em suspensão, semelhantes aos que
As propriedades do revestimento podem ser se formam quando um refrigerante começa a con-
modificadas caso o mesmo seja contaminado por gelar. Se estiverem presentes, não se deve utilizar tal
umidade e por isso tenha cuidado com o local de líquido.
armazenamento. Caso compre quantidade maiores
de revestimento, é recomendável que passe para
potes menores ou que retire uma quantidade sufici-
ente para uma semana de uso e mantenha o restante
bem vedado. Não se esqueça de identificar corre-
tamente estes potes menores, anotando inclusive o
número do lote.

Para facilitar o entendimento, foi discutido o reves-


timento analisando o líquido de modo separado do
pó.

LÍQUIDO:
Basicamente encontramos no líquido do revesti-
mento aglutinado por fosfato (também chamado de 


LÍQUIDO ESPECIAL) uma solução de sílica coloidal.
Mas como as partículas de sílica podem estar dis- FIGURA 7: A imagem mostra o líquido
de revestimento com a presença
persas no líquido e não se sedimentarem no fundo de cristais de sílica, devido à armazenagem inadequada. Verifique se
ou serem visíveis? Na verdade, estasFIGURA
7:
A
imagem
mostra
o
líquido
de
revestimento
com
a
presença
de
cr
partículas pos- o frasco que está adquirindo apresenta tais cristais no fundo. Caso
suem tamanho tão reduzido que não sedimentam no positivo, evite a aquisição deste frasco.
de
sílica,
devido
à
armazenagem
inadequada.
Verifique
se
o
frasco
que
es
fundo de um frasco, pois ficam constantemente se
adquirindo
apresenta
tais
cristais
no
fundo.
Caso
positivo,
evite
a
aquisição

movimentado de modo aleatório na 
 suspensão. Para frasco.

conseguir que esta solução seja estável e facilitar a Nunca deixe o frasco aberto, pois poderá haver
obtenção da suspensão, são adicionados aditivos ao evaporação da água. Com 
isso a concentração de
produto final. sílica dentro do frasco começa a aumentar. Como
são partículas muito pequenas, começam a se movi-
Ao misturar o líquido especial com o pó do reves- mentar pelo líquido e se chocam formando partículas
timento, ocorre a cristalização desta sílica e devido maiores, até formarem os cristais em suspensão que
à formação de cristais, há aumento de volume. Com foram citados acima.

14
REVESTIMENTOS PARA FUNDIÇÃO ODONTOLÓGICA

PÓ: ganizam informações e publicam padrões e normas


Este tem como composição básica a sílica, óxido para cada tipo de produto odontológico e que as em-
de magnésio e fosfato mono-amônia. Estes compo- presas devem seguir. Felizmente, a grande maioria
nentes, ao reagirem com a mistura de água desti- dos revestimentos aglutinados por fosfato ultrapassa
lada e líquido especial, originam uma reação química estes requisitos mínimos, como no caso de resistên-
com consequente liberação de calor e formação de cia mecânica. Mas então por que nos preocuparmos
um fosfato composto por amônio e magnésio, com a com isto? Tais propriedades em um revestimento es-
presença ainda de água. A sílica presente no líquido tão diretamente relacionadas com características do
especial fica “aprisionada” dentro deste material após produto, proporcionamento entre pó e líquido espe-
a presa. cial, manipulação e modo de aquecimento. Ou seja:
há a possibilidade de errarmos em alguma destas
Friso novamente que cuidado especial deve ser etapas e fazer com que o bloco fique mais frágil. Já
tomado com relação ao armazenamento do pó pois imaginou perder um bloco que continha em seu in-
a umidade pode contaminá-lo e comprometer a rea- terior o enceramento daquela prótese fixa de 8 ele-
ção de presa e o desempenho do produto. É comum mentos super complexa que você fez devido a isso?
em revestimentos aglutinados por fosfato contamina- Melhor nem pensar...
dos por umidade haver alteração na viscosidade do
mesmo quando manipulado. Ainda, como a mistura Nos revestimentos aglutinados por fosfato, a pre-
não ocorre de forma completa e ideal, o bloco forma- sença da sílica, além de auxiliar na expansão térmica,
do é mais frágil e por isso mais propenso a fraturas. também aumenta a resistência mecânica do bloco
antes de ir ao forno. É exatamente esta característi-
ca de alta resistência mecânica antes de ir ao forno
(se comparado com o revestimento aglutinado por
Resistência Sempre você verá nas bulas dos revestimentos, gesso) que permite que você faça o vazamento em
mecânica do dentre outras propriedades, o valor de resistência à um anel de silicone e, depois da presa inicial, possa
revestimento compressão (resistência de um corpo a uma força manipular o bloco de revestimento sem que haja um
aglutinado por que tende a comprimi-lo, encurtá-lo) do produto. Mas anel em volta do mesmo.
fosfato o que isso interessa para nossa prática? Temos que
imaginar que a partir do momento que o revestimento Você se lembra que no líquido especial temos a
foi vazado no interior do anel e chegou ao momento presença de sílica e que podemos alterar a quanti-
de presa inicial (momento em que a reação já pro- dade de uso do mesmo? Então quanto maior a con-
grediu de tal maneira que o bloco já pode ser ma- centração de líquido especial que usamos, maior a
nipulado com cuidado), o mesmo deixou de ser um resistência mecânica do bloco. Mas lembre-se da
material fluido e passou a algo sólido. Agora, toda vez regra de ouro que citamos há pouco: outras proprie-
que aplicamos algum tipo de força neste bloco de dades também poderão ser modificadas.
revestimento, ele reagirá de alguma forma tentando
resistir à força aplicada. Lembre-se também que deve-se aguardar um
tempo para que o revestimento atinja um valor de re-
Vários são os momentos em que aplicamos algum sistência mecânica mínima para só então ser mani-
tipo de força nos blocos, como no momento em que pulado por você. Este tempo depende de uma sé-
procedemos a remoção do bloco do interior do anel rie de reações químicas que ocorrem no bloco logo
de silicone. Todos já passaram pela situação de ten- após a manipulação do revestimento. Estas reações
tar remover antes do tempo certo e... fraturar parte sofrem influência direta de fatores externos, como,
ou o bloco todo. Viu como a resistência mecânica por exemplo, a temperatura ambiente.
(resistência de um corpo a uma ou mais forças apli-
cadas em sua superfície) do mesmo é importante? Assim que a reação química progride no reves-
DICA: Ain-da temos momentos em que a mesma é de timento, há liberação de energia na forma de calor.
Em dias frios, a reação grande importância como quando retirar o bloco Assim temos um momento em que o bloco atinge
será mais lenta e o bloco aquecido do forno e usamos um pinça para segurá- um pico de temperatura. Este momento, nos revesti-
irá demorar mais para lo e o momento em que a liga fundida é subitamente mento aglutinados por fosfato que podem ser usados
atingir um valor adequa- injetada para dentro no bloco com uma velocidade na técnica de aquecimento rápido, indica o momen-
do de resistência. Assim, altíssima. Em função disso, o impacto da liga no inte- to de inserí-lo no forno previamente aquecido. Isto
provavelmente você terá rior do bloco de revestimento geram grandes forças, porque neste momento a reação já avançou até um
que aguardar mais tempo que podem ou não, causar algum tipo de dano ao ponto que o bloco passa a ter resistência mecânica
do que o fabricante indica. bloco. adequada para resistir à mudança brusca de tem-
peratura.
Existem órgãos de padronização como a ADA
(American Dental Association) e a ISO (International
Organization for Standardization) que pesquisam, or-

15
Por que e como Durante o processo de fundição, uma liga metálica de controle da expansão térmica em revestimento
controlar a é submetida a um aquecimento gradual até que pas- aglutinado por fosfato. Lembre-se sempre que
expansão? sa do estado sólido para o estado líquido. A energia as proporções sugeridas pelo fabricante do
fornecida pelo maçarico é responsável por fazer com revestimento funcionam somente como uma
que os átomos da liga se distanciem e por isso há referência inicial para que você inicie o trabalho
um aumento de volume da liga, ou seja, expansão. de adequação à sua realidade. Você já parou para
Logo após a injeção da liga fundida no interior do pensar quantas combinações são possíveis entre os
bloco de revestimento, começa o processo inverso. vários tipos de ceras, revestimentos, ligas, maçaricos
A liga começa a perder rapidamente calor e volta do e todos os demais materiais envolvidos na técnica de
estado líquido para o sólido. Para que isso ocorra, fundição? Cada um destes materiais pode afetar de
os átomos deverão se aproximar para “restabelecer alguma maneira e intensidade a adaptação de uma
as ligações químicas”, causando agora uma contra- peça fundida. A simples mudança no tipo e fabricante
ção, ou como chamamos, contração de solidifi- do gesso pode trazer alterações nos resultados que
cação da liga. Dependendo da composição da liga, você conseguia anteriormente à troca. Assim, você
este processo de contração pode ocorrer com maior deve observar a proporção do fabricante do revesti-
ou menor intensidade. No quadro abaixo podemos mento que foi sugerida e analisar o resultado obtido.
ver como curiosidade valores médios de contração
de solidificação para ligas metálicas de uso comum A verificação final se houve sucesso ou não na
em Odontologia: relação entre correta expansão do revestimento
e compensação da contração do metal pode ser
feita tentando-se encaixar a peça no troquel que
Ligas com alto conteúdo de ouro 1,1% a originou. Assim para um coping, pode-se ter a
situação na qual o mesmo necessitará de relativa
Ligas de níquel-cromo 2,0% pressão para encaixar no troquel, ficando muito justo.
Este fenômeno se deve à falta de expansão correta
Ligas de cobalto-cromo 2,3% (subexpansão), causando muitas vezes desgaste do
troquel com a repetição da tentativa de encaixe. Se
ao contrário, o coping não necessitar de pressão
significativa para encaixar no troquel, podemos
Seria ótimo se a liga não exibisse alteração alguma encontrar duas situações: 1) o coping encaixa no
de seu volume durante o processo de fundição. Caso troquel nestas condições e não apresenta qualquer
isso ocorresse, a liga faria uma cópia exata do ence- movimento de balanço ou folga, ou 2) o coping
ramento e a precisão seria sempre ótima. Contudo apresenta este encaixe, porém apresenta amplo
temos este problema a resolver. movimento de balanço. No primeiro caso, temos uma
situação de sucesso na determinação e obtenção da
Assim, existem técnicas que permitem fazer com expansão necessária para compensar a contração
que o molde formado pelo revestimento em torno do da liga e, no segundo caso, temos uma expansão
padrão em cera fique ligeiramente maior. Assim, a excessiva (sobre-expansão).
liga fundida preenche este molde e quando solidifica
sofre contração. Se a peça fundida ficará nas dimen-
sões desejadas, dependerá de quanto este molde foi
“aumentado”. Existem então meios diferentes para
conseguir compensar a contração da liga metálica,
como as descritas a seguir:

• Expansão do padrão em cera em água aquecida


• Expansão higroscópica NUNCA SE ESQUEÇA
• Expansão de presa do revestimento As concentrações sugeridas para o revestimento
• Expansão térmica do revestimento podem e devem ser modificadas para melhorar
a adaptação. Assim, para aumentar a expansão,
aumente a quantidade de líquido especial e diminua
Como então optar por uma destas opções acima? a quantidade de água destilada (mantendo o volume
De pronto podemos descartar as duas primeiras op- final recomendado). Para diminuir a expansão, faça o
ções por não apresentarem resultados previsíveis e contrário, reduzindo a quantidade de líquido especial e
controlados. A terceira opção, ou seja, a expansão aumentando a água destilada.
de presa do revestimento, também é de difícil con-
trole pelo profissional e pode ser influenciada até
mesmo por alterações na temperatura ambiente e
água adicionada. Por estes fatos utilizamos o método

16
REVESTIMENTOS PARA FUNDIÇÃO ODONTOLÓGICA

Proporciona- A etapa de proporcionamento tem importância dos constantes de forma prática. Somente lembre-se
mento e espatu- fundamental no processo de fundição. É exatamente sempre de lavá-la com água após a medição do líqui-
lação nesta etapa que se consegue padronizar a quan- do especial, pois o mesmo, se deixado na seringa, irá
tidade de pó e líquido especial e assim manter um secar e impregná-la com cristais de sílica.
padrão de resultados. Recomenda-se sempre que o
revestimento seja manipulado em temperatura am- Verifique sempre a qualidade do líquido especial
biente próxima de 23°C. A manipulação em tem- pois, como já citado, o mesmo não deve possuir cris-
peraturas mais altas podem diminuir de modo con- tais suspensos e nem alterações de cor. Será que
siderável o tempo de trabalho. Em contrapartida, a preciso mesmo utilizar água destilada? Claro que
manipulação em temperaturas muito baixas pode sim! Na água comum obtida das torneiras e mesmo
fazer com a reação de presa se torne muito lenta ou na água filtrada podemos ter vários minerais presen-
incompleta, gerando um bloco de baixa resistência tes em quantidades variadas que podem alterar a
mecânica, sujeito a fratura até mesmo no momento reação de presa do revestimento e sua expansão. A
de retirar do anel de silicone. quantidade usada é muito pequena para que você
ache que é um gasto a mais.
O proporcionamento do pó deve ser feito sempre
por “peso” (massa) e nunca por volume (com con- Uma vez proporcionados o pó, líquido especial
chas dosadoras). Faça um teste: com uma concha e água destilada, a espatulação deve ser imediata
dosadora destas, pegue cinco doses de pó de re- para evitar que o líquido evapore e que o pó possa
vestimento e separe-as. Agora pese cada uma e veja contaminar com umidade. Ao colocar estes produtos
quanto varia o peso. Isto porque apesar de aparente- na cuba, sempre inicie pelo líquido e depois coloque
mente termos o mesmo volume, o pó pode estar aos poucos o pó. Com isto evita-se aprisionar ar no
compactado de forma diferente em cada dosagem, interior do pó, minimizando as porosidades. A es-
causando erros grosseiros. Consegue-se hoje com- patulação pode ser feita tanto manualmente quanto
prar balanças de precisão por preços bem convida- de forma mecânica (espatuladores mecânicos). Sem
tivos. Para uso com revestimento, adquira uma com dúvida alguma se consegue melhor resultado com
graduação ou precisão de 0,1 grama. Caso faça a espatuladores mecânicos que usam vácuo no interior
opção de comprar uma que tenha o visor digital, lem- das cubas de manipulação. Isto se deve a algumas
bre-se que quando as pilhas estiverem com carga diferenças básicas como padronização do tempo e
baixa pode haver erros na medição. Assim, é sempre velocidade de manipulação, bem como diminuição
bom ter um objeto com peso bem preciso e conhe- das porosidades devido ao vácuo. Ao término da
cido, para usá-lo como gabarito. Como dica, use um espatulação mecânica sob vácuo, coloque a cuba
lingote de liga metálica e faça a pesagem do mesmo sobre um vibrador de gesso e deixe o ar entrar aos
com pilhas ainda novas. Anote no mesmo o peso e poucos dentro da cuba. Deixar o ar entrar rapida-
de vez em quando pese-o novamente para verificar mente no interior da cuba pode causar condensação
se a balança mostra o mesmo valor anotado. Pro- de água no revestimento.
cedimento simples mas fundamental!
Lembre-se que cubas de manipulação se des-
Sempre antes de proporcionar o pó, vire o pote gastam com o tempo. Como o pó do revestimento
umas duas ou três vezes para assegurar que o mes- é abrasivo, as paredes da cuba são desgastadas e
mo esteja homogêneo. Com o transporte e vibra- passam a não mais estarem próximas da pá mistu-
ções, as partículas de maior tamanho podem se des- radora, podendo gerar um revestimento mal manipu-
locar para o fundo do pote. Lembre-se de aguardar lado, com resíduos de pó não manipulado aderido
cerca de 30 segundos antes de abrir o pote devido nas paredes. Principalmente para manipulação de
à formação de poeira. Nunca se esqueça de usar pequenas quantidades de revestimento, isto causa
máscara durante esta etapa (recomendável máscara uma mudança considerável na proporção original
DICA: semi-facial, com filtro tipo P1). A pessoa mais indica- entre pó e líquido especial, prejudicando a expansão
Em dias frios, a reação da para se preocupar mais com sua saúde ocupacio- e assim a adaptação. As cubas de materiais inertes
será mais lenta e o bloco nal é você mesmo e ninguém mais. como os polímeros (Ex.: Acrílico, policarbonato) são
irá demorar mais para ideais, pois o resíduo do desgaste das mesmas não
atingir um valor adequa- Já para o proporcionamento do líquido especial interfere no revestimento.
do de resistência. Assim, e da água destilada, sempre o fazemos por volume.
provavelmente você terá Podem ser usados tanto copos graduados quanto Mantenha as cubas preenchidas com água quan-
que aguardar mais tempo seringas descartáveis. Contudo, dependendo do do não estiverem em uso ou então umedeça-as sem-
do que o fabricante indica. copo gra-duado e material em que foi fabricado, pre antes de colocar o líquido especial no seu inte-
cerca de 0,5ml de líquido ou mais pode ficar ade- rior, imediatamente antes da manipulação. Algumas
rido às suas paredes, causando erros na proporção cubas podem absorver parte do líquido alterando a
pó-líquido especial. Particularmente, com a seringa proporção original entre pó e líquido especial. Nunca
descartável conseguimos maior precisão e resulta- use uma cuba que foi usada para manipular gesso ou

17
revestimento aglutinado por gesso para a espatula-
ção de revestimento aglutinado por fosfato. O resíduo
de gesso irá interferir na reação de presa, diminuindo
o tempo de trabalho. Ainda, durante o aquecimento
em temperaturas mais altas, o gesso irá se decom-
por liberando gases de enxofre, contaminando a liga
fundida.

Respeite sempre o tempo determinado pelo fabri-


cante para a espatulação. Contudo pequenos ajustes
no tempo podem ser feitos, pois existem diferenças
entre espatuladores, cubas e velocidade. Tenha cui-
dado com reduções muito grandes no tempo de es-
patulação, pois podem gerar revestimento mal ma-
nipulado, além de permitir que sejam formados e FIGURA 8: A imagem da esquerda mostra um anel de silicone
aprisionados gases decorrentes do contato do pó adequado e que ainda é flexível. Já na imagem da direita vê-se um
com o líquido especial, gerando pequenas bolhas na anel de silicone já envelhecido pelo tempo e/ou mau uso. Este, devido
superfície dos padrões de cera. à rigidez, impede a correta expansão do revestimento, devendo ser
substituído.
Caso seja necessário fazer a espatulação manual,
uma boa dica é colocar a cuba sobre um vibrador de
gesso e ligá-lo em média vibração. Coloca-se o líqui- Tão logo os anéis de silicone que você usa come-
do especial misturado à água destilada e depois o cem a ficar rígidos, devem ser descartados e subs-
pó e faz-se a manipulação sob vibração. Você notará tituídos. Tenha sempre o cuidado de lavar os anéis
quantas bolhas de ar são liberadas neste processo. com algum tipo de detergente neutro e secá-los tão
logo faça a retirada do bloco. Deixar restos de re-
vestimento em contato com o silicone pode torná-lo
A seleção de um anel para revestimento correto é rígido de maneira mais rápida. Para facilitar a limpeza
Anéis e a garantia de você conseguirá obter a expansão que e remoção do bloco após a presa, pode ser aplicada
vazamento de deseja com o revestimento utilizado. Os anéis metáli- uma camada bem fina de graxa de silicone na base
revestimentos: cos já foram muito utilizados e tiveram seu uso reduz- formadora de cadinho (base do anel).
ido para revestimentos aglutinados por fosfato devido
à praticidade dos anéis de silicone. Mas a vantagem Uma das etapas críticas é o momento de proceder
dos anéis de silicone só se deve à sua praticidade ao vazamento do revestimento recém-manipulado no
no uso e limpeza? Não! Devemos entender por que interior do anel. Para tal etapa, deve-se utilizar sempre
usamos estes anéis para então sabermos selecioná- vibração moderada e fazer o vazamento do revesti-
los corretamente. A técnica em que se usam os anéis mento em pequena quantidade e em fluxo contínuo,
flexíveis chama-se Técnica da Expansão Livre. ou seja, sem vazar em um momento uma quantidade
grande de revestimento e em outra pouca quanti-
A ideia é que o bloco de revestimento não tenha dade. Sempre antes do vazamento prendo a base ao
nada em torno do mesmo que possa restringir sua anel de silicone com um pedaço de fita adesiva. Não
expansão de presa e térmica e por isso usam-se os é nada agradável carregar o anel e a base soltar, va-
anéis de silicone. Mas atenção: para que funcione o zando todo o revestimento.
anel deve realmente ser flexível! Vê-se no mercado
alguns anéis extremamente rígidos e que podem Note que revestimentos de boa qualidade, obtidos
prejudicar todo o processo (ver figura 8). Como isso com pós de granulação bem fina como no caso do
ocorre? Imagine que você use um anel de silicone Nanovest M, ficam extremamente fluidos após a ma-
muito rígido. No momento que o revestimento ini- nipulação, necessitando de pouca vibração para se
ciar a expansão de presa, o bloco começará a ex- fazer um vazamento de qualidade. Deve-se parar de
pandir em todas as direções, pois é um processo fazer o vazamento quando houver cerca de 0,5 a 1cm
tridimensio-nal. Contudo, terá as paredes do anel de revestimento sobre a parte mais alta do padrão
como barreira e então irá expandir no sentido das em cera montado. Quando se deixa uma espessura
extremidades do anel, pois estas estão livres. Com maior de revestimento, dificulta-se a saída do vapor
isso o anel aumenta suas dimensões no sentido do gerado pela reação de presa do revestimento. Com
comprimento do mesmo, “levando junto” a cópia que isso cria-se pressão junto aos padrões de cera, que
o revestimento fez dos padrões que você incluiu. É juntamente com o aumento de temperatura, pode
como se o padrão fosse “esticado” neste sentido, causar distorção.
causando distorção e peças fundidas desadaptadas.

18
REVESTIMENTOS PARA FUNDIÇÃO ODONTOLÓGICA

Constitui prática comum neste momento colocar Por que e


o anel sob pressão, procedimento correto que como fazer o
aumenta a resistência mecânica do revestimento aquecimento do
após a presa. Ao ler sobre a composição do pó, bloco?
você viu que com a espatulação ocorre uma reação
química com liberação de calor, o que pode ser O aquecimento do bloco de revestimento tem por
prontamente notado por quem já trabalhou com funções principais eliminar a cera e/ou resina acrílica
revestimentos aglutinados por fosfato. Podemos usada na confecção do padrão de fundição e propor-
encontrar revestimentos em que há aumento de cionar expansão térmica para compensar a contra-
até 70°C na temperatura do bloco quando ocorre a ção da liga metálica na solidificação.
reação química em sua plenitude. Por que devemos
saber isso? Lembra-se quando o fabricante Pode-se fazer o aquecimento do bloco de revesti-
recomenda um determinado tempo espera, após mento de acordo com dois tipos de técnicas: a Téc-
o vazamento do revestimento, para então inserir o nica de Aquecimento Convencional (ou Aquecimento
bloco no forno (técnica do aquecimento rápido)? Este Lento) e a Técnica de Aquecimento Rápido:
tempo tem relação direta com o momento de pico da
reação, pois neste atinge-se a resistência mecânica
necessária para que o bloco não quebre. TÉCNICA DE AQUECIMENTO
CONVENCIONAL
Você deve sempre deixar sobre a parte mais su- (Técnica do Aquecimento Lento ou em
perior dos padrões em cera já montados, uma es- Patamares):
pessura máxima de revestimento próxima de 8mm.
Após a presa inicial do revestimento e antes de Esta técnica, já usada com os primeiros revesti-
colocá-lo no forno, deve ser feito um desgaste cui- mentos aglutinados por fosfato, envolve aguardar
dadoso desta parte superior do bloco. Isto porque há maior período após o vazamento e aquecimento gra-
a precipitação de cristais nesta superfície (note como dativo do bloco. Fique atento pois normalmente nes-
ela sempre fica mais brilhante e lisa que o restante ta técnica deve-se aguardar no mínimo 1 hora após o
do bloco), podendo causar expansão não uniforme vazamento para que o bloco possa ser então gradu-
nesta região e também dificultar a saída de gases almente aquecido. Normalmente os erros graves
durante o aquecimento. Após esse desgaste, deve nesta técnica se relacionam com taxas de aqueci-
permanecer uma espessura de revestimento de no mento muito altas e rápidas. Assim, abaixo está uma
mínimo 5mm, pois espessuras menores que essa sugestão de patamares para aquecimento conven-
sujeitam o bloco a fratura no momento da injeção e cional que funciona perfeitamente com Revestimento
impacto da liga fundida. Nanovest M:

Etapa Temperatura Velocidade do Temperatura Tempo a ser mantido


inicial aquecimento Final na temperatura final

1 Ambiente 5°C/minuto ou baixa 250°C 20 a 30 minutos

2 250°C 7°C/minuto ou média 500°C 20 minutos

3 500°C 7°C/minuto ou média Recomendada 30 a 60 minutos


pelo fabricante
da liga

19
Este ciclo é especialmente recomendado quando de maior tempo entre remoção do anel e fundição,
se tem a presença de resina acrílica no padrão de recomenda-se banhar a parte externa do bloco em
fundição, componentes calcináveis para prótese cera derretida.
sobre implante (Ex.: UCLAs) e para padrões com
grandes volumes de cera e/ou de grande extensão. Apresenta como inconveniente o fato de que se
Caso o padrão seja de pequena dimensão, feito so- após a fundição de um bloco decidir fundir outro pela
mente em cera e incluído em anéis menores (até o mesma técnica terá que aguardar o forno esfriar ou
número 3), pode-se alterar a temperatura final do será necessário ter dois fornos.
ciclo 1 para 400°C mas mantendo a velocidade de
aquecimento de 5°C ou baixa.
TÉCNICA DE AQUECIMENTO
Apesar do tempo gasto para fundir um bloco RÁPIDO
nesta técnica, é a que proporciona um bloco de re-
vestimento com maior resistência mecânica. Deve Sem dúvida alguma o surgimento dos revestimen-
ser utilizada como preferencial sempre que for fundir tos aglutinados por fosfato que podem ser submeti-
padrões com quantidades consideráveis de resina dos a esta técnica revolucionou e facilitou o trabalho
acrílica como próteses parciais fixas mais extensas e dos TPDs. Consegue-se com esta técnica facilmente
componentes de implante calcináveis, ambos feitos fazer a inclusão do padrão em cera e cerca de no
em polímero. Isto se justifica pelo fato de que com máximo uma hora depois já estar com a peça fun-
o aquecimento lento, a eliminação destes polímeros dida em mãos para os ajustes e acabamentos, algo
ocorre de modo diferente da cera pura. Quando se impossível com o Aquecimento Lento.
aquece a cera rapidamente, grande parte escoa,
pois se torna líquido, e o restante se espalha pelo O grande avanço na formulação e principalmente
revestimento ou é carbonizada. Já no caso destes na granulação dos revestimentos possibilitou este
polímeros, não há escoamento ou dispersão pelo avanço. Mas exige do profissional ainda mais cui-
revestimento. Assim, são eliminados basicamente dado com a padronização de todas as etapas, pois
sendo carbonizados (‘queimados’). Se o aqueci- erros podem facilmente causar falhas, como ocor-
mento é feito de maneira muito rápida, podem sofrer rência de trincas dos blocos ou até mesmo “estouro”
grande expansão e danificar o revestimento em volta dos mesmos quando colocados no forno.
do padrão. É frequente vermos relatos de profissio-
nais que fizeram “tudo certo” na inclusão de UCLAS Geralmente nesta técnica aguarda-se após o
(calcináveis) e que após a fundição, ao fazer a desin- vazamento um tempo determinado pelo fabricante
clusão, encontram o orifício de entrada do parafuso (para o Nanovest M este tempo é de 30 minutos) e
no UCLA selado por uma lâmina de metal. Ocorreu logo depois já se pode retirar o bloco do anel de sili-
exatamente o que foi descrito anteriormente. O re- cone e inseri-lo direto no forno previamente aquecido
vestimento fratura nesta região e a área fraturada é a uma temperatura que pode estar entre 500°C e
preenchida por metal fundido. 700°C. Aguarda-se geralmente cerca de 15 minutos
nesta temperatura e logo depois o forno já pode ser
Após a remoção do bloco de revestimento do inte- regulado para a temperatura final, usando velocidade
rior do anel, caso não vá executar a fundição logo em média (7°C/minuto) ou alta (10°C/minuto) de aqueci-
seguida, mantenha-o em uma condição que permita mento.
a manutenção de sua umidade natural. A água no
interior do bloco auxilia na eliminação da cera e tam- Normalmente esta técnica apresenta menor índice
bém na condução de calor no bloco. Contudo, em de falhas quando utilizada com blocos menores (até
hipótese alguma o bloco deve ficar em contato direto o número 4). O uso desta com blocos grandes como
com a água, pois poderá sofrer expansão higros- os de número 6 aumenta o índice de trincas.
cópica. Uma alternativa é enrolar o bloco em filme de
PVC (plástico para alimentos) ou, em alguns casos É, sem sombra de dúvida, um dos maiores avan-

20
REVESTIMENTOS PARA FUNDIÇÃO ODONTOLÓGICA

ços em termos de economia de tempo no Labo- das vezes estão relacionadas com procedimentos
ratório. Contudo, exige no profissional atenção aos errados que o profissional executa no momento em
tempos envolvidos na técnica e atenção aos deta- que o revestimento está desenvolvendo sua reação
lhes. Recomenda-se que seja adquirido um contador de presa. Dentre as causas mais comuns podem-se
de tempo (timer) que possua algum sinal sonoro ao citar:
final do tempo programado para controle principal-
mente do tempo antes de colocar o bloco no forno. • Tempo de presa recomendado pelo fabricante
Contudo, caso esqueça de colocar o bloco no forno não foi seguido (o bloco foi manipulado antes do tem-
no momento correto, não se arrisque: faça a técnica po ou aguardou-se tempo demais);
de aquecimento convencional.
• O bloco sofreu desidratação severa antes de ir
Os princípios fundamentais ao se estabelecer a ao forno;
temperatura final de aquecimento do bloco devem
garantir que: • Líquido especial contaminado com cristais de
sílica;
• Haja expansão térmica adequada e que com-
pense a contração da liga metálica; • Uso de grandes volumes de resina acrílica sem
recobrimento do padrão com cera.
• Após iniciado o aquecimento do bloco e próximo
aos 300°C, inicia-se a liberação de gases compostos Seguem algumas observações abaixo que se apli-
por água e amônia. Por isso o cheiro característico cam para qualquer técnica de aquecimento:
de amônia nos estágios iniciais e a necessidade de
ter um sistema de sucção de gases eficiente sobre o • Ao colocar o bloco no interior do forno, coloque-
forno para blocos de revestimento. o sempre com a parte aberta (área de entrada da
liga) voltada para a base do forno. É interessante que
• Continuando o aquecimento e ao se aproximar o bloco seja posicionado sobre uma grade ou algo
de temperaturas de 750°C, ocorre a reação entre os similar para possibilitar que a cera derretida escoa
grupamentos de fosfato e a sílica, formando com- livremente do interior do bloco para o forno, facilitan-
plexos de sílico-fosfato. Qual a vantagem disto? Pode do assim a eliminação da mesma.
haver um aumento na resistência mecânica do bloco
de até 7 vezes. • Uma vez colocado um bloco no interior do for-
no e atingida a temperatura em que cera começa a
• Seja capaz de manter a liga fundida e com a flui- derreter, evite abrir a porta durante os próximos 10
dez necessária para o completo preenchimento das minutos. No interior do forno haverá gases decorren-
áreas mais finas do molde de revestimento antes que tes da queima da cera que só não se incendeiam
solidifique; devido à escassez de oxigênio. Contudo, caso você
abra a porta do forno neste momento, estes gases
• Permitir o resfriamento controlado da liga fun- se misturarão com o oxigênio vindo do ambiente, que
dida, evitando alterações em sua microestrutura de- somados às altas temperaturas geram fogo. Assim
vido ao aquecimento excessivo ou insuficiente. há risco de combustão da cera e queimaduras. Caso
queira inserir mais de um bloco no forno, faça em
• A temperatura final a ser atingida no bloco de um prazo máximo de 30 segundos após inserção do
revestimento tem relação direta com a liga a ser fun- primeiro.
dida. Normalmente há uma diferença em torno de
400°C entre a temperatura usada para fundir a liga • Evite colocar os blocos muito próximos das pare-
metálica e a temperatura a ser atingida no bloco de des laterais do forno, pois como as resistências estão
revestimento. Por exemplo, se você vai fundir uma normalmente ali localizadas, o bloco terá um lado ou
liga com zona de fusão próxima de 1200°C, provavel- área aquecida com temperatura diferente das outras.
mente utilizará uma temperatura final de aquecimento A região com temperatura mais homogênea é o cen-
do bloco próxima de 800°C. Mas lembre-se que este tro do forno.
é um dado de referência. O ideal sempre é utilizar
inicialmente os dados fornecidos pelo fabricante da • Você notará que o bloco, após eliminação da
liga metálica para temperatura final do bloco e caso cera, ficará com uma coloração escurecida, devido
necessário, fazer as adequações às substâncias que estão sendo liberadas do reves-
timento e da carbonização da cera. Somente faça a
A ocorrência de trincas no bloco de revestimento fundição quando esta característica não estiver mais
no momento do aquecimento pode chegar ao ponto presente.
de comprometê-lo ou até mesmo causar a fratura
total do mesmo durante esta etapa. Na maioria

21
Como ocorre a Para que o padrão em cera seja corretamente Quando se usa a técnica de aquecimento rápido,
eliminação da eliminado, deve-se garantir que o bloco permaneça a umidade natural do bloco recém-manipulado se
cera e/ou resina um determinado período de tempo na temperatura transforma em vapor devido ao rápido aquecimento
acrílica? final. Isto assegura não só a eliminação da cera, mas criando uma pressão sobre o padrão em cera. Isto
também dos gases gerados na combustão da cera, minimiza a contaminação do revestimento por cera
ricos em carbono. A eliminação incompleta do pa- derretida (diminuindo o tempo de permanência fi-
drão de fundição devido ao uso de baixas temperatu- nal) e facilita a remoção da cera do interior do bloco
ras e tempo insuficiente de manutenção do bloco no de revestimento. Vejas nas figuras abaixo (10A e B)
forno pode resultar em peças fundidas com bordas como o tempo e/ou temperaturas inadequadas po-
brilhantes, arredondadas e dependendo da liga, com dem contaminar o bloco de revestimento.
coloração azulada (ver figuras 9A e 9B). Isto porque
os resíduos da combustão da cera se combinam
com o oxigênio e formar monóxido de carbono, um
gás redutor (ou seja, evita a oxidação e por isso as 10A
margens ficam brilhantes). A presença deste gás im-
pede que a liga fundida chegue até a região do molde
referente ao término e outras áreas, e assim as mar-
gens ficam arredondadas. É como se você tampasse
a ponta de uma seringa descartável e tentasse em-
purrar o êmbolo. A presença de ar no interior impede
que o êmbolo toque no final de seu percurso.

9A

10B

FIGURAS 9A e B: Notam-
se nas imagens falhas de
fundição causadas pelo
aprisionamento de gás no
interior do bloco de reves-
timento. Observe tanto
na imagem 9A (fundição 9B
em Ni-Cr) quanto na 9B
(fundição de titânio) as
bordas arredondadas e a
coloração das mesmas

FIGURAS 10A e 10B: A) Bloco de revestimento em corte, com cera


eliminada de modo incompleto. Estes resíduos, em contato com o
metal fundido, geram gases e falhas de fundição. B) Nesta imagem
vê-se um bloco em corte com completa eliminação da cera.

22
REVESTIMENTOS PARA FUNDIÇÃO ODONTOLÓGICA

Uma dúvida frequente refere-se a até quanto tem- E se o bloco permanecer na temperatura final mais
po deve-se deixar o bloco na temperatura final antes tempo do que o recomendado? Podemos neste caso
de fundir, use uma dica simples: Multiplique quan- ter um processo de deterioração do revestimento
tos gramas de revestimento usou por 0,4 e saberá (figura 11) em tempos de manutenção prolongados
aproximadamente quanto tempo. Faça uma tabela na temperatura final, que normalmente não é baixa.
para facilitar depois quando fizer novas inclusões. Por Com isso, é comum que as peças fundidas apresen-
exemplo, um bloco que foi feito com 90 gramas de tem superfície extremamente rugosa. Recomenda-
revestimento deverá ficar na temperatura final por 36 se 1 hora como tempo máximo de manutenção na
minutos (90x0,4=36). Para cada bloco adicional que temperatura final.
colocar no forno (de mesmo tamanho) acrescente 10
minutos. Assim, se no exemplo anterior fossem dois
blocos de 90 gramas, seriam deixados 46 minutos na
temperatura final.

FIGURA 11: Bloco de revestimento que permaneceu


tempo excessivo na temperatura final de aquecimento.
Nota-se a superfície rugosa na parte externa mas que
também ocorre na parte interna, gerando peças fundi-
das com superfície irregular e de má qualidade.

23
METAIS, LIGAS E FUNDIÇÃO
O equipamento Muitas são as dúvidas com relação ao equipa- que nem sempre tamanho da chama ou tamanho
de fundição: mento usado na fundição, como tipo de maçaricos, do bico do maçarico influenciam a temperatura, mas
diferenças entre centrífugas e outros tipos de equipa- principalmente a quantidade de caloria fornecida à
mentos. Posso lhes garantir que o equipamento mais liga. Quem já tentou por curiosidade fundir liga de
tecnológico e moderno não garante resultado algum níquel-cromo com maçarico de baixa fusão sabe
caso a pessoa que o opera não tenha conhecimento. bem o que estamos comentando.

No caso do gás de cozinha, o que modifica a


O maçarico: O tipo de maçarico a ser utilizado e a mistura que temperatura e energia final fornecida à liga é o tipo
o alimenta têm relação direta com o tipo de metal a de comburente, que pode ser o ar comprimido ou
ser fundido. Isto porque cada mistura (Ex.: Ar com- oxigênio. Para o bom funcionamento do maçarico é
primido + gás de cozinha) pode gerar uma tempera- imprescindível que sejam instalados reguladores de
tura diferente. pressão. Ainda, no caso de uso de ar comprimido, o
já citado uso de filtros (água, óleo e partículas sólidas)
Nunca use em um maçarico o ar comprimido vin- é obrigatório.
do diretamente do compressor. Este ar sai do com-
pressor contaminado com óleo, umidade e outras Saber a parte correta da chama que deve ser
substâncias. Assim, instale um sistema que filtre no posicionada sobre a liga com a finalidade de fundi-la
mínimo o óleo, água e partículas sólidas que possam pode ser o diferencial entre o sucesso e o fracasso
vir do compressor. O ar contaminado pode contami- neste processo. O tipo de maçarico, principalmente
nar a liga metálica e ainda causar mau funcionamen- com relação à ponta do mesmo (área de saída dos
to do maçarico, como nos casos em que a chama gases), pode formar chamas com características
fica alterando repentinamente sua intensidade ou até distintas. Muitas vezes erra-se na fundição por usar
mesmo apagando de modo repentino, sinal claro de maçaricos com pontas danificadas por quedas, que
contaminação do ar. geram chamas irregulares devido à inadequada mis-
tura e saída dos gases.
Dentre os combustíveis que podem ser usados
nos maçaricos para use em fundição odontológica, Basicamente, a chama de um maçarico possui
o gás liquefeito de petróleo (GLP) ou mais conhecido três áreas principais (figura 12), descritas abaixo:
como gás de cozinha é a melhor opção por fornecer
a temperatura e energia que precisamos e ser de fácil • Área da chama de cor azul-escuro, próxima
aquisição. Outros gases como propano e acetileno ao bico do maçarico: zona oxidante, que nunca deve
não são indicados, pois contém cerca de 4 a 8 vezes ser posicionada sobre a liga, pois causa oxidação da
mais hidrocarbonetos (substâncias que após com- mesma e grande perda de propriedades de escoa-
bustão liberam calor) do que o gás de cozinha, o que mento e mecânicas.
faz com que temperaturas extremamente altas sejam
obtidas, com grande risco de “queimar” elementos • Área da chama de cor azul-claro, após
constituintes da liga e alterá-la. a zona de oxidação: região na qual ocorre a com-
bustão de maneira mais satisfatória, possuindo maior
Importante aqui diferenciarmos temperatura de temperatura, sendo ligeiramente redutora (ou seja,
energia ou caloria fornecida. Imagine que você tenha minimiza o risco de oxidação da liga). E a área de uso
uma panela bem grande cheia de água no fogão de preferencial em fundição.
sua casa. Todas as chamas do fogão produzem a
mesma temperatura, pois usam o mesmo com- • Área final da chama, de cor violeta: zona em
bustível (gás de cozinha) e comburente (ar ambiente). que o oxigênio do ambiente em torno da chama é
Mas será que todas gastam o mesmo tempo para absorvido, tornando-a altamente oxidante e de baixa
aquecer esta panela cheia de água? Não, pois nas temperatura se comparada à zona preferencial.
chamas maiores a quantidade de energia fornecida
para aquecer a água é maior. Aqui entendemos bem

C B A
FIGURA 12: Chama de um maçarico utilizando
oxigênio e “gás de cozinha” (GLP), com as diferentes
áreas: A) chama de cor azul-escuro, inadequada
B) chama de cor azul-claro, ideal para fundição C)
chama de cor levemente violeta, inadequada.

24
Um erro muito comum no uso do maçarico é a O uso do maçarico com chama de temperatura
regulagem inadequada da quantidade de gases acima da ideal ou por tempo acima do necessário
que irão gerar a chama. No caso de maçaricos com para fundir os lingotes causa a “queima da liga”, como
oxigênio e “gás de cozinha”, o excesso de gás de co- é normalmente chamado este erro. “Queimar a liga”
zinha na mistura gera uma chama amarelada, devido envolve fornecer mais energia do que é necessário,
à combustão incompleta do gás. Os resíduos forma- podendo fazer com que alguns elementos da liga se-
dos incorporam à liga fundida, alterando suas pro- jam perdidos, o que pode alterar várias propriedades
priedades mecânicas e podendo causar bolhas em da mesma. Na figura 15 pode-se notar a diferença na
próteses metalocerâmicas (figura 13). região do “botão de fundição” em dois blocos que
foram fundidos com chamas diferentes.

15A

FIGURA 13: Chama inadequada, com excesso de gás de cozinha na


mistura.

Já o excesso de oxigênio também pode prejudicar


a liga fundida por gerar temperaturas excessivas e
uma chama altamente oxidante (figura 14).
15B

FIGURA 14: Chama inadequada, com excesso de oxigênio na mistura.


FIGURA 15: Nota-se no bloco 15A a coloração escura e superfície ir-
regular, mostrando que a liga foi superaquecida ou “queimada”. Já no
bloco 15B vê-se a superfície regular com coloração mais clara, típico
de uma fundição de Ni-Cr feita corretamente.

25
METAIS, LIGAS E FUNDIÇÃO

A “máquina de Estando a liga metálica fundida, é necessário que obrigatório, pois outros tipos de cadinho podem não
fundição”: seja aplicada força sobre a mesma para que seja resistir às altas temperaturas e ocorrer desde a de-
forçada a entrar no bloco de revestimento e ainda gradação do cadinho com contaminação da liga até
permanecer sob ação desta força enquanto copia os mesmo acidentes envolvendo fraturas do cadinho.
detalhes deixados pelo padrão em cera para então Não se recomenda a colocação do cadinho com a
solidificar-se. Para tal função, temos variadas má- liga no interior do forno junto com os blocos porque
quinas de fundição que aplicam forças de modo dife- este procedimento pode causar oxidação na parte
rente: por força centrífuga, por pressão, por vácuo ou externa dos lingotes, não exibindo função prática al-
até mesmo uma combinação destes métodos. Devi- guma.
damente operadas, qualquer uma destas máquinas
pode trazer resultados satisfatórios.
Posição do bloco
É frequente surgir dúvida sobre quantas voltas de- na máquina de
vem ser dadas na mola da centrífuga ou qual velo- fundição:
cidade usar nas centrífugas elétricas. Como saber?
Imagine-se com uma bola feita de algodão em uma Há necessidade de estabelecer uma posição cor-
das mãos e uma bola do mesmo tamanho só que reta do bloco na máquina antes fazer a fundição?
feita de chumbo na outra. Para jogá-las para a frente Vejamos um exemplo prático: imagine-se dirigindo
você precisará da mesma força e velocidade? Ob- um carro em alta velocidade em uma reta. Logo à
viamente não. Isto se aplica também às centrifugas. frente você terá uma curva bem acentuada para pas-
Quanto menor a densidade da liga metálica que você sar. Você pode escolher qualquer ponto de entrada
estiver fundindo, mais precisará de velocidade para nesta curva? Claro que não porque saberia qual o
conseguir impulsioná-la, como ocorre com as ligas resultado. Isto porque haverá influência sobre as for-
de titânio e ligas com alto conteúdo de paládio. Caso ças que serão aplicadas no carro. No processo de
seja usada velocidade menor que a adequada, pode fundição em máquinas centrífugas ocorre algo simi-
ser que a liga não consiga preencher totalmente as lar. A força gerada na curva do carro e a força gerada
áreas mais detalhadas do bloco de revestimento. no acionamento da máquina de fundição centrífuga
são similares. Assim, existem áreas do bloco de re-
Para ligas com alta densidade, como aquelas à vestimento, dependendo da posição, que recebem
base de ouro, se forem usadas velocidades muito maior aplicação de forças. Se a nossa intenção é fa-
altas, podemos impulsionar esta liga com veloci- cilitar a entrada de liga metálica fundida, podemos
dade tal que a mesma poderá colidir com as partes colocar o bloco e a área que contem o molde de
mais delicadas do interior do bloco de revestimen- revestimento voltado para onde são geradas forças
to e fraturá-las. Ainda, podem ocorrer fraturas nas que irão favorecer a injeção da liga fundida, área esta
paredes internas do bloco de revestimento, gerando denominada zona preferencial.
formação de rebarbas de metal na fundição. Como
referência inicial e sugestão, normalmente estas ligas O fluxo de metal fundido em uma máquina cen-
necessitam de metade das voltas que você normal- trífuga, quando injetado para o interior de um bloco,
mente usa para fundir ligas não nobres como as de ocorre sempre em direção oposta do movimento do
níquel-cromo. braço da máquina e sempre para a zona resultante
das forças. Imagine a situação que foi citada acima
Para centrífugas acionadas por molas, quando do carro em uma curva e com maior velocidade... já
estiver fundindo ligas de baixa densidade e/ou em notou como as pessoas são “empurradas e força-
quantidade pequenas, será necessário aumentar a das” para um determinado lado do carro? A liga fun-
quantidade de voltas para garantir velocidade e força dida, ao entrar no bloco durante o giro da centrífuga,
adequadas para que a liga preencha o bloco de re- sempre é forçada para o lado externo do bloco.
vestimento.
Assim, imagine sempre que a liga “terá preferência”
Como curiosidade, saiba que na maioria dos ca- por se deslocar em direção a uma parte do bloco,
sos, antes da centrífuga completar metade da primei- chamada de zona preferencial. Quando se montam
ra volta após acionada, a liga fundida já preencheu padrões ao longo de toda a circunferência do anel de
o bloco de revestimento. Por que então deixar que silicone, estamos sempre aumentando a chance de
a mesma continue com seu movimento? Isto deve erro em uma parte das montagens, pois colocamos
ser feito para que a força seja mantida até que a liga os padrões em áreas de difícil preenchimento pela
passe do estado líquido (fundida) para o estado só- liga. Veja que usei a expressão “aumentando a
lido novamente. chance de erro”, pois já fiz montagens deste tipo
que não apresentaram erros visíveis. Mas imagine
Com relação aos cadinhos para fundição, reco- que seu dia de azar coincida com a montagem errada
menda-se especial atenção aos utilizados com ligas de um padrão para uma prótese metalocerâmica de
de zona de fusão mais altas, como as ligas de níquel- 8 elementos? Bem desagradável, não?
cromo. Para estas, o uso de cadinhos cerâmicos é

26
Metais e ligas Para determinar a quantidade de liga metálica bém peso específico, geralmente fornecido na bula)
metálicas: a ser utilizada, deve-se ter o “peso” do padrão em e chega-se a uma quantidade de liga que permitirá o
cera, juntamente com os condutos de alimentação preenchimento do bloco de revestimento e a mínima
(sprues). A partir daí basta multiplicar este peso (em sobra necessária nos condutos e botão de fundição:
gramas) pela densidade da liga metálica (ou tam-

O correto aquecimento dos lingotes na fundição outro. Este é o momento de acionar o movimento da
é parte fundamental do processo. Como não temos máquina.
nas máquinas de fundição (centrífugas) como saber a
que temperatura está a liga, controlamos o momento Já nas ligas não nobres, normalmente quando se
de liberar a máquina pela aparência dos lingotes. está próximo da temperatura correta de acionar a
Nas ligas nobres com alto conteúdo de ouro, nor- máquina de fundição (figuras 16A e 16B), os lingotes
malmente forma-se uma gota de liga fundida no cen- que antes estavam com coloração laranja bem forte,
tro do cadinho, com cor laranja. Ao bater levemente tendendo ao branco, começam a perder sua forma
com a pinça porta-bloco (tenaz) no cadinho notamos original (“desmoronam”) e a superfície oxidada ex-
que esta gota move-se com facilidade de um lado a terna apresenta pequenas trincas brilhantes.

16A 16B

FIGURA 16 A e B: A) Na imagem da esquerda vê-se um lingote de Ni-Cr em um momento intermediário do aquecimento para a fundição do
mesmo. Note que o lingote encontra-se já com a coloração típica, porém ainda mantém sua forma. B) Já na imagem da direita vemos o exato
momento em que a máquina de fundição pode ser acionada. O lingote perde sua forma (“desmorona”) e adquire uma coloração laranja bem
intensa. Por isso utilizam-se óculos próprios para esta situação.

27
METAIS, LIGAS E FUNDIÇÃO

O aquecimento das ligas metálicas acima da tem- química fazem com que a reação entre revestimento
peratura recomendada traz prejuízos consideráveis e liga fundida seja mínima. Obviamente consideramos
ao resultado final. Geralmente as ligas superaque- aqui uma situação em que a fundição da liga foi feita
cidas aderem firmemente ao revestimento, apre- corretamente. Nas figuras abaixo (18A e 18B) podem
sentando coloração esverdeada (no caso de ligas de ser visualizadas peças fundidas em que foram utiliza-
Ni-Cr). Esta camada de reação formada no contato dos o Nanovest M e liga de níquel-cromo.
com o revestimento é de difícil remoção (figuras 17A
e 17B), necessitando de usinagem severa e podendo Lembre-se ainda que ligas não nobres exibem
comprometer a adaptação da peça, bem como tra- capacidade de escoamento limitada se comparadas
zer atraso na confecção. É extremamente prejudicial com ligas nobres. Assim, a confecção de padrões
para estruturas que receberão a cerâmica, pois po- com espessura menor ou igual a 3mm aumenta mui-
dem comprometer a aplicação. to a chance da liga não conseguir copiar todos os
detalhes desta região
Já em alguns tipos de revestimento, como o
Nanovest M, características do pó e da composição

18A

17A

18B

17B

FIGURA 18: Note na imagem acima a ausência de revestimento ade-


rido às superfícies da liga fundida. Nestas, foram feitas as desinclusões
somente com martelete pneumático, sem uso de jateamento. Na ima-
gem 18A, veja que o revestimento não apresenta a coloração escura
típica de reação. Já na imagem 18B, veja como bordas finas e agudas
foram copiadas com precisão. Há uma saliência metálica na super-
fície de um dos copings que foi colocada somente para diferenciar os
dois padrões em cera.

FIGURAS 17 A e B: Pode-se notar nestas duas imagens o revestimento


extremamente aderido na superfície da liga fundida. Alguns revesti-
mentos, mesmo utilizados corretamente, apresentam esta deficiência,
que dificulta sobremaneira os processos de usinagem e acabamento.

28
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A padronização das várias etapas envolvidas no processo de fundição (e em outros


processos também...) permite ao profissional detectar com maior facilidade e corrigir
erros que podem ocasionalmente ocorrer. Assim, lembre-se que a soma dos peque-
nos detalhes, dos pequenos erros muitas vezes imperceptíveis de forma isolada, pode
trazer serviços de má qualidade. Hoje já não há mais tempo para permanecer anos e
anos errando em função da evolução rápida, concorrência e exigência do mercado de
Prótese Laboratorial em Odontologia.

Permanece e por muitos anos permanecerá a Arte da prótese dental vinculada às


mãos habilidosas de um ser humano. Mas o TPD que hoje se limita a contar somente
com a arte verá que a ciência faz falta quando se tenta diminuir a chance de erro e ser
mais eficaz.

Todas as informações deste informativo refletem anos de árduo trabalho de várias


pessoas que não se limitaram a contar com a sorte ao fazer fundições. Pessoas estas
que gastaram seu tempo dedicando-se à prática diária e às pesquisas. Que desenvol-
veram produtos em empresas visando o acesso a materiais de qualidade pelo mercado
nacional, superando dificuldades e limites. E o sucesso é meta clara quando se con-
juga materiais de qualidade, conhecimento, dedicação e arte. Meu trabalho resumiu-se
a reunir estas dispersas informações e inserir alguns grandes aprendizados ocorridos
no caminho. Espera-se que a aplicação dos conhecimentos aqui reunidos possa lhe
auxiliar a ter previsibilidade nos trabalhos que envolvam fundição.

Espero que em breve as informações aqui contidas façam parte do seu dia a dia
de uma forma simples, mas ao mesmo tempo íntima da boa prática e do trabalho feito
com segurança. Obrigado por dedicar-se a compartilhar seu tempo com a leitura deste
informativo.

29
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
De acordo com a ABNT NBR 6023 (2002)

MORITA, D. e LEITE, MP. Capítulo 10: Copings metálicos: revelando os segredos da


metalurgia. In APDESP. Atualização em Prótese dentária: procedimentos clínico e labo-
ratorial. Editora Altana, p115-126, 2007.

ADA Council on Dental Materials and Devices. Number 4: Revised American national
standard for dental inlay casting wax. 1974

GHANBARZADEH, J.; SABOONI, MR.; ROSHAN-NEJAD, R. The effect of storage con-


ditions on dimensional changes of acrylic post-core patterns. J Dent, v.4, n.1, p.27-31,
2007.

HARMS, EJ. e HARMS, ER. Waxing: perfecting the dip technique. Journal of Dental
Technology, p.30-32, July/August 2003

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p.30-32, July/August 2003

HARMS, EJ. e HARMS, ER. Casting techniques to assure the integrity of all alloys. Jour-
nal of Dental Technology, p.28-31, October 2003

MARZOUK, MA.; KERBY, J. The exothermic casting procedure: a comparative study of


four thermal treatments. Chicago: Quintessence Yearbook 1968, p.177-85

MOJON P. et al. Polymerization shrinkage of index and pattern acrylic resins. J Prosthet
Dent, v.64, n.6, p.684-688, Dec 1990.

INGRAHAM’S, R. An Atlas of cast gold procedures 1964

RHOADS, JE.; RUDD, KD.; MORROW, RM. Dental laboratory procedures: fixed partial
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laboratory aspects. Chicago: Quintessence, 1990, 580p.

FUSAYAMA, T. Factors and technique of precision casting part I, Journal of Prosthetic


Dentistry, v.9, n.3, p 468-485, May 1959.

FUSAYAMA, T. Factors and technique of precision casting part II, Journal of Prosthetic
Dentistry, v.9, n.3, p 486-497, May 1959.

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