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3.

CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE LAURO DE FREITAS

3.1 Indicadores Geográficos

O município de Lauro de Freitas insere-se na Mesorregião Geográfica


Metropolitana de Salvador - 021, com altitude média de 30 metros, latitude 12 o
53´ 40”S e longitude 38o 19´ 38”W e possui área territorial de 57,7 km 2 o que o
caracteriza como o terceiro menor município da Bahia representando 0,0106%
do Estado, 0,0039% da região Nordeste e 0,0007% de todo o território
brasileiro. Seu litoral possui 7,5 km de costa. Situa-se na Microrregião
Geográfica de Salvador e no Território de Identidade 26 - Metropolitana de
Salvador. O município não apresenta distritos componentes de seu território
além do distrito Sede, sendo as demais localidades consideradas bairros, como
Itinga, que concentra mais da metade da sua população, Portão, Vilas do
Atlântico, Areia Branca, Jambeiro e Caji. Faz divisa com os municípios de
Camaçari e Simões Filho ao norte, com Salvador ao sul e com o Oceano
Atlântico a leste, conforme se observa na Figura 10.

Figura 1. Mapa de localização do município de Lauro de Freitas-BA.

Fonte: SEI, 2013.


O principal meio de entrada e saída do município é a BA-099, que começa na
divisa com Salvador e termina na fronteira norte dos estados da Bahia e
Sergipe, compondo as chamadas Estrada do Coco e Linha Verde. As demais
são: a Estrada CIA-Aeroporto (BA-526), que margeia diversas ruas da cidade,
a Via Parafuso (BA-535) e a BA-522, estas como acessos principais para o
município de Camaçari e os demais municípios que compõem o Polo Industrial
Petroquímico de Camaçari.

Por compor a região metropolitana de Salvador, e por sua proximidade com a


capital do estado, os serviços rodoviário e aeroportuário de Lauro de Freitas
são comuns a esses dois municípios. O aeroporto de Salvador por estar
localizado na divisa entre esses dois municípios, Salvador e Lauro de Freitas,
gerou questionamentos quanto sua posse e localização, porém em dezembro
de 2014 um acordo pôs fim ao impasse quando o aeroporto e o bairro Jardim
das Margaridas ficaram de posse de Salvador.

3.2 Processo Histórico de Ocupação

A história de Lauro de Freitas começa no século XVI, quando Garcia D’Ávila


recebeu do então governador-geral do Brasil, Tomé de Souza (1552), por
ordem dos reis de Portugal, lotes de terra no litoral baiano. Aqui foi instalada
uma missão jesuíta que deu origem a Freguesia de Santo Amaro de Ipitanga,
em 1758, com apoio da família D´Ávila,

A região abrigava inúmeras aldeias indígenas que habitavam o Morro dos


Pirambás. Mais tarde vieram os engenhos de açúcar atraídos pela facilidade de
escoamento da produção devido à sua proximidade com o mar e com eles os
negros que influenciaram fortemente a cultura local. Ainda hoje pode-se
encontrar descendentes de famílias escravas, guardiãs dos costumes afros,
praticantes do candomblé. No século XVII a história da cidade é marcada por
um surto de cólera, que dizimou parcela considerável da população, e pela
construção da matriz de Santo Amaro de Ipitanga, erguida na parte mais alta
da cidade. A matriz se constituiu na construção mais representativa desse
período colonial no Brasil.
No século passado, por volta de 1930, a Empresa Francesa de Aviação Civil
Latécoére constrói o primeiro campo de aviação da Bahia na antiga fazenda
Portela, que se chamou Aeródromo Santo Amaro de Ipitanga. Lauro de Freitas
pertencia, originalmente, a Salvador, até que em 1880 passou a distrito de
Montenegro, atual Camaçari. Em 1932 retornou a Salvador, até 1962 quando
se deu a emancipação política, passando posteriormente a integrar a região
metropolitana de Salvador 11 anos depois, e tendo o nome mudado para Lauro
de Freitas, em homenagem póstuma ao político baiano Lauro Farani Pedreira
de Freitas, candidato ao governo do estado e morto em acidente aéreo,
durante a campanha de 1950.

Neste contexto histórico, considerando-se o processo de formação de


identidade do município, tem-se que antes de se tornar o atual município de
Lauro de Freitas, a identidade territorial do lugar estava referenciada na relação
com a natureza e com a religião católica, colonizadora: era a freguesia de
Santo Amaro de Ipitanga. Ipitanga, em tupy significa Água Vermelha. Na
dimensão político-administrativa, a denominação atual de Lauro de Freitas
revela uma identidade territorial citadina, enquanto lugar da polis, expressa na
constituição de poder público local referendado pelo nome de um político,
falecido em 1950, em campanha eleitoral ao governo do Estado da Bahia. A
homenagem ao político foi uma estratégia para conquista da autonomia do
município por desmembramento de Salvador. Quanto à inserção do município
em território metropolitano, ocorreu dez anos após a sua emancipação, por
meio da Lei Complementar nº 14 de 08 de junho de 1973 que criou a Região
Metropolitana de Salvador, quando foram criadas as primeiras regiões
metropolitanas do Brasil. Portanto, uma identidade territorial que não expressa
um desenvolvimento endógeno e sim o dirigismo do Estado que anuncia as
políticas econômicas a serem induzidas para efetivação das diretrizes de
desenvolvimento.

As figuras antigas que seguem são das décadas de 1950 e 1960 e tem como
fonte registros publicados na Internet pelo blog situado no endereço eletrônico
http://blogdobambole.blogspot.com.br1.

1
Endereço eletrônico acessado em 03/06/2017.
Figura 2. Antigo prédio da Prefeitura Figura 3. Foz do Rio Joanes, no bairro de
Municipal de Lauro de Freitas/Ba. Buraquinho, Lauro de Freitas/Ba.

Fonte: http://blogdobambole.blogspot.com.br/. Fonte: http://blogdobambole.blogspot.com.br/.

Figura 4. Antigo aeroporto Dois de Julho


Figura 5. Praça da Matriz antes das obras
e antigo Campo de Aviação de Santo
de reforma e intervenção.
Amaro de Ipitanga.

Fonte: http://blogdobambole.blogspot.com.br/ Fonte: http://blogdobambole.blogspot.com.br/

A área onde veio a se formar o bairro de Itinga era pouco habitada, inicialmente
por índios, e a partir do século XVII e XVIII por donos de engenho. Pelos
registros mais antigos, o local já existia com o nome de Itinga desde a primeira
metade do século XVIII. Era um engenho de açúcar. Na década de 70 vieram
os loteamentos e no início dos anos 90, os conjuntos habitacionais. O bairro,
que nasceu do investimento em loteamentos populares e destes conjuntos
habitacionais, atraiu na década de 70 muita gente de bairros populares da
capital, com destaque ao Nordeste de Amaralina. Boa parte de sua população
também teve origem outros municípios da Bahia. Ainda assim, a distância em
relação à capital só se tornou problema pela insuficiência de serviços públicos
até a década de 1990.
Itinga era mata e muita fazenda! Então as pessoas foram invadindo, a
metade dessas fazendas, alguns fazendeiros foram doando esses
terrenos. Porque se você observar, Itinga ainda tem áreas de mata
fechada ainda. Que tem a área até de preservação ambiental que não
deixam tocar. Tudo isso, então Itinga era mata praticamente, então as
pessoas que vieram, elas foram tantas, elas foram invadindo,
porque...invadindo terrenos enormes, tanto que vocês podem
perceber que tem pessoas em Itinga que ela tem quase Sítio, foram
ficando com maiores partes desses terrenos, e aí foram se
beneficiando. Itinga, na verdade, a maioria das casas de conjunto,
tudo era fazenda, sítio. Itinga era sítio e fazenda (Informação verbal) 2.

Eu tenho 30 anos que moro em Itinga. A gente pegava ônibus lá no


aeroporto, porque não tinha ônibus aqui, por exemplo. Depois foi
criado o final de linha de kombis, depois o do Parque São Paulo. Eu
vim de Conceição do Almeida. A minha família e do meu marido, nós
todos somos de lá do Conceição do Almeida e Santo Antônio de
Jesus (Informação verbal)3.

Nós viemos de Catu. Passamos por vários lugares né? Porque meu
pai, na realidade, ele era evangélico e, ele era ministro, pastor na
realidade. Ele era designado anualmente pras localidades, pras
igrejas, para ministrar os cultos, ministrar...tomar conta de igrejas.
Então, ao mesmo tempo em que estávamos num local, ele era
designado a outro local. Tínhamos que fazer a mudança, já passamos
por São Cristóvão, Simões Filho, e aí viemos assim, e aí viemos
morar aqui na Itinga. Esse período aí foi maravilhoso, de 30 anos pra
cá. E essa Itinga tá assim hoje, brilhante né? Cheia de carro, uns
engarrafamentos danados, muito comércio, interessante né como é
que cresce? (Informação verbal)4.

Eu também tenho um bom tempo aqui na Itinga. Eu moro ali no Largo


do Caranguejo e quando nós fomos morar ali, no caso minha família,
não tínhamos - como a colega falou ali – transporte. Tínhamos que
descer pra pegar o transporte aqui em baixo no aeroporto. Não tinha
energia, tudo realmente, na realidade, tudo difícil, tudo dificultado pra
gente porque era uma localidade nova, nascendo né, e as barracas,
aquele centro ali do Caranguejo, nossa! Quando começamos era um
nada! O Sr. Caranguejo que era o patrono né, no qual trouxe o nome
do Largo (Informação verbal)5.

(...) ele foi sempre conhecido assim, como Caranguejo, devido ao tipo
de trabalho dele. Ele tinha uma barraquinha azul ali, bem no centro
mesmo do Caranguejo onde ele vendia caranguejos, e as pessoas
costumavam comprar muito não mão dele. A Lavagem do Caranguejo
em si, se tornou porque ela foi parte de uma brincadeira feita por ele a
primeira vez. A criançada... ele soltou...criou, ele teve essa ideia de
criar, soltar caranguejos para os meninos, as crianças, que ele viu

2
Depoimento de Participante da Reunião de Grupo Focal, morador (a) das áreas afetadas
diretamente pelas obras de ampliação do SES da Embasa, coletado em Reunião do Grupo
Focal realizada em 17 de julho de 2017.
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Depoimento de Participante da Reunião de Grupo Focal, morador (a) das áreas afetadas
diretamente pelas obras de ampliação do SES da Embasa, coletado em Reunião do Grupo
Focal realizada em 17 de julho de 2017.
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Depoimento de Participante da Reunião de Grupo Focal, morador (a) das áreas afetadas
diretamente pelas obras de ampliação do SES da Embasa, coletado em Reunião do Grupo
Focal realizada em 17 de julho de 2017.
5
Depoimento de Participante da Reunião de Grupo Focal, morador (a) das áreas afetadas
diretamente pelas obras de ampliação do SES da Embasa, coletado em Reunião do Grupo
Focal realizada em 17 de julho de 2017.
que os meninos gostavam, daí os meninos saiam correndo, ele criou
tipo uma gincana, alguma coisa assim, aí se criou o Largo do
Caranguejo por isso, porque ele soltava os caranguejos pra turma
pegar, eles se divertiam com aquilo, entendeu? Então criou ali o
Largo do Caranguejo, porque ele foi uma das primeiras pessoas. Ele
começou com a barriquinha de lona, depois veio com a barraquinha
de madeira, e aí foi criando, foi se fazendo gambiarra. Algumas
pessoas vieram morar, algumas pessoas diziam, “ah, mas isso aqui
num vai crescer não...”, daí meu pai mesmo costumava dizer, “não,
mas daqui há alguns anos você vai ver como é que vai tá isso aqui, já
tá cheio de gente!” (Informação verbal)6.

Com prédios de até cinco andares, casas de muro baixo e locais de mata
conservada, o bairro abriga cerca de 80 mil pessoas, mais da metade dos
habitantes da cidade. Apesar de populoso, o clima de interior se confirma entre
os moradores, já que a maioria se conhece e o comércio praticado é formado
pelas famílias.

O conjunto Santa Rita, por exemplo, foi essencial para o crescimento do bairro
e deu nome à localidade mais disputada pelos novos moradores, – o Parque
Santa Rita –, seja pela concentração de serviços, como comércio, escolas e
postos de saúde, ou pela infraestrutura de praças e logradouros públicos. O
bairro só ganhou a primeira agência dos Correios em 2007, a 27ª delegacia
chegou em 2002, e a maioria das ruas recebeu pavimentação neste período,
apesar de hoje, em 2017 a maioria estar degradada. 

Quanto ao lazer, os moradores garantem que a grande vantagem é a


proximidade com as praias, embora o bairro não esteja em área litorânea. A
Lavagem do Caranguejo, que acontece há 25 anos no último domingo de
novembro, também anima a comunidade conforme relato durante a Reunião de
Grupo Focal. Trata-se da maior festa do bairro, com cortejo, brincadeiras e
bandas.

A instalação do centro de treinamento do Esporte Clube Bahia, o Fazendão,


também deu novas aspirações para crianças e jovens da região.

6
Depoimento de Participante da Reunião de Grupo Focal, morador (a) das áreas afetadas
diretamente pelas obras de ampliação do SES da Embasa, coletado em Reunião do Grupo
Focal realizada em 17 de julho de 2017.

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