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A Velha do Bosqu¢g Autor desconhecido Tradugao de Michelle Neris da Silva ra uma vez uma mulher velha que vivia em um bosque frio e escuro. Sua cabana ficava bem dentro do matagal. Dedicava-se a recolher feixes de lenha para vendé-los no mercado. Sua mae havia dado a ela o nome de Morgana, uma mulher conhecedora da natureza e com um grande poder, que tinha vivido nos tempos do mago Mérlin. Morgana conhecia melhor que ninguém os segredos das ervas medicinais e das plantas, e, muitas vezes, as pessoas iam a sua casa para pedir-lhe remédios para dor de barriga ou para espantar o mau-olhado. Ela tinha fama de carrancuda, por isso as criangas nao se atreviam a aproximarse dela. A coitada tinha uma grande verruga preta que a deixava muito feia. Vestia-se com trapos velhos e parecia um corvo com seu nariz taéo comprido. —Corram! — gritavam as criangas. — La vem a velha do bosque! As vezes, as criangas lhe atiravam pedras zombavam dela. : Se alguma desgraga assolava 0 povo, ou se algum animal motria de repente, a culpa era sempre da pobre mulher. — Um dia, eu a vi olhar de relance para 0 gato do sapateiro e no dia seguinte ele foi atropelado por um carro — comentava alguma fofoqueira. Uma vez, a velha encontrou seu gato preto moribundo em frente a sua casa. Alguém tentara maté-lo, mas nao conseguiu; ¢ foram necessdrios cesto, com chave, chapé "Wassoura para se durante a longa um leve t Encontrou™ @0re ferido entr s; ele estava com 0 tomou em seus dedos es com muito cuidado. Enfaixou sua Sonsigo. Porém, s6 conseguia ma suas mercadorias com muito custo. Por onde passava, levantava receios ¢ desconfiangas. Morgana voltou entao para casa com 0 corvo pousado em seu ombro, pois a ave Ne i costumado a ficar com aquela — SE havia se Certa vez, uma grande desgraca aconteceu com o Povo das redondezas; as pessoas tinham sintomas terriveis e adoeciam gravemente. Culparam entio a velha de provocar todos os males, acusando-a de bruxaria. Um grande conselho de sdbios se reuniu e decidiu queimé-la na fogueira. Clara, uma menina que Morgana havia curado de um feio furtinculo, e a quem tinha dado conselhos sobre garotos, decidiu ajudé-la. Correu até sua cabana e the contou: — Vocé deve fugir, ou sera queimada na praga da cidade! A mulher sabia que de nada adiantaria fugir, 4 que por onde passava era sempre mal recebida. Agradeceu Clara e seguiu em dire¢ao ao lado mais profundo do bosque em busca de solugao. Trés dias depois, voltou. Todos a rodearam, prontos para prendé-la. Morgana, antes de ser acusada, pediu como ultimo desejo, para preparar um cha. iG A pogo seria o remédio contra os espantosos males que acometiam os moradores da regiao, mas ninguém quis tomar a bebida, pensando que a velha quisesse envenenar todos. Clara explicou que todos morreriam de qualquer maneira, e como prova da boa-fé em Morgana, tomou uma pequena dose. Em poucos minutos, as feridas que cobriam seus bragos comegaram a desaparecer. Todos, adultos e criangas, tomaram o medicamento, e Morgana precisou fazer varias viagens ao bosque para conseguir quantidade suficiente da erva para curar todos os doentes. A histéria nao diz se, a partir daquele dia, pararam de chamé-la de bruxa; mas o que fica bem claro é que, muitas vezes, as apar€ncias enganam...

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