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O rádio no Brasil

Embora a história oficial afirme que a primeira


radiotransmissão realizada no Brasil tenha sido de 7 de setembro de
1922, na comemoração do Centenário da Independência, hoje
sabemos que, muito antes do presidente Epitácio Pessoa, outra voz
foi transmitida sem fio e uma distância maior do que de 8
quilômetros, a do padre Lendell de Moura.
Nascido na cidade de Porto Alegre, em 21 de janeiro de 1861, e
ordenado padre em Roma, em 1886, Roberto Landell de Moura,
além de teologia, cursou medicina e química, e desenvolveu as
primeiras ideias de sua teoria sobre “Unidade das forças físicas e a
harmonia do Universo”, base para suas invenções futuras. A
primeira demonstração oficial de seu invento foi a transmissão entre
a avenida Paulista e o bairro de Sant’ana, sem a ajuda de fios, de
sua própria voz, através da irradiação de uma onda eletromagnética,
em junho de 1900, na presença de autoridades e da imprensa, 22
anos antes do Centenário da Independência.
Da mesma forma que na fotografia e também na aviação,
esse feito brasileiro foi mais um dos
“erros” da história mundial
perpetuados graças ao poder de
comunicação dos países do
hemisfério norte, particularmente os
Estados Unidos, que ao longo do
tempo consolidaram sua hegemonia
planetária. Por outro lado, no Brasil,
só se valorizava aqui o que antes era
reconhecido pelos países de
hemisfério norte.
Na realidade, o padre
Landell já tinha desenvolvido seus equipamentos em 1893, antes da
data atribuída à invenção do rádio por Marconi (1895). Naquela
época sua obra foi destruída por fanáticos religiosos que o acusavam
de ter parte com o demônio, impedindo que ele obtivesse a prova da
anterioridade quando foi requerer as patentes ao U.S.Patent Office,
em Washington.
A exposição comemorativa do Centenário da Independência
do Brasil, em setembro de 1922, foi instalada na esplanada aberta
depois da derrubada do Morro do Castelo, e reservava a seus
representantes uma surpresa: a audição nos pavilhões da exposição:
a audição da primeira experiência de radiodifusão aberta ao público
no país. Para receber ou transmitir, a Companhia Telefônica

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Brasileira instalou alto-falantes nos pavilhões da exposição,
distribuídos e interligados de forma que todos pudessem ouvir as
mensagens transmitidas de uma emissora no alto do corcovado.
Montada pela Westinghouse Electric em caráter experimental, a
primeira emissora instalada no Brasil transmitia música e discursos
das autoridades, começando pelo presidente da República, Epitácio
Pessoa.
Em 23 de abril de 1923, foi inaugurada pelos professores
Roquete Pinto e Henrique Morize a Rádio Sociedade do Rio de
Janeiro, cuja instalação foi possível graças à concessão pelo governo
da emissora Western Electric, importada para o serviço de
telégrafos. Uma segunda emissora foi concedida ao funcionário dos
telégrafos Elba Dias que, em 1924, fundou com amigos a Rádio
Clube do Brasil.
Paradoxalmente, como em todo o processo de disseminação
de uma novidade tecnológica, só os ricos podiam comprar os
aparelhos de rádio. Sem publicidade, a rádio se mantinha graças
às contribuições mensais de cada sócio, o que obviamente terminou
por inviabilizar sua sobrevivência comercial. O resultado foi a sua
doação ao Ministério da Educação, em 1936, sob a condição de que
fosse mantido o seu caráter educativo e cultural.
O governo de Getúlio Vargas criou o Serviço de Radiodifusão
Educativa, em 1937, órgão responsável pela irradiação dos
programas educativos. Durante a ditadura do Estado novo, o DIP,
Departamento de Imprensa e Propaganda, interferiu muitas vezes
no conteúdo para divulgar sua política.
A concessão dada pelo governo estipulava que as
emissoras, no primeiro ano de funcionamento experimental, não
podiam veicular comerciais. No início, a mensagem publicitária
dependia de um improviso do locutor. Com o tempo, passou a existir
o texto de locução gravada, previamente escrito por um redator,
com um formato semelhante aos nossos atuais spots publicitários.
Mais tarde, um spot, e, finalmente, surgiu a mensagem musicada, o
jingle.
Desde 1932, o governo, através do decreto-lei 21.111,
normatizava a veiculação de propaganda no rádio, fixando o limite
de 10% da programação. E, na mesma ocasião, adotava o modelo
americano, que permitia a concessão de canais para a iniciativa
privada, o que resultou em grande impulso para a exploração
comercial do meio. Começava, então, no país, uma nova fase do
rádio, que não podia mais prescindir de dois aspectos outrora
relegados: visão de mercado e aprovação ou rejeição do público. As
rádios se profissionalizavam, ao mesmo tempo em que os preços
dos aparelhos receptores ficavam mais baratos, aumentando a
audiência e incrementando vendas. Nos anos 1930, as rádios
Mayrink Veiga e Philips, no Rio, e a Record e a Cruzeiro do Sul, em
São Paulo, começaram a pagar cachês para os artistas que se
apresentavam em seus programas.
Esta mesma década de 1930 assistiu à grande expansão do
rádio no Brasil. O primeiro jingle improvisado do rádio brasileiro foi

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ao ar em 1932, composto na hora pelo compositor e cartunista
Antônio Nássara:

Seu padeiro não se esqueça


Tenha sempre na lembrança
O melhor pão é o da Padaria Bragança

De um modo geral, as emissoras começavam a alterar suas


grades em busca de popularidade. Na década de 1940, dois grandes
acontecimentos mudaram os rumos da rádio no Brasil: a estatização
da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e sua transformação na maior
emissora radiofônica.

O rádio no Brasil foi fruto da propaganda. Das agências de


publicidade que aqui chegaram, surgiu o conceito da programação e
a criação de vários programas. Foi assim com dois dos maiores
sucessos de 1940, quando se consolidou o rádio como veículo mais
popular: o jornalístico Repórter Esso e a radionovela Em busca da
felicidade.
Em 1945, uma pesquisa do Ibope mostrava que existiam no
país 1.223.000 de receptores cobrindo quase 40% dos lares em todo
o território nacional.

E hoje ?

O que acontece com o rádio hoje é em parte o mesmo


fenômeno de segmentação como ocorreu com a mídia impressa.
Uma infinidade de estações, tanto AM quanto FM, cada uma
buscando um posicionamento, um diferencial, que faça o ouvinte
sintonizar sua freqüência mais por reconhecer a programação
oferecida que por identificar o número no dial. Hoje, no Brasil, é
cada vez maior o número de rádios monotemáticas. Existem, entre
as voltadas para a música, programações definidas por gênero –
sertanejo, pop, MPB, clássica, dance e outras tantas. As rádios
religiosas – evangélicas, católicas, etc – que transmitem uma
programação que reúne música, pregação, cultos, debates
populares e notícias de interesse específico. As rádios informativas
apresentam o jornalismo em diferentes formatos, com noticiários,
debates, entrevistas com participação de ouvinte e editoriais. Hoje,
o rádio é ainda o meio que atinge o maior número de pessoas em
todo o mundo e continua buscando fórmulas para se adaptar às
mudanças globais.

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BIBLIOGRAFIA:
GONTIJO, Silvana. O livro de ouro da comunicação. RJ: Ediouro, 2004

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