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Cururu 2
Cururu 2
Profa. Dra. do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal de Sã o Carlos – Campus Sorocaba.
Resumo: O cururu serviu de instrumento de catequizaçã o indıǵena pelos jesuıt́as no perıo ́ do colonial.
Assim, este tipo musical que envolvia també m a dança, constituiuse em uma prá tica ritualizada nas
festas da religiosidade popular, sobretudo nas do Divino Espıŕito Santo. Alé m de abordar passagens
bıb
́ licas, o cururu pode ser “profano”, num embate entre os cantadores com desafio de rimas. A regiã o
do Mé dio Tietê é o “ló cus” desta manifestaçã o, que se revela no bojo das contradiçõ es do espaço
geográ fico.
Palavras-chave: Cururu. Festa . Religiosidade.
Para começar... cururu, como dança e mú sica juntos, era realizado
durante as festividades da religiosidade cató lica,
O cururu consiste em um desafio de canto sobretudo em datas comemorativas em dias de
improvisado, tendo a viola caipira como principal santos.
instrumento musical. Suas origens remetem à cate Tendo sido o cururu difundido por todo o
quizaçã o indıǵena no perıo ́ do do Brasil Colonial Brasil pelos bandeirantes, tornouse forte expres
tendo, portanto, suas rimas referentes a passagens sã o cultural no Mé dio Tietê , principalmente naque
bıb
́ licas. les municıp ́ ios onde homenagens ao Espıŕito Santo
Segundo Lyuten (1987), a palavra cururu sã o realizadas. Atrelado a estas festas populares, o
significa “sapo” em tupiguarani, sendo uma dança cururu, com o tempo, delas nã o depende mais para
indıǵena tıp ́ ica dos tupi misturada com elementos se realizar. Neste ın ́ terim as suas temá ticas passa
cristã os. Este autor nã o descarta, entretanto, a pos ram a abordar també m temas do cotidiano e a apre
sibilidade da ligaçã o da palavra “cururu” com “cu sentar disputas com teor polıt́ico, alé m de ofensas
ruçu” do guarani, que significa “cruz”, o que eviden relativas à s qualidades fıśicas e morais, e condiçã o
cia a influê ncia cristã . Conforme Araú jo (2004), o financeira dos cantadores.
cururu é definido como dança de roda de fundo Apresentaremos neste singelo trabalho, as
religioso, nascendo junto com a mú sica, ou seja, origens do cururu e o seu desenvolvimento na
dança e mú sica nã o estavam originariamente sepa regiã o do Mé dio Tietê . Hoje, o cururu denuncia, em
rados no cururu. No entanto, atualmente, nã o se suas rimas nas temá ticas diferenciadas, as contra
tem notıćias da prá tica da dança, e o cururu é mais diçõ es do espaço geográ fico, na medida em que há
conhecido como um tipo musical que se desenvol uma espetacularizaçã o da mú sica popular e, ao
veu no bojo da cultura caipira. mesmo tempo, a permanê ncia deste popular no
A mú sica caipira, segundo José de Souza espetá culo.
Martins, medeia as relaçõ es sociais no ciclo do coti
diano do homem do campo; ela é vivida ocupando o O cururu: a rima e a dança
tempo e o espaço, pois expressa o ciclo da natureza,
combinando as comemoraçõ es religiosas com o O cururu traz em suas origens a matriz indı́
trabalho. “A mú sica caipira nunca aparece só , gena a partir do domın ́ io portuguê s, nã o havendo
enquanto mú sica. Nã o apenas porque tem sempre nesta matriz qualquer manifestaçã o cultural de
acompanhamento vocal, mas porque é sempre origem africana (ARAUJO, 2004). Um dos indicati
acompanhamento de algum ritual de religiã o, de vos desta afirmaçã o é uso da viola caipira como
trabalho ou de lazer”. (MARTINS, 1975: 105). O principal instrumento, difundido no processo de
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Este texto é parte das pesquisas realizadas com o auxıĺio do CNPq – Universal, intitulada “Manifestaçõ es Festivas da Religiosidade
Popular em Sorocaba (SP) e Regiã o”.
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colonizaçã o do Brasil, pelos jesuıt́as.
Para Má rio de Andrade (2002: 82), o curu As carreiras referemse à s rimas do desafio
ru referese à “louvaçã o historiada dum santo qual cantado. Por exemplo, quando o pedestre propõ e
quer, ou mesmo dum caso bıb ́ lico”, sendo o cururu cantar na carreira do Divino, as rimas devem ser
um exemplo de “adaptaçã o artıśtica dos jesuıt́as no em ino. Se se quiser lançar o desafio na carreira de
primeiro sé culo”. Sã o Joã o, as rimas tê m que ser em ão. E assim, a
Complementa Araú jo: cada desafio, as carreiras sã o colocadas com termi
naçõ es difıćeis de serem rimadas, as chamadas
Cururu é , em ú ltima aná lise, um sincre carreiras duras.
tismo lusobrasileiro, inteligente Garuti (2003) apresenta uma lista de carrei
forma lú dica de que o jesuıt́a lançou ras, cuja maioria recebe nome de santo: Sã o Joã o,
mã o, para ensinar Histó ria Sagrada aos Sagrado, Virgem Pura, Sã o Vicente, Santo Antonio,
catecú menos. Definirı́ a mos entã o: Santa Julieta, Sã o Nicolau, Sã o Longuinho, entre
cristianismo à moda jesuı́tica, mais
outros. Mas també m há carreiras com referê ncia
dança de roda, tã o do sabor dos povos
primitivos, é igual a cururu. (ARAUJO, apenas à rima: rima do “a”, rima do “ano”, rima do “o”.
2004: 84). O canto do cururu é organizado da seguinte
maneira:
Assim, conforme Andrade (1992), o cururu
se constitui em uma pedagogia nã o formal da 1. Ordem ou súplica:
Bıb ́ lia, uma vez que sua origem remete a este passa pedido de licença para cantar;
do de domın ́ io colonial catequé tico, mantendose 2. Explicação, louvação:
até os dias de hoje, nas festas do Divino Espıŕito diz a que veio;
Santo do Mé dio Tietê .
O cururu nã o pode ser compreendido ape 3. Intimação, ameaça:
nas como uma mú sica que possui rimas improvisa o duelo está posto, o enfrentamento;
das, sob a temá tica bıb ́ lica ou com alguma liçã o 4. Pergunta:
moral como pano de fundo. Há , pois uma etiqueta desafio ao inimigo a se redimir;
que envolve a manifestaçã o. Cada um tem uma fun
çã o dentro do cururu, desde o cantador, até o cha 5. Resposta:
mado pedestre. O canto també m nã o pode ser reali vı́tima, as respostas à s provocaçõ es sã o
zado de qualquer jeito. dadas calmamente;
Canturião é a palavra que designa o cantor, 6. Reconciliação:
ou o chamado cantador de cururu, sendo que can- o duelo termina;
turino é aquele cantador novato, aprendiz de can
turiã o. Já o pedestre é o responsá vel por colocar as 7. Despedida.
carreiras para os canturiõ es, é aquele que canta
primeiro abrindo o caminho para a rima. Geral Com relaçã o à despedida, registrou Julieta
mente apresentamse duas duplas de cururueiros, Andrade (1992: 60):
sendo um o tocador de viola e o outro o canturiã o,
em cada dupla. O poema aproximase do final. O canta
O baixão, segundo Julieta Andrade (1992) é dor avisa que já vai terminar seu canto,
um canto em sıĺabas, entoado cada vez que os curu elogia os assistentes, elogiase a si
mesmo com jeito de humildade consci
rueiros apresentam, antes do tema, pois tratase da
ente. Faz uma declaraçã o de amor aos
marca da identificaçã o do canturiã o. presentes (se houver alguma mulher
especial na plateia, nã o deixa esqueci
Baixã o é canto de chegada. Tem a fun dos seus dotes de nobreza, perfeiçã o
çã o de um arauto cuja mensagem é : semelhante à Virgem Maria) e passa à
Vou cantar. Sou trovador X e minha voz despedida (provisó ria, ainda voltará a
tem tais possibilidades, conforme cantar) pedindo que Deus abençoe a
estou demonstrando; minhas melodias todos.
sã o bonitas assim. Já que estou cantan
do, com este Baixã o homenageio Fula Juntamente com o canto, a dança possui
no/a de Tal, que está presente, e para també m cará ter religioso de mesma origem cate
quem estou me dirigindo. No cururu há
qué tica. Junto com a mú sica, ela teria sido dissemi
uma comunicaçã o silenciosa, subja
cente. (ANDRADE, 1992: 36). nada pelos bandeirantes, no tempo das entradas e
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bandeiras, que partiam de Piratininga e desciam o Como dito anteriormente, a prá tica da
Anhembi e, nos pousos e ranchos, praticavam o dança nã o teve força para a continuidade de sua
cururu. (ARAUJO, 2004). difusã o, sendo da mú sica separada, cindindo os
Os movimentos da dança do cururu consis elementos do ritual. Talvez este fato se deva pela
tem em sapateado e palmeado, ao som da viola, do difusã o da mú sica nas rá dios e gravaçõ es em disco,
pandeiro e do recoreco. Apó s as louvaçõ es aos em que ela apenas passou a ser ouvida, nã o haven
santos do local onde o cururu está sendo realizado, do mais sentido dançá la.
cıŕculos sã o formados com uma variaçã o em sua Conforme Alberto Ikeda (apud SANTA
coreografia, acompanhando o desafio, a declama ROSA, 2007: 15), houve um processo de transfor
çã o e a postura de joelhos em direçã o ao altar com maçã o do cururu ao longo do tempo. De dança ceri
as imagens dos santos homenageados. (CASCUDO: monial indıǵena a dança religiosa em roda, com
2001). Segundo Araú jo (2004), os cı́rculos da desafio implıćito em ambiente rural. Deste para o
dança à s vezes girava no sentido lunar, envolvendo cururucançã o em forma de desafio profano explı́
“magia positiva”, à s vezes no sentido solar, no senti cito, em ambiente urbano e finalmente, a compre
do dos ponteiros do reló gio, envolvendo a expulsã o ensã o do cururu apenas como ritmo da mú sica
dos males (ARAUJO, 2004). sertaneja.
Araú jo (2004: 95) assim descreve a dança Estas transformaçõ es, uma vez compreen
realizada no municıp ́ io de Tietê (SP): didas no bojo do processo de urbanizaçã o, podem
ser lidas como uma simplificaçã o da cultura popu
A dança constituise de movimentos lar, restando algumas peculiaridades que as identi
lentos, de mudanças de passos para ficam. Cabe observar que neste processo tido como
frente e para trá s. O passo dado à frente contraditó rio, també m pode ocorrer o enriqueci
é sempre maior, quase o dobro do que é
mento da cultura popular, já que ela pode utilizar
dado para trá s, isso no caso do “cantu
se do moderno (novas tecnologias da indú stria
riã o”, porque o “segunda” [voz], que
fonográ fica, por exemplo) para se difundir e se
fica defrontando o improvisador, exe
cuta inversamente tais deslocamentos.
reproduzir.
Há perfeita sincronizaçã o nesse movi Neste sentido, as formas pelas quais o curu
mento, pois quando o “canturiã o” avan ru é apresentado por Ikeda podem ocorrer ao
ça um passo para a frente, o “segunda” mesmo tempo, em ambientes diferenciados, tais
recua um passo, quando o “canturiã o” como os espaços rural e urbano; ou seja, uma forma
vem à ré um passinho, o “segunda” nã o exclui a outra.
adiantase um passinho. Os demais Alceu Maynard Araú jo (2004) aponta para
componentes da roda seguem, andan a existê ncia de um cururu urbano em contraponto
do sob o ritmo do canto do “canturiã o” a um rural. O rural seria o religioso, praticado nas
e “segunda”. Os “segundas”, quando nã o festas de santos, enquanto que o urbano estaria no
estã o cantando, nã o se defrontam com plano das manifestaçõ es culturais profanas, pois
seu parceiro. Com exceçã o do violeiro, neste ú ltimo, o mote pode ser de conotaçã o polıt́i
todos dançam com as mã os nas algibei ca, evidenciar problemas sociais e indicar a rivali
ras; só ao finalizar o canto, quando
dade entre os canturiõ es com ofensas pessoais. No
todos dã o um giro de corpo, é que as
entanto, compreendemos que esta colocaçã o de
retiram, para ter maior liberdade de
Araú jo (2004) nã o pode ser tida como estanque,
movimentos. Quando o “canturiã o”
finaliza o seu canto numa carreira, ele e
uma vez que o cururu de teor religioso pode ocor
seu “segunda” dã o um giro em torno de rer no espaço urbano, diante das temporalidades
si mesmo, movimento elegante, no diversas inerentes ao processo de urbanizaçã o.
qual os pretos sã o ım ́ pares para execu Embora distante do ciclo da natureza, o
tar um trejeito harmonioso e destro. As cururu no espaço urbano canta a sua religiosidade
batidas de palmas à s vezes també m de origem rural, camponesa, caipira. Temá ticas
aparecem no começo da dança, para profanas se espalham no meio rural (sıt́ios, ran
“afirmar” o ritmo da mudança dos pé s. chos, vilas, etc.) com o advento da rá dio, ou seja, da
Uma vez firme, deixam de “bater as indú stria cultural, e també m pode ser apropriado
palmas de marcaçã o”. apenas como diversã o.
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Jairo tinha uma filha doente, do corpo
bem franzino,
Pessoas que cuidavam dela, ele não
tavam conseguino.
Jairo tava junto com Cristo, um mensa-
geiro vinha vino,
O mensageiro esclareceu, a sua filha
morreu e tem muita gente sentino.
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do Divino nã o significa que ele vai contar episó dios va, o que cantava errado retrucava e assim seguia a
bıb
́ licos que remetem ao Divino Espıŕito Santo. discussã o em rima e canto. (GARUTI, 2003).
Assim acontece com a carreira de Sã o Joã o ou outra Nos versos rimados do cururu compreen
qualquer, ou seja, importa a rima pela qual deter dido como “profano”, apó s as “ofensas” dos cantu
minada histó ria será contada, ou o desafio lançado. riõ es, a despedida é amenizada com pedidos de
Para evidenciar a diferença temá tica dos desculpas à plateia, como parte da etiqueta das
cururus, transcrevemos aquele cantado por Abel boas maneiras, para que nã o fique nenhuma rusga.
Bueno, de Piracicaba, na Carreira de Sã o Joã o (SAO E o que registra Garuti (2003: 12):
PAULO Corpo e Alma, 2003: 36):
Agora vamo pará
A viola é sertaneja Com a nossa cantoria
Porque nasceu no sertão Voceis vão me descurpá
O violeiro traz no peito a raiz e a tradi- De tudo quanto eu dizia
ção Meus contrário vão perdoá
Como é bão ser brasileiro De eu usá de grosseria
Desta querida nação Se do ceis eu falei má
No Brasil nós não qué farra Oceis sabe que eu mentia
No Brasil não tem guitarra Com oceis eu nunca brigo
Só tem viola e tem violão. E pode conta comigo
Na tristeza e na alegria.
Sô filho de lavrador
Cheio de calo na mão Vale a pena transcrever uma situaçã o em
Tenho orgulho deste mundo que apesar desse tom de despedida e de esqueci
D'eu nascê lá no sertão mento das ofensas, a rivalidade, mesmo que de
No ano de 34 brincadeira, continua.
Mundo viu minha feição
Assim que meu pai falô Senhores que está
Nasci pra sê cantado Assistindo a cantoria
E vô morrê c'o esta opinião [...] De voceis vô recordá
Muitos meis e muitos dia
Esse nosso cururu Se eu pudesse ia leva
É formado por religião As vossas fotografia
Foi na beira do Tietê Que é pra mim podê lembra
que nasceu esta função Das vossa fisionomia
Que eu com meu cumpanheiro Juro que eu não estragava
É o homem do chapeuzão Indo embora eu levava
Este aqui é Jonata Neto E quando voltasse eu trazia
Do cururu também é campeão
Mai esse aqui só tem tamanho E o canturiã o rival responde:
O homem não toma banho
por não podê compra sabão. Senhores, meu companheiro
É o fim da cantoria
E morava na cidade Desejo pro povo intero
Tinha uma bela profissão Muita paz e alegria
Resorveu muda pro sítio Mas ouvi o cumpanhero
Pra lidá com prantação Pedino fotografia
Mai prantá ele não sabia Só que ele é macumbeiro
Deu prejuízo pro patrão Acho que oceis não sabia
Resolveu muda de bairro Cuidado com esse ingrato
Procurá um terreno bão Vai leva vossos retrato
A mudança do Jonata Pra fazê feitiçaria.
Foi num carrinho de mão
Coitado deste rapaiz
Aparecido Garuti (Cido Garoto), curu
Pra compra um bujão de gaiz
Teve de vendê o fogão. rueiro de Sorocaba, em seu livro Cururu: retratos de
uma tradição, nos presenteia com o registro dos
Conforme o cururueiro Zico Moreira, o desa cururueiros de Laranjal Paulista, inclusive do Dis
fio teria começado porque um cantador cantava trito de Laras (ou Capela de Sã o Sebastiã o), onde a
errado e o outro chamava a sua atençã o. Na defensi Irmandade do Divino leva, em sua peregrinaçã o de
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cerca de vinte e cinco dias, as bê nçã os do Divino aos Nhô Serra de Piracicaba, Pedro Chiquito e Mingo
moradores da regiã o. Pedro de Capivari, Zico Moreira, Luizinho Rosa de
Neste trajeto o cururu se faz fortemen Sorocaba, entre outros listados por Garuti (2003).
te presente nos pousos, sobretudo no meio rural;
portanto, podese dizer que há uma manifestaçã o
cultural territorializada e mantida pela tradiçã o. O cururu do Médio Tietê
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O fato é que os tropeiros participavam ati
vamente da Festa do Divino Espıŕito Santo por
meio da encenaçã o das cavalhadas, nos cururus e
fandangos, etc., conforme registra Perecin (1990)
em seu romance Candeias em Espelho D'Água.
O cururueiro Zico Moreira apresenta a sua
versã o para o surgimento do cururu:
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que enriquece a indú stria fonográ fica.
O cururu també m é eternizado pelas grava ANDRADE, Má rio de. Danças Dramáticas do Brasil. 2ª
doras, e por isso, manté m o patrimô nio imaterial ed. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 2002.
cuja origem é toda a regiã o do Mé dio Tietê . Neste
CASCUDO, Luı́s da Câ mara. Dicionário do Folclore
sentido, podemos encontrar a contribuiçã o do curu
Brasileiro. 11ª ediçã o. Sã o Paulo: Global, 2001.
ru para a memó ria de sua pró pria histó ria, como
nos versos: GARUTI, Aparecido. Cururu: Retratos de uma Tradi-
ção. Sorocaba: LINC, 2003.
Esse nosso cururu
É formado por religião LYUTEN, Joseph M. Desafio e repentismo do caipira de Sã o
Foi na beira do Tietê Paulo. In: Cultura Brasileira. Temas e situaçõ es. Ed.
que nasceu esta função. Atica, Sã o Paulo, 1987.
Ou seja, o que pode muitas vezes ser apre MARTINS, José de Souza. Capitalismo e Tradicionalis-
sentado como espetacular, traz també m no seu mo: estudos sobre as contradiçõ es da sociedade agrá ria
cerne, a sua espontaneidade, a sua simplicidade. no Brasil. Sã o Paulo: Pioneira, 1975.
Seja profano ou religioso, os canturiõ es
reafirmam, em seus versos, a identidade territorial, PERECIN, Marly Therezinha G. Candeias em espelho
buscando valorizar uma manifestaçã o considerada d'água (17771845). Sã o Paulo: Ediçõ es Loyola, 1990.
tradicional cuja ocorrê ncia originá ria e “autê ntica”
SANTAROSA, Sé rgio H. Prosa de cantador: a histó ria e
está na regiã o do Mé dio Tietê . as histó rias dos cururueiros paulistas. Botucatu: FEPAF,
2007.
Referências
SAO PAULO Corpo e Alma. Sã o Paulo: Governo do Estado
ANDRADE, Julieta Jesuın ́ a Alves de. Cururu: espetá culo de Sã o Paulo; Associaçã o Cachuera!, s/d.
de teatro nã oformal poé ticomusical e coreográ fico. Um
cancioneiro trovadoresco do Mé dio Tietê . 1992. 3 v. Tese
(Doutorado em Comunicaçã o) – Escola de Comunicaçã o
e Artes, Universidade de Sã o Paulo, Sã o Paulo, 1992.
Abstract: The cururu served as an instrument of indigenous catechism by the Jesuits during the
colonial period. Thus, this type of music that also involved the dance consisted in a ritualized practice in
a popular religious party, especially in the Divine Holy Spirit. Besides addressing biblical passages, the
cururu can be "profane" in a contest between the singers with the challenge of rhymes. The Middle Tietê
is the "locus" of this event, which reveals itself in the contradictions of geographic space.
Keywords: Cururu. Party. Religiousness
Resumen: El cururu sirvió como un instrumento de catecismo de indígena por los jesuítas durante la
colonia. Por lo tanto, este tipo de música que también participa la danza fue una práctica ritual em las
fiestas religiosas populares, sobre todo en el Divino Espíritu Santo. Además de abordar pasajes de la
Biblia, el cururu puede ser "profano" en un enfrentamiento entre los cantantes com el reto de las rimas.
El Tietê Medio es el "locus" de este evento, que se revela em médio de las contradicciones del espacio
geográfico.
Palabras-clave: Cururu. Fiesta. Religiosidad.
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