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Resumo: Desde que apareceu em “Antigona's Clain” (2000), a heroína grega tem sido solicitada
por Judith Butler em sua obra não só para pensar as questões de parentesco, mas também para
propor uma política de luto contemporânea. Se a relação com o parentesco é tratada profundamente
na obra já citada e em “Undoing gender” (2004), a discussão propriamente do luto aparecerá em
“Precarious life” (2004) e “Frames of war” (2009). Assim, enquanto na década de 1990, a autora se
dedicava a escrever acerca os corpos que importam sob o foco da interpelação de gênero e sexo, a
partir dos anos 2000 suas preocupações se ampliarão para os diferentes corpos que valem como
vidas vivíveis e passíveis de luto. Na recepção brasileira do pensamento de Judith Butler, se
destacará o diálogo estabelecido por Vladimir Safatle. As formulações recentes da pensadora norte-
americana aparecem em “Grande hotel abismo” (2012) e “o circuito dos afetos” (2015a). Safatle
também utilizará o ato de Antígona para pensar as necessidades da política contemporânea em “o
que resta da ditadura” (2010); “dever e seus impasses”(2013) e em seu mais recente texto publicado
“quando as ruas queimam: manifesto da emergência” (2016). A inspiração no gesto de Antígona
aproximará e distanciará as apostas dos dois autores. Enquanto Butler aborda a política do luto
como a emergência de um espaço de aparecimento, Safatle discutirá tal política como a produção de
um desamparo necessário.
O início da epidemia de AIDS se deu marcado pelo pânico moral e pelo processo de
implementação das políticas neoliberais em diversas partes do mundo. Tal contexto levaria o então
presidente dos EUA, Ronald Regan, a pronunciar o nome da síndrome em público apenas em 1987,
próximo ao final do seu segundo mandato. Naquele momento, já faziam mais de quatro anos desde
que o vírus tinha sido identificado e se contabilizavam milhares de mortes.
Os meios de comunicação, por sua vez, paulatinamente, não apenas descreveram os
acontecimentos envolvendo a doença, mas promoveram sua existência discursiva, o que tornou a
AIDS a primeira pandemia midiática desde seu nascedouro. Isso levou alguns pesquisadores a
afirmar a impossibilidade de analisar a AIDS fora do contexto das mídias (Bessa, 1997). A imprensa
ocidental a denominou inicialmente como Gay-Related Imunodeficience – GRID (Imunodeficiência
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Doutorando em Cultura e Sociedade pela UFBA. Professor de Comunicação e Cultura na Universidade
Federal do Cariri – UFCA, Ceará.
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Artistas e ativistas queers – muitos deles HIV positivo ou amigos ou amantes daqueles que
eram – responderam com particular ferocidade à crise da AIDS através da produção de arte.
Agitpop, teatro de guerrilha na rua e movimentos de protesto de ação direta na forma do
ACT Up […] Os EUA testemunharam a erupção de suas próprias “guerras sexuais” por
liberdade de expressão e apoio federal às artes. (2013, p. 147, tradução minha)
É nesse contexto que a temática da AIDS invadia o teatro como estratégia política. Enquanto
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Neologismo criado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe em ensaio homônimo para designar as formas
contemporâneas de política estatais de morte nas quais numerosas populações são expostas a condições de
vulnerabilidade que lhes outorga o status de mortas-vivas.
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Período em que se realizou o intenso debate acerca do financiamento público de artes consideradas
“degeneradas” por parte do estado. O protagonista desta polêmica foi o Senador republicano Jesse Helms
principalmente contra as artes visuais.
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Mais de duas décadas de epidemia devastadora, com crimes de ódio e legislação visando
queers e pessoas de cor institucionalizadas como protocolos de estado, o ato de performar e
teatralizar a queerneess em público carrega múltiplos significados […] A importância de tais
pronunciações públicas e semipúblicas do self híbrido não pode ser subestimada em relação
à formação de contrapúblicos que contestam a supremacia hegemônica da esfera pública.
(1999, p. i, tradução minha)
Butler nomeia como abjeções as margens produzidas pela heteronormatividade4. Ou seja, como
elementos que são considerados socialmente poluentes, corruptores ou como algo que não deveria existir.
Em seus próprios termos, a abjeção se relacionaria não apenas ao dispositivo de sexualidade:
Parece traçar-se aqui uma espécie de condição de precariedade (Butler, 2015a). Vidas que são
lidas socialmente como não importantes. Corpos que se encontram em sua “despossessão”
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Para Bento, a heteronormatividade é “a capacidade da heterossexualidade se apresentar como norma, a lei que
regula e determina a impossibilidade de vida fora destes marcos” (2008, p. 4).
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Na verdade, o que a autora sinaliza é a passagem de suas reflexões desde uma política de subjetividade
mais centrada nas questões de gênero, como o clássico exemplo da paródia como política a partir das drag
queens, para políticas que pensam a precariedade e despossessão como ponto comum entre populações,
inclusive as que praticam dissidências sexuais e de gênero. Como afirma a filósofa:
Em Problemas de gênero (1989) às vezes parecia que certos atos individuais poderiam
performatizar, iriam ou poderiam ter efeitos subversivos nas normas de gênero. Agora estou
trabalhando sobre a questão de alianças entre várias minorias ou populações consideradas
descartáveis; mais especificamente estou preocupada em como a precariedade […] pode
operar, ou está operando, como um local de alianças entre grupo de pessoas que de outra
forma não achariam muito de comum entre si. (2015c, p. 26-27, tradução minha)
Tais vidas e resistências de corpos precários parecem promover uma rasura no local
estabelecido para suas existências. São as vidas nuas, nos termos de Agamben, através dos quais o
filósofo italiano argumenta como se dá a existência do que ele chamou de Homo Sacer:
[...] qualquer um pode matar sem cometer homicídio, sua existência é reduzida a uma vida
nua despojada de todo direito, que ele somente salva em uma perpétua fuga […] Justamente
por ser exposto a todo instante a uma incondicionada ameaça de morte, ele encontra-se em
perene relação com o poder que o baniu. (2014, p. 178)
O ato de viver nas bordas entre o banimento e a sobrevivência, seria o que Foucault (2008)
chamou de contra-conduta. Nas palavras do filósofo francês: “movimentos que tem como objetivo
outra conduta, isto é: querer ser conduzido de outro modo [...] São movimentos que também
procuram eventualmente, em todo caso, escapar da conduta dos outros.” (Foucault, 2008, p. 257).
Estes modos outros de conduta adentram o debate sobre uma vida visível e enlutável, o qual segue
na obra recente de Butler e na leitura feita pelo filósofo Vladimir Safatle.
Antígona e outros clamores: pensar políticas de luto com Judith Butler e Vladimir Safatle
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Políticas de morte que nos remetem ao Seminário VII (1986) de Lacan e suas notas acerca da
tragédia em Antígona. Nelas, o psicanalista francês afirma que ao realizar o ritual de enlutamento de
Polinices, a heroína grega impedira que o Estado matasse-o pela segunda vez. Assim, a atitude
evitou a experiência radical da destituição, a qual, segundo Lacan, seria a morte física seguida da
morte simbólica. Ou seja, o aniquilamento não apenas da vida presente no corpo, mas do próprio
direito à memória. Discussão presente mais especificamente no capítulo XXI, quando tematiza
“Antígona entre duas mortes” (2008, p. 319).
Na leitura de Safatle (2010), é a compreensão de que ninguém pode ter o seu direito de
memória retirado. Matar alguém duas vezes seria, nesse contexto, eliminar da experiência social a
experiência do luto, ou seja, o apagamento simbólico é aquele no qual não haveria sequer alguém
para ser velado. Assim, o Estado conseguiria eliminar não só aquele corpo, mas a memória da sua
existência. Paradoxalmente, o gesto de Antígona também faz com que a mesma seja jogada na
condição entre-duas-mortes5, uma vez que, ao enfrentar Creonte, ela está transgredindo o papel que
é socialmente estabelecido para a mulher no contexto da sociedade grega. “Ela é expulsa do
universo simbólico que sustenta a pólis, e por isso, morta duas vezes, física e simbolicamente. No
entanto, sua ação não é apenas feita, mas repetida.” (Safatle, 2012, p. 236) quando questionada na
presença do governante. Nas palavras do filósofo:
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Para Zizek, “Antígona […] põe sua vida em risco e entra no domínio 'entre duas mortes' precisamente para
evitar a segunda morte de seu irmão: dar a ele um rito funeral apropriado para assegurar sua eternização na ordem
simbólica” (2016, p. 181 – grifos do autor)
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O grito de Antígona reverbera nas políticas de enlutamento quando estas questionam quais são
as vidas estabelecidas como passíveis de pesar. Tema sobre o qual a filósofa Judith Butler tem se
dedicado desde a publicação do livro Vida Precária (2006). Neste sentido, diz a autora, não é que o
luto seja o objetivo da política, mas sem esta sensibilidade para o pesar, seria perdido um sentido
mais profundo necessário para nos opormos à violência.
Ao confrontar o governante e assim assumir uma posição interditada ao seu gênero e
parentesco, Antígona teria transgredido os limites da ordem simbólica, jogando-se no campo do
impensável, do Real, do psicótico. A heroína grega afirma inclusive que já está morta antes mesmo
de sua condenação. Entretanto, para Butler esta operação de foraclusão é performativa e
discursivamente produzida. Frente àquelas conclusões psicanalistas, a pensadora queer prefere
apostar, em O clamor de Antígona (2014), no gesto da protagonista como um ato que explicita o
caráter contingente das normas que governam a ordem simbólica. Assim, garantiria o
questionamento acerca das possibilidades de outras formas de organização dos vínculos sociais e
familiares, e por extensão, outras formas de políticas de enlutamento. Como argumenta a autora
sobre sistemas de filiação alternativos:
algo como o sistema de companheiros que a Gay Men's Health Clinic organizou, em Nova
York, para cuidar daqueles que vivem com HIV e AIDS também seria qualificado como
parentesco apesar da enorme luta para as instituições médico-legais reconhecerem a
condição parental dessas relações; isso se torna manifesto, por exemplo, pela incapacidade
de assumir responsabilidade médica pelo outro ou, ainda, de obter permissão para receber e
enterrar a pessoa morta [que era abandonada pelos familiares de origem] (IDEM, 2014, p.
105)
O debate motivado sobre o gesto de Antígona, vai trilhar o caminho de políticas de enlutamento que se
farão presentes, a partir de então, em parte significativa da obra de Judith Butler. Como a autora afirma em
Quadros de guerra:
A distribuição desigual do luto público é uma questão política de imensa importância. Tem
sido assim desde, pelo menos, a época de Antígona, quando ela decidiu chorar
publicamente pela morte de um de seus irmãos, embora isso fosse contra a lei soberana.
Porque os governos procuram com tanta frequência regular e controlar quem será e quem
não será lamentado publicamente? (2015a, p. 6)
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não enterrar alguém é a figura mais clara do apagamento do nome e do lugar, séculos e
séculos tentaram deslegitimar a natureza política de seu gesto […] [ao realizar o ritual de
luto público] Ela [Antígona] falava em nome do que fora expulso do convívio dos
humanos. Por falar em nome do que não é mais humano, ela podia falar em nome dos
deuses, podendo preservar o que os humanos apagam. (2016. p. 17-18)
Para Hardt e Negri (2016a), essa é uma potência disruptiva do inumano da multidão
contemporânea. Eles afirmam que a “revolução será monstruosa” ao fazerem eco com a noção de
“multidões queer” em Preciado (2011). Na esteira desse argumento, Safatle, ainda à sua maneira7,
completa: “um traço emancipador da queer theory de Judith Butler está vinculado exatamente a esta
noção de que o monstruoso ('queer', cuja tradução aproximada seria 'estranho', 'esquisito') no campo
da sexualidade é muitas vezes a figuração de novas formas de vida” (2012, p. 233-234).
Assim, Butler aponta que a inscrição da experiência de Antígona na linguagem levanta a
questão da possibilidade de abertura para que seu ato seja lido de outras formas em outros
acontecimentos e para além da tragédia. Na verdade, é a própria escritora que afirma o caráter
aberto dos efeitos de Antígona na linguagem: “Ela fala a linguagem do direito da qual está excluída
[…] então Antígona é a ocasião de um novo campo do humano, conquistado através da catacrese
política.” (Butler, 2014, p. 114).
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A noção de ato em Lacan vai imprimir profundas diferenças entre as interpretações de Antígona feitas por
Butler e Zizek (2016; 2003). As formulações de Vladimir Safatle, um dos principais interlocutores do filósofo esloveno
no Brasil, não deixam de ser afetadas por este fato. Contudo, os limites deste artigo não permitem o desenvolvimento de
tal discussão.
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Safatle pensa a performatividade da política não como uma multidão, mas como despossessão.
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como alguém consegue viver com a noção de que o seu amor não é reconhecível e que suas
perdas não são consideradas perdas? Como alguém vive dentro de uma vida não-
reconhecida? Se o que e como você ama já é uma forma de nada ou não-existência, como é
possível explicar a perda deste nada e como isto poderia se tornar passível de luto? […]
Como uma população apartada da fala consegue falar e fazer suas reivindicações? Que tipo
de disrupção é esta no campo do poder? (2009, p. 7-8, tradução minha)
Tais perguntas se toram indispensáveis para pensar a política de enlutamento hoje. No caso de
Butler, ao se perguntar o que é reconhecível como uma vida válida, parece haver a retomada de uma
cena pós-hegeliana de reconhecimento. Logo, não há aqui uma demanda por reconhecimento a
partir dos predicados/identidades nos termos clássicos da dialética senhor/escravo. Parece ser nesse
sentido que o pensamento da teórica queer aponta hoje para uma política da despossessão (Butler;
Athanasiou, 2013; Butler, 2015a, 2006). Em uma espécie de reconhecimento sem identidade. O
reconhecimento do outro não mais pelos predicados que possui, mas por uma espécie de
precariedade que atinge a todos e todas8.
Ainda no Brasil, temos as apropriações da despossessão butleriana por parte de Vladimir
Safatle (2015a). Para o filósofo, viveríamos em uma política do medo como afeto paralisador da
criação. E somente a circulação de afetos, para além da esperança ou do medo, que garantiria a
construção de uma política da despossessão. Uma política para além das identidades, dos
predicados. Em última instância, uma política do desamparo no sentido psicanalítico, na qual eu me
deixo ser despossuído pelo Outro e uma espécie de vínculo ético surge a partir da experiência de
precariedade. Esse desbloqueio possibilitaria a emergência do novo, do impensável, daquilo fora da
existência discursiva palpável. Aqui, a ação do luto se apresenta como estratégia fundamental. Nas
palavras e Safatle:
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A despossessão é tratada em Judith Butler como uma aporia que diz respeito não apenas a uma possibilidade
induzida de privação, mas também uma exposição quase ontológica à alteridade. Neste sentido, como afirma Oliveira
(2015), não é clara na obra da autora a distinção entre precaridade e despossessão e muitas vezes os termos parecem ser
tratados como sinônimos.
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Referências
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______. Vida precaria: el poder del dielo y la violencia. Buenos Aires: Paidós, 2006.
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São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
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PRECIADO, P. B. Multidões queer: notas para uma política dos “anormais”. Estudos Feministas,
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Como os corpos se tornam matéria: entrevista com Judith Butler. Revista Estudos Feministas,
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______. Dos problemas de gênero a uma teoria da despossessão necessária: ética, política e
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2015b.
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______. Do uso da violência contra o Estado ilegal. In: SAFATLE, V.; TELES, E. (Org.). O que
resta da ditadura. São Paulo: Boitempo, 2010.
Antigone and other claims: dialogues on politics of mourning between Judith Butler and
Vladimir Safatle
Astract: Since appearing in "Antigona's Clain" (2000), the Greek heroine has been requested by
Judith Butler in her work not only to think about kinship issues, but also to propose a policy of
contemporary mourning. If the relationship with kinship is treated deeply in the work already
quoted and in "Undoing gender" (2004), the actual discussion of mourning will appear in
"Precarious life" (2004) and "Frames of war "(2009). Thus, while in the 1990s, the author dedicated
herself to write about bodies that matter under the focus of the interpellation of gender and sex,
from the year 2000 her concerns will be extended to the different bodies that are not taken as a
worth and grievable life. In the Brazilian reception of Judith Butler's thought, the dialogue
established by Vladimir Safatle will be highlighted. The recent formulations of the American
thinker appear in "Grande hotel abismo" (2012) and "O circuito dos afetos" (2015b). Safatle will
also use Antigone's act to think about the needs of contemporary politics in "O que resta da
ditadura" (2010); "O dever e seus impasses" (2013) and in his most recent text published "Quando
as ruas queimam: manifesto pela emergência" (2016). The inspiration in the gesture of Antigone
will approach and distance the bets of the two authors.
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