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TERRA E LIBERDADE

Boletim nacional do GT Luta dos Povos do Campo e da Floresta – FOB, nº1, Jan/2021.
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Editorial: Entre os dias 28 e 30 de A voz das nhandesy, rezadoras


novembro (2020) ocorreu a e autoridades espirituais do
É com alegria que anunciamos o primeiro
VIII grande assembleia das povo Guarani e Kaiowá, se
número do boletim nacional Terra e
mulheres Guarani e Kaiowá - a somou as palavras de grandes
Liberdade, do Grupo de Trabalho (GT)
Luta dos Povos do Campo e da
Kuñangue Aty Guasu. A guerreiras da juventude, em
Floresta, organizado pela Federação assembleia, que ocorre desde uma ampla rede de apoio e
das Organizações Sindicalistas 2006, foi realizada de forma mobilização. Foram debatidas
Revolucionárias do Brasil (FOB). O inédita em formato virtual. questões como a importância
boletim nasce como um meio de Oito pontos de internet foram das parteiras e da medicina
articulação e propaganda das lutas de distribuídos ao longo de oito tradicional, com a inauguração
libertação e autonomia dos povos territórios Guarani e Kaiowá de uma casa de medicina
indígenas, quilombolas, ribeirinhos, no Mato Grosso do Sul, onde Kaiowá e Guarani.
camponeses e trabalhadores rurais. grupos das comunidades locais Demarcando forte oposição ao
se reuniram para transmitir Marco Temporal, as mulheres
Terra e Liberdade. Duas palavras que
suas palavras ao mundo. opuseram resistência frontal ao
expressam o protesto justo e ancestral dos
Desde o princípio, a luta pela genocídio em curso promovido
povos originários e camponeses contra a
terra aparece como principal pelo Estado brasileiro e o
opressão do Estado e dos ricos. Essas
elemento articulador das latifúndio. A força do mbaraká
gloriosas palavras estão escritas com fogo
necessidades do povo Guarani e do takuapu, a cabaça e a
e sangue na nossa história, desde a
e Kaiowá. Sem terra, não há taquara sagradas que
colonização até os dias de hoje. Seguem
vida. E a terra, mãe de todos os acompanham as rezas das
vivas nas lutas contra o roubo de terras e
povos, carrega a força criadora anciãs, fez-se ouvir para além
violências causados por grandes
que alimenta e que confere das fronteiras e fez tremer os
mineradoras, hidrelétricas, agroindústrias e
razão de ser e resistir para os pilares da colonização.
obras de infraestrutura que só buscam o
lucro para poucos em troca de sofrimento Guarani e Kaiowá. O capital As histórias de resistência
e migalhas para o povo. Terra e Liberdade avança em um processo de dessas mulheres, ainda,
é um grito de guerra em defesa da mãe espoliação que encontra nos abrangeram diálogos com
natureza e de uma vida digna. corpos das mulheres a última guerreiras indígenas de
Cada ocupação e retomada de terra, fronteira de extermínio e diferentes etnias ao redor do
assentamento, comunidade indígena ou exploração. Em última Brasil, que se somaram às
quilombola, cada marcha, greve rural ou instância, contra isso se vozes não mais silenciadas, que
cooperativa de trabalho, são as bases de organizam. gritaram pelas suas vidas,
apoio de uma nova estratégia e compartilharam suas histórias e
programa para a libertação e autonomia denunciaram seus violadores.
territorial dos povos. Todos já estão
cansados de ilusões e divisões causadas por
governos e políticos. O boletim nacional
Terra e Liberdade será uma voz incansável
pela aliança desde baixo, autônoma e
revolucionária dos povos, de denúncia
contra as injustiças no campo e pela
construção de um mundo novo.
Terra a quem nela trabalha!
Só o povo salva o povo!
Assim foi lançado o resumo do Relatório de conselhos tutelares, etc. - até as milícias privadas e as
Violência contra as mulheres Guarani e Kaiowá, com grandes empresas do agronegócio, que ocupam a
graves denúncias sobre estupro de crianças, gravidez maior parte das terras ancestrais dos povos.
infantil, agressões físicas, feminicídio, entre tantas Que a combatividade e a resistência das mulheres
outras formas de violência. O relatório será Guarani e Kaiowá seja ouvida em todos os cantos do
oficialmente disponibilizado em 2021. mundo, somando-se as vozes das revoluções dos
A programação da assembleia também incluiu graves povos! Dos tekoha à revolução curda - onde um
denúncias da realidade de violência colonial, estatal e grande levante anticapitalista e antipatriarcal
empresarial que permeia as vidas das mulheres protagonizado pelas mulheres constrói um novo
Guarani e Kaiowá, que abrange instituições como mundo -, as mulheres do povo pavimentam o
Universidades e os principais órgãos de repressão - as caminho da vitória por Terra e Liberdade!
instituições jurídicas, médicas, militares, carcerárias,

BARRAR O MARCO TEMPORAL


COM LUTA E REBELIÃO!
O marco temporal é um grave ataque
contra os povos indígenas e quilombolas.
Segundo esta tese, apenas teriam direito à
terra os povos que estivessem,
comprovadamente, em disputa direta
(física ou judicial) ou ocupando seus
territórios no dia 05 de outubro de 1988,
quando foi promulgada a Constituição
Federal. O marco temporal é uma
ferramenta jurídica, portanto, defendida BASTA DE VIOLÊNCIA PARAMILITAR
por ruralistas e grandes empresas que
usurpam a séculos as terras dos povos do AS COMUNIDADES ZAPATISTAS!
Brasil. No dia 1 de janeiro de 1994 houve etc) e; 2) o “Sembrando Vidas”
Ainda, em outubro de 2020, entrou em no estado de Chiapas (México) (que não passa de uma estratégia
pauta no STF um pedido de reintegração um levante armado do Exército de privatização da terra disfarçada
contra um território do povo Xokleng em Zapatista de Libertação Nacional de auxílio assistencial). Ambos
Santa Catarina, onde também vivem (EZLN) que chamou a atenção do aumentam os conflitos nas
grupos Guarani e Kaingang. Este mundo inteiro por defender, de comunidades seja por expulsá-los,
julgamento é muito importante, pois seu maneira radical, a terra, a seja pela cooptação e dependência
resultado terá repercussão geral: a decisão democracia e a justiça para o de programas governamentais.
sobre este caso se aplicará a todos os povo. No levante, milhares de Atualmente as comunidades
povos indígenas. O julgamento foi hectares de terra foram retomados autônomas zapatistas Moisés
suspenso, e ainda não tem data para por indígenas-camponeses que Gandhi e Nuevo San Gregório
ocorrer. eram obrigados a vender sua força estão sob fortes ataque. Elas têm
de trabalho por uma miséria. sido alvo de paramilitares que,
Se o marco temporal vencer se tornará Deram o primeiro passo rumo a
tese fixa para obstruir os direitos dos para se integrar aos projetos
autonomia. Mas a conquista da assistenciais do governo de
povos e haverá um violento avanço dos terra não foi o fim do movimento,
conflitos, o que inclui a possível revisão “esquerda”, têm utilizado várias
pelo contrário, foi o início do seu formas de violências para tentar
dos territórios já demarcados. Para barrar autogoverno, de uma educação,
o marco temporal, devemos estar atento à expulsar os zapatistas de suas
saúde e economia autônomas. terras recuperadas. Tiros, ameaças,
nova data do julgamento. Devemos estar
mobilizados nos territórios para contrapor Hoje, a realidade que enfrentam sequestros, queima do plantio,
à violência de Estado com resistência e continua sendo difícil, afinal, o cercamentos, roubos, é a realidade
luta: é preciso preparar um novo avanço Estado e o Capital continuam que estão sofrendo há mais de um
das retomadas de terras e a autodefesa com a sua tendência expansionista ano essas comunidades. Querem
territorial, em aliança a classe trabalhadora e opressora. Atualmente no acabar com o uso coletivo da terra
do campo e da cidade. México existem dois principais e implantar a propriedade privada!
eixos de destruição das Mas essas agressões não vão parar
Morte ao latifúndio! autonomias indígenas: 1) os a resistência e a solidariedade: O
Não ao Marco Temporal! megaprojetos (rodovias, ferrovias, EZLN não está sozinho!

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