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A ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA E O USO DE NOVAS TECNOLOGIAS

Autor: Everaldo Roberto Parra1


Orientadora: Prof. Dr.ª Adriana Castreghini de Freitas Pereira2

RESUMO

O presente artigo apresenta o desenvolvimento e os principais resultados da


implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola e da Unidade
Didática, produzidos durante o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,
turma 2016/2017, pertencente à IES _ Universidade Estadual de Londrina. Este
trabalho teve como objetivo ampliar a compreensão e o estudo da cartografia
através das novas tecnologias, com o intuito de melhorar o ensino e a aprendizagem
dos estudantes do sexto ano do ensino fundamental II, pertencente ao Colégio
Estadual Rio Branco – Ensino Fundamental e Médio. A implementação foi realizada
nos meses de fevereiro a junho de 2017. Além disso, apresenta as discussões e
resultados do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) que ocorreu, paralelamente, no
primeiro semestre de 2017. A Unidade Didática foi produzida de forma
complementar ao conteúdo do livro didático, utilizando-se de recursos disponíveis
referentes às novas tecnologias, tais como: celular, GPS, os aplicativos Google
Maps e Google Earth, etc., dessa forma, buscou-se considerar sempre o espaço
cotidiano do aluno para facilitar sua compreensão e dar significado ao
conhecimento.

Palavras-chave: Cartografia; novas tecnologias; leitura cartográfica; geotecnologias.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem como finalidade apresentar os resultados da implementação


do projeto de pesquisa Novas Tecnologias Aplicadas à Alfabetização Cartográfica,
desenvolvido durante o primeiro ano do Programa de Desenvolvimento

1
Professor de Geografia da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná.
2
Professora Doutora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina-
UEL/PR.
Educacional– PDE e aplicado em uma turma de sexto ano, ensino fundamental II do
Colégio Estadual Rio Branco Ensino Fundamental e Médio em Rio Branco do Ivaí -
PR.
E para o ensino de geografia, mais especificamente, a leitura cartográfica,
tomou-se como prática pedagógica a cartografia e sua integração aos recursos
tecnológicos, no intuito de melhorar a compreensão dos alunos na leitura e
interpretação de mapas, buscando a partir de seus conhecimentos prévios, ampliar
sua visão de mundo no que tange a sua localização e compreensão dos diversos
espaços, pois é gradativamente que ele torna-se apto para reconhecer as
representações do mundo real e posteriormente de um nível mais elevado de
abstração.
Nesta perspectiva, buscou-se incorporar a essa prática pedagógica o uso de
novas tecnologias que permitem uma visualização mais próxima da representação
da realidade, a fim de estimular a descoberta de conteúdos necessários para a
construção de conhecimentos. Já que, no contexto atual, é perceptível o interesse
dos estudantes em utilizar, principalmente, equipamentos eletrônicos em sala de
aula, acredita-se que o uso desses recursos tecnológicos em práticas pedagógicas
pode torná-las mais significativas.
Com a intenção de melhorar a qualidade de ensino e aprendizagem e
despertar o interesse dos alunos nessa prática pedagógica, optou-se em aplicar os
conhecimentos encontrados em tecnologias afins e vinculá-los ao desenvolvimento
dessas práticas em sala de aula, experienciando novas metodologias de ensino,
numa expectativa de bons resultados quanto ao empenho e desempenho dos
estudantes inseridos nesse processo, e o aprimoramento de seus conhecimentos e
assim, alcançar os objetivos propostos no projeto de intervenção pedagógica.
Sabe-se que a leitura cartográfica é um dos grandes problemas encontrados
nas aulas de geografia, pois nossos alunos têm dificuldades em analisar e
compreender além dos símbolos, a escala do mapa, o sistema de coordenadas, os
elementos que compõem o mapa como relevo, vegetação, hidrografia, etc. E dessa
forma, esse trabalho procurou instigar o aluno a pensar o mapa como fazendo parte
de seu cotidiano, mostrando que o simples ir e vir a caminho da escola, ao ser
desenhado em um papel, com os padrões intrínsecos da cartografia (escala,
símbolos, coordenadas), torna-se um mapa.
Nesta perspectiva, a orientação dada ao aluno sobre a inserção dos símbolos
em desenhos, contribuiu para maior compreensão de seu desenho/mapa. Os
símbolos mostravam os pontos de referências e curiosidades que marcam o
caminho do aluno até a escola para levá-lo a compreender que o uso do mapa
acontece no dia a dia de forma mental, oral, escrita, desenho, etc.
E ainda, para que o ensino e aprendizagem ocorressem de forma mais eficaz,
pretendeu-se estimular os estudantes a buscar conhecimentos através das novas
tecnologias, para a leitura e interpretação de mapas, de forma mais interessante e
significativa aliando o agradável ao necessário.

2 EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 Novas tecnologias aplicadas à alfabetização cartográfica

A ação educacional não se constrói apenas com conteúdos de interesse dos


educandos ou do professor, mas sim aqueles que são úteis para a formação e
educação em um sentido de preparo a continuidade do processo educativo.
Adquirir conhecimento é um mecanismo de estimulo para a transformação. A
educação é um excelente instrumento para que este processo ocorra. Assim, a
Secretaria de Estado da Educação do Paraná (2008) enfatiza:

Entende-se que, para a formação de um aluno consciente das relações


socioespaciais de seu tempo, o ensino de Geografia deve assumir o quadro
conceitual das abordagens críticas dessa disciplina, que propõem a análise
dos conflitos e contradições sociais, econômicas, culturais e políticas,
constitutivas de um determinado espaço (PARANÁ, 2008, p. 53).

De acordo com Simielli (1994, p. 77) ”A Geografia é uma ciência que


trabalha com diferentes recortes de espaço e tempo”.
Assim, diante da abrangência dos estudos da Geografia e do compromisso
em formar cidadãos críticos e que sejam capazes de ler, compreender e formar
atitudes e valores é necessário fazer-se valer de outras ciências como auxílio para o
ensino.
Cavalcanti (2002) ressalta que:

A habilidade de orientação, de localização, de representação cartográfica e


de leitura de mapas desenvolve-se ao longo da formação dos alunos. Não é
um conteúdo a mais no ensino de Geografia; ele perpassa todos os outros
conteúdos, fazendo parte do cotidiano da matéria. Os conteúdos de
cartografia ajudam a responder àquelas perguntas: Onde? Por que este
lugar? Ajudam a localizar fenômenos, fatos e acontecimentos estudados e a
fazer correlações entre eles, são referências para o raciocínio geográfico
(CAVALCANTI, 2002, p.16).

A Cartografia aparece como importante prática pedagógica no ensino da


Geografia, pois o mapa é capaz de mostrar registros e representações dos dados de
forma gráfica, facilitando a análise visual dos dados de determinado assunto em
determinado tempo.
Nesse sentido Simielli (1994, p. 84) salienta que os mapas são meios de
comunicação e transmitem mensagens que devem ser lidas e interpretadas, sendo
necessário, alfabetizar cartograficamente o aluno, assim como se aprende a ler
outras linguagens, como a escrita, os números, e outros.
Cumpre assinalar que a Geografia enquanto disciplina escolar toma para si
parte significativa da responsabilidade sobre a alfabetização cartográfica.
Assim Antunes (2010) diz que:

A tarefa do professor de Geografia agindo como um “alfabetizador


cartográfico” vai muito além de chamar a atenção dos alunos para os mapas
apresentados, pois, inclui oferecer elementos para que a criança, e depois o
adolescente, compreenda os processos necessários para a realização de
um mapa e, sobretudo, por que eles são feitos e por que a Geografia não
pode dispensá-los. Começando nas séries iniciais com a percepção e
descoberta do espaço concreto do aluno (aula, escola, bairro), o objetivo é
ajudá-lo a transferir essa aprendizagem para espaços mais amplos e
maiores (município, estado, país), completando-a com uma leitura plena do
mundo em que se vive e que se busca compreender (ANTUNES, 2010, p.
66).
É muito importante que o aluno compreenda quais foram e quais são as
dificuldades enfrentadas na produção dos mapas, deste modo, será capaz de
realizar uma leitura crítica do espaço geográfico representado e que se encontra em
análise.
É papel do professor de Geografia torná-la compreensível para os alunos.
Para isso é importante que o professor detenha habilidades e seja sensível para o
trabalho com conceitos cartográficos básicos, como escalas, projeções, orientação,
localização, simbologia, e também incorpore no seu trabalho uma metodologia que
inclua procedimentos didáticos adequados para o ensino desses assuntos básicos
da Cartografia nos diferentes níveis escolares em que esteja trabalhando. Não faz
sentido apresentar uma descrição estática dos fatos e acontecimentos, ao contrário,
é necessário mostrar que o mundo é dinâmico e passível de transformação.
De acordo com Haslam e Taylor (1999):

A geografia nos ajuda a compreender o que aconteceu com a Terra no


passado, a constatar suas mudanças atuais e a verificar o que acontecerá
com ela no futuro. Na tentativa de entender o mundo em que vivemos e
registrar informações sobre ele, as pessoas criam mapas (...). Muitos mapas
antigos basearam-se mais em narrativas do que em fatos. Hoje, porém, os
geógrafos dispõem de uma enorme gama de informações (...) que os
ajudam a descrever nosso mundo (HASLAM; TAYLOR, 1999, p. 04).

Neste sentido, o Ensino de Geografia é um dos processos de alfabetização


da sociedade na leitura do espaço geográfico, em suas diversas escalas e
configurações e para que isto ocorra, a Cartografia é uma ferramenta importante.
Archela e Uller (2005, p. 67) ressaltam que: “Educação cartográfica no
ensino fundamental é um assunto recente na escola formal e diz respeito ao preparo
do aluno para ler e interpretar as diferentes representações cartográficas”. Vê-se
que a Educação Cartográfica também oportuniza aos alunos o conhecimento das
técnicas e dos instrumentos necessários ao entendimento das múltiplas
configurações espaciais presentes no cotidiano, o que é fundamental no preparo dos
alunos para o exercício pleno da cidadania.
As autoras colocam ainda que este trabalho educacional busca valorizar
esta nova temática no intuito de inserir a educação cartográfica de forma mais
eficiente dentro do contexto educacional.
Martinelli (apud Francischett 2002) assim conceitua a Cartografia:

A Cartografia é a ciência da representação e do estudo da distribuição


espacial dos fenômenos naturais e sociais, suas relações e suas
transformações ao longo do tempo, por meio de representações
cartográficas, modelos icônicos, que reproduzem este ou aquele aspecto da
realidade de forma gráfica e generalizada (FRANCISHETT, 2002, p. 29).

Corroborando o assunto Bitar e Sousa (2009), diz que “a Cartografia


corresponde à arte, o método e a técnica de representar a superfície terrestre e seus
fenômenos”. A arte corresponde à representação estética, ou seja, as cores usadas
e o traçado em si; o método sugere uma possibilidade de análise geográfica,
interpretação e reflexão das informações cartografadas; e a técnica diz respeito à
precisão do traçado e das informações contidas no mapa.
No entanto, para dar início à alfabetização cartográfica, o professor deve
estar ciente das capacidades dos estudantes e a faixa etária, a experiência escolar e
de vida que os alunos em questão já trazem. Alguns conceitos já podem ter sido
assimilados pelos alunos nas séries anteriores, bastando apenas um reforço,
enquanto outros ainda precisam ser introduzidos e ampliados. Castrogiovanni e
Costella (2006), afirmam que é preciso respeitar as fases de desenvolvimento
intelectual dos alunos e as maneiras como as noções espaciais são por eles
adquiridas e absorvidas. Contudo, o professor jamais deve desprezar a bagagem
que seus alunos têm e o esforço que eles fazem para compreender o conteúdo
novo.
De acordo com Passini (2007), a alfabetização cartográfica:

É uma proposta de transposição didática da Cartografia Básica e da


Cartografia Temática para usuários do ensino fundamental, em que se
aborde o mapa do ponto de vista metodológico e cognitivo. “Ela é uma
proposta para que alunos vivenciem as funções do cartógrafo e do
geógrafo, transitando do nível elementar para o nível avançado, tornando-se
leitores eficientes de mapas (PASSINI, 2007, p.147)”.

Percebe-se que essa prática busca desenvolver, no aluno, fundamentos


metodológicos que possibilitem a visualização do mapa como um recurso a ser
explorado de várias maneiras para possibilitar o entendimento da organização e
reorganização do espaço geográfico e não simplesmente visualizado como um mero
elemento transmissor de dados. O aluno deve se ver inserido no processo de
interpretação e não somente como um receptor de informações.
Verifica-se que a cartografia é algo que desperta a curiosidade e o interesse
das crianças quando ensinada sob esse ponto de vista, pois a sua teoria pode ser
facilmente vista na prática, quando da “construção” de um mapa. Na verdade, aquilo
que se vê e ouve é percebido como algo muito abstrato no dia a dia, é facilmente
esquecido, mas o que faz com as próprias mãos e com o próprio raciocínio tem
menor probabilidade de cair no esquecimento.
Straforini (2002), afirma que “O aluno deve estar inserido dentro daquilo que
está estudando, proporcionando a compreensão de que ele é um participante ativo
na produção do espaço geográfico”. A criança compreende muito mais o conteúdo,
quando o estudo parte de exemplos ou experiências vividas e observadas. O
reconhecimento do espaço, observado no cotidiano, serve de motivação para iniciar
a construção de conceitos geográficos.

E como citam as DCEs, “contextualizar o conteúdo é mais do que relacioná-


lo à realidade vivida pelo aluno, é, principalmente, situá-lo historicamente e
nas relações políticas, sociais, econômicas e culturais, em manifestações
espaciais concretas, nas diversas escalas geográficas” (PARANÁ, 2008, p.
75,76).

É oportuno mencionar que, para que os conceitos e noções cartográficas


sejam apreendidos cognitivamente, de modo que se sintam como parte integrante
do sistema do conhecimento, é necessário estabelecer a ligação entre o que foi
estudado, sua importância e significado na prática.

É importante que o aluno se localize no espaço onde vive e entenda que


isso não é “obra do acaso”. A representação cartográfica possibilita a
compreensão, distribuição e organização do espaço, é uma das
preocupações da Geografia (FRANCISCHETT, 2002, p. 111).
Considerando que as noções de orientação espacial e a localização no
espaço geográfico são elementares para se estabelecer ou construir um raciocínio
geográfico da realidade, é de suma importância a construção do conhecimento
visando uma linguagem cartográfica, ou seja, é primordial que o educando adquira
hábito de orientação, estratégias de aprendizagem, referenciais de espaço e o
desenvolvimento da leitura cartográfica, possibilitando a compreensão e
interpretação do espaço de vivência e deste com os outros lugares.
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná:

O uso da linguagem cartográfica, como recurso metodológico, é importante


para compreender como os fenômenos se distribuem e se relacionam no
espaço geográfico. Entretanto a linguagem cartográfica deve ser trabalhada
ao longo da Educação Básica, como instrumento efetivo de leitura e análise
de espaços próximos e distantes, conhecidos e desconhecidos. Desse
modo, a cartografia não pode ser reduzida a um conteúdo pontual abordado
somente num dos anos/séries do Ensino Fundamental ou Médio (PARANÁ,
2008, p. 79).

Sendo assim, o ensino de Geografia não deve ficar apenas na descrição e


enumeração dos fatos e dados, apenas dando prioridade àquilo que é visível e
observável. A Geografia, ao contrário, deve se adequar à compreensão do espaço
no seu todo.
É importante mencionar que cabe ao professor não só incentivar os alunos
em comparar as diferentes interpretações que os mapas trazem, mas, também
estimular a curiosidade deles para que os educandos busquem meios tecnológicos
para a compreensão cartográfica e sua inserção de forma direta no seu dia a dia.
É verdade que as novas gerações, considerando-se tanto os alunos como os
professores, se adaptam constantemente às novas tecnologias de informação fora
da escola, vivenciando, participando e usufruindo dessas novas tecnologias, assim,
a escola precisa utilizar todos os instrumentos e novas linguagens possíveis, para
propiciar uma aprendizagem cada vez mais eficiente.
De acordo com Cavalcanti (2012), o mundo de hoje é um mundo de grandes
avanços tecnológicos, sobretudo nas áreas das chamadas Tecnologias da
Comunicação e Informação, as TICs, e o aluno é um sujeito permanentemente
estimulado pelos artefatos tecnológicos.
Convém observar que as TICs surgem como uma alternativa para tentar
superar os obstáculos que permeiam o ensino da cartografia na Educação Básica e
apontam novas possibilidades de se trabalhar os conteúdos cartográficos através de
sites como Google Maps, Google Earth, entre outros. Observa-se que as
Geotecnologias surgem como ferramentas auxiliares importantes para uma melhor
compreensão do espaço geográfico dentro do contexto escolar e, posteriormente,
levado para o meio em que vivencia e desenvolve suas atividades cotidianas.
Portanto, são diversos os recursos tecnológicos que a cartografia possui
como aero fotos, imagens, sistemas de posicionamento por satélites, programas de
orientação em celulares e computadores, que além de disponibilizar informações
coletadas possui um fácil acesso a quem se interessar.
É fundamental levar os alunos a se apropriarem criticamente dessas
tecnologias, de modo que descubram as possibilidades que elas oferecem nas
diversas práticas educacionais. De acordo com Tavares (2005, p. 5) “Na medida em
que interage com a informação, o estudante está construindo seu conhecimento, ele
faz conexões importantes entre significados e, desse modo, possibilita a sua
aprendizagem significativa”.
Os educadores podem contar com apoio para lecionar suas aulas e
estimular os educandos a usar os instrumentos que a tecnologia dispõe como
mapas, celulares, internet, computadores entre outros, para o aperfeiçoamento do
conhecimento e para o seu respectivo uso diariamente, fazendo uma relação
consciente entre o recurso e a cartografia ensinada.
Os educadores devem cada vez mais fazer uso dessas ferramentas para
atualizar conhecimentos, capacitar-se, oferecer uma aula de qualidade, mais atrativa
para os alunos. Morais (1994, p. 9) observa que, “faz-se necessário acreditar que as
novas tecnologias podem contribuir substantivamente para aperfeiçoar o processo
de ensino-aprendizagem e incitarem o interesse dos alunos através de metodologias
diferenciadas”.
Como se observa a Geografia e a Cartografia são ciências que envolvem um
conhecimento estratégico, o qual permite às pessoas que desconhecem seus
espaços e sua representação, passarem a organizar e dominar este espaço.
Portanto, é fundamental a alfabetização cartográfica como uma proposta
metodológica que possa romper com o Ensino de Geografia Tradicional e o aluno
possa compreender o conteúdo estratégico da Ciência Geográfica e assim participar
das mudanças em benefício de um mundo melhor.

3 METODOLOGIA

O projeto de intervenção pedagógica foi implementado no Colégio Estadual


Rio Branco – Ensino Fundamental e Médio, localizado em Rio Branco do Ivaí,
pertencente ao NRE de Ivaiporã. A turma escolhida para desenvolver o projeto foi o
6º ano do Ensino Fundamental II do período vespertino, composta por 23 alunos e
ocorreu no primeiro semestre do ano letivo de 2017. O Colégio atende alunos da
cidade e de diversos bairros, todos rurais e que não têm acesso à internet, com isso
a pesquisa teve o propósito de que a linguagem cartográfica fosse um instrumento
de trabalho prático e diversificado, para que os alunos tivessem melhor
compreensão do espaço geográfico, a partir do seu local de vivência.
Primeiramente, o projeto de intervenção pedagógica e Unidade didática
foram apresentados na escola para a direção, equipe administrativa, pedagógica e
professores durante a semana pedagógica de fevereiro de 2017. Aos estudantes,
foram apresentados os propósitos e objetivos desta pesquisa a ser aplicado. Em
seguida, foi realizado o questionário de pesquisa com a finalidade de obter
informações sobre os estudantes e os conhecimentos prévios que possuiam sobre
Cartografia, bem como, o uso das novas tecnologias no cotidiano.
Com base nas informações coletadas, deu-se o início e prosseguiu o
desenvolvimento das atividades propostas na Unidade Didática, conforme descritas
a seguir.

3.1 Alfabetização Cartográfica

Ler mapas significa dominar a linguagem cartográfica, pois a cartografia é


uma forma de linguagem e nesse processo de leitura, alguns passos básicos foram
seguidos. A leitura começa pela observação do título, do espaço representado, seus
limites e demais informações, é preciso interpretar a legenda e relacionar os
significados. A última e não menos importante etapa, é em relação à escala
indicada, pois serve para que o aluno tenha noção do espaço representado do
mundo real para o papel. É uma relação de proporção, que serve para diminuir a
informação a ser desenhada no mapa. Assim, com base nesses procedimentos e
utilizando o mapa das Unidades Aquíferas do Paraná os alunos responderam as
seguintes questões: “Qual o título do mapa? Quais são as bacias hidrográficas do
Paraná? Cite a fonte de onde foi extraído este mapa. Seu município está localizado
em qual bacia hidrográfica? A capital do Paraná está localizada em qual unidade
aquífera? Qual a escala utilizada neste mapa?”.

3.2 Orientação geográfica pelos astros

Com a finalidade de aprimorar as noções de referência espacial, utilizando


os astros, a Rosa dos Ventos e a bússola, desenvolvemos algumas atividades
práticas com os alunos.
Orientação Pelo Sol: Para facilitar a compreensão e memorização dos
pontos de orientação geográfica foi importante relacionar o sentido de orientação
Leste com o lado que o Sol aparece ou nascente, pois os demais são derivados
deste.
O uso de imagem como auxílio da aprendizagem permitiu ao aluno superar a
abstração e apropriar-se mais facilmente dos conhecimentos trabalhados.
Observando a posição do Sol em relação à própria sala de aula, os pontos
cardeais foram localizados a partir do exercício que consiste em esticar o braço
direito na direção do nascer do Sol (Leste) e o braço esquerdo na direção do pôr do
Sol (Oeste), tendo à frente a direção Norte e nas costas a direção Sul. À partir
desses referenciais identificaram todas as direções.
Orientação pela Rosa dos Ventos: A Rosa-dos-ventos ou Rosa-dos-rumos é
um instrumento de orientação baseado nos quatro pontos cardeais e colaterais, que
aponta as direções espaciais. Sendo assim, a partir da Rosa dos ventos foi possível
identificar e memorizar todos os pontos de orientação.
Neste exercício com o uso da Rosa dos Ventos foi trabalhada a
compreensão da referência e da movimentação da mesma, de acordo com a
solicitação proposta.
Orientação pela bússola: Neste exercício, com o uso da bússola foram
realizados vários deslocamentos na sala de aula e no pátio da escola para
determinar as direções cardeais dos eixos: Norte-Sul, Leste-Oeste sendo solicitados
diferentes pontos de referência para orientar-se e comparar com a movimentação
aparente do sol.

3.3 Projeções cartográficas

As projeções cartográficas possibilitam representar a superfície da terra em


um plano, caracterizadas em mapas. Com o objetivo de amenizar ou diminuir as
distorções relacionadas com a forma da terra, foram criadas as projeções e
dependendo do ângulo em que são analisadas, apresentam maiores ou menores
distorções do globo, o que leva-nos a entender que a escolha de uma delas
depende do que se queira estudar. Neste sentido, para tal demonstração foi
apresentado um vídeo sobre projeções cartográficas e sua história. Tratou-se,
também, do uso do globo e as formas de projeções, tais como: cilíndricas
conformes, cilíndricas equivalentes, cônicas, azimutal entre outras, mostrando que
todo mapa retrata a realidade de acordo com a visão de quem o elaborou.
Posteriormente, numa atividade oral, o professor fez as seguintes perguntas:
“Os mapas mostram apenas realidades locais? Contém uma visão do mundo e um
contexto político-ideológico? Interpretam o pensamento do leitor? São neutros e sem
ideologia? São opções apenas técnicas? Qual é a melhor projeção para a Terra?
Por que a Projeção de Mercator é considerada Eurocêntrica? Por que a Projeção de
Peters é considerada terceiro mundista? Qual é a mais fiel representação da Terra?
Quais são os seus inconvenientes?”, tornando-se necessária uma complementação
pelo professor às respostas dadas. Esta atividade levou-os a compreenderem as
projeções cartográficas, expondo seus conhecimentos adquiridos sobre o tema
tratado.
3.4 Escala cartográfica

Nesta atividade, foi exposta para os alunos a importância de se ter noções


de escala, iniciando com a explicação dos termos: escala numérica e escala gráfica,
pois a mesma seria usada o tempo todo em que os mesmos estivessem elaborando
mapas, pois cada aluno desenharia em uma folha de papel sulfite A4 a planta de sua
casa na escala 1:100 (um por cem), localizando a direção norte com a utilização da
rosa dos ventos. E ainda, com o mapa do Brasil eles realizariam outras atividades de
cálculos de distâncias entre algumas capitais dos estados brasileiros.

3.5 Cartografia usando o Google Maps e Google Earth

Nesta atividade foi elaborado o mapa mental do caminho de casa à escola


ou vice-versa. Inicialmente, foi apresentado o conceito de mapa mental e em
seguida os alunos registraram em folha papel sulfite A4 o caminho percorrido para
irem à escola, elaborando assim um croqui. Nesta atividade foi deixado livre para
que cada aluno representasse aquilo que faz parte de sua vivência. Em seguida
realizamos uma discussão sobre a importância da leitura cartográfica e a
compreensão dos elementos existentes em um mapa.
Quanto ao uso dos aplicativos, os computadores do laboratório de
informática não estavam funcionando para acessarmos a internet e usarmos o
Google Maps e Google Earth, porém as atividades foram apresentadas aos alunos
através de um notebook conectado a um data show.

4 RESULTADOS E ANÁLISES

Os resultados obtidos na implementação do projeto PDE intitulado


Alfabetização Cartográfica e o Uso de Novas Tecnologias foi desenvolvido no
Colégio Estadual Rio Branco – Ensino Fundamental e Médio, em Rio Branco do Ivaí-
Pr, no 6º ano do Ensino Fundamental II no período vespertino, essa turma envolvida
no projeto era composta por 23 alunos. Na apresentação do projeto os educandos
demonstraram interesse pelo assunto a ser estudado.
Para dar início às atividades, os educandos responderam ao questionário de
levantamento, o qual mostrou que a maioria não possuíam conhecimentos sobre
cartografia e também não faziam uso das tecnologias de orientação no seu
cotidiano.
No decorrer do desenvolvimento das atividades procurou-se levar aos
estudantes as noções teóricas básicas sobre alfabetização cartográfica,
fundamentais para o estudo da cartografia. Assim, para compreender os conceitos e
significados dos pontos de referência; coordenadas geográficas; escala; projeções
cartográficas; rosa dos ventos e bússola utilizou-se da leitura de textos e também de
vídeos sobre o assunto e por fim foi apresentado o software Google Earth. Em
seguida, os educandos responderam as questões propostas para cada atividade
onde se verificou que a maioria conseguiu responder sem muita dificuldade.

Figura 01 – Unidades Aquíferas do Paraná


Fonte: O autor (2017)

O aluno ER comentou que com a utilização de vídeos torna-se a


compreensão mais fácil e que para entender o mapa deve-se começar com a
observação do título, para identificar o tema a ser estudado, interpretar a legenda e
a escala para poder relacionar seus significados.
Na atividade, orientação geográfica pelos astros, após conhecer as noções
básicas sobre essa teoria, os educandos realizaram as atividades sobre orientação
utilizando o ambiente da sala de aula para indicar as direções dos pontos cardeais e
participaram de um jogo sobre a rosa dos ventos que ampliou esse conhecimento. O
jogo foi preparado na forma impressa, pois a sala de informática da escola não
estava em funcionamento.
Alguns estudantes comentaram que achavam que a posição da rosa dos
ventos era fixa e que agora compreendiam que ela podia ser movimentada de
acordo com o ponto de referência, como ilustra a foto abaixo.

Figura 02 - Orientação pela Rosa dos Ventos


Fonte: O autor (2017)

Na atividade, orientação pelo sol, foi utilizada uma imagem para mostrar aos
alunos como deveriam proceder para se orientar. Os educandos desenvolveram as
atividades propostas, tanto as escritas quanto as dinâmicas, e usando o próprio
corpo como instrumento para determinar a direção dos pontos cardeais em relação à
posição do nascer do sol, o que segundo eles facilitou a compreensão.

Figura 03 – Orientação pelo sol


Fonte: O autor (2017)
Em relação às atividades sobre orientação pela bússola, após assistirem ao
vídeo referente “a bússola e noções de lateralidade”, fizeram o manuseio da mesma,
e através de alguns deslocamentos na sala de aula e no pátio da escola
determinaram os pontos cardeais. Em seguida, responderam algumas atividades
relacionadas ao assunto trabalhado e a maioria dos estudantes teve bom
desempenho.

Figura 04 - Orientação pela bússola


Fonte: O autor (2017)

Ao que se refere às projeções cartográficas, inicialmente, foi exposto aos


educandos que o objetivo da mesma era mostrar as distorções que ocorrem na
elaboração de um mapa quanto à forma da terra. Após expor o tema e apresentar
um vídeo sobre projeções cartográficas e sua história, os educandos realizaram uma
atividade oral, respondendo perguntas direcionadas pelo professor, durante as quais
expuseram suas opiniões, mostrando que haviam compreendido as proposições.

Figura 05 - Projeções cartográficas


Fonte: O autor (2017)
Quanto às atividades sobre escala cartográfica, após expor a teoria aos
educandos, eles desenharam em uma folha de papel sulfite A4 a planta de suas
casas em escala predeterminada pelo professor, localizando a direção norte com a
utilização da rosa dos ventos e realizaram cálculos de distâncias entre algumas
capitais utilizando o mapa do Brasil. Com isso, percebeu-se que a maioria dos
estudantes compreendeu as atividades, porém, aqueles alunos que não
conseguiram desenvolvê-las, identificou-se que apresentavam dificuldades de
aprendizagem.

Figura 06 - Escala
Fonte: O autor (2017)

Nas atividades sobre Cartografia com o uso dos aplicativos Google Maps e
Google Earth foi apresentado aos educandos o conceito de mapa mental e em
seguida, os alunos elaboraram um mapa referente ao caminho percorrido por eles
de sua casa à escola. Ainda, elaboraram um croqui, no caderno, refazendo-o em
uma folha de papel sulfite A4 do caminho percorrido por eles.

Figura 07 - mapa mental de um aluno Figura 08 - mapa mental de um aluno


Fonte: O autor (2017) Fonte: O autor (2017)
Além disso, foi lhes mostrado que poderiam transferir do papel os seus
desenhos e transformá-los em um mapa, através do uso do aplicativo Google Earth.
Para isso, foi utilizado um notebook conectado ao data show e com a seleção de um
desenho feito por um colega de classe, o professor inseriu-o no Google Earth e
mostrou-lhes o que seria possível fazer com o desenho de todos se o laboratório de
informática estivesse disponível.

Figura 09 - mapa mental de um aluno


Fonte: Google Earth, 2017

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este artigo, procurou-se apresentar o desenvolvimento e os principais


resultados da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola e da
Unidade Didática inseridos no ambiente escolar. Através destes, tornou-se possível
um trabalho minucioso sobre o tema cartografia, de forma que todos os professores
possam incluir em seus planejamentos conteúdos mais detalhados, buscando inserir
novos recursos de ensino dos espaços geográficos, pois atualmente o ensino e
aprendizagem, em geral, requer a utilização de novos instrumentos tecnológicos que
permitam uma maior compreensão da realidade pelos educandos.
E considera-se que, a utilização das novas tecnologias passou a ser uma
grande aliada na vida das pessoas e não podem ser deixadas de lado para
finalidades educacionais, pois é um recurso muito valioso e devem ser usadas a
favor da aprendizagem nas escolas.
Além disso, para o ensino de cartografia, oferecem possibilidades de
visualizar com maior facilidade o espaço de vivência de nossos alunos e tantos
outros lugares no mundo. Nesta perspectiva, o professor deve adaptar seu
planejamento de trabalho à realidade de sua comunidade escolar, de acordo com
suas possibilidades e de recursos disponíveis, pois é perceptível que ainda nem
todas as escolas estão suficientemente equipadas para a inserção de trabalhos
diversos com o uso desses aparatos tecnológicos.
Quanto às atividades propostas na Unidade Didática, foram de grande
importância para melhor compreensão do estudo da cartografia com a utilização das
novas tecnologias e mesmo diante dos obstáculos enfrentados, por exemplo, a sala
de informática que seria um espaço a ser usado não estava em funcionamento, foi
possível a realização das mesmas em tempo hábil e com um bom aproveitamento.
Neste sentido, concluiu-se que os resultados obtidos com a execução do
projeto foram favoráveis a aprendizagem e atingiram os objetivos esperados.
Constatou-se, ainda, que os estudantes passaram a compreender a linguagem
cartográfica com maior facilidade do que apenas com a utilização do livro didático.

REFERÊNCIAS

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