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ENDIVIDADO
A HISTÓRIA DA DÍVIDA externa brasileira,
suas causas estruturais e seus efeitos sociais
são analisados em O Brasil endividado.
O BRASIL ENDIVIDADO
BRASIL
Relacionando a dívida externa, a dívida pública
interna e a dívida social, Reinaldo Gonçalves e
O
Valter Pomar demonstram que o Brasil só
Como nossa dívida externa aumentou mais
conseguirá combinar crescimento econômico
com justiça social se enfrentar com coragem e de 100 bilhões de dólares nos anos 90
soberania a dívida externa, a “ordem” capitalista
mundial e as elites que dela se beneficiam.
Entenda como e por que os governos Collor Uma herança que vem dos tempos da Colônia
e FHC aumentaram em mais de 100 bilhões A ditadura militar e a ditadura da dívida
de dólares a nossa dívida externa, e descubra Anos 90: mais pagamento, menos crescimento
de onde sai o dinheiro para pagá-la. Propostas para enfrentar a dívida externa
Reinaldo Gonçalves e Valter Pomar
ENDIVIDADO
A HISTÓRIA DA DÍVIDA externa brasileira,
suas causas estruturais e seus efeitos sociais
são analisados em O Brasil endividado.
O BRASIL ENDIVIDADO
BRASIL
Relacionando a dívida externa, a dívida pública
interna e a dívida social, Reinaldo Gonçalves e
O
Valter Pomar demonstram que o Brasil só
Como nossa dívida externa aumentou mais
conseguirá combinar crescimento econômico
com justiça social se enfrentar com coragem e de 100 bilhões de dólares nos anos 90
soberania a dívida externa, a “ordem” capitalista
mundial e as elites que dela se beneficiam.
Entenda como e por que os governos Collor Uma herança que vem dos tempos da Colônia
e FHC aumentaram em mais de 100 bilhões A ditadura militar e a ditadura da dívida
de dólares a nossa dívida externa, e descubra Anos 90: mais pagamento, menos crescimento
de onde sai o dinheiro para pagá-la. Propostas para enfrentar a dívida externa
Reinaldo Gonçalves
Valter Pomar
O Brasil endividado
Como nossa dívida externa aumentou
mais de 100 bilhões de dólares nos anos 90
2ª reimpressão
Diretoria
Luiz Dulci – presidente
Zilah Abramo – vice-presidente
Hamilton Pereira – diretor
Ricardo de Azevedo – diretor
Coordenação Editorial
Flamarion Maués
Revisão
Maria Vianna
Maurício Balthazar Leal
Editoração Eletrônica
Augusto Gomes
Impressão
Gráfica OESP
APRESENTAÇÃO............................................................................5
A SERVIÇO DA DÍVIDA...............................................................15
A década perdida............................................................................15
O retorno dos capitais.....................................................................18
Ela é e(x)terna?...............................................................................21
Um modelo torto............................................................................22
Juro campeão..................................................................................23
Uma economia vulnerável..............................................................26
NOTAS E REFERÊNCIAS..........................................................36
BIBLIOGRAFIA.............................................................................37
PÁGINAS PARA PESQUISA NA INTERNET...........................................38
ANEXOS - QUADROS E TABELAS.................................................39
ÍNDICE DE BOXES......................................................................47
Reinaldo Gonçalves
Nasceu em 1951, no Rio de Janeiro. É economista, professor titular de Economia Inter-
nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); foi membro da Divisão de
Questões Monetárias e Financeiras Internacionais, UNCTAD, Genebra (1983-87).
Valter Pomar
Nasceu em 1966, em São Paulo. É historiador e 3º vice-presidente nacional do Partido
dos Trabalhadores.
Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer aos companheiros da Campanha Jubileu 2000,
por um milênio sem dívidas, que nos encarregaram de escrever este livro;
bem como à Fundação Perseu Abramo, que acolheu a iniciativa.
Nota
As opiniões expressas neste livro são de inteira responsabilidade dos autores e não
representam, portanto, posições oficiais de partidos ou correntes políticas.
O BRASIL ENDIVIDADO 4
Apresentação
Os tipos de dívida
Uma dívida pode ser privada ou pública, inter- trangeira, trata-se de dívida externa. Portanto,
na ou externa. Quando falamos que uma dívida existem: dívida pública interna, dívida pública
é pública ou privada, estamos nos referindo a externa, dívida privada externa, dívida privada in-
quem contraiu o empréstimo: se foi uma pessoa terna. Na perspectiva do desenvolvimento eco-
física ou uma empresa privada, a dívida é priva- nômico e social, as dívidas mais importantes são
da; se foi um órgão público, a dívida é pública. a dívida interna (pública) e a dívida externa (pú-
Já quando falamos que uma dívida é interna blica mais privada). A primeira impõe constrangi-
ou externa, nos referimos ao tipo de moeda em mentos ao orçamento público, enquanto a última
que essa dívida terá que ser paga: se a dívida aumenta a restrição das contas externas e pro-
pode ser paga em reais, trata-se de dívida inter- voca políticas e estratégias de ajuste com efeitos
na; se a dívida tem que ser paga em moeda es- profundos e amplos sobre a sociedade.
O BRASIL ENDIVIDADO 6
Origens e
crescimento da
dívida
“Política valia tudo. Que também houvesse política lá fora, sim; mas que
tinha ele com ela? Teófilo não sabia nada do que ia por fora, exceto a nossa
dívida em Londres, e meia dúzia de economistas.”
Quincas Borba, romance de Machado de Assis
lançado em 1891 e ambientado no início dos anos 1870.
O BRASIL ENDIVIDADO 8
sem os recursos para a satisfação inte- do, apesar de ter despendido elevada
gral de todos os compromissos; graças importância, não pode ver realizados
a esta conduta severa, estava em con- aqueles trabalhos”.
dições de realizar plenamente o servi-
ço de todos os empréstimos brasileiros, Em 1934, Osvaldo Aranha afirmou que
com o produto das rendas que arreca-
dava; essas rendas, porém, eram arre- “o Brasil nunca pagou seus empréstimos
cadadas em papel e não em ouro, e em com seus próprios recursos. Fez sem-
ouro não podiam ser transformadas por pre novos empréstimos para manter os
falta absoluta de cambiais [papéis re- antigos. Os saldos de sua balança de co-
presentativos de valor em moeda es- mércio não lhe permitiram nunca cobrir
trangeira] de exportação; [não havia] a balança de contas [...] pagando dívi-
no mercado cambial letras em quanti- das com novas dívidas, a nossa política
dade suficiente para satisfazer ao ser- o que fez foi aumentar essas dívidas, ao
viço da dívida externa”. invés de diminuí-las”.
Coube a Osvaldo Aranha, nomeado mi- Para isso contribuíram também os “arti-
nistro da Fazenda em novembro de 1931, fícios usados para postergar pagamentos,
auditar o endividamento externo do Bra- com emissão de títulos, que passam a cons-
sil. Não havia nos arquivos cópia senão tituir praticamente novos empréstimos”.
de 40% dos contratos de empréstimos fe- A suspensão e a renegociação reduziram
derais: “Os valores reais das remessas tam- o serviço da dívida de 40 milhões de li-
bém eram ignorados. Não havia contabili- bras esterlinas no biênio 1930-31 para 44
dade regular da dívida externa federal. A milhões de libras esterlinas nos seis anos
situação na parte relativa aos estados e seguintes, ou seja, no período 1932-37.
municípios era semelhante ou mesmo A essa altura, o mundo já estava às vés-
pior”, informa Valentim Bouças, em seu peras da Segunda Guerra Mundial (1939-
livro História da dívida externa. 1945). A interrupção da entrada de capi-
A equipe responsável pelo estudo da dí- tais estrangeiros, somada à queda de nos-
vida concluiu que sas exportações, levou à nova suspensão
dos pagamentos – em 20 de novembro de
“as condições dos empréstimos 1937, dez dias depois do golpe que deu
efetuados eram onerosíssimas [conten- origem ao Estado Novo.
do] cláusulas vexatórias. Uma cláusula Em março de 1940, o governo retoma
de um destes contratos dava ao banquei- os pagamentos, mas só em novembro de
ro o direito de, no caso de falta de paga- 1943 é acertado um acordo “definitivo”
mento dos juros, cobrar, por suas pró- com os credores.
prias mãos, os impostos, e para esse fim Ao cabo, o estoque total de nossa dívida
era a administração obrigada a entregar caiu de 237 milhões de libras esterlinas
todos os seus livros de lançamentos; em (em 1939) para 169 milhões de libras es-
outro, um Estado se obrigou a entregar terlinas (em 1945). E sobraram mais re-
a determinada firma, escolhida pelo ban- cursos para nossa industrialização. Não
queiro, parte do produto do empréstimo por acaso, a taxa média anual de cresci-
destinada a certos trabalhos. E era tão mento real do PIB brasileiro subiu de 4,4%
idônea aquela firma que faliu e o Esta- nos anos 30 para 5,9% nos anos 40.
9 GONÇALVES & POMAR
Ianques, go home países latino-americanos, grandes lutas
políticas e sociais tinham como motivo a
defesa da economia nacional, contra o im-
Após a Segunda Guerra Mundial, os Es- perialismo e as “perdas internacionais”
tados Unidos financiaram a reconstrução (ver tabelas 4, 5 e 6, na p. 41).
da Europa, por meio do Plano Marshall: A mesma situação continuou após esse
uma “doação” de 14 bilhões de dólares (em período. Com exceção de Cuba (que op-
valores de 1948, o equivalente hoje a mais tou por um desenvolvimento econômico
de 70 bilhões de dólares). não-capitalista) e de curtos períodos na
Já a América Latina, no período 1945- história de alguns países latino-america-
55, remeteu ao exterior o equivalente a nos (como o governo de Salvador Allende,
10,5% de suas receitas de exportação, por no Chile, entre 1970 e 1973), a batalha foi
meio do pagamento do serviço da dívida e vencida pelos grandes capitalistas e lati-
da remessa de lucros e dividendos das fundiários locais, que optaram pela con-
multinacionais instaladas em nosso conti- dição de sócios menores do grande capi-
nente. tal internacional.
Entre 1950 e 1969, a América Latina Essa vitória foi conseguida a ferro e
remeteu 28 bilhões de dólares para o ex- fogo: a começar pela Guatemala, em 1954,
terior, contra 20 bilhões de dólares de in- os golpes militares patrocinados pelos Es-
vestimentos e empréstimos. O mecanis- tados Unidos tornaram-se lugar-comum na
mo principal da sangria foi a remessa de história latino-americana, abrindo cami-
lucros, que chegava a 16% na América nho para grandes lucros e para o grande
Latina. endividamento dos anos 70 (ver tabelas 7
No período 1947-56, o Brasil recebeu a 10, nas p. 42 e 43).
41 milhões de dólares a título de emprés-
timos e investimentos. E remeteu, sob a
forma de juros e dividendos, 754 milhões Dólar verde-oliva
de dólares: uma sangria de 713 milhões
de dólares. Quando aconteceu o golpe de 1964 no
Isso ajuda a entender por que, naquele Brasil, a dívida era de cerca de 2,5 bilhões
período, tanto no Brasil como nos demais de dólares. Quando o último presidente-
Dívida e ditaduras
Endividamento e ditaduras militares andaram foi suficiente, em 1965 os marines invadem o país
juntos na América Latina. Em 1962, o governo com o apoio de seis países latino-americanos,
norte-americano criou um programa de treinamen- para esmagar uma insurreição popular. Em 1964
to para as forças armadas do subcontinente. No é a vez do Brasil e da Bolívia. Em 1968, os milita-
mesmo ano, o presidente argentino Arturo Frondizi res depõem o presidente peruano Belaúnde Terry.
é deposto, dando início a um ciclo de golpes que Em 1973, é derrubado o presidente chileno Sal-
durou até 1984 e resultou no assassinato e/ou “de- vador Allende. No mesmo ano, os militares to-
saparecimento” de cerca de 30 mil pessoas. mam o poder no Uruguai. A contra-revolução pre-
Em 1963, outro golpe depõe o presidente ventiva impediu que os países latino-americanos
equatoriano. No mesmo ano, os militares depõem enfrentassem a crise dos anos 70 como fizeram
o presidente dominicano Juan Bosch; como não durante a crise dos anos 30.
Fonte: KUCINSKI, Bernardo e BRANFORD, Sue. A ditadura da dívida: causas e conseqüências da dívida
latino-americana. São Paulo, Brasiliense, 1987.
O BRASIL ENDIVIDADO 10
general saiu do Palácio, em 1985, a dívida No período Geisel, a dívida passou de
tinha passado dos 100 bilhões de dólares. 13,8 bilhões de dólares (fins de 1973) para
Os primeiros ditadores, que governaram 52,8 bilhões de dólares (em 1978), um
até 1969 (Castelo Branco, Costa e Silva e aumento de 283%. A dívida passou a re-
a Junta Militar), endividaram-se relativa- presentar 26% de nosso PIB.
mente pouco. Mas prepararam o terreno, No governo Figueiredo (1979-85), o
principalmente por meio da reforma do modelo chega ao limite: a partir dos anos
sistema financeiro e do “aperfeiçoamen- 80, o Brasil torna-se exportador líquido de
to” da legislação relativa à entrada de ca- capitais. Em 1984, a dívida correspondia
pitais estrangeiros. a 48,2% do PIB. Nesses seis anos, o Bra-
No governo Médici (1969-74), ocorreu sil transferiu para o exterior 21 bilhões de
o chamado “milagre econômico”: a taxa dólares a mais do que havia recebido. O
média anual de crescimento foi de 10,7%. que só foi possível porque o governo esti-
Nesse período, a dívida externa já cresceu mulou a recessão interna e patrocinou um
mais rápido que nosso Produto Interno enorme esforço exportador, para gerar as
Bruto: 211% contra 208%, respectivamen- divisas necessárias ao serviço da dívida
te. Em termos de valor, a dívida externa (ver tabela, 11, na p. 43).
passou de 11% do PIB, em 1969, para
16,6% do PIB, em 1973. O Brasil passa a
receber mais empréstimos em moeda do Quando a esmola
que “capital de risco”.
Entretanto, será no governo Geisel é demais...
(1974-79) que a dívida externa experimen-
tará seu grande crescimento. Num contex- Depois da Segunda Guerra Mundial e
to de crise econômica internacional – que até 1973, o capitalismo viveu seu “perío-
trataremos a seguir –, o governo optou por do de ouro”: crescimento econômico com
endividar-se para financiar o II Plano Na- pleno emprego e ampliação do bem-estar
cional de Desenvolvimento. social de amplos setores da população,
Os investimentos do II PND
O II Plano Nacional de Desenvolvimento, apro- sas privadas também se endividaram, mas a
vado em 1974, tinha como objetivo concluir a in- maior parte dos empréstimos, nesse período, foi
dustrialização brasileira. Para isso, foi facilitada captada por governos e empresas públicas.
a captação de capitais estrangeiros, para inves- A oposição denunciou o caráter faraônico e a
timento em áreas como energia, siderurgia e corrupção envolvida nos projetos do II PND, as-
transporte. Foi o caso da Eletrobrás, das Cen- sim como os perigos do endividamento externo.
trais Elétricas de São Paulo (CESP), da No final do governo Geisel, as empresas públi-
Nuclebrás, da Itaipu Binacional, da Light Servi- cas estavam superendividadas, servindo ainda
ços de Eletricidade S/A, da Açominas, da Acesita, de captadoras de novos empréstimos, apenas
da Siderúrgica Tubarão, da Companhia Siderúr- para garantir que o país pudesse honrar o servi-
gica Nacional, da Siderbrás, da Rede Ferroviária ço da dívida. Apesar disso, alguns especialistas
Federal, particularmente a Ferrovia do Aço, da sustentam que, não fosse o choque do petróleo
Companhia do Metrô do Rio de Janeiro, da Su- e a alta dos juros, os investimentos possibilita-
perintendência da Marinha Mercante, da Transa- dos pelos empréstimos gerariam os recursos
mazônica, da Ponte Rio-Niterói etc. As empre- necessários ao pagamento da dívida.
Fonte: CRUZ, Paulo D. Dívida externa e política econômica: a experiência brasileira nos anos setenta. São Paulo, Brasiliense, 1984.
Expansão e crise
O capitalismo alterna ciclos de expansão (por (principalmente nos Estados Unidos), inovações
exemplo: 1870-1913 e 1950-1973) com períodos tecnológicas, superexploração da força de traba-
de crise. lho, aumento do comércio (inclusive do comércio
A primeira crise do século XX durou de 1929 a especulativo, ou seja, compra e venda de moe-
1939 e só foi superada com os investimentos (e da) e doses variáveis de guerra (Guerra Fria,
com a destruição maciça) provocados pela Se- guerras de baixa intensidade, conflitos localiza-
gunda Guerra Mundial. A segunda crise teve iní- dos como os do Vietnã, do Iraque e do Golfo).
cio em 1973, e vem sendo enfrentada com um Mas até o momento as taxas do crescimento ca-
coquetel de remédios: enormes déficits públicos pitalista continuam baixas.
O BRASIL ENDIVIDADO 12
dos juros norte-americanos e aprofunda- pacidade de o Brasil obter divisas para
mento da recessão. viabilizar o seu pagamento. O país, de re-
O preço do barril de petróleo subiu de cebedor líquido de capitais, torna-se um
12,4 dólares para 34,4 dólares, acarretan- exportador de capitais.
do um adicional de despesas na balança O aumento da taxa de juros norte-ame-
comercial brasileira de 37,3 bilhões de ricanos fecha o ciclo: os capitais que vie-
dólares entre 1979 e 1983. ram como generosos empréstimos voltam
A recessão mundial dificultava, cada engordados a seus países de origem. A san-
vez mais, nossas exportações. A balança gria das riquezas da periferia, feita antes
comercial foi pressionada, também, pela sob a forma principal da remessa de lu-
deterioração nas relações de troca do Bra- cros, passou a ser feita sob a forma princi-
sil com os países capitalistas centrais: pal de pagamento da dívida.
para importar uma mesma quantidade de
bens, tínhamos que exportar cada vez
mais. Este fenômeno é comum à maioria
dos países “atrasados” ou “em desenvol-
vimento”: a maior parte dos produtos que
estes países vendem para o exterior (ma-
térias-primas e produtos agrícolas) têm
seus preços constantemente reduzidos,
enquanto a maioria dos produtos que es-
tes países importam (manufaturados e
Exportando capitais
máquinas) sobe de valor. Durante os anos 80, o Brasil conseguiu um
Mas o golpe maior veio com o aumento superávit (exportações - importações = saldo
comercial positivo) de 99,5 bilhões de dóla-
da taxa de juros nos Estados Unidos: a res na sua balança comercial. Mas acumulou
taxa básica de empréstimos bancários su- um déficit de US$ 141, 9 bilhões na balança
biu de 5,7% para 18,8%, entre 1975 e de serviços. Desse déficit, 97,3 bilhões de dó-
lares eram referentes a juros e 9,1 bilhão de
1984, acarretando para o Brasil despesas dólares a remessa de lucros e dividendos.
extras de 26,6 bilhões de dólares apenas Noutras palavras, o Brasil enviou para o ex-
nesse período. terior, durante a década de 80, a quantia lí-
quida de 42,3 bilhões de dólares. Tornara-se
Como resultado, aumentaram o estoque um “exportador” de capitais.
e o serviço da dívida, reduzindo-se a ca-
O BRASIL ENDIVIDADO 14
A serviço da dívida
O BRASIL ENDIVIDADO 16
Neoliberalismo e Consenso de Washington
Neoliberalismo: até a Primeira Guerra Mundial, pital contra os governos socialistas, social-demo-
o liberalismo era a doutrina preferida pelos capi- cratas e nacional-desenvolvimentistas, tudo em
talistas. Na política, o liberalismo defendia uma nome de uma sociedade “mais livre e mais rica”.
democracia super-restrita, sendo que o direito de O resultado está aí para quem quiser ver: 16% da
voto era muitas vezes limitado aos proprietários. população controlam 80% da riqueza mundial.
Na economia, o liberalismo defendia o máximo Consenso de Washington: a expressão surgiu
de direitos para o Capital e o mínimo de direitos num encontro organizado na capital dos Estados
para o Trabalho. Unidos, em novembro de 1989, pelo Institute for
Após a Segunda Guerra Mundial, depois de 30 International Economics e patrocinado pelo Ban-
anos de catástrofes e diante de um forte movi- co Mundial, FMI, Banco Interamericano de De-
mento socialista, os capitalistas transitaram para senvolvimento e pelo próprio governo norte-ame-
outra doutrina, segundo a qual cabe ao Estado ricano, para discutir políticas econômicas para a
adotar políticas que previnam as causas e América Latina. Eis os principais pontos do “con-
remediem os efeitos das crises econômicas – senso”: controle do déficit fiscal, cortes nos gas-
evitando que elas se transformem em catástro- tos públicos, reforma tributária, administração das
fes, guerras e revoluções. Essa nova doutrina taxas de juros e câmbio, abertura do mercado e
econômica – geralmente chamada de keynesia- liberação de importações, liberdade para entra-
nismo – foi dominante nas décadas de 1950 e da de investimentos externos, privatização das
1960. Mas as receitas keynesianas não conse- empresas estatais, desregulamentação da eco-
guiram debelar a crise dos anos 70. Com isso, nomia, eliminação de barreiras restritivas, redu-
pouco a pouco tornou-se hegemônica entre os ção de direitos trabalhistas, garantia de direitos
grandes capitalistas a doutrina chamada de de propriedade etc. Durante a campanha de 1994,
neoliberal, que recupera as idéias do liberalismo: Fernando Henrique Cardoso foi acusado de ser
menos gastos sociais, menos impostos, um agente da implantação do Consenso de Wa-
privatizações, liberdade de comércio, livre trân- shington no Brasil, para concluir a adesão do país
sito dos capitais, menos sindicatos etc. A doutri- à ortodoxia neoliberal, tarefa iniciada por
na neoliberal orientou a grande ofensiva do Ca- Fernando Collor.
Fonte: ARRUDA, Marcos e QUINTELA, Sandra. ABC da dívida externa: a vida antes que a dívida. Salvador,
CESE/CONIC, 1999.
Fonte: BATISTA Jr., Paulo Nogueira & RANGEL, Armênio de Souza. A renegociação da dívida externa bra-
sileira e o Plano Brady: avaliação de alguns dos principais resultados. Caderno Dívida Externa. São Paulo,
Pedex/CESE, n. 7,1994, p. 33.
O BRASIL ENDIVIDADO 18
da dívida externa, que aparentemente te- ciais estrangeiros. Em números redondos,
ria encerrado a “crise da dívida”. o acordo dizia respeito a uma parcela de
Nas negociações realizadas entre 1982 49 bilhões de dólares, de uma dívida ex-
e 1988, os credores eram contrários à re- terna total (em dezembro de 1993) de 145
dução no valor da dívida. Em 1989, bilhões de dólares. O desconto efetivo as-
Nicholas Brady, então secretário do Tesou- sociado ao acordo foi de 3,7 bilhões de
ro dos Estados Unidos, apresentou um pla- dólares ou de 7,6% do valor da dívida afe-
no cujos princípios orientaram o acordo tada pelo acordo. Na prática, entretanto, o
assinado em abril de 1994, no final da ges- acordo
tão de Fernando Henrique Cardoso como
ministro da Fazenda. Logo depois de assi- “representou o levantamento da mora-
nar o acordo, ele seria lançado candidato tória parcial que vigorava desde 1989.
à presidência da República. Com a entrada em vigor do acordo,
O Plano Brady previa a redução no va- substituiu-se a dívida velha, sujeita a
lor da dívida externa, mediante a redução uma suspensão parcial de pagamentos,
do principal ou das taxas de juros. Previa, por bônus que não permitem a capitali-
também, a extensão dos prazos de paga- zação dos juros. O resultado é um au-
mento e a substituição de obrigações com mento significativo dos pagamentos em
taxas de juros flutuantes por títulos com comparação com a situação anterior ao
taxas fixas. início do processo de negociação, quan-
A maioria dos acordos realizados por do o Brasil pagava 30% dos juros devi-
países latino-americanos, com base nos dos. [Como resultado] a despesa anual
princípios do Plano Brady, resultaram em líquida com juros no primeiro ano [de
descontos moderados, não ocorrendo re- vigência do acordo] alcança 2,5 bilhões
dução significativa do nível de endivida- de dólares, aproximadamente o triplo da
mento. despesa de juros na situação anterior e
No caso brasileiro, o acordo firmado em apenas 600 milhões de dólares a menos
abril de 1994 referia-se apenas a parte da do que se pagaria caso estivessem vigen-
dívida do setor público com bancos comer- tes as condições contratuais anteriores”.
O BRASIL ENDIVIDADO 20
A fuga de capitais comprometeu a ca- (brasileiros e estrangeiros, principalmente
pacidade de pagar a dívida e financiar os americanos) e 16% com organismos e
déficits. Para evitar a suspensão dos pa- agências internacionais (como FMI, Ban-
gamentos, o governo brasileiro negociou co Mundial etc.). Outra parte corresponde
um empréstimo “preventivo” de 41,5 bi- a papéis negociados no mercado financei-
lhões de dólares junto ao FMI, ao Banco ro internacional, pulverização que compli-
Internacional de Compensações (BIS) e ao ca a gestão e a eventual renegociação da
Banco do Japão. dívida.
No início de 1999, a maioria dos analis- Segundo o Banco Central, a amortiza-
tas voltou a falar nas dificuldades para ção da dívida externa registrada de médio
honrar a dívida. Como acontecera nos anos e longo prazos implicará o desembolso, até
70, ao fluxo seguiu-se o refluxo. Com um o final do mandato do próximo presidente
detalhe: o presidente Fernando Henrique (2006), de um valor superior a 80 bilhões
e seu o ministro da Fazenda, Pedro Malan, de dólares. Mas o valor final será maior: o
protagonistas da ida ao FMI nos Banco Central calcula que os
anos 90, combateram a política vencimentos de médio e lon-
de endividamento da ditadura e go prazos para 2000 superarão
sua submissão às receitas do os 30 bilhões de dólares. A
Fundo. Quem terá esquecido o previsão é que a despesa com
que dizia? os juros chegue a 17 bilhões
de dólares.
O BRASIL ENDIVIDADO 22
Estatizando as dívidas
A dívida privada é paga por quem pegou o di- empresas privadas. A partir dos anos 90, o pro-
nheiro emprestado, certo? Errado. No Brasil, a cesso se torna ainda mais sofisticado: o grande
dívida pode ser privada, o credor pode ser priva- empresário toma dinheiro emprestado fora do
do, mas quem paga é você, pois a dívida acaba país, a juros muito baixos, vende as divisas para
no colo do Estado, que cobra impostos, aumen- o Banco Central e, com parte do dinheiro, com-
ta os juros e adota uma política econômica vol- pra títulos da dívida pública interna brasileira,
tada para pagar a dívida, cujos impactos reca- com correção cambial e direito a juros genero-
em sobre a maioria dos trabalhadores. Inclusi- sos. Se tudo correr bem, ao final do período con-
ve, você. Nos anos 70, por exemplo, foi muito seguirá pagar sua dívida graças ao rendimento
comum o Estado contrair empréstimos no exte- dos títulos. E se tudo correr mal, por exemplo se
rior e repassá-los, direta ou indiretamente, sem houver uma desvalorização do real, os títulos com
os riscos cambiais e de juros envolvidos, para correção cambial protegem a empresa.
Empalhando crocodilos
Em 1883, Machado de Assis escreveu uma de- oferta no futuro próximo e de inadimplência de
liciosa crônica sobre a contratação de emprésti- devedores. O drama se repetiria por meio do ci-
mos pelo governo do Brasil junto aos banqueiros clo vicioso já observado várias vezes na história:
Rothschilds em Londres (Crônicas de Lélio, 2 de excesso de dinheiro no mundo, endividamento
setembro de 1883). A percepção do nosso escri- descontrolado por parte de governos oportunis-
tor era de que havia sido feito um mal negócio, tas, países com crescente vulnerabilidade exter-
visto que as comissões eram altas. Machado de na, aumento do risco, contração da oferta de re-
Assis propunha, então, que as autoridades bra- cursos externos, crise cambial nos países, cri-
sileiras desembarcassem em Londres dizendo ses econômicas, sociais e políticas.
que tinham ido lá simplesmente para “empalhar A situação de “liquidez empoçada” fez com que
crocodilos” e que quando os senhores praticamente todo título que se pretendesse co-
Rothschilds, abarrotados de dinheiro, propuses- locar, por exemplo, em Nova York, fosse vendido
sem algum empréstimo, aí sim é que se negocia- com certa facilidade. O problema é sempre o pre-
riam melhores condições de empréstimo. ço. Esse é exatamente o ponto que nos permite
Talvez porque não leram Machado de Assis, afirmar que, no lugar do “sucesso estrondoso”,
as autoridades brasileiras tendem a fazer, de fato, reverberado por papagaios jactantes, o lança-
péssimos negócios nas emissões de global bonds mento dos global bonds brasileiros foi, de modo
– cujos lançamentos têm sido utilizados pelo go- geral, um fracasso.
verno brasileiro para captar recursos diretamen- Tomemos os lançamentos de 1997. A taxa de
te no mercado financeiro internacional. juro dos global bonds foi de 10,125% e consta
O mercado financeiro internacional se carac- que os títulos foram lançados com deságio, o que
terizou no passado recente (1996-97) por um teria elevado a taxa de juros para 10,9%. Essa
excesso excepcional de liquidez, isto é, por uma taxa é muito alta segundo qualquer parâmetro.
disponibilidade extraordinária de recursos para Ela foi quase o dobro da taxa de títulos do gover-
empréstimos. A oferta de recursos era tão eleva- no da Alemanha e 50% maior do que a dos títu-
da que o Banco Internacional de Compensações los do governo dos Estados Unidos com mesma
na Basiléia – uma espécie de banco central de maturidade.
bancos centrais –, no seu relatório anual de 1997, Ademais, os global bonds foram trocados por
fez um alerta quanto aos riscos de contração da títulos lançados em 1994 com taxas muito in-
O BRASIL ENDIVIDADO 24
plica por que o recente acordo entre o go- Ao mesmo tempo que atrai capitais estran-
verno brasileiro e o FMI estipulou metas geiros, a alta taxa de juros sobrecarrega a
precisas de superávit fiscal. atividade das empresas e pessoas que ope-
Trata-se de garantir ao investidor estran- ram em reais. As grandes empresas, por sua
geiro que a dívida interna será honrada. vez, aproveitam o diferencial entre os juros
Caso contrário, os portadores abandona- internos e externos, tomando dinheiro em-
rão os títulos do governo, transformarão prestado no exterior e aplicando-o no Brasil.
seus reais em dólares e sairão do país, ge- É importante destacar que, apesar de a
rando uma crise cambial. dívida externa destas empresas ser “priva-
Para que isso não ocorra, o governo da”, é o conjunto da população que paga
faz cortes nos gastos sociais e amplia a por ela. Em primeiro lugar, porque o Te-
cobrança de tributos e impostos. Não souro Nacional é seu garantidor em última
existe limite para os gastos com a dívi- instância, diretamente ou indiretamente, por
da. Em 2000, o Congresso aprovou uma meio de títulos públicos com cobertura
“Lei de responsabilidade fiscal” que cambial. Em segundo lugar, porque o es-
pune o administrador público que não forço de obter dólares para pagar tais dívi-
honrar em primeiro lugar... o serviço da das é feito por todo o país, submetido aos
dívida. efeitos daninhos da alta taxa de juros.
feriores, a saber, par bonds (de 4% a 6%), co dentre os países em desenvolvimento, só sen-
discount bonds (Libor mais 13/16, isto é, 6,5%), do precedido pelo México e pela Rússia.
C-bonds (8%). O melhor indicador de que a taxa de juros dos
E mais: se compararmos a taxa dos global bônus do Brasil é muito alta é o fato de que hou-
bonds com aplicações de longo prazo no Brasil, ve um excesso de oferta de recursos para com-
também chegaremos à constatação de que esse pra dos global bonds em 1997. Consta que para
lançamento foi um problema grave. Se da renta- o lançamento de 3 bilhões de dólares houve uma
bilidade nominal dos global bonds descontamos oferta da ordem de 16 bilhões de dólares. Ao in-
uma inflação de 2% nos EUA, a taxa de juro real vés de ser um sinal de sucesso avassalador ou,
dos bônus brasileiros comprados nos EUA é de ainda, de grande confiança da comunidade inter-
8,9%, enquanto a taxa de rentabilidade real (des- nacional no governo, esse excesso de oferta re-
contada a variação cambial) da aplicação na ca- fletiu o simples fato de que a oferta depende do
derneta de poupança no Brasil foi da ordem de preço. Preço excessivamente alto significa uma
6%. Isso significa, na prática, que a dívida con- oferta excepcionalmente elevada, isto é, a taxa
traída pelo governo Fernando Henrique no exte- absurdamente alta significou uma excepcional
rior tem um serviço na forma de pagamento dos oferta de capital externo (grande procura pelos
juros sobre os global bonds que é, em termos títulos brasileiros). A oferta de qualquer merca-
reais, cerca de 50% maior do que a rentabilidade doria está positivamente relacionada com o pre-
da caderneta de poupança. ço. Para saber disso não precisamos consultar
A primeira impressão é que estaríamos, assim, aqueles que se extasiaram com o falso sucesso
violentando a situação óbvia de que, em países da emissão dos global bonds. Era melhor fazer
ricos em capital, a taxa de juros é menor do que como Machado de Assis: “Conversei mesmo com
em países pobres em capital. Não é nada disso, um barbeiro, que me provou a todas luzes que o
o fato é que o governo Fernando Henrique acaba dinheiro é mercadoria.
pagando juros elevadíssimos no mercado finan- Ainda seguindo a sugestão de Machado de
ceiro internacional porque tem colocado o país Assis, o secretário do Tesouro do Brasil, na pró-
numa trajetória de alto risco e tem pouca xima vez que for a Nova York para fazer mais um
credibilidade internacional! De fato, às vésperas lançamento de global bonds, se o objetivo for
do lançamento dos global bonds de 1997, a re- pegar dinheiro mais barato, deve levar um croco-
vista The Economist (22 de março de 1997) clas- dilo para ser empalhado, e não papagaios
sificou o Brasil como o terceiro país de maior ris- jactantes.
O BRASIL ENDIVIDADO 28
seqüências danosas sobre a economia in- mente, 278 bilhões de dólares com suas
ternacional, ainda que os bancos estives- forças armadas. Repetindo: gastam todo
sem mais protegidos do que no final dos ano um valor superior à dívida externa to-
anos 70. tal brasileira.
Alguns chegaram a defender o perdão
total ou parcial da dívida, vinculado à ado-
ção de reformas estruturais propostas pelo A volta do cipó de aroeira
FMI e limitado a casos de países extrema-
mente pobres, particularmente africanos. Mas, e se a dívida externa já tiver sido
A renegociação e a reestruturação das paga diversas vezes, sendo seu crescimen-
dívidas transformaram-nas em bônus co- to fantástico, nos últimos 20 anos, um ato
mercializáveis no mercado financeiro e de agiotagem? (ver Tabela 20, na p. 46) E
abateram uma pequena parcela do estoque se a dívida externa não for legítima nem
da dívida. O efeito sobre a situação dos legal?
países endividados foi mínimo.
Hoje surgem propostas de escopo mais
amplo, desde a Taxa Tobin até a de uma
Os pilares da “ordem”
“nova arquitetura” para a economia inter- capitalista
nacional. Mesmo especuladores como O “Grupo dos sete” ou simplesmente G7, é
George Soros advogam a necessidade de formado por Estados Unidos, Japão, França,
Itália, Inglaterra, Alemanha e Canadá, os sete
controle sobre a especulação financeira,
países mais ricos do mundo. Promove
argumentando que sem reformas urgentes periodicamente reuniões de cúpula, para
o capitalismo pode desembocar numa cri- definir políticas econômicas e resolver
se ainda mais grave que a atual. conflitos políticos. Às vezes a Rússia
O grande problema para essas propos- participa das reuniões; nessas ocasiões, o
grupo é denominado G8. O FMI, o Banco
tas reformistas reside no fato de os Esta- Mundial, o G7, a Organização Mundial do
dos Unidos, que em tese seriam “capazes” Comércio (criada em 1º de janeiro de 1995),
de reformar o mercado mundial, serem a Organização do Tratado do Atlântico Norte
também os maiores beneficiários da atual (OTAN) e o governo dos Estados Unidos são
os pilares da atual “ordem” capitalista
“arquitetura”. E para manter a “ordem” o
mundial.
governo norte-americano gasta, anual-
A Taxa Tobin
Em 1978, James Tobin, professor na Universi- pour une Taxation des Transactions financières
dade de Yale e prêmio Nobel de economia em pour l’Aide aux Citoyens (Associação por uma
1981, publicou seu artigo mais conhecido propon- taxa sobre as transações financeiras especulati-
do a criação de um tributo sobre as transações vas para ajuda aos cidadãos). A idéia surgiu de
de câmbio. Sua primeira contribuição sobre o um editorial do jornal Le Monde Diplomatique,
tema é, no entanto, mais antiga. Ela remonta a intitulado “Desarmar os mercados”, publicado em
1972, pouco tempo depois da dissolução, por ini- dezembro de 1997. Hoje, a Attac é um movimen-
ciativa unilateral dos Estados Unidos, em agosto to internacional, com propósitos mais amplos que
de 1971, do sistema de taxas de câmbio fixas, os originalmente vinculados à Taxa Tobin. Segun-
criado pelo tratado de Bretton Woods, em 1944. do Maria da Conceição Tavares, “em geral, a es-
A Taxa Tobin serviu de base para a criação, querda não gosta da taxa Tobin porque parece
em 3 de junho de 1998, na França, da Association ineficaz”.
Fonte: CHESNAIS, François. Tobin or not Tobin?. São Paulo, Edunesp/Attac, 1999.
A dívida ecológica
Com o desenvolvimento do capitalismo indus- Mas, desde já, parece claro que o termo “dívi-
trial, ampliou-se o processo pelo qual o modelo da” não é totalmente adequado. De um lado, a
de desenvolvimento se sustenta pelo consumo natureza não vai reclamar algo que lhe seria de-
da natureza (os recursos minerais e florestais, a vido; de outro, a natureza não pode ser vista como
biodiversidade, os solos, as águas etc.) e pela um negócio. Deve ser vista em seu conjunto como
exploração do trabalho humano. Esse consumo, a “herança da humanidade”, que precisa ser
indiscriminado e praticamente gratuito, da natu- mantida e manejada para garantir qualidade de
reza e do trabalho humano é baseado na destrui- vida para hoje e para o futuro. Usamos todavia o
ção e na exaustão do meio ambiente e dos re- termo “dívida ecológica” na tentativa de definir
cursos naturais. responsabilidades e abrir a possibilidade de pe-
O modelo dominante constrói-se por meio do nalidades para os que transformaram essa he-
duplo movimento de opressão e superexploração rança da humanidade em base para a acumula-
de grande parte da humanidade e do meio natu- ção privada desenfreada. Nessa perspectiva,
ral. Surgem daí os conceitos de “dívida social” e como o capitalismo industrial é dominante nos
de “dívida ecológica”. O objeto dessa segunda países do Norte, a dívida ecológica é basicamente
dívida pode ser definido como “o patrimônio vital de sua responsabilidade.
da natureza, necessário para seu equilíbrio e sua Se há dívida, há credor e devedor. Se é a natu-
reprodução, que foi consumido e não restituído a reza que foi afetada, é ela a credora? A natureza
ela”. Esse patrimônio “compreende tanto os re- por si não tem voz nem fala, não pode declarar-
cursos naturais como as condições ecológicas se credora. São os seres humanos, certos seto-
(pureza do ar, da água, da atmosfera etc.)”. res sociais mais do que outros, que foram priva-
Um grupo de cientistas norte-americanos con- dos destes recursos, que são credores em nome
seguiu listar 17 formas de “serviços” que a natu- dela e em seu próprio. “Em nome dela”? Quer
reza pode proporcionar ao homem: regulação dizer que a natureza tem direitos e que cobra-
hídrica, de gases, climática e de distúrbios físi- mos por ela esses direitos? O credor ambiental,
cos, abastecimento de água, controle de erosão de fato, é a “unidade socioambiental” afetada por
e retenção de sedimentos, formação de solos, uma dívida ecológica. Há dívida ecológica, por
ciclo de nutrientes, tratamento de detritos, exemplo, porque a apropriação privada esgotou
polinização, controle biológico, refúgios de fauna, as reservas de minério de ferro no entorno de
produção de alimentos, matéria-prima, recursos Belo Horizonte ou de manganês na Serra do Na-
genéticos, recreação e cultura. A durabilidade vio, no Amapá, deixando as serras e a floresta
dos benefícios decorrentes da natureza ou, se em estado de total desolação. O credor, dessa
se preferir, dos serviços que ela presta à huma- forma, é a própria serra, a própria floresta? Pen-
nidade, depende da manutenção dos processos samos ser mais correto afirmar que os credores
ecológicos e da diversidade biológica, postos em são a população de Belo Horizonte e os povos
risco pela exploração excessiva dos recursos indígenas e os caboclos do Amapá, afetados em
naturais e pela destruição dos hábitats pelo ho- sua qualidade de vida, em seu futuro e na possi-
mem. Temos, portanto, uma enorme dívida para bilidade de usufruir corretamente seu patrimônio
com a natureza. coletivo. No segundo caso, o estado do Amapá
O BRASIL ENDIVIDADO 30
pagamento da dívida externa ou, pelo hoje vai dos pobres para os ricos, passan-
menos, de suspensão do pagamento, se- do a ser dos ricos para os pobres.
guida de auditoria, que verificaria o exa- Na primeira metade dos anos 90, a abun-
to estado das contas, determinando o que dância de capitais estrangeiros abafou a
pode/deve ser pago. No fundo destas pro- questão da dívida. Mas na segunda meta-
postas, está a idéia de que a construção de de as crises do México, do Sudeste Asiá-
um mundo de igualdade, ou pelo menos tico e da Rússia reavivaram as críticas ao
de menor desigualdade, passa por subver- chamado modelo neoliberal.
ter os fundamentos econômicos e por in- No Brasil, em 1999, realizou-se o Tri-
verter o fluxo dos recursos mundiais, que bunal da Dívida Externa, que aprovou um
e, por intermédio dele, o Brasil, são privados de socioambiental se processa em nome de um
recursos dos quais se poderia dispor estrategi- mercado, ao mesmo tempo produtor e a serviço
camente e que, de fato, foram esgotados para o de uma sociedade de consumo. Boa parte da
enriquecimento de uma minoria. humanidade é assim culpada e/ou cúmplice pela
Pensemos, por exemplo, na Fazenda Cristali- dívida.
na, no Pará, propriedade da Volkswagen nos O Norte consome mais, mas não basta res-
anos 70, onde foram derrubados e queimados ponder que os culpados são os países industria-
de uma só vez dezenas de milhares de hectares lizados, por causa de seu padrão de produção e
de floresta amazônica. Não é a floresta que pode consumo. Ao culpabilizar apenas um modelo ge-
gritar por reparos. O credor é primeiramente a ral de desenvolvimento, e vagamente um con-
população diretamente afetada hoje, bem como junto de países ricos, diluímos as responsabili-
as gerações futuras, que estão sendo privadas dades. Não se trata de afirmar exatamente de
das alternativas oferecidas pelos recursos que quem se vai cobrar a dívida ecológica. É preciso
não existem mais, já que os acontecimentos de distinguir e hierarquizar as responsabilidades, o
30 anos atrás nos afetam hoje. Também o con- que muitas vezes é uma tarefa complexa.
junto dos cidadãos, mesmo os que não foram Quem é mais responsável pelo efeito-estufa?
atingidos diretamente pela frente pecuária que É fundamental atribuir a cada país industrializa-
invadiu a Amazônia nos anos 70, pode se sentir do, incluindo suas forças econômicas dominan-
vítima e lesado na medida em que, preocupado tes, a sua cota, para depois acompanhar seus
com o futuro do país, perceba que o modelo im- esforços, se houver, e pressioná-los de forma es-
plantado minou a possibilidade de promover na pecífica. É importante distinguir o que é devido à
Amazônia um desenvolvimento que garanta jus- atividade industrial e o que é devido à queima de
tiça social sem destruir a enorme sociobiodiver- florestas. Na contribuição das queimadas para o
sidade da região. efeito-estufa, por exemplo, que em grande parte
O credor, além disso, pode ser a instância ins- é responsabilidade do Brasil, é preciso definir
titucional que representa os interesses dessa quem são os atores concretos desse impacto. As
população: o município, um conjunto de municí- queimadas foram e são produzidas muitas vezes
pios, o Estado ou a União. E é também, em um no Brasil por dinâmicas e agentes externos, como
sentido mais profundo, embora não exista uma no caso já mencionado da Fazenda Cristalina.
instância institucional que possa responder por Existe também todo um modelo de tecnologia
ela, a própria humanidade, pois as perdas da agrícola que induz os agricultores ao trato insus-
natureza a impedem de continuar a prestar os tentável da terra e de seus ecossistemas.
serviços que são essenciais à humanidade. A quem reclamar pela dívida desse modelo?
Por todos esses motivos é que dizemos que o Às multinacionais da agroindústria, com certeza,
credor é uma “unidade socioambiental”, assim mas também à FAO (Organização das Nações
como se poderia dizer que a dívida é ecológico- Unidas para a Agricultura e a Alimentação), que
social. defendeu entusiasticamente a Revolução Verde,
Quem é o devedor? De um modo geral, po- às agências multilaterais de financiamento do de-
deríamos responder que são os consumidores, senvolvimento (BIRD e BID), sem falar da res-
do Norte e do Sul, pois toda a destruição ponsabilidade das agências governamentais.
Fonte: LEROY, Jean-Pierre. A dívida ecológica brasileira. Quem deve a quem? Texto inédito.
O que é um “pobre”
A metodologia do Banco Mundial define “po- o governo norte-americano considerava “pobre”
bre” como aquele que recebe “um dólar por dia” uma família de quatro pessoas (dois adultos e
ou aproximadamente 365 dólares ao ano. Se- duas crianças) que recebesse menos de 16 mil
gundo este critério, existiriam no mundo 1,3 bi- dólares por ano, cerca de 11 dólares por pes-
lhão de pessoas “abaixo da linha da pobreza” (e soa/dia. Essa discrepância de critérios cria o
3 bilhões de pessoas com renda inferior a dois seguinte paradoxo: enquanto nos Estados Uni-
dólares diários). Mas nos Estados Unidos o cri- dos 13,7% da população estaria abaixo da linha
tério adotado desde os anos 60 pela Adminis- da pobreza (segundo os critérios válidos naquele
tração da Seguridade Social era outro: “o custo pais), no México apenas 10,9% da população
de uma dieta mínima adequada, multiplicada por viveria nessa situação (segundo os critérios do
três para cobrir outros gastos”. Assim, em 1996, Banco Mundial).
Fonte: CHOSSUDOVSKY, Michel. El ajuste econômico: el Perú bajo el dominio del FMI. Lima, Mosca Azul
editores, 1992, p. 83; SADER, Emir. Um capitalismo parasitário. Correio Braziliense, Brasília, 30 abr. 2000.
O BRASIL ENDIVIDADO 32
Ou então criar mais de 10 milhões de em-
pregos diretos em indústria têxteis. Ou, A campanha
ainda, criar mais de 15 milhões de empre-
gos diretos na construção civil. O desem- contra a dívida
prego seria sensivelmente reduzido ou até
eliminado. Forte nos anos 80, enfraquecida no co-
Teria sido possível construir mais de 15 meço da década seguinte, a campanha con-
milhões de moradias populares, em lotes tra a dívida ganhou novo alento em mea-
de 200 metros quadrados, ao custo unitá- dos dos anos 90, no contexto das crises do
rio de 15 mil reais. Acabaria o déficit ha- México, do Sudeste Asiático e da Rússia.
bitacional existente no Brasil. Um estímulo importante veio da encíclica
Teria sido possível, entre 1995-98, au- papal sobre a Chegada do Terceiro Milê-
mentar o gasto per capita do Brasil em nio, na qual se vincula o Jubileu ao per-
saúde de 280 dólares para 479 dólares! E dão da dívida dos países mais pobres.
mesmo assim continuaríamos abaixo da Segundo Leonardo Boff, o Jubileu reme-
Argentina (795 dólares) e dos Estados te à idéia bíblica da “anistia geral” de to-
Unidos (3.858 dólares). das as dívidas (e da escravidão que teriam
Teria sido possível assentar 5,8 milhões implicado) a cada 50 anos. Essa idéia apa-
de famílias de agricultores, ao custo de 40 receu no Seminário sobre Dívida Externa,
mil reais cada uma. O que acabaria com o em agosto de 1984, em Havana, Cuba.
problema dos sem-terra no Brasil, estimu- Nos anos 80, Boff alertava que essa idéia
laria a atividade econômica, baratearia o – embora desse “um revestimento bíblico
preço dos alimentos, reduziria a popula- à proposta de moratória” – supunha tam-
ção dos grandes centros e, de quebra, ain- bém a “legitimidade da dívida”: pedir per-
da reduziria o poder dos políticos conser- dão é reconhecer a própria “culpabilida-
vadores. de” e, o que é pior, é deixar nas mãos dos
Teria sido possível financiar 50% da pro- banqueiros a decisão final.
dução agrícola brasileira (menos que nos Por isso algumas campanhas enfatizam
países desenvolvidos, onde o crédito che- a idéia do Jubileu 2000, do “milênio sem
ga a 80% do valor produzido), quando nos dívidas”; outras o Jubileu 2000 – como se
três primeiros anos de governo Fernando a campanha terminasse este ano.
Henrique o crédito rural financiou apenas No Brasil, a “Campanha Jubileu 2000,
10% da produção agrícola do país. por um milênio sem dívidas” reúne igrejas,
Teria sido possível muita coisa. Mas na movimentos populares, partidos políticos
vida real, o governo pratica o não-paga- e outras entidades. Em outros países, a pre-
mento da dívida social. Pagamento em dia, sença da “sociedade civil” limita-se a seto-
só para os grandes capitalistas. res da hierarquia católica e às ONGS.
O Tribunal da Dívida
Em 1998, realizou-se em Brasília um em 1999. O veredito final, o parecer dos jura-
simpósio intitulado “Dívida Externa: implicações dos e a exposição das testemunhas foram reu-
e perspectivas”. Nesse simpósio, foi lançada a nidos no livro Tribunal da Dívida Externa: A vida
idéia do Tribunal da Dívida Externa, que reuniu acima da dívida (Rio de Janeiro, Oficina do
mais de duas mil pessoas no Rio de Janeiro, Autor, 2000).
A reunião de Havana
Em agosto de 1985, convocados pelo primei- vana, a eleição do presidente Alan García no
ro-ministro cubano Fidel Castro, reuniram-se em Peru, que impôs um limite às remessas de juros
Havana para discutir o problema da dívida 1.200 (equivalente a 10% dos ganhos de exportação) e
representantes de países latino-americanos, in- a eleição de um presidente civil no Brasil leva-
cluindo cinco ex-chefes de Estado e lideranças ram os chefes de Estado dos 11 países devedo-
como Lula. O único chefe de Estado presente, res do Grupo de Cartagena a darem um tímido
Fidel Castro, apesar de ter lançado uma campa- passo em direção a uma ação coletiva na reu-
nha incisiva pela moratória temporária da dívida, nião de dezembro de 1985, no Uruguai, quando
vinha conduzindo as negociações da dívida cuba- formaram um comitê permanente de acompanha-
na de forma ordeira e convencional, o que o tor- mento das negociações. Mas nem esse comitê
nava vulnerável à crítica de que não praticava o nem os contatos mais freqüentes entre os chefes
que pregava. Fidel respondeu que com exceção de Estado resultaram em diligências coletivas junto
de dois ou três grandes países, a única força da aos bancos credores. E a dívida continuou a ser
América Latina estava na unidade e que peque- honrada, apesar de seu enorme custo social e sem
nos países, como Cuba, não poderiam enfrentar que nenhum passo importante tivesse sido dado
os credores sozinhos e vencer. A reunião de Ha- em direção a uma solução global.
Fonte: KUCINSKI, Bernardo e BRANFORD, Sue. A ditadura da dívida: causas e conseqüências da dívida
latino-americana. São Paulo, Brasiliense, 1987.
O BRASIL ENDIVIDADO 34
como se vê nos confiscos salariais, nas não acabaria a pobreza na Terra. Aliás, no-
ordens judiciais descumpridas, nas aposen- vos créditos poderiam até mesmo azeitar
tadorias atrasadas, nos direitos sociais não partes enferrujadas da economia.
respeitados etc. Por isso tudo, é fundamental uma coa-
Para um país como o Brasil, os organis- lizão entre os países devedores, a coope-
mos multilaterais não sugerem perdão par- ração entre a campanha da dívida e ou-
cial, troca de dívida por investimentos e/ tras articulações internacionais, bem
ou combate à pobreza. Aqui, trata-se de como a construção de uma agenda pró-
sugar o máximo possível, pelo maior tem- pria, que inclua temas como a redução
po possível. Por isso, a alternativa tem que da jornada de trabalho e o combate ao
ser uma decisão soberana, que limite total imperialismo. Trata-se de tratar a dívida
ou parcialmente os gastos com a dívida, externa como a ponta do iceberg, a partir
tendo em vista investir os recursos poupa- da qual se pode questionar a ordem eco-
dos na superação da desigualdade social. nômica mundial e as elites nacionais que
A dívida externa mundial corresponde oprimem os trabalhadores.
a cerca de 5% do estoque de capital finan-
ceiro existente no mundo: 2 trilhões em As prioridades
37 trilhões de dólares, segundo cálculos
de Eric Toussaint, economista que integra orçamentárias
o Comitê para a Anulação da Dívida do No ano de 1999, o governo Fernando
Henrique gastou 11 bilhões de reais no mi-
Terceiro Mundo. nistério da Educação; 20 bilhões de reais no
Num só dia, o mercado financeiro inter- da Saúde e 1,3 bilhão no ministério que trata
nacional de câmbio movimenta recursos da reforma agrária. No mesmo ano, o gover-
equivalentes ao total da dívida externa no Fernando Henrique gastou 96 bilhões de
reais com os encargos financeiros da União.
mundial. Já o orçamento de 2000 apresentado pelo
É por isso que o G7 pode se dar ao luxo governo destinava 44% de seus recursos
de prometer o “perdão” de 70 bilhões de para servir à dívida e apenas 5,99% para a
dólares das dívidas dos países pobres. Se saúde.
amanhã toda a dívida externa fosse can- Fonte: Banco de dados e documentos do Or-
celada, mas continuassem de pé os funda- çamento da União, Execução orçamentária de
1999, Prodasen.
mentos desiguais da economia mundial,
Pobres e endividados
Os países mais empobrecidos e mais República Centro-Africana, República Popular do
endividados, segundo dados compilados em Congo, República Democrática do Congo,
1995, são os seguintes: Angola, Bangladesh, Ruanda, São Tomé/Príncipe, Senegal, Serra
Benin, Bolívia, Burkina Fasso, Burma, Burundi, Leoa, Somália, Sudão, Tanzânia, Togo, Uganda,
Camarões, Camboja, Chade, Costa do Marfim, Vietnã, Zâmbia, Zimbábue. Em 1994, esses paí-
Etiópia, Filipinas, Gâmbia, Gana, Guiana, Guiné, ses, a maioria dos quais localiza-se na África e
Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Haiti, Honduras, na América Central, com uma população total de
Iêmen, Jamaica, Laos, Libéria, Madagascar, 967 milhões de habitantes, deviam juntos 372,8
Malawi, Mali, Marrocos, Mauritânia, Moçambique, bilhões de dólares.
Nepal, Nicarágua, Niger, Nigéria, Peru, Quênia,
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O BRASIL ENDIVIDADO 36
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O BRASIL ENDIVIDADO 38
Anexos
Ø
DÍVIDA DE CURTO PRAZO DÍVIDA DE LONGO PRAZO FMI: USO DE CRÉDITOS
Ø
Por devedor
Ø
Dívida privada não-garantida Dívida pública e com garantia pública
Ø
Por credor
Ø
Credores oficiais Credores privados
Ø
Multilateral Bilateral Bancos comerciais Bônus
O BRASIL ENDIVIDADO 40
Tabela 4 – Dívida externa dos países em desenvolvimento,
segundo a região (1996)
Regiões Dívida total Dívida externa/ Dívida externa /
(bilhões Exportações de bens e Produto Nacional
de dólares) serviços (%) Bruto (%)
Países em
desenvolvimento: total 2.177,0 146,2 37,0
Leste asiático
e Pacífico 451,8 98,9 30,8
Europa
e Ásia Central 451,4 126,3 34,7
América Latina
e Caribe 656,5 202,8 41,4
Oriente Médio e
Norte da África 220,8 126,8 34,0
Sul
da Ásia 161,0 208,8 28,3
África
Subsaariana 235,4 236,9 76,2
Fonte: Banco Mundial, Global Development Finance, 1997, Washington D.C, The World Bank, 1997,
volume 1, p. 190-203.
Nota: Dados preliminares, sujeitos a revisão.
O BRASIL ENDIVIDADO 42
Tabela 10 – Serviço da dívida externa da América Latina:
1980, 1990 e 1996 (em bilhões de dólares)
1980 1990 1996
Serviço da dívida: total 46,3 45,4 97,3
Principal: repagamento 21,7 22,8 59,1
Juros 24,6 22,6 38,2
Longo prazo 17,6 18,6 30,2
FMI 0,1 1,5 1,1
Curto prazo 6,9 2,5 6,9
Fonte: Banco Mundial, Global Development Finance, 1997, Washington D.C, The World
Bank, 1997, volume 2, p. 26.
Nota: Dados preliminares para 1996, sujeitos a revisão.
O BRASIL ENDIVIDADO 44
Tabela 16 – Balança de serviços do Brasil 1994-99,
em valores líquidos (bilhões de dólares)
O BRASIL ENDIVIDADO 46
Índice de boxes
Direitos econômicos, sociais e culturais................................................................................6
Os tipos de dívida...................................................................................................................6
Quanto você deve ao mundo..................................................................................................8
Dívida e ditaduras................................................................................................................10
Os investimentos do II PND.................................................................................................11
Expansão e crise.................................................................................................12
Exportando capitais..............................................................................................................13
O acordo de Bretton Woods.................................................................................................13
O maior devedor do mundo..................................................................................................14
O que é um “pobre”..............................................................................................................32
O Tribunal da Dívida............................................................................................................33
A reunião de Havana............................................................................................................34
As prioridades orçamentárias..............................................................................................35
Pobres e endividados............................................................................................................35