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PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
SEMINÁRIO AVANÇADO V: Filosofias da Tecnologia e Futuros da Educação
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Dados sobre alguns canais: Mairo Vergara (2,38 milhões de inscritos); Inglês Winner (1,05 milhões
de inscritos); SmallAdvantages (1,8 milhões de inscritos); Tim Explica (1,25 milhões de inscritos) e
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os aplicativos para aprendizagem do idioma que são mais populares na Google Play Store2:
Duolingo, Babbel, Busuu e Lingualeo3. Qualquer um destes apps está conectado a mais
aprendizes do que qualquer rede presencial de ensino.
Considerando-se que a imensa maioria das instituições educacionais ainda organizam
suas arquiteturas e suas rotinas com profundas raízes em uma sociedade disciplinar, torna-se
cada vez mais complexa a relação com as novas gerações que chegam à escola, visto que tal
organização destoa cada vez mais das formas como os sujeitos são constituídos nos espaços
fora da escola, levando em consideração, também, o papel da ecologia da atenção (CITTON,
2018), neste processo.
Solucionismo tecnológico
Capitalismo de plataforma
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Há uma tradição já bastante antiga e, portanto, anterior ao capitalismo de plataforma, de
entregar o espaço do efetivo ensino de inglês às redes privadas, que obviamente são frequentadas
por aqueles estudantes da rede pública que têm condições financeiras de pagar pelas
mensalidades. Diante da negligência estatal, parece-me, assim, que os recursos extraescolares
como aplicativos e canais no YouTube, citados inicialmente, são o que resta àqueles estudantes
que não terão acesso – ou acesso precário – ao ensino de inglês em outros locais.
Abaixo, concentro em quatro tópicos mais algumas implicações do solucionismo
tecnológico e do capitalismo de plataforma para o ensino de inglês:
Uma boa hipótese para a inexistência de uma resistência unânime às práticas das
empresas de Big Data pode estar no fato de que elas vêm fidelizando bilhões de usuários em
serviços que fazem parte do cotidiano e dos quais detêm o monopólio da oferta de boa parte.
Ao mesmo tempo, não dependem financeiramente de nenhum de seus usuários, mas sim dos
anunciantes e de outros clientes que se interessem pelos dados que vende. Recentemente
muitos sistemas de ensino vêm aderindo ao pacote de ferramentas Google for Education, o
que acarreta transferir para servidores da Google toda a comunicação interna das instituições,
além das interações entre docentes e estudantes. Tentando prever o futuro, Google for
Education, o uso massivo de apps para aprender inglês e os youtubers que ensinam inglês
certamente são alguns dos elementos que deverão gerar um aglomerado de dados muito eficaz
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no desenvolvimento de novas soluções que poderão beneficiar, quem sabe, uma big tech com
interesse em monopolizar a educação, removendo-a cada vez mais da esfera pública.
d) Questões didático-pedagógicas
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É possível concordar sobre a insustentabilidade de se submeter sujeitos
contemporâneos a metodologias gestadas na Modernidade, ou até mesmo antes dela. No
entanto, a participação dos professores no processo de ensino e aprendizagem ainda se faz
muito importante, visto que os aplicativos, por si só, não conseguem implementar uma
abordagem comunicativa em sua relação com o aprendiz. Da mesma forma, é questionável a
maneira descompromissada de estudar que é pregada pelos aplicativos e pelos youtubers. Por
mais que se deseje que a aprendizagem seja agradável, é duvidosa uma construção lógica de
conhecimentos, bem como o aprofundamento deles, se o objetivo mais valorizado do processo
for se divertir.
REFERÊNCIAS
BRIDLE, James. A nova idade das trevas: a tecnologia e o fim do futuro. São Paulo:
Todavia, 2019.
FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
MOROZOV, Evgeny. Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo: Ubu
Editora, 2018.
ZUBOFF, Shoshana. Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização
da informação. In: Tecnopolíticas da Vigilância. Org. Fernanda Bruno et al. Trad. Heloísa
Mourão et al. São Paulo: Boitempo, 2017.