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Contribuições da Secretaria Nacional de Segurança Pública
3
“PERFIL DAS POLÍCIAS DO BRASIL” - VIRGÍNIA BRUSONI E RENATO SÉRGIO DE LIMA ....... 41
A pesquisa Perfil das Polícias do Brasil é um exemplo de levantamento realizado pela Senasp que
não havia até então sido explorado em todas as suas dimensões, não obstante a riqueza das
informações prestadas pelos Estados em 2000. Informações cruciais para o planejamento de políticas
públicas bem como para a utilização dos recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública, que
custou aos Estados levantar mas que até agora não tinham sido divulgadas.
Entre outros propósitos, a divulgação destes relatórios serve para mostrar aos profissionais que
compilam e nos enviam estas informações que o trabalho não foi em vão e deve ser continuado e
aprimorado pois serão seriamente levados em conta pela Senasp.
Os sociólogos Virginia Bruzzone, Renato Sergio de Lima e Lílian Konishi são os responsáveis por
este primeiro relatório descritivo sobre a pesquisa Perfil das Polícias. Ao sociólogo Ignácio Cano
coube a análise relativa à letalidade policial – destrinchando o fenômeno das mortes de policiais e
suspeitos em confrontos com a polícia. Gláucio Ary Dillon Soares e Leonarda Munessi, sociólogos do
CESEC/UCAM, foram encarregados de produzir a análise dos dados de criminalidade enviados
mensalmente a Senasp pelos Estados desde 2000. Ainda no que tange ao perfil das polícias
brasileiras, dados adicionais estão sendo levantados e tratados pelo Prof. José Vicente Tavares dos
Santos, da UFRG. A própria Senasp está encarregada de realizar, ainda no próximo semestre, a
primeiro pesquisa nacional de vitimização no Brasil, desde que a última foi feita em 1988 pelo IBGE.
Um levantamento inicial feito em realizado em 4 Capitais em 2002 está incluído também nesta
coletânea.
Diversos outros pesquisadores e institutos igualmente renomados estão sendo contatados pela
Senasp para a produção de pesquisas e análises sobre segurança pública no Brasil, uma área ainda
bastante carente de informações. A intenção é que este acervo de estudos forneça, no futuro
próximo, uma base sólida para traçar os rumos da política nacional de segurança pública, diminua o
improviso e a pressão política como critérios para a alocação de recursos e ajude a desfazer os
inúmeros mitos ainda correntes na área da segurança pública.
INTRODUÇÃO
A montagem de uma base nacional de dados a partir das ocorrências policiais tem-se
mostrado uma tarefa tão fundamental quanto de difícil realização, não só no Brasil como em outros
países do mundo, sobretudo naqueles de estrutura federativa. Capitaneada, normalmente, por um
órgão federal de segurança e/ou justiça, essa tarefa costuma enfrentar diversos tipos de obstáculos –
desde os de caráter técnico (por exemplo, compatibilização de definições e critérios de registro),
institucional (multiplicidade e heterogeneidade das agências locais de segurança produtoras dos
dados) ou econômico (escassez de recursos humanos e materiais), até os de natureza política
(resistências a solicitações interpretadas como ingerência do governo federal em área de atribuição
dos estados) –, exigindo grandes esforços e um tempo bastante longo de implantação.
Apenas como exemplo, para colocar em perspectiva o caso brasileiro, lembremos que o
sistema norteamericano dos UCR (Uniform Crime Reports), criado em 1929, até hoje não cobre 100%
dos departamentos de polícia e não conta com a adesão dos estados de Indiana, Ohio, Mississipi e
Novo México. Por sua vez o NIBRS (National Incident-Based Reporting System), introduzido pelo FBI
em 1991 para ampliar e complementar o programa UCR, em dezembro de 2002 abrangia total ou
parcialmente apenas 21 dos 50 estados e 4.259 das mais de 20 mil agências policiais existentes no
país – o que correspondia a uma cobertura de 17% da população nacional e de 15% do universo de
crimes registrados.1
Não são anômalas, portanto, as dificuldades que a SENASP vem encontrando na
implantação e aperfeiçoamento da Base Nacional de Estatísticas Criminais brasileira. Iniciada em
1999, a coleta de informações junto às 27 Secretarias de Segurança certamente demandará ainda
algum tempo para produzir um banco de dados com abrangência e qualidade suficientes para permitir
a realização de diagnósticos fidedignos sobre a situação da segurança pública nas diversas áreas do
país. Mas é importante que se ressalte o fato de, em menos de quatro anos e com exíguos recursos,
já se ter conseguido reunir um conjunto razoável de informações sobre delitos e atividades policiais
em grande parte das Unidades da Federação. Persistem numerosas lacunas e inconsistências, que
serão assinaladas mais detalhadamente nos três relatórios seguintes, com o objetivo de contribuir
para o aperfeiçoamento dessa base de dados.
1
Cf. US Department of Justice/Bureau of Justice Statistics, UCR and NIBRS Participation - Level of
participation by States as of December, 2002 [http://www.ojp.usdoj.gov/bjs/nibrsstatus.htm].
7
Não há como negar, porém, que o esforço feito até agora pela SENASP e pelas Secretarias
estaduais já produziu resultados significativos e representa um bom caminho andado na direção de
um maior conhecimento dos problemas do crime e da violência em todo o país.
Conforme sublinha Tulio Kahn num artigo recente, antes da iniciativa da SENASP a única
referência comparativa de que se dispunha em âmbito nacional eram os dados divulgados pelo
DATASUS, que, além de suas limitações intrínsecas, forneciam um panorama parcial daqueles
problemas, restringindo-o ao universo das ocorrências letais.2 Apesar de revelarem, sem dúvida, a
face mais grave e trágica do fenômeno, e por isso continuarem sendo uma base fundamental para o
desenho de políticas públicas de enfrentamento e prevenção da violência, diagnósticos e
comparações baseados exclusivamente em taxas de mortalidade podem distorcer muito o quadro
analítico, sobretudo se se tomam os níveis de homicídio como equivalente ou como proxy da
“violência em geral”. O artigo citado mostra, por exemplo, que o ranking estadual da violência muda
sobremaneira quando se consideram, além dos crimes com morte, delitos não-letais como roubo,
estupro, lesão corporal e extorsão mediante seqüestro. Daí a importância de se dispor de
informações que possibilitem enfoques alternativos e complementares aos estudos sobre homicídios.
E a principal fonte para essas informações, aqui ou em outras partes do mundo, são as estatísticas
geradas a partir dos registros policiais – ao lado das pesquisas domiciliares de vitimização, que, no
Brasil, devido ao alto custo, só têm sido realizadas em pequena escala e esporadicamente. Ressalte-
se também que, mesmo no caso das mortes violentas, os dados produzidos pelas polícias constituem
um referencial importante para complementar ou corrigir as informações oriundas do sistema de
saúde, como demonstra o trabalho de Cano e Santos a respeito dos homicídios no estado do Rio de
Janeiro.3
*
O presente “produto” – iniciando a série de quatro relatórios de avaliação da base de dados
da SENASP – indica algumas possibilidades analíticas abertas pelo conjunto de informações
criminais já disponíveis atualmente, em especial por aquelas colhidas no ano de 2001. Trata-se de
um estudo essencialmente descritivo, cujo propósito não é extrair conclusões, mas mostrar, por meio
de alguns exemplos, o que se pode conhecer a mais sobre a criminalidade e a violência quando se
dispõe de dados para (quase) todo o país. E também assinalar alguns dos limites a serem superados
para que as análises com base nessas estatísticas possam se tornar cada vez mais precisas e
fidedignas. Apontamos acima o longo tempo geralmente requerido para montar e aperfeiçoar um
sistema nacional de informações criminais. O uso e a crítica, passo a passo, dos dados já disponíveis
constituem a melhor forma de reduzir esse tempo, acelerando a identificação de problemas e a busca
de soluções.
*
Das 25 diferentes categorias de delitos incluídas nessa base, optou-se por focalizar aqui
apenas os crimes violentos e, entre eles, os que caracterizavam mais nitidamente atos intencionais
de violência. Embora tenha considerado também a distribuição dos homicídios em acidentes de
trânsito (delito culposo) e dos furtos de veículos (delito não-violento), pela sua importância na
problemática mais geral da segurança pública, a análise se circunscreve essencialmente aos crimes
contra a pessoa ou o patrimônio que envolvem violência intencional.
Outra escolha foi a de trabalhar apenas com as informações relativas a 2001, renunciando-se
portanto a identificar mudanças no panorama brasileiro da violência desde 1999, quando a SENASP
iniciou a coleta das estatísticas criminais. Isso porque, em muitos casos, as oscilações refletem uma
progressiva melhoria no preenchimento das planilhas pelos estados, não havendo como diferenciar
esse efeito das variações reais no número de ocorrências.
Na primeira seção apresenta-se um ranking geral das Unidades da Federação segundo oito
indicadores de criminalidade violenta e mostram-se, por meio de mapas, as variações espaciais de
alguns desses indicadores em 2001. Cabe esclarecer que foram utilizadas três ponderações distintas
no cálculo de taxas ou índices: dez mil veículos para roubo (e furto) de veículos, cem mil mulheres
para estupro e cem mil habitantes para as demais categorias de delitos. Os dados populacionais
usados são projeções do IBGE para 2001 e as frotas estaduais de veículos para o mesmo ano
provêm do último Anuário Estatístico do DENATRAN. Outro esclarecimento importante refere-se à
não-inclusão dos dados sobre lesões corporais entre os crimes violentos selecionados, devido à
impossibilidade de diferenciar lesões dolosas e culposas, já que o formulário de preenchimento da
2
Cf. Kahn, Tulio. Panorama da criminalidade nos estados: uma tentativa de classificação e interpretação. Direito
Penal - Revista de Direito Penal e Ciências Afins, nº 12, s/d [disponível em http://www.direitopenal.adv.br]. Os
limites de cobertura e consistência das informações do DATASUS serão comentados brevemente no segundo
relatório desta série (Produto 2 - Comparação das informações policiais com dados de outras fontes).
3
Cano, Ignacio e Santos, Nilton. Violência letal, renda e desigualdade social no Brasil. Rio de Janeiro, Sete
Letras, 2001.
8
SENASP não solicita essa especificação e apenas poucos estados (mais precisamente, quatro)
quantificaram separadamente as duas categorias de delitos em 2001.
A segunda seção investiga o peso das capitais na composição dos índices estaduais de
criminalidade e como ele varia de acordo com as Unidades da Federação e com os tipos de crimes
analisados.
Enquanto as duas primeiras seções utilizam dados baseados no número de ocorrências
(registros), a terceira busca aproveitar informações disponíveis sobre as vítimas – sua quantidade e
sua distribuição etária e por gênero, considerando, também, diversos tipos de delitos violentos.
Infelizmente, esta é uma das partes mais precárias do banco de dados, devido tanto a problemas de
preenchimento das planilhas pelas Secretarias de Segurança estaduais, quanto a falhas do próprio
formulário de coleta e do manual de preenchimento, conforme será apontado no Relatório nº 3. Em
função de tais problemas, mesmo focalizando-se somente o ano de 2001, é pequeno o número de
estados (e/ou capitais) que “passam” num teste de consistência elementar, segundo o qual, para um
certo tipo de crime, não pode haver mais registros do que vítimas; noutras palavras, a razão
vítimas/registros, para cada mês, unidade geográfica e modalidade de delito, tem de ser maior ou
igual a 1.4 Na maioria dos casos, a razão encontrada foi muito menor que a unidade – sinalizando, de
forma clara, um preenchimento deficiente das informações solicitadas pela SENASP a respeito das
vítimas. A análise só abrange, portanto, o reduzido conjunto de estados “aprovados” naquele teste,
conjunto variável, ademais, de acordo com a categoria de delito que se esteja focalizando.
Na quarta seção, aponta-se o potencial da base de dados para futuros estudos de variações
temporais dos indicadores de criminalidade e violência nos diversos estados, especialmente a
verificação de padrões de sazonalidade porventura exibidos por esses indicadores – aspecto muito
importante, ao lado das variações espaciais e da evolução ano a ano, para orientar o
desenvolvimento de políticas preventivas. Se falamos em “potencial” é porque somente a partir de
2001 o banco apresenta cobertura razoável das informações mensais para a maioria das ocorrências,
embora não para todos os estados. Como, até o momento da elaboração deste relatório, ainda não
havia dados para todo o ano de 2002, sequer foi possível comparar o comportamento mensal dos
indicadores em dois anos completos, muito menos identificar padrões sazonais. Limitamo-nos, assim,
a indicar semelhanças e diferenças entre algumas UFs quanto à oscilação dos registros durante o
ano de 2001. Sugestões para futuras análises de sazonalidade serão feitas no 4º relatório, tomando
por base os resultados de uma pesquisa sobre homicídios no Rio de Janeiro, que analisou as médias
diárias de incidência do crime nos doze meses do ano, ao longo do período 1991-2001.5
4
Evidentemente, o teste só é válido porque não incluímos na nossa análise os chamados “crimes sem vítima”,
como porte de arma, tráfico de drogas e outros.
5
Soares, Glaucio Ary Dillon e Borges, Doriam, Rio de Janeiro, fevereiro e março. Rio de Janeiro, CESeC,
janeiro de 2003.
6
Os resultados não são diretamente comparáveis porque o autor utilizou análise de clusters e indicadores
diferentes dos que selecionamos aqui, além de ter focalizado os anos de 1999 e 2000.
9
para outro podem dever-se em grande parte a diferenças nas taxas de notificação. Esse lembrete é
especialmente importante para o caso de crimes sem morte, mais ainda para os delitos sexuais e
para os roubos em geral (excetuando-se roubo de veículo e de outros bens segurados), cuja “cifra
obscura” costuma ser extremamente alta. Só pesquisas nacionais de vitimização permitiriam dizer,
por exemplo, se o 8º lugar de Santa Catarina em estupros e atentados violentos ao pudor deve-se à
grande incidência real desses crimes no estado ou a taxas de notificação bem superiores às de
outras UFs.7 Mesmo no caso dos homicídios, sabe-se que a subinformação é significativamente mais
alta em alguns estados do que em outros, e que isso se reflete tanto nas estatísticas do sistema de
saúde, baseadas em certificados de óbito, quanto, muito provavelmente, nas estatísticas policiais,
baseadas em registros ou boletins de ocorrência. Observe-se, por exemplo, que os onze estados
“menos violentos” da Tabela 2 situam-se, todos, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país,
e são, grosso modo, os mesmos que apresentam, no SIM/DATASUS, as mais altas proporções de
“mortes não-classificadas”, “mortes com intencionalidade desconhecida” e até de municípios sem
registros regulares de mortalidade – ou seja, baixa cobertura e/ou qualidade das informações,
relativamente às demais UFs.8 Qualquer comparação interestadual dos níveis de violência deve,
portanto, ser utilizada com o máximo cuidado, tendo-se sempre em mente o possível impacto de
diferenças na magnitude da subnotificação sobre os indicadores que se está comparando.
Os mapas apresentados nas páginas seguintes permitem visualizar de outra forma
distintas “hierarquias de violência” referentes aos vários tipos de crimes. Além dos delitos incluídos na
Tabela 1, acrescentou-se um mapa para as taxas de homicídios culposos no trânsito, outro para a
taxa conjunta de roubo e furto de veículos, e um terceiro para a razão entre o número de roubos e o
de furtos de veículos em 2001.
Resumindo este item, a Tabela 3 mostra coeficientes de correlação entre os oito indicadores
de criminalidade violenta intencional nos estados, apontando convergências na distribuição
geográfica de alguns delitos – sobretudo entre os crimes sexuais (estupro e atentado violento ao
pudor), e entre latrocínios e roubos em geral –, assim como correlações baixas ou negativas entre
outros tipos de crimes, alguns dos quais poderíamos imaginar fortemente associados no espaço,
como, por exemplo, homicídio doloso e tentativa de homicídio, ou extorsão mediante seqüestro e
roubos em geral. O estudo sistemático dessas relações – aqui apenas indicadas – é importante não
só para o diagnóstico de padrões criminais no país, mas também para a crítica e melhoria das
próprias informações recolhidas pela SENASP, uma vez que as convergências ou divergências
espaciais de diferentes modalidades de crimes podem ser influenciadas, entre outras coisas, por
variações na cobertura e qualidade das estatísticas policiais.
7
A pesquisa de vitimização realizada em 2002 pelo ILANUD nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória
e Recife mostrou taxas de subnotificação (cifras obscuras) variando entre 63 e 93% para agressões sexuais, e
entre 65 e 76% para roubos em geral, exceto de veículos (ILANUD, FIA/USP e Gabinete de Segurança
Institucional, Pesquisa de Vitimização 2002 e avaliação do PIAPS [disponível em
http://www.conjunturacriminal.com.br]
8
Para uma análise detalhada desse problema, ver Cano, Ignacio e Santos, Nilton. Violência letal, renda e
desigualdade social no Brasil. Rio de Janeiro, Sete Letras, 2001.
Tabela 1 – Indicadores de criminalidade violenta intencional para 24 Unidades da Federação - 2001
Atentados Extorsões
Homícidios Tentativas Roubos de Outros
Latrocínios Estupros por violentos ao mediante
dolosos por de homícidio veículos por roubos por
UF por cem mil cem mil pudor por seqüestro
cem mil por cem mil dez mil cem mil
habitantes mulheres cem mil por cem mil
habitantes habitantes veículos habitantes
habitantes habitantes
SP 5ª 6ª 6ª 9ª 4ª 3ª 2ª 2ª 4,6 1ª
RO 3ª 5ª 4ª 2ª 9ª 22ª 5ª 3ª 6,6 2ª
DF 8ª 1ª 3ª 3ª 1ª 9ª 6ª 23ª 6,8 3ª
MS 7ª 8ª 5ª 7ª 3ª 1ª 15ª 16ª 7,8 4ª
ES 1ª 13ª 10ª 15ª 7ª 5ª 12ª 1ª 8,0 5ª
RJ 4ª 7ª 13ª 12ª 5ª 17ª 1ª 12ª 8,9 6ª
RS 20ª 2ª 9ª 4ª 6ª 16ª 7ª 8ª 9,0 7ª
GO 14ª 10ª 7ª 6ª 10ª 11ª 13ª 19ª 11,3 8ª
BA 12ª 15ª 8ª 14ª 15ª 12ª 4ª 14ª 11,8 9ª
AP 6ª 12ª 14ª 1ª 2ª 22ª 21ª 17ª 11,9 10ª
PE 2ª 9ª 21ª 23ª 23ª 8ª 8ª 6ª 12,5 11ª
PR 10ª 3ª 12ª 13ª 13ª 21ª 23ª 11ª 13,3 12ª
SC 24ª 19ª 16ª 8ª 8ª 10ª 22ª 4ª 13,9 13ª
AM 19ª 14ª 1ª 5ª 12ª 20ª 17ª 24ª 14,0 14ª
MT 11ª 11ª 11ª 16ª 18ª 15ª 10ª 21ª 14,1 15ª
TO 15ª 4ª 17ª 10ª 21ª 7ª 20ª 20ª 14,3 16ª
RN 21ª 21ª 15ª 19ª 14ª 6ª 11ª 10ª 14,6 17ª
AC 9ª 24ª 2ª 11ª 17ª 22ª 24ª 13ª 15,3 18ª
PA 17ª 16ª 22ª 17ª 19ª 13ª 3ª 15ª 15,3 19ª
PB 16ª 22ª 23ª 21ª 16ª 4ª 19ª 7ª 16,0 20ª
PI 23ª 23ª 18ª 22ª 11ª 2ª 14ª 18ª 16,4 21ª
CE 13ª 20ª 24ª 24ª 24ª 18ª 9ª 9ª 17,6 22ª
MA 22ª 17ª 20ª 20ª 22ª 19ª 16ª 5ª 17,6 23ª
SE 18ª 18ª 19ª 18ª 20ª 14ª 18ª 22ª 18,4 24ª
Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
4,7 a 16,1
Elaboraçao: CESeC/UCAM 16,1 a 27,6
27,6 a 39,1
39,1 a 50,6
Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
2,2 a 26,4
Elaboraçao: CESeC/UCAM 26,4 a 50,7
50,7 a 75,0
75,0 a 99,3
13
Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
4,6 a 10,4
Elaboraçao: CESeC/UCAM 10,4 a 16,2
16,2 a 22,0
22,0 a 27,9
Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
2,7 a 16,8
Elaboraçao: CESeC/UCAM 16,8 a 30,9
30,9 a 45,0
45,0 a 59,2
14
Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
0,5 a 4,4
Elaboraçao: CESeC/UCAM 4,4 a 8,3
8,3 a 12,2
12,2 a 16,2
Legenda
0,5 a 6,4
Fontes: SENASP e DENATRAN
Elaboraçao: CESeC/UCAM 6,4 a 13,1
13,1 a 28,8
28,8 a 111,3
Sem informaçao
15
Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
16,0 a 112,1
Elaboraçao: CESeC/UCAM 112,1 a 179,9
179,9 a 275,9
275,9 a 980,8
Legenda
Fontes: SENASP e DENATRAN
15,1 a 32,4
Elaboraçao: CESeC/UCAM 32,4 a 42,6
42,6 a 80,3
80,3 a 195,6
16
Legenda
0,01 a 0,45
Fonte: SENASP
Elaboraçao: CESeC/UCAM 0,45 a 0,88
0,88 a 1,32
1,32 a 1,75
Sem informaçao
17
ATENTA EXTORS
TENTATI
HOMICÍD DO ÃO ROUBO
LATRO- VA DE ESTUPR OUTROS
IO VIOLENT MEDIANT DE
CÍNIO HOMICÍD O ROUBOS
DOLOSO O AO ESEQÜE VEÍCULO
IO
PUDOR S-TRO
HOMICÍD
IO 0,259 0,021 0,220 0,268 0,019 0,420 0,232
DOLOSO
LATRO-
0,133 0,429 0,483 -0,085 0,263 0,758
CÍNIO
TENTATI
VA DE
0,340 0,246 -0,186 -0,048 0,156
HOMICÍD
IO
ESTUPR
0,738 -0,277 -0,021 0,367
O
ATENTA
DO
VIOLENT 0,160 0,260 0,549
O AO
PUDOR
EXTORS
ÃO
MEDIANT 0,038 -0,092
ESEQÜE
S-TRO
ROUBO
DE 0,557
VEÍCULO
OUTROS
ROUBOS
Em seu estágio atual, a base da SENASP não fornece dados por municípios, mas possibilita,
teoricamente, desagregar as ocorrências estaduais por Capital, Região Metropolitana (excluída a
Capital) e Interior. Dizemos teoricamente porque são tantas as falhas no preenchimento desses
campos que as únicas informações com um mínimo de consistência – e mesmo assim não
disponíveis para a totalidades das UFs ou dos tipos de crime – referem-se por enquanto às capitais e
aos totais estaduais.10 É muito pouco para fundamentar uma análise de distribuição interna da
violência, permitindo somente algumas indicações sobre a relação entre as capitais e as demais
áreas dos respectivos estados.
A Tabela 4, abaixo, mostra, para dez tipos de delitos, a participação das capitais no total de
ocorrências registradas em cada UF no ano de 2001 – excluindo Mato Grosso, que só forneceu
números para o estado como um todo, e o Distrito Federal, que não possui “capital”. 11 Células em
branco correspondem a ausência ou inconsistência de uma das duas informações (sobre a capital ou
sobre a UF); zero indica, salvo erro não detectado, que a polícia não registrou nenhuma ocorrência
daquele tipo na capital em questão. A tabela desconsidera extorsões mediante seqüestro, embora
haja informações sobre esse crime, por ser exíguo o número absoluto de registros na maior parte dos
estados, gerando percentuais muito pouco significativos. Desconsidera também lesões corporais
dolosas, pelos motivos já expostos na Introdução.
Ocorre que a população residente nas capitais representa, em média, somente 26,1% da
população total das UFs (excluído o Distrito Federal), sendo apenas três os estados em que essa
percentagem supera 50%: Roraima, Amapá e Amazonas. 12 Logo, quando se consideram taxas
ponderadas pela população residente, a capital quase sempre se mostra mais violenta que o restante
do estado, mesmo no caso dos crimes contra a pessoa e “contra os costumes”. As últimas cinco
figuras ilustram esse efeito da ponderação demográfica e a Tabela 5, em seguida, registra as
9
Isso exige o georreferenciamento e a integração das informações criminais num sistema capaz de produzir
respostas praticamente “em tempo real”. No Brasil, o único sistema desse gênero hoje em operação é o da
Polícia Militar de Minas Gerais. O Rio de Janeiro, dentro do programa “Delegacia Legal”, iniciado em 1999,
vem implantando algo semelhante, mas várias dificuldades têm postergado o pleno funcionamento desse
programa.
10
Os problemas relativos ao fornecimento dos dados intraestaduais serão apontados no Relatório nº 3.
11
Na realidade, o banco da SENASP traz números desagregados para a área do Plano Piloto de Brasília, como se
ela fosse a “capital” do DF. Desconsideramos aqui esses números, por não serem comparáveis aos das outras
capitais estaduais. Provavelmente pelo mesmo motivo, o site da SENASP na internet só divulga dados relativos a
todo o Distrito Federal.
12
Segundo projeções populacionais do IBGE para 2001.
19
distâncias médias, para cada tipo de crime, entre as taxas das capitais e as dos outros municípios do
estado, juntos.13
Há, porém, variações significativas entre UFs e entre diferentes categorias de delitos, que
indicam a necessidade de análises mais acuradas, capazes, por exemplo, de identificar a influência
maior ou menor dos Entornos ou Regiões Metropolitanas sobre as taxas de criminalidade das
capitais. Isso demandaria não só uma desagregação maior das estatísticas da SENASP, mas
também o conhecimento dos locais de residência das vítimas, que permitisse estimar, em cada caso,
o quanto aquelas taxas, baseadas na população residente, são “inchadas” pela presença de
população flutuante, que não entra no denominador. Para os homicídios, já se pode explorar essa
pista com alguma segurança, através das estatísticas da saúde desagregadas por municípios da
morte e da residência, mas, ainda assim, seria fundamental dispor-se também dos dados sobre os
municípios de ocorrência do crime – só fornecidos pelos registros policiais (ver Relatório nº 4). 14
Quanto aos delitos sem morte, o avanço das possibilidades comparativas fica a depender quase
exclusivamente da ampliação e melhoria da base de dados da SENASP.
13
Os roubos de veículos foram somados ao demais roubos e o total foi ponderado pela população residente.
Quando elaborávamos este relatório, a informação do DENATRAN sobre frotas de veículos em 2001 só estava
disponível para as UFs, não para as capitais.
14
Da mesma forma que o local de ocorrência da vitimização e o de residência da vítima não necessariamente
coincidem, pode haver diferença, no caso dos homicídios, entre o local da morte e o do crime que a motivou – o
que também afeta em maior ou menor grau as taxas baseadas unicamente nas informações do SIM.
Tabela 4 – Participação da capital no total de ocorrências do estado, para 10 tipos de crimes – 2001 (Em %)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
AC AL AM AP BA CE ES GO MA MG MS PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
Homícidio doloso Tentativa de homícidio
Homícidio culposo - trânsito Estupro
Lesão corporal seguida de morte Atentado violento ao pudor
Gráfico 2
PARTICIPAÇÃO DA CAPITAL NO TOTAL DE OCORRÊNCIAS DO ESTADO (Em %)
Crimes contra o patrimônio - 2001
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
AC AL AM AP BA CE ES GO MA MG MS PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
60
50
Capital
40 Resto do estado
30
20
10
0
ES RO PE SP RJ AC MG AP PB BA MS PR SE PA CE RR AL AM MA RS TO GO PI SC RN
175
150
Capital
125
Resto do estado
100
75
50
25
0
AM RR AC GO RO PI SC BA MG MA MS RN SP SE AP RS PR RJ AL ES PA TO PE PB CE
80
70
60 Capital
50 Resto do estado
40
30
20
10
0
RO AP RR AM GO RS MA TO BA SC SE MS AC SP PI RN PB ES PA RJ MG PR PE AL CE
Gráfico 6 – Atentados violentos ao pudor por cem mil habitantes 2001 (Ocorrências)
30
25
20 Capítal
Resto do estado
15
10
0
SC AP RS RO MS ES GO BA AM RR RN PI RJ SP PB PA SE MA AC MG PR TO CE PE AL
1600
1400
1200 Capital
800
600
400
200
0
RS SP RO RJ GO PA BA PR MA SE RN PE PI PB ES SC AC AM MS TO AP RR MG CE AL
Tabela 5
Distância média entre taxas de crimes violentos nas capitais
e nas áreas restantes dos estados - 2001
Taxa
Distância Desvio
Taxas média das
média padrão
capitais
Homicídio doloso por cem mil habitantes 28,7 9,8 7,6
Homicídio culposo no trânsito por cem mil habitantes 15,1 3,9 9,0
Tentativa de homicídio por cem mil habitantes 33,2 17,7 40,1
Estupro por cem mil mulheres 28,5 13,9 17,1
Atentado violento ao pudor por cem mil habitantes 10,8 5,5 5,1
Roubo (inclusive de veículos) por cem mil habitantes 596,5 462,2 379,8
Se, apesar das diversas falhas, já se tem uma cobertura razoável de informações sobre números
de ocorrências registradas nas UFs e nas capitais estaduais, longe está ainda a base da SENASP de poder
proporcionar dados suficientes para um estudo comparativo sobre as vítimas desses crimes, uma vez que
diversas Secretarias de Segurança não vêm preenchendo, ou vêm preenchendo mal, os campos
correspondentes. Isso resulta, como já dito, num total de ocorrências freqüentemente muito mais alto do
que o de vítimas, e limita a comparação às poucas unidades onde a razão vítimas/registros é superior ou
igual a 1. Considerando-se seis crimes violentos, apenas onze UFs forneceram informações aproveitáveis
a respeito de vítimas no ano de 2001, sendo que em apenas duas – Bahia e Rio Grande do Norte – essas
informações eram consistentes para todas as seis categorias criminais. 15
A Tabela 6, abaixo, resume o que foi possível extrair do banco de dados, em números absolutos,
e as figuras seguintes apontam tipos de análise comparativa que se poderiam desenvolver caso houvesse
informações para o conjunto ou a maioria das Unidades da Federação. Eles mostram a distribuição
percentual e as taxas por cem mil habitantes segundo sexo, além da distribuição das vítimas por idade em
cada UF, utilizando as três faixas etárias atualmente previstas no formulário da SENASP: 0 a 11 anos, 12
a 17 e 18 ou mais. As limitações que derivam desse corte etário serão focalizadas no nosso quarto
relatório de avaliação.16
15
As 11 UFs selecionadas foram aquelas que, para pelo menos um dois seis tipos de delitos,
apresentavam em todos os meses do ano uma razão vítimas/registros maior ou igual à unidade. É claro
que pode haver erros também nesses casos, mas é menos provável que o número de vítimas esteja
fortemente subinformado (salvo se o de ocorrências também estiver).
16
Como assinalaremos no Relatório nº 3, detectamos também um problema no próprio manual de
preenchimento da SENASP, que define de modo confuso os limites inferiores e superiores dos intervalos
etários. Mas presumimos que, apesar disso, as UFs selecionadas informaram corretamente a distribuição
etária das vítimas, de acordo com as categorias legais: criança (0 a 11 anos), adolescente (12 a 17) e
adulto/a (18 anos ou mais). Um teste foi feito no caso dos homicídios – cruzando-se as informações da
SENASP com as do DATASUS de 2000, para as mesmas faixas etárias – e apresentou resultados bastante
consistentes.
Tabela 6 – Vítimas de crimes violentos em 11 Unidades da Federação - 2001
AC AM BA CE DF MS MT PE PI RN RS
Total de ocorrências 135 2439 531 560 260
Total de vítimas 135 2439 551 601 260
Homicídio Homens 115 2229 507 508 245
doloso Mulheres 20 210 44 93 15
0 a 11 anos 2 34 3 3 0
12 a 17 anos 9 108 56 40 36
18 anos ou mais 124 2297 449 558 224
Idade não Informada 0 0 43 0 0
Total de ocorrências 21 89 29 96 10
Total de vítimas 22 89 29 100 10
Homens 19 80 29 90 9
Latrocínio Mulheres 3 9 0 10 1
0 a 11 anos 0 0 0 0 0
12 a 17 anos 0 2 0 0 0
18 anos ou mais 16 87 29 100 10
Idade não Informada 6 0 0 0 0
Total de ocorrências 2881 3272 169 809 590 489 815 440
Total de vítimas 2882 3272 180 1120 643 503 1025 441
Tentativa Homens 2564 2793 151 1004 546 435 798 371
de Mulheres 318 479 29 116 97 68 227 70
homicídio 0 a 11 anos 19 23 0 14 4 0 12 0
12 a 17 anos 561 195 11 174 46 33 50 35
18 anos ou mais 2123 3054 169 881 593 470 963 406
Idade não Informada 179 0 0 51 0 0 0 0
Total de ocorrências 51 1662 431 291 404 837 222 377 1085
Total de vítimas 51 1662 485 323 595 882 225 379 1138
Homicídio Homens 39 1386 387 268 526 700 196 316 850
culposo no Mulheres 12 276 98 55 69 182 29 63 288
trânsito 0 a 11 anos 2 100 22 27 18 31 11 5 52
12 a 17 anos 6 113 29 16 22 52 19 29 66
18 anos ou mais 43 1449 434 247 555 799 195 345 1020
Idade não Informada 0 0 0 33 0 0 0 0 0
Total de ocorrências 52 1057 105 397 139 180
Total de vítimas 52 1057 112 443 175 189
Homens * 2 0 0 8 7 0
Estupro Mulheres 50 1057 112 435 168 189
0 a 11 anos 10 157 18 40 9 5
12 a 17 anos 25 442 47 115 32 46
18 anos ou mais 15 458 47 278 127 138
Idade não Informada 2
Total de ocorrências 23 742 98 340 288 160
Total de vítimas 23 743 105 378 319 163
Atentado Homens 4 215 26 70 77 143
violento ao Mulheres 19 528 79 308 242 20
pudor 0 a 11 anos 9 272 45 166 180 31
12 a 17 anos 5 281 32 68 73 66
18 anos ou mais 9 190 28 141 66 66
Idade não Informada 0 0 0 3 0 0
(*) Informação desconsiderada Segundo o Código Penal brasileiro, constitui crime de estupro “constranger
mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça” (art. 213), ou seja, essa categoria só se
aplica quando a vítima é do sexo feminino.
Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.
Homicídio doloso
V ítimas de hom icídio doloso
Homicídio doloso - Vítimas registradas - 2001 Distribuição por faixas etárias - 2001
2400 80%
2000
60%
1600
40%
1200
551 601
800 20%
135 260
400 0%
0 AC BA DF MS RN
AC BA DF MS RN 0 a 1 1 anos 12 a 1 7 anos 18 anos o u mais N ão i nformada
Latrocínio
Vítimas de latrocínio
Distribuição por sexo - 2001
Vítimas de latrocínio por cem mil habitantes,
100% segundo sexo - 2001
3
80% 2,3
60% 2
1,3 1,2
40% 0,8
1 0,7
0,2 0,1 0,3
20% 0,1
0,0
0
0% AM BA CE PE RN
AM BA CE PE RN
Homens Mulheres
Masculino Feminino
Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.
Homicídio culposo - Trânsito
2000
1662 100%
1600 80%
1138
1200 60%
882
800 595 40%
485 379
323 20%
400 225
51
0%
0 AC BA CE DF MS PE PI RN RS
AC BA CE DF MS PE PI RN RS
80% 40
30 26,7
60% 21,2 22,9
18,1 16,8
20 13,7 13,9
40% 10,5
10 5,5 6,5 5,7
4,1 4,2 4,7 4,6
20% 2,7 2,1
0
0%
AC BA CE DF MS PE PI RN RS
AC BA CE DF MS PE PI RN RS
Homens Mulheres
Masculino Feminino
Tentativa de homicídio
60%
2000
40%
1120 1025
1000 643 20%
503 441
180 0%
AM BA CE DF MS MT PE RN
0
AM BA CE DF MS MT PE RN
0 a 11 anos 12 a 17 anos 18 anos ou mais Não Informada
40% 51,7
42,8
50 33,0 26,9
21,8 20,6
20% 7,3 11,6 9,2 5,2 5,1
4,1 0,8 5,9
0
0%
AM BA CE DF MS MT PE RN
AM BA CE DF MS MT PE RN
Homens Mulheres
Masculino Feminino
Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.
Estupro
Vítimas de estupro
Estupro - Vítimas do sexo feminino registradas - 2001* Distribuição por faixas etárias - 2001
1000 80%
800 60%
600 435 40%
400
189 20%
168
200 50 112
0%
0 AC BA CE DF PI RN
AC BA CE DF PI RN
0 a 11 anos 12 a 17 anos 18 anos ou mais Não Informada
50
43,3
40
30
20 17,3 16,2
11,9 13,7
10
3,0
0
AC BA CE DF PI RN
300 20%
163
200 105
100 23 0%
AC BA CE DF MS RN
0
AC BA CE DF MS RN 0 a 11 anos 12 a 17 anos 18 anos ou mais Não Infor mada
Home ns Mulher es
Masculino Feminino
Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.
Sabe-se que a incidência de certos crimes muitas vezes apresenta nítidos padrões
sazonais, cujo conhecimento é imprescindível para a formulação de políticas de segurança.
Tais padrões podem variar bastante entre os estados e entre as cidades, daí a importância de
se analisar comparativamente a evolução dos níveis de criminalidade, não apenas de um ano
para outro, mas também mês a mês, durante diversos anos, visando a identificar, em cada
local, os períodos nos quais recorrentemente se registram maiores médias diárias do crime em
questão e os fatores explicativos dessa recorrência em cada caso. 17
Tomando-se, como ilustração, apenas dois tipos de crimes violentos – homicídio doloso
e roubo de veículos –, as Tabelas 7 e 8, a seguir, mostram as médias diárias de ocorrências,
mês a mês, em todas as UFs para as quais havia esse tipo de informação; e os Gráficos 8 e 12
retratam, em cada mês, o desvio percentual em relação à média diária dos dois crimes no ano
todo de 2001. Além de identificar padrões recorrentes nas várias UFs, a análise de séries
mensais mais extensas permitiria estudar semelhanças e diferenças de tais padrões entre
estados específicos, assim como entre distintos crimes em cada estado. Os outros gráficos
abaixo selecionam algumas UFs das duas tabelas e ilustram possibilidades a serem exploradas
num estudo comparativo sistemático de variações intra-anuais. Nosso 4º relatório de avaliação,
utilizando uma pesquisa sobre registros de homicídio doloso no Rio de Janeiro ao longo de
onze anos, demonstra os ganhos que esse tipo de análise poderá representar para o
conhecimento de dinâmicas criminais em todo o país quando a base da SENASP dispuser de
uma série de vários anos com informações mensais completas e consistentes.
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
AC 0,3 0,3 0,3 0,5 0,3 0,4 0,3 0,3 0,5 0,6 0,1 0,7
AL 1,8 2,5 2,0 1,4 1,4 1,4 1,6 1,1 2,1 1,7 2,3 1,9
AM 1,3 1,8 1,1 0,9 0,7 1,0 1,2 1,0 1,1 0,8 1,3 1,4
AP 0,5 0,1 0,2 0,1 0,5 0,5 0,5 0,6 0,3 0,6 0,6 0,4
BA 6,5 7,3 6,7 7,4 6,2 6,9 7,9 5,2 5,9 6,6 6,4 7,2
17
Utiliza-se a média diária, não o total mensal de registros, para eliminar distorções devidas ao número
variável de dias em cada mês.
18
Alguns estados, além não enviarem informações para todos os meses, não especificaram os meses de
referência para uma parte dos números fornecidos em 2001 – gerando resíduos não aproveitáveis na
análise de variações sazonais. As tabelas e gráficos a seguir desconsideram esses resíduos, em vez de
redistribuí-los ao longo do ano, pois, como faltam dados mensais para os anos anteriores, não se pode
estabelecer um critério de redistribuição confiável.
CE 4,4 5,0 3,4 4,0 3,3 3,2 3,8 3,4 3,3 3,4 3,2 3,6
DF 1,4 1,3 1,4 1,8 1,6 1,7 1,2 1,5 1,3 1,4 1,5 1,3
ES 5,1 5,1 4,8 5,4 4,0 3,7 4,0 4,5 3,4 4,0 3,5 5,0
GO 3,3 2,2 2,4 2,6 2,2 2,9 2,1 2,1 2,7 2,8 1,9 2,3
MA 2,1 1,1 1,2 0,5 1,5 1,2 1,3 1,3 1,5 1,0 2,0 2,4
MG 7,4 6,6 6,3 6,4 5,4 5,0 5,1 4,8 5,2 4,9 5,3 7,2
MS 1,7 1,3 1,4 1,9 1,0 1,2 1,6 1,4 1,9 1,6 1,1 2,2
MT 1,3 1,4 1,5 1,8 1,6 1,2 1,4 1,0 1,3 1,4 1,2 1,5
PA 3,1 3,5 3,4 2,6 3,1 3,4 2,2 2,1 2,6 2,8 2,8 3,6
PB 1,2 1,2 1,0 1,1 2,3 1,7 1,6 1,9 1,8 1,4 1,9 2,2
PE 9,6 8,6 6,1 8,3 10,5 9,5 7,4 6,6 9,1 11,6 7,7 11,3
PI 0,3 0,2 0,4 0,3 0,5 0,6 0,4 0,6 0,7 0,2 0,7 0,3
PR 4,5 6,1 6,4 6,5 5,3 5,4 4,6 4,8 4,6 2,9 6,5 6,3
RJ 14,9 17,7 16,8 15,3 14,7 13,3 12,9 13,8 14,3 15,0 15,0 15,1
RN 0,8 0,5 0,8 0,7 0,7 1,1 0,9 0,7 0,7 0,6 0,7 0,3
RO 1,9 1,6 1,6 1,8 1,3 1,2 1,3 1,6 1,2 1,6 1,3 1,6
RR 0,3 0,2 0,2 0,4 0,4 0,2 0,1 0,0 0,1 0,2 0,2 0,1
RS 3,8 4,1 3,5 4,5 3,5 3,4 2,6 2,5 3,4 2,3 3,4 4,4
SC 0,7 0,8 0,6 0,8 0,5 0,9 0,8 0,6 0,7 0,4 0,9 0,8
SE 0,9 0,8 1,1 1,2 0,9 0,8 1,0 0,5 1,0 0,6 0,4 0,4
SP 35,6 40,0 38,5 39,2 35,4 32,8 29,9 29,0 29,5 31,8 32,0 36,9
TO 0,7 0,5 0,3 0,6 0,6 0,5 0,6 0,5 0,6 0,7 0,7 0,4
Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.
AC AL AM AP BA CE DF ES GO
MA MG MS MT PA PB PE PI PR
RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
R2 = 0,439
15 45
10 30
R2 = 0,517
5 15
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
8
R2 = 0,803
6
4
2
R = 0,483
2
0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
10
0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
PE BA PR RS
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
AM 0,5 0,4 0,6 0,4 0,3 0,3 0,5 0,5 0,5 0,6 0,4 0,4
BA 7,5 7,9 7,6 7,3 9,3 8,8 11,2 9,4 9,7 8,6 9,7 9,5
CE 4,8 3,8 5,3 4,5 4,1 4,0 4,5 4,5 4,1 2,7 3,2 3,0
DF 5,0 4,3 5,0 5,3 5,6 5,8 4,4 5,3 6,2 6,4 6,1 7,7
ES 1,9 1,9 2,9 2,1 1,8 1,8 1,4 1,9 2,4 2,3 2,2 2,6
GO 2,1 3,1 3,0 3,4 3,8 3,3 3,5 4,0 4,0 4,1 5,0 4,6
MA 0,9 0,7 0,7 0,1 0,4 0,1 0,5 0,5 0,4 0,2 0,7 0,9
MS 1,4 0,9 1,6 2,0 0,7 0,9 0,7 0,8 0,8 0,7 0,9 0,9
MT 2,7 2,1 3,5 2,4 1,7 1,7 2,7 2,5 1,8 2,1 1,7 1,5
PA 3,8 4,3 3,5 3,6 3,5 3,6 2,6 2,1 2,0 2,9 3,6 2,8
PE 2,4 0,8 16,5 15,3 14,4 2,6 1,5 0,7 3,1 2,4 1,5 1,4
PI 0,6 0,4 0,4 0,3 0,3 1,4 0,5 0,6 0,5 0,6 1,3 0,6
RJ 67,3 71,8 78,3 76,8 72,1 73,5 66,2 77,0 82,8 79,4 84,2 81,0
RN 1,4 1,3 0,9 0,7 1,6 1,1 1,5 0,7 1,1 1,0 0,5 0,9
RO 2,0 1,9 1,4 1,9 1,3 1,7 2,1 1,5 1,9 1,6 2,1 1,3
RS 21,8 21,9 23,7 22,3 20,4 19,5 21,4 20,9 19,2 19,2 19,4 18,3
SC 0,6 0,5 0,6 0,5 0,8 0,6 0,5 0,6 0,6 0,6 0,5 0,5
SE 0,3 0,1 0,1 0,1 0,7 0,3 0,3 0,6 0,2 0,2 0,2 0,7
SP 282,9 296,0 307,2 293,9 283,0 265,5 262,4 279,3 278,7 293,8 272,8 231,7
AM BA CE DF ES GO MA MS MT PA
PE PI RJ RN RO RS SC SE SP
75 R2 = 0,468 300
60 240
2
R = 0,410
45 180
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
R2 = 0,677
10 20
R2 = 0,549
8 16
6 12
2
R = 0,672
4 8
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
BA DF RS
Polinômio (BA) Polinômio (DF) Polinômio (RS)
360
40 2 320
R = 0,410
280
30 240
2
R = 0,517
200
20 160
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Infratores: número, idade e sexo, para as mesmas 25 categorias criminais, segundo região
do estado (Capital, Região Metropolitana e Interior);
Apreensão de entorpecentes: número de ocorrências e quantidades apreendidas no estado,
por tipo de droga (maconha, cocaína, etc.);
Apreensão de armas, por tipo de arma (uso permitido ou restrito) e procedência (fabricação
nacional ou estrangeira);
Fugas de presos, segundo tipo de estabelecimento (delegacia ou unidade prisional) e
segundo sexo;
População carcerária, segundo tipo de estabelecimento e região do estado (Capital, RM,
Interior);
Crianças e adolescentes apreendidos, por sexo e região do estado;
Inquéritos instaurados e concluídos, por situação do inquérito, região do estado e tipo de
crime (7 categorias);
Policiais feridos e mortos, segundo corporação (Militar ou Civil) e situação (em serviço ou
fora de serviço)
Civis feridos e mortos por policiais, segundo corporação e situação;
Pessoas capturadas, segundo sexo e situação (flagrante ou mandado judicial);
Termos circunstanciais lavrados, por região do estado.
19
Ver, a propósito, o relatório elaborado recentemente por Ignacio Cano para a SENASP sobre letalidade
policial versus índices de criminalidade (janeiro de 2003).
20
Sobre esse tema, ver Julita Lemgruber, Controle da criminalidade: mitos e fatos. Encarte da Revista
Think Tank. São Paulo, Instituto Liberal, 2001.
[disponível em http://www.cesec.ucam.edu.br/publicacoes/textos.asp]
qualitativo das análises criminológicas no Brasil e, portanto, do patamar de formulação de políticas de
segurança pública nacionais e locais.
“Perfil das Polícias do Brasil”* - Virgínia Brusoni e Renato Sérgio de Lima
O presente Boletim apresenta alguns dos resultados da Pesquisa “Perfil das Polícias
no Brasil”. Idealizada no segundo semestre de 2000, alguns meses após o lançamento do
Plano Nacional de Segurança Pública, a Pesquisa teve o objetivo principal de conhecer a
estrutura administrativa, material e pessoal das Secretarias Estaduais de Segurança Pública e
das Polícias. Através do envio de questionários para todas as Unidades da Federação foram
coletadas questões sobre estrutura administrativa, orçamento, recursos, efetivos policiais,
viaturas, armamento, sistema de controle das Polícias, sistema de coleta e análise de dados,
escolaridade, estatísticas de violência policial e índices de criminalidade, entre outros.
Assim, o trabalho aqui contemplado insere-se como um subsídio complementar aos
planejadores de políticas públicas de segurança e não tem o objetivo de esgotar todo o leque
analítico envolvido na produção de informações sobre Justiça Criminal e Segurança Pública no
Brasil. A idéia central foi oferecer temas para debate, pois, como indica a literatura sobre
produção de informações e estatísticas, nenhuma informação pode ser tomada isolada do seu
contexto de produção (quem, quando e onde foi produzida). Assumir quaisquer dados como
verdades absolutas não responde às necessidades de qualidade das informações disponíveis.
É fundamental incentivar a produção de estatísticas e ter em mente que mesmo dados parciais
ou com problemas de formulação e/ou conteúdo analítico podem ser importantes ferramentas
de planejamento e otimização de recursos, desde que claramente indicados os limites
impostos.
Em outras palavras, espera-se que a partir desse trabalho novos projetos de
investigação sobre as condições das instituições policiais envolvidas na Segurança Pública do
país possam se beneficiar da experiência acumulada e avançar na compreensão e na busca
de soluções para os fenômenos do crime e da violência no país.
Em termos operacionais, este Boletim traz informações sobre efetivos das Polícia Civil
e Militar e os associa a dados sobre gastos e funcionamento da Segurança Pública no Brasil.
Não é objetivo desse estudo trabalhar com todas as variáveis existentes nos questionários.
Mesmo aquelas que serão abaixo arroladas deverão ser utilizadas na composição de tabelas,
gráficos e mapas analíticos. A proposta é transformar alguns dos dados disponíveis em
indicadores sobre a realidade da área de segurança pública no país. Nesse momento, portanto,
foram selecionadas as variáveis que poderiam ajudar na contextualização das informações da
Pesquisa. Em paralelo aos dados aqui disponibilizados, foram elaborados um conjunto de
tabelas com todos os dados coletados e, ainda, um Sumário de Dados, com o tratamento
quantitativo de variáveis selecionadas.
EFETIVO
Em relação aos quadros de efetivos existentes das Polícia Civil e Militar, a tabela 01,
acima, indica que a distribuição proporcional de quadros entre as duas Polícias varia de acordo
com a Unidade da Federação. Enquanto que para a média Brasil os efetivos das Polícias Civis
Estaduais respondem por 21,5% de todos os policiais na ativa, em algumas unidades essas
taxas oscilam de forma acentuada. Em Rondônia, por exemplo, a Polícia Civil possui,
proporcionalmente, o maior efetivo do pais. Nesse Estado, a Polícia Civil responde por 47,3%
do total de policiais. Já em Sergipe, a situação é inversa e a Polícia Militar é responsável por
91,7% dos policiais do Estado. Essa mesma diferença pode ser observada em Estados com
grandes populações. Em São Paulo, a Polícia Civil é responsável por 28,9% dos policiais. Em
contrapartida, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, essa mesma Polícia responde,
respectivamente, por 9,9% e 11,4%. O Mapa sobre efetivos confirma essa análise e destaca os
Estados do Acre, de Roraima e Amapá, bem como o Distrito Federal. Nessas Unidades da
Federação, as taxas de efetivos por 1000 habitantes encontra-se na casa de 4 ou mais policiais
para cada grupo de 1 Mil habitantes.
INSERIR MAPA ANEXO
02 - Efetivo à Disposição de Outros Órgãos ou Autoridades
Polícia Civis e Militares
Brasil
2001
% do Efetivo à Disposição
Efetivo à Disposição de
de Outros Órgãos ou
Outros Órgãos ou Efetivo Existente
Autoridades com Efetivo
Regiões e UF´s Autoridades
Existente
Polícia Polícia Polícia Polícia
Polícia Civil Polícia Civil
Militar Civil Militar Militar
BRASIL 764 7.909 102.555 375.446 0,74 2,11
Região Norte 137 1.469 7.306 28.412 1,88 5,17
AC 1 132 880 2.042 0,11 6,46
AM 4 441 860 6.145 0,47 7,18
AP 23 9 912 2.385 2,52 0,38
PA 38 611 2.363 12.487 1,61 4,89
RO 58 209 1.088 1.212 5,33 17,24
RR 5 30 639 1.050 0,78 2,86
TO 8 33 564 3.091 1,42 1,07
Região Nordeste 205 3.578 18.371 95.875 1,12 3,73
AL - 164 1.237 7.552 - 2,17
BA 10 201 4.437 27.962 0,23 0,72
CE 4 1.042 2.129 10.829 0,19 9,62
MA 3 246 1.523 6.298 0,20 3,91
PB 39 75 2.230 7.103 1,75 1,06
PE 84 924 4.202 17.336 2,00 5,33
PI 22 - 1.267 6.228 - -
RN 38 269 886 7.460 4,29 3,61
SE 5 647 460 5.107 1,09 12,67
Região Sul 134 421 12.155 53.471 1,10 0,79
PR 31 35 3.830 18.724 0,81 0,19
RS 88 252 5.405 21.610 1,63 1,17
SC 15 120 2.920 13.137 0,51 0,91
Região Sudeste 89 695 53.754 160.808 0,17 0,43
ES 9 29 1.707 7.854 0,53 0,37
MG 13 0 4.016 36.580 0,32 0,00
RJ - 657 4.272 33.301 - 1,97
SP 67 3 33.718 83.073 0,20 0,00
Região Centro-Oeste 198 1.746 10.969 36.880 1,81 4,73
GO 51 26 1.903 12.799 2,68 0,20
MS 11 352 1.469 4.601 0,75 7,65
MT 63 510 1.581 4.529 3,98 11,26
DF 73 858 4.841 14.951 1,51 5,74
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da
Polícias do Brasil".
GÊNERO
03 - Efetivos Existente dos Policiais Civis, segundo Funções, por Sexo
Polícias Civis
Brasil
2001
Em porcentagem
Delegado de Funções da
Investigador Agente Papiloscopista Escrivão Carcereiro Outros
Polícia Polícia Técnica
Regiões e UF´s
Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin
o o o o o o o o o o o o o o o o
BRASIL 19,23 77,10 10,38 89,62 10,49 71,53 50,94 40,98 44,07 53,84 18,72 73,38 22,14 65,77 25,47 63,16
Região Norte 35,45 64,78 16,14 83,86 17,49 82,51 43,33 56,67 52,92 47,08 27,18 72,82 0,35 99,65 46,83 53,17
AC 18,92 81,08 - - 11,59 88,41 65,33 34,67 38,46 61,54 20,00 80,00 - - 37,93 62,07
AM 22,95 77,05 19,40 80,60 - - - - 40,70 59,30 - - - - 11,63 88,37
AP 38,96 63,64 - - 20,32 79,68 - - 51,61 48,39 30,28 69,72 - - - -
PA 44,72 55,28 13,83 86,17 - - 35,18 64,82 55,90 44,10 - - 0,40 99,60 39,60 60,40
RO 20,51 79,49 - - 28,88 71,12 - - 57,42 42,58 - - - 100,00 69,37 30,63
RR 27,59 72,41 - - 13,33 86,67 42,31 57,69 61,90 38,10 - - - - - -
TO 20,37 79,63 - - 5,49 94,51 - - 45,33 54,67 26,32 73,68 - 100,00 - -
Região Nordeste 27,46 72,54 3,94 96,06 10,50 81,18 57,38 42,62 39,22 60,78 3,33 96,67 11,14 49,84 30,96 68,05
AL 9,91 90,09 - - 15,28 84,72 - - 34,85 65,15 3,39 96,61 - - 13,73 66,67
BA 49,03 50,97 - - 12,42 87,58 - - 43,69 56,31 - - - - - -
CE 26,96 73,04 - - - - - - 47,20 52,80 - - 20,34 79,66 27,92 72,08
MA 23,55 76,45 - - - - - - 39,22 60,78 - - 9,57 93,62 32,06 67,94
PB 18,63 81,37 - - 15,93 84,07 52,17 47,83 45,45 54,55 - - 2,81 12,70 41,38 61,38
PE 22,52 77,48 - - 6,97 93,03 - - 22,14 77,86 - 100,00 27,03 72,97 - -
PI 4,65 95,35 3,99 96,01 5,49 94,51 73,33 26,67 31,89 68,11 - - 4,10 95,90 29,73 70,27
RN 16,54 83,46 - 100,00 20,12 79,88 - - 32,81 67,19 - - - - - -
SE 27,78 72,22 - - 21,99 78,01 - - 33,33 66,67 - - - - - -
Região Sul 13,67 86,33 13,32 86,68 - - - - 37,90 62,10 - - 13,21 83,26 29,05 23,61
PR 10,96 89,04 12,84 87,16 - - - - 29,31 70,69 - - - - 18,54 8,84
RS 15,18 84,82 15,65 84,35 - - - - 26,12 73,88 - - 12,05 87,95 - -
SC 15,48 84,52 12,59 87,41 - - - - 70,60 29,40 - - 19,54 80,46 48,73 51,27
Região Sudeste 15,37 84,63 9,53 90,47 5,16 94,84 57,54 42,46 46,84 53,16 20,71 79,29 48,07 51,85 23,86 73,70
ES 24,46 75,54 21,05 78,95 38,66 61,34 71,05 28,95 51,09 48,91 - - 100,00 - 25,81 74,19
MG 20,53 79,47 - - - - - - 60,09 39,91 16,49 83,51 60,98 39,02 22,19 64,90
RJ 16,74 83,26 - - - - 36,79 63,21 39,53 60,47 1,63 98,37 11,20 88,80 22,64 77,36
SP 13,01 86,99 10,94 89,06 1,50 98,50 61,38 38,62 45,67 54,33 23,53 76,47 60,35 39,54 24,58 75,06
Região Centro- 12,82 53,03 - - 9,87 39,22 24,21 24,60 39,22 34,45 3,81 30,47 18,81 81,19 16,17 42,43
Oeste
GO 23,10 76,90 - - - - - - 58,33 41,67 11,11 88,89 15,35 84,65 29,66 70,34
MS 17,60 82,40 - - 19,37 80,63 56,00 44,00 41,44 58,56 - - 28,08 71,92 22,77 77,23
MT 15,75 84,25 - - 29,61 70,39 42,98 57,02 45,41 54,59 - - - - - -
DF - - - - - - - - - - - - - - - -
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil das
Polícias do Brasil".
04- Efetivos Existente dos Policiais Militares, segundo Funções, por Sexo
Polícias Militares
Brasil
2001
Em porcentagem
Aluno da Aluno da
Tenente Aspirante a Escola de Cabo
e Escola de
Coronel Major Capitão Tenente Subtenente Sargento
Coronel Oficial Formação de Soldado
Formação de
Regiões e UF's Oficiais Soldados
Femi Mascu Femi Mascu Mascu Femi Mascu Femi Mascu Femi Mascu Mascu Femi Mascu Femi Mascu Mascu Femi Mascu
Femi- Femi- Femi-
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
nino nino nino
Nino lino nino lino lino nino lino nino lino nino lino lino nino lino nino lino lino nino lino
BRASIL 0,43 99,57 0,70 99,30 2,15 97,85 4,98 95,02 6,01 90,76 8,03 91,66 13,38 84,26 3,16 91,83 4,49 92,46 6,13 90,14 5,39 82,63
Região Norte 0,00 100,00 0,90 99,10 6,39 93,61 16,46 83,54 13,66 86,34 3,17 96,83 2,75 97,25 5,23 94,77 10,50 87,84 9,54 90,46 0,00 0,00
AC 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 3,33 96,67 3,03 96,97 0,00 100,00 0,00 0,00 5,56 94,44 4,35 75,89 7,04 92,96 0,00 0,00
AM 0,00 100,00 0,00 100,00 2,86 97,14 9,41 90,59 9,43 90,57 0,00 100,00 14,29 85,71 19,35 80,65 12,79 85,27 8,02 91,98 0,00 0,00
AP 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 18,75 81,25 2,78 97,22 0,00 100,00 8,33 91,67 0,00 100,00 11,01 88,99 7,24 92,76 0,00 0,00
PA 0,00 100,00 2,13 97,87 12,24 87,76 23,68 76,32 17,82 82,18 0,00 100,00 1,71 98,29 3,01 96,99 14,99 85,01 12,68 87,32 0,00 0,00
RO 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 3,33 96,67 0,00 0,00 0,00 100,00 0,00 100,00 8,53 91,47 0,00 0,00
RR 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 0,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 6,21 93,79 0,00 0,00
TO 0,00 100,00 0,00 100,00 5,00 95,00 7,14 92,86 27,21 72,79 40,00 60,00 0,00 100,00 0,00 100,00 5,88 94,12 4,71 95,29 0,00 0,00
Região 0,00 100,00 0,27 99,73 1,27 98,73 2,83 97,17 4,44 82,95 11,67 86,67 22,92 68,62 0,27 75,34 5,84 80,14 5,21 80,35 3,24 31,85
Nordeste
AL 0,00 100,00 0,00 100,00 1,67 98,33 3,17 96,83 3,69 96,31 0,00 0,00 16,22 83,78 0,00 100,00 8,53 91,47 5,03 94,97 0,00 0,00
BA 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 7,99 92,01 0,00 0,00 29,27 70,73 0,00 100,00 9,95 90,05 11,46 88,54 46,67 53,33
CE 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 - 0,00 0,00 0,00 - 0,00
MA 0,00 100,00 0,00 100,00 1,89 98,11 2,33 97,67 3,02 96,98 0,00 100,00 0,00 100,00 1,69 98,31 2,79 97,21 2,92 97,08 0,00 0,00
PB 0,00 100,00 0,00 100,00 3,23 96,77 7,21 92,79 12,36 87,64 0,00 100,00 12,50 87,50 0,00 100,00 4,01 95,99 4,72 95,28 0,00 0,00
PE 0,00 100,00 1,49 98,51 1,68 98,32 5,06 94,94 1,75 98,25 12,00 88,00 - 100,00 1,39 98,61 7,34 92,66 2,68 97,32 - -
PI - 100,00 - 100,00 4,44 95,56 2,13 97,87 3,33 96,67 14,29 85,71 29,31 70,69 - 100,00 2,84 97,16 0,13 19,30 15,03 84,97
RN - 100,00 - 100,00 - 100,00 3,13 96,88 6,49 93,51 27,78 72,22 27,27 72,73 - 100,00 4,93 95,07 1,41 98,59 - 100,00
SE 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 8,33 91,67 0,00 100,00 0,00 100,00 17,86 82,14 0,00 100,00 1,29 98,71 2,96 97,04 0,00 0,00
Região Sul 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,74 99,26 1,25 98,75 5,65 94,35 0,00 100,00 1,19 98,81 1,83 98,17 1,63 98,37 0,15 99,85
PR 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 1,72 98,28 1,21 98,79 7,45 92,55 0,00 100,00 1,11 98,89 2,15 97,85 2,33 97,67 0,27 99,73
RS - 100,00 - 100,00 - 100,00 - 100,00 - 100,00 - 100,00 - 0,00 - 100,00 - 100,00 - 100,00 - 100,00
SC - 100,00 - 100,00 - 100,00 2,16 97,84 2,37 97,63 - 100,00 - 100,00 1,64 98,36 5,59 94,41 3,15 96,85 - -
Região 1,42 98,58 1,16 98,84 2,62 97,38 5,90 94,10 6,90 93,10 8,08 91,92 13,28 86,72 4,13 95,87 3,75 96,25 8,01 92,33 6,45 93,55
Sudeste
ES 0,00 100,00 0,00 100,00 2,70 97,30 11,27 88,73 16,77 83,23 6,90 93,10 8,16 91,84 1,28 98,72 17,78 82,22 4,25 95,75 0,00 0,00
MG - 100,00 1,06 98,94 3,72 96,28 4,71 95,29 5,36 94,64 8,82 91,18 6,12 93,88 8,94 91,06 4,86 95,14 3,93 96,07 0,00 100,00
RJ - 100,00 - 100,00 1,92 98,08 8,44 91,56 15,20 84,80 29,17 70,83 16,58 83,42 3,67 96,33 1,82 98,18 4,25 96,23 - 100,00
SP 3,70 96,30 3,23 96,77 2,47 97,53 4,76 95,24 4,04 95,96 0,00 100,00 16,13 83,87 1,38 98,62 3,51 96,49 11,11 89,37 10,00 90,00
Região 0,00 100,00 0,69 99,31 1,79 98,21 5,11 94,89 7,21 92,79 9,66 90,34 11,61 88,39 4,00 96,00 5,62 94,59 4,91 95,09 13,43 86,57
Centro-Oeste
GO 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 8,18 91,82 7,77 92,23 5,26 94,74 8,33 91,67 1,27 98,73 6,53 93,47 5,01 94,99 8,70 91,30
MS - 100,00 - 100,00 4,17 95,83 - 100,00 3,52 96,48 - 100,00 - 100,00 5,48 94,52 6,32 93,68 5,23 94,77 - -
MT - 100,00 3,57 96,43 0,00 100,00 2,63 97,37 8,07 91,93 16,67 83,33 - - 4,62 95,38 3,53 99,65 4,44 95,56 - -
DF 0,00 100,00 0,00 100,00 2,56 97,44 5,29 94,71 7,55 92,45 9,35 90,65 17,95 82,05 6,20 93,80 5,00 95,00 4,88 95,12 24,00 76,00
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da Polícias do Brasil".
Quando em foco estão os dados sobre gênero e funções, nota-se profundas diferenças
entre as Polícia Civil e Militar. Nas tabelas acima, pode-se observar que nas Polícias Militares e
existência de oficiais do sexo feminino é fenômeno bastante recente. Apenas o Estado de São
Paulo conta, de acordo com os dados informados, com mulheres exercendo a função de
Coronel PM. Em contrapartida, tanto em São Paulo como nas demais unidades da federação,
percebe-se que o percentual de oficiais mulheres vai aumentando conforme o nível de carreira
vai diminuindo. Esse fenômeno, por conseguinte, indica que a entrada das mulheres na
carreira policial militar está alterando o perfil do efetivo, mas que apenas no tempo é que será
possível ter um maior equilíbrio entre os sexos.
Já no caso das Polícias Civis, a existência de mulheres em níveis mais elevados
parece indicar o mesmo fenômeno observado para as Polícias Militares, mas também que a
composição por sexo dessa corporação influencia-se pelo fato de existirem carreiras
independentes, ou seja, as mulheres já ingressam numa função de nível superior (Delegadas,
por exemplo). Nesse caso, vale considerar que, nos últimos anos, o Brasil tem assistido a uma
maior participação da Mulher no Ensino Superior e isso tem permitido um maior acesso a
carreiras antes dominadas por homens. Segundo os dados desagregados, o Estado da Bahia é
aquele com maior proporção de delegadas, com 49% do efetivo sendo do sexo feminino. Em
Pernambuco, entretanto, as mulheres representam 4,7% dos Delegados de Polícia Civil. No
âmbito nacional, a função de Papiloscopista caracteriza-se como predominantemente ocupada
por mulheres. Nela, 50,9% do efetivo é de mulheres. As exceções ficam por conta do Pará e de
Rio de Janeiro, com, respectivamente, 64,8% e 63,2% de homens exercendo tal função.
05 - Distribuição dos Efetivos Masculino e Feminino, segundo Tipo de Função
Polícia Civis e Militares
Brasil
2001
Em porcentagem
Efetivo Existente Efetivo em Funções Administrativas Efetivo em Funções Operacionais
Regiões e UF´s Polícia Civil Polícia Militar Polícia Civil Polícia Militar Polícia Civil Polícia Militar
Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino
BRASIL 22,89 77,11 6,02 93,98 45,11 54,89 9,97 90,03 22,63 77,37 4,51 95,49
Região Norte 26,81 73,19 9,66 90,34 35,53 64,47 12,26 87,74 25,76 74,24 8,70 91,30
AC 19,32 80,68 6,53 93,47 47,22 52,78 19,43 80,57 71,88 28,13 4,86 95,14
AM 21,40 78,60 8,56 91,44 38,44 61,56 22,90 77,10 13,35 86,65 5,96 94,04
AP 28,34 71,66 7,46 92,54 40,00 60,00 10,50 89,50 27,86 72,14 6,68 93,32
PA 28,69 71,31 12,94 87,06 - - 9,12 90,88 29 71 14,53 85,47
RO 37,41 62,59 5,78 94,22 27,93 72,07 18,40 81,60 29,96 70,04 4,81 95,19
RR 23,79 76,21 3,90 96,10 - - 22,22 77,78 - - 3,47 96,53
TO 19,33 80,67 5,82 94,18 48,28 51,72 2,97 97,03 18,93 81,07 6,08 93,92
Região Nordeste 18,48 81,52 6,16 93,84 24,86 75,14 8,88 91,12 15,13 84,87 4,09 95,91
AL 17,44 82,56 5,42 94,58 25,91 74,09 2,38 97,62 17,44 82,56 1,29 98,71
BA 20,94 79,06 11,14 88,86 33,92 66,08 16,56 83,44 20,24 79,76 11,08 88,92
CE 28,04 71,96 0,00 100,00 46,76 53,24 - - 25,93 74,07 - -
MA 26,88 73,13 2,84 97,16 - - 0,00 100,00 - - 3,05 96,95
PB 24,78 75,22 4,93 95,07 37,30 62,70 36,84 63,16 27,06 72,94 1,39 98,61
PE 9,69 90,31 3,18 96,82 - - - - - - - -
PI 10,34 89,66 4,93 95,07 65,45 34,55 - - 7,31 92,69 - -
RN 20,43 79,57 2,12 97,88 - - 7,97 92,03 - - 0,77 99,23
SE 23,48 76,52 2,74 97,26 - - - - - - - -
Região Sul 22,47 77,53 1,57 98,43 63,82 36,18 3,27 96,73 18,55 81,45 1,41 98,59
PR 18,80 81,20 2,15 97,85 - - 2,76 97,24 - - 2,05 97,95
RS 17,63 82,37 - - 76,71 23,29 - - 50,03 49,97 - -
SC 35,55 64,45 3,34 96,66 68,76 31,24 13,67 86,33 22,49 77,51 2,68 97,32
Região Sudeste 23,33 76,67 6,98 93,02 48,15 51,85 10,79 89,21 26,36 73,64 5,19 94,81
ES 34,04 65,96 6,98 93,02 54,22 45,78 20,44 79,56 65,11 34,89 3,88 96,12
MG 35,32 64,68 4,25 95,75 - - 16,78 83,22 - - 1,91 98,09
RJ 25,23 74,77 3,52 96,48 - - - - - - - -
SP 25,94 74,06 9,57 90,43 48,07 51,93 18,64 81,36 24,03 75,97 8,51 91,49
Região Centro-Oeste 27,04 72,96 5,18 94,82 35,39 64,61 12,64 87,36 25,87 74,13 3,75 96,25
GO 33,89 66,11 5,35 94,65 25,27 74,73 29,43 70,57 25,35 74,65 3,13 96,87
MS 26,00 74,00 5,15 94,85 20,75 79,25 - - 26,20 73,80 - -
MT 31,31 68,69 4,47 95,53 75,22 24,78 - - 26,58 73,42 - -
DF - - 5,25 94,75 - - 7,93 92,07 - - 5,35 94,65
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da Polícias do Brasil".
Ainda em relação à distribuição do efetivo por sexo, a tabela 05, acima, indica que o
efetivo feminino é bastante empregado nas funções administrativas das duas Polícias. Nessa
linha, chama atenção o Estado do Pará, no qual 14,5% do efetivo operacional da Polícia Militar
é composto de mulheres. Esse percentual é mais de três vezes superior à média nacional,
onde apenas 4,5% do efetivo operacional das PMs é composto por mulheres. No caso de
funções administrativas, a Paraíba se destaca por ter entre o efetivo alocado em tais funções
37% de mulheres. Nas Polícias Civis, observa-se que nos Estados do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina as mulheres são responsáveis por cerca de 2/3 (dois terços) de todo efetivo
envolvidos em funções administrativas. Pode-se, portanto, avaliar que o aumento do efetivo
feminino nas Polícias tem ocorrido, mas de forma a substituir os homens alocados em funções
administrativas. A participação de mulheres nos efetivos operacionais das Polícias ainda é
baixo e existem poucas exceções.
PROTEÇÃO INDIVIDUAL
No que tange a análise dos efetivos policiais, por fim, coube investigar alguns
indicativos das condições de trabalho existentes. Assim, uma das questões que surge
atualmente em razão do movimento ascendente da criminalidade violenta é aquela sobre o uso
de equipamentos pessoais de proteção. A tabela 06, acima, traz a relação entre coletes à
prova de balas e efetivos operacionais existentes. Trata-se de uma primeira aproximação e,
dessa forma, várias outras abordagens poderão ser feitas com base no conjunto de tabelas
disponíveis. Segundo a tabela 06, portanto, nota-se que a média nacional de 4,5 policiais
militares em atividade operacional para cada colete disponível. Contudo, na desagregação dos
dados por Unidades da Federação percebe-se que tal proporção oscila bastante. Como
exemplo, verifica-se que São Paulo dispõe de um colete para cada 2,5 policiais militares em
função operacional. Já Mato Grosso dispõe de 1 colete à prova de balas para cada 63,3
policiais militares em função operacional. Analisando apenas a relação entre coletes à prova de
bala e efetivo operacional nas Polícias Civis, observa-se uma situação diversa daquela
observada para as Polícias Militares. Existe uma média nacional de 1 colete para cada 5,2
policiais civis, com destaque para Piauí e Paraíba, com, respectivamente, 1 policial para cada
grupo de 74,4 e 63,2 policiais civis. Vale considerar, no entanto, que constitucionalmente cabe
às Polícias Civis a atividade de investigação e o uso de equipamentos de proteção individual
como os Coletes à Prova de Bala identificaria o policial. Nesse sentido, esta análise tem que
ser relativizada.
VIATURAS POLICIAIS
Na tabela 7, acima, pôde-se constatar que as Polícias Militares do Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul possuem frota de veículos e aeronaves descaracterizada em proporções bem
superiores à média nacional (5,6% do total de viaturas). Nesses dois estados, existem,
respectivamente, 13,6% e 10,5% de viaturas policiais militares descaracterizadas. Esses
números podem indicar a existência de mais unidades de operações especiais que exigem este
tipo de viatura, bem como podem indicar as opções de política de segurança adotadas por
essas e por outras Unidades da Federação, num processo de fortalecimento dessa corporação.
Em relação à Polícia Civil, Alagoas é a Unidade da Federação que possui maior proporção de
viaturas descaracterizadas em relação ao total de veículos existente. Nesse estado, 84% das
viaturas da Polícia Civil não possui nenhuma identificação policial.
DESPESAS REALIZADAS
A tabela 8 faz uma comparação entre o percentual de despesas realizadas por cada
uma das corporações policiais e o percentual de participação delas no total de efetivos
existentes. Por este procedimento, nota-se que as despesas nem sempre acompanham a
distribuição dos efetivos. Em algumas Unidades da Federação, como São Paulo e Goiás, as
Polícias Militares gastam, proporcionalmente, mais do que as Polícias Civis. Em São Paulo, a
Polícia Militar é responsável por 77,1% das despesas realizadas, enquanto seu efetivo totaliza
71,1% dos policiais paulistas. Já em Goiás, a proporção de despesas realizadas pela PM, em
relação ao total, é de 91,6% e o de efetivo existentes é de 87,1%. Em contrapartida, na maioria
das demais Unidades da Federação, as Polícias Civis gastam mais do que as Militares, quando
levados em consideração os efetivos existentes. Ressaltada a possibilidade de lacunas no
preenchimento do questionário encaminhado pela Secretaria Nacional de Segurança, observa-
se, por exemplo, os casos de Amapá e de Mato Grosso, onde a Polícia Civil havia sido
responsável, respectivamente, por 65,5% e 31,6% das despesas realizadas com as duas
Polícias e por 27,7% e 25,9% do efetivo total existente.
BRASIL 6,96
A tabela 12 faz uma comparação entre os efetivos das Guardas Municipais, Polícias Militares e Civis
por Região e Unidade Federada. Utilizou-se o efetivo de Guardas Municipais informados pelas
Secretarias Estaduais de Segurança Pública para o ano de 2001. Vale considerar que, após a
liberação de verba do Fundo Nacional de Segurança Pública, houve um aumento no número de
Guardas Municipais e que constituem uma das principais medidas das Prefeituras do país na
incorporação do tema Segurança Pública na pauta de ações municipais. Nesse sentido, chama
atenção que em Alagoas e Ceará, onde a Polícia Civil é responsável, respectivamente, por 12,43% e
14,19% do efetivo total do estado, as Guardas Municipais representam 11,70% e 13,61%. Já em São
Paulo, também pode ser observada a semelhança entre os efetivos da Polícia Civil e das Guardas
Municipais e, ainda, que o efetivo das Guardas Paulistas é superior ao dobro do efetivo total da
Polícia Federal. No Rio de Janeiro ocorre uma inversão na tendência das Unidades Federadas do
Brasil, nota-se que o efetivo das Guardas é superior ao da Polícia Civil, respondendo,
respectivamente, por 17,55% e 9,37% do total do estado.
Em Percentagem
Regiões e UF´s Polícias Militares Polícias Civis
BRASIL 4,57 6,04
Região Norte 2,85 2,41
AC 4,43 46,88
AM 7,25 0,00
AP 4,11 9,60
PA - -
RO 4,09 3,22
RR - -
TO 1,39 0,54
Região Nordeste 4,13 4,30
AL 6,53 -
BA 5,82 3,44
CE - 0,99
MA 2,68 -
PB 7,85 9,81
PE - 0,78
PI - 3,70
RN 7,88 -
SE - -
Região Sul 10,54 9,66
PR 16,14 7,78
RS 12,64 15,22
SC 19,57 7,88
Região Sudeste 3,33 5,81
ES - 0,70
MG 11,24 -
RJ 3,10 -
SP 5,16 5,62
Região Centro-Oeste 3,44 10,43
GO 5,02 2,95
MS - 12,64
MT 9,42 13,73
DF 0,43 -
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa
"Perfil da Polícias do Brasil".
apresentam uma porcentagem maior de equipamentos por policiais do que às Polícias Civis,
representando, respectivamente, por 19,57% e 7,88% para o primeiro e 16,14% e 7,78% para o
segundo estado.
Na tabela 14, acima, estão representados os números de municípios com Conselhos Comunitários de
Segurança que as Polícia Civis e Militares tem conhecimento. Observa-se, apesar de várias lacunas
no preenchimento, que somente em alguns estados as duas Polícias tem conhecimento do mesmo
número de municípios com conselhos (Ceará e Amazonas, por exemplo). No Paraná, a Polícia Civil
68
informa 112 municípios com conselhos enquanto que a Polícia Militar informou somente 58
municípios. Em São Paulo existe uma inversão, do total de 645 municípios do Estado, a Polícia Militar
conhece um número maior de municípios com conselhos do que a Polícia Civil, respectivamente, 552
e 405 municípios.
POLÍCIA COMUNITÁRIA
GO - -
MS - -
MT Aumentou a sensação de segurança-
da comunidade
DF Aumentou a sensação de segurançaAumentou a sensação de segurança da
da comunidade comunidade
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil das Polícias
do Brasil".
ATOS DISCIPLINARES
-35.69
Região Centro-Oeste 349.48
BRASIL 7.58
38.71
-100.00 -50.00 0.00 50.00 100.00 150.00 200.00 250.00 300.00 350.00 400.00
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil das Polícias
do Brasil".
A tabela 16 e o gráfico 1, acima, trazem os atos administrativos e disciplinares pelos quais policiais
civis e militares estão respondendo em seus estados, nos anos de 1999 e 2000. Foram agregadas as
sindicâncias, os processos administrativos, as punições administrativas, os inquéritos e condenações
por concussão e os atos de corrupção passiva e violência. Nota-se uma tendência de aumento dos
atos administrativos/disciplinares nas Polícias Militares. Num sentido oposto, em 9 estados as
Polícias Civis reduziram seu número entre os anos de 1999 e 2000. Observa-se na Polícia Militar do
Paraná uma variação de 8,21% entre os dois anos, porém pode-se notar que o número de atos
administrativos/disciplinares nos dois anos é elevado em relação ao Brasil, sendo 2291 e 2479
respectivamente. Na Polícia Militar de Goiás houve uma variação de 1.084,88%, passando de 86 atos
em 1999 para 1019 atos em 2000, enquanto que na Polícia Civil dos mesmos estados observa-se
uma redução de 54,19% nos atos administrativos/disciplinares nos dois anos. Na Paraíba nota-se
uma tendência de aumento semelhante entre as duas Polícias, onde a Polícia Militar teve um
aumento de 25% e a Polícia Civil de 22,22%; o mesmo ocorre em São Paulo onde as Polícia Civil e
Militar tiveram um aumento, respectivamente, de 10,15% e 8,41%. Em relação às regiões, nota-se
uma discrepância entre as Polícia Civis e Militares da Região Centro-Oeste, onde a variação dos atos
administrativos corresponde, respectivamente, a uma redução de 35,69 e um aumento de 349,48%
71
Cabe ressaltar que é necessário levar em consideração os efetivos de cada Unidade Federada, onde
no total Brasil a Polícia Militar responde por 78,50% e a Polícia Civil por 21,50, das Polícias
Estaduais.
72
Introdução.
O objetivo desse estudo é estimar o número total de civis mortos e feridos pela polícia e
também de policiais feridos e mortos no Brasil; analisar os indicadores que possam detectar um uso
excessivo da força em cada estado; e explorar as dimensões que possam estar associadas a uma
maior letalidade dos confrontos policiais.
As bases de dados da SENASP sobre os estados, sobre as quais será realizada a pesquisa,
foram coletadas recentemente pela primeira vez na história. Todavia, a SENASP não dispõe de
nenhum mecanismo para garantir a qualidade dos dados, visto que eles foram enviados pelos
estados e não houve ainda um acompanhamento do processo pelo qual as informações foram
coletadas e processadas em cada unidade da federação. Em função disso, há a possibilidade de os
dados conterem problemas de validade e confiabilidade — desde erros no preenchimento até o uso
categorias diferentes para o mesmo conceito em cada estado— e isto também será objeto de análise
no presente relatório.
O relatório está dividido em quatro partes. A primeira analisa as informações solicitadas pela
SENASP, refletindo sobre os conteúdos e limitações das mesmas tal como aparecem nos
questionários enviados aos estados. A segunda corresponde a um teste da qualidade dos dados. Isto
é, está dedicada à realização de análises de consistência para revelar possíveis deficiências na
validade e confiabilidade nos dados enviados pelos estados. Evidentemente, essas análises serão
limitadas aos dados utilizados na presente pesquisa, pois a execução de testes de consistência sobre
todas as informações contidas nas bases da SENASP comportaria um tempo muito prolongado. A
terceira parte analisa os dados disponíveis e apresenta conclusões provisórias. A quarta e última
parte oferece recomendações para o futuro.
73
21
Um pequeno teste de consistência realizado mostra que o número de vítimas da Polícia Técnica é inferior, em
todos os casos, ao número de vítimas registrado na Polícia Civil, o que abonaria a hipótese de que a primeira
seria um subconjunto da segunda.
74
necessária para que cada força policial considere um caso como um ferido. Algumas polícias podem
categorizar como feridos apenas os casos mais graves que precisem de hospitalização, enquanto
outras podem incluir vítimas de escoriações ou lesões menores. O desconhecimento dos métodos e
critérios seguidos em cada estado lança dúvidas, por exemplo, sobre a interpretabilidade das
comparações entre mortos e feridos.
Outro ponto que precisa ser esclarecido é o que cada estado incluiu realmente no conceito de
pessoas mortas e feridas “por policiais fora de serviço”. Em alguns estados, essa cifra pode estar
considerando apenas os casos de suspeitos vitimados por policiais que reagiram a um delito
flagrante. Em outros estados, ela pode estar contemplando também as mortes e ferimentos
provocados por policiais em conflitos de ordem privada (com conhecidos, familiares, etc.). A princípio,
o questionário solicita o total de mortes e ferimentos fora de serviço e, portanto, todos os casos de
qualquer índole deveriam estar incluídos, mesmo na ausência de orientações mais específicas. No
entanto, sabemos que os sistemas de registro de informações das polícias costumam ser muito
limitados e restringem a possibilidade de uma contagem rápida dos casos de um ou outro tipo. Muitas
corporações policiais simplesmente ignoram o número de pessoas que matam a cada ano, o que
reflete tanto a deficiência dos seus registros quando uma visão da segurança pública na qual as
vítimas são uma simples externalidade do trabalho policial. Algumas forças policiais criaram uma
categoria para designar as mortes de suspeitos em confronto com policiais —como os denominados
“autos de resistência”— de forma a separá-las dos homicídios dolosos, embora a classificação legal
das mesmas continue sendo a mesma22. Nos estados em que existe este tipo de categoria, as
polícias podem reunir e quantificar com relativa facilidade todos os casos classificados desse modo.
No entanto, os episódios ‘privados’ em que um policial mata ou fere a um vizinho ou um amigo são
classificados da mesma forma que o seriam se o autor não fosse policial e, em conseqüência, a
quantificação desses casos para os sistemas de informações policiais é muito mais difícil. Portanto, é
possível que alguns estados tenham respondido à pergunta com o número de, digamos, “autos de
resistência” em que o policial estava de folga, deixando de lado os conflitos interpessoais dos policiais
que são muito mais complicados de serem obtidos.
Por último, o questionário não esclarece o que fazer com as pessoas vitimadas em operações
nas quais participaram, simultaneamente, policiais civis e militares. Assim, existe o risco de que essas
vítimas sejam registradas tanto entre as provocadas pela Polícia Civil quanto pela Militar, provocando
um aumento artificial dos casos após a agregação dos casos das duas corporações.
O esclarecimento dessas questões e a correta interpretação dos dados exigiria, mais uma
vez, um conhecimento dos métodos e critérios seguidos por cada estado no processamento dos seus
registros. De qualquer forma, seria importante obter de forma separada as vítimas de intervenções
policiais e as vítimas de atuações dos policiais no âmbito privado. A melhor forma de se fazer isto
seria conhecer como as mortes e ferimentos foram classificados pela própria polícia —homicídio
doloso, auto de resistência, etc.—, mas isto exigiria um estudo mais profundo das categorias usadas
pelos estados.
O panorama para estudar a vitimização sofrida por policiais é mais sombrio, porque os
questionários da SENASP não indagam sobre o número de policiais feridos e mortos, muito menos
sobre policiais feridos e mortos em confronto. A única informação disponível nesse sentido é o
número de policiais civis, de policiais militares e de bombeiros falecidos nos anos de 1999 e 2000.
Como não se especificam as condições dessas mortes, é impossível distinguir acidentes ou mortes
por doença de homicídios. Essa é uma informação crucial que foi perdida. A única coisa que pode ser
analisada é a taxa de mortalidade dos policiais em comparação com a da população geral, mas
sendo cientes de que ela inclui todo tipo de causas. A vantagem das informações sobre policiais
falecidos, em comparação com as de civis falecidos, é que elas devem ter sido retiradas dos registros
de pessoal das polícias —que obviamente precisam saber do falecimento dos policiais para efeitos
administrativos— e, portanto, devem apresentar uma confiabilidade muito superior.
Curiosamente, a única corporação sobre a que se perguntou o número de agentes feridos e
mortos em serviço foi o Corpo de Bombeiros. Não deixa de ser estranho que a mesma informação
não tenha sido solicitada das polícias. Outro fato surpreendente é que o questionário requisita
informação sobre o número de policiais civis, policiais militares e bombeiros que foram vítimas de
suicídio nos anos de 1999 e 2000, o que permite uma comparação das taxas de suicídio dos policiais
com as da população geral. Entretanto, não é solicitada a mesma informação sobre homicídios.
Um dado fundamental que pode ser obtido das planilhas da pesquisa da SENASP é o número
de efetivos de cada corporação, que deve ser usado para ponderar a incidência dos fenômenos
estudados. Embora a pergunta não contenha nenhuma referência temporal concreta, podemos
assumir que os efetivos estão referidos ao ano de 2001 em que foram respondidos os questionários.
22
Quando a polícia age dentro da legalidade, esse tipo de fatos apresenta excludente de ilicitude por legítima
defesa, mas isto não muda sua qualificação penal de homicídio doloso.
75
A primeira conclusão que pode ser extraída desses dados é que os sistemas de informação
da Polícia Civil são muito mais deficientes do que os da Polícia Militar ou os do Corpo de Bombeiros.
A situação é dramática no que se refere às pessoas mortas e feridas por policiais. Enquanto a maioria
das Polícias Militares informa o número de vítimas provocado por seus agentes, a grande maioria das
Polícias Civis não faz idéia dos mortos e feridos decorrentes das ações dos seus membros.
76
Como era de se esperar, a informação sobre os efetivos é de muita maior qualidade, mas a
Polícia Civil continua apresentando um maior número de estados sem informação. Tão somente no
caso de policiais falecidos a Polícia Civil pode ser comparada às outras corporações.
Em suma, os dados sobre pessoas mortas e feridas por policiais estão prejudicados,
particularmente no relativo à Polícia Civil, pela ausência de muitas informações. Os dados sobre
suicídios e, especialmente, sobre falecimentos de agentes apresentam um quadro mais positivo. E os
dados sobre efetivos são os mais exaustivos.
O primeiro teste de consistência realizado foi conferir os dados mensais por estado para cada
tipo de vítima, para ver se eram coerentes. Em geral, não há valores que destoem fortemente dos
meses precedentes ou futuros. Por outro lado, os números de pessoas feridas e mortas pela polícia
não são muito diferentes nos diversos meses do ano, como pode ser verificado nos próximos
gráficos.
Quando há um mês com um resultado mais divergente dos outros —como o número de
feridos fora de serviço no mês de novembro, que é inferior ao resto dos meses— ele não aponta um
padrão de sazonalidade claro. No caso dos mortos fora de serviço, as discordâncias são maiores e há
vários meses com um média superior —maio, julho, setembro e dezembro—, mas eles também não
conformam um padrão de sazonalidade aparente.
GRÁFICO 1
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
,5
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SEP OUT NOV DEZ
77
GRÁFICO 2
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
,5
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SEP OUT NOV DEZ
GRÁFICO 3
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
,5
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SEP OUT NOV DEZ
GRÁFICO 4
78
2,0
1,8
1,6
Média Mensal
1,4
1,2
1,0
,8
,6
,4
,2
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SEP OUT NOV DEZ
Assim, embora as séries temporais são curtas demais para realizar testes rigorosos de
sazonalidade através do cálculo de auto-correlações, não parece haver um padrão claro nem
consistente de sazonalidade nesses números, e as variações parecem responder a flutuações
aleatórias.
Alguns estados não informavam dos dados mês a mês, mas informavam o total anual,
provavelmente porque o modo de coleta de dados dificultava a decomposição mensal dos mesmos.
Por outro lado, foi detectado que a base de dados continha dois estados —Rio Grande do Norte e
Paraná— nos quais apareciam simultaneamente os registros mensais e os totais anuais. A soma das
cifras mensais correspondia nesses dois casos, de fato, ao total anual. No entanto, é importante
alertar para este ponto, pois se um analista for consolidar os totais dos estados a partir dos registros,
tal como eles estão na base, os números desses dois estados seriam artificialmente duplicados.
Um outro teste de consistência realizado foi a comparação entre os totais de cada estado
para cada tipo de vítima nos anos 1999 e 2000, procurando discrepâncias entre os dois anos que
pudessem indicar algum tipo de erro. Em geral, os valores dos dois anos parecem razoavelmente
compatíveis, com algumas exceções. Os casos de diferenças entre os dois anos com intensidade
suficiente para levantar suspeitas quanto a sua validade foram os seguintes.
TABELA 2
Estados com Resultados Discrepantes entre os Anos 1999 e 2000
ESTADO TIPO DE VÍTIMA ANO ANO 2000
1999
Distrito Federal Pessoas Feridas por Policiais Militares em Serviço 55 9
Pará Pessoas Feridas por Policiais Militares em Serviço 0 17
Pará Pessoas Feridas por Policiais Militares fora de Serviço 0 13
Distrito Federal Pessoas Mortas por Policiais Militares em Serviço 12 48
Pará Pessoas Mortas por Policiais Militares em Serviço 4 24
Isto não significa que esses números estejam necessariamente errados, mas seria
conveniente revisá-los e confirmá-los junto aos estados.
O primeiro passo será estudar as vítimas fatais. Como foi mostrado na Tabela 1, um total de
20 estados informam dessas mortes quando os policiais militares estão em serviço e um total de 16
quando estão fora de serviço. Os dados são os seguintes.
80
TABELA 3
AC 0 0 0
AL , , ,
AM 1 3 4
AP , , ,
BA 88 20 (9) 108 (*)
CE , , ,
DF 48 0 48
ES 34 12 46
GO , , ,
MA 6 8 14
MG 48 20 68
MS 4 (3) 4 (4) 8 (*)
MT , , ,
PA 24 11 35
PB 1 2 3
PE 36 15 51
PI 2 (2) , 2 (*)
PR 52 46 98
RJ 248 , 248
RN 2 1 3
RO 3 (3) , 3 (*)
RR 0 0 0
RS 4 , 4
SC , , ,
SE , , ,
SP 524 173 697
TO 2 0 2
A primeira conclusão é que, na maioria dos estados em que existe um número significativo de
vítimas, as vítimas mortais durante o serviço superam em muito as vítimas no período de folga,
embora, como já foi dito, o conceito de “fora de serviço” tal como foi operacionalizado aqui pode variar
de estado para estado. Com efeito, o número total de vítimas fatais durante o serviço, considerando
todos os estados, é de 1.127, e o número durante a folga é pouco mais de um quarto, embora essa
diferença deva ser relativizada pelo fato de que o número de estados que informa das mortes durante
a folga é menor do que durante o serviço. Dois estados são responsáveis por mais de dois terços dos
casos: Rio de Janeiro e, especialmente, São Paulo. Contudo, trata-se de estados de grande
população e nos quais o efetivo policial é numeroso. Portanto, é preciso obter as taxas por policial e
por habitante para poder interpretar melhor os resultados.
De acordo com essas cifras, o número total de mortos ocasionados pela Polícia Militar no ano
2000 foi de 1.442, mas esse total está claramente subestimado porque faltam estados por mandarem
81
seus dados e porque vários estados não forneceram informações para todos os meses do ano.
Posteriormente, será elaborada uma estimativa do número total anual de vítimas mortais no Brasil.
No caso do estado do Rio de Janeiro, dispomos de dados correspondentes aos denominados
“Autos de Resistência” —usados, como já foi explicado, para definir situações em que um policial
mata um suspeito de cometer crimes— diretamente da Secretaria de Segurança, que podem servir
para contrastar os números recebidos através da SENASP. Embora esses números de Autos de
Resistência não estejam divididos pela corporação (PM e PC), pesquisas anteriores nos permitem
afirmar que a grande maioria deles, acima do 80%, é protagonizada por policiais militares (Cano,
199723). Da mesma forma, ficou constatado que mais de 80% dos casos corresponde a policiais em
serviço. No ano 2000, a Secretaria informa um total de 427 mortes por “Autos de Resistência”, o que
é um número superior ao esperado se o comparamos com as 248 mortes registradas pela SENASP 24.
Todavia, o problema é maior em relação a 1999. A SENASP registra nesse ano um total de 279
mortes por policiais militares em serviço no estado, enquanto o número de mortes por autos de
resistência no estado é de 289. Como o número da SENASP não inclui os casos da Polícia Civil, 279
parece um número excessivamente alto para um total de 289 das duas corporações. Mais importante
ainda, a trajetória dos “Autos de Resistência” é de forte aumento em 2000 em comparação com o ano
anterior —427 contra 289— enquanto que a SENASP aponta uma diminuição no último ano —248
contra 279. Isto levanta mais dúvidas sobre a qualidade dos dados e enfatiza a necessidade de um
acompanhamento do modo como eles foram produzidos.
Como foi mencionado anteriormente, é preciso recorrer a ponderações para avaliar a
importância dos dados de cada estado. As duas ponderações mais importantes dizem respeito ao
tamanho do efeito policial e à população. Assim, precisamos calcular o número de mortes para cada
10.000 policiais e para cada 100.000 habitantes, com o objetivo de podermos comparar estados
muito populosos e com polícias de grandes dimensões com estados pequenos e polícias mais
reduzidas. Dado que o número de estados que comunicam mortes de folga e menor e que há dúvidas
sobre a interpretação que cada um deles faz do conceito “fora de serviço”, calcularemos ambas as
ponderações apenas para os mortos durante o serviço policial. Por outro lado, além das vantagens
metodológicas, esses indicadores permitirão avaliar de forma mais precisa o trabalho policial,
independentemente do que acontecer na folga, durante a qual muitos policiais exercem como
seguranças privados, com o risco subseqüente de confrontos armados. A população corresponde a
uma estimativa do IBGE, fornecida pelo Ministério da Saúde, da população residente em cada estado
no ano 2000. Os efetivos das Polícias Militares, que estão referidos a 2001, foram obtidos da própria
pesquisa da SENASP, como foi anteriormente relatado. Essa diferença de um ano para os dados do
efetivo não deve alterar os resultados de forma significativa, porque os efetivos costumam aumentar
ou diminuir lentamente.
Para tentar diminuir o problema dos estados que apresentam apenas alguns meses foi feita
uma extrapolação para o resto do ano, supondo que todos os meses possuem o mesmo peso, o que
como já foi revelado é uma suposição razoável. Dessa forma, se um estado enviou apenas 6 meses,
o valor desses meses é multiplicado por dois para chegar na estimativa anual; se informou 3 meses o
valor é multiplicado por 4; e se registrou apenas 2 meses, ele é multiplicado por 6. As novas taxas
assim corrigidas foram usadas para relacionar a letalidade policial com outras dimensões.
Os resultados das duas ponderações são apresentados na seguinte tabela.
TABELA 4
23
Cano, Ignacio (1997) Letalidade da Ação Policial no Rio de Janeiro. ISER.
24
Supondo, com base na pesquisa mencionada, que um mínimo de aproximadamente 70% dos 427 casos
correspondam a policiais militares em serviço, esperaríamos não menos de 299 casos desse tipo registrados na
SENASP.
82
A grande maioria dos estados apresentam uma taxa de mortos por 1000.000 habitantes
inferiores a 1. Destacam, com valores superiores a 1, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro e,
particularmente, o Distrito Federal. Isto comprova a necessidade da ponderação para avaliar as cifras,
pois o Distrito Federal, que não apresentou muitos casos em termos absolutos, revela-se como um
estado com um sério problema de letalidade policial uma vez considerada a população. Por sua vez,
São Paulo, que em valores absolutos era o estado mais dramático, encontra-se superado pelo Rio de
Janeiro e pelo Distrito Federal em termos relativos. Embora os valores das taxas possam parecer
baixos, eles são na realidade bastante elevados, considerando que não incluem mortes na folga nem
aquelas provocadas por policiais civis. Para contextualizar esses valores, vale lembrar que vários
países no mundo apresentam taxas de homicídio —totais, independentemente do autor— inferiores a
1 por 100.000 habitantes e muitos países possuem taxas inferiores a 5.
A média geral do indicador para o Brasil foi calculada tomando em conta apenas os estados
que mandaram informação sobre vítimas, e o seu valor é 0,82.
A ponderação pelo número de policiais mostra vários estados com menos de 1 morto para
cada 1.000 policiais militares, alguns estados com valores entre 1 e 3, e um grupo de estados com
valores superiores a 3: Bahia, Distrito Federal, Rondônia e Espírito Santo. Ainda na frente desses
estados estão São Paulo, com mais de 6, e o Rio de Janeiro, com mais de 7. Isto significa que a
experiência de participar em confrontos letais é muito mais comum para os policiais militares do Rio e
de São Paulo do que para os policiais dos outros estados. A pesquisa anteriormente mencionada
sobre a letalidade policial no Rio de Janeiro (Cano, 1997) mostrou que alguns policiais tendem a
concentrar um alto número de eventos com resultado de morte. Mesmo assim, se extrapolamos essa
taxa de 6 ou 7 mortes por 1.000 policiais durante 20 ou 25 anos de vida profissional, obtemos que
uma proporção significativa dos PMs desses dois estados terá participado alguma vez de um
confronto letal no final da sua vida profissional. Isto possui com certeza uma grande influência na
conformação da cultura e da identidade policiais nesses estados e, provavelmente, significa que
esses policiais estão submetidos a situações de alto risco, com o estresse subseqüente.
Quando são comparados para cada estado os valores das duas ponderações, a que usa a
população e a que usa o número de policiais, o resultado é muito similar nos dois casos, como mostra
o gráfico seguinte.
83
GRÁFICO 5
2,5 DF
2,0 RJ
SP
1,5
ES
1,0 RO
BA
PR
PE
PA
,5
MG
TOMA
RN
AM
PB
RS
AC
RR
0,0
-,5
-2 0 2 4 6 8
O único caso discrepante é o Distrito Federal, que é o estado com maior número de policiais
militares por habitante. Em Brasília, a ponderação por habitantes mostra um resultado muito mais
dramático do que a ponderação por policiais, em função do alto número desses últimos.
De qualquer forma, a ponderação mais importante desde o ponto de vista teórico é a de
mortes por habitantes, já que ela revela qual será a incidência real da letalidade policial na população.
Por outro lado, o número de habitantes é mais estável do que o número de policiais, que pode
aumentar ou diminuir num prazo mais breve, provocando assim maiores oscilações na taxa
respectiva.
Os estados com taxas mais altas de mortes, particularmente aqueles com altas taxas de
mortes para cada 1.000 policiais militares, parecem ser em geral estados com altas taxas de
homicídio. De fato, uma das explicações tradicionais das polícias para seus altos níveis de letalidade
é a intensidade da violência geral no lugar onde elas atuam. Não pode ser negado que esse é um
fator muito relevante.
Assim, uma primeira comparação que precisa ser feita é a da letalidade policial com a taxa de
homicídios de cada estado. Os registros de homicídios possuem duas fontes diferentes: os registros
policiais e as certidões de óbito processadas pelo Ministério da Saúde. Cada uma delas apresenta
problemas próprios de confiabilidade e validade, mas a segunda é considerada, por diversas razões,
mais confiável para estimar o número real de homicídios (ver Murray & López, 1996 25; Lozano,
199726; Cano & Santos, 200127). No entanto, os dados mais específicos do Ministério da Saúde para
poder elaborar as estimativas estado a estado estão disponíveis apenas até 1998. Para o ano 2000
existem só dados mais gerais fornecidos pelo Ministério, mas que não permitem o mesmo grau de
precisão. Por outro lado, a SENASP solicitou dos estados o número de registros policiais de diversos
crimes, entre eles o homicídio doloso. Esses dados, que como já foi adiantado estão sendo
trabalhados pelo CESEC da Universidade Cándido Mendes, apresentam também problemas de falta
de qualidade e permitem apenas obter o número de ocorrências de cada tipo de crime, e não o
número de vítimas em cada estado. Contudo, podemos supor que a relação entre número de
ocorrências e número de vítimas não deve ser muito diferente em cada estado. Assim, o uso do
número de ocorrências para estimar o número de vítimas implicaria uma certa subestimação do valor
real—o número de vítimas é sempre igual ou maior ao número de fatos, pois cada um deles pode
conter mais de uma vítima—, mas provavelmente não introduziria nenhum viés importante que
impedisse a comparação com outras dimensões.
25
Murray, C. & López, A. (eds.) (1996) The Global burden of injuries: mortality and disability from suicide,
violence, war and unintentional injuries, Harvard University Press. Cambridge.
26
Lozano, R. (1997) La Carga de la Enfermedad y as lesiones por violencia contra las mujeres: el caso de la
ciudad de México. Fundación Mexicana para la Salud. Centro de Economía y Salud. México.
27
Cano, I. & Santos, N. (2001) Violência Letal, Renda e Desigualdade Social no Brasil. 7 Letras.
84
2,5 DF
2,0
RJ
SP
1,5
ES
1,0 RO
MS
BA
PR
PI PE
,5 PA
MG
RN MA TO
RS ACRR AM PB
0,0
-,5
0 10 20 30 40 50
Regis tros de Hom icídio Dolos o (e Les ão com Morte) por 100.000 hab
28
Cano, I. & Ferreira, C.E. (no prelo) Homicídios e Evolução Demográfica no Brasil: o Impacto da Evolução
Demográfica na Futura Taxa de Homicídios e a Incidência dos Homicídios na Pirâmide Populacional. FAPERJ.
29
O coeficiente máximo possível é de 1 —relação perfeita— e o mínimo possível é de 0 —ausência completa de
relação.
85
que em princípio não chega a produzir um homicídio. Entretanto, apenas 3 estados informaram as
lesões dolosas de forma confiável, razão pela qual essa variável deve ser descartada. As únicas duas
ocorrências de crimes violentos cuja qualidade permite o seu aproveitamento para a presente análise
são os roubos de veículo e as tentativas de homicídio.
As tentativas de homicídio não apresentam uma correlação significativa com a letalidade
policial30. Uma análise mais detalhada mostra que 3 estados registraram um número muito elevado
de tentativas de homicídio por habitante (Acre, Roraima e Amazonas), inclusive em comparação com
o número de homicídios reportados. Valeria a pena investigar a fundo esses dados e as razões para
esse perfil tão diferente. Da forma que se encontra, é inviável usar essa variável para a análise.
A relação entre as taxas de roubo de veículo 31 e a letalidade policial pode ser observada no
gráfico seguinte.
GRÁFICO 7
2,5 DF
2,0
RJ
SP
1,5
ES
1,0 RO
MS
BA
PR
PI PA PE
,5
TO
MARN
PB
AM
AC
RR RS
0,0
-,5
-1 0 1 1 2 2 3 3 4
30
O coeficiente é –0,182, com probabilidade associada sob a hipótese nula de p=0,441.
31
Os roubos de veículo são normalmente ponderados, com o objetivo de mensurar sua incidência, pela frota de
veículos ao invés de pela população. Entretanto, para a finalidade atual de comparação com a letalidade policial,
estima-se mais conveniente manter a ponderação pela população. Por exemplo, se um estado possui poucos
veículos, a aparição de roubos de veículos não poderá justificar uma alta incidência de letalidade policial na
população, mesmo que a proporção de veículos roubada seja grande. Por outro lado, se um estado tem muitos
veículos matriculados, o roubo de veículos poderia estimular a letalidade policial, mesmo que a proporção de
veículos roubados seja pequena.
32
Essa média poderia ter sido calculada somando as vítimas de cada região e dividindo-as pela população dos
estados que forneceram informação. De fato, se os dados fossem de alta qualidade, essa seria a taxa mais
adequada para a região. No entanto, em vista dos problemas com a qualidade dos dados, optou-se por fazer uma
86
o problema é mais agudo no Sudeste e, em menor medida, no Centro-Oeste, sendo muito menos
intenso nas outras regiões.
TABELA 5
Letalidade da Polícia Militar (em serviço) por Região
É possível usar essas médias regionais como estimativas para os estados que não
forneceram informação, com o objetivo de atingir uma estimativa final para o Brasil do número de
pessoas que as polícias militares matam durante o seu trabalho.
Multiplicando essa taxa média pela população de cada estado que não mandou informação,
obtemos uma estimativa aproximada do número de vítimas nesse estado. Dessa forma, o número
total estimado de pessoas mortas por policiais militares no Brasil no ano 2000 —considerando agora
todos os estados— é de 1.254. E a taxa estimada de mortos por PM´s em serviço por 100.000
habitantes no Brasil para o mesmo ano é de 0,76.
Para incluir também algum tipo de estimativa das mortes por policiais militares fora de
serviço, seguiu-se a seguinte estratégia. Tomaram-se apenas os estados que davam informação
tanto de mortos em serviço quanto fora de serviço e somaram-se os dois tipos de vítima para todos
os estados. O resultado foi que as mortes fora de serviço representavam aproximadamente 37% das
mortes durante o serviço. Assim, na medida que essa estimativa for justificável, poderíamos estimar
em 37% de 1.254 o número total de vítimas fatais por policiais militares fora de serviço. Isto perfaria
um total de 469 mortes durante a folga. De toda forma, esses resultados devem ser interpretados com
cautela pois, como já foi explicado, o conceito de “fora de serviço” pode não ter sido o mesmo em
cada estado.
Somando agora os dois tipos de vítimas, estimamos que a Polícia Militar matou no Brasil no
ano 2000 aproximadamente 1700 pessoas, considerando o trabalho policial e a folga.
O seguinte passo é estudar as pessoas feridas por policiais militares. De acordo com a
Tabela 1, um total de 21 estados mandaram informação sobre os feridos durante o serviço e um total
de 18 sobre os feridos fora de serviço. Este é um nível de retorno levemente melhor ao das vítimas
fatais.
média entre as taxas de cada estado, para evitar que um erro num único estado, particularmente se é um estado
muito populoso, possa produzir um viés grande para o conjunto da região.
87
TABELA 6
AC 0 0 0
AL , , ,
AM 6 5 11
AP , , ,
BA 75 71 146
CE 125 65 190
DF 9 0 9
ES 36 45 81
GO , , ,
MA 8 10 18
MG 109 121 230
MS 34 3 (2) 37
MT , , ,
PA 17 13 30
PB 11 7 18
PE 30 21 51
PI 5 (4) 6 (3) 11
PR 197 61 258
RJ 149 , 149
RN 52 42 94
RO 90 , 90
RR 0 0 0
RS 225 , 225
SC , , ,
SE , , ,
SP 608 477 1085
TO 13 7 20
número de mortos, ocupa agora uma posição de menos destaque, enquanto que Rio Grande do Sul e
Paraná, que não apresentavam um alto número de mortos, são o segundo e o terceiro estado em
número de feridos durante o serviço. Em outras palavras, o número de feridos em serviço não parece
guardar uma relação muito intensa com o número de mortos em serviço ocasionados pelos policiais
militares. Uma vez eliminado o caso extremo de São Paulo, o coeficiente de correlação entre as duas
dimensões é de apenas 0,42, o que não chega a ser significativo 33.
Todavia, boa parte dessa correlação é devida ao tamanho de cada estado, de forma que
estados maiores tenderão a ter cifras maiores em geral. Quando calculamos a correlação entre as
mortes em serviço por 100.000 habitantes e os feridos em serviço por 100.000 habitantes, removendo
assim o efeito do tamanho da população do estado, a correlação despenca para 0,17, não
significativa34. Isto pode ser explicado de duas formas. A primeira é que pode haver sérios problemas
de mensuração nos dados e que cada estado pode estar aplicando critérios diferentes para definir o
que é um “ferido”. A segunda é que os episódios que provocam feridos são muito mais amplos do que
aqueles que produzem mortos —restringidos nesse último caso a eventos com uso de armas de fogo
na sua prática totalidade— com a conseqüência da falta de relação entre vítimas fatais e não fatais
por estado. Provavelmente as duas explicações são válidas em alguma medida.
Por sua vez, a taxa de feridos em serviço por 100.000 habitantes apresenta baixas
correlações com os registros de homicídio por 100.000 habitantes (0,20) e com o registros de roubo
de veículos por 100.000 habitantes (0,12) 35, como era de se esperar em função da baixa relação
descrita anteriormente entre mortos e feridos.
Em suma, a informação sobre os feridos apresenta sérios problemas de confiabilidade e
validade e não parece estar fortemente relacionada com a informação sobre mortes. Apesar disso,
resolvemos estudar, de forma exploratória e com as cautelas apropriadas para o caso, a relação entre
mortos e feridos de forma mais específica.
Em estudos anteriores sobre uso da força letal, a divisão entre o número de mortos e o
número de feridos provocados nos confrontos armados, denominada ‘índice de letalidade’, é o melhor
indicador de abuso de força. Espera-se um número maior de feridos do que de mortos, ou seja, um
índice inferior a 1 (ver Cano, 1997, op. cit.). Quando o valor é superior, indica que a polícia faz um uso
excessivo da força e que alguns policiais podem participar nos confrontos com o objetivo de matar ao
invés de prender os opositores. No entanto, essa interpretação é problemática no nosso caso porque,
como acabamos de ver, os feridos não estão referidos necessariamente a confrontos armados
exclusivamente, e porque cada estado pode ter aplicado critérios diferentes para definir o que é um
ferido.
Mesmo assim, optamos por calcular essa razão entre mortos e feridos em serviço para
monitorar o seu desempenho. As variações entre estados são muito grandes. A maioria dos estados
apresenta um valor inferior a 1, isto é, com mais feridos em serviço do que mortos. Por sua vez, Rio
de Janeiro, Pará, Pernambuco e Bahia revelam uma situação contrária: mais mortos do que feridos.
O caso extremo é o Distrito Federal, com um valor superior a 5, ou seja, com cinco vezes mais mortos
do que feridos. De qualquer forma, esse resultado deve ser tomado com reserva, porque no Distrito
Federal houve uma queda muito grande no número de pessoas feridas por policiais militares em
serviço de 1999 para 2000 (ver Tabela 2), o que pode significar que o número não é confiável.
Quando comparamos essa razão entre mortos e feridos em serviço com a letalidade policial
por 100.000 habitantes, comprovamos que os estados com maior taxa de mortes por 100.000
habitantes tendem a ser justamente os estados onde a razão entre mortos e feridos é mais alta. A
correlação entre as duas dimensões é bastante alta: 0,78. Deixando de fora o Distrito Federal, ela
diminui para 0,60.
GRÁFICO 8
33
Probabilidade associada=0,075.
34
Probabilidade associada=0,464.
35
As probabilidades associadas nesses dois casos são 0,377 e 0,618, respectivamente.
89
2,5 DF
2,0
RJ
1,5 SP
ES
1,0 RO
MS
BA
PR
,5 PI PEPA
MG
TO
RN MA
RS
PB
AM
0,0
-1 0 1 2 3 4 5 6
AC , , ,
AL , , ,
AM , , ,
AP , , ,
BA , , ,
CE 0 0 0
DF , , ,
ES , , ,
GO 3 (3) , 3
MA , , ,
MG , , ,
MS , , ,
MT , , ,
90
PA 12 (6) , 12
PB , , ,
PE , , ,
PI 0 1 1
PR , , ,
RJ , , ,
RN , , ,
RO , , ,
RR , , ,
RS , , ,
SC 1 0 1
SE , , ,
SP 39 20 59
TO 1 0 1
BR 56 21 77
(*) Entre parêntesis, o número de meses em que está baseado o total, quando falta
algum mês.
Dos sete estados que enviaram informação sobre os mortos por policiais civis em serviço,
Ceará e Piauí afirmam que não houve nenhum caso. Apenas São Paulo mostra um número
significativo. Em relação aos mortos fora de serviço, três dos cinco estados que responderam
assinalaram que não houve nenhuma vítima desse tipo.
O resumo final é que a informação não é só muito escassa, mas de qualidade duvidosa. Na
pesquisa sobre letalidade policial no Rio, observou-se que 17% dos casos de mortes e ferimentos em
confronto correspondiam à Polícia Civil. Essa proporção pode variar de estado para estado, mas o
número de estados que manifesta não ter nenhum caso para a SENASP parece excessivamente
grande.
Com base nesses números não é possível estabelecer nenhuma estimativa nacional nem
realizar um estudo da letalidade da polícia civil em relação a outras variáveis.
Examinaremos o caso de São Paulo, o único estado que registra um número significativo e ao
mesmo tempo dispõe de todos os meses. Nesse estado, a razão entre os mortos provocados por
policiais militares em serviço e os mortos originários de ações de policiais civis de serviço é de 13
para 1. Ou seja, que a Polícia Militar ocasiona 13 vezes mais mortes que a civil no seu trabalho. Fora
do serviço, a razão é menor, como caberia esperar: 8 para 1. Isto porque na folga a letalidade de uns
policiais e outros deveria ser mais parecida já que não depende do tipo de policiamento. Contudo, ela
continua sendo maior para os policias militares. Como o número de policiais militares em São Paulo é
quase três vezes superior ao dos civis (82.360 comparado com 31.731), esperava-se que o número
de mortes na folga fosse também 3 vezes superior, e não 8 vezes superior.
Em todo caso, os baixos números da Polícias Civil podem ser fruto não apenas do fato de
que seus contingentes são menores do que os das polícias militares —no Brasil há aproximadamente
5 policiais militares para cada policial civil— e que suas tarefas investigativas são menos tendentes
ao uso da violência do que o patrulhamento ostensivo, mas também da precária qualidade dos seus
sistemas de informação. As polícias militares, que são forças centralizadas, costumam contar com
sistemas de registro melhores e mais homogêneos do que as polícias civis. Portanto, a comparação
entre polícias civis e militares pode estar sendo prejudicada por essa situação, mesmo nos estados
que enviaram alguma informação.
No referente a vítimas não fatais de policiais civis, o quadro é ainda mais desolador, porque à
falta de informações somam-se os problemas adicionais na definição e mensuração dos feridos, que
já foram relatados. Dos 6 estados que enviaram informação, três afirmaram que não tinham
registrado nenhum caso de feridos por policiais civis, nem no serviço nem na folga. A tabela seguinte
apresenta os dados tão somente para o registro, mas não é possível concluir nada sobre eles.
TABELA 8
AC , , ,
AL , , ,
AM , , ,
AP , 13 (8) 13
BA , , ,
CE 0 0 0
DF , , ,
ES , , ,
GO 40 , 40
MA , , ,
MG , , ,
MS , , ,
MT , , ,
PA , , ,
PB , , ,
PE , , ,
PI 0 0 0
PR , , ,
RJ , , ,
RN , , ,
RO , , ,
RR 5 (3) 11 (4) 16
RS , , ,
SC , , ,
SE , , ,
SP 78 25 103
TO 0 0 0
BR 123 49 172
(*) Entre parêntesis, o número de meses em que está baseado o total, quando falta
algum mês.
O primeiro passo será então a análise da mortalidade geral dos policiais militares. As cifras de
mortes de policiais militares informadas pelos estados para os anos 1999 e 2000 são razoavelmente
convergentes, razão pela qual estudaremos apenas o último ano.
A tabela seguinte apresenta os valores para cada um dos 25 estados que facilitaram
informação, bem como a taxa de mortalidade para os membros dessas corporações 36.
36
Vale lembrar que as cifras de contingentes correspondem na verdade ao ano 2001, mas isto deve ter muito
pouca influência no resultado.
93
TABELA 9
Taxa de Mortalidade
Estado Policiais Militares Efetivo Total da dos policiais militares
Falecidos, 2000 Polícia Militar, 2001 por 1000 hab.
AC 7 2.041 3,43
AL 12 5.808 2,07
AM 41 6.142 6,68
AP 0 2.385 0
BA 90 28.406 3,17
CE 40 11.038 3,62
DF 19 14.951 1,27
ES 31 7.854 3,95
GO 28 10.467 2,68
MA 17 6.298 2,7
MG 59 40.646 1,45
MS 10 , ,
MT 11 4.068 2,7
PA 32 12.648 2,53
PB 32 7.043 4,54
PE 28 17.314 1,62
PI , , ,
PR 142 18.724 7,58
RJ 109 33.301 3,27
RN 18 7.214 2,5
RO 0 3.186 0
RR , 1.302 ,
RS 51 20.765 2,46
SC 5 13.137 0,38
SE 13 3.917 3,32
SP 33 82.360 0,4
TO 8 3.117 2,57
O número mais alto de mortes corresponde a Paraná, Rio de Janeiro e Bahia, nessa ordem.
Chama a atenção que São Paulo, o estado com o maior contingente, apresente um número
relativamente baixo de casos, inferior a outros muitos estados com polícias muito mais reduzidas. Isto
volta a colocar em xeque a validade dos dados.
Já em termos de taxa de mortalidade, muitos estados apresentam valores entre 1 e 3 por
1000. Com valores superiores a 4 por 1.000 situam-se apenas Paraíba, Amazonas e, particularmente,
Paraná. Como os policiais são uma população relativamente nova, espera-se que a maioria das
mortes aconteça por causas externas e, entre elas, supõe-se que o homicídio deve jogar um papel
relevante. Entretanto, os estados onde os policiais revelam maiores taxas de mortalidade não são
aqueles com altas taxas de homicídio.
94
A taxa para todos os policiais militares do Brasil é de 2,27 mortes por 1.000 habitantes 37. A
taxa de mortalidade para a população de Brasil é de 5,7, mas essa comparação não é válida porque
a estrutura etária das polícias é muito diferente da população. É preciso comparar a mortalidade dos
policiais com a de uma população de estrutura demográfica similar. Para tanto, partiu-se do suposto
de que os policiais apresentam uma estrutura etária de 20 a 59 anos. Esse suposto parece razoável,
mas não pode ser comprovado, pois o questionário da SENASP não continha informação sobre as
idades dos policiais. Contudo, os dados da SENASP permitem saber o número de policiais femininos
e masculinos de cada corporação. Assim, será calculada uma taxa de mortalidade para a população
geral de 20 a 59 anos para cada estado, com uma proporção de sexos igual à encontrada na polícia
militar do seu estado. Os dados foram tomados do Ministério da Saúde e do IBGE.
A comparação entre essa estimativa de mortalidade populacional e a mortalidade dos
policiais militares em cada estado é a seguinte.
37
Para calcular essa taxa foram eliminados os estados que não contavam com as cifras de mortes ou as dos
contingentes.
95
TABELA 10
Taxa de Mortalidade dos policiais militares e da população
Taxa de Mortalidade
Taxa de Mortalidade da População de 20 a
Estado por 1000 policiais 59 anos por 1000
militares, 2000 hab., 2000(*)
Estado
AC 3,43 4,37
AL 2,07 4,67
AM 6,68 3,42
AP 0 3,70
BA 3,17 3,71
CE 3,62 3,82
DF 1,27 4,33
ES 3,95 5,44
GO 2,68 4,33
MA 2,7 2,73
MG 1,45 4,39
MS , ,
MT 2,7 4,9
PA 2,53 3,04
PB 4,54 3,87
PE 1,62 6,42
PI , ,
PR 7,58 4,73
RJ 3,27 6,70
RN 2,5 3,48
RO 0 4,44
RR , 4,97
RS 2,46 5,04
SC 0,38 4,14
SE 3,32 4,75
SP 0,4 5,66
TO 2,57 3,07
A dispersão entre as situações de uns estados e outros é grande, até o ponto de que não há
correlação entre as duas taxas de mortalidade 38. Mas o fato mais marcante é que, com a exceção de
Paraná, Amazonas e Paraíba, a mortalidade da população é superior à mortalidade dos policiais
militares. Isto poderia ser explicado por vários fatores. O primeiro é que a entrada na polícia estaria
vedada para pessoas com sérios problemas de saúde, razão pela qual a morte por causas naturais
de policiais deveria ser menos freqüente do que para a população geral. Entretanto, o peso da
mortalidade por causas naturais nessas idades é limitado e, portanto, esse fator não deveria ser
decisivo. A segunda possível explicação é que, apesar da profissão de policial ser considerada de
risco, talvez ele não seja tão alto quanto as pessoas acreditam. Esse argumento justificaria uma
proximidade entre as duas taxas, mas não explicaria por que a mortalidade da população geral é
superior. O terceiro elemento, talvez o mais provável, é que as cifras de policiais mortos podem estar
38
O coeficiente de correlação é igual a –0,09 e a probabilidade associada é de p=0,667.
96
subestimadas. Não é acreditável, por exemplo, que a mortalidade dos policiais militares de São Paulo
seja 13 vezes inferior à da população do estado.
Em relação aos suicídios, os números registrados pela SENASP para o ano 2000 relativos
aos 23 estados que forneceram informação aparecem na seguinte tabela. O número de suicídios
registrados é pequeno demais para permitir o cálculo de uma taxa confiável por estado.
97
TABELA 11
AC 0
AL 2
AM 1
AP 0
BA 9
CE 2
DF 2
ES 2
GO 0
MA 3
MG 5
MS 1
MT 2
PA 2
PB 1
PE ,
PI ,
PR 3
RJ 4
RN 0
RO 0
RR 0
RS ,
SC ,
SE 0
SP 25
TO 0
BR 64
Tão somente é possível calcular uma taxa de suicídio confiável para o conjunto do Brasil. O
valor, calculado eliminando todos os estados que não possuem simultaneamente informação sobre
suicídios e sobre efetivos da PM, é de 20,1 suicídios por 100.000 habitantes.
Para estabelecer um parâmetro de taxa de suicídio para a população, voltamos a aplicar a
estratégia descrita no parágrafo anterior. Calculamos a taxa de suicídios para a população de 20 a 59
anos no Brasil, de forma que a composição por sexos dessa população seja igual à dos conjuntos
das polícias militares no Brasil. Para a estimativa dos suicídios a partir dos registros de óbito do
Ministério da Saúde, seguimos a estimativa proposta por Lozano (1997, op. cit.), que inclui óbitos
registrados como suicídios, mas também alguns outros registrados como acidentes e como mortes
por causa externa de intenção desconhecida 39. Seguindo a estratégia e a metodologia mencionadas,
a taxa para uma população de 20 a 59 anos (com a composição por sexo igual à das polícias
militares que entraram no cálculo) é de 11,1 suicídios por 100.000 habitantes. Em suma, se
acreditarmos nossos dados, o risco de suicídio para policiais militares é o dobro do risco para a
39
Para tanto, usamos os dados do ano 1998, os últimos disponíveis com detalhe para o conjunto do Brasil.
98
população geral com as mesmas características demográficas. Isto confirmaria o risco de suicídio
especialmente alto para os policiais militares. Vale lembrar que os suicídios para o conjunto da
população estão estimados incluindo casos que não foram registrados como suicídios, e o próprio
não foi feito para os policiais militares por falta de dados específicos. Assim, a taxa dos policiais
militares estará provavelmente subestimada, em função de suicídios não categorizados como tais, o
que significa que o diferencial com a população deve ser ainda maior do apontado por esses
resultados.
40
Vale lembrar que as cifras de contingentes correspondem na verdade ao ano 2001, mas isto deve ter muito
pouca influência no resultado.
99
TABELA 12
Taxa de Mortalidade
Estado Policiais Civis Efetivo Total da dos policiais civis por
Falecidos, 2000 Polícia Civil, 2001 1000 hab.
AC 5 244 20,49
AL 23 1420 16,2
AM 2 1351 1,48
AP 0 671 0
BA 25 4437 5,63
CE 2 2129 0,94
DF 9 , ,
ES 3 1651 1,82
GO 5 3078 1,62
MA 1 , ,
MG 31 , ,
MS 3 1469 2,04
MT 11 1460 7,53
PA 3 2363 1,27
PB 4 2140 1,87
PE 17 4349 3,91
PI 7 1245 5,62
PR 14 3830 3,66
RJ , , ,
RN 1 , ,
RO 1 1575 0,63
RR 3 , ,
RS 2 2343 0,85
SC 11 2942 3,74
SE 4 , ,
SP 135 31731 4,25
TO 1 589 1,7
O maior número de mortes corresponde, como era de se esperar, a São Paulo, seguido a
muita distância de Minas, Bahia e Alagoas. As taxas por estado variam muito, entre outras coisas
porque o número de mortes é pequeno e isto introduz uma grande oscilação aleatória nas taxas. A
grande maioria dos estados mostra taxas por baixo de 5 mortes por 1.000 habitantes. No outro
extremo, chamam a atenção as taxas do Acre e de Alagoas, especialmente esta última por estar
baseada num número maior de casos. No ano de 1999, Alagoas também apresentou um número
elevado de mortes (14), o que sugere que esse resultado está revelando de fato algum problema para
os policiais civis no estado e não apenas um fato isolado.
A taxa para o conjunto dos policiais civis no Brasil —calculada apenas com os estados que
possuem todas as informações— é de 3,86, superior à da Polícia Militar (2,27). Assim, a mortalidade
dos policiais civis parece ser maior do que a dos policiais militares, mesmo que esses últimos
100
pareçam entrar em confronto armado com mais freqüência e provoquem, em conseqüência, um maior
número de vítimas civis.
Como no epígrafe anterior, foi calculada uma taxa de mortalidade para uma população
considerada equivalente: pessoas de 20 a 59 anos com uma composição por sexo igual à da Polícia
Civil de cada estado.
101
TABELA 13
Taxa de Mortalidade dos policiais civis e da população
Taxa de Mortalidade
Taxa de Mortalidade da população de 20 a
Estado por 1000 policiais civis, 59 anos por 1.000
2000 habitantes, 2000(*)
Estado
AC 20,49 3,35
AL 16,2 4,27
AM 1,48 3,19
AP 0 3,2
BA 5,63 3,55
CE 0,94 3,27
DF , ,
ES 1,82 3,53
GO 1,62 3,87
MA , ,
MG , ,
MS 2,04 4,25
MT 7,53 3,98
PA 1,27 2,78
PB 1,87 3,44
PE 3,91 6,42
PI 5,62 3,10
PR 3,66 4,78
RJ , ,
RN , ,
RO 0,63 3,83
RR , ,
RS 0,85 3,62
SC 3,74 3,41
SE , ,
SP 4,25 4,97
TO 1,7 2,85
A taxa de mortalidade no Brasil para esta população geral de referência é de 4,28 por 1.000
habitantes, algo superior embora próxima da dos policiais civis (3,86). Esses dados são mais
plausíveis dos que os da Polícia Militar. De acreditarmos neles, os policiais civis sofreriam um risco de
morte, por todas as causas, levemente inferior ao da população geral.
Em relação aos suicídios, a SENASP registra para o ano 2000 um total de 16 estados com
informações. Os números, que são pequenos demais para permitir o cálculo de uma taxa de suicídio
confiável por estado, são os seguintes.
TABELA 14
AC ,
AL ,
AM 1
AP 0
BA 0
CE 0
DF ,
ES 1
GO 0
MA ,
MG ,
MS 0
MT 0
PA ,
PB 0
PE ,
PI 0
PR 0
RJ ,
RN ,
RO 1
RR ,
RS 1
SC 1
SE ,
SP 6
TO 0
BR 11
A taxa de suicídio resultante para o conjunto dos policiais civis do Brasil —calculada apenas
em função dos estados que enviaram informação —é de 17,6 por 100.000 habitantes, próxima da
obtida com os policiais militares (20,1).
Para estabelecer um parâmetro de taxa de suicídio para a população, voltamos a calcular
uma taxa de suicídios para a população de 20 a 59 anos no Brasil, com uma composição por sexo
igual à das polícias civis do país. Para tanto, usamos mais uma vez a metodologia proposta por
Lozano para os dados de certidões de óbito (Lozano, op. cit.). O valor obtido é 9,3 suicídios para
cada 100.000 habitantes. Da mesma forma que acontecia com as polícias militares, o risco de
suicídio para os policiais civis parece ser aproximadamente o dobro da população geral. Inclusive, a
diferença deverá ser maior, pois o número de suicídios de policiais poderá estar subestimado em
quanto os suicídios gerais foram corrigidos.
Como já foi explicado, os bombeiros são o único corpo para o qual os questionários da
SENASP indagaram o número de mortos e feridos em serviço. No entanto, os números são pequenos
e não muito confiáveis.
103
TABELA 15
Bombeiros Feridos e Mortos em Serviço, por estado
Anos 1999 e 2000
AC 0 2 0 0
AL 0 0 0 0
AM , , 1 ,
AP 0 0 0 0
BA , , , ,
CE 0 0 1 2
DF , , , ,
ES 0 0 0 0
GO 15 10 2 2
MA 2 1 0 1
MG 0 0 1 1
MS , , , ,
MT 0 0 0 0
PA , , , ,
PB , 10 , 1
PE 42 16 0 0
PI 3 6 0 0
PR , , , ,
RJ , , 28 35
RN 0 0 0 0
RO 0 0 0 0
RR 0 0 0 0
RS 19 22 0 0
SC , , , ,
SE 1 0 0 0
SP 9 12 5 2
TO 0 0 0 0
BR 91 79 38 44
A maioria dos estados que envia informação não registra nenhuma morte nem ferimento. Os
estados que mais casos notificaram foram Pernambuco, Rio Grande do Sul, Goiânia e São Paulo. No
caso dos mortos, apenas o Rio de Janeiro informa um número de casos elevado. Mas esses números
para o Rio são suspeitos não só por serem muito altos, mas porque são inclusive superiores ao
número total de bombeiros falecidos no estado nos mesmos anos, de acordo com os dados de outra
planilha da SENASP. Este é mais um indicador da falta de consistência dos dados, e da necessidade
de uma revisão profunda dos mesmos.
Dado que o número total de mortes depende em boa parte dos dados do Rio de Janeiro e em
vista de que eles não são válidos, não faz sentido calcular uma taxa de risco para o Brasil.
Quanto às planilhas que solicitavam o número total de falecimentos entre os bombeiros,
apresentamos os dados do ano 2000, que são bastante convergentes com os de 1999.
104
TABELA 16
Taxa de Mortalidade
Estado Bombeiros Falecidos, Efetivo Total dos dos bombeiros por
2000 Bombeiros, 2001 1000 hab.
AC 0 322 0
AL 0 541 0
AM 0 400 0
AP , 504 ,
BA , 1949 ,
CE 1 1494 0,47
DF 11 5855 ,
ES 1 569 0,61
GO 2 1286 0,65
MA 4 980 ,
MG 3 3662 ,
MS , 1049 ,
MT 1 670 0,68
PA 4 2066 1,69
PB 1 652 0,47
PE 3 1955 0,69
PI 1 305 0,8
PR 7 3223 1,83
RJ 25 14782 ,
RN 0 357 0
RO 0 168 0
RR , 160 ,
RS 3 2931 1,28
SC , 1851 ,
SE 0 473 0
SP 18 8750 0,57
TO 0 62 0
BR 85 57016 1,65
As taxas dos estados estão baseadas em números pequenos demais para serem confiáveis.
Segundo esses dados, a taxa de mortalidade para os bombeiros no conjunto do Brasil (1,65) é
claramente inferior a dos policiais militares (2,30) e a dos policiais civis (3,86). A taxa para a
população de 20 a 59 anos com uma composição por sexos iguais à dos bombeiros é de 4,92. Em
outras palavras, se esses dados são certos os bombeiros apresentam um risco de mortalidade
equivalente a um terço da população.
Nenhum estado mandou informações sobre suicídios de bombeiros.
Conclusões.
processamento da informação em cada estado, é impossível para a SENASP avaliar de forma precisa
a validade e confiabilidade dos dados.
Um primeiro ponto é que dados muito importantes para a análise dessa problemática não
foram solicitados pelos questionários da SENASP. Entre eles, podemos citar:
número de pessoas mortas e feridas pelos policiais separadas pelo instrumento
(arma de fogo, instrumento contundente, etc.). Isto é fundamental para distinguir as
vítimas por armas de fogo do resto, o que, por sua vez, é imprescindível para poder
estudar os confrontos armados, calcular índices de letalidade, etc.
número de policiais feridos e mortos em serviço e na folga, separados também pelo
tipo de lesão (arma de fogo, etc.) e pela circunstância (confronto com bandidos,
conflito pessoal, etc.). Isto permitirá separar as mortes por acidentes, suicídios e
homicídios, bem como estudar os casos de confronto armado e outras circunstâncias
vitimizadoras dos policiais.
O terceiro ponto é a falta de muitas das informações solicitadas nos questionários enviados
pelas Secretarias estaduais. Esse problema não é exclusivo da temática aqui tratada, mas geral para
todos os bancos da SENASP. Nesse sentido, os dados encaminhados pelas polícias civis são muito
mais precários do que os das polícias militares, provavelmente porque os sistemas de informação e
registro das segundas são mais avançados e mais centralizados do que os das primeiras. Essa
ausência de informações inviabiliza de fato o cálculo de vários indicadores e inclusive de estimativas.
O quarto ponto é a aparente falta de validade e confiabilidade de vários dos dados recebidos.
Assim, podemos destacar:
a evolução, dentro de cada estado, de 1999 para o ano 2000 de algumas
informações levanta suspeitas quanto a sua credibilidade. Os valores que mudam
muito de um ano para outro deveriam ser re-examinados.
o número de vítimas reportadas pelas polícias civis é, em geral, pequeno demais para
ser crível.
o números de pessoas mortas pela Polícia Militar do Rio de Janeiro de que a
SENASP dispõe não encaixa com outros números de letalidade policial obtidos
diretamente junto à Secretaria de Segurança Pública do estado.
as cifras existentes de policiais mortos se traduzem numa taxa de mortalidade para
os policiais inferior à da população geral com as mesmas características
demográficas, particularmente no caso dos polícias militares,o que é estranho.
o número de bombeiros vitimados também não parece confiável. No caso do Rio de
Janeiro, o número de bombeiros que supostamente morreu durante o seu trabalho é
superior ao número total de bombeiros mortos informado em uma outra planilha.
No Rio de Janeiro e em São Paulo, o número de pessoas mortas por policiais militares em
serviço a cada ano ultrapassa 6 para cada 1.000 policiais. Isto significa que a experiência de
participar em confrontos letais é relativamente comum entre os policiais desses estados ao longo da
sua vida profissional, o que deve exercer uma poderosa influência no ethos profissional e no nível de
estresse sofrido pelos agentes.
A letalidade da ação policial é um problema particularmente grave no Brasil urbano, em
especial no Sudeste e, em menor medida, no Centro-Oeste.
Aparentemente, há uma relação clara, porém moderada, entre o nível de violência geral
sofrido em cada estado —mensurado através de homicídios e roubos— e a letalidade provocada
pelos seus policiais militares em serviço. Contudo, a intensidade da relação não permite afirmar que a
letalidade policial possa ser explicada exclusivamente em função da violência reinante. A tese de que
apenas os contextos e não as polícias seriam violentos não se sustenta nos dados.
O número total estimado de pessoas mortas por policiais militares em serviço no Brasil é de
1.254, o que corresponde a uma taxa de 0,76 para cada 100.000 habitantes. A estimativa das
pessoas mortas por policiais militares fora de serviço é mais ou menos 37% das mortes acontecidas
durante o serviço, o que corresponderia a aproximadamente 469 vítimas fatais. Em suma, o número
total de pessoas mortas pelos policiais militares no país ascenderia a 1.700, embora essa estimativa
possa estar subestimada em função de falhas nos dados.
O número de feridos é mais difícil de estimar devido às ambigüidades conceituais explicadas
anteriormente. De qualquer forma, podemos concluir que enquanto as vítimas fatais dos policiais
concentravam-se sobretudo no serviço, as vítimas não fatais estão mais repartidas entre o serviço e a
folga. O número de feridos ocasionados pelos policiais militares em cada estado não guarda muita
relação com o número de mortos.
A razão entre vítimas fatais e não fatais provocadas por confrontos com policiais costuma ser
um excelente indicador do possível abuso de força por parte dos agentes. No nosso caso, essa
possibilidade está prejudicada pelo fato de que os feridos não incluem apenas as vítimas de armas de
fogo e, portanto, não se limitam aos confrontos. Mesmo assim, revela-se que os estados com uma
razão mais alta entre mortos e feridos são aqueles com uma taxa maior de mortos por policiais
militares em serviço para cada 100.000 habitantes: Rio de Janeiro e o Distrito Federal.
A taxa de suicídios para policiais civis e militares é aproximadamente o dobro da taxa para a
população geral com as mesmas características demográficas, confirmando a percepção de um alto
nível de suicídios entre policiais.
Recomendações.
As principais recomendações para o trabalho futuro da Secretaria nessa área são as
seguintes:
1. Esclarecer com os estados alguns números suspeitos que foram enviados.
2. Providenciar uma visita do pessoal técnico da Secretaria a cada um dos estados para
conhecer os métodos e os critérios de coleta e processamento das informações. Isto é
indispensável para avaliar a qualidade dos dados e conseguir uma homogeneidade entre
eles. Idealmente, os técnicos deveriam estudar as categorias originais que cada estado
usa na classificação dos fatos (‘autos de resistência’, etc.) para entender melhor os
registros e propor mudanças.
3. Oferecer apoio técnico aos estados que apresentem dificuldades para o processamento
ou tratamento da informação. O objetivo é conseguir que cada estado possua, no mínimo,
uma unidade central de processamento de informação criminal e rotinas que garantam
fluxos regulares e confiáveis de dados. O apoio técnico pode incluir consultorias nas
áreas de gerenciamento e organização de informações, bem como o fornecimento de
softwares e computadores e o treinamento do pessoal técnico de cada estado. Os
registros mostram que essa necessidade é particularmente aguda para as polícias civis.
4. Solicitar, em futuros pedidos de informações aos estados através dos questionários,
informações sobre as vítimas letais e não letais de policiais separadas pelo instrumento
(arma de fogo, instrumento contundente, etc.). Da mesma forma, solicitar o número de
policiais feridos e mortos em serviço e na folga, separados também pelo tipo de lesão
(arma de fogo, etc.) e pela circunstância (confronto com bandidos, conflito pessoal, etc.).
5. Elaborar um manual de preenchimento para cada um dos questionários a serem enviados
aos estados no futuro. Esse manual deve explicar conceitos como a definição da
gravidade para considerar os casos de “feridos” e deve esclarecer pontos como a decisão
de se as vítimas das polícias técnicas estão ou não incluídas dentro das vítimas das
polícias civis, e o que fazer com as vítimas em operações conjuntas da Polícia Civil e da
Militar.
6. Cruzar o banco das vítimas fatais de policiais com o banco sobre o mesmo tema do
Movimento Nacional de Direitos Humanos, baseado em informações da imprensa. Para
107
tanto, seria desejável que as secretarias estaduais enviassem os nomes das vítimas
fatais das ações policiais, com data e local de falecimento, para poder contrastá-las com
os dados registrados pelo MNDH. Isto poderia servir, ao menos em alguns estados, para
conferir a qualidade e a cobertura da informação enviada pelas secretarias sobre essa
questão.
7. Desenhar conjuntamente com os estados programas para diminuir a letalidade policial,
com ênfase particular no Distrito Federal, o Rio de Janeiro e São Paulo. Algumas das
idéias que podem ser avaliadas são:
- premiações para situações difíceis resolvidas pelos policiais sem o uso da força
ou sem ferimentos
- apoio psicológico aos agentes em situação de risco
- premiações para delegacias ou batalhões que diminuam o número de mortes sem
diminuir a produtividade
- apoio a Ouvidorias de Polícia para que investiguem casos suspeitos de
constituírem execuções sumárias
- treinamento de policiais em Direitos Humanos aplicados operativamente (tiro
defensivo, etc.)
- programas que retirem das atividades operativas a agentes envolvidos em
ocorrências com morte, na linha do PROAR em São Paulo
- estudo da incorporação de armas não letais
9. Refletir junto com os estado sobre como desenvolver programas de prevenção ao suicídio
dos agentes policiais, que devem contar com amplo apoio psicológico.
108
Ilanud
FIA - USP
Gabinete de Segurança Institucional
41
Inúmeras pessoas contribuíram para a realização da pesquisa, direta ou indiretamente. Na FIA – USP, é
preciso destacar a contribuição intelectual e material do Prof. Dr. Isaias Custódio e sua equipe. No Gabinete de
Segurança Institucional, o apoio do Secretário de Acompanhamento e Estudos Institucionais José Alberto Cunha
Couto, e a equipe do PIAPS, Manoel Gomes Pereira, Leopoldo Jorge Alves Júnior, Laura Boucinhas e, em
especial, a Euridice Nóbrega Vidigal, grande incentivadora do projeto. Finalmente, é preciso reconhecer que a
pesquisa de vitimização não teria sido realizada não fosse a determinação do Ministro Alberto Cardoso, que
desde logo compreendeu a relevância do projeto para o planejamento das políticas públicas de segurança do país.
109
Introdução
As pesquisas de vitimização surgiram nos Estados Unidos na década de 60 como uma
tentativa de estimar a quantidade de crimes sofridos pela população e não comunicados aos órgãos
governamentais. Atualmente, em diversos países do mundo, os governos ou institutos independentes
realizam a intervalos variáveis de tempo as chamadas “pesquisas de vitimização” com amostras da
população, perguntando a uma amostra de cidadãos se foram vítimas de algum tipo de crime nos
últimos meses ou anos.
Aparentemente, seria mais simples e econômico consultar as estatísticas oficiais para
conhecer a quantidade de crimes a que esta sujeita a sociedade, bem como se esta quantidade vem
diminuindo ou aumentando no tempo. Acontece que, por uma série de motivos, os dados oficiais nem
sempre refletem com fidedignidade a situação real da criminalidade na sociedade. As estatísticas
oficiais estariam corretas se todos os cidadãos vitimizados relatassem os crimes de que foram vítimas
às autoridades, mas a experiência em diversos países, desenvolvidos ou não, revela que este
raramente é o caso.
É difícil conhecer com precisão a quantidade de crimes que ocorrem na sociedade. O que os
governos têm em seus registros policiais são apenas uma estimativa dos crimes ocorridos, estimativa
esta que se sabe, de antemão, ser subestimada. A primeira pesquisa de vitimização norte-americana
de 1966 descobriu que os crimes relatados eram mais de duas vezes maiores do que as estimativas
produzidas pelas estatísticas oficiais (Paixão, p.47). O British Crime Survey calculou no começo dos
anos 90 que ocorrem na Inglaterra 4 vezes mais crimes do que são registrados pela polícia. O
fenômeno da subnotificação, ainda que possa variar em grau de país para país, é algo que atinge a
todos: na média dos 20 países pesquisados pelo UNICRI – instituto europeu de criminologia da ONU
- entre 1988 e 1992, levando em conta 10 diferentes tipos de crimes, cerca de 51 % dos crimes
deixaram de ser comunicados à polícia.
É preciso deixar claro que as pesquisas de vitimização não foram pensadas como substitutas
dos levantamentos oficiais, mas como complemento deste. Trata-se apenas de um método diferente
de abordar o mesmo problema.
A propensão por parte das vítimas notificar o crime sofrido varia com uma série de fatores e
circunstâncias, relacionadas às percepções da vítima, ao sistema policial ou ao tipo do crime e do
bem roubado. A experiência internacional na área revela que, entre outros fatores, dependendo: da
percepção social da eficiência do sistema policial; da percepção social da confiabilidade do sistema
policial; da seriedade ou do montante envolvido no crime; do crime implicar ou não numa situação
socialmente vexatória para a vítima (estupro, agressões domésticas, “conto do vigário”, etc.); do grau
de relacionamento da vítima com o agressor; do bem estar ou não segurado contra roubo; da
experiência pretérita da vítima com a polícia; da existência de formas alternativas para a resolução do
incidente - menor será o incentivo para o indivíduo comparecer perante as autoridades policiais para
reportar o crime de que foi vítima.
Desde 1989 o UNICRI (United Nations International Crime and Justice Research Institute)
vem realizando pesquisas de vitimização comparativas que já envolvem mais de 50 países. As
pesquisas têm procurado investigar países de todos os continentes, tanto desenvolvidos como
subdesenvolvidos.
Trata-se de um dos maiores projetos de criminologia comparada já feitos: somente em
1996/97 o UNICRI conduziu pesquisas de vitimização em outros 35 países, perguntando a pessoas
com 16 anos ou mais sobre os crimes cometidos contra elas, opiniões e atitudes sobre notificação
dos crimes à polícia, medo do crime, estratégias de prevenção e atitudes com relação à punição dos
criminosos. Em alguns países subdesenvolvidos, as pesquisas de vitimização chegam a ser a única
fonte existente para mensurar os crimes.
A pesquisa foi feita com 2800 entrevistados, maiores de 16 anos, moradores das cidades de
São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Vitória. Os entrevistados foram selecionados por sorteio
probabilístico e as entrevistas – 700 em cada cidade - foram feitas nos domicílios dos entrevistados,
durante os meses de abril e maio de 2002. O campo em Santo André, cidade da região metropolitana
de São Paulo, foi realizado entre outubro e novembro de 2002, também com 700 entrevistados. Santo
André foi escolhida para a pesquisa por ser uma das cidades selecionadas para monitorar o impacto
110
do PIAPS, uma vez que diversos programas ligados ao PIAPS estarão sendo implementados ali. Ao
interpretarmos os dados da cidade, é preciso ter em mente o episódio da morte traumática do prefeito
Celso Daniel alguns meses antes, que fez com que o tema da segurança se tornasse especialmente
relevante ali.
Metade da população das Capitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Vitória diz ter sido
vítima de algum tipo de crimes nos últimos 5 anos e um terço delas apenas no último ano. Entre os 11
tipos de delitos abordados na pesquisa, os crimes contra o patrimônio – furtos e roubos - foram
claramente os de maior incidência. Apenas uma minoria diz ter sido vítima de agressões físicas ou
sexuais.
O roubo e furto de automóveis e motocicletas são claramente maiores em SP e RJ, em
contraste com RE e VI, que apresentam taxas baixas destes delitos.
Se examinarmos as médias de crimes, a prevalência nos últimos 5 anos e a prevalência
apenas no último ano, São Paulo e Recife aparecem como cidades mais violentas do que Rio de
Janeiro e Vitória. Chama a atenção particularmente em Recife o elevado número de furtos, tentativas
de arrombamento, roubos e agressões físicas e sexuais.
Santo André é um município rico situado na Região Metropolitana de São Paulo. Regra geral,
quando maior a renda média local, maior a taxa de crimes contra o patrimônio. A maior taxa de
vitimização de crimes contra o patrimônio na cidade explica-se provavelmente pelo elevado padrão de
vida médio dos habitantes da cidade.
112
Roubo/furto de moto * 18 24 21 25
Depredação em automóvel * 13 19 27 24
Roubo/furto de bicicleta * 20 22 20 19
Roubo/furto de automóveis * 17 16 15 19
Roubo 13 16 16 28
Furto de algo dentro do carro * 15 12 21 18
Furto 10 12 11 13
Agressão física 7 8 5 10
Arrombamento 6 6 7 8
Tentativa de arrombamento 6 6 7 6
Agressão sexual 4 5 4 4
Média 10,75 12,17 12,83 14,5
Sob o risco de parecer tautológico, é preciso insistir que os crimes contra o patrimônio
ocorrem onde existe patrimônio para ser subtraído. Tratam-se de crimes “opportunity driven” em
contraste com os crimes contra a pessoa, que são “poverty driven”. Como decorrência, eles tendem a
ocorrer com maior incidência nos Estados mais ricos, nas cidades mais ricas, nos bairros mais ricos
e atingir com maior probabilidade as pessoas de renda mais elevada.
Como pode ser observado a partir da análise das médias e da prevalência de crimes no
período de 5 anos, existe uma relação linear entre probabilidade de vitimização e renda: nas famílias
que ganham até R$ 400,00 mensais, 39% diz ter sido vítima de ao menos um dos crimes listados, ao
menos uma vez. A porcentagem sobre linearmente até atingir 64%, entre as famílias que ganham
mais de R$ 1600,00 reais mensais.
Se estivéssemos analisando os dados de homicídios, o perfil seria diferente, como inúmeras
pesquisas já revelaram, pois estes incidem especialmente sobre jovens do sexo masculino, não
brancos, com baixa escolarização e renda, moradores das zonas periféricas dos grandes centros
urbanos.
113
Roubo/furto de moto * 28 24 20
Depredação em automóvel * 15 21 31
Roubo/furto de bicicleta * 22 20 18
Roubo/furto de automóveis * 19 15 22
Roubo 12 18 27
Furto de algo dentro do carro * 17 15 23
Furto 10 11 17
Agressão física 4 8 12
Arrombamento 5 7 9
Tentativa de arrombamento 4 7 7
Agressão sexual 1 6 4
Média 11,42 12,67 15,83
Vitória é a cidade com maior proporção de crimes ocorridos “este ano” (2002), o que pode
sugerir um movimento ascendente de criminalidade local, em contraste com o Rio de Janeiro, que é a
cidade com menor proporção de crimes ocorridos mais recentemente. Lembre-se que a pesquisa
trabalha com um período de 5 anos e que se a criminalidade estivesse estável, cada ano deveria ser
responsável por cerca de 20% dos crimes.
Trata-se todavia de um cálculo imperfeito pois: a) a pesquisa foi feita em junho, cobrindo o
período de 1998 ao primeiro semestre de 2002; b) os entrevistados tendem a lembrar mais dos fatos
recentes e esquecer os antigos, bem como recordar especialmente os incidentes de maior gravidade.
116
Em geral, os crimes contra a pessoa ocorrem dentro ou próximo da casa das vítimas pois são
freqüentemente crimes de natureza interpessoal, em contraste com os crimes contra o patrimônio,
que costumam ocorrer em outras áreas mais afastadas da cidade, enquanto a vítima está trabalhando
ou estudando. De fato, a pesquisa revela que os roubos e furtos (exceto de veículos) tendem a
ocorrer longe da casa enquanto as agressões físicas ocorrem perto ou dentro da mesma. Curioso,
todavia, observar a baixa porcentagem de agressões sexuais que ocorrem perto da casa da vítima
(48%), com exceção de Recife (66%). É preciso lembrar que, segundo a definição operacional da
pesquisa, “agressões sexuais” incluem desde estupros a assédio sexual e cantadas, que ocorrem
com freqüência no ambiente de trabalho. Santo André, a menor das cidades investigadas, detém a
maior média de crimes ocorridos perto ou dentro da própria casa.
117
Roubo/furto de bicicleta 74 78 87 88
Agressão física 33 20 15 26
Furto de algo dentro do carro 85 68 46 48
Roubo/furto de moto 48 59 70 38
Roubo/furto de automóveis 68 53 48 45
Depredação em automóvel 25 63 61 43
Agressão sexual 27 7 10 17
Roubo 45 39 34 38
Furto 33 37 32 37
Média 43,8 42,4 40,3 38
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
Roubo/furto de bicicleta 77 81 90
Agressão física 28 19 30
Furto de algo dentro do carro 47 55 59
Roubo/furto de moto 77 40 93
Roubo/furto de automóveis 50 52 50
Depredação em automóvel 68 49 50
Agressão sexual 25 13 8
Roubo 34 41 37
Furto 29 34 43
Média 43,5 38,4 46
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
118
Em média, apenas um terço das vítimas nas Capitais notificou o crime à polícia, estando o
Rio de Janeiro ligeiramente abaixo das demais cidades (24,5%) e Vitória e Santo André um pouco
acima (33,5% e 35%, respectivamente42).Isto significa que a “cifra negra”, ou taxa de subnotificação
no país continua em torno de 2/3, tal qual já observado nas pesquisas anteriores de vitimização
realizadas entre 1992 e 1997). O padrão de notificação manteve-se igualmente inalterado: o
montante do prejuízo causado, a necessidade de um boletim de ocorrência para o recebimento de
seguro e a gravidade do ato explicam as elevadas taxas de notificação de roubos de automóveis,
motocicletas, arrombamentos e roubos. Os crimes envolvendo pessoas que se conhecem – agressão
sexual - quantias de pouca monta ou modus operandi não violento, por outro lado, apresentam
elevadas taxas de subnotificação. Isto significa que as estatísticas oficiais de criminalidade são
especialmente ruins para o monitoramento deste tipo de delito, com conseqüências importantes para
o combate aos mesmos.
Os dados deixam claro que o fenômeno da subnotificação é universal: mesmo nos países
desenvolvidos, as autoridades policiais conhecem apenas metade dos crimes (49,5%). Em todo caso,
existem variações de país e para país e as taxas de notificação variam com o perfil dos crimes que
ocorrem em cada país, com a escolarização da população, qualidade do atendimento policial,
confiança da população na polícia, entre outros fatores. Em todo caso, chama a atenção o fato do
Brasil apresentar uma das menores taxas entre os países avaliados. Se as taxas de notificação
brasileiras são parecidas com as dos demais países com relação aos bens caros e aos crimes
graves, é principalmente com relação aos casos de menor gravidade que as diferenças se
manifestam: no Brasil, são poucas as vítimas destes tipos de crimes que se dão ao trabalho de ir a
polícia prestar queixa, ao contrário das vítimas dos países desenvolvidos.
Tabela 4a - Notificação por tipo de crime e renda
Notificação do crime Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600
42
O fato de Vitória e Santo André serem cidades menores do que as demais talvez explique a porcentagem
ligeiramente maior de notificação, dadas as facilidades maiores para o registro da denúncia.
119
Normalmente, são os indivíduos mais ricos e escolarizados que tendem a notificar os crimes
de que foram vítimas: seja porque têm mais tempo ou flexibilidade de horários para fazê-lo, porque
são melhor atendidos no Distrito Policial ou conhecem algum delegado, por dever cidadão ou ainda
porque fazem mais uso do seguro e precisam do Boletim de Ocorrência. Os dados da pesquisa
corroboram este fenômeno com relação a escolaridade mas não com relação a renda: um terço dos
vitimados com curso superior notificou o crime, em comparação com apenas 17,6% dos vitimados
com escolaridade até 1º grau. Mas, no que diz respeito a renda, foram precisamente os mais pobres
que mais disseram ter notificado o crime na polícia (31,2%) enquanto a taxa de notificação manteve-
se mais ou menos constante nas demais categorias.
São raras ainda no Brasil as instituições alternativas à polícia onde seja possível as vítimas
buscarem reparação pelo crime. Se no caso dos delitos contra o consumidor a população tem feito
uso em larga escala dos Procons, não existe nada similar quando se tratam de crimes mais comuns.
No caso do roubo / furto de automóveis esta prática parece ser mais comum (17%) pois as
vítimas comunicam o ocorrido a seguradora, a direção do estabelecimento onde ocorreu o crime (no
caso de estacionamentos), a empresas privadas de monitoramento, ao Cadastro Nacional de
Veículos Roubados, e até mesmo aos meios de comunicação. Nos demais crimes parece não existir
muito a quem recorrer para recuperar o bem, além da polícia. A prática, em todo caso, parece ser
mais comum em Recife (13,5%) e mais rara em São Paulo (5,5%).
121
O conhecimento ou não dos agressores pela vítima é uma maneira alternativa de investigar a
natureza do crime. Fica claro aqui que na grande maioria dos casos de roubo, autor e vítima não se
conhecem e que claramente não se trata de crime interpessoal. Mesmo assim, é relativamente
elevada em Vitória a proporção de vítimas de roubo que conhecia de alguma forma o algoz (16%).
Confirma-se aqui a sugestão de que as agressões físicas em Santo André têm caráter menos
doméstico, uma vez que em 76% dos casos a vítima não conhecia o agressor, diferentemente dos
casos de agressão sexual, onde o agressor era conhecido em cerca de 2/3 dos casos.
Nos casos de agressão sexual e principalmente física, fica evidente a conotação interpessoal:
motivo fútil, passional, doméstico, ou como quer que os chamemos. Em nada menos que metade dos
casos de agressão física, vítima e autor se conhecem.
Diferentemente da tabela anterior, aqui as médias sugerem que em Santo André e em São
Paulo os crimes ocorrem mais entre estranhos, ocorrendo o inverso em Recife.
Roubo 81 96 97 96
Agressão sexual 41 100 70 57
Agressão física 22 51 52 56
Média 36 61,75 54,75 52,25
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002
Roubo 86 93 97
Agressão sexual 68 69 92
Agressão física 22 50 62
Média 44 53 62,75
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
Outra característica ligada aos crimes interpessoais é o fato dos autores freqüentemente não
usarem armas para agredir ou ameaçar as vítimas. A tabela 9 confirma novamente a natureza
interpessoal de boa parte das agressões física e, principalmente, sexuais. Nestas últimas, apenas em
8% dos casos o agressor tinha algum tipo de arma, ao contrário do roubo, onde a arma aparece em
68% dos incidentes. Vitória surge como a cidade onde menos armas foram utilizadas para o
cometimento destes crimes, sugerindo mais uma vez a natureza ainda um tanto “doméstica” dos
crimes cometidos na cidade. Santo André, ao contrário, é a cidade com maior presença de armas nos
incidentes, mesmo nos casos de agressões físicas e sexuais, que tendem a não envolver armas nas
demais cidades, por serem crimes interpessoais.
124
Uma coisa a pesquisa deixa claro: quando a arma esta presente no incidente, ela é utilizada
para ameaçar a vítima. Foi o que ocorreu na quase totalidade dos roubos e na maioria das agressões
físicas. O uso da arma como ameaça parece ligeiramente mais freqüente em Santo André, São Paulo
e Rio, e menos nas demais cidades.
125
Os crimes contra o patrimônio envolvendo valores elevados – roubo e furto de veículos, por
exemplo - são percebidos por vezes pelas vítimas como mais sérios do que crimes como agressão
sexual ou física. Uma possível explicação para isso, como vimos, reside no fato de agressor e vítima
normalmente se conhecerem nestes últimos casos.
Voltando aos crimes contra o patrimônio, uma explicação adicional para a seriedade no caso
dos automóveis é que eles deixaram há muito de ser artigos de luxo e a vida e o trabalho das
pessoas muitas vezes depende deles, de modo que o roubo de um veículo pode trazer sérias
conseqüências financeiras para a pessoa e sua família.
Como quer que seja, os entrevistados de Santo André (76%), São Paulo (62%) e Vitória
(66,2%), sistematicamente atribuem mais “seriedade” aos incidentes criminais do que os moradores
do Rio de Janeiro (50,1%) ou Recife (55,3%). Isto pode talvez ajudar a entender porque a notificação
de crimes, como vimos na tabela 4, é maior em Santo André e Vitória (33,5%) e menor no Rio de
Janeiro (24,5%).
126
Roubo/furto de automóveis 90 84 91 96
Roubo/furto de moto 100 81 73 87
Arrombamento 69 83 67 94
Agressão sexual 63 78 51 73
Roubo 68 70 72 64
Agressão física 64 67 56 77
Furto de algo dentro do carro 38 67 53 65
Tentativa de arrombamento 44 53 45 59
Furto 58 46 50 55
Roubo/furto de bicicleta 48 45 27 48
Depredação em automóvel 13 42 33 37
Média 54,58 59,67 51,5 62,92
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
Roubo/furto de automóveis 89 92 91
Roubo/furto de moto 69 83 100
Arrombamento 74 75 95
Agressão sexual 82 70 71
Roubo 60 69 62
Agressão física 22 70 71
Furto de algo dentro do carro 50 62 49
Tentativa de arrombamento 40 55 54
Furto 54 52 49
Roubo/furto de bicicleta 49 44 42
Depredação em automóvel 29 38 30
Média 51,5 59,17 59,5
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
Embora não seja uma relação exatamente linear, os dados parecem indicar que o grau de
seriedade atribuída ao incidente cresce com a renda e a instrução, na maioria dos crimes arrolados.
Observe-se com a agressão física é muito mais “tolerada” entre aqueles de menor escolaridade:
apenas 22% qualificaram o ato como “muito sério”, porcentagem que sobe para 71% entre os
entrevistados com curso superior.
A violência assume assim um grau particular de seriedade para a elite, enquanto os estratos
inferiores – por razões culturais ou porque lidam com outras “violências”, como desemprego, má
qualidade de vida, etc. – tendem a amenizar a seriedade dos atos criminais.
127
Em diversos países e mais recentemente em alguns estados brasileiros, têm sido criados
órgãos de auxílio às vítimas de determinados crimes. O CRAVI de São Paulo – centro de apoio e
referência às vítimas de violência, gerenciado pela Secretaria Estadual de Justiça – que atende aos
parentes das vítimas letais, fornecendo apoio jurídico e psicológico, é um exemplo da implementação
destes órgãos no país.
Os entrevistados entendem que tais órgãos são necessários especialmente para o auxílio às
vitimas de crimes que afetam a pessoa – agressões sexuais e físicas – mas também seriam bem
vindos nos casos de roubo ou arrombamento, que também deixam seqüelas nas vítimas, embora
menos duradouras. Órgãos deste tipo parecem especialmente bem quistos em Santo André (76%) e
Recife (58,6%) enquanto os cariocas são os mais céticos com relação a utilidade dos mesmos (50%).
128
Agressão sexual 75 80 77 70
Agressão física 81 70 64 64
Roubo 74 63 62 57
Arrombamento 61 60 70 66
Média 58,2 54,6 54,6 51,4
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
Tendo ou não sido vítimas de crimes nos últimos anos, os habitantes dos centros
metropolitanos brasileiros sentem-se bastante inseguros, mercê do crescimento da violência nas
últimas duas décadas. Dois terços julgam-se prováveis vítimas de algum furto ou roubo até o próximo
ano, 57 % afirma ter mudado de comportamento por razões de segurança e um terço dos
entrevistados sente-se inseguro na própria vizinhança e conversou sobre crimes nas últimas duas
semanas. A sensação de insegurança aparenta ser mais forte em Santo André – onde o próprio
prefeito da cidade foi vítima de seqüestro e homicídio meses antes - e Recife e menos no Rio de
Janeiro mas é um traço comum a todas as cidades pesquisadas.
Com relação aos demais países investigados, os níveis atuais de insegurança brasileiros só
são menores do que os níveis observados na Argentina. No Panamá – país em desenvolvimento
como Brasil e Argentina - Portugal e outros países desenvolvidos que tomaram parte na pesquisa de
2002, são bastante inferiores as porcentagens dos que “sentem-se inseguros ao andar na vizinhança
quando escurece”, única questão comum a todos os países.
130
São os mais ricos e escolarizados os que mais se sentem inseguros pois, mesmo sem se
encaixar no perfil das vítimas de homicídio, são os alvos preferenciais dos crimes contra o patrimônio.
Se é verdade que todos parecem sentir-se inseguros ao andar na vizinhança pela noite, são os mais
ricos e escolarizados que mais modificaram seus hábitos por razões de segurança e os que mais
crêem na probabilidade de se tornarem vítimas de furto ou roubo.
131
A análise dos cruzamentos por renda e escolaridade indica que a percepção de que a
criminalidade está crescendo é especialmente forte nos estratos mais elevados que, como vimos
anteriormente, são proporcionalmente mais vitimados pelos crimes contra o patrimônio e os que
atribuem mais seriedade aos incidentes criminais. É possível que esta percepção tenha relação
também com a quantidade e tipo de informações sobre o crime e violência a disposição dos estratos
superiores, mas não existem nesta pesquisa elementos para avaliar esta relação.
133
A pesquisa perguntou às vítimas de certos crimes se ficaram ou não satisfeitas com relação a
atuação da polícia no incidente. Ressalte-se que já se tratam de pessoas que confiam de certa forma
na polícia, pois deram-se ao trabalho de registrar a queixa. Mesmo assim, em média, apenas um
terço das vítimas disseram-se satisfeitas com a atuação policial: note-se também que a satisfação
com a polícia é muito menor em São Paulo (26,8%) do que no Rio de Janeiro e Santo André, onde
cerca de metade das vítimas declarou-se satisfeita. Recorde-se que o atendimento nos Distritos
Policiais cariocas vem passando por grandes transformações, desde o início do programa Delegacia
Legal, do qual já fazem parte 60 Distritos da cidade.
Note-se também que a satisfação é maior no caso das agressões físicas – onde não
raramente agressor e vítima se conhecem – caso em que a atuação policial é bastante facilitada uma
vez que pode identificar e punir o autor. Lesão corporal culposa e dolosa de natureza leve estão
abrangidas pela lei 9099/95, que trata do juizado especial criminal, onde o procedimento é mais
célere e depende de representação, ou seja depende da vontade da vítima – fator que pode estar
contribuindo para o aumento da satisfação das vítimas destes crimes
A satisfação, por outro lado, é visivelmente menor nos casos de arrombamento, onde a
polícia é geralmente acionada por telefone e normalmente sequer comparece ao local do incidente
para fazer perícias ou investigações. Exceto o exame de corpo de delito que é feito na hora, os
demais exames e perícias levam muito tempo, principalmente quando são requisitados exames
complementares – mais comuns em lesão de natureza grave ou gravíssima. São em geral poucos
peritos, trabalhando numa estrutura rudimentar e sobrecarregados de casos. Há também o fato de
que os próprios moradores muitas vezes já alteraram as evidências.
A satisfação com a atuação da polícia no Brasil é bastante similar – em algumas cidades até
maior - à satisfação média observada em Portugal (31,2%), mas bastante inferior a média dos demais
países desenvolvidos (61%). Isto pode ajudar a entender porque a notificação de crimes é maior
nestes países.
134
Agressão física 91 40 59 51
Roubo 20 49 40 54
Furto de algo dentro do carro 37 26 29 43
Roubo/furto de automóveis 3 43 38 41
Arrombamento - 28 25 16
Média 37,7 31 31,83 34,17
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002
Agressão física 64 58 51
Roubo 60 39 58
Furto de algo dentro do carro 21 53 39
Roubo/furto de automóveis 26 41 44
Arrombamento - 34 13
Média 42,7 37,5 34,17
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
A pesquisa procurou comparar a avaliação dos serviços prestados pela polícia com os de
outros órgãos públicos estaduais ou municipais. Como em quase todas as ocasiões em que a
questão foi formulada, aqui também a polícia recebeu, no agregado, a pior avaliação: em São Paulo
só perde para os “locais de diversão e lazer” e nas demais cidades foi a última colocada no ranking.
Observe-se pelas médias que, de modo geral, a avaliação dos serviços públicos é bem mais positiva
em Vitória (57,3%) e Santo André (54,2%) e negativa em Recife (37,4%). Especificamente com
relação a polícia, ela recebe a pior avaliação comparada no Rio de Janeiro (16% de bom) e a melhor
em Vitória (38%).
136
Tabela 16a – Comparação entre serviços públicos por tipo de crime e renda
Serviços no bairro (% bom) Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600
Fornecimento de água 68 78 80 84
Abastecimento 58 64 73 75
Iluminação 58 60 58 55
Transporte coletivo 56 53 60 60
Serviço de limpeza 51 55 51 52
Rede de esgoto 42 52 55 55
Conservação das ruas 37 35 34 32
Atendimento médico 23 21 28 29
Diversão e lazer 19 19 24 30
Policiamento 20 22 20 22
Media 39,27 41,73 43,91 44,91
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002
Uma vez que o acesso aos bens públicos é maior nos estratos superiores de renda, é natural
encontrar um grau de satisfação maior nestes setores: de uma maneira geral, como revelam as
médias, quanto maior a renda familiar, maior a porcentagem de satisfeitos com os diferentes serviços
oferecidos no bairro. A exceção é o item “conservação das ruas” provavelmente devido ao fato dos
mais ricos fazerem uso mais intenso de automóveis e sentirem mais na pele o problema buracos do
que os pedestres.
Tabela 16b – Comparação entre serviços públicos por tipo de crime e escolaridade
Serviços no bairro (% bom) até 1º grau 2º grau superior
Fornecimento de água 79 78 77
Abastecimento 64 67 73
Iluminação 67 57 49
Transporte coletivo 58 55 61
Serviço de limpeza 56 52 50
Rede de esgoto 54 49 57
Conservação das ruas 40 32 35
Atendimento médico 27 22 31
Diversão e lazer 20 21 33
Policiamento 26 20 20
Media 44,64 41,18 44,18
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
A maioria dos entrevistados nas quatro capitais julga que a polícia não vem fazendo um bom
trabalho de controle do crime (61%, em média). A crítica ao trabalho policial é mais rigorosa no Rio de
Janeiro (65%) e menos em Vitória (51%), como já observamos também na tabela 16. Isto talvez
explique também porque a avaliação da segurança encontra seu pior nível no Rio e o melhor em
Vitória (tabela 14) e porque a notificação de crimes (tabela 4) é menor na primeira do que na
segunda.
Indicador alternativo da avaliação da polícia é a pergunta “quantas vezes a polícia passa pela
sua rua” pois já se observou que a resposta “nunca” é por vezes menos uma avaliação objetiva do
que uma resposta projetiva para checar o sentimento subjetivo com relação à polícia.
Como vimos ao interpretar os dados da tabela 15, a satisfação com o trabalho da polícia é
bem superior nos países desenvolvidos (somente 22% declararam que polícia não faz um bom
trabalho), quando comparados ao Brasil (61%), Panamá (51%) ou Argentina (51%), únicos países
latino-americanos a participarem do projeto ICVS recentemente.
138
O cruzamento por renda não indica a existência de diferenças relevantes entre os grupos,
enquanto o cruzamento com escolaridade sugere novamente que a avaliação da polícia é melhor
entre os menos escolarizados.
139
Os mais pobres são os que mais apoiam as políticas clássicas de segurança pública, como
mais policiamento nas ruas (87%) e sentenças mais longas para os criminosos (62%). Propostas
como controle sobre armas de fogo ou restrição de violência na TV não revelaram diferenças entre os
grupos. Em compensação, é nítida a maior adesão dos mais ricos as estratégias preventivas: quanto
maior a renda familiar, maior apoio a uma visão conjunta, a programas sociais para jovens e maior o
apoio a que mais recursos sejam destinados a prevenção. Isto significa que apoio a programas como
o Piaps encontrarão proporcionalmente maior adesão na elite e menor adesão entre as classes
populares, embora o apoio a prevenção seja generalizado.
A análise desta tabela parece levar as mesmas conclusões da tabela anterior: tanto as
estratégias preventivas quanto as repressivas encontram respaldo no imaginário da população.
Observe-se que o item pior avaliado – base comunitária de policiamento - recebeu 86% de
“aprovação”, entendida aqui como estratégia que auxilia e portanto deveria ser adotada. Em todo
caso, fica clara a percepção de que as medidas preventivas, para a população, têm um papel a
cumprir no combate a criminalidade.
A dissecação dos resultados por renda e escolaridade sugere não haver discrepâncias de
opinião quanto ao potencial destas diversas estratégias de combate a violência, que são bem vistas
em todas as classes de renda e escolaridade.
142
A população apoia as estratégias preventivas por uma razão muito simples, que se
depreende da leitura dos dados acima: as causas sociais – ócio entre os jovens, falta de emprego e
renda – estão entre as principais responsáveis pela criminalidade. Mas, novamente, parte do
problema é derivado da ausência de políticas específicas no sistema de justiça criminal: falta de
confiança na justiça, na polícia e falta de policiamento. Observe-se que nem todos os setores sociais
– por exemplo, saúde – são diretamente relacionados na visão popular com a questão da
criminalidade.
143
As diferenças aqui são sutis mais ainda assim perceptíveis: os entrevistados de menor renda
familiar tendem a atribuir a criminalidade menos a causas sociais e mais a problemas relativos ao
funcionamento do sistema de justiça criminal (polícia e justiça). O inverso ocorre entre os
entrevistados de renda elevada.
144
Com relação a escolaridade, pode-se dizer que a atribuição a causas sociais cresce com a
escolaridade (44% entre os que tem até 1 grau versus 51% entre os que em curso superior), embora
o mesmo não seja verdadeiro com relação as causas ligadas ao funcionamento do sistema de justiça
criminal.
145
Tráfico de drogas 37 34 34 23
A pobreza do país 32 27 23 30
A crise econômica 15 19 21 19
Justiça pouco rigorosa 9 13 16 21
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002
Tráfico de drogas 36 32 24
A pobreza do país 28 28 30
A crise econômica 18 19 20
Justiça pouco rigorosa 11 15 18
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
A pobreza do país e a crise econômica são por todos responsabilizadas pela criminalidade no
país, independentemente de renda ou escolarização. Mas, enquanto os mais pobres e menos
instruídos dão ênfase ao tráfico de drogas, os mais ricos e escolarizados responsabilizam antes a
Justiça pouco rigorosa pela criminalidade.
147
Embora o PIAPS não seja conhecido da população, é interessante notar que diversos
programas que o compõem o são, pois, em média, 42% dos entrevistados disseram já ter ouvido falar
de algum dos programas listados, com São Paulo (38,2%) jogando a média geral para baixo. Bolsa
escola é de longe o mais conhecido de todos pois existe com o mesmo nome em diversos locais e
níveis de governo. O programa menos conhecido é Livro Aberto, mencionado por 16% dos
entrevistados, mais do triplo da porcentagem dos que já tinham ouvido falar no PIAPS. O desafio do
PIAPS, portanto, em termos de conhecimento, é conseguir fazer com que a população saiba que os
projetos chegaram especificamente até aquele local, em parte por intermédio do PIAPS, que articula
com os ministérios a implementação nas “áreas prioritárias”.
Para interpretar corretamente as respostas de “conhecimento” é preciso fazer uma nota
metodológica: diversas pesquisas já observaram que as respostas em geral são infladas, pois os
respondentes, com vergonha em assumir que “desconhece” ou “nunca ouviu falar” em algo, tende a
afirmar o contrário. Mas se é possível questionar a magnitude das respostas, a ordem geral, todavia,
continua válida, pois o problema da inflação de respostas afeta a todas igualmente. Mesmo que os
níveis de “conhecimento” estejam superestimados, é certo que Bolsa Escola é mais conhecido que
Livro Aberto, e assim por diante.
A comparação com Santo André ficou prejudicada uma vez que a lista de programas
apresentada aos entrevistados no município foi ligeiramente modificada. Merece menção em Santo
André a lembrança de programas locais como defesa dos direitos do consumidor (76%) e defesa civil
(54 %); modernização da guarda municipal (35%) e capacitação da guarda municipal (30%), bem
como o programa denominado Educação especial (25%).
150
Bolsa escola 88 86 88 91
Centro comunitário 62 68 68 69
Agente comunitário de saúde 58 57 61 64
Paz nas escolas 54 52 56 55
Saúde da família 54 48 57 58
Erradicação do analfabetismo 45 45 50 63
Transporte do escolar 48 49 49 51
Esporte solidário 32 35 45 53
Morar melhor 34 38 42 41
Balcão de direitos 31 32 39 43
CIC 30 30 36 41
Brinquedoteca 20 29 26 33
PRÓ-INFRA 21 24 30 32
Livro aberto 16 13 20 21
Média 39,53 40,4 44,47 47,67
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002
Bolsa escola 83 87 96
Centro comunitário 62 66 70
Agente comunitário de saúde 53 58 70
Paz nas escolas 46 54 59
Saúde da família 52 49 64
Erradicação do analfabetismo 44 46 70
Transporte do escolar 53 46 52
Esporte solidário 30 40 54
Morar melhor 37 38 39
Balcão de direitos 34 33 47
CIC 34 31 43
Brinquedoteca 24 25 40
PRÓ-INFRA 20 26 35
Livro aberto 13 17 21
Média 39 41,07 50,67
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
Embora as camadas mais pobres tenham podido citar programas ligados ao Piaps e as mais
abastadas não, quando os nomes dos programas são apresentados aos entrevistados o fenômeno se
inverte. De modo quase sempre linear, em quase todos os programas, o conhecimento dos mesmos
aumenta com a renda e a escolaridade. (ou então cresce a vergonha de assumir que não conhece o
programa)
151
A tabela 24 revela que há uma clara relação entre a existência do programa e seu
conhecimento pela população, uma vez que a ordem em que os programas são listados aqui é
bastante similar a da tabela de conhecimento. Se isto estiver correto, o grau de conhecimento de um
programa dependeria menos de sua divulgação e promoção na média e mais de sua efetiva
implementação local.
Lembre-se aqui que a pergunta sobre a “existência” dos programas foi feita apenas para
aqueles que disseram ter ouvido falar do programa e que portanto a base para o cálculo das
porcentagens não é a mesma da pergunta anterior. Isto explica o fato de que, em alguns itens, a
porcentagem dos que responderam que o problema “existe” ser maior do que a porcentagem dos que
“ouviram falar” do programa.
Os dados precisam ser lidos com cuidado, pois também são afetados pela “inflação” de
respostas dos que não admitem parecer ignorantes frente ao pesquisador. Uma forma de corroborar
ou refutar a informação seria tentar determinar em que cidades os programas foram mais
intensamente implementados. Verificando ainda que precariamente, por exemplo, se, tal qual a
pesquisa sugere, a implementação foi maior em Vitória (68%) e Recife (60,5%) e menor em São
Paulo (32%)
152
A base utilizada para o cálculo das porcentagens desta tabela foram os entrevistados que já
tinham ouvido falar no programa, sabiam da existência dele no local e participavam (ou algum
familiar) de alguma forma nele.
Como seria natural esperar, a quantidade dos que participam ou tem alguém da família que
participa nos diversos programas é bastante inferior aos que o conhecem: em média, 13% dos
entrevistados afirmaram tomar parte em pelo menos um dos programas, aparecendo os dois
programas da área da saúde como os mais difundidos em todas as cidades, exceto Rio de Janeiro.
Note-se que os entrevistados de São Paulo são os que mais relatam participação nos programas,
com médias duas vezes maiores que em Vitória e Recife e três vezes maior do que a dos cariocas.
Livro-Aberto, Brinquedoteca e CIC estão entre os que mais alcançam os entrevistados
segundo esta tabela, mesmo sendo pouco conhecidos de acordo com as tabelas anteriores.
153
Os programas sociais do governo – 49 dos quais fazem parte do Piaps – são voltados
preferencialmente para as camadas mais desfavorecidas da população. As tabelas sugerem que os
programas estão atingindo seu alvo, pois a participação ou utilização de cada programa cai
linearmente conforme aumentam a renda e a instrução do entrevistado.
154
Como já visto na tabela 20, comparativamente, a população não vê tanto potencial preventivo
nos programas ligados a área da saúde, embora mesmo aí metade dos entrevistados tenham visto
algum potencial. Em contrapartida, os três primeiros programas mencionados têm relação com
educação, ficando evidente a associação que a população faz entre potencial preventivo e a
escolarização. Observe-se que em Vitória é bastante superior a porcentagem dos que vêem nos
programas do PIAPS um potencial de prevenção ao crime. Em Santo André, cidade piloto do
programa, a percepção do potencial de prevenção ao crime nestes programas é ligeiramente superior
a média nacional.
155
Tabela 26a – Opinião sobre o potencial preventivo dos programas, por programa e renda
Ajudam a prevenir a violência ? Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600
Este artigo sugere medidas de coleta, elaboração e apresentação dos dados que melhorarão a
sua qualidade, a sua compreensão e o seu poder analítico. A melhoria na compreensão gera
sugestões para políticas públicas que possam reduzir o número de vítimas e de mortes.
2 - As Áreas Metropolitanas
43
Soares, G. A. D. Homicídios no Brasil: Factóides em Busca de uma Teoria, 2000.
44
Há, pelo menos, duas definições do Entorno: o Entorno Legal inclui um grande número de municípios, alguns
dos quais localizados a mais de 300 kms do Distrito Federal; outra, mais restrita, inclui apenas os municípios
adjacentes ao Distrito Federal.
45
A diversão se concentra nos fins de semana e nos horários noturnos, quando ocorre alta percentagem dos
homicídios e dos crimes.
157
vítima num local aumenta com o tempo passado no mesmo. Nessa metodologia, às cidades-
dormitório, às quais, hoje, é creditada a totalidade da população que reside nelas, seria creditada
apenas uma fração do total de horas vividas.
Empiricamente, o impacto do Entorno foi medido de duas maneiras:
o a condição de RA limítrofe com o Entorno, uma variável “dummy” – não tem
limite/tem limite – e
o a proximidade da principal área habitada do limite com o Entorno – não tem limite/tem
limite, área distante do Entorno/tem limite, área habitada próxima do Entorno. Este
pequeno detalhamento pode ser útil porque o limite é um conceito geográfico e os
fenômenos de que tratamos são populacionais.
40
30
20
10
0
1979-1984 1985-1990 1991-1996
A população dos municípios goianos incluídos no Entorno Legal chegava, em 1996, a 690
mil; a taxa de crescimento da população do Entorno é superior à taxa de crescimento da população
do Distrito Federal, havendo a previsão de que ela superará a população do Distrito Federal em
poucas décadas. O Entorno como um todo representa, arredondando, quase metade da população
do Distrito Federal. Aqui, também, se verifica o mesmo fenômeno observado nos municípios mineiros
do Entorno: o número de goianos que morrem no Distrito Federal é muito maior que o de residentes
do Distrito Federal que morrem assassinados em Goiás. No último qüinqüênio analisado, o número
dos primeiros foi, aproximadamente, três vezes o dos últimos.
Gráfico 2 - Local de Residência e de Ocorrência das Vítimas
de Homicídios por Períodos de Tempo: Goiás e Distrito Federal
500
400
300
200
100
0
1979 a 1984 1985 a 1990 1991 a 1996
Esses dados confirmam que o Entorno – um conjunto de municípios, vários dos quais têm a
função de dormitórios para uma população que trabalha, estuda, obtêm tratamento médico e se
diverte, majoritariamente, no Distrito Federal – não pode ser ignorado nas análises da criminalidade
em geral, e do homicídio, em particular.
Os dados do SIM, mas não os dados policiais fornecidos à SENASP, possibilitam separar as
vítimas de homicídios dos residentes e dos não-residentes. Em alguns estados, a proporção dos
homicídios ocorridos na capital cujas vítimas residem fora dela atinge altas percentagens:
Tabela 1 - Percentagem das vítimas de homicídio mortas nos
municípios das capitais estaduais que residiam fora deles – 2000
Em Vitória, uma das cidades brasileiras com mais alta taxa de homicídios por 100 mil habs.,
nada menos de 42% das vítimas moravam fora do município. Quando incluímos esses 42% no total,
aumentamos, artificialmente, os dados relativos ao município de Vitória e diminuímos, artificialmente,
as taxas dos municípios próximos, de onde essa população provém.
São poucos os casos nos quais o número dos que residem na capital e morrem em outros
municípios é
o Significativa
o Maior que a dos que moram em outros municípios e morrem na capital.
159
Em Boa Vista, RR, 36% das vítimas de homicídio residiam na capital mas não morreram na
capital; em Rio Branco, a percentagem foi 19% e, em Manaus, 10%. As estatísticas de vitimização
por homicídio dessas cidades foram artificialmente reduzidas.
A informação pode ser melhorada, com benefício para as autoridades policiais e de saúde.
Ela deve diferenciar claramente entre
o Local de residência do(a) falecido(a);
o Local da ocorrência do crime;
o Local do falecimento da vítima.
Tabela 2 - Rio de Janeiro: comparação entre os dados do SIM e da Polícia Civil – 2000
A tabela acima confirma o que encontramos em outros estados: os municípios nos quais os
dados da polícia apresentam totais mais elevados são mais numerosos (sessenta contra dez), mas
têm menos população (na média, dez vezes menor). Isso significa que o cômputo baseado nos dados
do SIM penalizam os municípios maiores, elevando artificialmente o número de mortos.
Como esse conhecimento poderia ser útil? O conhecimento de quais são os municípios com
maior incidência de vítimas que são transportadas para fora do município pode justificar iniciativas
para a construção de centros de trauma e/ou hospitais nesses municípios, particularmente centros de
trauma especializados em tratamento de feridos à bala. Outros dados, a respeito da duração média
da remoção e atendimento dos feridos pode justificar medidas como equipar ambulâncias para
extensos tratamentos de emergência para os tipos de ferimentos mais comuns.
A acuidade dessas informações permitirá melhorias dramáticas. Atentemos para o fato de
que recalcular as taxas de Vitória levando em consideração apenas as vítimas residentes diminuiria
em 42% o numerador.
160
Essas medidas reduziriam muito as distorções, mas estariam longe de eliminá-las. A vítima é,
apenas, um dos termos da equação. Falta o autor. As taxas de uma região (estado, área
metropolitana, cidade ou bairro) podem ser artificialmente aumentadas devido à atuação de autores
de homicídio residentes fora dela. Como a taxa de resolução de homicídios no Brasil é baixa, sendo
baixíssima em alguns estados cidades, mesmo se tivéssemos a informação para os homicidas
apreendidos – que não temos – ainda teríamos os vieses provocados pelos homicidas não
apreendidos.
Essas são algumas considerações a respeito da melhoria de nossas estatísticas,
particularmente das taxas de homicídio por cem mil habitantes.
46
Ignacio Cano, The Use of Lethal Force by Police in Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, ISER, 1997.
47
Com a exceção de 3, que provavelmente foram perfurados erroneamente.
161
16 homicídios por grupo de idade de mulheres, exige uma certa precaução porque um homicídio a
mais nas faixas de 50 a 54 e de 55 a 59 aumentaria o total em 50%. A probabilidade de vitimização
por homicídio varia muito com o gênero e a idade, de um mínimo de 3,85, entre mulheres de 50 a 54
anos, a 134,42 entre homens de 20 a 24 anos, uma diferença que equivale a 35 vezes a outra.
Conhecendo o gênero e a idade, explicamos uma fatia importante da variância na vitimização por
homicídio no Distrito Federal.
Os dados relativos ao Distrito Federal também permitem analisar o efeito do estado civil
sobre a probabilidade de vitimização por homicídio. Usando os dados de mortalidade da Secretaria
de Saúde e os dados de população da PNAD de 1993, vemos que o grupo de mais alto risco é o de
solteiros, com uma elevada taxa de 40,8 por cem mil, seguido pelos casados, com 21,1 e pelos outros
grupos de estado civil, com 13,3. As combinações com o gênero e a idade repetem, num nível menos
violento, o encontrado no Rio de Janeiro. Esses resultados também condizem com o encontrado
internacionalmente. Não obstante, esse é um dado coletado com pouca atenção, com muitos erros e
muitos espaços em branco. Não há uma tentativa séria de buscar a informação e refiná-la.
A esses dados, deveríamos agregar os dados referentes ao local da ocorrência. O local varia
de acordo com o tipo de homicídio.
Comparativamente, as mulheres morrem mais em casa do que nos hospitais e do que nas
ruas. Trinta por cento das mulheres vítimas de homicídio morrem em casa, em comparação com onze
por cento das vítimas masculinas. Isso não quer dizer que morram mais mulheres em casa, vítimas
de homicídio, do que homens. Em 1993, no Brasil, morreram em casa 768 mulheres e mais de três
mil homens, quase quatro vezes mais. As diferenças no que concerne ao local do falecimento são
estatisticamente significativas no nível de 0,000. Os coeficientes de correlação Phi e de contingência
são razoáveis para esse tipo de dado. Os dados de 1993 mostram que, dez anos atrás, as relações
entre local da ocorrência e gênero eram íntimas.
2
Likelihood Ratio 6 656,562 0,000
Os dados sobre as mortes violentas que estão disponíveis nas diferentes fontes não estão
divididos somente em homicídios, suicídios e acidentes: há outras categorias, algumas delas
numerosas. São mortes violentas, mas não sabemos quantas delas são homicídios, ou suicídios ou
acidentes. Decresceram durante a década de 90. Eram muito mais numerosas no Rio de Janeiro.
Que percentagem dessas mortes deveríamos considerar homicídios?
Uma delas, por exemplo, se refere às mortes com armas de fogo e intencionalidade
desconhecida. Algumas são acidentes, outras são suicídios e terceiras podem ser homicídios.
Podem, também, camuflar mortes pela polícia. Se fossem aleatórias, uma percentagem constante
das mortes violentas, haveria menos problemas. Mas não o são. Eram perto de 1.500 por ano em
1979 e 1980, cresceram muito nos anos seguintes, atingindo 5.500 ao ano. Essas mortes estavam
muito concentradas no Estado do Rio de Janeiro.
162
Gráfico 3 – Mortes no Brasil com armas de fogo e intencionalidade desconhecida 1979 a 2000
6000
y = -24,7x2 + 98285x - 1E+08
R2 = 0,5479
5000
4000
3000
2000
1000
1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Há dados sólidos, relativos ao Estado do Rio de Janeiro, que mostram como as diferenças
entre os dados da Secretaria de Segurança e os da Secretaria de Saúde podem ser explicadas, em
boa parte, pelo fato de que a primeira baseia sua informação no local da ocorrência do crime, ao
passo que a última baseia sua informação no local da ocorrência da morte. No meio, um elemento
que cria confusão: a migração das vítimas, transferidas do local do crime para os hospitais, onde
morrem. Se essas hipóteses são corretas, deverá haver mais mortes nos dados da SSP do que nos
da Saúde nos municípios pequenos, sem hospital, e o contrário deve ser verdadeiro para os casos
em que os dados da Saúde indicam mais mortes do que os da SSP. A Coluna Polícia-SIM mostra os
coeficientes de correlação, todos médios e médio-altos, e significativos. Porém, esses dados ainda
têm muitos ruídos, sendo preciso limpá-los. Na coluna Polícia - SIM com correções de Gláucio
Soares, ajustamos dados do SIM que não seriam computados, particularmente os “mortes violentas
com intencionalidade indeterminada”. Supondo que esses dados, juntamente com os dados
referentes a mortes cuja intencionalidade é conhecida, são amostra aleatória do universo de mortes
violentas com esses tipos de armas, calculamos a percentagem dos homicídios referentes ao total
das mortes com intencionalidade conhecida e a aplicamos aos dados do SIM referentes a mortes
violentas com intencionalidade desconhecida. O resultado foi somado ao número de homicídios
acusado nas estatísticas do SIM.
Polícia – SIM
Polícia – SIM
corrigido*
Se, como hipotetizavamos, as diferenças se deveriam a que cada Secretaria usa métodos
diferentes, deveríamos observar alguns desses métodos. Os dados da Saúde se referem ao tipo de
morte e não a se são ou não mortes criminosas. Eles dispõem de informações mais detalhadas sobre
163
a vítima e a lesão, mas pouco a respeito do contexto da morte e, no caso em que outras pessoas
estejam envolvidas, não há informações sobre elas. Para construir uma base de dados que permita
conhecer mais as mortes violentas, necessitamos melhorar muitíssimo a informação sobre o contexto
(que deveria estar no histórico e no M.O.) e sobre os autores, em caso de crimes. Os dados da saúde
também permitem correções que compensem os desvios causados pelas deficiências do sistema
estatístico estadual e municipal, porque apresentam dados sobre mortes não violentas. Algumas
comparações criativas, como as usadas por Ignacio Cano, podem ajudar a avaliar a magnitude dos
erros e em que medida os erros são derivados das estatísticas estaduais e municipais em geral e em
que medida das estatísticas criminais apenas.
164
Legenda Legenda
0 <0
1a5 0a5
6 a 10 5 a 10
Mais de 10 > 10
Legenda
<0 Legenda
0a5 <0
5 a 10 0a5
> 10 5 a 10
> 10
Qualquer ciência requer dados confiáveis, e a Criminologia não é exceção. A maioria dos
dados disponíveis nos sites das secretarias de segurança é viciada por um problema de cobertura
e da sua instabilidade. A cobertura se refere à percentagem do total de eventos de uma categoria
que chega às estatísticas. Quanto menor, menos confiável o dado. A instabilidade se refere às
flutuações na cobertura. Quanto maior, menos confiável o dado. Alguns dados são muito sensíveis
à organização do estado, particularmente da polícia, dos hospitais e da justiça. Por exemplo: a
criação de delegacias especiais de atendimento à mulher provocou, em vários casos, um
crescimento das denúncias de estupro. Evidentemente, a criação de delegacias especiais não
provocou um aumento dos estupros, mas do número de vítimas que se dispuseram a prestar
denúncia. Aumentou a cobertura. Esses problemas são de tal ordem que reduzem a utilidade dos
dados a zero ou quase zero. Serão necessárias décadas de experiência e de melhoria gradual das
estatísticas, assim como do treinamento e da pesquisa, que requer massa crítica de criminólogos
bem formados, até que possamos produzir conhecimento sólido com base em dados desse tipo.
Os homicídios são o crime cujos dados têm maior cobertura e menor instabilidade; não
obstante, tem sido utilizados de maneira pouco adequada. Alguns cuidados metodológicos são
necessários antes de analisar os dados sobre homicídios. Esses cuidados são particularmente
importantes para a Criminologia Política, que analisa dados temporais para avaliar políticas
públicas. Para começar, os meses não têm o mesmo número de dias. Faz diferença? Claro que
faz: mais dias significam mais tempo e mais oportunidades para tudo, inclusive para matar e
morrer. Num estado com perto de 600 homicídios por mês, um aumento de 20 (aproximadamente
3%) pode ser visto como fracasso da polícia e da política de segurança do governo. Não obstante,
a diferença pode ser devida ao número de dias no mês e ao número de feriados e dias de fins de
semana. Eles podem ser responsáveis por aumentos ou diminuições dessa ordem de grandeza –
vinte ou trinta homicídios. Sem descontar o número de dias que os meses têm a mais ou a menos,
março é o mês mais violento do ano. De 1992 a 2002, inclusive, foram assassinadas 7.884
pessoas em março, 428 a mais do que as 7.456 mortas em fevereiro. Morreram 7.405 em abril, e
quase 7.300 em janeiro e maio, que, na média dos anos analisados, são os outros meses mais
violentos. Se dividirmos os meses de cada ano em quatro grupos - os três mais violentos, os três
seguintes etc, veremos que, em mortes absolutas, março foi um dos três meses mais violentos do
ano em nove dos onze anos que estudamos, ao passo que fevereiro o foi em 4 anos. Porém,
quando corrigimos os dados mensais pelo número de dias, fevereiro passa a ser o mês mais
violento. Fevereiro foi um dos três meses com a mais alta média diária em dez dos onze anos, ao
passo que março foi um dos mais violentos em sete dos onze anos. Já agosto e setembro
estiveram entre os menos violentos em sete dos onze anos estudados. Outubro e novembro são
meses com crescimento moderado dos homicídios. Já dezembro e janeiro apresentam crescimento
rápido. As variações na média diária de homicídios entre os meses são importantes. Elas se
repetem em quase todos os anos.
Essas variações não são de conhecimento público e não estiveram presentes no cálculo
da violência, mas são importantes para que a cidadania possa fazer avaliações fundamentadas de
governos e políticas de segurança. Um governo pode ser injustamente acusado pelo aumento dos
homicídios, ao passo que outro pode ser injustamente festejado pela sua diminuição e, não
obstante, a explicação do aumento e da diminuição pode residir nos meses em questão, se são
meses de “alta” ou de “baixa”. Não tem a ver com a ação do governo. O número de dias no mês
não é o único fator importante que governo nenhum controla: feriados, o Carnaval e o número de
sextas, sábados e domingos também contam. Nossas pesquisas, analisando dados mais
detalhados, demonstram que os fins de semana (de seis da tarde de sexta a seis da manhã de
segunda) apresentam níveis de violência homicida, assim como de alguns acidentes (trânsito,
afogamentos), mais altos do que os outros dias. O mesmo acontece em muitos países, não só no
48
Seção baseada em Gláucio Ary Dillon Soares e Doriam Borges, Rio de Janeiro, fevereiro e março, estudo
realizado em 2003, com apoio do CLACSO, da FAPERJ e da SENASP.
166
Brasil. Em alguns lugares o aumento começa na quinta e, em quase todos, o período menos
violento é de segunda ao meio dia até quinta às 18hs. Como explicar isso? A violência é um
fenômeno social que resulta da organização da vida na semana: trabalho e escola de segunda a
sexta. Nos fins de semana, é maior exposição a situações de risco, como dirigir em estradas, beber
mais, ir a lugares onde há mais jovens, e é menor a exposição a atividades e instituições
protetoras como a escola, o trabalho em atividades de baixo risco, passar a noite em família. Os
fatores que estão associados com a baixa vitimização – gênero feminino; idade infantil, madura ou
avançada; ser casado(a); ter filhos; ser religioso(a), entre outros – reduzem a exposição a fatores
de risco. A escola, por exemplo, tem taxas mais baixas de vitimização por crime do que as ruas. As
escolas andam mal, mas ruim com as escolas, pior sem elas.
Há uma tendência estacional encontrada no Rio de Janeiro: a média diária de homicídios
desce de fevereiro a março, de março a abril, e continua descendo até os meses mais baixos, para
começar a crescer outra vez, a partir de julho-agosto: cresce mais rápido de novembro a
dezembro, de dezembro a janeiro e, sobretudo, de janeiro a fevereiro. Ela não existe em todos os
lugares, nem em todos os estados do Brasil, e não teve sempre a mesma intensidade no Rio de
Janeiro.
Houve uma clara estacionalidade no segundo governo de Leonel Brizola, no governo de
Marcello Alencar e nos três anos de governo ininterrupto de Anthony Garotinho.
Comecemos com o governo Brizola:
28
21
14
y = 0,0961x2 - 1,4874x + 23,287
R2 = 0,7911
7
0
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN
Os dados mostram que fevereiro, março e abril foram os meses com médias diárias mais
altas, ao passo que julho, agosto e setembro tiveram as médias diárias mais baixas. o R 2 de 0,79
significa que um polinômio de segundo grau explica mais de três quartos da variância entre as
médias. A diferença entre os meses mais altos e os mais baixos é de perto de cinco homicídios
diários. Outras coisas sendo iguais, as pessoas estão mais seguras de julho a setembro do que de
fevereiro a abril.
Fenômeno típico do governo Brizola? Efeito das políticas públicas daquele governo?
Claramente não. Os governos seguintes também não escaparam da estacionalidade:
167
21
14
0
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN
20
15
10
y = 0,0458x2 - 0,5554x + 15,451
R2 = 0,4493
5
0
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN
20
15
10
0
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN
A análise dos dados relativos ao estado do Rio de Janeiro permite verificar que os
homicídios nos três governos seguiram clara estacionalidade, tendo fevereiro a média diária mais
alta de homicídios em todos os três. Em geral, o período de janeiro a abril foi o mais violento.
Houve uma tendência ao descenso da média mensal de homicídios durante o período seguinte. Os
169
meses menos violentos variam mais, mas julho apresenta a média mais baixa. Em geral, o período
de junho a novembro é o menos violento.
As explicações para as estacionalidades variam. Como se considera que os
comportamentos violentos são aprendidos, muitos os definem como um fenômeno histórico-social.
Um dos primeiros estudos que usaram a teoria das atividades diárias, de rotina (routine activities
theory)49, na análise dos homicídios foi feito por Messner e Tardiff em 1986. Os dados se referiam
aos 578 homicídios ocorridos na cidade de Nova Iorque em 1981. Os pesquisadores concluíram
que a localização do homicídio se associa com o gênero, idade e emprego da vítima. As relações
entre o algoz e sua vítima variam com o estilo de vida da vítima. As vítimas cujas vidas estavam
centradas no lar tinham probabilidade mais alta de serem mortas por um familiar. Messner e Tardiff
não encontraram relações significativas entre duas dimensões do homicídio e as estações. Uma
pesquisa metodologicamente sofisticada foi feita por Tennenbaum e associados nos Estados
Unidos. Pesquisaram a influência de ciclos, estações e auto-regressão nos homicídios nos Estados
Unidos. Os homicídios, 275 299, aconteceram entre 1976 e 1989. Os autores descobriram que há
efeitos muito reduzidos, ainda que estatisticamente significativos, para serem úteis na formulação
de políticas públicas. Havia efeitos auto-regressivos com um efeito decalado dos últimos dois
meses50. Na Bélgica, Maes et al estudaram a estacionalidade dos homicídios, assim como os
suicídios violentos e os não-violentos. Os dados cobrem de 1979 a 1987, inclusive. Os autores tão
pouco identificaram estacionalidade nos homicídios nem nos suicídios não violentos. Havia
variações na estacionalidade por idade, sendo que, para os jovens, os picos eram em Abril e
Março e para os idosos em Agosto, ao passo que o período mais baixo era Dezembro/Janeiro 51. O
mesmo estudo notou que os suicídios violentos eram mais comuns entre os homens e
aumentavam com a idade.
Rotton e Cohn sugerem que a explicação dos ritmos do crime passa, também, pela
temperatura, mas no contexto da teoria das atividades quotidianas. Eles analisaram as chamadas
para a polícia durante dois anos, 1994 e 1995, um total de 18.687. Controlaram os feriados, os
feriados escolares, a hora do dia, o dia da semana, a estação e as interações entre essas
variáveis. A análise auto-regressiva mostrou que, durante o dia, a relação era curvilinear: as
agressões sérias aumentavam primeiro com a temperatura e depois decresciam com as
temperaturas muito quentes (para o local). Na primavera essa relação era particularmente forte. Já
durante a noite, a relação era linear, e as agressões sérias aumentavam com a temperatura. 52
Landau e associados analisaram a estacionalidade dos homicídios e de roubos e furtos
em Israel de 1977 a 1985. Partiram do suposto de que robberies seriam estacionais, atingindo
seus piores índices no Inverno; previam, também, que os homicídios seriam mais freqüentes em
Agosto e não seguiriam outros padrões estacionais. Os dados não confirmaram as hipóteses 53.
Três outros fatores explicariam a variância: a presença de delinqüentes motivados e determinados;
alvos fáceis de atingir e ausência de proteção efetiva para esses alvos.
49
A routine activities theory difere da Teoria dos Encontros, de Gláucio Soares, na medida em que a primeira
se concentra no risco produzido pelas atividades de rotina da vítima, ao passo que a Teoria dos Encontros
concebe a vitimização como um dos resultados do encontro da vítima com o criminoso e, por isso, também
leva em consideração as atividades de rotina dos criminosos. A Teoria dos Encontros postula que a
probabilidade do crime é afetada pela combinação entre as características das vítimas e as dos criminosos e,
por isso, é indispensável conhecer as duas. Como exemplo: estar em favelas nos fins de semana à
noite aumenta o risco de assalto mas é mais perigoso para pessoas de fora da favela do que para pessoas de
dentro dela porque em muitas favelas os criminosos internalizaram a norma de que "não se assalta pessoas de
dentro da favela".
50
Tennenbaum Abraham N; Fink Edward L. “Temporal regularities in homicide: cycles, seasons, and
autoregression” Journal of Quantitative Criminology, 10, (4), 1994, págs. 317-342.
51
Maes Michael; Cosyns Paul; Meltzer Herbert Y, et. al. “Seasonality in violent suicide but not in
nonviolent suicide or homicide” American Journal of Psychiatry, 150, (9), 1993, págs. 1380-1385.
52
Rotton James; Cohn Ellen G., “Violence as a curvilinear function of temperature in Dallas: a replication”
Journal of Personality and Social Psychology, 78, (6), 2000, págs. 1074-1081.
53
Landau, Simha F.; Fridman, Daniel, AThe Seasonality of Violent Crime: The Case of Robbery and Homicide
in Israel@. Journal of Research in Crime and Delinquency; 1993, 30, 2, Maio, págs. 163-191.
170
7 - A importância da idade
A idade é uma das correlatas mais importantes do crime; no caso dos homicídios a
importância é evidente. O Estado do Rio de Janeiro, como vários outros estados, coleta dados
detalhados sobre as idades das vítimas. Vemos que a relação entre idade e vitimização por
homicídios tem a mesma forma a de “U invertida” em diversos municípios populosos do estado,
ainda que os níveis possam diferir.
4,0
2,0
0,0
Até 12 13 14 a 15 16 a 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 40 a 49 50 a 59 60 e
anos anos anos anos anos anos anos anos anos 39 anos anos mais
anos anos
20,0
10,0
0,0
Até 12 13 14 a 16 a 18 19 20 a 25 a 30 a 35 a 40 a 50 a 60 e
anos anos 15 17 anos anos 24 29 34 39 49 59 mais
anos anos anos anos anos anos anos anos anos
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Até 12 13 14 a 16 a 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60 e
-5,0 anos anos 15 anos anos anos anos anos anos anos anos anos mais
anos anos
Total São João de Meriti Rio de Janeiro
Nova Iguaçu Niterói Duque de Caxias
Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.
8,0
4,0
0,0
Até 12 anos 13 a 17 anos 18 e mais
Usamos cinco municípios populosos do Estado do Rio de Janeiro para o primeiro teste da
hipótese de que se perde muito por não usar categorias de idade mais refinadas. Nos cinco
municípios – São João do Meriti, Nova Iguaçu, Niterói, Rio de Janeiro e Duque de Caxias –, a
curvilinearidade das relações entre idade e vitimização por homicídio é clara. Porém, se usarmos
as três categorias etárias atualmente disponíveis nas estatísticas policiais, chegamos à conclusão
de que a tendência maior é a crescer aceleradamente até 18 anos e a crescer mais lentamente a
partir de então. Em Duque de Caxias e em Nova Iguaçu, a conclusão possível seria a de que a
vitimização cresce com a idade.
30,0
20,0
10,0
0,0
Até 12 13 14 e 15 16 e 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
ou
mais
15,0
10,0
5,0
0,0
Até 12 13 anos 14 e 15 16 e 17 18 anos 19 anos 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60 anos
anos anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais
-5,0
120,0
80,0
40,0
0,0
Até 12 anos 13 a 17 anos 18 e mais
8,0
4,0
0,0
Até 12 13 14 e 15 16 e 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
ou
mais
Canoas Caxias do Sul Pelotas Porto Alegre
12,0
8,0
4,0
0,0
Até 12 13 14 e 15 16 e 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
-4,0
ou
mais
Canoas Caxias do Sul Pelotas Porto Alegre
Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.
40,0
20,0
0,0
Até 12 anos 13 a 17 anos 18 e mais
12,0
8,0
4,0
0,0
Até 12 13 14 e 15 16 e 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
ou
mais
Feira de Santana Ilhéus Salvador Vitória da Conquista
Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.
4,0
2,0
0,0
Até 12 13 14 e 15 16 e 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
-2,0 ou
mais
Feira de Santana Ilhéus Salvador Vitória da Conquista
30,0
20,0
10,0
0,0
Até 12 anos 13 a 17 anos 18 e mais
Dados no interior de uma unidade federal podem ser municípios, regiões, bairros etc. A
existência de informações econômicas e sociais e de informações criminais na mesma base de
dados – dados comumente existentes nos estados, mas espalhados em diversas secretarias,
permite a análise econômica e social do crime. Dados sobre o Distrito Federal, subdivididos em
suas 19 Regiões Administrativas permitem constatar a existência de relações significativas entre
fatores econômicos e sociais, usados como variáveis preditivas, e as taxas de homicídio:
178
54 A variável dependente é a taxa média de homicídio por 100 mil habitantes de 1995 a 1998, calculada a
partir dos dados absolutos sobre homicídios fornecidos pela Secretaría de Segurança. O número médio anual
de homicídios foi dividido pelos resultados da contagem populacional de 1996. As estimativas populacionais
da CODEPLAN para 1995, 1997 e 1998 e as de outras instituições produziram resultados muito discrepantes
entre si. Por isto, adotamos a posição conservadora de usar somente a contagem. Esta decisão implica em
sobre-estimar as taxas de homicídio das RA's que mais cresceram e subestimar a das que perderam
população. Há muita variação nas taxas de homicídio. Os dados sócio-econômicos foram tomados da
pesquisa PISEF - Perfil Sócio-Econômico das Famílias do Distrito Federal, 1997 - realizada pela CODEPLAN;
os dados demográficos também foram obtidos da CODEPLAN, sendo que os de 1996 se referem à contagem
feita naquele ano pelo IBGE.
179
60
Taxa de Homicídios
y = 7,031x 2 44 ,988 x + 89 ,711
2
50 R = 0,65
40
30
20
10
y = -7.1868x + 45.821
R 2 = 0.37
00
00 01 01 02 02 03 03 04 04 05 05
Gráfico 22 - Taxas masculinas de homicídios por 100 mil e proporção de homens que residem nos
municípios do Rio de Janeiro mas nasceram fora deles
180
70
Indicador de Migração
60
50
40
30
20
y = 0,1655x + 23,015
10 R2 = 0,3788
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Taxa de homicídios por 100 mil homens
Legenda
0 a 18,1
Percentagem de residentes que não
18,1 a 36,2
nasceram no município
36,2 a 54,4
Estado do Rio de Janeiro - 2000 54,4 a 72,5
72,5 a 90,6
181
55
Esses dados não são usados cegamente pelo pesquisador responsável. Estou consciente de que muitos não
foram vítimas de tentativas, mas afirmaram que sim, e vice-versa; estou consciente, também, que muitos que
fizeram queixa não o admitiram aos nossos entrevistadores e vice-versa; estamos conscientes, também, de que
a memória é pouco confiável, particularmente em relação a uma pergunta que trata da prevalência ao longo de
toda a vida do entrevistado. Estou interessado, apenas, na magnitude do problema que, com 15%, é muito
grande.
56
Esta tabela e as duas seguintes foram retiradas de Gláucio Ary Dillon Soares, O Povo e a PM. Relatório
apresentado à PMDF, Brasília, UnB, 1998.
182
As pesquisas de vitimização também sofrem problemas. Elas também não são um retrato
fiel da realidade. Muitas pessoas, intencionalmente ou não, relatam os acontecimentos de maneira
diferente do que aconteceu. Com o melhoramento técnico na coleta e processamento dos dados, é
possível diminuir consideravelmente os seus erros e melhorar a qualidade das pesquisas de
vitimização.
Não obstante, mesmo em sua forma atual, elas contribuem de diferentes maneiras:
Sabemos que, durante muitos anos, a cobertura e a qualidade dos dados coletados pelos
estados continuará sujeita a fortes variações. A SENASP deve evitar a postura de nivelar por
baixo. A política que recomendamos é estabelecer limites mínimos e estimular os estados e
municípios que podem proporcionar mais a fazê-lo. Saberemos mais a respeito deles do que a
respeito dos demais e as políticas revelarão essas diferenças.
O objetivo deve ser atingir o estágio no qual toda a informação esteja informatizada e
cópias dos microdados sejam enviadas em fluxo contínuo para a SENASP. Enquanto isso não
acontece, trabalhar-se-á com o que for possível, usando recursos como estímulo aos que atingirem
metas. Necessitamos de macrodados completos, com categorias adequadas, que respondam ao
conhecimento criminológico de hoje. É um alvo a ser atingido em 3 a 4 anos. Os microdados
necessitarão de dois ou três anos adicionais.
Com esse cronograma será possível deslanchar um programa ambicioso de pesquisas
com objetivos aplicados, que informe as políticas federais, estaduais e municipais.