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Segurança Pública: diagnósticos e

perspectivas
Contribuições da Secretaria Nacional de Segurança Pública
3

APRESENTAÇÃO – LUIZ EDUARDO SOARES ....................................................................................4

PREFÁCIO – TÚLIO KAHN .....................................................................................................................5

BASE NACIONAL DE ESTATÍSTICAS CRIMINAIS – ANÁLISE INTERNA DAS INFORMAÇÕES


DISPONÍVEIS - LEONARDA MUSUMECI, GLÁUCIO ARY DILLON SOARES, DORIAM BORGES,
SIMONE RODRIGUES E GONÇALO FRAGA ........................................................................................6

“PERFIL DAS POLÍCIAS DO BRASIL” - VIRGÍNIA BRUSONI E RENATO SÉRGIO DE LIMA ....... 41

USO DA FORÇA LETAL: VITIMIZAÇÃO LETAL PELOS POLICIAIS E CONTRA OS POLICIAIS NO


BRASIL - IGNACIO CANO (UERJ) ...................................................................................................... 72

PESQUISA DE VITIMIZAÇÃO 2002 E AVALIAÇÃO DO PIAPS – TÚLIO KAHN - ......................... 108

BASE NACIONAL DE ESTATÍSTICAS CRIMINAIS – ANÁLISE E AVALIAÇÃO RECOMENDAÇÕES


DE DETALHAMENTO E APERFEIÇOAMENTO DA BASE DE DADOS. GLÁUCIO SOARES,
LEONARDA MUSUMECI, DORIAM BORGES, SIMONE RODRIGUES E GONÇALO FRAGA ...... 156
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Apresentação – Luiz Eduardo Soares

Não há política sem diagnóstico e não há diagnóstico sem informações qualificadas e


consistentes. No campo da segurança pública, faltam informações e não se podem descrever com
precisão as dinâmicas criminais, o que por sua vez inviabiliza a elaboração de uma política global,
apta a permitir iniciativas preventivas e eficientes.
O mais grave é que sem planejamento falta clareza quanto às metas, e isso impede qualquer
avaliação rigorosa. Por outro lado, esse acompanhamento crítico é impossível na ausência de
planejamento. Isso é fatal para qualquer política pública digna desse nome.
É importante produzir mecanismos capazes de tornar o erro um instrumento a serviço do
processo de autocorreção ou de monitoramento do processo. Somente assim o caos da segurança
pública será substituído por um sistema integrado e inteligente, com memória, história e capacidade
de aprender com os próprios erros e de corrigir-se constantemente.
Sem um sistema organizado de informações automatizadas, o Brasil fica condenado a
derrotas no combate ao crime, consolidando-se o quadro de impunidade que tem caracterizado nosso
país. Nenhuma causa é mais poderosa, na geração do ambiente propício à prática criminosa, do que
a impunidade. Por outro lado, para que o sistema de informações funcione com eficácia, capacitando
policiais e gestores da segurança a se anteciparem ao crime e preveni-lo, é preciso que esse sistema
se articule com um processo de diagnose-planejamento-monitoramento, o que, por sua vez, exige a
adoção de um gerenciamento moderno e racional das instituições policiais.
Os artigos selecionados neste volume foram encomendados pelo governo federal no esforço
de iniciar a análise e sistematização dos dados criminais coletados pela Secretaria Nacional de
Segurança Pública nos últimos anos. Em conjunto, eles fornecem um panorama amplo e atualizado
da situação da segurança no país e neste sentido são de fundamental importância para a elaboração
de políticas de segurança nos municípios, estados e certamente serão levados em consideração ao
traçarmos em âmbito federal a política nacional de segurança pública para o Brasil.
5

Prefácio – Túlio Kahn

A partir de setembro de 2002, a SENASP passou a contratar os melhores especialistas em


criminologia do Brasil para produzirem uma série de estudos temáticos, a partir, principalmente, dos
dados coletados pela própria secretaria.

A pesquisa Perfil das Polícias do Brasil é um exemplo de levantamento realizado pela Senasp que
não havia até então sido explorado em todas as suas dimensões, não obstante a riqueza das
informações prestadas pelos Estados em 2000. Informações cruciais para o planejamento de políticas
públicas bem como para a utilização dos recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública, que
custou aos Estados levantar mas que até agora não tinham sido divulgadas.

Entre outros propósitos, a divulgação destes relatórios serve para mostrar aos profissionais que
compilam e nos enviam estas informações que o trabalho não foi em vão e deve ser continuado e
aprimorado pois serão seriamente levados em conta pela Senasp.

Os sociólogos Virginia Bruzzone, Renato Sergio de Lima e Lílian Konishi são os responsáveis por
este primeiro relatório descritivo sobre a pesquisa Perfil das Polícias. Ao sociólogo Ignácio Cano
coube a análise relativa à letalidade policial – destrinchando o fenômeno das mortes de policiais e
suspeitos em confrontos com a polícia. Gláucio Ary Dillon Soares e Leonarda Munessi, sociólogos do
CESEC/UCAM, foram encarregados de produzir a análise dos dados de criminalidade enviados
mensalmente a Senasp pelos Estados desde 2000. Ainda no que tange ao perfil das polícias
brasileiras, dados adicionais estão sendo levantados e tratados pelo Prof. José Vicente Tavares dos
Santos, da UFRG. A própria Senasp está encarregada de realizar, ainda no próximo semestre, a
primeiro pesquisa nacional de vitimização no Brasil, desde que a última foi feita em 1988 pelo IBGE.
Um levantamento inicial feito em realizado em 4 Capitais em 2002 está incluído também nesta
coletânea.

Diversos outros pesquisadores e institutos igualmente renomados estão sendo contatados pela
Senasp para a produção de pesquisas e análises sobre segurança pública no Brasil, uma área ainda
bastante carente de informações. A intenção é que este acervo de estudos forneça, no futuro
próximo, uma base sólida para traçar os rumos da política nacional de segurança pública, diminua o
improviso e a pressão política como critérios para a alocação de recursos e ajude a desfazer os
inúmeros mitos ainda correntes na área da segurança pública.

Dr. Túlio Kahn


Diretor do Decasp – Departamento de Coordenação e Articulação das Ações de Segurança Pública.
Senasp/MJ
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BASE NACIONAL DE ESTATÍSTICAS CRIMINAIS – Análise interna das informações disponíveis


Leonarda Musumeci, Gláucio Ary Dillon Soares, Doriam Borges, Simone Rodrigues e Gonçalo
Fraga

INTRODUÇÃO

A montagem de uma base nacional de dados a partir das ocorrências policiais tem-se
mostrado uma tarefa tão fundamental quanto de difícil realização, não só no Brasil como em outros
países do mundo, sobretudo naqueles de estrutura federativa. Capitaneada, normalmente, por um
órgão federal de segurança e/ou justiça, essa tarefa costuma enfrentar diversos tipos de obstáculos –
desde os de caráter técnico (por exemplo, compatibilização de definições e critérios de registro),
institucional (multiplicidade e heterogeneidade das agências locais de segurança produtoras dos
dados) ou econômico (escassez de recursos humanos e materiais), até os de natureza política
(resistências a solicitações interpretadas como ingerência do governo federal em área de atribuição
dos estados) –, exigindo grandes esforços e um tempo bastante longo de implantação.
Apenas como exemplo, para colocar em perspectiva o caso brasileiro, lembremos que o
sistema norteamericano dos UCR (Uniform Crime Reports), criado em 1929, até hoje não cobre 100%
dos departamentos de polícia e não conta com a adesão dos estados de Indiana, Ohio, Mississipi e
Novo México. Por sua vez o NIBRS (National Incident-Based Reporting System), introduzido pelo FBI
em 1991 para ampliar e complementar o programa UCR, em dezembro de 2002 abrangia total ou
parcialmente apenas 21 dos 50 estados e 4.259 das mais de 20 mil agências policiais existentes no
país – o que correspondia a uma cobertura de 17% da população nacional e de 15% do universo de
crimes registrados.1
Não são anômalas, portanto, as dificuldades que a SENASP vem encontrando na
implantação e aperfeiçoamento da Base Nacional de Estatísticas Criminais brasileira. Iniciada em
1999, a coleta de informações junto às 27 Secretarias de Segurança certamente demandará ainda
algum tempo para produzir um banco de dados com abrangência e qualidade suficientes para permitir
a realização de diagnósticos fidedignos sobre a situação da segurança pública nas diversas áreas do
país. Mas é importante que se ressalte o fato de, em menos de quatro anos e com exíguos recursos,
já se ter conseguido reunir um conjunto razoável de informações sobre delitos e atividades policiais
em grande parte das Unidades da Federação. Persistem numerosas lacunas e inconsistências, que
serão assinaladas mais detalhadamente nos três relatórios seguintes, com o objetivo de contribuir
para o aperfeiçoamento dessa base de dados.

1
Cf. US Department of Justice/Bureau of Justice Statistics, UCR and NIBRS Participation - Level of
participation by States as of December, 2002 [http://www.ojp.usdoj.gov/bjs/nibrsstatus.htm].
7

Não há como negar, porém, que o esforço feito até agora pela SENASP e pelas Secretarias
estaduais já produziu resultados significativos e representa um bom caminho andado na direção de
um maior conhecimento dos problemas do crime e da violência em todo o país.
Conforme sublinha Tulio Kahn num artigo recente, antes da iniciativa da SENASP a única
referência comparativa de que se dispunha em âmbito nacional eram os dados divulgados pelo
DATASUS, que, além de suas limitações intrínsecas, forneciam um panorama parcial daqueles
problemas, restringindo-o ao universo das ocorrências letais.2 Apesar de revelarem, sem dúvida, a
face mais grave e trágica do fenômeno, e por isso continuarem sendo uma base fundamental para o
desenho de políticas públicas de enfrentamento e prevenção da violência, diagnósticos e
comparações baseados exclusivamente em taxas de mortalidade podem distorcer muito o quadro
analítico, sobretudo se se tomam os níveis de homicídio como equivalente ou como proxy da
“violência em geral”. O artigo citado mostra, por exemplo, que o ranking estadual da violência muda
sobremaneira quando se consideram, além dos crimes com morte, delitos não-letais como roubo,
estupro, lesão corporal e extorsão mediante seqüestro. Daí a importância de se dispor de
informações que possibilitem enfoques alternativos e complementares aos estudos sobre homicídios.
E a principal fonte para essas informações, aqui ou em outras partes do mundo, são as estatísticas
geradas a partir dos registros policiais – ao lado das pesquisas domiciliares de vitimização, que, no
Brasil, devido ao alto custo, só têm sido realizadas em pequena escala e esporadicamente. Ressalte-
se também que, mesmo no caso das mortes violentas, os dados produzidos pelas polícias constituem
um referencial importante para complementar ou corrigir as informações oriundas do sistema de
saúde, como demonstra o trabalho de Cano e Santos a respeito dos homicídios no estado do Rio de
Janeiro.3
*
O presente “produto” – iniciando a série de quatro relatórios de avaliação da base de dados
da SENASP – indica algumas possibilidades analíticas abertas pelo conjunto de informações
criminais já disponíveis atualmente, em especial por aquelas colhidas no ano de 2001. Trata-se de
um estudo essencialmente descritivo, cujo propósito não é extrair conclusões, mas mostrar, por meio
de alguns exemplos, o que se pode conhecer a mais sobre a criminalidade e a violência quando se
dispõe de dados para (quase) todo o país. E também assinalar alguns dos limites a serem superados
para que as análises com base nessas estatísticas possam se tornar cada vez mais precisas e
fidedignas. Apontamos acima o longo tempo geralmente requerido para montar e aperfeiçoar um
sistema nacional de informações criminais. O uso e a crítica, passo a passo, dos dados já disponíveis
constituem a melhor forma de reduzir esse tempo, acelerando a identificação de problemas e a busca
de soluções.
*
Das 25 diferentes categorias de delitos incluídas nessa base, optou-se por focalizar aqui
apenas os crimes violentos e, entre eles, os que caracterizavam mais nitidamente atos intencionais
de violência. Embora tenha considerado também a distribuição dos homicídios em acidentes de
trânsito (delito culposo) e dos furtos de veículos (delito não-violento), pela sua importância na
problemática mais geral da segurança pública, a análise se circunscreve essencialmente aos crimes
contra a pessoa ou o patrimônio que envolvem violência intencional.
Outra escolha foi a de trabalhar apenas com as informações relativas a 2001, renunciando-se
portanto a identificar mudanças no panorama brasileiro da violência desde 1999, quando a SENASP
iniciou a coleta das estatísticas criminais. Isso porque, em muitos casos, as oscilações refletem uma
progressiva melhoria no preenchimento das planilhas pelos estados, não havendo como diferenciar
esse efeito das variações reais no número de ocorrências.
Na primeira seção apresenta-se um ranking geral das Unidades da Federação segundo oito
indicadores de criminalidade violenta e mostram-se, por meio de mapas, as variações espaciais de
alguns desses indicadores em 2001. Cabe esclarecer que foram utilizadas três ponderações distintas
no cálculo de taxas ou índices: dez mil veículos para roubo (e furto) de veículos, cem mil mulheres
para estupro e cem mil habitantes para as demais categorias de delitos. Os dados populacionais
usados são projeções do IBGE para 2001 e as frotas estaduais de veículos para o mesmo ano
provêm do último Anuário Estatístico do DENATRAN. Outro esclarecimento importante refere-se à
não-inclusão dos dados sobre lesões corporais entre os crimes violentos selecionados, devido à
impossibilidade de diferenciar lesões dolosas e culposas, já que o formulário de preenchimento da

2
Cf. Kahn, Tulio. Panorama da criminalidade nos estados: uma tentativa de classificação e interpretação. Direito
Penal - Revista de Direito Penal e Ciências Afins, nº 12, s/d [disponível em http://www.direitopenal.adv.br]. Os
limites de cobertura e consistência das informações do DATASUS serão comentados brevemente no segundo
relatório desta série (Produto 2 - Comparação das informações policiais com dados de outras fontes).
3
Cano, Ignacio e Santos, Nilton. Violência letal, renda e desigualdade social no Brasil. Rio de Janeiro, Sete
Letras, 2001.
8

SENASP não solicita essa especificação e apenas poucos estados (mais precisamente, quatro)
quantificaram separadamente as duas categorias de delitos em 2001.
A segunda seção investiga o peso das capitais na composição dos índices estaduais de
criminalidade e como ele varia de acordo com as Unidades da Federação e com os tipos de crimes
analisados.
Enquanto as duas primeiras seções utilizam dados baseados no número de ocorrências
(registros), a terceira busca aproveitar informações disponíveis sobre as vítimas – sua quantidade e
sua distribuição etária e por gênero, considerando, também, diversos tipos de delitos violentos.
Infelizmente, esta é uma das partes mais precárias do banco de dados, devido tanto a problemas de
preenchimento das planilhas pelas Secretarias de Segurança estaduais, quanto a falhas do próprio
formulário de coleta e do manual de preenchimento, conforme será apontado no Relatório nº 3. Em
função de tais problemas, mesmo focalizando-se somente o ano de 2001, é pequeno o número de
estados (e/ou capitais) que “passam” num teste de consistência elementar, segundo o qual, para um
certo tipo de crime, não pode haver mais registros do que vítimas; noutras palavras, a razão
vítimas/registros, para cada mês, unidade geográfica e modalidade de delito, tem de ser maior ou
igual a 1.4 Na maioria dos casos, a razão encontrada foi muito menor que a unidade – sinalizando, de
forma clara, um preenchimento deficiente das informações solicitadas pela SENASP a respeito das
vítimas. A análise só abrange, portanto, o reduzido conjunto de estados “aprovados” naquele teste,
conjunto variável, ademais, de acordo com a categoria de delito que se esteja focalizando.
Na quarta seção, aponta-se o potencial da base de dados para futuros estudos de variações
temporais dos indicadores de criminalidade e violência nos diversos estados, especialmente a
verificação de padrões de sazonalidade porventura exibidos por esses indicadores – aspecto muito
importante, ao lado das variações espaciais e da evolução ano a ano, para orientar o
desenvolvimento de políticas preventivas. Se falamos em “potencial” é porque somente a partir de
2001 o banco apresenta cobertura razoável das informações mensais para a maioria das ocorrências,
embora não para todos os estados. Como, até o momento da elaboração deste relatório, ainda não
havia dados para todo o ano de 2002, sequer foi possível comparar o comportamento mensal dos
indicadores em dois anos completos, muito menos identificar padrões sazonais. Limitamo-nos, assim,
a indicar semelhanças e diferenças entre algumas UFs quanto à oscilação dos registros durante o
ano de 2001. Sugestões para futuras análises de sazonalidade serão feitas no 4º relatório, tomando
por base os resultados de uma pesquisa sobre homicídios no Rio de Janeiro, que analisou as médias
diárias de incidência do crime nos doze meses do ano, ao longo do período 1991-2001.5

1. Rankings estaduais da violência em 2001

Como já dito, um dos avanços proporcionados pela base estatística da SENASP é


possibilitar a comparação entre níveis de violência nos diversos estados a partir de um conjunto mais
amplo de crimes, que inclua, além dos homicídios, os delitos não-letais. A Tabela 1, abaixo,
apresenta oito indicadores de criminalidade violenta intencional em 24 Unidades da Federação e a
Tabela 2 mostra a posição de cada UFs no ranking de cada tipo de crime, assim como o lugar que ela
ocupa no ranking geral . Note-se que a hierarquia de estados mais ou menos violentos, quando se
consideram apenas os homicídios dolosos (primeira coluna da Tabela 2), difere bastante daquela que
se obtém quando se levam em conta todas as oito categorias de delitos (última coluna) – o que
confirma em linhas gerais as observações feitas no já citado artigo de Tulio Kahn. 6 São Paulo, por
exemplo, que aparece em primeiro lugar na classificação sintética, ocupa o 5º lugar no ranking de
homicídios dolosos por cem mil habitantes e o Rio Grande do Sul, na 7ª posição geral, é o 20º em
taxa de homicídio, entre os 24 estados abrangidos.
A grande ausência aí são as taxas de lesão corporal dolosa, que, se incluídas,
provavelmente alterariam bastante os ordinais da última coluna, mas que não foi possível considerar,
pelos motivos expostos mais acima. A supressão de três estados – Alagoas, Minas Gerais e Roraima
–, que apresentavam falhas de preenchimento em um ou mais dos oito delitos, também reduz o
alcance da comparação. E, embora seja um fato óbvio para qualquer estudioso da segurança pública,
nunca é demais lembrar que estamos trabalhando apenas com o universo de ocorrências registradas
pela polícia, não com o volume total de crimes; logo, que as diferenças nos indicadores de um estado

4
Evidentemente, o teste só é válido porque não incluímos na nossa análise os chamados “crimes sem vítima”,
como porte de arma, tráfico de drogas e outros.
5
Soares, Glaucio Ary Dillon e Borges, Doriam, Rio de Janeiro, fevereiro e março. Rio de Janeiro, CESeC,
janeiro de 2003.
6
Os resultados não são diretamente comparáveis porque o autor utilizou análise de clusters e indicadores
diferentes dos que selecionamos aqui, além de ter focalizado os anos de 1999 e 2000.
9

para outro podem dever-se em grande parte a diferenças nas taxas de notificação. Esse lembrete é
especialmente importante para o caso de crimes sem morte, mais ainda para os delitos sexuais e
para os roubos em geral (excetuando-se roubo de veículo e de outros bens segurados), cuja “cifra
obscura” costuma ser extremamente alta. Só pesquisas nacionais de vitimização permitiriam dizer,
por exemplo, se o 8º lugar de Santa Catarina em estupros e atentados violentos ao pudor deve-se à
grande incidência real desses crimes no estado ou a taxas de notificação bem superiores às de
outras UFs.7 Mesmo no caso dos homicídios, sabe-se que a subinformação é significativamente mais
alta em alguns estados do que em outros, e que isso se reflete tanto nas estatísticas do sistema de
saúde, baseadas em certificados de óbito, quanto, muito provavelmente, nas estatísticas policiais,
baseadas em registros ou boletins de ocorrência. Observe-se, por exemplo, que os onze estados
“menos violentos” da Tabela 2 situam-se, todos, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país,
e são, grosso modo, os mesmos que apresentam, no SIM/DATASUS, as mais altas proporções de
“mortes não-classificadas”, “mortes com intencionalidade desconhecida” e até de municípios sem
registros regulares de mortalidade – ou seja, baixa cobertura e/ou qualidade das informações,
relativamente às demais UFs.8 Qualquer comparação interestadual dos níveis de violência deve,
portanto, ser utilizada com o máximo cuidado, tendo-se sempre em mente o possível impacto de
diferenças na magnitude da subnotificação sobre os indicadores que se está comparando.
Os mapas apresentados nas páginas seguintes permitem visualizar de outra forma
distintas “hierarquias de violência” referentes aos vários tipos de crimes. Além dos delitos incluídos na
Tabela 1, acrescentou-se um mapa para as taxas de homicídios culposos no trânsito, outro para a
taxa conjunta de roubo e furto de veículos, e um terceiro para a razão entre o número de roubos e o
de furtos de veículos em 2001.
Resumindo este item, a Tabela 3 mostra coeficientes de correlação entre os oito indicadores
de criminalidade violenta intencional nos estados, apontando convergências na distribuição
geográfica de alguns delitos – sobretudo entre os crimes sexuais (estupro e atentado violento ao
pudor), e entre latrocínios e roubos em geral –, assim como correlações baixas ou negativas entre
outros tipos de crimes, alguns dos quais poderíamos imaginar fortemente associados no espaço,
como, por exemplo, homicídio doloso e tentativa de homicídio, ou extorsão mediante seqüestro e
roubos em geral. O estudo sistemático dessas relações – aqui apenas indicadas – é importante não
só para o diagnóstico de padrões criminais no país, mas também para a crítica e melhoria das
próprias informações recolhidas pela SENASP, uma vez que as convergências ou divergências
espaciais de diferentes modalidades de crimes podem ser influenciadas, entre outras coisas, por
variações na cobertura e qualidade das estatísticas policiais.

7
A pesquisa de vitimização realizada em 2002 pelo ILANUD nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória
e Recife mostrou taxas de subnotificação (cifras obscuras) variando entre 63 e 93% para agressões sexuais, e
entre 65 e 76% para roubos em geral, exceto de veículos (ILANUD, FIA/USP e Gabinete de Segurança
Institucional, Pesquisa de Vitimização 2002 e avaliação do PIAPS [disponível em
http://www.conjunturacriminal.com.br]
8
Para uma análise detalhada desse problema, ver Cano, Ignacio e Santos, Nilton. Violência letal, renda e
desigualdade social no Brasil. Rio de Janeiro, Sete Letras, 2001.
Tabela 1 – Indicadores de criminalidade violenta intencional para 24 Unidades da Federação - 2001

Atentados Extorsões
Homícidios Tentativas Roubos de Outros
Latrocínios Estupros por violentos ao mediante
dolosos por de homícidio veículos por roubos por
UF por cem mil cem mil pudor por seqüestro
cem mil por cem mil dez mil cem mil
habitantes mulheres cem mil por cem mil
habitantes habitantes veículos habitantes
habitantes habitantes

AC 23,5 0,0 47,7 18,3 4,0 0,0 0,5 163,3


AM 14,1 0,7 99,3 27,0 7,3 0,0 8,7 16,0
AP 30,3 0,8 16,0 59,2 15,6 0,0 3,6 127,0
BA 18,5 0,7 24,8 15,8 5,6 0,1 38,7 153,2
CE 17,6 0,4 2,2 2,7 1,3 0,0 22,0 230,6
DF 25,3 3,7 38,6 36,3 16,2 0,2 32,8 20,8
ES 50,6 0,8 20,6 15,3 10,4 0,6 14,6 980,8
GO 17,6 1,2 25,8 25,9 8,4 0,1 13,5 112,1
MA 9,1 0,6 11,9 12,3 2,1 0,0 8,7 368,1
MS 26,5 1,2 27,9 23,7 13,6 1,0 9,0 134,4
MT 19,8 0,9 19,1 14,9 4,0 0,1 20,2 82,8
PA 16,8 0,6 7,1 14,0 3,8 0,1 39,0 142,1
PB 17,0 0,3 6,6 10,4 4,4 0,6 6,4 271,1
PE 40,4 1,2 10,2 6,5 1,7 0,5 25,1 275,9
PI 5,4 0,2 12,5 9,5 8,0 1,0 13,1 118,3
PR 20,0 2,1 18,6 16,3 5,7 0,0 0,8 198,9
RJ 37,3 1,3 17,7 17,3 11,0 0,1 111,3 179,9
RN 9,2 0,4 15,6 12,5 5,7 0,5 14,7 228,2
RO 39,2 1,8 30,5 41,6 9,5 0,0 35,0 476,0
RS 12,2 2,4 23,4 29,2 10,9 0,1 28,8 231,4
SC 4,7 0,4 14,4 21,1 10,2 0,2 1,4 427,9
SE 16,1 0,5 12,4 12,6 3,6 0,1 6,8 72,6
SP 33,2 1,5 26,6 20,2 11,5 0,8 92,6 493,8
TO 17,1 1,9 14,0 18,7 2,7 0,5 4,9 106,0

Fontes: SENASP, IBGE e DENATRAN. Elaboração: CESeC/UCAM.


Tabela 2 - Posições de 24 Unidades da Federação, segundo 8 indicadores de criminalidade violenta intencional

Tentativas Atentados Extorsões


Homícidios Roubos de Outros
Latrocínios de Estupros violentos ao mediante
dolosos por veículos roubos por Posição
UF por cem mil homícidio por cem mil pudor por seqüestro Média
cem mil por dez mil cem mil geral
habitantes por cem mil mulheres cem mil por cem mil
habitantes veículos habitantes
habitantes habitantes habitantes

SP 5ª 6ª 6ª 9ª 4ª 3ª 2ª 2ª 4,6 1ª
RO 3ª 5ª 4ª 2ª 9ª 22ª 5ª 3ª 6,6 2ª
DF 8ª 1ª 3ª 3ª 1ª 9ª 6ª 23ª 6,8 3ª
MS 7ª 8ª 5ª 7ª 3ª 1ª 15ª 16ª 7,8 4ª
ES 1ª 13ª 10ª 15ª 7ª 5ª 12ª 1ª 8,0 5ª
RJ 4ª 7ª 13ª 12ª 5ª 17ª 1ª 12ª 8,9 6ª
RS 20ª 2ª 9ª 4ª 6ª 16ª 7ª 8ª 9,0 7ª
GO 14ª 10ª 7ª 6ª 10ª 11ª 13ª 19ª 11,3 8ª
BA 12ª 15ª 8ª 14ª 15ª 12ª 4ª 14ª 11,8 9ª
AP 6ª 12ª 14ª 1ª 2ª 22ª 21ª 17ª 11,9 10ª
PE 2ª 9ª 21ª 23ª 23ª 8ª 8ª 6ª 12,5 11ª
PR 10ª 3ª 12ª 13ª 13ª 21ª 23ª 11ª 13,3 12ª
SC 24ª 19ª 16ª 8ª 8ª 10ª 22ª 4ª 13,9 13ª
AM 19ª 14ª 1ª 5ª 12ª 20ª 17ª 24ª 14,0 14ª
MT 11ª 11ª 11ª 16ª 18ª 15ª 10ª 21ª 14,1 15ª
TO 15ª 4ª 17ª 10ª 21ª 7ª 20ª 20ª 14,3 16ª
RN 21ª 21ª 15ª 19ª 14ª 6ª 11ª 10ª 14,6 17ª
AC 9ª 24ª 2ª 11ª 17ª 22ª 24ª 13ª 15,3 18ª
PA 17ª 16ª 22ª 17ª 19ª 13ª 3ª 15ª 15,3 19ª
PB 16ª 22ª 23ª 21ª 16ª 4ª 19ª 7ª 16,0 20ª
PI 23ª 23ª 18ª 22ª 11ª 2ª 14ª 18ª 16,4 21ª
CE 13ª 20ª 24ª 24ª 24ª 18ª 9ª 9ª 17,6 22ª
MA 22ª 17ª 20ª 20ª 22ª 19ª 16ª 5ª 17,6 23ª
SE 18ª 18ª 19ª 18ª 20ª 14ª 18ª 22ª 18,4 24ª

Fonte: SENASP/Ministério da Justiça. Elaboração: CESeC/UCAM


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Mapa 1 – OCORRÊNCIAS DE HOMICÍDIO


DOLOSO POR CEM MIL HABITANTES - 2001

Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
4,7 a 16,1
Elaboraçao: CESeC/UCAM 16,1 a 27,6
27,6 a 39,1
39,1 a 50,6

Mapa 2 – OCORRÊNCIAS DE TENTATIVA DE


HOMICÍDIO POR CEM MIL HABITANTES - 2001

Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
2,2 a 26,4
Elaboraçao: CESeC/UCAM 26,4 a 50,7
50,7 a 75,0
75,0 a 99,3
13

Mapa 3 – O CORRÊNCIAS DE HOMICÍDIO CULPOSO NO


TRÂNSITO POR CEM MIL HABITANTES - 2001

Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
4,6 a 10,4
Elaboraçao: CESeC/UCAM 10,4 a 16,2
16,2 a 22,0
22,0 a 27,9

Mapa 4 – OCORRÊNCIAS DE ESTUPRO POR


CEM MIL MULHERES - 2001

Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
2,7 a 16,8
Elaboraçao: CESeC/UCAM 16,8 a 30,9
30,9 a 45,0
45,0 a 59,2
14

Mapa 5 – OCORRÊNCIAS DE ATENTADO


VIOLENTO AO PUDOR POR CEM MIL
HABITANTES - 2001

Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
0,5 a 4,4
Elaboraçao: CESeC/UCAM 4,4 a 8,3
8,3 a 12,2
12,2 a 16,2

Mapa 6 – OCORRÊNCIAS DE ROUBO DE


VEÍCULOS POR DEZ MIL VEÍCULOS – 2001
(Distribuição: quartis)

Legenda
0,5 a 6,4
Fontes: SENASP e DENATRAN
Elaboraçao: CESeC/UCAM 6,4 a 13,1
13,1 a 28,8
28,8 a 111,3
Sem informaçao
15

Mapa 7 – OCORRÊNCIAS DE OUTROS


ROUBOS POR CEM MIL HABITANTES – 2001
(Distribuição: quartis)

Legenda
Fontes: SENASP e IBGE
16,0 a 112,1
Elaboraçao: CESeC/UCAM 112,1 a 179,9
179,9 a 275,9
275,9 a 980,8

Mapa 8 – OCORRÊNCIAS DE ROUBO E FURTO


DE VEÍCULOS POR DEZ MIL VEÍCULOS – 2001
(Distribuição: quartis)

Legenda
Fontes: SENASP e DENATRAN
15,1 a 32,4
Elaboraçao: CESeC/UCAM 32,4 a 42,6
42,6 a 80,3
80,3 a 195,6
16

Mapa 9 – RAZÃO ROUBO/FURTO DE VEÍCULOS – 2001

Legenda
0,01 a 0,45
Fonte: SENASP
Elaboraçao: CESeC/UCAM 0,45 a 0,88
0,88 a 1,32
1,32 a 1,75
Sem informaçao
17

Tabela 3 - Coeficientes de correlação entre taxas de crimes violentos intencionais em 24 unidades da


federação – 2001

ATENTA EXTORS
TENTATI
HOMICÍD DO ÃO ROUBO
LATRO- VA DE ESTUPR OUTROS
IO VIOLENT MEDIANT DE
CÍNIO HOMICÍD O ROUBOS
DOLOSO O AO ESEQÜE VEÍCULO
IO
PUDOR S-TRO
HOMICÍD
IO 0,259 0,021 0,220 0,268 0,019 0,420 0,232
DOLOSO

LATRO-
0,133 0,429 0,483 -0,085 0,263 0,758
CÍNIO

TENTATI
VA DE
0,340 0,246 -0,186 -0,048 0,156
HOMICÍD
IO

ESTUPR
0,738 -0,277 -0,021 0,367
O

ATENTA
DO
VIOLENT 0,160 0,260 0,549
O AO
PUDOR
EXTORS
ÃO
MEDIANT 0,038 -0,092
ESEQÜE
S-TRO
ROUBO
DE 0,557
VEÍCULO

OUTROS
ROUBOS

Fontes: SENASP, IBGE E DENATRAN. Elaboração: CESeC/UCAM.


18

2 – O peso das capitais

Um passo além no diagnóstico da criminalidade é o conhecimento mais preciso das áreas,


dentro dos estados, onde se concentra cada tipo de delito. Idealmente, e sobretudo para o trabalho
operacional das polícias, essa precisão deve chegar ao mapeamento dos chamados hot spots:
bairros, quarteirões, ruas ou mesmo esquinas de maior incidência do crime segundo horários e dias
da semana.9 Mas, para a definição de prioridades no desenho de políticas nacionais de segurança, já
constituiria um grande avanço poder identificar os municípios onde o problema é mais grave.

Em seu estágio atual, a base da SENASP não fornece dados por municípios, mas possibilita,
teoricamente, desagregar as ocorrências estaduais por Capital, Região Metropolitana (excluída a
Capital) e Interior. Dizemos teoricamente porque são tantas as falhas no preenchimento desses
campos que as únicas informações com um mínimo de consistência – e mesmo assim não
disponíveis para a totalidades das UFs ou dos tipos de crime – referem-se por enquanto às capitais e
aos totais estaduais.10 É muito pouco para fundamentar uma análise de distribuição interna da
violência, permitindo somente algumas indicações sobre a relação entre as capitais e as demais
áreas dos respectivos estados.

A Tabela 4, abaixo, mostra, para dez tipos de delitos, a participação das capitais no total de
ocorrências registradas em cada UF no ano de 2001 – excluindo Mato Grosso, que só forneceu
números para o estado como um todo, e o Distrito Federal, que não possui “capital”. 11 Células em
branco correspondem a ausência ou inconsistência de uma das duas informações (sobre a capital ou
sobre a UF); zero indica, salvo erro não detectado, que a polícia não registrou nenhuma ocorrência
daquele tipo na capital em questão. A tabela desconsidera extorsões mediante seqüestro, embora
haja informações sobre esse crime, por ser exíguo o número absoluto de registros na maior parte dos
estados, gerando percentuais muito pouco significativos. Desconsidera também lesões corporais
dolosas, pelos motivos já expostos na Introdução.

A tabela e os dois gráficos subseqüentes sugerem que:


 Tratando-se de crimes contra a pessoa e delitos sexuais, geralmente as capitais têm
uma participação minoritária no total de ocorrências das UFs – exceção feita aos estados
do Acre, Amazonas, Amapá, Piauí e Roraima. Em todos os outros, a participação média
da capital é inferior a 50%. Se lemos a tabela verticalmente, isso se expressa também
em médias de participação das capitais inferiores a 50% para cada um dos cinco crimes
considerados.

 Tratando-se de delitos contra o patrimônio (pelo menos das quatro categorias


focalizadas), a dispersão é bem maior e aparecem outras capitais com participação média
majoritária no total do estado, inclusive o Rio de Janeiro. As médias verticais da tabela
para cada um desses crimes, exceto latrocínio, são superiores a 50%.

Ocorre que a população residente nas capitais representa, em média, somente 26,1% da
população total das UFs (excluído o Distrito Federal), sendo apenas três os estados em que essa
percentagem supera 50%: Roraima, Amapá e Amazonas. 12 Logo, quando se consideram taxas
ponderadas pela população residente, a capital quase sempre se mostra mais violenta que o restante
do estado, mesmo no caso dos crimes contra a pessoa e “contra os costumes”. As últimas cinco
figuras ilustram esse efeito da ponderação demográfica e a Tabela 5, em seguida, registra as

9
Isso exige o georreferenciamento e a integração das informações criminais num sistema capaz de produzir
respostas praticamente “em tempo real”. No Brasil, o único sistema desse gênero hoje em operação é o da
Polícia Militar de Minas Gerais. O Rio de Janeiro, dentro do programa “Delegacia Legal”, iniciado em 1999,
vem implantando algo semelhante, mas várias dificuldades têm postergado o pleno funcionamento desse
programa.
10
Os problemas relativos ao fornecimento dos dados intraestaduais serão apontados no Relatório nº 3.
11
Na realidade, o banco da SENASP traz números desagregados para a área do Plano Piloto de Brasília, como se
ela fosse a “capital” do DF. Desconsideramos aqui esses números, por não serem comparáveis aos das outras
capitais estaduais. Provavelmente pelo mesmo motivo, o site da SENASP na internet só divulga dados relativos a
todo o Distrito Federal.
12
Segundo projeções populacionais do IBGE para 2001.
19

distâncias médias, para cada tipo de crime, entre as taxas das capitais e as dos outros municípios do
estado, juntos.13

Há, porém, variações significativas entre UFs e entre diferentes categorias de delitos, que
indicam a necessidade de análises mais acuradas, capazes, por exemplo, de identificar a influência
maior ou menor dos Entornos ou Regiões Metropolitanas sobre as taxas de criminalidade das
capitais. Isso demandaria não só uma desagregação maior das estatísticas da SENASP, mas
também o conhecimento dos locais de residência das vítimas, que permitisse estimar, em cada caso,
o quanto aquelas taxas, baseadas na população residente, são “inchadas” pela presença de
população flutuante, que não entra no denominador. Para os homicídios, já se pode explorar essa
pista com alguma segurança, através das estatísticas da saúde desagregadas por municípios da
morte e da residência, mas, ainda assim, seria fundamental dispor-se também dos dados sobre os
municípios de ocorrência do crime – só fornecidos pelos registros policiais (ver Relatório nº 4). 14
Quanto aos delitos sem morte, o avanço das possibilidades comparativas fica a depender quase
exclusivamente da ampliação e melhoria da base de dados da SENASP.

13
Os roubos de veículos foram somados ao demais roubos e o total foi ponderado pela população residente.
Quando elaborávamos este relatório, a informação do DENATRAN sobre frotas de veículos em 2001 só estava
disponível para as UFs, não para as capitais.
14
Da mesma forma que o local de ocorrência da vitimização e o de residência da vítima não necessariamente
coincidem, pode haver diferença, no caso dos homicídios, entre o local da morte e o do crime que a motivou – o
que também afeta em maior ou menor grau as taxas baseadas unicamente nas informações do SIM.
Tabela 4 – Participação da capital no total de ocorrências do estado, para 10 tipos de crimes – 2001 (Em %)

CRIMES CONTRA A PESSOA E DELITOS SEXUAIS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO


Homícidi Atentad
Lesão Tentativ Roubo
o o Furto
Homícidi corporal a de Estupr Desvio de Outros Desvio
UF Capital culposo violento Média Latrocinio de Média
o doloso seguida homícidi o padrão veícul roubos padrão
no ao veículo
de morte o o
trânsito pudor
AC Rio Branco 64,4 76,5 72,3 59,6 69,6 68,5 5,9 73,0 - -
AL Maceió 30,1 25,4 29,5 26,0 92,9 40,8 26,1 100,0 97,4 65,6 59,9 80,8 20,9
AM Manaus 77,1 80,6 77,0 97,4 77,1 94,8 84,0 8,7 85,7 98,2 91,4 91,9 91,8 5,1
AP Macapá 58,9 85,7 73,9 77,5 80,3 79,5 76,0 8,4 50,0 66,6 28,6 48,4 19,1
BA Salvador 29,6 11,8 11,8 26,3 37,4 47,8 27,4 13,0 25,8 56,4 65,2 49,7 49,3 16,9
CE Fortaleza 39,1 80,0 30,9 29,0 44,8 67,3 48,5 18,9 51,7 74,8 70,5 76,8 68,5 11,5
ES Vitória 11,7 9,0 4,0 11,5 15,5 10,3 3,8 4,0 14,8 27,1 28,1 18,5 11,4
GO Goiânia 22,0 33,3 22,2 40,4 32,4 39,9 31,7 7,4 20,3 59,4 52,0 61,0 48,2 19,0
MA São Luís 33,7 39,5 39,4 46,2 49,6 41,7 5,6 67,6 62,8 76,7 41,9 62,3 14,8
MG Belo Horizonte 32,2 19,5 18,5 19,8 13,7 20,7 6,1 1,0 17,3 8,1 8,8 8,2
MS Campo Grande 33,4 15,0 27,5 29,8 34,0 41,0 30,1 8,0 23,1 59,6 35,8 54,1 43,2 16,8
PA Belém 29,8 20,4 25,1 27,1 38,0 28,1 5,8 48,8 45,2 63,9 34,4 48,1 12,2
PB João Pessoa 30,8 8,1 18,3 7,0 31,7 28,9 20,8 10,4 0,0 46,7 61,0 60,3 42,0 28,8
PE Recife 22,0 8,9 18,6 12,8 14,2 23,4 16,7 5,1 26,0 65,7 47,4 41,6 45,2 16,4
PI Teresina 71,0 1,9 68,5 80,4 54,0 34,3 51,7 26,7 85,7 91,2 74,2 72,9 81,0 8,9
PR Curitiba 22,8 4,0 31,5 14,8 13,9 12,2 16,5 8,7 6,9 50,9 57,3 38,4 27,4
RJ Rio de Janeiro 38,7 42,9 33,0 34,8 33,0 36,8 36,5 3,5 51,8 69,5 65,0 64,4 62,7 7,6
RN Natal 28,8 0,0 19,4 42,5 40,6 50,0 30,2 16,7 20,0 61,8 67,1 82,4 57,8 26,7
RO Porto Velho 36,4 9,1 36,7 33,3 49,1 46,3 35,2 12,9 61,5 49,6 81,9 29,4 55,6 22,0
RR Boa Vista 68,1 86,8 86,3 91,0 80,0 82,4 8,0 94,3 96,5 95,4 1,6
RS Porto Alegre 20,0 8,9 15,3 10,1 17,1 24,5 16,0 5,4 25,1 40,3 38,4 36,6 35,1 6,8
SC Florianópolis 17,4 16,4 3,7 16,5 9,3 15,7 13,2 5,0 0,0 3,7 16,6 9,8 7,5 7,3
SE Aracaju 41,0 42,4 43,8 60,7 50,8 47,7 7,3 22,2 50,0 70,8 54,3 49,3 20,2
SP São Paulo 41,5 19,2 25,4 32,6 22,0 28,1 8,0 37,0 51,4 51,0 49,7 47,3 6,9
TO Palmas 13,3 14,3 10,4 7,8 22,2 18,8 14,5 4,8 13,6 45,7 40,5 41,1 35,2 14,6
Média 36,6 26,3 33,5 36,2 38,6 43,7 36,0 57,2 58,6 51,3
Desvio padrão 18,1 29,8 24,0 26,6 22,1 24,8 29,3 23,5 20,7 23,0

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.


Gráfico 1
PARTICIPAÇÃO DA CAPITAL NO TOTAL DE OCORRÊNCIAS DO ESTADO (Em %)
Crimes contra a pessoa e delitos sexuais - 2001

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0
AC AL AM AP BA CE ES GO MA MG MS PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
Homícidio doloso Tentativa de homícidio
Homícidio culposo - trânsito Estupro
Lesão corporal seguida de morte Atentado violento ao pudor

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 2
PARTICIPAÇÃO DA CAPITAL NO TOTAL DE OCORRÊNCIAS DO ESTADO (Em %)
Crimes contra o patrimônio - 2001

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0
AC AL AM AP BA CE ES GO MA MG MS PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO

Latrocínio Roubo de veículo Outros roubos Furto de veículo

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.


Gráfico 3 – Homicídios dolosos por cem mil habitantes 2001 (Ocorrências )
70

60

50
Capital

40 Resto do estado

30

20

10

0
ES RO PE SP RJ AC MG AP PB BA MS PR SE PA CE RR AL AM MA RS TO GO PI SC RN

Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 4 - Tentativas de homicídio por cem mil habitantes 2001 (Ocorrências)


200

175

150
Capital
125
Resto do estado
100

75

50

25

0
AM RR AC GO RO PI SC BA MG MA MS RN SP SE AP RS PR RJ AL ES PA TO PE PB CE

Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 5 – Estupros por cem mil mulheres 2001 (Ocorrências)


90

80

70

60 Capital

50 Resto do estado

40

30

20

10

0
RO AP RR AM GO RS MA TO BA SC SE MS AC SP PI RN PB ES PA RJ MG PR PE AL CE

Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 6 – Atentados violentos ao pudor por cem mil habitantes 2001 (Ocorrências)
30

25

20 Capítal

Resto do estado
15

10

0
SC AP RS RO MS ES GO BA AM RR RN PI RJ SP PB PA SE MA AC MG PR TO CE PE AL

Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.


Gráfico 7 – Roubos (inclusive de veículos) por cem mil habitantes 2001 (Ocorrências)
1800

1600

1400

1200 Capital

1000 Resto do estado

800

600

400

200

0
RS SP RO RJ GO PA BA PR MA SE RN PE PI PB ES SC AC AM MS TO AP RR MG CE AL

Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.

Tabela 5
Distância média entre taxas de crimes violentos nas capitais
e nas áreas restantes dos estados - 2001
Taxa
Distância Desvio
Taxas média das
média padrão
capitais
Homicídio doloso por cem mil habitantes 28,7 9,8 7,6
Homicídio culposo no trânsito por cem mil habitantes 15,1 3,9 9,0
Tentativa de homicídio por cem mil habitantes 33,2 17,7 40,1
Estupro por cem mil mulheres 28,5 13,9 17,1
Atentado violento ao pudor por cem mil habitantes 10,8 5,5 5,1
Roubo (inclusive de veículos) por cem mil habitantes 596,5 462,2 379,8

Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.


3. O (pouco) que se pode saber sobre as vítimas

Se, apesar das diversas falhas, já se tem uma cobertura razoável de informações sobre números
de ocorrências registradas nas UFs e nas capitais estaduais, longe está ainda a base da SENASP de poder
proporcionar dados suficientes para um estudo comparativo sobre as vítimas desses crimes, uma vez que
diversas Secretarias de Segurança não vêm preenchendo, ou vêm preenchendo mal, os campos
correspondentes. Isso resulta, como já dito, num total de ocorrências freqüentemente muito mais alto do
que o de vítimas, e limita a comparação às poucas unidades onde a razão vítimas/registros é superior ou
igual a 1. Considerando-se seis crimes violentos, apenas onze UFs forneceram informações aproveitáveis
a respeito de vítimas no ano de 2001, sendo que em apenas duas – Bahia e Rio Grande do Norte – essas
informações eram consistentes para todas as seis categorias criminais. 15

A Tabela 6, abaixo, resume o que foi possível extrair do banco de dados, em números absolutos,
e as figuras seguintes apontam tipos de análise comparativa que se poderiam desenvolver caso houvesse
informações para o conjunto ou a maioria das Unidades da Federação. Eles mostram a distribuição
percentual e as taxas por cem mil habitantes segundo sexo, além da distribuição das vítimas por idade em
cada UF, utilizando as três faixas etárias atualmente previstas no formulário da SENASP: 0 a 11 anos, 12
a 17 e 18 ou mais. As limitações que derivam desse corte etário serão focalizadas no nosso quarto
relatório de avaliação.16

Alguns indícios já ressaltam da leitura dos gráficos, como, por exemplo:

 a grande parcela de crianças e adolescentes entre as vítimas de crimes sexuais notificados à


polícia nas UFs selecionadas;
 a alta proporção de pessoas do sexo masculino entre as vítimas de atentado violento ao pudor no
Rio Grande do Norte (neste caso, dado o enorme desvio da média, cabe verificar se não há erro
de preenchimento dos campos);
 a percentagem maior em Pernambuco do que nos outros estados de mulheres que sofreram
tentativas de homicídio em 2001;
 percentuais e taxas femininas de homicídio doloso superiores à média no Acre e Mato Grosso do
Sul.

Informações desagregadas por idade e por gênero, como esses poucos


exemplos sugerem, são fundamentais para a identificação de padrões de
criminalidade e segmentos vulneráveis nas diferentes UFs, logo para o
direcionamento de políticas e recursos segundo as características de vitimização
diagnosticadas. O ideal seria contar também com pesquisas domiciliares de
vitimização, feitas periódicamente em todo o país, complementando e
contextualizando as estatísticas policiais. Isto não reduz, porém, a necessidade de
um grande esforço das secretarias nacional e estaduais de segurança no sentido de
ampliar, melhorar e, se possível, corrigir retroativamente as informações sobre
vítimas contidas na base de dados da SENASP.

15
As 11 UFs selecionadas foram aquelas que, para pelo menos um dois seis tipos de delitos,
apresentavam em todos os meses do ano uma razão vítimas/registros maior ou igual à unidade. É claro
que pode haver erros também nesses casos, mas é menos provável que o número de vítimas esteja
fortemente subinformado (salvo se o de ocorrências também estiver).
16
Como assinalaremos no Relatório nº 3, detectamos também um problema no próprio manual de
preenchimento da SENASP, que define de modo confuso os limites inferiores e superiores dos intervalos
etários. Mas presumimos que, apesar disso, as UFs selecionadas informaram corretamente a distribuição
etária das vítimas, de acordo com as categorias legais: criança (0 a 11 anos), adolescente (12 a 17) e
adulto/a (18 anos ou mais). Um teste foi feito no caso dos homicídios – cruzando-se as informações da
SENASP com as do DATASUS de 2000, para as mesmas faixas etárias – e apresentou resultados bastante
consistentes.
Tabela 6 – Vítimas de crimes violentos em 11 Unidades da Federação - 2001

AC AM BA CE DF MS MT PE PI RN RS
Total de ocorrências 135 2439 531 560 260
Total de vítimas 135 2439 551 601 260
Homicídio Homens 115 2229 507 508 245
doloso Mulheres 20 210 44 93 15
0 a 11 anos 2 34 3 3 0
12 a 17 anos 9 108 56 40 36
18 anos ou mais 124 2297 449 558 224
Idade não Informada 0 0 43 0 0
Total de ocorrências 21 89 29 96 10
Total de vítimas 22 89 29 100 10
Homens 19 80 29 90 9
Latrocínio Mulheres 3 9 0 10 1
0 a 11 anos 0 0 0 0 0
12 a 17 anos 0 2 0 0 0
18 anos ou mais 16 87 29 100 10
Idade não Informada 6 0 0 0 0
Total de ocorrências 2881 3272 169 809 590 489 815 440
Total de vítimas 2882 3272 180 1120 643 503 1025 441
Tentativa Homens 2564 2793 151 1004 546 435 798 371
de Mulheres 318 479 29 116 97 68 227 70
homicídio 0 a 11 anos 19 23 0 14 4 0 12 0
12 a 17 anos 561 195 11 174 46 33 50 35
18 anos ou mais 2123 3054 169 881 593 470 963 406
Idade não Informada 179 0 0 51 0 0 0 0
Total de ocorrências 51 1662 431 291 404 837 222 377 1085
Total de vítimas 51 1662 485 323 595 882 225 379 1138
Homicídio Homens 39 1386 387 268 526 700 196 316 850
culposo no Mulheres 12 276 98 55 69 182 29 63 288
trânsito 0 a 11 anos 2 100 22 27 18 31 11 5 52
12 a 17 anos 6 113 29 16 22 52 19 29 66
18 anos ou mais 43 1449 434 247 555 799 195 345 1020
Idade não Informada 0 0 0 33 0 0 0 0 0
Total de ocorrências 52 1057 105 397 139 180
Total de vítimas 52 1057 112 443 175 189
Homens * 2 0 0 8 7 0
Estupro Mulheres 50 1057 112 435 168 189
0 a 11 anos 10 157 18 40 9 5
12 a 17 anos 25 442 47 115 32 46
18 anos ou mais 15 458 47 278 127 138
Idade não Informada 2
Total de ocorrências 23 742 98 340 288 160
Total de vítimas 23 743 105 378 319 163
Atentado Homens 4 215 26 70 77 143
violento ao Mulheres 19 528 79 308 242 20
pudor 0 a 11 anos 9 272 45 166 180 31
12 a 17 anos 5 281 32 68 73 66
18 anos ou mais 9 190 28 141 66 66
Idade não Informada 0 0 0 3 0 0

(*) Informação desconsiderada Segundo o Código Penal brasileiro, constitui crime de estupro “constranger
mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça” (art. 213), ou seja, essa categoria só se
aplica quando a vítima é do sexo feminino.
Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.
Homicídio doloso
V ítimas de hom icídio doloso
Homicídio doloso - Vítimas registradas - 2001 Distribuição por faixas etárias - 2001

2800 2439 1 00%

2400 80%
2000
60%
1600
40%
1200
551 601
800 20%
135 260
400 0%
0 AC BA DF MS RN
AC BA DF MS RN 0 a 1 1 anos 12 a 1 7 anos 18 anos o u mais N ão i nformada

Vítimas de homicídio doloso


Distribuição por sexo - 2001
Vítimas de homicídio doloso por cem mil habitantes,
100%
segundo sexo - 2001
60 50,5
80% 48,1
50
40,4
60% 40 34,1
30
40% 17,8
20
6,9 8,8
20% 10 3,2 4,4
1,1
0% 0
AC BA DF MS RN AC BA DF MS RN
Masculino Feminino Homens Mulheres

Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.

Latrocínio

Latrocínio - Vítimas registradas - 2001 Vítim as de latrocínio


Distri bui ção por faixas etária s - 2001
120 100
10 0%
100 89
8 0%
80
6 0%
60
4 0%
40 22 29
2 0%
10
20
0%
0 AM BA CE PE RN
AM BA CE PE RN 0 a 11 a nos 12 a 17 a nos 18 an os ou m ais Não Informada

Vítimas de latrocínio
Distribuição por sexo - 2001
Vítimas de latrocínio por cem mil habitantes,
100% segundo sexo - 2001
3
80% 2,3

60% 2
1,3 1,2
40% 0,8
1 0,7
0,2 0,1 0,3
20% 0,1
0,0
0
0% AM BA CE PE RN
AM BA CE PE RN
Homens Mulheres
Masculino Feminino
Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.
Homicídio culposo - Trânsito

Homicídio culposo no trânsito - Vítimas registradas - Vítimas de homicídio culposo no trânsito


2001 Distribuição por faixas etárias - 2001

2000
1662 100%

1600 80%
1138
1200 60%
882
800 595 40%
485 379
323 20%
400 225
51
0%
0 AC BA CE DF MS PE PI RN RS
AC BA CE DF MS PE PI RN RS

0 a 11 anos 12 a 17 anos 18 anos ou mais Não Informada

Vítimas de homicídio culposo no trânsito


Vítimas de homicídio culposo no trânsito por cem mil habitantes,
Distribuição por sexo - 2001 segundo sexo - 2001
49,8
100% 50

80% 40

30 26,7
60% 21,2 22,9
18,1 16,8
20 13,7 13,9
40% 10,5
10 5,5 6,5 5,7
4,1 4,2 4,7 4,6
20% 2,7 2,1
0
0%
AC BA CE DF MS PE PI RN RS
AC BA CE DF MS PE PI RN RS
Homens Mulheres
Masculino Feminino

Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.

Tentativa de homicídio

Vítimas de tentativa de homicídio


Tentativa de homicídio - Vítimas registradas - 2001
Distribuição por faixas etárias - 2001
4000
3272 100%
2882
3000 80%

60%
2000
40%
1120 1025
1000 643 20%
503 441
180 0%
AM BA CE DF MS MT PE RN
0
AM BA CE DF MS MT PE RN
0 a 11 anos 12 a 17 anos 18 anos ou mais Não Informada

Vítimas de tentativa de homicídio


Distribuição por sexo - 2001
200 Vítimas de tentativa de homicídio por cem mil habitantes,
175,8
100% segundo sexo - 2001
150
80%
100,0
60% 100

40% 51,7
42,8
50 33,0 26,9
21,8 20,6
20% 7,3 11,6 9,2 5,2 5,1
4,1 0,8 5,9
0
0%
AM BA CE DF MS MT PE RN
AM BA CE DF MS MT PE RN
Homens Mulheres
Masculino Feminino
Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.
Estupro

Vítimas de estupro
Estupro - Vítimas do sexo feminino registradas - 2001* Distribuição por faixas etárias - 2001

1200 1057 100%

1000 80%

800 60%
600 435 40%
400
189 20%
168
200 50 112
0%
0 AC BA CE DF PI RN
AC BA CE DF PI RN
0 a 11 anos 12 a 17 anos 18 anos ou mais Não Informada

Vítimas de estupro por cem mil mulheres - 2001

50
43,3
40

30

20 17,3 16,2
11,9 13,7
10
3,0
0
AC BA CE DF PI RN

Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.

Atentado violento ao pudor

Vítimas de atentado violento ao pudor


Atentado violento ao pudor - Vítimas registradas -
Distribuição por faixas etárias - 2001
2001
743 100%
800
700 80%
600
60%
500 378
400 319 40%

300 20%
163
200 105
100 23 0%
AC BA CE DF MS RN
0
AC BA CE DF MS RN 0 a 11 anos 12 a 17 anos 18 anos ou mais Não Infor mada

Vítimas de atentado violento ao pudor


Distribuição por sexo - 2001
Ví timas de ate ntado violento a o pudor por cem mil habitantes,
segundo sexo - 2001
100%
40
80% 30 ,7
30
60% 22 ,9
20
40% 10 ,4
10 6 ,6 8 ,1 7 ,0 7 ,3
20% 1 ,4 3 ,3 1 ,5
0 ,7 2 ,1
0
0%
AC BA CE DF MS RN AC BA CE DF MS RN

Home ns Mulher es
Masculino Feminino
Fontes: SENASP e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.

4 – Variação mensal dos registros

Sabe-se que a incidência de certos crimes muitas vezes apresenta nítidos padrões
sazonais, cujo conhecimento é imprescindível para a formulação de políticas de segurança.
Tais padrões podem variar bastante entre os estados e entre as cidades, daí a importância de
se analisar comparativamente a evolução dos níveis de criminalidade, não apenas de um ano
para outro, mas também mês a mês, durante diversos anos, visando a identificar, em cada
local, os períodos nos quais recorrentemente se registram maiores médias diárias do crime em
questão e os fatores explicativos dessa recorrência em cada caso. 17

A base de dados da SENASP prevê a coleta de números mensais de registros e de


vítimas, mas, antes de 2001, a maioria das Unidades da Federação só enviava totais anuais e,
mesmo em 2001, nem todas forneceram informações desagregadas para todos os tipos de
crimes.18 Como, até o fechamento do presente relatório, ainda não haviam chegado os
números relativos aos últimos meses de 2002, não foi possível esboçar uma comparação de
dois anos completos – que, de qualquer modo, seria insuficiente para a descoberta de padrões
sazonais. O intuito desta seção, assim, é apenas sublinhar a necessidade de que se amplie,
nos próximos anos, a cobertura de informações mensais do banco de dados para os vários
tipos de delitos, abrindo caminho para futuros estudos comparativos de sazonalidades nas
diversas partes do país.

Tomando-se, como ilustração, apenas dois tipos de crimes violentos – homicídio doloso
e roubo de veículos –, as Tabelas 7 e 8, a seguir, mostram as médias diárias de ocorrências,
mês a mês, em todas as UFs para as quais havia esse tipo de informação; e os Gráficos 8 e 12
retratam, em cada mês, o desvio percentual em relação à média diária dos dois crimes no ano
todo de 2001. Além de identificar padrões recorrentes nas várias UFs, a análise de séries
mensais mais extensas permitiria estudar semelhanças e diferenças de tais padrões entre
estados específicos, assim como entre distintos crimes em cada estado. Os outros gráficos
abaixo selecionam algumas UFs das duas tabelas e ilustram possibilidades a serem exploradas
num estudo comparativo sistemático de variações intra-anuais. Nosso 4º relatório de avaliação,
utilizando uma pesquisa sobre registros de homicídio doloso no Rio de Janeiro ao longo de
onze anos, demonstra os ganhos que esse tipo de análise poderá representar para o
conhecimento de dinâmicas criminais em todo o país quando a base da SENASP dispuser de
uma série de vários anos com informações mensais completas e consistentes.

Tabela 7 - Homicídio doloso:


Média diária de ocorrências nas 27 Unidades da Federação – 2001

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
AC 0,3 0,3 0,3 0,5 0,3 0,4 0,3 0,3 0,5 0,6 0,1 0,7
AL 1,8 2,5 2,0 1,4 1,4 1,4 1,6 1,1 2,1 1,7 2,3 1,9
AM 1,3 1,8 1,1 0,9 0,7 1,0 1,2 1,0 1,1 0,8 1,3 1,4
AP 0,5 0,1 0,2 0,1 0,5 0,5 0,5 0,6 0,3 0,6 0,6 0,4
BA 6,5 7,3 6,7 7,4 6,2 6,9 7,9 5,2 5,9 6,6 6,4 7,2

17
Utiliza-se a média diária, não o total mensal de registros, para eliminar distorções devidas ao número
variável de dias em cada mês.
18
Alguns estados, além não enviarem informações para todos os meses, não especificaram os meses de
referência para uma parte dos números fornecidos em 2001 – gerando resíduos não aproveitáveis na
análise de variações sazonais. As tabelas e gráficos a seguir desconsideram esses resíduos, em vez de
redistribuí-los ao longo do ano, pois, como faltam dados mensais para os anos anteriores, não se pode
estabelecer um critério de redistribuição confiável.
CE 4,4 5,0 3,4 4,0 3,3 3,2 3,8 3,4 3,3 3,4 3,2 3,6
DF 1,4 1,3 1,4 1,8 1,6 1,7 1,2 1,5 1,3 1,4 1,5 1,3
ES 5,1 5,1 4,8 5,4 4,0 3,7 4,0 4,5 3,4 4,0 3,5 5,0
GO 3,3 2,2 2,4 2,6 2,2 2,9 2,1 2,1 2,7 2,8 1,9 2,3
MA 2,1 1,1 1,2 0,5 1,5 1,2 1,3 1,3 1,5 1,0 2,0 2,4
MG 7,4 6,6 6,3 6,4 5,4 5,0 5,1 4,8 5,2 4,9 5,3 7,2
MS 1,7 1,3 1,4 1,9 1,0 1,2 1,6 1,4 1,9 1,6 1,1 2,2
MT 1,3 1,4 1,5 1,8 1,6 1,2 1,4 1,0 1,3 1,4 1,2 1,5
PA 3,1 3,5 3,4 2,6 3,1 3,4 2,2 2,1 2,6 2,8 2,8 3,6
PB 1,2 1,2 1,0 1,1 2,3 1,7 1,6 1,9 1,8 1,4 1,9 2,2
PE 9,6 8,6 6,1 8,3 10,5 9,5 7,4 6,6 9,1 11,6 7,7 11,3
PI 0,3 0,2 0,4 0,3 0,5 0,6 0,4 0,6 0,7 0,2 0,7 0,3
PR 4,5 6,1 6,4 6,5 5,3 5,4 4,6 4,8 4,6 2,9 6,5 6,3
RJ 14,9 17,7 16,8 15,3 14,7 13,3 12,9 13,8 14,3 15,0 15,0 15,1
RN 0,8 0,5 0,8 0,7 0,7 1,1 0,9 0,7 0,7 0,6 0,7 0,3
RO 1,9 1,6 1,6 1,8 1,3 1,2 1,3 1,6 1,2 1,6 1,3 1,6
RR 0,3 0,2 0,2 0,4 0,4 0,2 0,1 0,0 0,1 0,2 0,2 0,1
RS 3,8 4,1 3,5 4,5 3,5 3,4 2,6 2,5 3,4 2,3 3,4 4,4
SC 0,7 0,8 0,6 0,8 0,5 0,9 0,8 0,6 0,7 0,4 0,9 0,8
SE 0,9 0,8 1,1 1,2 0,9 0,8 1,0 0,5 1,0 0,6 0,4 0,4
SP 35,6 40,0 38,5 39,2 35,4 32,8 29,9 29,0 29,5 31,8 32,0 36,9
TO 0,7 0,5 0,3 0,6 0,6 0,5 0,6 0,5 0,6 0,7 0,7 0,4
Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 8 – Homicídio doloso: Desvio percentual da


média diária de ocorrências no mês em relação à média diária no ano de 2001
100%
80%
60%
40%
20%
0%
-20%
-40%
-60%
-80%
-100%
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

AC AL AM AP BA CE DF ES GO
MA MG MS MT PA PB PE PI PR
RJ RN RO RR RS SC SE SP TO

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.


Gráfico 9 – Homicídio doloso: média diária de ocorrências
nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo - 2001
20 60

R2 = 0,439
15 45

10 30
R2 = 0,517

5 15
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

RJ SP Polinômio (SP) Polinômio (RJ)

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 10 – Homicídio doloso: média diária de ocorrências


nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo – 2001
10

8
R2 = 0,803
6

4
2
R = 0,483
2

0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

MG ES Polinômio (MG) Polinômio (ES)

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 11 – Homicídio doloso: média diária de ocorrências


nos estados de Pernambuco, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul– 2001
12

10

0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

PE BA PR RS

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.


Tabela 8
Roubo de veículos:
Média diária de ocorrências em 19 Unidades da Federação – 2001

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
AM 0,5 0,4 0,6 0,4 0,3 0,3 0,5 0,5 0,5 0,6 0,4 0,4
BA 7,5 7,9 7,6 7,3 9,3 8,8 11,2 9,4 9,7 8,6 9,7 9,5
CE 4,8 3,8 5,3 4,5 4,1 4,0 4,5 4,5 4,1 2,7 3,2 3,0
DF 5,0 4,3 5,0 5,3 5,6 5,8 4,4 5,3 6,2 6,4 6,1 7,7
ES 1,9 1,9 2,9 2,1 1,8 1,8 1,4 1,9 2,4 2,3 2,2 2,6
GO 2,1 3,1 3,0 3,4 3,8 3,3 3,5 4,0 4,0 4,1 5,0 4,6
MA 0,9 0,7 0,7 0,1 0,4 0,1 0,5 0,5 0,4 0,2 0,7 0,9
MS 1,4 0,9 1,6 2,0 0,7 0,9 0,7 0,8 0,8 0,7 0,9 0,9
MT 2,7 2,1 3,5 2,4 1,7 1,7 2,7 2,5 1,8 2,1 1,7 1,5
PA 3,8 4,3 3,5 3,6 3,5 3,6 2,6 2,1 2,0 2,9 3,6 2,8
PE 2,4 0,8 16,5 15,3 14,4 2,6 1,5 0,7 3,1 2,4 1,5 1,4
PI 0,6 0,4 0,4 0,3 0,3 1,4 0,5 0,6 0,5 0,6 1,3 0,6
RJ 67,3 71,8 78,3 76,8 72,1 73,5 66,2 77,0 82,8 79,4 84,2 81,0
RN 1,4 1,3 0,9 0,7 1,6 1,1 1,5 0,7 1,1 1,0 0,5 0,9
RO 2,0 1,9 1,4 1,9 1,3 1,7 2,1 1,5 1,9 1,6 2,1 1,3
RS 21,8 21,9 23,7 22,3 20,4 19,5 21,4 20,9 19,2 19,2 19,4 18,3
SC 0,6 0,5 0,6 0,5 0,8 0,6 0,5 0,6 0,6 0,6 0,5 0,5
SE 0,3 0,1 0,1 0,1 0,7 0,3 0,3 0,6 0,2 0,2 0,2 0,7
SP 282,9 296,0 307,2 293,9 283,0 265,5 262,4 279,3 278,7 293,8 272,8 231,7

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 12 – Roubo de veículo: Desvio percentual


da média diária de ocorrências no mês em
relação à média diária no ano de 2001
100%
80%
60%
40%
20%
0%
-20%
-40%
-60%
-80%
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

AM BA CE DF ES GO MA MS MT PA
PE PI RJ RN RO RS SC SE SP

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.


Gráfico 13 – Roubo de veículo: média diária de ocorrências
nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo - 2001
90 360

75 R2 = 0,468 300

60 240
2
R = 0,410

45 180
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

RJ SP Polinômio (SP) Polinômio (RJ)

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 14 – Roubo de veículo: média diária de ocorrências na Bahia,


no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal – 2001
12 24

R2 = 0,677
10 20

R2 = 0,549
8 16

6 12
2
R = 0,672
4 8
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

BA DF RS
Polinômio (BA) Polinômio (DF) Polinômio (RS)

Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 15 – Homicídio doloso e roubo de veículo: média diária de ocorrências


no estado de São Paulo – 2001
50 400

360

40 2 320
R = 0,410
280

30 240
2
R = 0,517
200

20 160
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Homicídio doloso Roubo de veículo


Polinômio (Homicídio doloso) Polinômio (Roubo de veículo)
Fonte: SENASP. Elaboração: CESeC/UCAM.
Observações finais
Nosso objetivo, neste primeiro relatório, limitava-se a apontar algumas possibilidades
analíticas abertas pela montagem da Base Nacional de Estatísticas Criminais, focalizando
apenas ocorrências e vítimas das principais categorias de delitos. Mas, mesmo não tendo sido
explorados aqui, é importante registrar outros tipos de informações contidos nessa base, que
poderão ampliar muito, futuramente, as alternativas de análise dos problemas de segurança
pública em todo o país:

 Infratores: número, idade e sexo, para as mesmas 25 categorias criminais, segundo região
do estado (Capital, Região Metropolitana e Interior);
 Apreensão de entorpecentes: número de ocorrências e quantidades apreendidas no estado,
por tipo de droga (maconha, cocaína, etc.);
 Apreensão de armas, por tipo de arma (uso permitido ou restrito) e procedência (fabricação
nacional ou estrangeira);
 Fugas de presos, segundo tipo de estabelecimento (delegacia ou unidade prisional) e
segundo sexo;
 População carcerária, segundo tipo de estabelecimento e região do estado (Capital, RM,
Interior);
 Crianças e adolescentes apreendidos, por sexo e região do estado;
 Inquéritos instaurados e concluídos, por situação do inquérito, região do estado e tipo de
crime (7 categorias);
 Policiais feridos e mortos, segundo corporação (Militar ou Civil) e situação (em serviço ou
fora de serviço)
 Civis feridos e mortos por policiais, segundo corporação e situação;
 Pessoas capturadas, segundo sexo e situação (flagrante ou mandado judicial);
 Termos circunstanciais lavrados, por região do estado.

Enquanto a obtenção de dados sobre infratores depende sobretudo da melhoria


da capacidade investigativa das polícias brasileiras, hoje notoriamente baixa, as demais
informações listadas podem fornecer a curto prazo diversos indicadores importantes de
atuação policial nos estados (por exemplo, grau de letalidade;19 direcionamento maior
ou menor das políticas de segurança locais para a “guerra às drogas”, para o
desarmamento e/ou para a captura de criminosos). Podem, além disso, viabilizar estudos
comparativos sobre o funcionamento da base do sistema de justiça criminal, permitindo
medir, por exemplo, taxas de esclarecimento de crimes, por meio da comparação entre
número de registros e número de inquéritos concluídos em cada Unidade da Federação.
Outro indicador relevante que o banco potencialmente fornece são as taxas estaduais de
encarceramento (incluindo a população dos xadrezes, casas de custódia etc.), que,
cruzadas com as respectivas taxas criminais, permitirão desenvolver aqui análises há
muito realizadas em outros países, a respeito do custo/benefício da prisão,
considerando-se seu impacto no controle da criminalidade, sobretudo da criminalidade
violenta.20
Os dados primários hoje disponíveis na base da SENASP ainda são insuficientes em cobertura e
consistência para fundamentar esses tipos de pesquisas em âmbito nacional. Mesmo as informações sobre
registros e (principalmente) vítimas de crimes apresentam uma série de problemas, que serão apontados
ao longo dos três relatórios seguintes, tanto na forma de crítica do banco de dados e do formulário de
coleta, quanto na de sugestões para o seu aperfeiçoamento a curto e médio prazo. Esperamos ter indicado
aqui a importância do esforço já dispendido, bem como a enorme relevância dos esforços adicionais
necessários, nos próximos anos, para que a Base Nacional de Estatísticas Criminais permita um salto

19
Ver, a propósito, o relatório elaborado recentemente por Ignacio Cano para a SENASP sobre letalidade
policial versus índices de criminalidade (janeiro de 2003).
20
Sobre esse tema, ver Julita Lemgruber, Controle da criminalidade: mitos e fatos. Encarte da Revista
Think Tank. São Paulo, Instituto Liberal, 2001.
[disponível em http://www.cesec.ucam.edu.br/publicacoes/textos.asp]
qualitativo das análises criminológicas no Brasil e, portanto, do patamar de formulação de políticas de
segurança pública nacionais e locais.
“Perfil das Polícias do Brasil”* - Virgínia Brusoni e Renato Sérgio de Lima

O presente Boletim apresenta alguns dos resultados da Pesquisa “Perfil das Polícias
no Brasil”. Idealizada no segundo semestre de 2000, alguns meses após o lançamento do
Plano Nacional de Segurança Pública, a Pesquisa teve o objetivo principal de conhecer a
estrutura administrativa, material e pessoal das Secretarias Estaduais de Segurança Pública e
das Polícias. Através do envio de questionários para todas as Unidades da Federação foram
coletadas questões sobre estrutura administrativa, orçamento, recursos, efetivos policiais,
viaturas, armamento, sistema de controle das Polícias, sistema de coleta e análise de dados,
escolaridade, estatísticas de violência policial e índices de criminalidade, entre outros.
Assim, o trabalho aqui contemplado insere-se como um subsídio complementar aos
planejadores de políticas públicas de segurança e não tem o objetivo de esgotar todo o leque
analítico envolvido na produção de informações sobre Justiça Criminal e Segurança Pública no
Brasil. A idéia central foi oferecer temas para debate, pois, como indica a literatura sobre
produção de informações e estatísticas, nenhuma informação pode ser tomada isolada do seu
contexto de produção (quem, quando e onde foi produzida). Assumir quaisquer dados como
verdades absolutas não responde às necessidades de qualidade das informações disponíveis.
É fundamental incentivar a produção de estatísticas e ter em mente que mesmo dados parciais
ou com problemas de formulação e/ou conteúdo analítico podem ser importantes ferramentas
de planejamento e otimização de recursos, desde que claramente indicados os limites
impostos.
Em outras palavras, espera-se que a partir desse trabalho novos projetos de
investigação sobre as condições das instituições policiais envolvidas na Segurança Pública do
país possam se beneficiar da experiência acumulada e avançar na compreensão e na busca
de soluções para os fenômenos do crime e da violência no país.
Em termos operacionais, este Boletim traz informações sobre efetivos das Polícia Civil
e Militar e os associa a dados sobre gastos e funcionamento da Segurança Pública no Brasil.
Não é objetivo desse estudo trabalhar com todas as variáveis existentes nos questionários.
Mesmo aquelas que serão abaixo arroladas deverão ser utilizadas na composição de tabelas,
gráficos e mapas analíticos. A proposta é transformar alguns dos dados disponíveis em
indicadores sobre a realidade da área de segurança pública no país. Nesse momento, portanto,
foram selecionadas as variáveis que poderiam ajudar na contextualização das informações da
Pesquisa. Em paralelo aos dados aqui disponibilizados, foram elaborados um conjunto de
tabelas com todos os dados coletados e, ainda, um Sumário de Dados, com o tratamento
quantitativo de variáveis selecionadas.

 Este Boletim é uma publicação do Departamento de Cooperação e Articulação das Ações de


Segurança Pública, da Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP, do Ministério da
Justiça. Sua elaboração ficou sob a responsabilidade técnica de Virgínia Canedo Bruzzone e contou
com a colaboração de Lilian Liye Konishi, na tabulação e processamento dos dados, e com a
contribuição de Renato Sérgio de Lima, na consultoria metodológica e de análise de dados.
Resultados Selecionados

EFETIVO

01 - Número e Percentual de Efetivos Existentes das Polícias Militar e Civil


Brasil, Regiões e Unidades da Federação
2000

UF Total Polícia Militar Total Polícia Civil Total Efetivo

No. Abs % No. Abs % No. Abs %


BRASIL 375.446 78,5 102.555 21,5 478.001 100,0
Região Norte 28.412 79,5 7.306 20,5 35.718 100,0
AC 2.042 69,9 880 30,1 2.922 100,0
AM 6.145 87,7 860 12,3 7.005 100,0
AP 2.385 72,3 912 27,7 3.297 100,0
PA 12.487 84,1 2.363 15,9 14.850 100,0
RO 1.212 52,7 1.088 47,3 2.300 100,0
RR 1.050 62,2 639 37,8 1.689 100,0
TO 3.091 84,6 564 15,4 3.655 100,0
Região Nordeste 95.875 83,9 18.371 16,1 114.246 100,0
AL 7.552 85,9 1.237 14,1 8.789 100,0
BA 27.962 86,3 4.437 13,7 32.399 100,0
CE 10.829 83,6 2.129 16,4 12.958 100,0
MA 6.298 80,5 1.523 19,5 7.821 100,0
PB 7.103 76,1 2.230 23,9 9.333 100,0
PE 17.336 80,5 4.202 19,5 21.538 100,0
PI 6.228 83,1 1.267 16,9 7.495 100,0
RN 7.460 89,4 886 10,6 8.346 100,0
SE 5.107 91,7 460 8,3 5.567 100,0
Região Sul 53.471 81,5 12.155 18,5 65.626 100,0
PR 18.724 83,0 3.830 17,0 22.554 100,0
RS 21.610 80,0 5.405 20,0 27.015 100,0
SC 13.137 81,8 2.920 18,2 16.057 100,0
Região Sudeste 160.808 74,9 53.754 25,1 214.562 100,0
ES 7.854 82,1 1.707 17,9 9.561 100,0
MG 36.580 90,1 4.016 9,9 40.596 100,0
RJ 33.301 88,6 4.272 11,4 37.573 100,0
SP 83.073 71,1 33.718 28,9 116.791 100,0
Região Centro- 36.880 77,1 10.969 22,9 47.849 100,0
Oeste
GO 12.799 87,1 1.903 12,9 14.702 100,0
MS 4.601 75,8 1.469 24,2 6.070 100,0
MT 4.529 74,1 1.581 25,9 6.110 100,0
DF 14.951 75,5 4.841 24,5 19.792 100,0
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública – Pesquisa "Perfil das
Polícias do Brasil”.

Em relação aos quadros de efetivos existentes das Polícia Civil e Militar, a tabela 01,
acima, indica que a distribuição proporcional de quadros entre as duas Polícias varia de acordo
com a Unidade da Federação. Enquanto que para a média Brasil os efetivos das Polícias Civis
Estaduais respondem por 21,5% de todos os policiais na ativa, em algumas unidades essas
taxas oscilam de forma acentuada. Em Rondônia, por exemplo, a Polícia Civil possui,
proporcionalmente, o maior efetivo do pais. Nesse Estado, a Polícia Civil responde por 47,3%
do total de policiais. Já em Sergipe, a situação é inversa e a Polícia Militar é responsável por
91,7% dos policiais do Estado. Essa mesma diferença pode ser observada em Estados com
grandes populações. Em São Paulo, a Polícia Civil é responsável por 28,9% dos policiais. Em
contrapartida, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, essa mesma Polícia responde,
respectivamente, por 9,9% e 11,4%. O Mapa sobre efetivos confirma essa análise e destaca os
Estados do Acre, de Roraima e Amapá, bem como o Distrito Federal. Nessas Unidades da
Federação, as taxas de efetivos por 1000 habitantes encontra-se na casa de 4 ou mais policiais
para cada grupo de 1 Mil habitantes.
INSERIR MAPA ANEXO
02 - Efetivo à Disposição de Outros Órgãos ou Autoridades
Polícia Civis e Militares
Brasil
2001
% do Efetivo à Disposição
Efetivo à Disposição de
de Outros Órgãos ou
Outros Órgãos ou Efetivo Existente
Autoridades com Efetivo
Regiões e UF´s Autoridades
Existente
Polícia Polícia Polícia Polícia
Polícia Civil Polícia Civil
Militar Civil Militar Militar
BRASIL 764 7.909 102.555 375.446 0,74 2,11
Região Norte 137 1.469 7.306 28.412 1,88 5,17
AC 1 132 880 2.042 0,11 6,46
AM 4 441 860 6.145 0,47 7,18
AP 23 9 912 2.385 2,52 0,38
PA 38 611 2.363 12.487 1,61 4,89
RO 58 209 1.088 1.212 5,33 17,24
RR 5 30 639 1.050 0,78 2,86
TO 8 33 564 3.091 1,42 1,07
Região Nordeste 205 3.578 18.371 95.875 1,12 3,73
AL - 164 1.237 7.552 - 2,17
BA 10 201 4.437 27.962 0,23 0,72
CE 4 1.042 2.129 10.829 0,19 9,62
MA 3 246 1.523 6.298 0,20 3,91
PB 39 75 2.230 7.103 1,75 1,06
PE 84 924 4.202 17.336 2,00 5,33
PI 22 - 1.267 6.228 - -
RN 38 269 886 7.460 4,29 3,61
SE 5 647 460 5.107 1,09 12,67
Região Sul 134 421 12.155 53.471 1,10 0,79
PR 31 35 3.830 18.724 0,81 0,19
RS 88 252 5.405 21.610 1,63 1,17
SC 15 120 2.920 13.137 0,51 0,91
Região Sudeste 89 695 53.754 160.808 0,17 0,43
ES 9 29 1.707 7.854 0,53 0,37
MG 13 0 4.016 36.580 0,32 0,00
RJ - 657 4.272 33.301 - 1,97
SP 67 3 33.718 83.073 0,20 0,00
Região Centro-Oeste 198 1.746 10.969 36.880 1,81 4,73
GO 51 26 1.903 12.799 2,68 0,20
MS 11 352 1.469 4.601 0,75 7,65
MT 63 510 1.581 4.529 3,98 11,26
DF 73 858 4.841 14.951 1,51 5,74
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da
Polícias do Brasil".

Analisando a existência de policiais cedidos para outros órgãos das administrações


estaduais/distrital, observa-se que os estados de Rondônia, Sergipe e Mato Grosso são
aqueles com maior percentual de policiais militares fora de suas atividades-fins. Nesses
estados, respectivamente, existem 17,2%, 12,7% e 11,7% de PMs exercendo funções em
outros órgãos. No caso da Polícia Civil, o destaque também é Rondônia, com 5,3% de policiais
civis cedidos, indicando, talvez, que os efetivos policiais desse estado estão utilizados com
maior intensidade para suprir outras áreas que não a da Segurança Pública.

GÊNERO
03 - Efetivos Existente dos Policiais Civis, segundo Funções, por Sexo
Polícias Civis
Brasil
2001
Em porcentagem
Delegado de Funções da
Investigador Agente Papiloscopista Escrivão Carcereiro Outros
Polícia Polícia Técnica
Regiões e UF´s
Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin Feminin Masculin
o o o o o o o o o o o o o o o o
BRASIL 19,23 77,10 10,38 89,62 10,49 71,53 50,94 40,98 44,07 53,84 18,72 73,38 22,14 65,77 25,47 63,16
Região Norte 35,45 64,78 16,14 83,86 17,49 82,51 43,33 56,67 52,92 47,08 27,18 72,82 0,35 99,65 46,83 53,17
AC 18,92 81,08 - - 11,59 88,41 65,33 34,67 38,46 61,54 20,00 80,00 - - 37,93 62,07
AM 22,95 77,05 19,40 80,60 - - - - 40,70 59,30 - - - - 11,63 88,37
AP 38,96 63,64 - - 20,32 79,68 - - 51,61 48,39 30,28 69,72 - - - -
PA 44,72 55,28 13,83 86,17 - - 35,18 64,82 55,90 44,10 - - 0,40 99,60 39,60 60,40
RO 20,51 79,49 - - 28,88 71,12 - - 57,42 42,58 - - - 100,00 69,37 30,63
RR 27,59 72,41 - - 13,33 86,67 42,31 57,69 61,90 38,10 - - - - - -
TO 20,37 79,63 - - 5,49 94,51 - - 45,33 54,67 26,32 73,68 - 100,00 - -
Região Nordeste 27,46 72,54 3,94 96,06 10,50 81,18 57,38 42,62 39,22 60,78 3,33 96,67 11,14 49,84 30,96 68,05
AL 9,91 90,09 - - 15,28 84,72 - - 34,85 65,15 3,39 96,61 - - 13,73 66,67
BA 49,03 50,97 - - 12,42 87,58 - - 43,69 56,31 - - - - - -
CE 26,96 73,04 - - - - - - 47,20 52,80 - - 20,34 79,66 27,92 72,08
MA 23,55 76,45 - - - - - - 39,22 60,78 - - 9,57 93,62 32,06 67,94
PB 18,63 81,37 - - 15,93 84,07 52,17 47,83 45,45 54,55 - - 2,81 12,70 41,38 61,38
PE 22,52 77,48 - - 6,97 93,03 - - 22,14 77,86 - 100,00 27,03 72,97 - -
PI 4,65 95,35 3,99 96,01 5,49 94,51 73,33 26,67 31,89 68,11 - - 4,10 95,90 29,73 70,27
RN 16,54 83,46 - 100,00 20,12 79,88 - - 32,81 67,19 - - - - - -
SE 27,78 72,22 - - 21,99 78,01 - - 33,33 66,67 - - - - - -
Região Sul 13,67 86,33 13,32 86,68 - - - - 37,90 62,10 - - 13,21 83,26 29,05 23,61
PR 10,96 89,04 12,84 87,16 - - - - 29,31 70,69 - - - - 18,54 8,84
RS 15,18 84,82 15,65 84,35 - - - - 26,12 73,88 - - 12,05 87,95 - -
SC 15,48 84,52 12,59 87,41 - - - - 70,60 29,40 - - 19,54 80,46 48,73 51,27
Região Sudeste 15,37 84,63 9,53 90,47 5,16 94,84 57,54 42,46 46,84 53,16 20,71 79,29 48,07 51,85 23,86 73,70
ES 24,46 75,54 21,05 78,95 38,66 61,34 71,05 28,95 51,09 48,91 - - 100,00 - 25,81 74,19
MG 20,53 79,47 - - - - - - 60,09 39,91 16,49 83,51 60,98 39,02 22,19 64,90
RJ 16,74 83,26 - - - - 36,79 63,21 39,53 60,47 1,63 98,37 11,20 88,80 22,64 77,36
SP 13,01 86,99 10,94 89,06 1,50 98,50 61,38 38,62 45,67 54,33 23,53 76,47 60,35 39,54 24,58 75,06
Região Centro- 12,82 53,03 - - 9,87 39,22 24,21 24,60 39,22 34,45 3,81 30,47 18,81 81,19 16,17 42,43
Oeste
GO 23,10 76,90 - - - - - - 58,33 41,67 11,11 88,89 15,35 84,65 29,66 70,34
MS 17,60 82,40 - - 19,37 80,63 56,00 44,00 41,44 58,56 - - 28,08 71,92 22,77 77,23
MT 15,75 84,25 - - 29,61 70,39 42,98 57,02 45,41 54,59 - - - - - -
DF - - - - - - - - - - - - - - - -
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil das
Polícias do Brasil".
04- Efetivos Existente dos Policiais Militares, segundo Funções, por Sexo
Polícias Militares
Brasil
2001
Em porcentagem
Aluno da Aluno da
Tenente Aspirante a Escola de Cabo
e Escola de
Coronel Major Capitão Tenente Subtenente Sargento
Coronel Oficial Formação de Soldado
Formação de
Regiões e UF's Oficiais Soldados
Femi Mascu Femi Mascu Mascu Femi Mascu Femi Mascu Femi Mascu Mascu Femi Mascu Femi Mascu Mascu Femi Mascu
Femi- Femi- Femi-
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
nino nino nino
Nino lino nino lino lino nino lino nino lino nino lino lino nino lino nino lino lino nino lino
BRASIL 0,43 99,57 0,70 99,30 2,15 97,85 4,98 95,02 6,01 90,76 8,03 91,66 13,38 84,26 3,16 91,83 4,49 92,46 6,13 90,14 5,39 82,63
Região Norte 0,00 100,00 0,90 99,10 6,39 93,61 16,46 83,54 13,66 86,34 3,17 96,83 2,75 97,25 5,23 94,77 10,50 87,84 9,54 90,46 0,00 0,00
AC 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 3,33 96,67 3,03 96,97 0,00 100,00 0,00 0,00 5,56 94,44 4,35 75,89 7,04 92,96 0,00 0,00
AM 0,00 100,00 0,00 100,00 2,86 97,14 9,41 90,59 9,43 90,57 0,00 100,00 14,29 85,71 19,35 80,65 12,79 85,27 8,02 91,98 0,00 0,00
AP 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 18,75 81,25 2,78 97,22 0,00 100,00 8,33 91,67 0,00 100,00 11,01 88,99 7,24 92,76 0,00 0,00
PA 0,00 100,00 2,13 97,87 12,24 87,76 23,68 76,32 17,82 82,18 0,00 100,00 1,71 98,29 3,01 96,99 14,99 85,01 12,68 87,32 0,00 0,00
RO 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 3,33 96,67 0,00 0,00 0,00 100,00 0,00 100,00 8,53 91,47 0,00 0,00
RR 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 0,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 6,21 93,79 0,00 0,00
TO 0,00 100,00 0,00 100,00 5,00 95,00 7,14 92,86 27,21 72,79 40,00 60,00 0,00 100,00 0,00 100,00 5,88 94,12 4,71 95,29 0,00 0,00
Região 0,00 100,00 0,27 99,73 1,27 98,73 2,83 97,17 4,44 82,95 11,67 86,67 22,92 68,62 0,27 75,34 5,84 80,14 5,21 80,35 3,24 31,85
Nordeste
AL 0,00 100,00 0,00 100,00 1,67 98,33 3,17 96,83 3,69 96,31 0,00 0,00 16,22 83,78 0,00 100,00 8,53 91,47 5,03 94,97 0,00 0,00
BA 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 7,99 92,01 0,00 0,00 29,27 70,73 0,00 100,00 9,95 90,05 11,46 88,54 46,67 53,33
CE 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 - 0,00 0,00 0,00 - 0,00
MA 0,00 100,00 0,00 100,00 1,89 98,11 2,33 97,67 3,02 96,98 0,00 100,00 0,00 100,00 1,69 98,31 2,79 97,21 2,92 97,08 0,00 0,00
PB 0,00 100,00 0,00 100,00 3,23 96,77 7,21 92,79 12,36 87,64 0,00 100,00 12,50 87,50 0,00 100,00 4,01 95,99 4,72 95,28 0,00 0,00
PE 0,00 100,00 1,49 98,51 1,68 98,32 5,06 94,94 1,75 98,25 12,00 88,00 - 100,00 1,39 98,61 7,34 92,66 2,68 97,32 - -
PI - 100,00 - 100,00 4,44 95,56 2,13 97,87 3,33 96,67 14,29 85,71 29,31 70,69 - 100,00 2,84 97,16 0,13 19,30 15,03 84,97
RN - 100,00 - 100,00 - 100,00 3,13 96,88 6,49 93,51 27,78 72,22 27,27 72,73 - 100,00 4,93 95,07 1,41 98,59 - 100,00
SE 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 8,33 91,67 0,00 100,00 0,00 100,00 17,86 82,14 0,00 100,00 1,29 98,71 2,96 97,04 0,00 0,00
Região Sul 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 0,74 99,26 1,25 98,75 5,65 94,35 0,00 100,00 1,19 98,81 1,83 98,17 1,63 98,37 0,15 99,85
PR 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 1,72 98,28 1,21 98,79 7,45 92,55 0,00 100,00 1,11 98,89 2,15 97,85 2,33 97,67 0,27 99,73
RS - 100,00 - 100,00 - 100,00 - 100,00 - 100,00 - 100,00 - 0,00 - 100,00 - 100,00 - 100,00 - 100,00
SC - 100,00 - 100,00 - 100,00 2,16 97,84 2,37 97,63 - 100,00 - 100,00 1,64 98,36 5,59 94,41 3,15 96,85 - -
Região 1,42 98,58 1,16 98,84 2,62 97,38 5,90 94,10 6,90 93,10 8,08 91,92 13,28 86,72 4,13 95,87 3,75 96,25 8,01 92,33 6,45 93,55
Sudeste
ES 0,00 100,00 0,00 100,00 2,70 97,30 11,27 88,73 16,77 83,23 6,90 93,10 8,16 91,84 1,28 98,72 17,78 82,22 4,25 95,75 0,00 0,00
MG - 100,00 1,06 98,94 3,72 96,28 4,71 95,29 5,36 94,64 8,82 91,18 6,12 93,88 8,94 91,06 4,86 95,14 3,93 96,07 0,00 100,00
RJ - 100,00 - 100,00 1,92 98,08 8,44 91,56 15,20 84,80 29,17 70,83 16,58 83,42 3,67 96,33 1,82 98,18 4,25 96,23 - 100,00
SP 3,70 96,30 3,23 96,77 2,47 97,53 4,76 95,24 4,04 95,96 0,00 100,00 16,13 83,87 1,38 98,62 3,51 96,49 11,11 89,37 10,00 90,00
Região 0,00 100,00 0,69 99,31 1,79 98,21 5,11 94,89 7,21 92,79 9,66 90,34 11,61 88,39 4,00 96,00 5,62 94,59 4,91 95,09 13,43 86,57
Centro-Oeste
GO 0,00 100,00 0,00 100,00 0,00 100,00 8,18 91,82 7,77 92,23 5,26 94,74 8,33 91,67 1,27 98,73 6,53 93,47 5,01 94,99 8,70 91,30
MS - 100,00 - 100,00 4,17 95,83 - 100,00 3,52 96,48 - 100,00 - 100,00 5,48 94,52 6,32 93,68 5,23 94,77 - -
MT - 100,00 3,57 96,43 0,00 100,00 2,63 97,37 8,07 91,93 16,67 83,33 - - 4,62 95,38 3,53 99,65 4,44 95,56 - -
DF 0,00 100,00 0,00 100,00 2,56 97,44 5,29 94,71 7,55 92,45 9,35 90,65 17,95 82,05 6,20 93,80 5,00 95,00 4,88 95,12 24,00 76,00
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da Polícias do Brasil".
Quando em foco estão os dados sobre gênero e funções, nota-se profundas diferenças
entre as Polícia Civil e Militar. Nas tabelas acima, pode-se observar que nas Polícias Militares e
existência de oficiais do sexo feminino é fenômeno bastante recente. Apenas o Estado de São
Paulo conta, de acordo com os dados informados, com mulheres exercendo a função de
Coronel PM. Em contrapartida, tanto em São Paulo como nas demais unidades da federação,
percebe-se que o percentual de oficiais mulheres vai aumentando conforme o nível de carreira
vai diminuindo. Esse fenômeno, por conseguinte, indica que a entrada das mulheres na
carreira policial militar está alterando o perfil do efetivo, mas que apenas no tempo é que será
possível ter um maior equilíbrio entre os sexos.
Já no caso das Polícias Civis, a existência de mulheres em níveis mais elevados
parece indicar o mesmo fenômeno observado para as Polícias Militares, mas também que a
composição por sexo dessa corporação influencia-se pelo fato de existirem carreiras
independentes, ou seja, as mulheres já ingressam numa função de nível superior (Delegadas,
por exemplo). Nesse caso, vale considerar que, nos últimos anos, o Brasil tem assistido a uma
maior participação da Mulher no Ensino Superior e isso tem permitido um maior acesso a
carreiras antes dominadas por homens. Segundo os dados desagregados, o Estado da Bahia é
aquele com maior proporção de delegadas, com 49% do efetivo sendo do sexo feminino. Em
Pernambuco, entretanto, as mulheres representam 4,7% dos Delegados de Polícia Civil. No
âmbito nacional, a função de Papiloscopista caracteriza-se como predominantemente ocupada
por mulheres. Nela, 50,9% do efetivo é de mulheres. As exceções ficam por conta do Pará e de
Rio de Janeiro, com, respectivamente, 64,8% e 63,2% de homens exercendo tal função.
05 - Distribuição dos Efetivos Masculino e Feminino, segundo Tipo de Função
Polícia Civis e Militares
Brasil
2001
Em porcentagem
Efetivo Existente Efetivo em Funções Administrativas Efetivo em Funções Operacionais
Regiões e UF´s Polícia Civil Polícia Militar Polícia Civil Polícia Militar Polícia Civil Polícia Militar
Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino
BRASIL 22,89 77,11 6,02 93,98 45,11 54,89 9,97 90,03 22,63 77,37 4,51 95,49
Região Norte 26,81 73,19 9,66 90,34 35,53 64,47 12,26 87,74 25,76 74,24 8,70 91,30
AC 19,32 80,68 6,53 93,47 47,22 52,78 19,43 80,57 71,88 28,13 4,86 95,14
AM 21,40 78,60 8,56 91,44 38,44 61,56 22,90 77,10 13,35 86,65 5,96 94,04
AP 28,34 71,66 7,46 92,54 40,00 60,00 10,50 89,50 27,86 72,14 6,68 93,32
PA 28,69 71,31 12,94 87,06 - - 9,12 90,88 29 71 14,53 85,47
RO 37,41 62,59 5,78 94,22 27,93 72,07 18,40 81,60 29,96 70,04 4,81 95,19
RR 23,79 76,21 3,90 96,10 - - 22,22 77,78 - - 3,47 96,53
TO 19,33 80,67 5,82 94,18 48,28 51,72 2,97 97,03 18,93 81,07 6,08 93,92
Região Nordeste 18,48 81,52 6,16 93,84 24,86 75,14 8,88 91,12 15,13 84,87 4,09 95,91
AL 17,44 82,56 5,42 94,58 25,91 74,09 2,38 97,62 17,44 82,56 1,29 98,71
BA 20,94 79,06 11,14 88,86 33,92 66,08 16,56 83,44 20,24 79,76 11,08 88,92
CE 28,04 71,96 0,00 100,00 46,76 53,24 - - 25,93 74,07 - -
MA 26,88 73,13 2,84 97,16 - - 0,00 100,00 - - 3,05 96,95
PB 24,78 75,22 4,93 95,07 37,30 62,70 36,84 63,16 27,06 72,94 1,39 98,61
PE 9,69 90,31 3,18 96,82 - - - - - - - -
PI 10,34 89,66 4,93 95,07 65,45 34,55 - - 7,31 92,69 - -
RN 20,43 79,57 2,12 97,88 - - 7,97 92,03 - - 0,77 99,23
SE 23,48 76,52 2,74 97,26 - - - - - - - -
Região Sul 22,47 77,53 1,57 98,43 63,82 36,18 3,27 96,73 18,55 81,45 1,41 98,59
PR 18,80 81,20 2,15 97,85 - - 2,76 97,24 - - 2,05 97,95
RS 17,63 82,37 - - 76,71 23,29 - - 50,03 49,97 - -
SC 35,55 64,45 3,34 96,66 68,76 31,24 13,67 86,33 22,49 77,51 2,68 97,32
Região Sudeste 23,33 76,67 6,98 93,02 48,15 51,85 10,79 89,21 26,36 73,64 5,19 94,81
ES 34,04 65,96 6,98 93,02 54,22 45,78 20,44 79,56 65,11 34,89 3,88 96,12
MG 35,32 64,68 4,25 95,75 - - 16,78 83,22 - - 1,91 98,09
RJ 25,23 74,77 3,52 96,48 - - - - - - - -
SP 25,94 74,06 9,57 90,43 48,07 51,93 18,64 81,36 24,03 75,97 8,51 91,49
Região Centro-Oeste 27,04 72,96 5,18 94,82 35,39 64,61 12,64 87,36 25,87 74,13 3,75 96,25
GO 33,89 66,11 5,35 94,65 25,27 74,73 29,43 70,57 25,35 74,65 3,13 96,87
MS 26,00 74,00 5,15 94,85 20,75 79,25 - - 26,20 73,80 - -
MT 31,31 68,69 4,47 95,53 75,22 24,78 - - 26,58 73,42 - -
DF - - 5,25 94,75 - - 7,93 92,07 - - 5,35 94,65
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da Polícias do Brasil".
Ainda em relação à distribuição do efetivo por sexo, a tabela 05, acima, indica que o
efetivo feminino é bastante empregado nas funções administrativas das duas Polícias. Nessa
linha, chama atenção o Estado do Pará, no qual 14,5% do efetivo operacional da Polícia Militar
é composto de mulheres. Esse percentual é mais de três vezes superior à média nacional,
onde apenas 4,5% do efetivo operacional das PMs é composto por mulheres. No caso de
funções administrativas, a Paraíba se destaca por ter entre o efetivo alocado em tais funções
37% de mulheres. Nas Polícias Civis, observa-se que nos Estados do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina as mulheres são responsáveis por cerca de 2/3 (dois terços) de todo efetivo
envolvidos em funções administrativas. Pode-se, portanto, avaliar que o aumento do efetivo
feminino nas Polícias tem ocorrido, mas de forma a substituir os homens alocados em funções
administrativas. A participação de mulheres nos efetivos operacionais das Polícias ainda é
baixo e existem poucas exceções.
PROTEÇÃO INDIVIDUAL

06 - Proporção de Coletes a Prova de Bala, segundo Efetivos Operacionais


Polícia Civis e Militares
Brasil
2001
Relação entre
Efetivos
Coletes a Prova de
Efetivos Operacionais Operacionais
Bala
Regiões e UF´s por Coletes a
Prova de Bala
Polícia Polícia Polícia Polícia
Polícia Civil Polícia Militar
Civil Militar Civil Militar
BRASIL 60.753 315.866 11.614 70.140 5,23 4,50
Região Norte 5.687 23.637 511 2.323 11,13 10,18
AC 64 1.830 100 187 0,64 9,79
AM 966 5.203 60 822 16,10 6,33
AP 646 1.947 22 100 29,36 19,47
PA 2.363 8.260 200 990 11,82 8,34
RO 1.088 2.371 110 69 9,89 34,36
RR - 1.212 9 - - -
TO 560 2.814 10 155 56,00 18,15
Região Nordeste 14.292 77.138 2.773 9.359 5,15 8,24
AL 1.227 5.345 - 221 - 24,19
BA 4.210 25.036 300 3.999 14,03 6,26
CE 1.913 9.654 186 530 10,28 18,22
MA - 5.567 50 0 - 0,00
PB 1.896 6.321 30 379 63,20 16,68
PE 3.856 15.012 1.657 3.310 2,33 4,54
PI 1.190 - 16 - 74,38 -
RN - 6.662 334 620 - 10,75
SE - 3.541 200 300 - 11,80
Região Sul 7.661 47.184 800 11.089 9,58 4,26
PR 3.675 16.185 - 7.032 - 2,30
RS 1.905 18.652 - 4.056 - 4,60
SC 2.081 12.347 800 1.117 2,60 11,05
Região Sudeste 27.640 143.644 6.500 43.233 4,25 3,32
ES 1.568 6.386 60 - 26,13 -
MG - 35.587 0 10.280 - 3,46
RJ - 25.026 440 2.331 - 10,74
SP 26.072 76.645 6.000 30.622 4,35 2,50
Região Centro-Oeste 5.473 24.263 1.030 4.136 5,31 5,87
GO 2.710 9.108 188 564 14,41 16,15
MS 1.416 - - 200 - -
MT 1.347 3.482 143 55 9,42 63,31
DF - 11.673 699 3.317 - 3,52
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil
da Polícias do Brasil".

No que tange a análise dos efetivos policiais, por fim, coube investigar alguns
indicativos das condições de trabalho existentes. Assim, uma das questões que surge
atualmente em razão do movimento ascendente da criminalidade violenta é aquela sobre o uso
de equipamentos pessoais de proteção. A tabela 06, acima, traz a relação entre coletes à
prova de balas e efetivos operacionais existentes. Trata-se de uma primeira aproximação e,
dessa forma, várias outras abordagens poderão ser feitas com base no conjunto de tabelas
disponíveis. Segundo a tabela 06, portanto, nota-se que a média nacional de 4,5 policiais
militares em atividade operacional para cada colete disponível. Contudo, na desagregação dos
dados por Unidades da Federação percebe-se que tal proporção oscila bastante. Como
exemplo, verifica-se que São Paulo dispõe de um colete para cada 2,5 policiais militares em
função operacional. Já Mato Grosso dispõe de 1 colete à prova de balas para cada 63,3
policiais militares em função operacional. Analisando apenas a relação entre coletes à prova de
bala e efetivo operacional nas Polícias Civis, observa-se uma situação diversa daquela
observada para as Polícias Militares. Existe uma média nacional de 1 colete para cada 5,2
policiais civis, com destaque para Piauí e Paraíba, com, respectivamente, 1 policial para cada
grupo de 74,4 e 63,2 policiais civis. Vale considerar, no entanto, que constitucionalmente cabe
às Polícias Civis a atividade de investigação e o uso de equipamentos de proteção individual
como os Coletes à Prova de Bala identificaria o policial. Nesse sentido, esta análise tem que
ser relativizada.
VIATURAS POLICIAIS

07 - Número e Percentual de Viaturas Policiais, Por condição de Caracterização


Brasil
1999-2000
Descaracterizadas Caracterizadas Total
Regiões e UF´s Polícia Polícia Polícia Polícia Polícia Polícia
% % % %
Militar Civil Militar Civil Militar Civil
BRASIL 1.860 5,6 2.945 17,0 31.205 94,4 14.340 83,0 33.065 17.285
Região Norte 67 3,7 154 38,9 1.720 96,3 242 61,1 1.787 396
AC - - 2 2,9 - - 67 97,1 - 69
AM 38 6,1 24 60,0 583 93,9 16 40,0 621 40
AP 5 4,3 - - 110 95,7 27 - 115 -
PA 13 2,9 27 93,1 439 97,1 2 6,9 452 29
RO 2 1,4 46 41,4 143 98,6 65 58,6 145 111
RR 0 0,0 30 55,6 40 100,0 24 44,4 40 54
TO 7 1,7 25 37,9 402 98,3 41 62,1 409 66
Região Nordeste 193 4,5 574 22,0 4.107 95,5 2.038 78,0 4.300 2.612
AL 0 0,0 42 84,0 266 100,0 8 16,0 266 50
BA 80 6,1 140 20,8 1.235 93,9 533 79,2 1.315 673
CE - - 127 43,6 290 - 164 56,4 - 291
MA 11 8,9 85 37,0 112 91,1 145 63,0 123 230
PB 41 8,7 15 6,3 431 91,3 223 93,7 472 238
PE 47 3,1 79 23,0 1.469 96,9 264 77,0 1.516 343
PI 10 4,0 8 2,0 242 96,0 386 98,0 252 394
RN - - 64 21,0 - - 241 79,0 - 305
SE 4 6,1 14 15,9 62 93,9 74 84,1 66 88
Região Sul 345 5,3 816 32,2 6.211 94,7 1.719 67,8 6.556 2.535
PR 99 3,6 265 40,0 2.619 96,4 397 60,0 2.718 662
RS 198 10,5 478 45,2 1.694 89,5 580 54,8 1.892 1.058
SC 48 2,5 73 9,0 1.898 97,5 742 91,0 1.946 815
Região Sudeste 1.135 6,6 742 7,3 15.982 93,4 9.397 92,7 17.117 10.139
ES - - 30 14,3 - - 180 85,7 - 210
MG 194 4,5 2 0,1 4.077 95,5 1.933 99,9 4.271 1.935
RJ 316 13,6 91 13,8 2.015 86,4 570 86,2 2.331 661
SP 625 5,9 619 8,4 9.890 94,1 6.714 91,6 10.515 7.333
Região Centro- 120 3,6 659 41,1 3.185 96,4 944 58,9 3.305 1.603
Oeste
GO 60 3,2 216 36,0 1.798 96,8 384 64,0 1.858 600
MS 15 3,2 42 15,3 460 96,8 232 84,7 475 274
MT 1 0,4 19 30,6 271 99,6 43 69,4 272 62
DF 44 6,3 382 57,3 656 93,7 285 42,7 700 667
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da Polícias
do Brasil".

Na tabela 7, acima, pôde-se constatar que as Polícias Militares do Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul possuem frota de veículos e aeronaves descaracterizada em proporções bem
superiores à média nacional (5,6% do total de viaturas). Nesses dois estados, existem,
respectivamente, 13,6% e 10,5% de viaturas policiais militares descaracterizadas. Esses
números podem indicar a existência de mais unidades de operações especiais que exigem este
tipo de viatura, bem como podem indicar as opções de política de segurança adotadas por
essas e por outras Unidades da Federação, num processo de fortalecimento dessa corporação.
Em relação à Polícia Civil, Alagoas é a Unidade da Federação que possui maior proporção de
viaturas descaracterizadas em relação ao total de veículos existente. Nesse estado, 84% das
viaturas da Polícia Civil não possui nenhuma identificação policial.
DESPESAS REALIZADAS

08 - Percentuais de Despesas Realizadas e de Efetivos Existentes, Segundo Polícia Civil e


Militar.
Brasil, Regiões e Unidades da Federação
2000
Em
Percentagem
Polícia Civil Polícia Militar
Regiões e UF % Despesas % Efetivos % Despesas % Efetivos
Realizadas Existentes Realizadas Existentes
BRASIL 28,7 21,5 71,3 78,5
Região Norte 25,3 20,5 74,7 79,5
AC - 30,1 - 69,9
AM 19,6 12,3 80,4 87,7
AP 65,5 27,7 34,5 72,3
PA 19,4 15,9 80,6 84,1
RO 30,8 47,3 69,2 52,7
RR 64,5 37,8 35,5 62,2
TO 27,2 15,4 72,8 84,6
Região Nordeste 27,3 16,1 72,7 83,9
AL - 14,1 - 85,9
BA 27,8 13,7 72,2 86,3
CE 20,9 16,4 79,1 83,6
MA 13,1 19,5 86,9 80,5
PB - 23,9 76,1
PE 25,8 19,5 74,2 80,5
PI - 16,9 - 83,1
RN - 10,6 - 89,4
SE 30,9 8,3 69,1 91,7
Região Sul 23,4 18,5 76,6 81,5
PR 30,8 17,0 69,2 83,0
RS 31,7 20,0 68,3 80,0
SC - 18,2 - 81,8
Região Sudeste 30,3 25,1 69,7 74,9
ES 27,2 17,9 72,8 82,1
MG - 9,9 - 90,1
RJ 30,1 11,4 69,9 88,6
SP 22,9 28,9 77,1 71,1
Região Centro-Oeste 26,6 22,9 73,4 77,1
GO 8,4 12,9 91,6 87,1
MS 28,6 24,2 71,4 75,8
MT 31,6 25,9 68,4 74,1
DF 46,7 24,5 53,3 75,5
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil
da Polícias do Brasil".

A tabela 8 faz uma comparação entre o percentual de despesas realizadas por cada
uma das corporações policiais e o percentual de participação delas no total de efetivos
existentes. Por este procedimento, nota-se que as despesas nem sempre acompanham a
distribuição dos efetivos. Em algumas Unidades da Federação, como São Paulo e Goiás, as
Polícias Militares gastam, proporcionalmente, mais do que as Polícias Civis. Em São Paulo, a
Polícia Militar é responsável por 77,1% das despesas realizadas, enquanto seu efetivo totaliza
71,1% dos policiais paulistas. Já em Goiás, a proporção de despesas realizadas pela PM, em
relação ao total, é de 91,6% e o de efetivo existentes é de 87,1%. Em contrapartida, na maioria
das demais Unidades da Federação, as Polícias Civis gastam mais do que as Militares, quando
levados em consideração os efetivos existentes. Ressaltada a possibilidade de lacunas no
preenchimento do questionário encaminhado pela Secretaria Nacional de Segurança, observa-
se, por exemplo, os casos de Amapá e de Mato Grosso, onde a Polícia Civil havia sido
responsável, respectivamente, por 65,5% e 31,6% das despesas realizadas com as duas
Polícias e por 27,7% e 25,9% do efetivo total existente.

09 - Relação entre Orçamentos Totais e das Polícia Civil e Militar


Brasil e Regiões(1)
2001
Em Percentagem

Brasil Relação entre Orçamento


e Regiões Total do Estado e os das
Polícia Civil e Militar

BRASIL 6,96

Região Norte 6,60


Região Nordeste 6,43
Região Sul 4,01
Região Sudeste 7,63
Região Centro-Oeste 8,33
Distrito Federal 12,43
(1) Informações Não Disponíveis para Algumas UF

Observa-se, na tabela 9, que a média Brasil de orçamento com atividades policiais é de


cerca de 7% do orçamento total das Unidade da Federação. Esse percentual é menor na
Região Sul do país, onde são orçados 4% dos recursos estaduais para as Polícias. Já na
Região Centro-Oeste do Brasil, o orçamento com as Polícias atinge 8,33%, muito influenciado,
talvez, pelo orçamento do Distrito Federal, que prevê recursos da ordem de 12,4% do total do
orçamento daquela Unidade da Federação. Vale lembrar, nesse caso, que a área de
segurança pública do Distrito Federal é custeada pelo Governo Federal, que ressarce os
gastos do Governo Local com policiamento da Capital Federal.
Ainda em relação as despesas das Polícias no Brasil, constata-se, através das tabelas
10 e 11, abaixo, mudanças na estrutura de gastos entre os anos de 2000 e 2001. Em 2000, as
Polícias Militares gastaram 88,3% do seu orçamento com Pessoal. Já em 2001, esse
percentual subiu para 92,7%. Em contrapartida, os gastos com Outras Despesas de Custeio e
com Investimento caíram. Nesse último caso, a redução foi de 47%. Em 2000, haviam sidos
gastos R$ 331 milhões de reais em investimentos. Em 2001, esse valor foi de R$ 176 milhões.
Em termos desagregados por Unidade da Federação, chama atenção os valores informados
pelo Rio Grande do Sul, onde eram gastos 91,2% dos recursos policiais com Pessoal em 2000
e 98,9%, em 2001. Na mesma linha, Roraima dobrou os gastos com Pessoal no período
analisado (12,7% para 24,3%).
10 - Gastos, segundo Pessoal, Outras Despesas de Custeio e Investimento da Polícia Militar
Secretarias Estaduais da Segurança Pública
Brasil
2000

Pessoal Outras Despesas de Custeio Investimento Total


Regiões e UF´s
Nº Abs. % Nº Abs. % Nº Abs. % Nº Abs. %
BRASIL 8.970.916.910,11 88,30 857.787.338,19 8,44 330.871.404,47 3,26 10.159.575.652,77 100,00
Região Norte 408.160.495,37 90,63 34.148.979,18 7,58 8.034.586,80 1,78 450.344.061,35 100,00
AC 316.812,16 13,52 1.957.099,33 83,52 69.343,06 2,96 2.343.254,55 100,00
AM 99.290.359,62 93,40 4.304.686,64 4,05 2.713.489,06 2,55 106.308.535,32 100,00
AP 17.159.428,46 77,07 4.189.423,00 18,82 914.889,00 4,11 22.263.740,46 100,00
PA 169.236.077,13 91,20 15.550.815,23 8,38 774.382,53 0,42 185.561.274,89 100,00
RO 89.018.364,00 97,85 1.958.625,00 2,15 - - 90.976.989,00 100,00
RR 669.454,00 12,72 3.613.329,98 68,63 982.183,15 18,66 5.264.967,13 100,00
TO 32.470.000,00 86,30 2.575.000,00 6,84 2.580.300,00 6,86 37.625.300,00 100,00
Região Nordeste 1.094.107.461,52 84,05 191.039.351,87 14,68 16.563.809,16 1,27 1.301.710.622,55 100,00
AL 92.707.510,77 93,03 6.699.608,96 6,72 246.638,86 0,25 99.653.758,59 100,00
BA 333.067.694,00 91,02 26.137.821,00 7,14 6.734.336,00 1,84 365.939.851,00 100,00
CE 164.517.742,09 96,05 6.412.309,41 3,74 359.517,03 0,21 171.289.568,53 100,00
MA 73.329.885,61 91,87 5.695.010,80 7,13 793.512,70 0,99 79.818.409,11 100,00
PB - - 75.429.871,80 99,60 305.679,20 0,40 75.735.551,00 100,00
PE 306.695.066,05 83,08 61.059.581,90 16,54 1.414.312,37 0,38 369.168.960,32 100,00
PI - - - - - - - -
RN 73.764.523,00 85,83 5.842.428,00 6,80 6.336.453,00 7,37 85.943.404,00 100,00
SE 50.025.040,00 92,36 3.762.720,00 6,95 373.360,00 0,69 54.161.120,00 100,00
Região Sul 855.420.278,20 89,78 84.920.737,42 8,91 12.468.119,72 1,31 952.809.135,34 100,00
PR 204.412.570,20 87,39 25.369.912,42 10,85 4.125.537,72 1,76 233.908.020,34 100,00
RS 366.320.628,00 91,23 31.796.756,00 7,92 3.423.477,00 0,85 401.540.861,00 100,00
SC 284.687.080,00 89,70 27.754.069,00 8,75 4.919.105,00 1,55 317.360.254,00 100,00
Região Sudeste 3.004.834.703,65 90,06 185.955.283,73 5,57 145.629.296,55 4,36 3.336.419.283,93 100,00
ES 129.457.015,90 84,39 21.131.800,72 13,78 2.805.950,20 1,83 153.394.766,82 100,00
MG - - - - - - - -
RJ 473.979.715,00 89,25 37.408.473,00 7,04 19.687.463,00 3,71 531.075.651,00 100,00
SP 2.401.397.972,75 90,55 127.415.010,01 4,80 123.135.883,35 4,64 2.651.948.866,11 100,00
Região Centro-Oeste 603.559.267,72 77,19 175.767.702,26 22,48 2.546.295,69 0,33 781.873.265,67 100,00
GO 755.800,00 0,52 145.000.000,00 99,47 10.000,00 0,01 145.765.800,00 100,00
MS 69.382.273,00 90,22 7.522.815,00 9,78 - - 76.905.088,00 100,00
MT 95.493.312,72 94,68 5.176.590,26 5,13 192.891,69 0,19 100.862.794,67 100,00
DF 437.927.882,00 95,55 18.068.297,00 3,94 2.343.404,00 0,51 458.339.583,00 100,00
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da Polícias do Brasil".
11 - Distribuição dos Gastos, segundo Pessoal, Custeio e Investimento da Polícia Militar
Secretarias Estaduais da Segurança Pública
Brasil
2001
Pessoal Outras Despesas de Custeio Investimento Total
Regiões e UF´s
Nº Abs. % Nº Abs. % Nº Abs. % Nº Abs. %
BRASIL 10.115.795.124,12 92,74 616.144.421,00 5,65 175.935.601,00 1,61 10.907.875.146,12 100,00
Região Norte 452.047.505,70 89,50 44.587.208,00 8,83 8.423.312,00 1,67 505.058.025,70 100,00
AC 28.169.000,00 94,66 1.588.000,00 5,34 - - 29.757.000,00 100,00
AM 112.031.055,00 89,90 11.803.871,00 9,47 788.000,00 0,63 124.622.926,00 100,00
AP 18.198.863,70 77,49 3.878.172,00 16,51 1.408.312,00 6,00 23.485.347,70 100,00
PA 177.042.427,00 89,95 19.770.715,00 10,05 - - 196.813.142,00 100,00
RO 73.219.610,00 100,00 - - - - 73.219.610,00 100,00
RR 1.816.550,00 24,27 3.990.450,00 53,32 1.677.000,00 22,41 7.484.000,00 100,00
TO 41.570.000,00 83,68 3.556.000,00 7,16 4.550.000,00 9,16 49.676.000,00 100,00
Região Nordeste 1.839.847.225,42 91,60 122.815.390,00 6,11 45.957.629,00 2,29 2.008.620.244,42 100,00
AL 98.118.736,00 93,86 5.922.979,00 5,67 500.000,00 0,48 104.541.715,00 100,00
BA 946.608.000,00 95,63 26.941.000,00 2,72 16.286.160,00 1,65 989.835.160,00 100,00
CE 122.868.944,42 91,00 11.354.640,00 8,41 800.000,00 0,59 135.023.584,42 100,00
MA 80.637.573,00 88,56 7.929.571,00 8,71 2.489.000,00 2,73 91.056.144,00 100,00
PB 70.418.312,00 87,01 9.955.700,00 12,30 558.200,00 0,69 80.932.212,00 100,00
PE 321.579.980,00 84,41 40.406.200,00 10,61 18.979.000,00 4,98 380.965.180,00 100,00
PI 62.515.000,00 87,02 8.454.000,00 11,77 874.269,00 1,22 71.843.269,00 100,00
RN 81.118.000,00 88,50 7.407.000,00 8,08 3.134.000,00 3,42 91.659.000,00 100,00
SE 55.982.680,00 89,20 4.444.300,00 7,08 2.337.000,00 3,72 62.763.980,00 100,00
Região Sul 841.146.900,00 90,89 73.287.910,00 7,92 11.058.890,00 1,19 925.493.700,00 100,00
PR 216.605.530,00 86,61 28.454.490,00 11,38 5.020.290,00 2,01 250.080.310,00 100,00
RS 388.007.782,00 98,88 2.838.471,00 0,72 1.574.600,00 0,40 392.420.853,00 100,00
SC 236.533.588,00 83,58 41.994.949,00 14,84 4.464.000,00 1,58 282.992.537,00 100,00
Região Sudeste 3.192.831.068,00 93,70 166.895.927,00 4,90 47.613.847,00 1,40 3.407.340.842,00 100,00
ES 110.023.000,00 86,22 15.470.000,00 12,12 2.110.000,00 1,65 127.603.000,00 100,00
MG - - - - - - - -
RJ 462.204.321,00 89,53 42.538.160,00 8,24 11.493.840,00 2,23 516.236.321,00 100,00
SP 2.620.603.747,00 94,83 108.887.767,00 3,94 34.010.007,00 1,23 2.763.501.521,00 100,00
Região Centro-Oeste 597.091.357,00 91,30 41.662.059,00 6,37 15.268.076,00 2,33 654.021.492,00 100,00
GO 20.118.000,00 51,43 12.001.000,00 30,68 7.001.000,00 17,90 39.120.000,00 100,00
MS 43.604.100,00 86,44 6.841.800,00 13,56 200,00 0,00 50.446.100,00 100,00
MT 94.107.437,00 94,49 5.204.259,00 5,23 281.876,00 0,28 99.593.572,00 100,00
DF 439.261.820,00 94,49 17.615.000,00 3,79 7.985.000,00 1,72 464.861.820,00 100,00
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da Polícias do Brasil".
GUARDAS MUNICIPAIS
12- Distribuição dos Efetivos das Guardas Municipais, Policias Civis e Militares
Brasil, Regiões e Unidades da Federação
2001

Guardas Municipais Policias Militares Policias Civis


Regiões e UF´s
Nº Abs. % Nº Abs. % Nº Abs. %
BRASIL 48.116 9,15 375.446 71,36 102.555 19,49
Região Norte 1.234 3,34 28.412 76,89 7.306 19,77
AC 0 0,00 2.042 69,88 880 30,12
AM 507 6,75 6.145 81,80 860 11,45
AP 477 12,64 2.385 63,20 912 24,17
PA - - 12.487 84,09 2.363 15,91
RO - - 1.212 52,70 1.088 47,30
RR 111 6,17 1.050 58,33 639 35,50
TO 139 3,66 3.091 81,47 564 14,87
Região Nordeste 6.391 5,30 95.875 79,47 18.371 15,23
AL 1.165 11,70 7.552 75,87 1.237 12,43
BA 2.108 6,11 27.962 81,03 4.437 12,86
CE 2.041 13,61 10.829 72,20 2.129 14,19
MA - - 6.298 80,53 1.523 19,47
PB 606 6,10 7.103 71,47 2.230 22,44
PE - - 17.336 80,49 4.202 19,51
PI 0 0,00 6.228 83,10 1.267 16,90
RN 346 3,98 7.460 85,83 886 10,19
SE 125 2,20 5.107 89,72 460 8,08
Região Sul 229 0,35 53.471 81,20 12.155 18,46
PR - - 18.724 83,02 3.830 16,98
RS 0 0,00 21.610 79,99 5.405 20,01
SC 229 1,41 13.137 80,66 2.920 17,93
Região Sudeste 40.142 15,76 160.808 63,14 53.754 21,10
ES 163 1,68 7.854 80,77 1.707 17,55
MG 0 0,00 36.580 90,11 4.016 9,89
RJ 8.000 17,55 33.301 73,07 4.272 9,37
SP 31.979 21,50 83.073 55,84 33.718 22,66
Região Centro-Oeste 120 0,25 36.880 76,88 10.969 22,87
GO - - 12.799 87,06 1.903 12,94
MS - - 4.601 75,80 1.469 24,20
MT 120 1,93 4.529 72,70 1.581 25,38
DF 0 0,00 14.951 75,54 4.841 24,46
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da
Polícias do Brasil".

A tabela 12 faz uma comparação entre os efetivos das Guardas Municipais, Polícias Militares e Civis
por Região e Unidade Federada. Utilizou-se o efetivo de Guardas Municipais informados pelas
Secretarias Estaduais de Segurança Pública para o ano de 2001. Vale considerar que, após a
liberação de verba do Fundo Nacional de Segurança Pública, houve um aumento no número de
Guardas Municipais e que constituem uma das principais medidas das Prefeituras do país na
incorporação do tema Segurança Pública na pauta de ações municipais. Nesse sentido, chama
atenção que em Alagoas e Ceará, onde a Polícia Civil é responsável, respectivamente, por 12,43% e
14,19% do efetivo total do estado, as Guardas Municipais representam 11,70% e 13,61%. Já em São
Paulo, também pode ser observada a semelhança entre os efetivos da Polícia Civil e das Guardas
Municipais e, ainda, que o efetivo das Guardas Paulistas é superior ao dobro do efetivo total da
Polícia Federal. No Rio de Janeiro ocorre uma inversão na tendência das Unidades Federadas do
Brasil, nota-se que o efetivo das Guardas é superior ao da Polícia Civil, respondendo,
respectivamente, por 17,55% e 9,37% do total do estado.

EQUIPAMENTOS PORTÁVEIS DE TELECOMUNICAÇÕES


66

13 - Relação dos Equipamentos de Telecomunicações Portáteis em Uso, segundo Efetivo


Operacional
Polícias Militares e Civis
Brasil
2001

Em Percentagem
Regiões e UF´s Polícias Militares Polícias Civis
BRASIL 4,57 6,04
Região Norte 2,85 2,41
AC 4,43 46,88
AM 7,25 0,00
AP 4,11 9,60
PA - -
RO 4,09 3,22
RR - -
TO 1,39 0,54
Região Nordeste 4,13 4,30
AL 6,53 -
BA 5,82 3,44
CE - 0,99
MA 2,68 -
PB 7,85 9,81
PE - 0,78
PI - 3,70
RN 7,88 -
SE - -
Região Sul 10,54 9,66
PR 16,14 7,78
RS 12,64 15,22
SC 19,57 7,88
Região Sudeste 3,33 5,81
ES - 0,70
MG 11,24 -
RJ 3,10 -
SP 5,16 5,62
Região Centro-Oeste 3,44 10,43
GO 5,02 2,95
MS - 12,64
MT 9,42 13,73
DF 0,43 -
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa
"Perfil da Polícias do Brasil".

A tabela 13 representa a relação entre equipamentos de telecomunicações portáteis, tipo HT, e os


efetivos operacionais das Polícias Militares e Civis do Brasil. Os espaços com traço representam o
não preenchimento das informações das Unidades Federadas, principalmente no número de
equipamentos de telecomunicações. Porém observa-se uma variação entre as UF´s de porcentagem
de equipamentos para número de Policiais Militares de 0,43% no Distrito Federal e 19,57% em Santa
Catarina, e nas Polícias Civis de 0,54% em Tocantins e 46,88% no Acre. Contudo, comparando as
Polícias Militar e Civil no Tocantins, apresentando, respectivamente 1,39% e 0,54%, nota-se que seu
montante de equipamentos em relação ao número de policiais é um dos menores do Brasil, em
contrapartida, o Rio Grande do Sul aparece como um dos estados mais bem equipados tanto na
Polícia Militar como na Polícia Civil, apresentando, respectivamente, 12,64% e 15,22% de policiais
por HT´s. Com relação ao total Brasil, observa-se que as Polícias Civis estão melhor equipadas do
que as Polícias Militares, com exceção de Santa Catarina e Paraná, onde as Polícias Militares
67

apresentam uma porcentagem maior de equipamentos por policiais do que às Polícias Civis,
representando, respectivamente, por 19,57% e 7,88% para o primeiro e 16,14% e 7,78% para o
segundo estado.

CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE SEGURANÇA PÚBLICA

14 - Número de Municípios com Conselhos Comunitários de Segurança Pública em Funcionamento


Polícia Civis e Militares
Brasil
2001

Nº de Municípios com Conselhos N° de Conselhos


Nº de Comunitários Comunitários
Regiões e UF´s Municípios
Polícia Civil Polícia Militar Polícia Polícia
por UF
Nº Abs. % Nº Abs. % Civil Militar
BRASIL 5.507 724 13,15 1.128 20,48 1'915 2'078
Região Norte 449 31 6,90 15 3,34 46 34
AC 22 - - 0 0,00 - 0
AM 62 1 1,61 1 1,61 1 3
AP 16 1 6,25 2 12,50 8 8
PA 143 19 13,29 1 0,70 19 5
RO 52 2 3,85 8 15,38 2 8
RR 15 5 33,33 - - 13 -
TO 139 3 2,16 3 2,16 3 10
Região Nordeste 1.787 195 10,91 201 11,25 692 759
AL 101 - - 1 0,99 - 0
BA 415 - - 10 2,41 - 41
CE 184 184 100,00 184 100,00 664 682
MA 217 - - 1 0,46 - 6
PB 223 0 0,00 - - 0 -
PE 185 9 4,86 - - 14 -
PI 221 - - - - - -
RN 166 - - - - - -
SE 75 2 2,67 5 6,67 14 30
Região Sul 1.159 112 9,66 144 12,42 192 205
PR 399 112 28,07 58 14,54 192 93
RS 467 - - 22 4,71 - 22
SC 293 - - 64 21,84 - 90
Região Sudeste 1.666 453 27,19 664 39,86 784 900
ES 77 48 62,34 48 62,34 80 66
MG 853 - - 46 5,39 - 86
RJ 91 - - 18 19,78 - 36
SP 645 405 62,79 552 85,58 704 712
Região Centro-
Oeste 446 128 28,70 104 23,32 201 180
GO 242 99 40,91 81 33,47 162 153
MS 77 - - - - - -
MT 126 10 7,94 - - 20 -
DF 1 (1) 19 - (1) 23 - 19 27
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da Polícias
do Brasil"; IBGE.
(1) As cidades do entorno de Brasília são consideradas no cálculo do número de municípios com
conselho comunitário, enquanto que no IBGE, o Distrito Federal é considerado como um município
apenas.

Na tabela 14, acima, estão representados os números de municípios com Conselhos Comunitários de
Segurança que as Polícia Civis e Militares tem conhecimento. Observa-se, apesar de várias lacunas
no preenchimento, que somente em alguns estados as duas Polícias tem conhecimento do mesmo
número de municípios com conselhos (Ceará e Amazonas, por exemplo). No Paraná, a Polícia Civil
68

informa 112 municípios com conselhos enquanto que a Polícia Militar informou somente 58
municípios. Em São Paulo existe uma inversão, do total de 645 municípios do Estado, a Polícia Militar
conhece um número maior de municípios com conselhos do que a Polícia Civil, respectivamente, 552
e 405 municípios.

POLÍCIA COMUNITÁRIA

15 - Impacto da Implantação dos Recursos da Polícia Comunitária na Redução da


Criminalidade e/ou Aumentou da Sensação de Segurança da Comunidade
Polícia Civis e Militares
Brasil
2001
Polícia Civil – Impacto da implantação Polícia Militar - Impacto da implantação
Regiões e UF´s
dos recursos da Polícia Comunitária dos recursos da Polícia Comunitária
Região Norte
AC - Aumentou a sensação de segurança da
comunidade
AM Reduziu a criminalidade e aumentou aSim. A PMAM não recebeu recursos
sensação de segurança
AP Aumentou a sensação de segurançaAumentou a sensação de segurança da
da comunidade comunidade; Reduziu a Criminalidade
PA - Aumentou a sensação de segurança da
comunidade
RO - Aumentou a sensação de segurança da
comunidade
RR Reduziu a criminalidade e aumentou a-
sensação de segurança
TO Reduziu a criminalidade e aumentou a-
sensação de segurança
Região Nordeste
AL - -
BA - Aumentou a sensação de segurança da
comunidade
CE Aumentou a sensação de segurança-
da comunidade
MA - Aumentou a sensação de segurança da
comunidade; Reduziu a criminalidade
PB Reduziu a criminalidade e aumentou a-
sensação de segurança
PE Aumentou a sensação de segurança-
da comunidade
PI - Aumentou a sensação de segurança da
comunidade
RN - -
SE Reduziu a criminalidade e aumentou aAumentou a sensação de segurança da
sensação de segurança comunidade; Reduziu a criminalidade
Região Sul
PR Reduziu a criminalidade e aumentou aAumentou a sensação de segurança da
sensação de segurança comunidade
RS Confiança da Comunidade nosAumentou a sensação de segurança da
trabalhos policiais comunidade
SC - -
Região Sudeste
ES - Aumentou a sensação de segurança da
comunidade
MG - Aumentou a sensação de segurança da
comunidade.
69

RJ - Aumentou a sensação de segurança da


comunidade
SP - Aumentou a sensação de segurança da
comunidade; Reduziu a criminalidade
Região Centro-Oeste

GO - -
MS - -
MT Aumentou a sensação de segurança-
da comunidade
DF Aumentou a sensação de segurançaAumentou a sensação de segurança da
da comunidade comunidade
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil das Polícias
do Brasil".

O impacto da implantação dos Recursos da Polícia Comunitária na Redução da Criminalidade e/ou


aumento da sensação de Segurança da Comunidade está expressa na tabela 15, acima. Em termos
nacionais, pode-se observar que para as Polícias Civis o maior impacto foi a redução da criminalidade
e o aumento da sensação de segurança enquanto que, para as Polícias Militares, o maior impacto foi
o aumento da sensação de segurança, não existindo, necessariamente, redução da criminalidade. Na
Região Norte, observa-se uma relação inversamente proporcional nos dois quesitos anteriormente
mencionados. Enquanto que para as Polícias Civis houve redução da criminalidade para as Polícias
Militares houve um aumento na sensação de segurança. Em Sergipe e no Distrito Federal as
impressões das duas Polícias são semelhantes, com uma redução da criminalidade e aumento da
sensação de segurança.

ATOS DISCIPLINARES

16- Atos Administrativos/Disciplinares


Polícias Militares e Civis
Brasil
2000
Polícias Militares Polícias Civis
Atos Administrativos/Disciplinares Atos Administrativos/Disciplinares
Regiões e UF´s
Variação Variação
1999 2000 1999 2000
1999/2000 1999/2000
BRASIL 5'988 8'306 38.71 2'387 2'568 7.58
Região Norte 623 1'150 84.59 313 416 32.91
AC 28 58 107.14 - - -
AM 44 245 456.82 98 139 41.84
AP 29 43 48.28 - - -
PA 463 680 46.87 97 199 105.15
RO 56 80 42.86 38 8 -78.95
RR 0 26 100.00 33 48 45.45
TO 3 18 500.00 47 22 -53.19
Região Nordeste 458 667 45.63 418 456 9.09
AL 12 13 8.33 - - -
BA 36 110 205.56 95 60 -36.84
CE - - - 107 178 66.36
MA 67 96 43.28 35 18 -48.57
PB 36 45 25.00 54 66 22.22
PE - - - 32 22 -31.25
PI 36 53 47.22 17 32 88.24
RN 271 350 29.15 14 11 -21.43
SE - - - 64 69 7.81
Região Sul 2'873 3'183 10.79 104 184 76.92
70

PR 2'291 2'479 8.21 - - -


RS 582 704 20.96 48 113 135.42
SC - - - 56 71 26.79
Região Sudeste 1'743 1'998 14.63 1'241 1'312 5.72
ES 114 232 103.51 118 75 -36.44
MG - - - - - -
RJ - - - - - -
SP 1'629 1'766 8.41 1'123 1'237 10.15
Região Centro-Oeste 291 1'308 349.48 311 200 -35.69
GO 86 1'019 1'084.88 203 93 -54.19
MS 87 93 6.90 - - -
MT - - - 56 54 -3.57
DF 118 196 66.10 52 53 1.92
Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil da Polícias
do Brasil".

Gráfico 1 - Variação Atos Administrativos/Disciplinares,


Brasil e Grandes Regiões - Polícias Militares e Civis - 1999
e 2000

-35.69
Região Centro-Oeste 349.48

Região Sudeste 5.72


14.63

Região Sul 76.92


10.79

Região Nordeste 9.09


45.63

Região Norte 32.91


84.59

BRASIL 7.58
38.71

-100.00 -50.00 0.00 50.00 100.00 150.00 200.00 250.00 300.00 350.00 400.00

Polícias Militares Polícias Civis

Fonte: Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública - Pesquisa "Perfil das Polícias
do Brasil".

A tabela 16 e o gráfico 1, acima, trazem os atos administrativos e disciplinares pelos quais policiais
civis e militares estão respondendo em seus estados, nos anos de 1999 e 2000. Foram agregadas as
sindicâncias, os processos administrativos, as punições administrativas, os inquéritos e condenações
por concussão e os atos de corrupção passiva e violência. Nota-se uma tendência de aumento dos
atos administrativos/disciplinares nas Polícias Militares. Num sentido oposto, em 9 estados as
Polícias Civis reduziram seu número entre os anos de 1999 e 2000. Observa-se na Polícia Militar do
Paraná uma variação de 8,21% entre os dois anos, porém pode-se notar que o número de atos
administrativos/disciplinares nos dois anos é elevado em relação ao Brasil, sendo 2291 e 2479
respectivamente. Na Polícia Militar de Goiás houve uma variação de 1.084,88%, passando de 86 atos
em 1999 para 1019 atos em 2000, enquanto que na Polícia Civil dos mesmos estados observa-se
uma redução de 54,19% nos atos administrativos/disciplinares nos dois anos. Na Paraíba nota-se
uma tendência de aumento semelhante entre as duas Polícias, onde a Polícia Militar teve um
aumento de 25% e a Polícia Civil de 22,22%; o mesmo ocorre em São Paulo onde as Polícia Civil e
Militar tiveram um aumento, respectivamente, de 10,15% e 8,41%. Em relação às regiões, nota-se
uma discrepância entre as Polícia Civis e Militares da Região Centro-Oeste, onde a variação dos atos
administrativos corresponde, respectivamente, a uma redução de 35,69 e um aumento de 349,48%
71

Cabe ressaltar que é necessário levar em consideração os efetivos de cada Unidade Federada, onde
no total Brasil a Polícia Militar responde por 78,50% e a Polícia Civil por 21,50, das Polícias
Estaduais.
72

USO DA FORÇA LETAL: VITIMIZAÇÃO LETAL PELOS POLICIAIS E CONTRA OS POLICIAIS NO


BRASIL - Ignacio Cano (UERJ)

Introdução.
O objetivo desse estudo é estimar o número total de civis mortos e feridos pela polícia e
também de policiais feridos e mortos no Brasil; analisar os indicadores que possam detectar um uso
excessivo da força em cada estado; e explorar as dimensões que possam estar associadas a uma
maior letalidade dos confrontos policiais.
As bases de dados da SENASP sobre os estados, sobre as quais será realizada a pesquisa,
foram coletadas recentemente pela primeira vez na história. Todavia, a SENASP não dispõe de
nenhum mecanismo para garantir a qualidade dos dados, visto que eles foram enviados pelos
estados e não houve ainda um acompanhamento do processo pelo qual as informações foram
coletadas e processadas em cada unidade da federação. Em função disso, há a possibilidade de os
dados conterem problemas de validade e confiabilidade — desde erros no preenchimento até o uso
categorias diferentes para o mesmo conceito em cada estado— e isto também será objeto de análise
no presente relatório.
O relatório está dividido em quatro partes. A primeira analisa as informações solicitadas pela
SENASP, refletindo sobre os conteúdos e limitações das mesmas tal como aparecem nos
questionários enviados aos estados. A segunda corresponde a um teste da qualidade dos dados. Isto
é, está dedicada à realização de análises de consistência para revelar possíveis deficiências na
validade e confiabilidade nos dados enviados pelos estados. Evidentemente, essas análises serão
limitadas aos dados utilizados na presente pesquisa, pois a execução de testes de consistência sobre
todas as informações contidas nas bases da SENASP comportaria um tempo muito prolongado. A
terceira parte analisa os dados disponíveis e apresenta conclusões provisórias. A quarta e última
parte oferece recomendações para o futuro.
73

Informações Solicitadas aos Estados.


A maior parte das informações utilizadas nesse trabalho correspondem à pesquisa que a
SENASP denominou “Perfil das Polícias do Brasil”, que incluía um total de 5 questionários enviados a
cada estado:
a) Questionário geral relativo à Secretaria de Segurança Pública..
b) Questionário sobre a Polícia Militar.
c) Questionário sobre a Polícia Civil.
d) Questionário sobre a Polícia Técnica.
e) Questionário sobre o Corpo de Bombeiros.
As informações dos cinco questionários foram digitadas e formatadas num arquivo de tipo
“Access”, disponibilizado pela SENASP, que contém múltiplas tabelas parciais. Para esse trabalho,
elas foram re-formatadas e processadas para gerar um banco de dados único com todas as
informações relevantes para cada estado.
A outra fonte fundamental do trabalho diz respeito à pesquisa sobre ocorrências criminais
registradas pelos estados, também realizada pela SENASP através de planilhas enviadas aos
estados. Nesse caso, os dados utilizados foram tomados do Centro de Estudos de Segurança e
Cidadania da Universidade Cándido Mendes, que foi encarregado de fazer a análise sobre esse tema
e processou os dados originais da base da SENASP para obter o formato requerido.

Os questionários enviados pela Secretaria para os estados continham algumas breves


instruções gerais de preenchimento, mas nenhuma orientação específica para cada pergunta. Em
ausência de uma visita do pessoal da Secretaria a cada estado para conhecer o procedimento de
coleta e processamento dos registros —que teria sido o ideal—, um manual detalhado de
preenchimento dos questionários teria sido muito importante para garantir a padronização dos
conceitos e critérios utilizados.
Uma primeira questão surge em relação à Polícia Técnica que, como as próprias respostas
ao questionário correspondente indicam, está subordinada à Polícia Civil na maior parte dos estados.
Mesmo nos estados que manifestam uma subordinação diferente —afirmam que a Polícia Técnica é
subordinada ao governo do estado ou à Secretaria de Segurança Pública—, isto não descarta que os
membros da Polícia Técnica sejam eles próprios policiais civis. Assim, surge a dúvida de se, nos
estados em que os membros da Polícia Técnica são policiais civis, as respostas às perguntas do
questionário da Polícia Civil incluem esses policiais civis que trabalham na Polícia Técnica, ou se eles
são considerados por separado. Concretamente, de todas as tabelas utilizadas, a única que inclui
informação especificamente de policiais da Polícia Técnica é a de policiais falecidos. Em relação a
este ponto, então, persiste a dúvida de se esses policiais da Polícia Técnica falecidos já teriam sido
contados entre os policiais civis falecidos. Partimos do suposto de que cada instituição —a Polícia
Civil, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Técnica— preencheu o questionário de forma
independente e, em função disso, a Polícia Civil teria incluído todos seus membros, inclusive aqueles
que trabalham na Polícia Técnica, mesmo que a Polícia Técnica os incluísse por sua vez também
entre seus registros. Em suma, trabalharemos com os dados de Policiais Civis tal como foram
informados e deixaremos de lado os registros da Polícia Técnica, supondo que existe duplicidade
quando esses últimos são policiais civis 21. De qualquer forma, não estaria demais que a SENASP
confirmasse esse ponto com os estados.
Os questionários da pesquisa “Perfil das Polícias do Brasil” continham várias perguntas
relevantes para estudar a letalidade da atividade policial. Entre elas, a mais importante era a que
pedia, para cada uma das duas polícias, o número de pessoas mortas e feridas por policiais, mês a
mês, para os anos 1999 e 2000. A resposta devia registrar separadamente o número de vítimas
quando os policiais estavam em serviço e quando estavam fora de serviço, e isto tanto para as
vítimas fatais quanto as não fatais. Este recorte é muito importante para isolar a vitimização
provocada pela atividade policial propriamente dita e compará-la com a que acontece no período de
folga.
A precisão dos dados mês a mês não tem muita utilidade analítica, mas ajuda a ter uma idéia
do nível de confiabilidade dos dados, porque pode refletir mudanças irreais de um mês para outro.
No entanto, o questionário não indagava o instrumento das mortes. Seria importante contar
com os dados exclusivos de mortes e ferimentos por arma de fogo, para poder estudar melhor os
confrontos armados em que a polícia se vê envolvida. No caso das vítimas fatais, a grande maioria
dos casos deve corresponder, com alta probabilidade, a mortes por armas de fogo. O mesmo não
pode ser dito, necessariamente, dos feridos, muitos dos quais podem ser resultado de outros
instrumentos, como cassetetes, balas de borracha, etc. Tudo depende também da gravidade

21
Um pequeno teste de consistência realizado mostra que o número de vítimas da Polícia Técnica é inferior, em
todos os casos, ao número de vítimas registrado na Polícia Civil, o que abonaria a hipótese de que a primeira
seria um subconjunto da segunda.
74

necessária para que cada força policial considere um caso como um ferido. Algumas polícias podem
categorizar como feridos apenas os casos mais graves que precisem de hospitalização, enquanto
outras podem incluir vítimas de escoriações ou lesões menores. O desconhecimento dos métodos e
critérios seguidos em cada estado lança dúvidas, por exemplo, sobre a interpretabilidade das
comparações entre mortos e feridos.
Outro ponto que precisa ser esclarecido é o que cada estado incluiu realmente no conceito de
pessoas mortas e feridas “por policiais fora de serviço”. Em alguns estados, essa cifra pode estar
considerando apenas os casos de suspeitos vitimados por policiais que reagiram a um delito
flagrante. Em outros estados, ela pode estar contemplando também as mortes e ferimentos
provocados por policiais em conflitos de ordem privada (com conhecidos, familiares, etc.). A princípio,
o questionário solicita o total de mortes e ferimentos fora de serviço e, portanto, todos os casos de
qualquer índole deveriam estar incluídos, mesmo na ausência de orientações mais específicas. No
entanto, sabemos que os sistemas de registro de informações das polícias costumam ser muito
limitados e restringem a possibilidade de uma contagem rápida dos casos de um ou outro tipo. Muitas
corporações policiais simplesmente ignoram o número de pessoas que matam a cada ano, o que
reflete tanto a deficiência dos seus registros quando uma visão da segurança pública na qual as
vítimas são uma simples externalidade do trabalho policial. Algumas forças policiais criaram uma
categoria para designar as mortes de suspeitos em confronto com policiais —como os denominados
“autos de resistência”— de forma a separá-las dos homicídios dolosos, embora a classificação legal
das mesmas continue sendo a mesma22. Nos estados em que existe este tipo de categoria, as
polícias podem reunir e quantificar com relativa facilidade todos os casos classificados desse modo.
No entanto, os episódios ‘privados’ em que um policial mata ou fere a um vizinho ou um amigo são
classificados da mesma forma que o seriam se o autor não fosse policial e, em conseqüência, a
quantificação desses casos para os sistemas de informações policiais é muito mais difícil. Portanto, é
possível que alguns estados tenham respondido à pergunta com o número de, digamos, “autos de
resistência” em que o policial estava de folga, deixando de lado os conflitos interpessoais dos policiais
que são muito mais complicados de serem obtidos.
Por último, o questionário não esclarece o que fazer com as pessoas vitimadas em operações
nas quais participaram, simultaneamente, policiais civis e militares. Assim, existe o risco de que essas
vítimas sejam registradas tanto entre as provocadas pela Polícia Civil quanto pela Militar, provocando
um aumento artificial dos casos após a agregação dos casos das duas corporações.
O esclarecimento dessas questões e a correta interpretação dos dados exigiria, mais uma
vez, um conhecimento dos métodos e critérios seguidos por cada estado no processamento dos seus
registros. De qualquer forma, seria importante obter de forma separada as vítimas de intervenções
policiais e as vítimas de atuações dos policiais no âmbito privado. A melhor forma de se fazer isto
seria conhecer como as mortes e ferimentos foram classificados pela própria polícia —homicídio
doloso, auto de resistência, etc.—, mas isto exigiria um estudo mais profundo das categorias usadas
pelos estados.
O panorama para estudar a vitimização sofrida por policiais é mais sombrio, porque os
questionários da SENASP não indagam sobre o número de policiais feridos e mortos, muito menos
sobre policiais feridos e mortos em confronto. A única informação disponível nesse sentido é o
número de policiais civis, de policiais militares e de bombeiros falecidos nos anos de 1999 e 2000.
Como não se especificam as condições dessas mortes, é impossível distinguir acidentes ou mortes
por doença de homicídios. Essa é uma informação crucial que foi perdida. A única coisa que pode ser
analisada é a taxa de mortalidade dos policiais em comparação com a da população geral, mas
sendo cientes de que ela inclui todo tipo de causas. A vantagem das informações sobre policiais
falecidos, em comparação com as de civis falecidos, é que elas devem ter sido retiradas dos registros
de pessoal das polícias —que obviamente precisam saber do falecimento dos policiais para efeitos
administrativos— e, portanto, devem apresentar uma confiabilidade muito superior.
Curiosamente, a única corporação sobre a que se perguntou o número de agentes feridos e
mortos em serviço foi o Corpo de Bombeiros. Não deixa de ser estranho que a mesma informação
não tenha sido solicitada das polícias. Outro fato surpreendente é que o questionário requisita
informação sobre o número de policiais civis, policiais militares e bombeiros que foram vítimas de
suicídio nos anos de 1999 e 2000, o que permite uma comparação das taxas de suicídio dos policiais
com as da população geral. Entretanto, não é solicitada a mesma informação sobre homicídios.
Um dado fundamental que pode ser obtido das planilhas da pesquisa da SENASP é o número
de efetivos de cada corporação, que deve ser usado para ponderar a incidência dos fenômenos
estudados. Embora a pergunta não contenha nenhuma referência temporal concreta, podemos
assumir que os efetivos estão referidos ao ano de 2001 em que foram respondidos os questionários.

22
Quando a polícia age dentro da legalidade, esse tipo de fatos apresenta excludente de ilicitude por legítima
defesa, mas isto não muda sua qualificação penal de homicídio doloso.
75

Análise da Consistência dos Dados.


Como já foi explicado, foi realizada toda uma série de testes para verificar as consistência dos
dados recebidos e digitados pela SENASP. A primeira constatação grave é a falta de dados. Muitos
estados não mandaram todas as informações solicitadas. A tabela seguinte mostra o número de
estados que enviaram algum tipo de informação para cada um dos itens solicitados.
TABELA 1

TIPO DE INFORMAÇÃO SOLICITADA Número de Estados que Enviaram Dados

Feridos por Policiais Civis em Serviço, 1999 4


Feridos por Policiais Civis em Serviço, 2000 6
Feridos por Policiais Militares em Serviço, 1999 18
Feridos por Policiais Militares em Serviço, 2000 21
Feridos por Policiais Civis Fora de Serviço, 1999 3
Feridos por Policiais Civis Fora de Serviço, 2000 6
Feridos por Policiais Militares Fora de Serviço, 1999 15
Feridos por Policiais Militares Fora de Serviço, 2000 18
Mortos por Policiais Civis em Serviço, 1999 6
Mortos por Policiais Civis em Serviço, 2000 7
Mortos por Policiais Militares em Serviço, 1999 19
Mortos por Policiais Militares em Serviço, 2000 20
Mortos por Policiais Civis Fora de Serviço, 1999 4
Mortos por Policiais Civis Fora de Serviço, 2000 5
Mortos por Policiais Militares Fora de Serviço, 1999 14
Mortos por Policiais Militares Fora de Serviço, 2000 16
Bombeiro Ferido em Serviço, 1999 18
Bombeiro Ferido em Serviço, 2000 19
Bombeiro Morto em Serviço, 1999 20
Bombeiro Morto em Serviço, 2000 20
Efetivo Bombeiros Feminino, 2001 24
Efetivo Bombeiros Masculino, 2001 27
Efetivo Polícia Civil Feminino, 2001 18
Efetivo Polícia Civil Masculino, 2001 20
Efetivo Polícia Militar Feminino, 2001 19
Efetivo Polícia Militar Masculino, 2001 25
Efetivo Bombeiro Total, 2001 27
Efetivo Polícia Civil Total, 2001 20
Efetivo Polícia Militar Total, 2001 25
Bombeiros Falecidos em 1999 22
Bombeiros Falecidos em 2000 22
Policiais Civis Falecidos em 1999 26
Policiais Civis Falecidos em 2000 26
Policiais Militares Falecidos em 1999 25
Policiais Militares Falecidos em 2000 25
Bombeiros Suicidados em 1999 0
Bombeiros Suicidados em 2000 0
Policiais Civis Suicidados em 1999 15
Policiais Civis Suicidados em 2000 16
Policiais Militares Suicidados em 1999 22
Policiais Militares Suicidados em 2000 23

A primeira conclusão que pode ser extraída desses dados é que os sistemas de informação
da Polícia Civil são muito mais deficientes do que os da Polícia Militar ou os do Corpo de Bombeiros.
A situação é dramática no que se refere às pessoas mortas e feridas por policiais. Enquanto a maioria
das Polícias Militares informa o número de vítimas provocado por seus agentes, a grande maioria das
Polícias Civis não faz idéia dos mortos e feridos decorrentes das ações dos seus membros.
76

Como era de se esperar, a informação sobre os efetivos é de muita maior qualidade, mas a
Polícia Civil continua apresentando um maior número de estados sem informação. Tão somente no
caso de policiais falecidos a Polícia Civil pode ser comparada às outras corporações.
Em suma, os dados sobre pessoas mortas e feridas por policiais estão prejudicados,
particularmente no relativo à Polícia Civil, pela ausência de muitas informações. Os dados sobre
suicídios e, especialmente, sobre falecimentos de agentes apresentam um quadro mais positivo. E os
dados sobre efetivos são os mais exaustivos.
O primeiro teste de consistência realizado foi conferir os dados mensais por estado para cada
tipo de vítima, para ver se eram coerentes. Em geral, não há valores que destoem fortemente dos
meses precedentes ou futuros. Por outro lado, os números de pessoas feridas e mortas pela polícia
não são muito diferentes nos diversos meses do ano, como pode ser verificado nos próximos
gráficos.
Quando há um mês com um resultado mais divergente dos outros —como o número de
feridos fora de serviço no mês de novembro, que é inferior ao resto dos meses— ele não aponta um
padrão de sazonalidade claro. No caso dos mortos fora de serviço, as discordâncias são maiores e há
vários meses com um média superior —maio, julho, setembro e dezembro—, mas eles também não
conformam um padrão de sazonalidade aparente.
GRÁFICO 1

Número de Pessoas Feridas


por Policiais em Serviço, por estado e mês
8,5
8,0
7,5
7,0
6,5
6,0
Média Mensal

5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
,5
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SEP OUT NOV DEZ
77

GRÁFICO 2

Número de Pessoas Feridas


por Policiais fora de Serviço, por mês
6,5
6,0
5,5
5,0
4,5
Média Mensal

4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
,5
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SEP OUT NOV DEZ

GRÁFICO 3

Número de Pessoas Mortas


por Policiais em Serviço, por estado e mês
6,5
6,0
5,5
5,0
4,5
Média Mensal

4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
,5
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SEP OUT NOV DEZ

GRÁFICO 4
78

Número de Pessoas Mortas


por Policiais fora de Serviço, por estado e mês
2,4
2,2

2,0

1,8

1,6
Média Mensal

1,4

1,2

1,0
,8

,6

,4

,2
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SEP OUT NOV DEZ

Assim, embora as séries temporais são curtas demais para realizar testes rigorosos de
sazonalidade através do cálculo de auto-correlações, não parece haver um padrão claro nem
consistente de sazonalidade nesses números, e as variações parecem responder a flutuações
aleatórias.

Alguns estados não informavam dos dados mês a mês, mas informavam o total anual,
provavelmente porque o modo de coleta de dados dificultava a decomposição mensal dos mesmos.
Por outro lado, foi detectado que a base de dados continha dois estados —Rio Grande do Norte e
Paraná— nos quais apareciam simultaneamente os registros mensais e os totais anuais. A soma das
cifras mensais correspondia nesses dois casos, de fato, ao total anual. No entanto, é importante
alertar para este ponto, pois se um analista for consolidar os totais dos estados a partir dos registros,
tal como eles estão na base, os números desses dois estados seriam artificialmente duplicados.

Um outro teste de consistência realizado foi a comparação entre os totais de cada estado
para cada tipo de vítima nos anos 1999 e 2000, procurando discrepâncias entre os dois anos que
pudessem indicar algum tipo de erro. Em geral, os valores dos dois anos parecem razoavelmente
compatíveis, com algumas exceções. Os casos de diferenças entre os dois anos com intensidade
suficiente para levantar suspeitas quanto a sua validade foram os seguintes.
TABELA 2
Estados com Resultados Discrepantes entre os Anos 1999 e 2000
ESTADO TIPO DE VÍTIMA ANO ANO 2000
1999
Distrito Federal Pessoas Feridas por Policiais Militares em Serviço 55 9
Pará Pessoas Feridas por Policiais Militares em Serviço 0 17
Pará Pessoas Feridas por Policiais Militares fora de Serviço 0 13
Distrito Federal Pessoas Mortas por Policiais Militares em Serviço 12 48
Pará Pessoas Mortas por Policiais Militares em Serviço 4 24

Isto não significa que esses números estejam necessariamente errados, mas seria
conveniente revisá-los e confirmá-los junto aos estados.

Análise das Vítimas provocadas por Policiais.


Como já foi explicado, todos os registros disponíveis foram integrados numa base única. Essa
nova base, que possui um registro para cada estado com todas as informações associadas a ele, foi
utilizada para as presentes análises. Serão analisados os dados do último ano disponível, ou seja,
2000, exceto quando haja razões particulares que aconselhem incluir também 1999.

4.1 Vítimas provocadas por Policiais Militares.


79

O primeiro passo será estudar as vítimas fatais. Como foi mostrado na Tabela 1, um total de
20 estados informam dessas mortes quando os policiais militares estão em serviço e um total de 16
quando estão fora de serviço. Os dados são os seguintes.
80

TABELA 3

Vitimização Fatal por Agentes da Polícia Militar

Pessoas Mortas por Pessoas Mortas por Pessoas Mortas por


Estado Policiais Militares em Policiais Militares Policiais Militares -
Serviço, 2000 Fora de Serviço, 2000 Total, 2000

AC 0 0 0
AL , , ,
AM 1 3 4
AP , , ,
BA 88 20 (9) 108 (*)
CE , , ,
DF 48 0 48
ES 34 12 46
GO , , ,
MA 6 8 14
MG 48 20 68
MS 4 (3) 4 (4) 8 (*)
MT , , ,
PA 24 11 35
PB 1 2 3
PE 36 15 51
PI 2 (2) , 2 (*)
PR 52 46 98
RJ 248 , 248
RN 2 1 3
RO 3 (3) , 3 (*)
RR 0 0 0
RS 4 , 4
SC , , ,
SE , , ,
SP 524 173 697
TO 2 0 2

BRASIL 1.127 315 1.442


(*) Entre parêntesis, o número de meses em que está baseado o total, quando falta
algum mês.

A primeira conclusão é que, na maioria dos estados em que existe um número significativo de
vítimas, as vítimas mortais durante o serviço superam em muito as vítimas no período de folga,
embora, como já foi dito, o conceito de “fora de serviço” tal como foi operacionalizado aqui pode variar
de estado para estado. Com efeito, o número total de vítimas fatais durante o serviço, considerando
todos os estados, é de 1.127, e o número durante a folga é pouco mais de um quarto, embora essa
diferença deva ser relativizada pelo fato de que o número de estados que informa das mortes durante
a folga é menor do que durante o serviço. Dois estados são responsáveis por mais de dois terços dos
casos: Rio de Janeiro e, especialmente, São Paulo. Contudo, trata-se de estados de grande
população e nos quais o efetivo policial é numeroso. Portanto, é preciso obter as taxas por policial e
por habitante para poder interpretar melhor os resultados.
De acordo com essas cifras, o número total de mortos ocasionados pela Polícia Militar no ano
2000 foi de 1.442, mas esse total está claramente subestimado porque faltam estados por mandarem
81

seus dados e porque vários estados não forneceram informações para todos os meses do ano.
Posteriormente, será elaborada uma estimativa do número total anual de vítimas mortais no Brasil.
No caso do estado do Rio de Janeiro, dispomos de dados correspondentes aos denominados
“Autos de Resistência” —usados, como já foi explicado, para definir situações em que um policial
mata um suspeito de cometer crimes— diretamente da Secretaria de Segurança, que podem servir
para contrastar os números recebidos através da SENASP. Embora esses números de Autos de
Resistência não estejam divididos pela corporação (PM e PC), pesquisas anteriores nos permitem
afirmar que a grande maioria deles, acima do 80%, é protagonizada por policiais militares (Cano,
199723). Da mesma forma, ficou constatado que mais de 80% dos casos corresponde a policiais em
serviço. No ano 2000, a Secretaria informa um total de 427 mortes por “Autos de Resistência”, o que
é um número superior ao esperado se o comparamos com as 248 mortes registradas pela SENASP 24.
Todavia, o problema é maior em relação a 1999. A SENASP registra nesse ano um total de 279
mortes por policiais militares em serviço no estado, enquanto o número de mortes por autos de
resistência no estado é de 289. Como o número da SENASP não inclui os casos da Polícia Civil, 279
parece um número excessivamente alto para um total de 289 das duas corporações. Mais importante
ainda, a trajetória dos “Autos de Resistência” é de forte aumento em 2000 em comparação com o ano
anterior —427 contra 289— enquanto que a SENASP aponta uma diminuição no último ano —248
contra 279. Isto levanta mais dúvidas sobre a qualidade dos dados e enfatiza a necessidade de um
acompanhamento do modo como eles foram produzidos.
Como foi mencionado anteriormente, é preciso recorrer a ponderações para avaliar a
importância dos dados de cada estado. As duas ponderações mais importantes dizem respeito ao
tamanho do efeito policial e à população. Assim, precisamos calcular o número de mortes para cada
10.000 policiais e para cada 100.000 habitantes, com o objetivo de podermos comparar estados
muito populosos e com polícias de grandes dimensões com estados pequenos e polícias mais
reduzidas. Dado que o número de estados que comunicam mortes de folga e menor e que há dúvidas
sobre a interpretação que cada um deles faz do conceito “fora de serviço”, calcularemos ambas as
ponderações apenas para os mortos durante o serviço policial. Por outro lado, além das vantagens
metodológicas, esses indicadores permitirão avaliar de forma mais precisa o trabalho policial,
independentemente do que acontecer na folga, durante a qual muitos policiais exercem como
seguranças privados, com o risco subseqüente de confrontos armados. A população corresponde a
uma estimativa do IBGE, fornecida pelo Ministério da Saúde, da população residente em cada estado
no ano 2000. Os efetivos das Polícias Militares, que estão referidos a 2001, foram obtidos da própria
pesquisa da SENASP, como foi anteriormente relatado. Essa diferença de um ano para os dados do
efetivo não deve alterar os resultados de forma significativa, porque os efetivos costumam aumentar
ou diminuir lentamente.
Para tentar diminuir o problema dos estados que apresentam apenas alguns meses foi feita
uma extrapolação para o resto do ano, supondo que todos os meses possuem o mesmo peso, o que
como já foi revelado é uma suposição razoável. Dessa forma, se um estado enviou apenas 6 meses,
o valor desses meses é multiplicado por dois para chegar na estimativa anual; se informou 3 meses o
valor é multiplicado por 4; e se registrou apenas 2 meses, ele é multiplicado por 6. As novas taxas
assim corrigidas foram usadas para relacionar a letalidade policial com outras dimensões.
Os resultados das duas ponderações são apresentados na seguinte tabela.

TABELA 4

População Taxa de pessoas mortas Taxa de pessoas


Estado Residente Ano por PM´s em serviço para Efetivo Polícia Militar mortas por PM´s em
2000 cada 100.000 habitantes Total, 2001 serviço para cada
1.000 policiais
AC 541.873 0,00 2.041 0,00
AL 2.738.378 , 5.808 ,
AM 2.641.251 0,04 6.142 0,16
AP 458.796 , 2.385 ,
BA 13.135.262 0,67 28.406 3,10
CE 7.200.167 , 11.038 ,

23
Cano, Ignacio (1997) Letalidade da Ação Policial no Rio de Janeiro. ISER.
24
Supondo, com base na pesquisa mencionada, que um mínimo de aproximadamente 70% dos 427 casos
correspondam a policiais militares em serviço, esperaríamos não menos de 299 casos desse tipo registrados na
SENASP.
82

DF 2.016.497 2,38 14.951 3,21


ES 2.980.729 1,14 7.854 4,33
GO 4.953.650 , 10.467 ,
MA 5.480.066 0,11 6.298 0,95
MG 17.492.296 0,27 40.646 1,18
MS 2.057.734 0,78 (*) , ,
MT 2.419.591 , 4.068 ,
PA 6.004.854 0,40 12.648 1,90
PB 3.397.673 0,03 7.043 0,14
PE 7.638.101 0,47 17.314 2,08
PI 2.753.373 0,44 (*) , ,
PR 9.492.790 0,55 18.724 2,78
RJ 13.933.756 1,78 33.301 7,45
RN 2.684.712 0,07 7.214 0,28
RO 1.317.614 0,91 (*) 3.186 3,77 (*)
RR 273.160 0,00 1.302 0,00
RS 10.077.267 0,04 20.765 0,19
SC 5.168.808 , 13.137 ,
SE 1.740.719 , 3.917 ,
SP 36.351.316 1,44 82.360 6,36
TO 1.162.085 0,17 3.117 0,64

BR 166.112.518 0,82 364.132 3,60


(*) Estimada por extrapolação para completar as informações dos meses que faltam.

A grande maioria dos estados apresentam uma taxa de mortos por 1000.000 habitantes
inferiores a 1. Destacam, com valores superiores a 1, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro e,
particularmente, o Distrito Federal. Isto comprova a necessidade da ponderação para avaliar as cifras,
pois o Distrito Federal, que não apresentou muitos casos em termos absolutos, revela-se como um
estado com um sério problema de letalidade policial uma vez considerada a população. Por sua vez,
São Paulo, que em valores absolutos era o estado mais dramático, encontra-se superado pelo Rio de
Janeiro e pelo Distrito Federal em termos relativos. Embora os valores das taxas possam parecer
baixos, eles são na realidade bastante elevados, considerando que não incluem mortes na folga nem
aquelas provocadas por policiais civis. Para contextualizar esses valores, vale lembrar que vários
países no mundo apresentam taxas de homicídio —totais, independentemente do autor— inferiores a
1 por 100.000 habitantes e muitos países possuem taxas inferiores a 5.
A média geral do indicador para o Brasil foi calculada tomando em conta apenas os estados
que mandaram informação sobre vítimas, e o seu valor é 0,82.
A ponderação pelo número de policiais mostra vários estados com menos de 1 morto para
cada 1.000 policiais militares, alguns estados com valores entre 1 e 3, e um grupo de estados com
valores superiores a 3: Bahia, Distrito Federal, Rondônia e Espírito Santo. Ainda na frente desses
estados estão São Paulo, com mais de 6, e o Rio de Janeiro, com mais de 7. Isto significa que a
experiência de participar em confrontos letais é muito mais comum para os policiais militares do Rio e
de São Paulo do que para os policiais dos outros estados. A pesquisa anteriormente mencionada
sobre a letalidade policial no Rio de Janeiro (Cano, 1997) mostrou que alguns policiais tendem a
concentrar um alto número de eventos com resultado de morte. Mesmo assim, se extrapolamos essa
taxa de 6 ou 7 mortes por 1.000 policiais durante 20 ou 25 anos de vida profissional, obtemos que
uma proporção significativa dos PMs desses dois estados terá participado alguma vez de um
confronto letal no final da sua vida profissional. Isto possui com certeza uma grande influência na
conformação da cultura e da identidade policiais nesses estados e, provavelmente, significa que
esses policiais estão submetidos a situações de alto risco, com o estresse subseqüente.
Quando são comparados para cada estado os valores das duas ponderações, a que usa a
população e a que usa o número de policiais, o resultado é muito similar nos dois casos, como mostra
o gráfico seguinte.
83

GRÁFICO 5

Pessoas Mortas por PM´s por estado


ponderadas pela População e pelo Número de PM´s
3,0

2,5 DF

2,0 RJ

SP
1,5
ES
1,0 RO
BA
PR
PE
PA
,5
MG
TOMA
RN
AM
PB
RS
AC
RR
0,0

-,5
-2 0 2 4 6 8

Taxa de Mortes por PM´s em s erviço por 1.000 policiais

O único caso discrepante é o Distrito Federal, que é o estado com maior número de policiais
militares por habitante. Em Brasília, a ponderação por habitantes mostra um resultado muito mais
dramático do que a ponderação por policiais, em função do alto número desses últimos.
De qualquer forma, a ponderação mais importante desde o ponto de vista teórico é a de
mortes por habitantes, já que ela revela qual será a incidência real da letalidade policial na população.
Por outro lado, o número de habitantes é mais estável do que o número de policiais, que pode
aumentar ou diminuir num prazo mais breve, provocando assim maiores oscilações na taxa
respectiva.
Os estados com taxas mais altas de mortes, particularmente aqueles com altas taxas de
mortes para cada 1.000 policiais militares, parecem ser em geral estados com altas taxas de
homicídio. De fato, uma das explicações tradicionais das polícias para seus altos níveis de letalidade
é a intensidade da violência geral no lugar onde elas atuam. Não pode ser negado que esse é um
fator muito relevante.
Assim, uma primeira comparação que precisa ser feita é a da letalidade policial com a taxa de
homicídios de cada estado. Os registros de homicídios possuem duas fontes diferentes: os registros
policiais e as certidões de óbito processadas pelo Ministério da Saúde. Cada uma delas apresenta
problemas próprios de confiabilidade e validade, mas a segunda é considerada, por diversas razões,
mais confiável para estimar o número real de homicídios (ver Murray & López, 1996 25; Lozano,
199726; Cano & Santos, 200127). No entanto, os dados mais específicos do Ministério da Saúde para
poder elaborar as estimativas estado a estado estão disponíveis apenas até 1998. Para o ano 2000
existem só dados mais gerais fornecidos pelo Ministério, mas que não permitem o mesmo grau de
precisão. Por outro lado, a SENASP solicitou dos estados o número de registros policiais de diversos
crimes, entre eles o homicídio doloso. Esses dados, que como já foi adiantado estão sendo
trabalhados pelo CESEC da Universidade Cándido Mendes, apresentam também problemas de falta
de qualidade e permitem apenas obter o número de ocorrências de cada tipo de crime, e não o
número de vítimas em cada estado. Contudo, podemos supor que a relação entre número de
ocorrências e número de vítimas não deve ser muito diferente em cada estado. Assim, o uso do
número de ocorrências para estimar o número de vítimas implicaria uma certa subestimação do valor
real—o número de vítimas é sempre igual ou maior ao número de fatos, pois cada um deles pode
conter mais de uma vítima—, mas provavelmente não introduziria nenhum viés importante que
impedisse a comparação com outras dimensões.

25
Murray, C. & López, A. (eds.) (1996) The Global burden of injuries: mortality and disability from suicide,
violence, war and unintentional injuries, Harvard University Press. Cambridge.
26
Lozano, R. (1997) La Carga de la Enfermedad y as lesiones por violencia contra las mujeres: el caso de la
ciudad de México. Fundación Mexicana para la Salud. Centro de Economía y Salud. México.
27
Cano, I. & Santos, N. (2001) Violência Letal, Renda e Desigualdade Social no Brasil. 7 Letras.
84

Todavia, há alguns estados onde há um uso freqüente da categoria “Lesão Seguida de


Morte” e outros onde isso não acontece. Concretamente, 13 estados responderam que não
possuíam nenhum registro dessa categoria no ano 2000. Como a categoria “Lesão Seguida de Morte”
equivale também à noção de homicídio desde o ponto de vista dos registros sanitários —embora não
desde o ponto de vista legal—, os estados onde tal registro existia tiveram seus totais somados aos
dos homicídios dolosos para obter uma estimativa final de ocorrências de homicídio.
Para garantir a qualidade dos dados, foi feita uma comparação entre a estimativa de
homicídio da SENASP para o ano 2000 —número de registros de homicídios dolosos mais número de
registros de lesão seguida de morte por estado— e o número de vítimas de homicídio estimadas para
1998 a partir dos dados da Saúde (Cano & Ferreira, 2003 28). Os resultados foram consistentes e
revelaram que a estimativa de homicídios da SENASP parecia ser confiável.
O gráfico seguinte compara a taxa de mortos por policiais militares em serviço com a
estimativa de homicídios por 100.000 habitantes. Até aproximadamente 30 homicídios por 100.000
habitantes não parece existir uma relação clara entre as duas dimensões. No entanto, os estados
com mais de 30 homicídios por 100.000 habitantes todos revelam altos níveis de letalidade policial. O
Distrito Federal destoa do resto, em função do alto valor da taxa de letalidade policial quando
ponderada pela população.
GRÁFICO 6

Letalidade Policial e Homicídios, por estado


3,0

2,5 DF

2,0
RJ

SP
1,5
ES
1,0 RO
MS
BA
PR
PI PE
,5 PA
MG
RN MA TO
RS ACRR AM PB
0,0

-,5
0 10 20 30 40 50

Regis tros de Hom icídio Dolos o (e Les ão com Morte) por 100.000 hab

O coeficiente de correlação entre as duas dimensões é de 0,54 29, claramente significativo,


embora o valor deva ser interpretado com cautela em função do reduzido número de casos e dos
problemas com a qualidade dos dados. Se eliminarmos o Distrito Federal, o coeficiente sobe para
0,63.
O mesmo tipo de gráfico feito com a ponderação de mortes por 1.000 policiais militares
oferece resultados muito semelhantes, com a única diferença clara de o Distrito Federal aparecer
numa posição muito menos extrema. O fato de o Distrito Federal já não ser um caso extremo
(‘outlier’) nessa ponderação eleva o coeficiente de correlação com a estimativa de homicídios para
0,62.
Em suma, os estados onde os policiais militares provocam mais mortes são também os
estados com maior taxa de homicídios, mas essa relação é moderada e não explica completamente,
por si só, os níveis de letalidade policial. O Distrito Federal continua sendo um caso extremo na
análise dessa relação.
Além dos homicídios há outros crimes violentos nas bases da SENASP cuja incidência pode
ser comparada com a letalidade policial. Um dos mais importantes é a lesão dolosa, uma agressão

28
Cano, I. & Ferreira, C.E. (no prelo) Homicídios e Evolução Demográfica no Brasil: o Impacto da Evolução
Demográfica na Futura Taxa de Homicídios e a Incidência dos Homicídios na Pirâmide Populacional. FAPERJ.
29
O coeficiente máximo possível é de 1 —relação perfeita— e o mínimo possível é de 0 —ausência completa de
relação.
85

que em princípio não chega a produzir um homicídio. Entretanto, apenas 3 estados informaram as
lesões dolosas de forma confiável, razão pela qual essa variável deve ser descartada. As únicas duas
ocorrências de crimes violentos cuja qualidade permite o seu aproveitamento para a presente análise
são os roubos de veículo e as tentativas de homicídio.
As tentativas de homicídio não apresentam uma correlação significativa com a letalidade
policial30. Uma análise mais detalhada mostra que 3 estados registraram um número muito elevado
de tentativas de homicídio por habitante (Acre, Roraima e Amazonas), inclusive em comparação com
o número de homicídios reportados. Valeria a pena investigar a fundo esses dados e as razões para
esse perfil tão diferente. Da forma que se encontra, é inviável usar essa variável para a análise.
A relação entre as taxas de roubo de veículo 31 e a letalidade policial pode ser observada no
gráfico seguinte.
GRÁFICO 7

Letalidade Policial e Roubo de Veículos, por estado


3,0

2,5 DF

2,0
RJ

SP
1,5
ES
1,0 RO
MS
BA
PR
PI PA PE
,5
TO
MARN
PB
AM
AC
RR RS
0,0

-,5
-1 0 1 1 2 2 3 3 4

Taxa de Roubos de Veículo por 1.000 hab.


A relação não é muito clara, e está marcada por três casos extremos: o Distrito Federal, o Rio
de Janeiro e São Paulo. O coeficiente de correlação entre as duas variáveis é significativo: 0,62.
Eliminando esses três estados extremos, o coeficiente diminui para 0,30 e já não é significativo.
Assim, a relação entre roubo de carros e letalidade policial não é muito definida, mas parece que os
estados com maior incidência desse tipo de roubos tendem a ser estados com alta letalidade policial.
Em conseqüência, os dados confirmam que os níveis de violência existentes na sociedade —
homicídios e roubos— são, como caberia esperar, um determinante importante do grau de letalidade
policial, mas não o único. A letalidade policial não pode ser explicada exclusivamente em função da
violência encontrada no meio em que a polícia trabalha. Não é possível defender, com base nos
dados, que as polícias mais violentas o são exclusivamente porque trabalham em contextos violentos.
A letalidade da ação policial é, sobretudo, um problema do Brasil urbano, particularmente das
metrópoles do Sudeste, além do caso atípico de Brasília. Uma média da taxa de mortes por policiais
militares em serviço entre todos os estados de cada região que forneceram informação 32 mostra que

30
O coeficiente é –0,182, com probabilidade associada sob a hipótese nula de p=0,441.
31
Os roubos de veículo são normalmente ponderados, com o objetivo de mensurar sua incidência, pela frota de
veículos ao invés de pela população. Entretanto, para a finalidade atual de comparação com a letalidade policial,
estima-se mais conveniente manter a ponderação pela população. Por exemplo, se um estado possui poucos
veículos, a aparição de roubos de veículos não poderá justificar uma alta incidência de letalidade policial na
população, mesmo que a proporção de veículos roubada seja grande. Por outro lado, se um estado tem muitos
veículos matriculados, o roubo de veículos poderia estimular a letalidade policial, mesmo que a proporção de
veículos roubados seja pequena.
32
Essa média poderia ter sido calculada somando as vítimas de cada região e dividindo-as pela população dos
estados que forneceram informação. De fato, se os dados fossem de alta qualidade, essa seria a taxa mais
adequada para a região. No entanto, em vista dos problemas com a qualidade dos dados, optou-se por fazer uma
86

o problema é mais agudo no Sudeste e, em menor medida, no Centro-Oeste, sendo muito menos
intenso nas outras regiões.
TABELA 5
Letalidade da Polícia Militar (em serviço) por Região

Média do Número de Pessoas Mortas por Policiais


REGIÃO Militares em Serviço por 100.000 hab.(*)
Norte 0,11
Nordeste 0,30
Sul 0,30
Centro-Oeste 0,62
Sudeste 1,16
(*) A média é calculada entre as taxas de todos os estados da região que forneceram
informação

É possível usar essas médias regionais como estimativas para os estados que não
forneceram informação, com o objetivo de atingir uma estimativa final para o Brasil do número de
pessoas que as polícias militares matam durante o seu trabalho.
Multiplicando essa taxa média pela população de cada estado que não mandou informação,
obtemos uma estimativa aproximada do número de vítimas nesse estado. Dessa forma, o número
total estimado de pessoas mortas por policiais militares no Brasil no ano 2000 —considerando agora
todos os estados— é de 1.254. E a taxa estimada de mortos por PM´s em serviço por 100.000
habitantes no Brasil para o mesmo ano é de 0,76.
Para incluir também algum tipo de estimativa das mortes por policiais militares fora de
serviço, seguiu-se a seguinte estratégia. Tomaram-se apenas os estados que davam informação
tanto de mortos em serviço quanto fora de serviço e somaram-se os dois tipos de vítima para todos
os estados. O resultado foi que as mortes fora de serviço representavam aproximadamente 37% das
mortes durante o serviço. Assim, na medida que essa estimativa for justificável, poderíamos estimar
em 37% de 1.254 o número total de vítimas fatais por policiais militares fora de serviço. Isto perfaria
um total de 469 mortes durante a folga. De toda forma, esses resultados devem ser interpretados com
cautela pois, como já foi explicado, o conceito de “fora de serviço” pode não ter sido o mesmo em
cada estado.
Somando agora os dois tipos de vítimas, estimamos que a Polícia Militar matou no Brasil no
ano 2000 aproximadamente 1700 pessoas, considerando o trabalho policial e a folga.

O seguinte passo é estudar as pessoas feridas por policiais militares. De acordo com a
Tabela 1, um total de 21 estados mandaram informação sobre os feridos durante o serviço e um total
de 18 sobre os feridos fora de serviço. Este é um nível de retorno levemente melhor ao das vítimas
fatais.

média entre as taxas de cada estado, para evitar que um erro num único estado, particularmente se é um estado
muito populoso, possa produzir um viés grande para o conjunto da região.
87

TABELA 6

Vitimização Não Fatal por Agentes da Polícia Militar

Pessoas Feridas por Pessoas Feridas por Pessoas Feridas por


Estado Policiais Militares em Policiais Militares Policiais Militares -
Serviço, 2000 Fora de Serviço, 2000 Total, 2000

AC 0 0 0
AL , , ,
AM 6 5 11
AP , , ,
BA 75 71 146
CE 125 65 190
DF 9 0 9
ES 36 45 81
GO , , ,
MA 8 10 18
MG 109 121 230
MS 34 3 (2) 37
MT , , ,
PA 17 13 30
PB 11 7 18
PE 30 21 51
PI 5 (4) 6 (3) 11
PR 197 61 258
RJ 149 , 149
RN 52 42 94
RO 90 , 90
RR 0 0 0
RS 225 , 225
SC , , ,
SE , , ,
SP 608 477 1085
TO 13 7 20

BRASIL 1.799 954 2.753


(*) Entre parêntesis, o número de meses em que está baseado o total, quando falta
algum mês.

O número total de feridos provocados por policiais militares é aproximadamente o dobro do


número de mortos. Considerando apenas os estados que registraram informação sobre feridos em
serviço e fora de serviço, os segundos representam aproximadamente 73% dos primeiros. Essa razão
é o dobro da encontrada entre os mortos, em que as vítimas fora de serviço eram 37% das
acontecidas durante o trabalho policial. Em outras palavras, enquanto as mortes parecem se
concentrar mais durante o serviço policial, os ferimentos estão mais repartidos.
Antes de prosseguirmos com as análises, os estados que não contavam com 12 meses
tiveram o seu total anual re-estimado por extrapolação, da mesma forma que foi feito com os mortos
anteriormente.
São Paulo ocupa um lugar preponderante e soma um terço do total de feridos em serviço, ao
invés de quase a metade, como era o caso entre os mortos. Rio de Janeiro, o segundo estado em
88

número de mortos, ocupa agora uma posição de menos destaque, enquanto que Rio Grande do Sul e
Paraná, que não apresentavam um alto número de mortos, são o segundo e o terceiro estado em
número de feridos durante o serviço. Em outras palavras, o número de feridos em serviço não parece
guardar uma relação muito intensa com o número de mortos em serviço ocasionados pelos policiais
militares. Uma vez eliminado o caso extremo de São Paulo, o coeficiente de correlação entre as duas
dimensões é de apenas 0,42, o que não chega a ser significativo 33.
Todavia, boa parte dessa correlação é devida ao tamanho de cada estado, de forma que
estados maiores tenderão a ter cifras maiores em geral. Quando calculamos a correlação entre as
mortes em serviço por 100.000 habitantes e os feridos em serviço por 100.000 habitantes, removendo
assim o efeito do tamanho da população do estado, a correlação despenca para 0,17, não
significativa34. Isto pode ser explicado de duas formas. A primeira é que pode haver sérios problemas
de mensuração nos dados e que cada estado pode estar aplicando critérios diferentes para definir o
que é um “ferido”. A segunda é que os episódios que provocam feridos são muito mais amplos do que
aqueles que produzem mortos —restringidos nesse último caso a eventos com uso de armas de fogo
na sua prática totalidade— com a conseqüência da falta de relação entre vítimas fatais e não fatais
por estado. Provavelmente as duas explicações são válidas em alguma medida.
Por sua vez, a taxa de feridos em serviço por 100.000 habitantes apresenta baixas
correlações com os registros de homicídio por 100.000 habitantes (0,20) e com o registros de roubo
de veículos por 100.000 habitantes (0,12) 35, como era de se esperar em função da baixa relação
descrita anteriormente entre mortos e feridos.
Em suma, a informação sobre os feridos apresenta sérios problemas de confiabilidade e
validade e não parece estar fortemente relacionada com a informação sobre mortes. Apesar disso,
resolvemos estudar, de forma exploratória e com as cautelas apropriadas para o caso, a relação entre
mortos e feridos de forma mais específica.
Em estudos anteriores sobre uso da força letal, a divisão entre o número de mortos e o
número de feridos provocados nos confrontos armados, denominada ‘índice de letalidade’, é o melhor
indicador de abuso de força. Espera-se um número maior de feridos do que de mortos, ou seja, um
índice inferior a 1 (ver Cano, 1997, op. cit.). Quando o valor é superior, indica que a polícia faz um uso
excessivo da força e que alguns policiais podem participar nos confrontos com o objetivo de matar ao
invés de prender os opositores. No entanto, essa interpretação é problemática no nosso caso porque,
como acabamos de ver, os feridos não estão referidos necessariamente a confrontos armados
exclusivamente, e porque cada estado pode ter aplicado critérios diferentes para definir o que é um
ferido.
Mesmo assim, optamos por calcular essa razão entre mortos e feridos em serviço para
monitorar o seu desempenho. As variações entre estados são muito grandes. A maioria dos estados
apresenta um valor inferior a 1, isto é, com mais feridos em serviço do que mortos. Por sua vez, Rio
de Janeiro, Pará, Pernambuco e Bahia revelam uma situação contrária: mais mortos do que feridos.
O caso extremo é o Distrito Federal, com um valor superior a 5, ou seja, com cinco vezes mais mortos
do que feridos. De qualquer forma, esse resultado deve ser tomado com reserva, porque no Distrito
Federal houve uma queda muito grande no número de pessoas feridas por policiais militares em
serviço de 1999 para 2000 (ver Tabela 2), o que pode significar que o número não é confiável.
Quando comparamos essa razão entre mortos e feridos em serviço com a letalidade policial
por 100.000 habitantes, comprovamos que os estados com maior taxa de mortes por 100.000
habitantes tendem a ser justamente os estados onde a razão entre mortos e feridos é mais alta. A
correlação entre as duas dimensões é bastante alta: 0,78. Deixando de fora o Distrito Federal, ela
diminui para 0,60.
GRÁFICO 8

33
Probabilidade associada=0,075.
34
Probabilidade associada=0,464.
35
As probabilidades associadas nesses dois casos são 0,377 e 0,618, respectivamente.
89

Letalidade Policial e Razão entre Mortos e Feridos em Serviço


3,0

2,5 DF

2,0
RJ

1,5 SP

ES

1,0 RO
MS
BA
PR
,5 PI PEPA
MG
TO
RN MA
RS
PB
AM
0,0
-1 0 1 2 3 4 5 6

Razão entre Pessoas Mortas e Feridas em Serviço por Pm´s


Isto pode ser interpretado no sentido de confirmar que a razão entre mortos e feridos, apesar
dos múltiplos problemas conceituais e de mensuração, é também no nosso caso um índice de uso
excessivo da força, e que os estados com uma razão alta precisam abordar o problema do uso da
força letal nas suas polícias.

4.2 Vítimas provocadas por Policiais Civis.


Como já foi exposto anteriormente, as informações relativas a policiais civis são muito mais
escassas do que as da Polícia Militar.
No que concerne às vítimas fatais, apenas 7 estados informam das mortes produzidas por
policiais civis em serviço e só 5 estados das mortes por policiais civis fora de serviço. Os dados
disponíveis são os seguintes.
TABELA 7

Vitimização Fatal por Agentes da Polícia Civil

Pessoas Mortas por Pessoas Mortas por Pessoas Mortas por


Estado Policiais Civis em Policiais Civis Fora Policiais Civis –
Serviço, 2000 de Serviço, 2000 Total, 2000

AC , , ,
AL , , ,
AM , , ,
AP , , ,
BA , , ,
CE 0 0 0
DF , , ,
ES , , ,
GO 3 (3) , 3
MA , , ,
MG , , ,
MS , , ,
MT , , ,
90

PA 12 (6) , 12
PB , , ,
PE , , ,
PI 0 1 1
PR , , ,
RJ , , ,
RN , , ,
RO , , ,
RR , , ,
RS , , ,
SC 1 0 1
SE , , ,
SP 39 20 59
TO 1 0 1

BR 56 21 77
(*) Entre parêntesis, o número de meses em que está baseado o total, quando falta
algum mês.

Dos sete estados que enviaram informação sobre os mortos por policiais civis em serviço,
Ceará e Piauí afirmam que não houve nenhum caso. Apenas São Paulo mostra um número
significativo. Em relação aos mortos fora de serviço, três dos cinco estados que responderam
assinalaram que não houve nenhuma vítima desse tipo.
O resumo final é que a informação não é só muito escassa, mas de qualidade duvidosa. Na
pesquisa sobre letalidade policial no Rio, observou-se que 17% dos casos de mortes e ferimentos em
confronto correspondiam à Polícia Civil. Essa proporção pode variar de estado para estado, mas o
número de estados que manifesta não ter nenhum caso para a SENASP parece excessivamente
grande.
Com base nesses números não é possível estabelecer nenhuma estimativa nacional nem
realizar um estudo da letalidade da polícia civil em relação a outras variáveis.
Examinaremos o caso de São Paulo, o único estado que registra um número significativo e ao
mesmo tempo dispõe de todos os meses. Nesse estado, a razão entre os mortos provocados por
policiais militares em serviço e os mortos originários de ações de policiais civis de serviço é de 13
para 1. Ou seja, que a Polícia Militar ocasiona 13 vezes mais mortes que a civil no seu trabalho. Fora
do serviço, a razão é menor, como caberia esperar: 8 para 1. Isto porque na folga a letalidade de uns
policiais e outros deveria ser mais parecida já que não depende do tipo de policiamento. Contudo, ela
continua sendo maior para os policias militares. Como o número de policiais militares em São Paulo é
quase três vezes superior ao dos civis (82.360 comparado com 31.731), esperava-se que o número
de mortes na folga fosse também 3 vezes superior, e não 8 vezes superior.
Em todo caso, os baixos números da Polícias Civil podem ser fruto não apenas do fato de
que seus contingentes são menores do que os das polícias militares —no Brasil há aproximadamente
5 policiais militares para cada policial civil— e que suas tarefas investigativas são menos tendentes
ao uso da violência do que o patrulhamento ostensivo, mas também da precária qualidade dos seus
sistemas de informação. As polícias militares, que são forças centralizadas, costumam contar com
sistemas de registro melhores e mais homogêneos do que as polícias civis. Portanto, a comparação
entre polícias civis e militares pode estar sendo prejudicada por essa situação, mesmo nos estados
que enviaram alguma informação.

No referente a vítimas não fatais de policiais civis, o quadro é ainda mais desolador, porque à
falta de informações somam-se os problemas adicionais na definição e mensuração dos feridos, que
já foram relatados. Dos 6 estados que enviaram informação, três afirmaram que não tinham
registrado nenhum caso de feridos por policiais civis, nem no serviço nem na folga. A tabela seguinte
apresenta os dados tão somente para o registro, mas não é possível concluir nada sobre eles.
TABELA 8

Vitimização Não Fatal por Agentes da Polícia Civil


91

Pessoas Feridas por Pessoas Feridas por Pessoas Feridas por


Estado Policiais Civis em Policiais Civis Fora Policiais Civis –
Serviço, 2000 de Serviço, 2000 Total, 2000

AC , , ,
AL , , ,
AM , , ,
AP , 13 (8) 13
BA , , ,
CE 0 0 0
DF , , ,
ES , , ,
GO 40 , 40
MA , , ,
MG , , ,
MS , , ,
MT , , ,
PA , , ,
PB , , ,
PE , , ,
PI 0 0 0
PR , , ,
RJ , , ,
RN , , ,
RO , , ,
RR 5 (3) 11 (4) 16
RS , , ,
SC , , ,
SE , , ,
SP 78 25 103
TO 0 0 0

BR 123 49 172
(*) Entre parêntesis, o número de meses em que está baseado o total, quando falta
algum mês.

Análise da Vitimização Sofrida por Agentes de Segurança Pública.

5.1 Vitimização Sofrida pelos policiais militares.


Os questionários da SENASP, como já foi explicado, não perguntavam sobre as mortes e
ferimentos sofridos pelos membros das polícias militares durante o seu trabalho. Não obstante, eles
inquiriam sobre o número de policiais militares falecidos —por qualquer causa— durante os anos
1999 e 2000, bem como pelo número de agentes vítimas de suicídio nesses anos. Assim, estamos
impossibilitados de realizar uma análise dos riscos específicos para os policiais decorrentes do
confronto armado ou, sequer, da sua atividade profissional, visto que as cifras das mortes não nos
permitem separar as correspondentes a acidentes, homicídios ou causas naturais nem distinguir as
que correspondem à atividade profissional do resto. A única causa de morte especificada é, portanto,
o suicídio, que pode ser estudada especificamente e comparada ao risco genérico de suicídio na
população. Este é um ponto interessante, pois várias vozes já apontaram para o que seria um alto
risco de suicídio para os policiais em função das características da sua profissão e do alto estresse de
suas vidas. No resto, só poderemos comparar a mortalidade dos policiais com a da população geral.
92

O primeiro passo será então a análise da mortalidade geral dos policiais militares. As cifras de
mortes de policiais militares informadas pelos estados para os anos 1999 e 2000 são razoavelmente
convergentes, razão pela qual estudaremos apenas o último ano.
A tabela seguinte apresenta os valores para cada um dos 25 estados que facilitaram
informação, bem como a taxa de mortalidade para os membros dessas corporações 36.

36
Vale lembrar que as cifras de contingentes correspondem na verdade ao ano 2001, mas isto deve ter muito
pouca influência no resultado.
93

TABELA 9

Mortalidade dos policiais militares por estado

Taxa de Mortalidade
Estado Policiais Militares Efetivo Total da dos policiais militares
Falecidos, 2000 Polícia Militar, 2001 por 1000 hab.

AC 7 2.041 3,43
AL 12 5.808 2,07
AM 41 6.142 6,68
AP 0 2.385 0
BA 90 28.406 3,17
CE 40 11.038 3,62
DF 19 14.951 1,27
ES 31 7.854 3,95
GO 28 10.467 2,68
MA 17 6.298 2,7
MG 59 40.646 1,45
MS 10 , ,
MT 11 4.068 2,7
PA 32 12.648 2,53
PB 32 7.043 4,54
PE 28 17.314 1,62
PI , , ,
PR 142 18.724 7,58
RJ 109 33.301 3,27
RN 18 7.214 2,5
RO 0 3.186 0
RR , 1.302 ,
RS 51 20.765 2,46
SC 5 13.137 0,38
SE 13 3.917 3,32
SP 33 82.360 0,4
TO 8 3.117 2,57

BR 836 364.132 2,27

O número mais alto de mortes corresponde a Paraná, Rio de Janeiro e Bahia, nessa ordem.
Chama a atenção que São Paulo, o estado com o maior contingente, apresente um número
relativamente baixo de casos, inferior a outros muitos estados com polícias muito mais reduzidas. Isto
volta a colocar em xeque a validade dos dados.
Já em termos de taxa de mortalidade, muitos estados apresentam valores entre 1 e 3 por
1000. Com valores superiores a 4 por 1.000 situam-se apenas Paraíba, Amazonas e, particularmente,
Paraná. Como os policiais são uma população relativamente nova, espera-se que a maioria das
mortes aconteça por causas externas e, entre elas, supõe-se que o homicídio deve jogar um papel
relevante. Entretanto, os estados onde os policiais revelam maiores taxas de mortalidade não são
aqueles com altas taxas de homicídio.
94

A taxa para todos os policiais militares do Brasil é de 2,27 mortes por 1.000 habitantes 37. A
taxa de mortalidade para a população de Brasil é de 5,7, mas essa comparação não é válida porque
a estrutura etária das polícias é muito diferente da população. É preciso comparar a mortalidade dos
policiais com a de uma população de estrutura demográfica similar. Para tanto, partiu-se do suposto
de que os policiais apresentam uma estrutura etária de 20 a 59 anos. Esse suposto parece razoável,
mas não pode ser comprovado, pois o questionário da SENASP não continha informação sobre as
idades dos policiais. Contudo, os dados da SENASP permitem saber o número de policiais femininos
e masculinos de cada corporação. Assim, será calculada uma taxa de mortalidade para a população
geral de 20 a 59 anos para cada estado, com uma proporção de sexos igual à encontrada na polícia
militar do seu estado. Os dados foram tomados do Ministério da Saúde e do IBGE.
A comparação entre essa estimativa de mortalidade populacional e a mortalidade dos
policiais militares em cada estado é a seguinte.

37
Para calcular essa taxa foram eliminados os estados que não contavam com as cifras de mortes ou as dos
contingentes.
95

TABELA 10
Taxa de Mortalidade dos policiais militares e da população
Taxa de Mortalidade
Taxa de Mortalidade da População de 20 a
Estado por 1000 policiais 59 anos por 1000
militares, 2000 hab., 2000(*)
Estado
AC 3,43 4,37
AL 2,07 4,67
AM 6,68 3,42
AP 0 3,70
BA 3,17 3,71
CE 3,62 3,82
DF 1,27 4,33
ES 3,95 5,44
GO 2,68 4,33
MA 2,7 2,73
MG 1,45 4,39
MS , ,
MT 2,7 4,9
PA 2,53 3,04
PB 4,54 3,87
PE 1,62 6,42
PI , ,
PR 7,58 4,73
RJ 3,27 6,70
RN 2,5 3,48
RO 0 4,44
RR , 4,97
RS 2,46 5,04
SC 0,38 4,14
SE 3,32 4,75
SP 0,4 5,66
TO 2,57 3,07

BRASIL 2,3 4,84


(*) A população de cada estado está composta por homens e
mulheres na mesma proporção que a Polícia Militar do estado.

A dispersão entre as situações de uns estados e outros é grande, até o ponto de que não há
correlação entre as duas taxas de mortalidade 38. Mas o fato mais marcante é que, com a exceção de
Paraná, Amazonas e Paraíba, a mortalidade da população é superior à mortalidade dos policiais
militares. Isto poderia ser explicado por vários fatores. O primeiro é que a entrada na polícia estaria
vedada para pessoas com sérios problemas de saúde, razão pela qual a morte por causas naturais
de policiais deveria ser menos freqüente do que para a população geral. Entretanto, o peso da
mortalidade por causas naturais nessas idades é limitado e, portanto, esse fator não deveria ser
decisivo. A segunda possível explicação é que, apesar da profissão de policial ser considerada de
risco, talvez ele não seja tão alto quanto as pessoas acreditam. Esse argumento justificaria uma
proximidade entre as duas taxas, mas não explicaria por que a mortalidade da população geral é
superior. O terceiro elemento, talvez o mais provável, é que as cifras de policiais mortos podem estar

38
O coeficiente de correlação é igual a –0,09 e a probabilidade associada é de p=0,667.
96

subestimadas. Não é acreditável, por exemplo, que a mortalidade dos policiais militares de São Paulo
seja 13 vezes inferior à da população do estado.
Em relação aos suicídios, os números registrados pela SENASP para o ano 2000 relativos
aos 23 estados que forneceram informação aparecem na seguinte tabela. O número de suicídios
registrados é pequeno demais para permitir o cálculo de uma taxa confiável por estado.
97

TABELA 11

SUICÍDIOS DE POLICIAIS MILITARES, POR ESTADO

Estado Policiais Militares Vítimas


de Suicídio, 2000

AC 0
AL 2
AM 1
AP 0
BA 9
CE 2
DF 2
ES 2
GO 0
MA 3
MG 5
MS 1
MT 2
PA 2
PB 1
PE ,
PI ,
PR 3
RJ 4
RN 0
RO 0
RR 0
RS ,
SC ,
SE 0
SP 25
TO 0

BR 64

Tão somente é possível calcular uma taxa de suicídio confiável para o conjunto do Brasil. O
valor, calculado eliminando todos os estados que não possuem simultaneamente informação sobre
suicídios e sobre efetivos da PM, é de 20,1 suicídios por 100.000 habitantes.
Para estabelecer um parâmetro de taxa de suicídio para a população, voltamos a aplicar a
estratégia descrita no parágrafo anterior. Calculamos a taxa de suicídios para a população de 20 a 59
anos no Brasil, de forma que a composição por sexos dessa população seja igual à dos conjuntos
das polícias militares no Brasil. Para a estimativa dos suicídios a partir dos registros de óbito do
Ministério da Saúde, seguimos a estimativa proposta por Lozano (1997, op. cit.), que inclui óbitos
registrados como suicídios, mas também alguns outros registrados como acidentes e como mortes
por causa externa de intenção desconhecida 39. Seguindo a estratégia e a metodologia mencionadas,
a taxa para uma população de 20 a 59 anos (com a composição por sexo igual à das polícias
militares que entraram no cálculo) é de 11,1 suicídios por 100.000 habitantes. Em suma, se
acreditarmos nossos dados, o risco de suicídio para policiais militares é o dobro do risco para a

39
Para tanto, usamos os dados do ano 1998, os últimos disponíveis com detalhe para o conjunto do Brasil.
98

população geral com as mesmas características demográficas. Isto confirmaria o risco de suicídio
especialmente alto para os policiais militares. Vale lembrar que os suicídios para o conjunto da
população estão estimados incluindo casos que não foram registrados como suicídios, e o próprio
não foi feito para os policiais militares por falta de dados específicos. Assim, a taxa dos policiais
militares estará provavelmente subestimada, em função de suicídios não categorizados como tais, o
que significa que o diferencial com a população deve ser ainda maior do apontado por esses
resultados.

5.2 Vitimização Sofrida pelos policiais civis.


Como no caso dos policiais militares, o primeiro passo consistirá na análise da mortalidade
geral dos policiais militares.
Diferentemente das informações sobre vítimas provocadas nas suas ações, todos os estados
menos o Rio de Janeiro disponibilizaram os dados sobre policiais civis falecidos. Isto é devido,
provavelmente, a que o sistema de informações sobre a situação dos seus agentes é muito melhor,
por razões administrativas, do que os registros da atividade policial.
As cifras de mortes de policiais civis para os anos 1999 e 2000 são bastante parecidas, com a
exceção do Rio Grande do Sul, que passa de 17 casos para 2. Optou-se então por analisar os dados
do último ano disponível: 2000.
A tabela seguinte apresenta o número de policiais falecidos por estado, bem como a
mortalidade respectiva40.

40
Vale lembrar que as cifras de contingentes correspondem na verdade ao ano 2001, mas isto deve ter muito
pouca influência no resultado.
99

TABELA 12

Mortalidade dos policiais civis por estado

Taxa de Mortalidade
Estado Policiais Civis Efetivo Total da dos policiais civis por
Falecidos, 2000 Polícia Civil, 2001 1000 hab.

AC 5 244 20,49
AL 23 1420 16,2
AM 2 1351 1,48
AP 0 671 0
BA 25 4437 5,63
CE 2 2129 0,94
DF 9 , ,
ES 3 1651 1,82
GO 5 3078 1,62
MA 1 , ,
MG 31 , ,
MS 3 1469 2,04
MT 11 1460 7,53
PA 3 2363 1,27
PB 4 2140 1,87
PE 17 4349 3,91
PI 7 1245 5,62
PR 14 3830 3,66
RJ , , ,
RN 1 , ,
RO 1 1575 0,63
RR 3 , ,
RS 2 2343 0,85
SC 11 2942 3,74
SE 4 , ,
SP 135 31731 4,25
TO 1 589 1,7

BR 323 71017 3,86

O maior número de mortes corresponde, como era de se esperar, a São Paulo, seguido a
muita distância de Minas, Bahia e Alagoas. As taxas por estado variam muito, entre outras coisas
porque o número de mortes é pequeno e isto introduz uma grande oscilação aleatória nas taxas. A
grande maioria dos estados mostra taxas por baixo de 5 mortes por 1.000 habitantes. No outro
extremo, chamam a atenção as taxas do Acre e de Alagoas, especialmente esta última por estar
baseada num número maior de casos. No ano de 1999, Alagoas também apresentou um número
elevado de mortes (14), o que sugere que esse resultado está revelando de fato algum problema para
os policiais civis no estado e não apenas um fato isolado.
A taxa para o conjunto dos policiais civis no Brasil —calculada apenas com os estados que
possuem todas as informações— é de 3,86, superior à da Polícia Militar (2,27). Assim, a mortalidade
dos policiais civis parece ser maior do que a dos policiais militares, mesmo que esses últimos
100

pareçam entrar em confronto armado com mais freqüência e provoquem, em conseqüência, um maior
número de vítimas civis.
Como no epígrafe anterior, foi calculada uma taxa de mortalidade para uma população
considerada equivalente: pessoas de 20 a 59 anos com uma composição por sexo igual à da Polícia
Civil de cada estado.
101

TABELA 13
Taxa de Mortalidade dos policiais civis e da população
Taxa de Mortalidade
Taxa de Mortalidade da população de 20 a
Estado por 1000 policiais civis, 59 anos por 1.000
2000 habitantes, 2000(*)
Estado
AC 20,49 3,35
AL 16,2 4,27
AM 1,48 3,19
AP 0 3,2
BA 5,63 3,55
CE 0,94 3,27
DF , ,
ES 1,82 3,53
GO 1,62 3,87
MA , ,
MG , ,
MS 2,04 4,25
MT 7,53 3,98
PA 1,27 2,78
PB 1,87 3,44
PE 3,91 6,42
PI 5,62 3,10
PR 3,66 4,78
RJ , ,
RN , ,
RO 0,63 3,83
RR , ,
RS 0,85 3,62
SC 3,74 3,41
SE , ,
SP 4,25 4,97
TO 1,7 2,85

BRASIL 3,86 4,28


(*) A população de cada estado está composta por homens e
mulheres na mesma proporção que a Polícia Civil do estado.

A taxa de mortalidade no Brasil para esta população geral de referência é de 4,28 por 1.000
habitantes, algo superior embora próxima da dos policiais civis (3,86). Esses dados são mais
plausíveis dos que os da Polícia Militar. De acreditarmos neles, os policiais civis sofreriam um risco de
morte, por todas as causas, levemente inferior ao da população geral.
Em relação aos suicídios, a SENASP registra para o ano 2000 um total de 16 estados com
informações. Os números, que são pequenos demais para permitir o cálculo de uma taxa de suicídio
confiável por estado, são os seguintes.
TABELA 14

SUICÍDIOS DE POLICIAIS CIVIS, POR ESTADO

Estado Policiais Militares Vítimas


de Suicídio, 2000
102

AC ,
AL ,
AM 1
AP 0
BA 0
CE 0
DF ,
ES 1
GO 0
MA ,
MG ,
MS 0
MT 0
PA ,
PB 0
PE ,
PI 0
PR 0
RJ ,
RN ,
RO 1
RR ,
RS 1
SC 1
SE ,
SP 6
TO 0

BR 11

A taxa de suicídio resultante para o conjunto dos policiais civis do Brasil —calculada apenas
em função dos estados que enviaram informação —é de 17,6 por 100.000 habitantes, próxima da
obtida com os policiais militares (20,1).
Para estabelecer um parâmetro de taxa de suicídio para a população, voltamos a calcular
uma taxa de suicídios para a população de 20 a 59 anos no Brasil, com uma composição por sexo
igual à das polícias civis do país. Para tanto, usamos mais uma vez a metodologia proposta por
Lozano para os dados de certidões de óbito (Lozano, op. cit.). O valor obtido é 9,3 suicídios para
cada 100.000 habitantes. Da mesma forma que acontecia com as polícias militares, o risco de
suicídio para os policiais civis parece ser aproximadamente o dobro da população geral. Inclusive, a
diferença deverá ser maior, pois o número de suicídios de policiais poderá estar subestimado em
quanto os suicídios gerais foram corrigidos.

5.3 Vitimização Sofrida pelos Bombeiros.

Como já foi explicado, os bombeiros são o único corpo para o qual os questionários da
SENASP indagaram o número de mortos e feridos em serviço. No entanto, os números são pequenos
e não muito confiáveis.
103

TABELA 15
Bombeiros Feridos e Mortos em Serviço, por estado
Anos 1999 e 2000

Feridos em 1999 Feridos em 2000 Mortos em 1999 Mortos em 2000

AC 0 2 0 0
AL 0 0 0 0
AM , , 1 ,
AP 0 0 0 0
BA , , , ,
CE 0 0 1 2
DF , , , ,
ES 0 0 0 0
GO 15 10 2 2
MA 2 1 0 1
MG 0 0 1 1
MS , , , ,
MT 0 0 0 0
PA , , , ,
PB , 10 , 1
PE 42 16 0 0
PI 3 6 0 0
PR , , , ,
RJ , , 28 35
RN 0 0 0 0
RO 0 0 0 0
RR 0 0 0 0
RS 19 22 0 0
SC , , , ,
SE 1 0 0 0
SP 9 12 5 2
TO 0 0 0 0

BR 91 79 38 44

A maioria dos estados que envia informação não registra nenhuma morte nem ferimento. Os
estados que mais casos notificaram foram Pernambuco, Rio Grande do Sul, Goiânia e São Paulo. No
caso dos mortos, apenas o Rio de Janeiro informa um número de casos elevado. Mas esses números
para o Rio são suspeitos não só por serem muito altos, mas porque são inclusive superiores ao
número total de bombeiros falecidos no estado nos mesmos anos, de acordo com os dados de outra
planilha da SENASP. Este é mais um indicador da falta de consistência dos dados, e da necessidade
de uma revisão profunda dos mesmos.
Dado que o número total de mortes depende em boa parte dos dados do Rio de Janeiro e em
vista de que eles não são válidos, não faz sentido calcular uma taxa de risco para o Brasil.
Quanto às planilhas que solicitavam o número total de falecimentos entre os bombeiros,
apresentamos os dados do ano 2000, que são bastante convergentes com os de 1999.
104

TABELA 16

Mortalidade dos bombeiros por estado

Taxa de Mortalidade
Estado Bombeiros Falecidos, Efetivo Total dos dos bombeiros por
2000 Bombeiros, 2001 1000 hab.

AC 0 322 0
AL 0 541 0
AM 0 400 0
AP , 504 ,
BA , 1949 ,
CE 1 1494 0,47
DF 11 5855 ,
ES 1 569 0,61
GO 2 1286 0,65
MA 4 980 ,
MG 3 3662 ,
MS , 1049 ,
MT 1 670 0,68
PA 4 2066 1,69
PB 1 652 0,47
PE 3 1955 0,69
PI 1 305 0,8
PR 7 3223 1,83
RJ 25 14782 ,
RN 0 357 0
RO 0 168 0
RR , 160 ,
RS 3 2931 1,28
SC , 1851 ,
SE 0 473 0
SP 18 8750 0,57
TO 0 62 0

BR 85 57016 1,65

As taxas dos estados estão baseadas em números pequenos demais para serem confiáveis.
Segundo esses dados, a taxa de mortalidade para os bombeiros no conjunto do Brasil (1,65) é
claramente inferior a dos policiais militares (2,30) e a dos policiais civis (3,86). A taxa para a
população de 20 a 59 anos com uma composição por sexos iguais à dos bombeiros é de 4,92. Em
outras palavras, se esses dados são certos os bombeiros apresentam um risco de mortalidade
equivalente a um terço da população.
Nenhum estado mandou informações sobre suicídios de bombeiros.
Conclusões.

Os dados obtidos e processados pela SENASP permitem começar a estudar os fenômenos


da letalidade da ação policial e da vitimização de policiais no Brasil. Entretanto, faltam numerosas
informações relevantes e há dúvidas em relação a muitos dos valores recebidos e dos conceitos
operativos aplicados por cada estado. Sem um conhecimento detalhado do método de coleta e
105

processamento da informação em cada estado, é impossível para a SENASP avaliar de forma precisa
a validade e confiabilidade dos dados.
Um primeiro ponto é que dados muito importantes para a análise dessa problemática não
foram solicitados pelos questionários da SENASP. Entre eles, podemos citar:
 número de pessoas mortas e feridas pelos policiais separadas pelo instrumento
(arma de fogo, instrumento contundente, etc.). Isto é fundamental para distinguir as
vítimas por armas de fogo do resto, o que, por sua vez, é imprescindível para poder
estudar os confrontos armados, calcular índices de letalidade, etc.
 número de policiais feridos e mortos em serviço e na folga, separados também pelo
tipo de lesão (arma de fogo, etc.) e pela circunstância (confronto com bandidos,
conflito pessoal, etc.). Isto permitirá separar as mortes por acidentes, suicídios e
homicídios, bem como estudar os casos de confronto armado e outras circunstâncias
vitimizadoras dos policiais.

Um segundo ponto é que os conceitos a serem usados no questionário e a forma de


preenchimento não foram suficientemente explicitados. Alguns exemplos são os seguintes:
 o conceito de ferido deve ser precisado, para evitar que cada estado use um critério
de gravidade diferente, de forma que alguns estados incluam apenas ferimentos
graves e outros também leves.
 o conceito de “fora de serviço” deve ser explicitado com exemplos, porque alguns
estados, em função da forma de registrar seus casos , podem estar relatando apenas
as vítimas em casos de reação contra suspeitos e não nos casos de conflitos
privados dos policiais. Caso um estado não puder incluir todos esses tipos de
situações, deveria informar do problema à SENASP.
 deve ser detalhado o que fazer com as vítimas em operações conjuntas da Polícia
Civil e da Polícia Militar, de forma a prevenir a possibilidade de que sejam contadas
duas vezes nos dados agregados.
 deve ser explicado com clareza se os registros de vítimas das polícias técnicas
devem estar ou não incluídos nos da Polícia Civil, dado que os policiais que fazem
parte da Polícia Técnica costumam ser policiais civis.

O terceiro ponto é a falta de muitas das informações solicitadas nos questionários enviados
pelas Secretarias estaduais. Esse problema não é exclusivo da temática aqui tratada, mas geral para
todos os bancos da SENASP. Nesse sentido, os dados encaminhados pelas polícias civis são muito
mais precários do que os das polícias militares, provavelmente porque os sistemas de informação e
registro das segundas são mais avançados e mais centralizados do que os das primeiras. Essa
ausência de informações inviabiliza de fato o cálculo de vários indicadores e inclusive de estimativas.

O quarto ponto é a aparente falta de validade e confiabilidade de vários dos dados recebidos.
Assim, podemos destacar:
 a evolução, dentro de cada estado, de 1999 para o ano 2000 de algumas
informações levanta suspeitas quanto a sua credibilidade. Os valores que mudam
muito de um ano para outro deveriam ser re-examinados.
 o número de vítimas reportadas pelas polícias civis é, em geral, pequeno demais para
ser crível.
 o números de pessoas mortas pela Polícia Militar do Rio de Janeiro de que a
SENASP dispõe não encaixa com outros números de letalidade policial obtidos
diretamente junto à Secretaria de Segurança Pública do estado.
 as cifras existentes de policiais mortos se traduzem numa taxa de mortalidade para
os policiais inferior à da população geral com as mesmas características
demográficas, particularmente no caso dos polícias militares,o que é estranho.
 o número de bombeiros vitimados também não parece confiável. No caso do Rio de
Janeiro, o número de bombeiros que supostamente morreu durante o seu trabalho é
superior ao número total de bombeiros mortos informado em uma outra planilha.

Independentemente da qualidade dos dados, as conclusões fundamentais que podem ser


extraídas das informações existentes podem ser resumidas assim.
Segundo os dados, a taxa de pessoas mortas por policiais militares em serviço a cada ano é
inferior a 1 para cada 1000.000 habitantes na grande maioria dos estados. Destacam, com valores
superiores a 1, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro e, particularmente, o Distrito Federal.
Esse é, de fato, um nível bastante alto de letalidade policial.
106

No Rio de Janeiro e em São Paulo, o número de pessoas mortas por policiais militares em
serviço a cada ano ultrapassa 6 para cada 1.000 policiais. Isto significa que a experiência de
participar em confrontos letais é relativamente comum entre os policiais desses estados ao longo da
sua vida profissional, o que deve exercer uma poderosa influência no ethos profissional e no nível de
estresse sofrido pelos agentes.
A letalidade da ação policial é um problema particularmente grave no Brasil urbano, em
especial no Sudeste e, em menor medida, no Centro-Oeste.
Aparentemente, há uma relação clara, porém moderada, entre o nível de violência geral
sofrido em cada estado —mensurado através de homicídios e roubos— e a letalidade provocada
pelos seus policiais militares em serviço. Contudo, a intensidade da relação não permite afirmar que a
letalidade policial possa ser explicada exclusivamente em função da violência reinante. A tese de que
apenas os contextos e não as polícias seriam violentos não se sustenta nos dados.
O número total estimado de pessoas mortas por policiais militares em serviço no Brasil é de
1.254, o que corresponde a uma taxa de 0,76 para cada 100.000 habitantes. A estimativa das
pessoas mortas por policiais militares fora de serviço é mais ou menos 37% das mortes acontecidas
durante o serviço, o que corresponderia a aproximadamente 469 vítimas fatais. Em suma, o número
total de pessoas mortas pelos policiais militares no país ascenderia a 1.700, embora essa estimativa
possa estar subestimada em função de falhas nos dados.
O número de feridos é mais difícil de estimar devido às ambigüidades conceituais explicadas
anteriormente. De qualquer forma, podemos concluir que enquanto as vítimas fatais dos policiais
concentravam-se sobretudo no serviço, as vítimas não fatais estão mais repartidas entre o serviço e a
folga. O número de feridos ocasionados pelos policiais militares em cada estado não guarda muita
relação com o número de mortos.
A razão entre vítimas fatais e não fatais provocadas por confrontos com policiais costuma ser
um excelente indicador do possível abuso de força por parte dos agentes. No nosso caso, essa
possibilidade está prejudicada pelo fato de que os feridos não incluem apenas as vítimas de armas de
fogo e, portanto, não se limitam aos confrontos. Mesmo assim, revela-se que os estados com uma
razão mais alta entre mortos e feridos são aqueles com uma taxa maior de mortos por policiais
militares em serviço para cada 100.000 habitantes: Rio de Janeiro e o Distrito Federal.
A taxa de suicídios para policiais civis e militares é aproximadamente o dobro da taxa para a
população geral com as mesmas características demográficas, confirmando a percepção de um alto
nível de suicídios entre policiais.

Recomendações.
As principais recomendações para o trabalho futuro da Secretaria nessa área são as
seguintes:
1. Esclarecer com os estados alguns números suspeitos que foram enviados.
2. Providenciar uma visita do pessoal técnico da Secretaria a cada um dos estados para
conhecer os métodos e os critérios de coleta e processamento das informações. Isto é
indispensável para avaliar a qualidade dos dados e conseguir uma homogeneidade entre
eles. Idealmente, os técnicos deveriam estudar as categorias originais que cada estado
usa na classificação dos fatos (‘autos de resistência’, etc.) para entender melhor os
registros e propor mudanças.
3. Oferecer apoio técnico aos estados que apresentem dificuldades para o processamento
ou tratamento da informação. O objetivo é conseguir que cada estado possua, no mínimo,
uma unidade central de processamento de informação criminal e rotinas que garantam
fluxos regulares e confiáveis de dados. O apoio técnico pode incluir consultorias nas
áreas de gerenciamento e organização de informações, bem como o fornecimento de
softwares e computadores e o treinamento do pessoal técnico de cada estado. Os
registros mostram que essa necessidade é particularmente aguda para as polícias civis.
4. Solicitar, em futuros pedidos de informações aos estados através dos questionários,
informações sobre as vítimas letais e não letais de policiais separadas pelo instrumento
(arma de fogo, instrumento contundente, etc.). Da mesma forma, solicitar o número de
policiais feridos e mortos em serviço e na folga, separados também pelo tipo de lesão
(arma de fogo, etc.) e pela circunstância (confronto com bandidos, conflito pessoal, etc.).
5. Elaborar um manual de preenchimento para cada um dos questionários a serem enviados
aos estados no futuro. Esse manual deve explicar conceitos como a definição da
gravidade para considerar os casos de “feridos” e deve esclarecer pontos como a decisão
de se as vítimas das polícias técnicas estão ou não incluídas dentro das vítimas das
polícias civis, e o que fazer com as vítimas em operações conjuntas da Polícia Civil e da
Militar.
6. Cruzar o banco das vítimas fatais de policiais com o banco sobre o mesmo tema do
Movimento Nacional de Direitos Humanos, baseado em informações da imprensa. Para
107

tanto, seria desejável que as secretarias estaduais enviassem os nomes das vítimas
fatais das ações policiais, com data e local de falecimento, para poder contrastá-las com
os dados registrados pelo MNDH. Isto poderia servir, ao menos em alguns estados, para
conferir a qualidade e a cobertura da informação enviada pelas secretarias sobre essa
questão.
7. Desenhar conjuntamente com os estados programas para diminuir a letalidade policial,
com ênfase particular no Distrito Federal, o Rio de Janeiro e São Paulo. Algumas das
idéias que podem ser avaliadas são:
- premiações para situações difíceis resolvidas pelos policiais sem o uso da força
ou sem ferimentos
- apoio psicológico aos agentes em situação de risco
- premiações para delegacias ou batalhões que diminuam o número de mortes sem
diminuir a produtividade
- apoio a Ouvidorias de Polícia para que investiguem casos suspeitos de
constituírem execuções sumárias
- treinamento de policiais em Direitos Humanos aplicados operativamente (tiro
defensivo, etc.)
- programas que retirem das atividades operativas a agentes envolvidos em
ocorrências com morte, na linha do PROAR em São Paulo
- estudo da incorporação de armas não letais
9. Refletir junto com os estado sobre como desenvolver programas de prevenção ao suicídio
dos agentes policiais, que devem contar com amplo apoio psicológico.
108

Pesquisa de Vitimização 2002 e avaliação do PIAPS – Túlio Kahn41 -

Ilanud
FIA - USP
Gabinete de Segurança Institucional

pesquisador responsável - Tulio Kahn


planejamento amostral e operacional – Jacques Besen
pesquisadora assistente – Rosier Batista Custódio

41
Inúmeras pessoas contribuíram para a realização da pesquisa, direta ou indiretamente. Na FIA – USP, é
preciso destacar a contribuição intelectual e material do Prof. Dr. Isaias Custódio e sua equipe. No Gabinete de
Segurança Institucional, o apoio do Secretário de Acompanhamento e Estudos Institucionais José Alberto Cunha
Couto, e a equipe do PIAPS, Manoel Gomes Pereira, Leopoldo Jorge Alves Júnior, Laura Boucinhas e, em
especial, a Euridice Nóbrega Vidigal, grande incentivadora do projeto. Finalmente, é preciso reconhecer que a
pesquisa de vitimização não teria sido realizada não fosse a determinação do Ministro Alberto Cardoso, que
desde logo compreendeu a relevância do projeto para o planejamento das políticas públicas de segurança do país.
109

Introdução
As pesquisas de vitimização surgiram nos Estados Unidos na década de 60 como uma
tentativa de estimar a quantidade de crimes sofridos pela população e não comunicados aos órgãos
governamentais. Atualmente, em diversos países do mundo, os governos ou institutos independentes
realizam a intervalos variáveis de tempo as chamadas “pesquisas de vitimização” com amostras da
população, perguntando a uma amostra de cidadãos se foram vítimas de algum tipo de crime nos
últimos meses ou anos.
Aparentemente, seria mais simples e econômico consultar as estatísticas oficiais para
conhecer a quantidade de crimes a que esta sujeita a sociedade, bem como se esta quantidade vem
diminuindo ou aumentando no tempo. Acontece que, por uma série de motivos, os dados oficiais nem
sempre refletem com fidedignidade a situação real da criminalidade na sociedade. As estatísticas
oficiais estariam corretas se todos os cidadãos vitimizados relatassem os crimes de que foram vítimas
às autoridades, mas a experiência em diversos países, desenvolvidos ou não, revela que este
raramente é o caso.
É difícil conhecer com precisão a quantidade de crimes que ocorrem na sociedade. O que os
governos têm em seus registros policiais são apenas uma estimativa dos crimes ocorridos, estimativa
esta que se sabe, de antemão, ser subestimada. A primeira pesquisa de vitimização norte-americana
de 1966 descobriu que os crimes relatados eram mais de duas vezes maiores do que as estimativas
produzidas pelas estatísticas oficiais (Paixão, p.47). O British Crime Survey calculou no começo dos
anos 90 que ocorrem na Inglaterra 4 vezes mais crimes do que são registrados pela polícia. O
fenômeno da subnotificação, ainda que possa variar em grau de país para país, é algo que atinge a
todos: na média dos 20 países pesquisados pelo UNICRI – instituto europeu de criminologia da ONU
- entre 1988 e 1992, levando em conta 10 diferentes tipos de crimes, cerca de 51 % dos crimes
deixaram de ser comunicados à polícia.
É preciso deixar claro que as pesquisas de vitimização não foram pensadas como substitutas
dos levantamentos oficiais, mas como complemento deste. Trata-se apenas de um método diferente
de abordar o mesmo problema.
A propensão por parte das vítimas notificar o crime sofrido varia com uma série de fatores e
circunstâncias, relacionadas às percepções da vítima, ao sistema policial ou ao tipo do crime e do
bem roubado. A experiência internacional na área revela que, entre outros fatores, dependendo: da
percepção social da eficiência do sistema policial; da percepção social da confiabilidade do sistema
policial; da seriedade ou do montante envolvido no crime; do crime implicar ou não numa situação
socialmente vexatória para a vítima (estupro, agressões domésticas, “conto do vigário”, etc.); do grau
de relacionamento da vítima com o agressor; do bem estar ou não segurado contra roubo; da
experiência pretérita da vítima com a polícia; da existência de formas alternativas para a resolução do
incidente - menor será o incentivo para o indivíduo comparecer perante as autoridades policiais para
reportar o crime de que foi vítima.

Desde 1989 o UNICRI (United Nations International Crime and Justice Research Institute)
vem realizando pesquisas de vitimização comparativas que já envolvem mais de 50 países. As
pesquisas têm procurado investigar países de todos os continentes, tanto desenvolvidos como
subdesenvolvidos.
Trata-se de um dos maiores projetos de criminologia comparada já feitos: somente em
1996/97 o UNICRI conduziu pesquisas de vitimização em outros 35 países, perguntando a pessoas
com 16 anos ou mais sobre os crimes cometidos contra elas, opiniões e atitudes sobre notificação
dos crimes à polícia, medo do crime, estratégias de prevenção e atitudes com relação à punição dos
criminosos. Em alguns países subdesenvolvidos, as pesquisas de vitimização chegam a ser a única
fonte existente para mensurar os crimes.

A presente pesquisa foi feita em conjunto pelo Gabinete de Segurança Institucional da


Presidência da República, Fundação Instituto de Administração da USP (FIA-USP) e Instituto Latino
Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e o Tratamento do Delinqüente (Ilanud)
com os objetivos de estimar a prevalência de certos crimes, as taxas de subnotificação, o sentimento
de insegurança e o grau de conhecimento e avaliação da população com relação ao PIAPS –
Programa de Prevenção a Violência Urbana gerenciado pelo Gabinete de Segurança Institucional. A
responsabilidade pela interpretação dos resultados cabe exclusivamente ao Ilanud.

A pesquisa foi feita com 2800 entrevistados, maiores de 16 anos, moradores das cidades de
São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Vitória. Os entrevistados foram selecionados por sorteio
probabilístico e as entrevistas – 700 em cada cidade - foram feitas nos domicílios dos entrevistados,
durante os meses de abril e maio de 2002. O campo em Santo André, cidade da região metropolitana
de São Paulo, foi realizado entre outubro e novembro de 2002, também com 700 entrevistados. Santo
André foi escolhida para a pesquisa por ser uma das cidades selecionadas para monitorar o impacto
110

do PIAPS, uma vez que diversos programas ligados ao PIAPS estarão sendo implementados ali. Ao
interpretarmos os dados da cidade, é preciso ter em mente o episódio da morte traumática do prefeito
Celso Daniel alguns meses antes, que fez com que o tema da segurança se tornasse especialmente
relevante ali.

O questionário e a metodologia da pesquisa foram elaborados a partir da metodologia


sugerida pelo UNICRI, responsável pela disseminação do projeto ICVS – International Crime
Victimization Survey (www.unicri.it\icvs). Nas páginas abaixo, seguem as análises dos resultados
gerais e por cidade, renda e escolaridade, bem como a comparação com países selecionados.
111

Tabela 1 – Vitimização por tipo de crime e cidade


Vitimização em 5 anos Total SP RJ RE VI SA
Roubo/furto de moto * 24 25 29 7 2 41
Depredação em automóvel * 23 21 22 39 21 22
Roubo/furto de bicicleta * 20 19 22 17 26 21
Roubo/furto de automóveis * 18 20 15 9 7 35
Roubo 18 18 17 22 10 18
Furto de algo dentro do carro * 17 20 12 17 23 22
Furto 12 11 10 21 10 10
Agressão física 8 7 7 14 10 7
Arrombamento 6 7 5 9 9 11
Tentativa de arrombamento 6 6 6 11 7 8
Agressão sexual 4 5 3 7 4 1
Média 13 13,25 12,33 14,42 10,75 17,82

Prevalência últimos 5 anos 51 52 47 57 51 57


Prevalência último ano (2001) 35 37 32 34 33 47
* apenas para proprietários
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Metade da população das Capitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Vitória diz ter sido
vítima de algum tipo de crimes nos últimos 5 anos e um terço delas apenas no último ano. Entre os 11
tipos de delitos abordados na pesquisa, os crimes contra o patrimônio – furtos e roubos - foram
claramente os de maior incidência. Apenas uma minoria diz ter sido vítima de agressões físicas ou
sexuais.
O roubo e furto de automóveis e motocicletas são claramente maiores em SP e RJ, em
contraste com RE e VI, que apresentam taxas baixas destes delitos.
Se examinarmos as médias de crimes, a prevalência nos últimos 5 anos e a prevalência
apenas no último ano, São Paulo e Recife aparecem como cidades mais violentas do que Rio de
Janeiro e Vitória. Chama a atenção particularmente em Recife o elevado número de furtos, tentativas
de arrombamento, roubos e agressões físicas e sexuais.
Santo André é um município rico situado na Região Metropolitana de São Paulo. Regra geral,
quando maior a renda média local, maior a taxa de crimes contra o patrimônio. A maior taxa de
vitimização de crimes contra o patrimônio na cidade explica-se provavelmente pelo elevado padrão de
vida médio dos habitantes da cidade.
112

Tabela 1a – Vitimização por tipo e renda familiar


Vitimização em 5 anos Até 400 De 401 801 a Mais de
a 800 1600 1600

Roubo/furto de moto * 18 24 21 25
Depredação em automóvel * 13 19 27 24
Roubo/furto de bicicleta * 20 22 20 19
Roubo/furto de automóveis * 17 16 15 19
Roubo 13 16 16 28
Furto de algo dentro do carro * 15 12 21 18
Furto 10 12 11 13
Agressão física 7 8 5 10
Arrombamento 6 6 7 8
Tentativa de arrombamento 6 6 7 6
Agressão sexual 4 5 4 4
Média 10,75 12,17 12,83 14,5

Prevalência últimos 5 anos 39 49 51 64


Prevalência último ano (2001) 35 35 36 36
* apenas para proprietários
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Sob o risco de parecer tautológico, é preciso insistir que os crimes contra o patrimônio
ocorrem onde existe patrimônio para ser subtraído. Tratam-se de crimes “opportunity driven” em
contraste com os crimes contra a pessoa, que são “poverty driven”. Como decorrência, eles tendem a
ocorrer com maior incidência nos Estados mais ricos, nas cidades mais ricas, nos bairros mais ricos
e atingir com maior probabilidade as pessoas de renda mais elevada.
Como pode ser observado a partir da análise das médias e da prevalência de crimes no
período de 5 anos, existe uma relação linear entre probabilidade de vitimização e renda: nas famílias
que ganham até R$ 400,00 mensais, 39% diz ter sido vítima de ao menos um dos crimes listados, ao
menos uma vez. A porcentagem sobre linearmente até atingir 64%, entre as famílias que ganham
mais de R$ 1600,00 reais mensais.
Se estivéssemos analisando os dados de homicídios, o perfil seria diferente, como inúmeras
pesquisas já revelaram, pois estes incidem especialmente sobre jovens do sexo masculino, não
brancos, com baixa escolarização e renda, moradores das zonas periféricas dos grandes centros
urbanos.
113

Tabela 1b – Vitimização por tipo de crime e escolaridade


Vitimização em 5 anos Até 1º grau 2º grau Superior

Roubo/furto de moto * 28 24 20
Depredação em automóvel * 15 21 31
Roubo/furto de bicicleta * 22 20 18
Roubo/furto de automóveis * 19 15 22
Roubo 12 18 27
Furto de algo dentro do carro * 17 15 23
Furto 10 11 17
Agressão física 4 8 12
Arrombamento 5 7 9
Tentativa de arrombamento 4 7 7
Agressão sexual 1 6 4
Média 11,42 12,67 15,83

Prevalência últimos 5 anos 39 51 69


Prevalência último ano (2001) 31 35 37
* apenas para proprietários
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Escolaridade e renda costumam ser cumulativas, especialmente em países com fortes


desigualdades sociais como o Brasil, onde as oportunidades de renda são em larga medida
determinadas pelos anos de estudos. A análise da vitimização por escolaridade confirma assim a
tendência observada com relação a renda: na maioria dos crimes, há uma relação linear entre
probabilidade de vitimização e escolaridade, de modo que quanto maior a escolaridade (i.e. renda)
maior o risco de ser vítima dos crimes arrolados.
114

Tabela 1.c – Vitimização por tipo de crime – último ano


Vitimização no último ano BR PN ** AR ** PT Total ***
Roubo/furto de moto * 9,8 0,1 5,7 0,3 0,3
Depredação em automóvel * 9,0 3,0 4,0 6,3 6,6
Roubo/furto de bicicleta * 8,1 1,4 0,8 3,2
Furto de algo dentro do carro * 6,4 5,4 9,7 4,9 4,6
Roubo/furto de automóveis * 6,2 1,0 3,6 0,9 1,0
Roubo 5,5 0,9 13 1,1 0,8
Furto 3,0 4,0 5,4 1,9 3,9
Agressão física 2,5 2,3 3,0 0,9 3,5
Tentativa de arrombamento 2,2 3,3 1,2 1,8
Arrombamento 1,5 3,8 7,7 1,4 1,8
Agressão sexual 1,4 0,3 1,0 0,6 1,7
Média 4,63 2,13 1,69 2,43

Prevalência último ano 35 33,4 41 15,5 21,3


* apenas para proprietários
** durante 1999 no Panamá e Argentina e durante 2001 no Brasil
*** total baseado nos países desenvolvidos que tomaram parte da pesquisa de vitimização em 2000

Tomando para efeitos de comparação apenas a vitimização no período de 1 ano, a


prevalência no Brasil foi de 35%, ligeiramente superior a do Panamá, mas inferior a encontrada na
Argentina em 2001, entre os países latino americanos. A prevalência média nos países desenvolvidos
que participaram do projeto ICVS em 2000 foi de 21,3% e de Portugal, particularmente, 15,5%.
Observe-se que para os crimes contra o patrimônio menos violentos, como o furto, e para os
crimes contra a pessoas – agressões físicas e sexuais – as taxas brasileiras chegam a ser menores
do que a média dos países desenvolvidos.
Os países desenvolvidos que participaram do projeto em 2000 e cujas médias aparecem na
coluna Total nesta e em outras tabelas foram: Austrália, Bélgica, Canadá, Espanha, Dinamarca,
Inglaterra & Gales, Finlândia, França, Japão, Países Baixos, Irlanda do Norte, Polônia, Portugal,
Escócia, Suécia, Suíça e Estados Unidos
115

Tabela 2 – Período de ocorrência, por tipo de crime e cidade


Quando aconteceu o crime (2002) Total SP RJ RE VI
Agressão sexual este ano 36 49 12 17 30
Depredação em automóvel este ano 32 36 22 38 46
Agressão física este ano 28 23 36 24 40
Tentativa de arrombamento este ano 25 25 23 28 49
Furto este ano 25 24 25 24 36
Roubo este ano 23 26 19 16 40
Furto de algo dentro do carro este ano 21 20 25 21 23
Roubo/furto de moto este ano 19 22 15 25 100
Roubo/furto de automóveis este ano 15 16 12 15 10
Arrombamento este ano 15 13 18 17 31
Roubo/furto de bicicleta este ano 13 11 13 30 20
Média 21 22,08 18,33 21,25 35,42
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Vitória é a cidade com maior proporção de crimes ocorridos “este ano” (2002), o que pode
sugerir um movimento ascendente de criminalidade local, em contraste com o Rio de Janeiro, que é a
cidade com menor proporção de crimes ocorridos mais recentemente. Lembre-se que a pesquisa
trabalha com um período de 5 anos e que se a criminalidade estivesse estável, cada ano deveria ser
responsável por cerca de 20% dos crimes.
Trata-se todavia de um cálculo imperfeito pois: a) a pesquisa foi feita em junho, cobrindo o
período de 1998 ao primeiro semestre de 2002; b) os entrevistados tendem a lembrar mais dos fatos
recentes e esquecer os antigos, bem como recordar especialmente os incidentes de maior gravidade.
116

Tabela 3 - local do crime, por tipo de crime e cidade

Onde aconteceu (perto / na própria casa) Total SP RJ RE VI SA


Roubo/furto de bicicleta 82 77 90 74 73 82
Agressão física 60 54 63 70 59 59
Furto de algo dentro do carro 55 55 58 55 40 53
Roubo/furto de moto 52 41 75 30 0 52
Roubo/furto de automóveis 51 46 61 78 58 58
Depredação em automóvel 51 43 68 49 42 52
Agressão sexual 48 46 45 66 54 64
Roubo 39 37 41 39 41 41
Furto 35 38 31 32 31 28
Média 47,3 43,7 53,2 49,3 39,8 54,33
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Em geral, os crimes contra a pessoa ocorrem dentro ou próximo da casa das vítimas pois são
freqüentemente crimes de natureza interpessoal, em contraste com os crimes contra o patrimônio,
que costumam ocorrer em outras áreas mais afastadas da cidade, enquanto a vítima está trabalhando
ou estudando. De fato, a pesquisa revela que os roubos e furtos (exceto de veículos) tendem a
ocorrer longe da casa enquanto as agressões físicas ocorrem perto ou dentro da mesma. Curioso,
todavia, observar a baixa porcentagem de agressões sexuais que ocorrem perto da casa da vítima
(48%), com exceção de Recife (66%). É preciso lembrar que, segundo a definição operacional da
pesquisa, “agressões sexuais” incluem desde estupros a assédio sexual e cantadas, que ocorrem
com freqüência no ambiente de trabalho. Santo André, a menor das cidades investigadas, detém a
maior média de crimes ocorridos perto ou dentro da própria casa.
117

Tabela 3a local do crime, por tipo de crime e renda


Onde aconteceu (perto / na própria casa) Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Roubo/furto de bicicleta 74 78 87 88
Agressão física 33 20 15 26
Furto de algo dentro do carro 85 68 46 48
Roubo/furto de moto 48 59 70 38
Roubo/furto de automóveis 68 53 48 45
Depredação em automóvel 25 63 61 43
Agressão sexual 27 7 10 17
Roubo 45 39 34 38
Furto 33 37 32 37
Média 43,8 42,4 40,3 38
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Tabela 3b local do crime, por tipo de crime e escolaridade


Onde aconteceu (perto / na própria casa) até 1º grau 2º grau Superior

Roubo/furto de bicicleta 77 81 90
Agressão física 28 19 30
Furto de algo dentro do carro 47 55 59
Roubo/furto de moto 77 40 93
Roubo/furto de automóveis 50 52 50
Depredação em automóvel 68 49 50
Agressão sexual 25 13 8
Roubo 34 41 37
Furto 29 34 43
Média 43,5 38,4 46
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
118

Tabela 4 - Notificação por tipo de crime e cidade


Notificação do crime Brasil SP RJ RE VI SA PN AR PT Total
***
Roubo/furto de automóveis 96 95 99 94 100 98 88,9 89,9 76 91
Roubo/furto de moto 62 76 34 75 100 85 100 24,6 ** 57 79
Arrombamento 30 31 31 26 25 33 27,3 39,5 59 78
Roubo 29 32 24 25 36 29 25 38,9 40 55
Agressão física 28 27 30 27 38 32 15,8 35,9 33 36
Furto de algo dentro do 27 27 23 37 28 32 32,7 25,0 41 62
carro
Furto 15 15 12 24 17 11 20 24,9 34 42
Agressão sexual 14 7 21 37 15 32 100 18,1 16 15
Tentativa de 11 6 14 19 13 16 26,7 26 40
arrombamento
Roubo/furto de bicicleta 8 13 2 9 19 5 15,4 32 56
Depredação em automóvel 6 7 4 3 11 13 30,8 24,5 23 41
Média 27,17 28 24,5 31,33 33,5 35,09 40,22 35,7 36,42 49,58
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002 ** inclui bicicleta *** total baseado nos países
desenvolvidos que tomaram parte da pesquisa de vitimização em 2000

Em média, apenas um terço das vítimas nas Capitais notificou o crime à polícia, estando o
Rio de Janeiro ligeiramente abaixo das demais cidades (24,5%) e Vitória e Santo André um pouco
acima (33,5% e 35%, respectivamente42).Isto significa que a “cifra negra”, ou taxa de subnotificação
no país continua em torno de 2/3, tal qual já observado nas pesquisas anteriores de vitimização
realizadas entre 1992 e 1997). O padrão de notificação manteve-se igualmente inalterado: o
montante do prejuízo causado, a necessidade de um boletim de ocorrência para o recebimento de
seguro e a gravidade do ato explicam as elevadas taxas de notificação de roubos de automóveis,
motocicletas, arrombamentos e roubos. Os crimes envolvendo pessoas que se conhecem – agressão
sexual - quantias de pouca monta ou modus operandi não violento, por outro lado, apresentam
elevadas taxas de subnotificação. Isto significa que as estatísticas oficiais de criminalidade são
especialmente ruins para o monitoramento deste tipo de delito, com conseqüências importantes para
o combate aos mesmos.
Os dados deixam claro que o fenômeno da subnotificação é universal: mesmo nos países
desenvolvidos, as autoridades policiais conhecem apenas metade dos crimes (49,5%). Em todo caso,
existem variações de país e para país e as taxas de notificação variam com o perfil dos crimes que
ocorrem em cada país, com a escolarização da população, qualidade do atendimento policial,
confiança da população na polícia, entre outros fatores. Em todo caso, chama a atenção o fato do
Brasil apresentar uma das menores taxas entre os países avaliados. Se as taxas de notificação
brasileiras são parecidas com as dos demais países com relação aos bens caros e aos crimes
graves, é principalmente com relação aos casos de menor gravidade que as diferenças se
manifestam: no Brasil, são poucas as vítimas destes tipos de crimes que se dão ao trabalho de ir a
polícia prestar queixa, ao contrário das vítimas dos países desenvolvidos.
Tabela 4a - Notificação por tipo de crime e renda
Notificação do crime Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Roubo/furto de automóveis 100 95 95 97


Roubo/furto de moto 100 41 70 75
Arrombamento 13 31 36 38
Roubo 22 32 43 21
Agressão física 35 31 17 24
Furto de algo dentro do carro 26 31 22 28
Furto 15 15 16 12
Agressão sexual 36 4 7 1
Tentativa de arrombamento 4 5 11 27
Roubo/furto de bicicleta 11 11 5 5
Depredação em automóvel 13 6 8 4
Média 31,25 25,17 27,5 27,67

42
O fato de Vitória e Santo André serem cidades menores do que as demais talvez explique a porcentagem
ligeiramente maior de notificação, dadas as facilidades maiores para o registro da denúncia.
119

Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Normalmente, são os indivíduos mais ricos e escolarizados que tendem a notificar os crimes
de que foram vítimas: seja porque têm mais tempo ou flexibilidade de horários para fazê-lo, porque
são melhor atendidos no Distrito Policial ou conhecem algum delegado, por dever cidadão ou ainda
porque fazem mais uso do seguro e precisam do Boletim de Ocorrência. Os dados da pesquisa
corroboram este fenômeno com relação a escolaridade mas não com relação a renda: um terço dos
vitimados com curso superior notificou o crime, em comparação com apenas 17,6% dos vitimados
com escolaridade até 1º grau. Mas, no que diz respeito a renda, foram precisamente os mais pobres
que mais disseram ter notificado o crime na polícia (31,2%) enquanto a taxa de notificação manteve-
se mais ou menos constante nas demais categorias.

Tabela 4b - Notificação por tipo de crime e escolaridade


Notificação do crime Até 1º grau 2º grau superior

Roubo/furto de automóveis 85 100 97


Roubo/furto de moto 34 63 94
Arrombamento 13 29 48
Roubo 20 33 21
Agressão física 6 28 39
Furto de algo dentro do carro 22 25 31
Furto 11 17 14
Agressão sexual 14 14 11
Tentativa de arrombamento - 5 43
Roubo/furto de bicicleta 1 12 1
Depredação em automóvel 6 8 4
Média 17,67 27,83 33,58
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Tabela 5 – Local da notificação por tipo de crime e cidade

Queixa no Distrito total SP RJ RE VI SA


Roubo/furto de automóveis 93 91 97 89 100 95
Furto de algo dentro do carro 93 91 100 100 86 91
Furto 93 90 100 94 73 100
Agressão sexual 91 100 100 75 57 100
Depredação em automóvel 90 87 100 100 64 78
Roubo 88 85 95 83 87 92
Arrombamento 87 83 100 74 72 72
Roubo/furto de moto 86 82 100 100 100 100
Roubo/furto de bicicleta 85 83 100 88 88 100
Agressão física 82 74 89 93 89 100
Tentativa de arrombamento 19 0 21 38 23 65
Média 75,58 72,17 83,5 77,83 69,92 90,27
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Apresentar queixa na polícia não significa necessariamente ter lavrado o Boletim de


Ocorrência e que a mesma entrou para as estatísticas oficiais. Nem todas as vítimas se dão ao
trabalho de ir ao Distrito registrar oficialmente os incidentes. No caso das vítimas de tentativa de
arrombamento, com efeito, apenas uma pequena parcela o faz diretamente, limitando-se a vítima a
comunicar o fato por telefone a polícia. O comparecimento ao Distrito para o registro da queixa é
claramente maior no Rio de Janeiro e em Santo André e sistematicamente menor do que a média em
Vitória e São Paulo. A facilidade de acesso pode explicar a maior porcentagem de registros em
Distritos Policiais em Santo André. Note-se que mesmos casos menos sérios – como tentativa de
arrombamento – são registrados diretamente em Distritos no município de Santo André.
120

Tabela 6 – Queixa em outro órgão por tipo de crime e cidade

Deu queixa em outro órgão Total SP RJ RE VI


Roubo/furto de automóveis 17 14 20 41 28
Roubo 9 7 12 12 15
Arrombamento 8 7 12 4 4
Agressão física 8 7 10 9 12
Agressão sexual 4 0 10 15 7
Furto de algo dentro do carro 3 4 0 14 4
Média 7 5,57 9,14 13,57 10
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

São raras ainda no Brasil as instituições alternativas à polícia onde seja possível as vítimas
buscarem reparação pelo crime. Se no caso dos delitos contra o consumidor a população tem feito
uso em larga escala dos Procons, não existe nada similar quando se tratam de crimes mais comuns.
No caso do roubo / furto de automóveis esta prática parece ser mais comum (17%) pois as
vítimas comunicam o ocorrido a seguradora, a direção do estabelecimento onde ocorreu o crime (no
caso de estacionamentos), a empresas privadas de monitoramento, ao Cadastro Nacional de
Veículos Roubados, e até mesmo aos meios de comunicação. Nos demais crimes parece não existir
muito a quem recorrer para recuperar o bem, além da polícia. A prática, em todo caso, parece ser
mais comum em Recife (13,5%) e mais rara em São Paulo (5,5%).
121

Tabela 7 – número de autores por tipo de crime e cidade

Quantos autores participaram no total SP RJ RE VI SA


incidente (uma pessoa)
Agressão sexual 86 89 79 85 93 100
Agressão física 56 54 56 63 61 35
Roubo 41 41 37 48 55 37
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Em três ocasiões a pesquisa quis saber a quantidade de agressores envolvidos no incidente.


Por sua própria natureza, a agressão sexual foi o delito mais praticado por autoria individual, seguido
da agressão física e do roubo. Chama a atenção o fato dos roubos (44,1%) e agressões físicas (56%)
serem muito freqüentemente praticados em conjunto com outros autores. Isto significa, entre outras
coisas, que o número de criminosos é bastante superior ao número de crimes praticados.
A autoria coletiva no caso de agressão física ou sexual, pode estar indicando que não se trata
de crime interpessoal mas de cometimento do mesmo por estranhos. Se isto for verdade, é possível
especular que em Vitória estaríamos diante de delitos de natureza doméstica enquanto no Rio de
Janeiro, estes crimes contra a pessoa e os costumes estariam relacionados a outros fatores. Note-se
que as agressões físicas em Santo André sugerem uma natureza menos “doméstica” do que nos
demais municípios, uma vez que em apenas 35% dos casos havia apenas um agressor.
122

Tabela 8 – Relação com os agressores por tipo de crime e cidade

Não conhecia os agressores Total SP RJ RE VI SA


Roubo 93 95 89 92 84 93
Agressão sexual 72 87 43 53 69 36
Agressão física 50 50 55 38 48 76
Média 53,75 58 46,75 45,75 50,25 68,33
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

O conhecimento ou não dos agressores pela vítima é uma maneira alternativa de investigar a
natureza do crime. Fica claro aqui que na grande maioria dos casos de roubo, autor e vítima não se
conhecem e que claramente não se trata de crime interpessoal. Mesmo assim, é relativamente
elevada em Vitória a proporção de vítimas de roubo que conhecia de alguma forma o algoz (16%).
Confirma-se aqui a sugestão de que as agressões físicas em Santo André têm caráter menos
doméstico, uma vez que em 76% dos casos a vítima não conhecia o agressor, diferentemente dos
casos de agressão sexual, onde o agressor era conhecido em cerca de 2/3 dos casos.
Nos casos de agressão sexual e principalmente física, fica evidente a conotação interpessoal:
motivo fútil, passional, doméstico, ou como quer que os chamemos. Em nada menos que metade dos
casos de agressão física, vítima e autor se conhecem.
Diferentemente da tabela anterior, aqui as médias sugerem que em Santo André e em São
Paulo os crimes ocorrem mais entre estranhos, ocorrendo o inverso em Recife.

Tabela 8a – Relação com os agressores por tipo de crime e renda


Não conhecia os agressores Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Roubo 81 96 97 96
Agressão sexual 41 100 70 57
Agressão física 22 51 52 56
Média 36 61,75 54,75 52,25
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Tabela 8b – Relação com os agressores por tipo de crime e escolaridade


Não conhecia os agressores até 1º grau 2º grau Superior

Roubo 86 93 97
Agressão sexual 68 69 92
Agressão física 22 50 62
Média 44 53 62,75
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Analisando conjuntamente os cruzamentos por renda e escolaridade, parece ser possível


dizer que, quanto maior a renda e a escolaridade, menor o grau de relacionamento entre vítima e
agressor, para todos os crimes analisados. Os crimes interpessoais ocorrem portanto principalmente
nos estratos sociais inferiores. Isto é especialmente marcante no caso das agressões físicas e
sexuais entre indivíduos de mais baixa renda e instrução: neste estrato, caso das agressões físicas,
em 78% dos casos vítima e agressor se conheciam.
123

Tabela 9 – Presença de arma no incidente por tipo de crime e cidade

Agressor tinha arma total SP RJ RE VI SA


Roubo 68 70 66 63 50 72
Agressão física 44 42 46 51 33 63
Agressão sexual 8 5 12 14 9 32
Média 30 29,25 31 32 23 55,67
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Outra característica ligada aos crimes interpessoais é o fato dos autores freqüentemente não
usarem armas para agredir ou ameaçar as vítimas. A tabela 9 confirma novamente a natureza
interpessoal de boa parte das agressões física e, principalmente, sexuais. Nestas últimas, apenas em
8% dos casos o agressor tinha algum tipo de arma, ao contrário do roubo, onde a arma aparece em
68% dos incidentes. Vitória surge como a cidade onde menos armas foram utilizadas para o
cometimento destes crimes, sugerindo mais uma vez a natureza ainda um tanto “doméstica” dos
crimes cometidos na cidade. Santo André, ao contrário, é a cidade com maior presença de armas nos
incidentes, mesmo nos casos de agressões físicas e sexuais, que tendem a não envolver armas nas
demais cidades, por serem crimes interpessoais.
124

Tabela 10 – Uso da arma por tipo de crime e cidade

Arma foi usada como ameaça total SP RJ RE VI SA


Roubo 94 95 93 91 91 95
Agressão física 88 91 90 76 73 100
Média 60,67 62 61 55,67 54,67 97,5
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Uma coisa a pesquisa deixa claro: quando a arma esta presente no incidente, ela é utilizada
para ameaçar a vítima. Foi o que ocorreu na quase totalidade dos roubos e na maioria das agressões
físicas. O uso da arma como ameaça parece ligeiramente mais freqüente em Santo André, São Paulo
e Rio, e menos nas demais cidades.
125

Tabela 11 – Seriedade do incidente por tipo de crime e cidade

Incidente muito sério Total SP RJ RE VI SA


Roubo/furto de automóveis 91 94 85 85 88 97
Roubo/furto de moto 83 93 62 100 100 86
Arrombamento 79 88 68 63 74 75
Agressão sexual 71 74 66 71 53 95
Roubo 66 76 50 59 85 78
Agressão física 65 63 65 69 74 75
Furto de algo dentro do carro 56 56 60 36 56 76
Tentativa de arrombamento 52 53 51 51 80 63
Furto 52 56 43 52 72 75
Roubo/furto de bicicleta 42 49 30 54 61 63
Depredação em automóvel 34 42 22 24 52 54
Média 57,58 62 50,17 55,33 66,25 76,09
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Os crimes contra o patrimônio envolvendo valores elevados – roubo e furto de veículos, por
exemplo - são percebidos por vezes pelas vítimas como mais sérios do que crimes como agressão
sexual ou física. Uma possível explicação para isso, como vimos, reside no fato de agressor e vítima
normalmente se conhecerem nestes últimos casos.
Voltando aos crimes contra o patrimônio, uma explicação adicional para a seriedade no caso
dos automóveis é que eles deixaram há muito de ser artigos de luxo e a vida e o trabalho das
pessoas muitas vezes depende deles, de modo que o roubo de um veículo pode trazer sérias
conseqüências financeiras para a pessoa e sua família.
Como quer que seja, os entrevistados de Santo André (76%), São Paulo (62%) e Vitória
(66,2%), sistematicamente atribuem mais “seriedade” aos incidentes criminais do que os moradores
do Rio de Janeiro (50,1%) ou Recife (55,3%). Isto pode talvez ajudar a entender porque a notificação
de crimes, como vimos na tabela 4, é maior em Santo André e Vitória (33,5%) e menor no Rio de
Janeiro (24,5%).
126

Tabela 11a – Seriedade do incidente por tipo de crime e renda


Incidente muito sério Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Roubo/furto de automóveis 90 84 91 96
Roubo/furto de moto 100 81 73 87
Arrombamento 69 83 67 94
Agressão sexual 63 78 51 73
Roubo 68 70 72 64
Agressão física 64 67 56 77
Furto de algo dentro do carro 38 67 53 65
Tentativa de arrombamento 44 53 45 59
Furto 58 46 50 55
Roubo/furto de bicicleta 48 45 27 48
Depredação em automóvel 13 42 33 37
Média 54,58 59,67 51,5 62,92
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Tabela11b – Seriedade do incidente por tipo de crime e escolaridade


Incidente muito sério até 1º grau 2º grau superior

Roubo/furto de automóveis 89 92 91
Roubo/furto de moto 69 83 100
Arrombamento 74 75 95
Agressão sexual 82 70 71
Roubo 60 69 62
Agressão física 22 70 71
Furto de algo dentro do carro 50 62 49
Tentativa de arrombamento 40 55 54
Furto 54 52 49
Roubo/furto de bicicleta 49 44 42
Depredação em automóvel 29 38 30
Média 51,5 59,17 59,5
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Embora não seja uma relação exatamente linear, os dados parecem indicar que o grau de
seriedade atribuída ao incidente cresce com a renda e a instrução, na maioria dos crimes arrolados.
Observe-se com a agressão física é muito mais “tolerada” entre aqueles de menor escolaridade:
apenas 22% qualificaram o ato como “muito sério”, porcentagem que sobe para 71% entre os
entrevistados com curso superior.
A violência assume assim um grau particular de seriedade para a elite, enquanto os estratos
inferiores – por razões culturais ou porque lidam com outras “violências”, como desemprego, má
qualidade de vida, etc. – tendem a amenizar a seriedade dos atos criminais.
127

Tabela 12 – relevância de auxílio a vítima por tipo de crime e cidade

Órgão para auxiliar vítima ajudaria muito total SP RJ RE VI SA


Agressão sexual 76 68 90 88 75 100
Agressão física 68 73 54 80 73 66
Roubo 64 73 52 62 63 68
Arrombamento 63 68 54 63 66 70
Média 54,2 56,4 50 58,6 55,4 76
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Em diversos países e mais recentemente em alguns estados brasileiros, têm sido criados
órgãos de auxílio às vítimas de determinados crimes. O CRAVI de São Paulo – centro de apoio e
referência às vítimas de violência, gerenciado pela Secretaria Estadual de Justiça – que atende aos
parentes das vítimas letais, fornecendo apoio jurídico e psicológico, é um exemplo da implementação
destes órgãos no país.
Os entrevistados entendem que tais órgãos são necessários especialmente para o auxílio às
vitimas de crimes que afetam a pessoa – agressões sexuais e físicas – mas também seriam bem
vindos nos casos de roubo ou arrombamento, que também deixam seqüelas nas vítimas, embora
menos duradouras. Órgãos deste tipo parecem especialmente bem quistos em Santo André (76%) e
Recife (58,6%) enquanto os cariocas são os mais céticos com relação a utilidade dos mesmos (50%).
128

Tabela 12a relevância de auxílio a vítima por tipo de crime e renda


Órgão para auxiliar vítima ajudaria muito Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Agressão sexual 75 80 77 70
Agressão física 81 70 64 64
Roubo 74 63 62 57
Arrombamento 61 60 70 66
Média 58,2 54,6 54,6 51,4
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Tabela 12b – relevância de auxílio a vítima por tipo de crime e escolaridade


Órgão para auxiliar vítima ajudaria muito até 1º grau 2º grau Superior

Agressão sexual 100 71 94


Agressão física 63 70 65
Roubo 62 68 58
Arrombamento 64 63 63
Média 57,8 54,4 56
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Os órgãos de auxílio a vítima são especialmente relevantes para os estratos inferiores de


renda e escolaridade, uma vez que eles contam com menos instrumentos para lidar com o incidente.
Os mais ricos e escolarizados podem lançar mão de uma série de estratégias – apoio familiar,
psiquiátrico, médico, seguro, etc. – que não estão ao alcance dos demais.
129

Tabela 13 – Sentimento de insegurança por tipo de crime e cidade

Questões: sentimento de Brasil SP RJ RE VI SA PN AR PT Tot.


insegurança ***
Probabilidade de ser vítima de 67 72 58 64 63 69 40,7 83,0 58 * 31 *
furto ou roubo nos próximos 12 * **
meses
Evitou locais ou pessoas por 57 54 61 63 59 52 - 65,5 - -
razões de segurança
Conversou sobre crime nas 35 30 42 41 41 33 - - - -
últimas 2 semanas
Sente-se muito inseguro ao andar 34 42 21 38 34 59 16,2 39,3 6 6
na vizinhança quando escurece
Soma: índice de insegurança 193 198 182 206 197 213
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
* probabilidade de ser vítima de arrombamento nos próximos 12 meses
** probabilidade de ser vítima de algum delito
*** total baseado nos países desenvolvidos que tomaram parte da pesquisa de vitimização em 2000

Tendo ou não sido vítimas de crimes nos últimos anos, os habitantes dos centros
metropolitanos brasileiros sentem-se bastante inseguros, mercê do crescimento da violência nas
últimas duas décadas. Dois terços julgam-se prováveis vítimas de algum furto ou roubo até o próximo
ano, 57 % afirma ter mudado de comportamento por razões de segurança e um terço dos
entrevistados sente-se inseguro na própria vizinhança e conversou sobre crimes nas últimas duas
semanas. A sensação de insegurança aparenta ser mais forte em Santo André – onde o próprio
prefeito da cidade foi vítima de seqüestro e homicídio meses antes - e Recife e menos no Rio de
Janeiro mas é um traço comum a todas as cidades pesquisadas.

Com relação aos demais países investigados, os níveis atuais de insegurança brasileiros só
são menores do que os níveis observados na Argentina. No Panamá – país em desenvolvimento
como Brasil e Argentina - Portugal e outros países desenvolvidos que tomaram parte na pesquisa de
2002, são bastante inferiores as porcentagens dos que “sentem-se inseguros ao andar na vizinhança
quando escurece”, única questão comum a todos os países.
130

Tabela 13a – Sentimento de insegurança por tipo de crime e renda


Questões: sentimento de insegurança Até 401/800 801/1600 Mais de
400 1600

Probabilidade de ser vítima de furto ou roubo nos 66 70 64 71


próximos 12 meses (muito provável e provável)
Evitou locais ou pessoas por razões de segurança 55 58 53 66
Sente-se muito inseguro ao andar na vizinhança 35 32 37 34
quando escurece
Soma: índice de insegurança 39 40 38,5 42,75
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Tabela 13b – Sentimento de insegurança por tipo de crime e escolaridade


Questões: sentimento de insegurança até 1º 2º Superior
grau grau

Probabilidade de ser vítima de furto ou roubo nos próximos 12 58 69 82


meses (muito provável e provável)
Evitou locais ou pessoas por razões de segurança 50 58 67
Sente-se muito inseguro ao andar na vizinhança quando 35 34 33
escurece
Soma: índice de insegurança 35,75 40,25 45,5
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

São os mais ricos e escolarizados os que mais se sentem inseguros pois, mesmo sem se
encaixar no perfil das vítimas de homicídio, são os alvos preferenciais dos crimes contra o patrimônio.
Se é verdade que todos parecem sentir-se inseguros ao andar na vizinhança pela noite, são os mais
ricos e escolarizados que mais modificaram seus hábitos por razões de segurança e os que mais
crêem na probabilidade de se tornarem vítimas de furto ou roubo.
131

Tabela 14 – Avaliação da Segurança por tipo de crime e cidade

Questões: avaliação da segurança Total SP RJ RE VI SA


Criminalidade no Estado está piorando comparando 82 83 84 78 72 90
com 5 anos atrás
Criminalidade no Brasil está piorando comparando 81 80 83 79 73 88
com 5 anos atrás
Criminalidade na cidade está piorando comparando 75 68 84 79 70 80
com 5 anos atrás
Problema mais importante do Brasil (Segurança / 64 66 59 67 60 60
Violência)
Problema mais importante na cidade (segurança / 64 62 68 62 68 60
violência)
Violência aumentou na vizinhança 41 40 42 45 47 58
Média 58,14 57 60 58,57 55,71 72,67
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Existe a percepção majoritária de que a criminalidade está aumentando, em todos os níveis


federativos. Como já foi relatado em pesquisas anteriores, quase sempre a violência nos “outros
locais” é percebida como pior do que no local próximo aonde se vive: assim, embora cerca de 80%
considerem que a violência esteja crescendo no país e no Estado, apenas 41% acreditam que a
violência aumentou na vizinhança. É plausível que a intensa divulgação de crimes pelos meios de
comunicação, trazendo quotidianamente para perto crimes que ocorrem em locais distantes seja a
maior responsável pelo fenômeno.
As médias evidenciam que se trata de um fenômeno uniformemente distribuído pelas regiões
analisadas, apesar de Santo André e Rio de Janeiro estarem acima da média e Vitória um pouco a
baixo. Embora o tema da pesquisa possa ter influenciado as respostas, é digno de nota que cerca de
2/3 dos entrevistados citaram a segurança e a violência como os problemas mais importantes
enfrentados pelo Brasil e pelas cidades atualmente, corroborando o que outras pesquisas de opinião
vêm encontrando.
132

Tabela 14a – Avaliação da Segurança por tipo de crime e renda


Questões: avaliação da segurança Até 401/800 801/1600 Mais de
400 1600

Criminalidade no Estado está piorando 81 82 80 88


comparando com 5 anos atrás
Criminalidade no Brasil está piorando 80 80 80 87
comparando com 5 anos atrás
Criminalidade na cidade está piorando 77 70 69 85
comparando com 5 anos atrás
Problema mais importante do Brasil (Segurança 70 68 66 62
/ Violência)
Problema mais importante na cidade 66 67 69 75
(segurança / violência)
Violência aumentou na vizinhança 41 38 38 51
Média 59,29 57,86 57,43 64
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Tabela 14b – Avaliação da Segurança por tipo de crime e escolaridade


Questões: avaliação da segurança até 1º 2º grau superior
grau

Criminalidade no Estado está piorando comparando com 5 80 83 85


anos atrás
Criminalidade no Brasil está piorando comparando com 5 78 81 84
anos atrás
Criminalidade na cidade está piorando comparando com 5 69 75 83
anos atrás
Problema mais importante do Brasil (Segurança / Violência) 67 68 60
Problema mais importante na cidade (Segurança / violência) 67 68 73
Violência aumentou na vizinhança 34 41 55
Média 56,43 59,43 62,86
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

A análise dos cruzamentos por renda e escolaridade indica que a percepção de que a
criminalidade está crescendo é especialmente forte nos estratos mais elevados que, como vimos
anteriormente, são proporcionalmente mais vitimados pelos crimes contra o patrimônio e os que
atribuem mais seriedade aos incidentes criminais. É possível que esta percepção tenha relação
também com a quantidade e tipo de informações sobre o crime e violência a disposição dos estratos
superiores, mas não existem nesta pesquisa elementos para avaliar esta relação.
133

Avaliações Sobre a Polícia

Tabela 15 – Satisfação com a polícia por tipo de crime e cidade

Satisfação com atuação Brasil SP RJ RE VI SA PT Total *


da polícia quando vítima de:
Agressão física 55 50 61 58 58 54 27 61
Roubo 44 35 60 46 45 50 38 59
Furto de algo dentro do carro 43 35 68 50 40 55 - -
Roubo/furto de automóveis 40 32 55 46 54 56 33 58
Arrombamento 24 9 47 24 51 54 27 66
Média 34,33 26,83 48,5 37,33 41,33 53,8 31,2 61
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002
* total de países desenvolvidos que participaram da pesquisa ICVS entre 1996 e 2000

A pesquisa perguntou às vítimas de certos crimes se ficaram ou não satisfeitas com relação a
atuação da polícia no incidente. Ressalte-se que já se tratam de pessoas que confiam de certa forma
na polícia, pois deram-se ao trabalho de registrar a queixa. Mesmo assim, em média, apenas um
terço das vítimas disseram-se satisfeitas com a atuação policial: note-se também que a satisfação
com a polícia é muito menor em São Paulo (26,8%) do que no Rio de Janeiro e Santo André, onde
cerca de metade das vítimas declarou-se satisfeita. Recorde-se que o atendimento nos Distritos
Policiais cariocas vem passando por grandes transformações, desde o início do programa Delegacia
Legal, do qual já fazem parte 60 Distritos da cidade.
Note-se também que a satisfação é maior no caso das agressões físicas – onde não
raramente agressor e vítima se conhecem – caso em que a atuação policial é bastante facilitada uma
vez que pode identificar e punir o autor. Lesão corporal culposa e dolosa de natureza leve estão
abrangidas pela lei 9099/95, que trata do juizado especial criminal, onde o procedimento é mais
célere e depende de representação, ou seja depende da vontade da vítima – fator que pode estar
contribuindo para o aumento da satisfação das vítimas destes crimes
A satisfação, por outro lado, é visivelmente menor nos casos de arrombamento, onde a
polícia é geralmente acionada por telefone e normalmente sequer comparece ao local do incidente
para fazer perícias ou investigações. Exceto o exame de corpo de delito que é feito na hora, os
demais exames e perícias levam muito tempo, principalmente quando são requisitados exames
complementares – mais comuns em lesão de natureza grave ou gravíssima. São em geral poucos
peritos, trabalhando numa estrutura rudimentar e sobrecarregados de casos. Há também o fato de
que os próprios moradores muitas vezes já alteraram as evidências.
A satisfação com a atuação da polícia no Brasil é bastante similar – em algumas cidades até
maior - à satisfação média observada em Portugal (31,2%), mas bastante inferior a média dos demais
países desenvolvidos (61%). Isto pode ajudar a entender porque a notificação de crimes é maior
nestes países.
134

Tabela 15a– Satisfação com a polícia por tipo de crime e renda


Satisfação com atuação Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600
da polícia quando vítima de:

Agressão física 91 40 59 51
Roubo 20 49 40 54
Furto de algo dentro do carro 37 26 29 43
Roubo/furto de automóveis 3 43 38 41
Arrombamento - 28 25 16
Média 37,7 31 31,83 34,17
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Tabela 15b– Satisfação com a polícia por tipo de crime e escolaridade


Satisfação com atuação até 1º grau 2º grau Superior
da polícia quando vítima de:

Agressão física 64 58 51
Roubo 60 39 58
Furto de algo dentro do carro 21 53 39
Roubo/furto de automóveis 26 41 44
Arrombamento - 34 13
Média 42,7 37,5 34,17
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Enquanto os estratos inferiores de renda e instrução estão satisfeitos com a atuação da


polícia nos casos de agressão física – lembre-se que a autoria é geralmente conhecida nestes casos,
especialmente neste estrato – os estratos superiores revelam-se mais satisfeitos especialmente com
a atuação policial envolvendo furtos e roubos de ou em automóveis.
135

Tabela 16 – Comparação entre serviços públicos por tipo de crime e cidade

Serviços no bairro (% bom) total SP RJ RE VI SA


Fornecimento de água 78 83 77 49 85 85
Abastecimento 67 71 64 53 76 75
Iluminação 58 60 54 58 80 76
Transporte coletivo 57 49 66 70 74 61
Serviço de limpeza 52 52 52 54 73 62
Rede de esgoto 51 55 50 27 64 71
Conservação das ruas 34 34 35 32 61 49
Atendimento médico 25 25 23 29 40 27
Diversão e lazer 22 20 26 21 40 17
Policiamento 21 24 16 19 38 19
Media 42,27 43 42,09 37,45 57,36 54,2
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

A pesquisa procurou comparar a avaliação dos serviços prestados pela polícia com os de
outros órgãos públicos estaduais ou municipais. Como em quase todas as ocasiões em que a
questão foi formulada, aqui também a polícia recebeu, no agregado, a pior avaliação: em São Paulo
só perde para os “locais de diversão e lazer” e nas demais cidades foi a última colocada no ranking.
Observe-se pelas médias que, de modo geral, a avaliação dos serviços públicos é bem mais positiva
em Vitória (57,3%) e Santo André (54,2%) e negativa em Recife (37,4%). Especificamente com
relação a polícia, ela recebe a pior avaliação comparada no Rio de Janeiro (16% de bom) e a melhor
em Vitória (38%).
136

Tabela 16a – Comparação entre serviços públicos por tipo de crime e renda
Serviços no bairro (% bom) Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Fornecimento de água 68 78 80 84
Abastecimento 58 64 73 75
Iluminação 58 60 58 55
Transporte coletivo 56 53 60 60
Serviço de limpeza 51 55 51 52
Rede de esgoto 42 52 55 55
Conservação das ruas 37 35 34 32
Atendimento médico 23 21 28 29
Diversão e lazer 19 19 24 30
Policiamento 20 22 20 22
Media 39,27 41,73 43,91 44,91
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Uma vez que o acesso aos bens públicos é maior nos estratos superiores de renda, é natural
encontrar um grau de satisfação maior nestes setores: de uma maneira geral, como revelam as
médias, quanto maior a renda familiar, maior a porcentagem de satisfeitos com os diferentes serviços
oferecidos no bairro. A exceção é o item “conservação das ruas” provavelmente devido ao fato dos
mais ricos fazerem uso mais intenso de automóveis e sentirem mais na pele o problema buracos do
que os pedestres.

Tabela 16b – Comparação entre serviços públicos por tipo de crime e escolaridade
Serviços no bairro (% bom) até 1º grau 2º grau superior

Fornecimento de água 79 78 77
Abastecimento 64 67 73
Iluminação 67 57 49
Transporte coletivo 58 55 61
Serviço de limpeza 56 52 50
Rede de esgoto 54 49 57
Conservação das ruas 40 32 35
Atendimento médico 27 22 31
Diversão e lazer 20 21 33
Policiamento 26 20 20
Media 44,64 41,18 44,18
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

O fenômeno, todavia, não se manifesta quando o analisamos por escolaridade, onde a


proporção de satisfeitos na média, é similar entre os três níveis, sendo mesmo ligeiramente superior
entre os que têm até 1 grau. Observe-se que, particularmente com relação ao policiamento, é neste
nível que se encontra a maior porcentagem dos satisfeitos (26% de bom).
137

Tabela 17 – Avaliação da polícia II por tipo de crime e cidade

Avaliação da polícia Brasil SP RJ RE VI SA PN AR PT Total


Polícia não faz um bom 61 59 65 58 51 55 51,9 51,6 47 22
trabalho para controlar o crime na
região
Polícia nunca passa pela rua 17 18 14 28 19 27 19
Média 39 38,5 39,5 43 35 41 35,3
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002
*** total baseado nos países desenvolvidos que tomaram parte da pesquisa de vitimização em 2000

A maioria dos entrevistados nas quatro capitais julga que a polícia não vem fazendo um bom
trabalho de controle do crime (61%, em média). A crítica ao trabalho policial é mais rigorosa no Rio de
Janeiro (65%) e menos em Vitória (51%), como já observamos também na tabela 16. Isto talvez
explique também porque a avaliação da segurança encontra seu pior nível no Rio e o melhor em
Vitória (tabela 14) e porque a notificação de crimes (tabela 4) é menor na primeira do que na
segunda.
Indicador alternativo da avaliação da polícia é a pergunta “quantas vezes a polícia passa pela
sua rua” pois já se observou que a resposta “nunca” é por vezes menos uma avaliação objetiva do
que uma resposta projetiva para checar o sentimento subjetivo com relação à polícia.
Como vimos ao interpretar os dados da tabela 15, a satisfação com o trabalho da polícia é
bem superior nos países desenvolvidos (somente 22% declararam que polícia não faz um bom
trabalho), quando comparados ao Brasil (61%), Panamá (51%) ou Argentina (51%), únicos países
latino-americanos a participarem do projeto ICVS recentemente.
138

Tabela 17a – Avaliação da polícia II por tipo de crime e renda


Avaliação da polícia Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Polícia não faz um bom 64 61 56 62


Trabalho para controlar o crime na região
Polícia nunca passa pela rua 4 6 7 9
Média 22,67 22,33 21 23,67
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Tabela 17b – Avaliação da polícia II por tipo de crime e escolaridade


Avaliação da polícia até 1º grau 2º grau superior

Polícia não faz um bom 53 64 59


Trabalho para controlar o crime na região
Polícia nunca passa pela rua 6 7 9
Média 19,67 23,67 22,67
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

O cruzamento por renda não indica a existência de diferenças relevantes entre os grupos,
enquanto o cruzamento com escolaridade sugere novamente que a avaliação da polícia é melhor
entre os menos escolarizados.
139

Políticas de Segurança Pública

Tabela 18a – políticas de segurança, por cidade


Reduzir o crime em grande parte: total SP RJ RE VI SA

Mais policiamento nas ruas 84 86 80 87 92 82


Sentenças mais longas 61 64 56 63 50 60
Média 72,5 75 68 75 71 71
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Tabela 18b – políticas de segurança, por cidade


Reduzir o crime em grande parte: total SP RJ RE VI SA

Programas sociais para jovens 75 74 76 81 87 74


Concorda com mais recursos para 69 65 74 66 77 70
prevenção
Controle sobre armas de fogo 83 83 81 85 88 82
Concorda que visão conjunta é 88 86 93 86 92 82
melhor que só prender
Restrição de violência na TV 40 34 47 48 51 32
Média 71 68,4 74,2 73,2 79 68
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Um dos objetivos principais da pesquisa foi o de averiguar em que medida a população


compartilha com os pressupostos filosóficos do PIAPS, qual sejam, de que as políticas públicas de
segurança devem ir além do aspecto meramente repressivo e lidar também, através da prevenção
primária e secundária, com as causas sociais, econômicas e culturais da violência.
A conclusão parece ser a seguinte: as intervenções preventivas encontram tanto ou mais
apoio na população do que as de caráter repressivo, embora estas últimas gozem de ampla
popularidade. Em suma, a população não as vê como excludentes mas como iniciativas
complementares: é preciso programas sociais para os jovens, mas também aumentar o policiamento;
dediquem mais recursos para a prevenção mas também aumentem as penas para os criminosos.
A preocupação com a violência e a segurança é tamanha que todas as iniciativas são bem
vindas, sejam de natureza preventiva ou repressiva.
Com relação as diferenças entre as capitais, destaque-se a menor adesão no Rio de Janeiro
e Vitória as políticas tradicionais de segurança (mais policiamento e sentença mais longas) e maior
adesão aos pressupostos preventivos. São Paulo aparece numa posição mais conservadora neste
campo. Santo André, cidade piloto do PIAPS, aparece com a menor porcentagem de respostas
favoráveis a prevenção.
140

Tabela 18a– políticas de segurança, por renda


Reduzir o crime em grande parte: Até 400 401/800 801/1600 Mais de
Concorda totalmente e em parte 1600

Concorda que visão conjunta é melhor que só 85 87 91 91


prender
Mais policiamento nas ruas 87 84 87 84
Controle sobre armas de fogo 84 84 83 85
Programas sociais para jovens 73 76 76 83
Concorda com mais recursos para prevenção 67 65 67 77
Sentenças mais longas 62 64 61 59
Restrição de violência na TV 42 40 36 43
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Os mais pobres são os que mais apoiam as políticas clássicas de segurança pública, como
mais policiamento nas ruas (87%) e sentenças mais longas para os criminosos (62%). Propostas
como controle sobre armas de fogo ou restrição de violência na TV não revelaram diferenças entre os
grupos. Em compensação, é nítida a maior adesão dos mais ricos as estratégias preventivas: quanto
maior a renda familiar, maior apoio a uma visão conjunta, a programas sociais para jovens e maior o
apoio a que mais recursos sejam destinados a prevenção. Isto significa que apoio a programas como
o Piaps encontrarão proporcionalmente maior adesão na elite e menor adesão entre as classes
populares, embora o apoio a prevenção seja generalizado.

Tabela 18b – políticas de segurança, por escolaridade


Reduzir o crime em grande parte: até 1º grau 2º grau Superior
Concorda totalmente e em parte

Concorda que visão conjunta é melhor que só prender 87 88 91


Mais policiamento nas ruas 86 84 80
Controle sobre armas de fogo 83 82 83
Programas sociais para jovens 75 73 86
Concorda com mais recursos para prevenção 65 67 81
Sentenças mais longas 60 63 55
Restrição de violência na TV 40 38 47
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

A leitura do cruzamento por escolaridade revela a mesma situação: menos escolarizados


apoiando medidas repressivas clássicas e mais escolarizados as estratégias preventivas. Destaque-
se o maior apoio a restrição de violência na TV entre os mais escolarizados.
141

Tabela 19 – estratégias de combate a violência, por cidade

Auxiliam a combater a violência total SP RJ RE VI SA


Cursos profissionalizantes gratuitos 96 95 99 98 98 96
Interação polícia / comunidade 95 94 95 97 97 96
Ronda policial 94 94 94 98 97 97
Serviços públicos: conselhos 93 92 95 96 97 94
Palestras em escolas 91 90 93 94 95 93
Palestras sobre os direitos e deveres 89 88 91 91 94 93
do cidadão
Locais de lazer e cultura 86 86 85 85 88 83
Delegacia próxima ao bairro 86 86 86 93 91 88
Base comunitária de policiamento 86 87 86 86 88 94
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

A análise desta tabela parece levar as mesmas conclusões da tabela anterior: tanto as
estratégias preventivas quanto as repressivas encontram respaldo no imaginário da população.
Observe-se que o item pior avaliado – base comunitária de policiamento - recebeu 86% de
“aprovação”, entendida aqui como estratégia que auxilia e portanto deveria ser adotada. Em todo
caso, fica clara a percepção de que as medidas preventivas, para a população, têm um papel a
cumprir no combate a criminalidade.
A dissecação dos resultados por renda e escolaridade sugere não haver discrepâncias de
opinião quanto ao potencial destas diversas estratégias de combate a violência, que são bem vistas
em todas as classes de renda e escolaridade.
142

Tabela 20 – causas da criminalidade, por cidade

Causas da criminalidade (contribui total SP RJ RE VI


bastante)
Ócio entre os jovens 75 76 72 76 76
Falta de emprego e renda 73 74 71 73 77
Falta de confiança na Justiça 69 69 68 66 73
Falta de policiamento 68 69 64 72 68
Falta de confiança na polícia 65 65 64 64 66
Falta de escolas e creches 56 56 53 68 65
As condições de vida nas favelas 53 53 54 56 61
As condições de atendimento médico 21 21 19 27 34
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

A população apoia as estratégias preventivas por uma razão muito simples, que se
depreende da leitura dos dados acima: as causas sociais – ócio entre os jovens, falta de emprego e
renda – estão entre as principais responsáveis pela criminalidade. Mas, novamente, parte do
problema é derivado da ausência de políticas específicas no sistema de justiça criminal: falta de
confiança na justiça, na polícia e falta de policiamento. Observe-se que nem todos os setores sociais
– por exemplo, saúde – são diretamente relacionados na visão popular com a questão da
criminalidade.
143

Tabela 20a 1 – causas sociais da criminalidade, por renda


Causas da criminalidade (contribui bastante) Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Ócio entre os jovens 74 76 74 75


Falta de emprego e renda 72 73 70 76
Falta de escolas e creches 57 53 56 58
As condições de vida nas favelas 50 52 57 56
As condições de atendimento médico 21 20 20 21
Médias 45,67 45,67 46,17 47,67
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Tabela 20a 2 – causas não sociais da criminalidade, por renda


Causas da criminalidade (contribui bastante) Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Falta de confiança na Justiça 69 70 67 69


Falta de policiamento 70 68 70 68
Falta de confiança na polícia 66 68 62 64
Médias 51,25 51,5 49,75 50,25
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

As diferenças aqui são sutis mais ainda assim perceptíveis: os entrevistados de menor renda
familiar tendem a atribuir a criminalidade menos a causas sociais e mais a problemas relativos ao
funcionamento do sistema de justiça criminal (polícia e justiça). O inverso ocorre entre os
entrevistados de renda elevada.
144

Tabela 20b.1 – causas sociais da criminalidade, por escolaridade

Causas da criminalidade (contribui bastante) até 1º grau 2º grau superior

Ócio entre os jovens 74 74 80


Falta de emprego e renda 69 73 77
Falta de escolas e creches 54 56 57
As condições de vida nas favelas 46 54 65
As condições de atendimento médico 21 19 27
Média 44 46 51
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Tabela 20b.2 – causas não sociais da criminalidade, por escolaridade


Causas da criminalidade (contribui bastante) até 1º grau 2º grau superior

Falta de confiança na Justiça 67 68 72


Falta de policiamento 67 68 69
Falta de confiança na polícia 69 64 63
Média 50,75 50 51
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Com relação a escolaridade, pode-se dizer que a atribuição a causas sociais cresce com a
escolaridade (44% entre os que tem até 1 grau versus 51% entre os que em curso superior), embora
o mesmo não seja verdadeiro com relação as causas ligadas ao funcionamento do sistema de justiça
criminal.
145

Tabela 21 – responsabilidade pela criminalidade, por cidade

Principal responsável pela total SP RJ RE VI SA


criminalidade
Tráfico de drogas 32 35 27 31 37 31
A pobreza do país 28 27 30 30 27 27
A crise econômica 19 18 22 18 20 21
Justiça pouco rigorosa 14 15 14 14 11 14
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Numa questão de múltipla escolha onde os entrevistados eram instados a escolher os


principais responsáveis pela criminalidade, o tráfico de drogas foi eleito como o principal, superando
mesmo a pobreza do país. O Rio de Janeiro – onde a atuação do tráfico é intensa – foi curiosamente
a única cidade onde “pobreza” supera “tráfico”. Os moradores de Vitória foram os que mais
mencionaram o tráfico e os do Rio de Janeiro os que menos citaram a alternativa. A crise econômica
atual e a Justiça pouco rigorosa são responsabilizados em menor medida que as duas primeiras
alternativas.
146

Tabela 21a – responsabilidade pela criminalidade, por renda


Principal responsável pela criminalidade Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Tráfico de drogas 37 34 34 23
A pobreza do país 32 27 23 30
A crise econômica 15 19 21 19
Justiça pouco rigorosa 9 13 16 21
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Tabela 21b – responsabilidade pela criminalidade, por escolaridade


Principal responsável pela criminalidade até 1º grau 2º grau superior

Tráfico de drogas 36 32 24
A pobreza do país 28 28 30
A crise econômica 18 19 20
Justiça pouco rigorosa 11 15 18
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

A pobreza do país e a crise econômica são por todos responsabilizadas pela criminalidade no
país, independentemente de renda ou escolarização. Mas, enquanto os mais pobres e menos
instruídos dão ênfase ao tráfico de drogas, os mais ricos e escolarizados responsabilizam antes a
Justiça pouco rigorosa pela criminalidade.
147

Conhecimento sobre o PIAPS e seus projetos

Tabela 22 – Conhecimento dos Programas, por cidade


Conhecimento total SP RJ RE VI SA
Não sabe / não lembra de nenhum 69 53 80 80 71 -
projeto do PIAPS
Não sabe / não lembra de nenhum 52 38 59 61 64 -
projeto do PNSP
Já ouviu falar do PNSP 18 12 29 20 19 5
Já ouviu falar do PIAPS 5 4 7 6 7 1
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Constituindo-se num sub-item do Plano Nacional de Segurança Pública e tendo iniciado de


forma mais intensa apenas em 2002, sem grande estardalhaço e sem estar vinculado a alguma
“crise” no setor, é natural que seja pequena a porcentagem de entrevistados que afirmam já ter
ouvido falar do PIAPS: na média das capitais, apenas 5% ouviram falar do Plano, porcentagem
ligeiramente superiores sendo encontradas no Rio de Janeiro e Vitória. Note-se que Santo André,
cidade selecionado como Piloto pelo PIAPS, é a cidade com menor proporção de entrevistados que já
ouviram falar do mesmo. O próprio Plano Nacional de Segurança Pública e muito menos conhecido
ali do que alhures.
O Plano Nacional de Segurança Pública, por outro lado, além de dois anos mais antigo, foi
amplamente divulgado nos meios de comunicação desde o seu lançamento, vinculado ao episódio do
seqüestro do ônibus 174 no Rio de Janeiro. O nível de conhecimento do PNSP é portanto bem
superior ao do PIAPS (18% em média), e principalmente no Rio de Janeiro (29%) onde ocorreu o
seqüestro do 174, embora ainda pouco conhecido em São Paulo.
De uma maneira geral, pode-se dizer que ambos os programas são ainda pouco conhecidos,
o que pode ser visto adicionalmente pela larga parcela de entrevistados que foi incapaz de mencionar
algum dos 124 itens do PNSP (52%) ou algum dos 49 programas ligados ao PIAPS (69%). Mesmo
entre os que citaram algo, freqüentemente a citação estava errada, como pode ser averiguada na
análise das respostas abertas.
148

Tabela 22a – Conhecimento dos Programas, por renda


Conhecimento Até 401/800 801/1600 Mais de
400 1600

Não sabe / não lembra de nenhum projeto do 49 68 74 84


PIAPS
Não sabe / não lembra de nenhum projeto do 54 46 51 56
PNSP
Já ouviu falar do PNSP 13 14 20 31
Já ouviu falar do PIAPS 6 5 6 4
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Tabela 22b – Conhecimento dos Programas, por escolaridade


Conhecimento até 1º grau 2º grau Superior

Não sabe / não lembra de nenhum projeto do PIAPS 73 63 89


Não sabe / não lembra de nenhum projeto do PNSP 69 53 43
Já ouviu falar do PNSP 9 17 37
Já ouviu falar do PIAPS 5 6 5
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Os estratos superiores de renda e educação conhecem o Plano Nacional de Segurança


Pública mas não o Piaps. Por outro lado, os programas que fazem parte do PIAPS são muito mais
lembrados pelos indivíduos de menor renda e instrução. Mas ainda que podendo citar programas que
fazem parte do Piaps, não os associam ao mesmo.
149

Tabela 23 – Conhecimento do PIAPS, por programa e cidade


Já ouviu falar do programa total SP RJ RE VI SA
Bolsa escola 87 82 94 98 91 -
Centro comunitário 66 62 69 78 81 71
Agente comunitário de saúde 59 56 57 82 75 -
Paz nas escolas 53 45 62 69 52 48
Saúde da família 52 47 57 65 68 -
Erradicação do analfabetismo 49 39 63 61 53 53
Transporte do escolar 49 58 38 29 48 57
Esporte solidário 40 27 58 53 45 36
Morar melhor 38 30 52 36 32 28
Balcão de direitos 35 29 45 34 37 37
CIC 33 29 39 36 44 31
Brinquedoteca 27 31 21 23 24 27
PRÓ-INFRA 26 24 28 29 29 25
Livro aberto 16 14 22 12 19 13
Média 42 38,2 47 47 46,53
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Embora o PIAPS não seja conhecido da população, é interessante notar que diversos
programas que o compõem o são, pois, em média, 42% dos entrevistados disseram já ter ouvido falar
de algum dos programas listados, com São Paulo (38,2%) jogando a média geral para baixo. Bolsa
escola é de longe o mais conhecido de todos pois existe com o mesmo nome em diversos locais e
níveis de governo. O programa menos conhecido é Livro Aberto, mencionado por 16% dos
entrevistados, mais do triplo da porcentagem dos que já tinham ouvido falar no PIAPS. O desafio do
PIAPS, portanto, em termos de conhecimento, é conseguir fazer com que a população saiba que os
projetos chegaram especificamente até aquele local, em parte por intermédio do PIAPS, que articula
com os ministérios a implementação nas “áreas prioritárias”.
Para interpretar corretamente as respostas de “conhecimento” é preciso fazer uma nota
metodológica: diversas pesquisas já observaram que as respostas em geral são infladas, pois os
respondentes, com vergonha em assumir que “desconhece” ou “nunca ouviu falar” em algo, tende a
afirmar o contrário. Mas se é possível questionar a magnitude das respostas, a ordem geral, todavia,
continua válida, pois o problema da inflação de respostas afeta a todas igualmente. Mesmo que os
níveis de “conhecimento” estejam superestimados, é certo que Bolsa Escola é mais conhecido que
Livro Aberto, e assim por diante.
A comparação com Santo André ficou prejudicada uma vez que a lista de programas
apresentada aos entrevistados no município foi ligeiramente modificada. Merece menção em Santo
André a lembrança de programas locais como defesa dos direitos do consumidor (76%) e defesa civil
(54 %); modernização da guarda municipal (35%) e capacitação da guarda municipal (30%), bem
como o programa denominado Educação especial (25%).
150

Tabela 23a – Conhecimento do PIAPS, por programa e renda


Já ouviu falar do programa Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Bolsa escola 88 86 88 91
Centro comunitário 62 68 68 69
Agente comunitário de saúde 58 57 61 64
Paz nas escolas 54 52 56 55
Saúde da família 54 48 57 58
Erradicação do analfabetismo 45 45 50 63
Transporte do escolar 48 49 49 51
Esporte solidário 32 35 45 53
Morar melhor 34 38 42 41
Balcão de direitos 31 32 39 43
CIC 30 30 36 41
Brinquedoteca 20 29 26 33
PRÓ-INFRA 21 24 30 32
Livro aberto 16 13 20 21
Média 39,53 40,4 44,47 47,67
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Tabela 23b – Conhecimento do PIAPS, por programa e escolaridade


Já ouviu falar do programa até 1º grau 2º grau superior

Bolsa escola 83 87 96
Centro comunitário 62 66 70
Agente comunitário de saúde 53 58 70
Paz nas escolas 46 54 59
Saúde da família 52 49 64
Erradicação do analfabetismo 44 46 70
Transporte do escolar 53 46 52
Esporte solidário 30 40 54
Morar melhor 37 38 39
Balcão de direitos 34 33 47
CIC 34 31 43
Brinquedoteca 24 25 40
PRÓ-INFRA 20 26 35
Livro aberto 13 17 21
Média 39 41,07 50,67
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Embora as camadas mais pobres tenham podido citar programas ligados ao Piaps e as mais
abastadas não, quando os nomes dos programas são apresentados aos entrevistados o fenômeno se
inverte. De modo quase sempre linear, em quase todos os programas, o conhecimento dos mesmos
aumenta com a renda e a escolaridade. (ou então cresce a vergonha de assumir que não conhece o
programa)
151

Tabela 24 – Existência do Programa, por tipo de programa e cidade

Existe aqui total SP RJ RE VI


Centro comunitário 56 47 61 83 93
Bolsa escola 55 41 66 86 84
Agente comunitário de saúde 55 49 50 94 90
Paz nas escolas 53 40 63 69 73
Esporte solidário 47 27 58 64 74
Erradicação do analfabetismo 45 42 45 61 54
Transporte do escolar 45 44 49 35 58
Saúde da família 45 40 41 75 83
Balcão de direitos 39 26 48 57 76
Morar melhor 39 25 48 58 68
Livro aberto 36 31 39 47 66
CIC 35 24 41 60 75
Brinquedoteca 32 26 38 58 62
PRÓ-INFRA 27 19 29 61 66
Médias 40,6 32,07 45,07 60,53 68,13
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

A tabela 24 revela que há uma clara relação entre a existência do programa e seu
conhecimento pela população, uma vez que a ordem em que os programas são listados aqui é
bastante similar a da tabela de conhecimento. Se isto estiver correto, o grau de conhecimento de um
programa dependeria menos de sua divulgação e promoção na média e mais de sua efetiva
implementação local.
Lembre-se aqui que a pergunta sobre a “existência” dos programas foi feita apenas para
aqueles que disseram ter ouvido falar do programa e que portanto a base para o cálculo das
porcentagens não é a mesma da pergunta anterior. Isto explica o fato de que, em alguns itens, a
porcentagem dos que responderam que o problema “existe” ser maior do que a porcentagem dos que
“ouviram falar” do programa.
Os dados precisam ser lidos com cuidado, pois também são afetados pela “inflação” de
respostas dos que não admitem parecer ignorantes frente ao pesquisador. Uma forma de corroborar
ou refutar a informação seria tentar determinar em que cidades os programas foram mais
intensamente implementados. Verificando ainda que precariamente, por exemplo, se, tal qual a
pesquisa sugere, a implementação foi maior em Vitória (68%) e Recife (60,5%) e menor em São
Paulo (32%)
152

Tabela 25 – Participação nos programas, por programa e cidade


Alguém participa ? total SP RJ RE VI
Agente comunitário de saúde 28 40 7 29 31
Saúde da família 24 35 10 22 27
Paz nas escolas 20 30 15 15 14
Livro aberto 19 37 5 9 11
Brinquedoteca 16 23 8 11 6
Centro comunitário 16 24 8 12 19
Bolsa escola 11 14 10 10 6
CIC 11 20 6 9 10
Transporte do escolar 10 11 8 3 4
Morar melhor 9 19 5 2 2
Esporte solidário 9 22 5 9 7
Erradicação do analfabetismo 7 7 7 8 6
Balcão de direitos 6 13 3 2 4
PRÓ-INFRA 6 13 2 2 3
Média 12,8 20,53 6,6 9,53 10
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

A base utilizada para o cálculo das porcentagens desta tabela foram os entrevistados que já
tinham ouvido falar no programa, sabiam da existência dele no local e participavam (ou algum
familiar) de alguma forma nele.
Como seria natural esperar, a quantidade dos que participam ou tem alguém da família que
participa nos diversos programas é bastante inferior aos que o conhecem: em média, 13% dos
entrevistados afirmaram tomar parte em pelo menos um dos programas, aparecendo os dois
programas da área da saúde como os mais difundidos em todas as cidades, exceto Rio de Janeiro.
Note-se que os entrevistados de São Paulo são os que mais relatam participação nos programas,
com médias duas vezes maiores que em Vitória e Recife e três vezes maior do que a dos cariocas.
Livro-Aberto, Brinquedoteca e CIC estão entre os que mais alcançam os entrevistados
segundo esta tabela, mesmo sendo pouco conhecidos de acordo com as tabelas anteriores.
153

Tabela 25a – Participação nos programas, por programa e renda


Alguém participa ? Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Agente comunitário de saúde 39 34 24 13


Saúde da família 36 23 20 18
Paz nas escolas 21 21 27 13
Livro aberto 38 10 14 14
Brinquedoteca 14 18 8 19
Centro comunitário 22 16 14 14
Bolsa escola 22 10 8 6
CIC 10 7 21 5
Transporte do escolar 13 7 12 11
Morar melhor 2 7 15 8
Esporte solidário 15 5 5 13
Erradicação do analfabetismo 13 6 4 7
Balcão de direitos 4 4 8 3
PRÓ-INFRA 3 3 7 12
Média 16,8 11,4 12,47 10,4
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Tabela 25b – Participação nos programas, por programa e escolaridade


Alguém participa ? até 1º grau 2º grau Superior

Agente comunitário de saúde 36 29 12


Saúde da família 28 26 12
Paz nas escolas 12 24 16
Livro aberto 20 19 15
Brinquedoteca 18 17 13
Centro comunitário 13 18 11
Bolsa escola 15 12 4
CIC 4 14 8
Transporte do escolar 7 12 7
Morar melhor 11 7 12
Esporte solidário 5 10 11
Erradicação do analfabetismo 7 7 6
Balcão de direitos 4 8 3
PRÓ-INFRA 6 6 7
Média 12,4 13,93 9,13
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Os programas sociais do governo – 49 dos quais fazem parte do Piaps – são voltados
preferencialmente para as camadas mais desfavorecidas da população. As tabelas sugerem que os
programas estão atingindo seu alvo, pois a participação ou utilização de cada programa cai
linearmente conforme aumentam a renda e a instrução do entrevistado.
154

Tabela 26 – Opinião sobre o potencial preventivo, por programa e tipo de cidade

Ajudam a prevenir a violência ? Total SP RJ RE VI SA


Paz nas escolas 75 74 75 82 87 76
Erradicação do analfabetismo 74 72 77 78 84 72
Bolsa escola 73 72 73 75 78 -
Esporte solidário 71 70 72 75 84 72
Centro comunitário 71 72 67 75 82 74
Morar melhor 68 67 70 69 77 71
Brinquedoteca 66 71 57 68 72 70
Transporte do escolar 61 67 50 62 72 68
Livro aberto 60 61 58 58 70 67
CIC 59 58 60 57 75 63
Balcão de direitos 57 56 59 56 76 60
Agente comunitário de saúde 57 56 54 66 70 -
PRÓ-INFRA 57 56 57 55 72 66
Saúde da família 55 55 53 62 71 -
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Como já visto na tabela 20, comparativamente, a população não vê tanto potencial preventivo
nos programas ligados a área da saúde, embora mesmo aí metade dos entrevistados tenham visto
algum potencial. Em contrapartida, os três primeiros programas mencionados têm relação com
educação, ficando evidente a associação que a população faz entre potencial preventivo e a
escolarização. Observe-se que em Vitória é bastante superior a porcentagem dos que vêem nos
programas do PIAPS um potencial de prevenção ao crime. Em Santo André, cidade piloto do
programa, a percepção do potencial de prevenção ao crime nestes programas é ligeiramente superior
a média nacional.
155

Tabela 26a – Opinião sobre o potencial preventivo dos programas, por programa e renda
Ajudam a prevenir a violência ? Até 400 401/800 801/1600 Mais de 1600

Paz nas escolas 74 74 78 78


Erradicação do analfabetismo 73 72 78 80
Bolsa escola 73 72 74 75
Esporte solidário 67 69 76 76
Centro comunitário 69 69 75 75
Morar melhor 67 65 73 73
Brinquedoteca 65 63 70 70
Transporte do escolar 64 60 63 59
Livro aberto 54 58 68 63
CIC 54 57 62 64
Balcão de direitos 59 54 60 60
Agente comunitário de saúde 58 53 59 60
PRÓ-INFRA 53 52 63 64
Saúde da família 58 50 56 61
Média 59,2 57,87 63,67 63,87
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI –2002

Tabela 26b – Opinião sobre o potencial preventivo, por programa e escolaridade


Ajudam a prevenir a violência ? até 1º grau 2º grau superior

Paz nas escolas 73 75 80


Erradicação do analfabetismo 66 75 84
Bolsa escola 73 71 77
Esporte solidário 62 71 84
Centro comunitário 66 70 80
Morar melhor 64 68 78
Brinquedoteca 63 65 73
Transporte do escolar 64 60 60
Livro aberto 54 60 67
CIC 59 57 67
Balcão de direitos 56 57 63
Agente comunitário de saúde 55 56 61
PRÓ-INFRA 54 55 67
Saúde da família 56 53 61
Média 57,67 59,53 66,8
Fonte: Pesquisa de Vitimização Ilanud / FIA / GSI -2002

Com exceção do programa “transporte do escolar”, a percepção de que os diversos


programas ajudam a prevenir a violência cresce conforme aumenta a renda familiar e escolaridade do
entrevistado. Novamente, portanto, encontramos uma visão mais favorável as iniciativas de cunho
preventivo entre as camadas mais ricas e escolarizadas da população.
156

BASE NACIONAL DE ESTATÍSTICAS CRIMINAIS – ANÁLISE E AVALIAÇÃO Recomendações de


detalhamento e aperfeiçoamento da base de dados. Gláucio Soares, Leonarda Musumeci,
Doriam Borges, Simone Rodrigues e Gonçalo Fraga

Este artigo sugere medidas de coleta, elaboração e apresentação dos dados que melhorarão a
sua qualidade, a sua compreensão e o seu poder analítico. A melhoria na compreensão gera
sugestões para políticas públicas que possam reduzir o número de vítimas e de mortes.

1 - Município de Ocorrência, Município de Residência e Município de Falecimento

Os dados da SENASP e das Secretarias de Segurança e de Saúde teriam muito a ganhar em


precisão se adotassem a prática de cruzar separadamente as ocorrências para a população
residente. A razão para isso deriva do fato de que, na maioria das capitais, há uma população
significativa que vive em municípios vizinhos, mas trabalha, vai à escola, se diverte e participa de
outras atividades. A partir da Teoria dos Encontros, cada uma dessas atividades aumenta a
probabilidade de que essa população cometerá um crime, ou será vitimizada por alguém, no local em
que as atividades se realizam, ou no trajeto entre elas e a residência. Já em 1999 43, analisando
dados relativos ao Distrito Federal, Soares advertia que esse deslocamento aumentava artificialmente
as taxas relativas aos municípios da maioria das capitais:

2 - As Áreas Metropolitanas

A formação de grandes áreas metropolitanas que não obedecem às antigas divisões


administrativas gerou novos problemas para a Criminologia. O Distrito Federal, por exemplo, reproduz
uma situação que também caracteriza outras metrópoles latino-americanas: ele faz parte de uma
vasta área metropolitana que se estende além dos limites da cidade (e, no caso do Distrito Federal,
da unidade da Federação), chamado O Entorno44. Há, no Entorno cidades que administrativamente
pertencem a dois estados, Minas Gerais e Goiás, particularmente o último. Parte considerável do
Entorno funciona como um dormitório para uma população que trabalha e se diverte no Distrito
Federal45. O crescimento demográfico do Entorno é explosivo (5,8% entre 1991 e 1996), muito mais
alto que o do Distrito Federal que, por sua vez, é considerado alto. Diferentes projeções informam que
a população do Entorno superará a do Distrito Federal em poucas décadas; a hipótese média nos diz
que a superação se dará em 2025. Uma das previsões para 2000 é de quase um milhão e duzentas
mil pessoas vivendo no Entorno. Parte significativa desta população trabalha no Distrito Federal. Uma
estimativa grosseira, baseada no cálculo feito pelo Ministério do Trabalho, nos diz que a força de
trabalho no Distrito Federal é de 900 mil. Porém, a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego)
somente encontrou cerca de 700 mil residentes no Distrito Federal que estão na força de trabalho, o
que deixa 200 mil por explicar, que seriam os residentes no Entorno.
O Entorno acarreta um problema metodológico sério: seus residentes entram nas estatísticas
da Secretaria de Segurança do Distrito Federal como vítimas e como homicidas, mas não entram na
base populacional. Entram no numerador, mas não no denominador da violência e dos problemas
sociais. O Entorno responde por 27% das crianças e adolescentes encontrados nas ruas do Distrito
Federal - residem no Entorno, mas são computados como meninos de rua no Distrito Federal.
Evidentemente, também há um movimento populacional na direção oposta, mas, como os centros de
emprego, educação, atendimento médico e diversão estão no Distrito Federal e não no Entorno, o
movimento do Entorno para o Distrito Federal é mais volumoso.
A formação de metrópoles e megalópoles coloca novos problemas para o pesquisador: as
populações já não passam a quase totalidade das horas da sua vida na unidade político-
administrativa de residência, em geral uma cidade. Eles vivem numa cidade e trabalham noutra; às
vezes, se divertem numa terceira. Um cálculo mais detalhado computaria o número de horas
passadas em cada unidade, possivelmente especificando-as para o tipo de atividade. Essa
especificação é importante, a partir dos supostos intuitivos, parte da Teoria dos Encontros, de que
ninguém pode assaltar ou ser assaltado onde não está e que a probabilidade de ser criminoso ou

43
Soares, G. A. D. Homicídios no Brasil: Factóides em Busca de uma Teoria, 2000.
44
Há, pelo menos, duas definições do Entorno: o Entorno Legal inclui um grande número de municípios, alguns
dos quais localizados a mais de 300 kms do Distrito Federal; outra, mais restrita, inclui apenas os municípios
adjacentes ao Distrito Federal.
45
A diversão se concentra nos fins de semana e nos horários noturnos, quando ocorre alta percentagem dos
homicídios e dos crimes.
157

vítima num local aumenta com o tempo passado no mesmo. Nessa metodologia, às cidades-
dormitório, às quais, hoje, é creditada a totalidade da população que reside nelas, seria creditada
apenas uma fração do total de horas vividas.
Empiricamente, o impacto do Entorno foi medido de duas maneiras:
o a condição de RA limítrofe com o Entorno, uma variável “dummy” – não tem
limite/tem limite – e
o a proximidade da principal área habitada do limite com o Entorno – não tem limite/tem
limite, área distante do Entorno/tem limite, área habitada próxima do Entorno. Este
pequeno detalhamento pode ser útil porque o limite é um conceito geográfico e os
fenômenos de que tratamos são populacionais.

A vizinhança em relação ao Entorno capta, imperfeitamente, várias “noções”:


o a proximidade favorece o deslocamento populacional na direção do Entorno para a
RA e, portanto, aumenta a sua base populacional e a probabilidade de um
incremento absoluto do número de homicídios, sem aumentar o denominador
populacional sobre o qual se computam as taxas de homicídio;
o a proximidade favorece o deslocamento populacional na direção do Entorno para a
RA e, portanto, aumenta a sua base populacional e, conseqüentemente, maior
pressão sobre recursos limitados, inclusive ocupacionais, educacionais, policiais,
hospitalares etc que afetariam negativamente a população da RA, predispondo-a a
atos violentos;
o o Entorno representa uma cultura mais violenta e a interação com ela aumenta a
probabilidade de que a população da RA cometa atos violentos;
o a proximidade do Entorno significa, também, maior distância do centro do Distrito
Federal, onde são tomadas as decisões a respeito da alocação de recursos, seja no
nível estadual, seja no nível federal. Hipotetiza-ze que a proximidade dos centros
decisórios aumenta a probabilidade de obtenção de recursos e que estes recursos
diminuem a probabilidade de atos violentos.

Evidentemente, essas “noções”, mesmo se elevadas à categoria de hipóteses, não podem


ser empiricamente distinguidas uma das outras porque os seus indicadores são os mesmos. Para
distinguí-las seria necessária pesquisa primária usando indicadores diferentes e mais adequados.
As duas medidas de proximidade do Entorno se correlacionam positivamente com a taxa de
homicídios: quanto mais próxima a Região Administrativa, mais alta a taxa. Essa associação resiste à
introdução de uma série de controles. Dados recalculados a partir daqueles fornecidos pelo
DATASUS, possibilitam visualizar a relação entre residência e ocorrência e como, no caso descrito
acima, ela é assimétrica.
Gráfico 1 - Local de Residência e de Ocorrência das Vítimas de Homicídios
por Períodos de Tempo – Minas Gerais e Distrito Federal
50

40

30

20

10

0
1979-1984 1985-1990 1991-1996

Residiam em Minas Gerais e Morreram no DF Residiam no DF e Morreram em MG"

Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.


O impacto da proximidade dos municípios mineiros, com 220 mil habitantes, pode ser
aquilatado graficamente: o fato de que o número de residentes em municípios mineiros que morrem
assassinados no Distrito Federal seja consideravelmente maior do que o dos residentes no Distrito
Federal que são assassinados em Minas Gerais. Isso significa que o movimento maior é na direção
Minas Gerais para o Distrito Federal. Assim, nos três períodos analisados (1979-84; 1985-1990;
1991-1996), o total dos primeiros excedeu muito o total do últimos.
158

A população dos municípios goianos incluídos no Entorno Legal chegava, em 1996, a 690
mil; a taxa de crescimento da população do Entorno é superior à taxa de crescimento da população
do Distrito Federal, havendo a previsão de que ela superará a população do Distrito Federal em
poucas décadas. O Entorno como um todo representa, arredondando, quase metade da população
do Distrito Federal. Aqui, também, se verifica o mesmo fenômeno observado nos municípios mineiros
do Entorno: o número de goianos que morrem no Distrito Federal é muito maior que o de residentes
do Distrito Federal que morrem assassinados em Goiás. No último qüinqüênio analisado, o número
dos primeiros foi, aproximadamente, três vezes o dos últimos.
Gráfico 2 - Local de Residência e de Ocorrência das Vítimas
de Homicídios por Períodos de Tempo: Goiás e Distrito Federal
500

400

300

200

100

0
1979 a 1984 1985 a 1990 1991 a 1996

Residiam no DF e Morreram em Goiás


Residiam em Goiás e Morreram no DF

Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Esses dados confirmam que o Entorno – um conjunto de municípios, vários dos quais têm a
função de dormitórios para uma população que trabalha, estuda, obtêm tratamento médico e se
diverte, majoritariamente, no Distrito Federal – não pode ser ignorado nas análises da criminalidade
em geral, e do homicídio, em particular.

3 - O peso dos não-residentes

Os dados do SIM, mas não os dados policiais fornecidos à SENASP, possibilitam separar as
vítimas de homicídios dos residentes e dos não-residentes. Em alguns estados, a proporção dos
homicídios ocorridos na capital cujas vítimas residem fora dela atinge altas percentagens:
Tabela 1 - Percentagem das vítimas de homicídio mortas nos
municípios das capitais estaduais que residiam fora deles – 2000

Capital Estado % sobre o


total
Vitória ES 42%
Natal RN 39%
Recife PE 35%
Goiânia GO 31%
Aracaju SE 30%
Curitiba PR 26%
Porto Alegre RS 26%
Maceió AL 20%
Fonte: SIM/DATASUS. Palmas TO 20% Elaboração:
CESeC/UCAM.

Em Vitória, uma das cidades brasileiras com mais alta taxa de homicídios por 100 mil habs.,
nada menos de 42% das vítimas moravam fora do município. Quando incluímos esses 42% no total,
aumentamos, artificialmente, os dados relativos ao município de Vitória e diminuímos, artificialmente,
as taxas dos municípios próximos, de onde essa população provém.
São poucos os casos nos quais o número dos que residem na capital e morrem em outros
municípios é
o Significativa
o Maior que a dos que moram em outros municípios e morrem na capital.
159

Em Boa Vista, RR, 36% das vítimas de homicídio residiam na capital mas não morreram na
capital; em Rio Branco, a percentagem foi 19% e, em Manaus, 10%. As estatísticas de vitimização
por homicídio dessas cidades foram artificialmente reduzidas.
A informação pode ser melhorada, com benefício para as autoridades policiais e de saúde.
Ela deve diferenciar claramente entre
o Local de residência do(a) falecido(a);
o Local da ocorrência do crime;
o Local do falecimento da vítima.

Essas informações, fornecidas de maneira individualizada, permitirão diferenciar as


informações e recalcular taxas mais realistas. Além disso, é necessário tomar cuidado com o registro
de mortes hospitalares, devido a que, em vários estados do país, vítimas de violência (homicídios,
suicídios, acidentes) são levadas para os hospitais da capital, onde parte dos removidos falece.
Estatísticas baseadas no local do falecimento, incluindo o hospitalar, em detrimento do da ocorrência,
aumentam artificialmente as taxas dos locais onde os hospitais estão situados.
Evidentemente, caso nossa hipótese seja válida, deveremos encontrar uma correlação
negativa entre o saldo de mortos computados pelas Secretarias de Segurança Pública ou pela Polícia
menos os mortos computados pelas Secretarias de Saúde. Onde os números da Saúde forem mais
altos deveremos encontrar mais hospitais, indicando que há um número de pessoas que morreram no
município, mas foram vitimados em outros municípios; onde os números da Secretaria de Segurança
(e/ou da Polícia) forem mais altos do que os da Saúde, significa que as autoridades do município,
particularmente as polícias, registraram crimes cujas vítimas foram transportadas para outros
municípios e morreram lá. Como não morreram nos municípios onde foram vitimados, as secretarias
de saúde desses municípios não registraram as mortes dessas pessoas.
Os municípios que recebem feridos são, em média, maiores e menos numerosos do que os
municípios que enviam feridos para outros municípios:

Tabela 2 - Rio de Janeiro: comparação entre os dados do SIM e da Polícia Civil – 2000

População Número de População


SIM Polícia Diferença Total Municípios Média
Polícia maior que SIM 2.173 2.957 784 5.335.550 60 88.926
Polícia igual a SIM 3 3 0 16.027 2 8.014
Policia menor que SIM 5.856 5.418 438 89.97.293 10 899.729

Fontes: SIM/DATASUS e PCERJ. Elaboração: CESeC/UCAM.

A tabela acima confirma o que encontramos em outros estados: os municípios nos quais os
dados da polícia apresentam totais mais elevados são mais numerosos (sessenta contra dez), mas
têm menos população (na média, dez vezes menor). Isso significa que o cômputo baseado nos dados
do SIM penalizam os municípios maiores, elevando artificialmente o número de mortos.

Para melhorar esses dados foi necessário:


o Acesso aos dados por municípios;
o Acesso tanto aos dados do SIM (por local de ocorrência do óbito) quanto aos dados
da Polícia (por local de ocorrência do crime)
o Acesso aos dados sobre a população dos municípios
o Integração desses dados numa mesma base

Como esse conhecimento poderia ser útil? O conhecimento de quais são os municípios com
maior incidência de vítimas que são transportadas para fora do município pode justificar iniciativas
para a construção de centros de trauma e/ou hospitais nesses municípios, particularmente centros de
trauma especializados em tratamento de feridos à bala. Outros dados, a respeito da duração média
da remoção e atendimento dos feridos pode justificar medidas como equipar ambulâncias para
extensos tratamentos de emergência para os tipos de ferimentos mais comuns.
A acuidade dessas informações permitirá melhorias dramáticas. Atentemos para o fato de
que recalcular as taxas de Vitória levando em consideração apenas as vítimas residentes diminuiria
em 42% o numerador.
160

Essas medidas reduziriam muito as distorções, mas estariam longe de eliminá-las. A vítima é,
apenas, um dos termos da equação. Falta o autor. As taxas de uma região (estado, área
metropolitana, cidade ou bairro) podem ser artificialmente aumentadas devido à atuação de autores
de homicídio residentes fora dela. Como a taxa de resolução de homicídios no Brasil é baixa, sendo
baixíssima em alguns estados cidades, mesmo se tivéssemos a informação para os homicidas
apreendidos – que não temos – ainda teríamos os vieses provocados pelos homicidas não
apreendidos.
Essas são algumas considerações a respeito da melhoria de nossas estatísticas,
particularmente das taxas de homicídio por cem mil habitantes.

4 - Os ganhos com a apresentação simultânea de dados sobre gênero, idade e estado


civil.

Os dados referentes ao Rio de Janeiro mostram que, conhecendo o gênero, a idade e o


estado civil – dados constantes tanto dos Censos quanto dos registros de óbitos –, podemos
diferenciar a população em grupos de risco, que variam desde menos de 2 por 100 mil (exemplo:
mulheres casadas de 60 anos ou mais) até mais de 300 e até 400 por mil (exemplo: homens solteiros
de 20 a 50 anos). Esses resultados devem ser tomados com cuidado. Entre os problemas que o
pesquisador deve enfrentar, estão os seguintes:
O Rio de Janeiro, historicamente, tem o maior número de casos de mortes sem
intencionalidade conhecida. Muitos são vítimas de violência policial. Ignacio Cano, num excelente
esforço de pesquisa, analisou as mortes atribuíveis à polícia no Rio de Janeiro, de Janeiro de 1993 a
Julho de 1996, com validação cruzada de dados, usando quatro fontes diferentes. Foram 1.194
mortes46. Um número muito maior se refere à combinação homicídios legais e mortes violentas com
intencionalidade não determinada: foram 2.836 em 1995 e 1.527 em 1996, um total de 4.363 no
período estudado. Todos esses casos entraram na rubrica “Ignorado” das mortes violentas 47. Isso
significa que as mortes legais não entram na rubrica homicídios: legalmente, não o são, mas literal e
criminologicamente são. Essas mortes violentas – legais e com intencionalidade não determinada -
representam 29% dos homicídios tal como anotados pelo SIM. Em fins da década de 80 e início da de
90, quando essas mortes eram numericamente ainda mais elevadas, o vício introduzido nos dados
causava problemas irreparáveis.
Não obstante, os dados do Rio de Janeiro mostram, com relativa segurança, que:
o A primeira diferença é de gênero: os homens têm uma taxa de vitimização
substancialmente mais alta que a das mulheres, independentemente da idade e do
estado civil.
o A idade é uma variável fortemente associada ao risco de vitimização e, no Rio de
Janeiro, a faixa de 30 a 39 anos é a que apresenta maior risco em cinco das oito
colunas, sendo que a faixa de 40 a 49 é a com mais alta taxa de risco entre
divorciados e divorciadas, e entre mulheres casadas.
o Solteiros e solteiras apresentam mais alta taxa de risco em todos os grupos de idade.
o A combinação entre essas variáveis permite chegar a diferenças entre as taxas de
vitimização que atingem mais de 280 vezes entre a mais alta e a mais baixa, mesmo
excluindo a faixa de 14 a 19 anos.

Os dados relativos ao Distrito Federal confirmam os resultados obtidos no Rio de Janeiro e de


inúmeras pesquisas a respeito das relações entre idade e crimes violentos – as vítimas são jovens.
Escolhemos 1993 para mostrar que o fenômeno se repete. O ápice é atingido na faixa entre 20 e 24
anos, que são muito altas por padrões internacionais, perto de 80 por cem mil. Nas duas faixas
adjacentes – de 15 a 19 e de 25 a 29 –, elas decrescem para o nível próximo a 60 por cem mil. Elas
decrescem com a idade, sendo que as chances de uma pessoa de mais de 50 anos ser assassinada
no Distrito Federal é entre um quarto e um quinto das chances de um jovem de 20 a 24. Essas
relações são estáveis no tempo e, conhecendo as taxas por idade em 1991, poderíamos prever 87%
da variância das taxas por idade em 1993.
Não obstante, esses dados são muito influenciados pelo fato de que os dois gêneros não
estão separados. Quando os separamos e computamos as taxas específicas para cada gênero e
grupo de idade, emerge a grande disparidade entre os gêneros nas taxas de vitimização. As
diferenças são muito grandes até o grupo de 25 a 29 anos de idade, diminuindo depois disso. O pico
da vitimização feminina naqueles dois anos foi atingido entre os 30 e os 44 anos. Embora estejamos
trabalhando com as taxas médias de dois anos, o fato de utilizarmos dados absolutos que vão de 2 a

46
Ignacio Cano, The Use of Lethal Force by Police in Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, ISER, 1997.
47
Com a exceção de 3, que provavelmente foram perfurados erroneamente.
161

16 homicídios por grupo de idade de mulheres, exige uma certa precaução porque um homicídio a
mais nas faixas de 50 a 54 e de 55 a 59 aumentaria o total em 50%. A probabilidade de vitimização
por homicídio varia muito com o gênero e a idade, de um mínimo de 3,85, entre mulheres de 50 a 54
anos, a 134,42 entre homens de 20 a 24 anos, uma diferença que equivale a 35 vezes a outra.
Conhecendo o gênero e a idade, explicamos uma fatia importante da variância na vitimização por
homicídio no Distrito Federal.
Os dados relativos ao Distrito Federal também permitem analisar o efeito do estado civil
sobre a probabilidade de vitimização por homicídio. Usando os dados de mortalidade da Secretaria
de Saúde e os dados de população da PNAD de 1993, vemos que o grupo de mais alto risco é o de
solteiros, com uma elevada taxa de 40,8 por cem mil, seguido pelos casados, com 21,1 e pelos outros
grupos de estado civil, com 13,3. As combinações com o gênero e a idade repetem, num nível menos
violento, o encontrado no Rio de Janeiro. Esses resultados também condizem com o encontrado
internacionalmente. Não obstante, esse é um dado coletado com pouca atenção, com muitos erros e
muitos espaços em branco. Não há uma tentativa séria de buscar a informação e refiná-la.
A esses dados, deveríamos agregar os dados referentes ao local da ocorrência. O local varia
de acordo com o tipo de homicídio.
Comparativamente, as mulheres morrem mais em casa do que nos hospitais e do que nas
ruas. Trinta por cento das mulheres vítimas de homicídio morrem em casa, em comparação com onze
por cento das vítimas masculinas. Isso não quer dizer que morram mais mulheres em casa, vítimas
de homicídio, do que homens. Em 1993, no Brasil, morreram em casa 768 mulheres e mais de três
mil homens, quase quatro vezes mais. As diferenças no que concerne ao local do falecimento são
estatisticamente significativas no nível de 0,000. Os coeficientes de correlação Phi e de contingência
são razoáveis para esse tipo de dado. Os dados de 1993 mostram que, dez anos atrás, as relações
entre local da ocorrência e gênero eram íntimas.

Tabela 3 - BRASIL, 1993 - Significação das diferenças entre os


gêneros no que concerne ao local do falecimento
Estatística Grau de Valor Prob
Liberdade
2 6 810,002 0,000

2
Likelihood Ratio 6 656,562 0,000

Mantel-Haenszel  1 86,103 0,000


2

Coeficiente Phi 0,166


Coeficiente de Contingência 0,164
V de Cramer 0,117
Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

No que concerne ao estado civil, comparativamente, há mais solteiros entre os homens e


mais viúvas, separadas e “outros” entre as mulheres. Essas três categorias representam 12% das
vítimas femininas e 3% das masculinas. A participação dos casados é igual nos dois gêneros, 29%,
ao passo que os solteiros são mais números entre os homens (67%) do que entre as mulheres (59%).
As estatísticas indicam que as diferenças são altamente significativas (p <0,000) e os
coeficientes de correlação Phi e de contingência, de 0,11, também são razoáveis para esse tipo de
dado.

5 - Problemas de método: como distribuir as mortes violentas com intencionalidade


desconhecida?

Os dados sobre as mortes violentas que estão disponíveis nas diferentes fontes não estão
divididos somente em homicídios, suicídios e acidentes: há outras categorias, algumas delas
numerosas. São mortes violentas, mas não sabemos quantas delas são homicídios, ou suicídios ou
acidentes. Decresceram durante a década de 90. Eram muito mais numerosas no Rio de Janeiro.
Que percentagem dessas mortes deveríamos considerar homicídios?
Uma delas, por exemplo, se refere às mortes com armas de fogo e intencionalidade
desconhecida. Algumas são acidentes, outras são suicídios e terceiras podem ser homicídios.
Podem, também, camuflar mortes pela polícia. Se fossem aleatórias, uma percentagem constante
das mortes violentas, haveria menos problemas. Mas não o são. Eram perto de 1.500 por ano em
1979 e 1980, cresceram muito nos anos seguintes, atingindo 5.500 ao ano. Essas mortes estavam
muito concentradas no Estado do Rio de Janeiro.
162

Gráfico 3 – Mortes no Brasil com armas de fogo e intencionalidade desconhecida 1979 a 2000
6000
y = -24,7x2 + 98285x - 1E+08
R2 = 0,5479
5000

4000

3000

2000

1000
1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Mortes com Armas de Fogo e Intencionalidade Desconhecida


Soluçaõ Polinomial de Segundo Grau
Fontes: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Há dados sólidos, relativos ao Estado do Rio de Janeiro, que mostram como as diferenças
entre os dados da Secretaria de Segurança e os da Secretaria de Saúde podem ser explicadas, em
boa parte, pelo fato de que a primeira baseia sua informação no local da ocorrência do crime, ao
passo que a última baseia sua informação no local da ocorrência da morte. No meio, um elemento
que cria confusão: a migração das vítimas, transferidas do local do crime para os hospitais, onde
morrem. Se essas hipóteses são corretas, deverá haver mais mortes nos dados da SSP do que nos
da Saúde nos municípios pequenos, sem hospital, e o contrário deve ser verdadeiro para os casos
em que os dados da Saúde indicam mais mortes do que os da SSP. A Coluna Polícia-SIM mostra os
coeficientes de correlação, todos médios e médio-altos, e significativos. Porém, esses dados ainda
têm muitos ruídos, sendo preciso limpá-los. Na coluna Polícia - SIM com correções de Gláucio
Soares, ajustamos dados do SIM que não seriam computados, particularmente os “mortes violentas
com intencionalidade indeterminada”. Supondo que esses dados, juntamente com os dados
referentes a mortes cuja intencionalidade é conhecida, são amostra aleatória do universo de mortes
violentas com esses tipos de armas, calculamos a percentagem dos homicídios referentes ao total
das mortes com intencionalidade conhecida e a aplicamos aos dados do SIM referentes a mortes
violentas com intencionalidade desconhecida. O resultado foi somado ao número de homicídios
acusado nas estatísticas do SIM.

Tabela 4 - Correlação entre a diferença Polícia Civil–SIM (SIM sem correções e


SIM corrigido) e quantitativo por tipo de hospital

Polícia – SIM
Polícia – SIM
corrigido*

Diferença e hospitais públicos 0.630 -0.978


Diferença e hospitais privados 0.593 -0.934
Diferença e hospitais universitários 0.613 -0.962
Diferença e hospitais todos 0.625 -0.979
Diferença e hospitais públicos e universitários 0.630 -0.981
Diferença e emergências 0.577 -0.895

(*) Segundo método de Gláucio Soares.


Fontes: SIM/DATASUS e PCERJ. Elaboração: CESeC/UCAM.

Se, como hipotetizavamos, as diferenças se deveriam a que cada Secretaria usa métodos
diferentes, deveríamos observar alguns desses métodos. Os dados da Saúde se referem ao tipo de
morte e não a se são ou não mortes criminosas. Eles dispõem de informações mais detalhadas sobre
163

a vítima e a lesão, mas pouco a respeito do contexto da morte e, no caso em que outras pessoas
estejam envolvidas, não há informações sobre elas. Para construir uma base de dados que permita
conhecer mais as mortes violentas, necessitamos melhorar muitíssimo a informação sobre o contexto
(que deveria estar no histórico e no M.O.) e sobre os autores, em caso de crimes. Os dados da saúde
também permitem correções que compensem os desvios causados pelas deficiências do sistema
estatístico estadual e municipal, porque apresentam dados sobre mortes não violentas. Algumas
comparações criativas, como as usadas por Ignacio Cano, podem ajudar a avaliar a magnitude dos
erros e em que medida os erros são derivados das estatísticas estaduais e municipais em geral e em
que medida das estatísticas criminais apenas.
164

Número de hospitais públicos e universitários


Vítimas de homicídios dolosos:
Municípios do estado do Rio de Janeiro - 2000 Diferença entre os dados da Polícia Civil e do
SIM (não corrigido)
Municípios do estado do Rio de Janeiro - 2000

Legenda Legenda
0 <0
1a5 0a5
6 a 10 5 a 10
Mais de 10 > 10

Vítimas de homicídios dolosos:


Diferença entre os dados da Polícia Civil e do Vítimas de homicídios dolosos:
SIM (com correção Lozano) Diferença entre os dados da Polícia Civil e do
SIM (com correção Gláucio Soares)
Municípios do estado do Rio de Janeiro - 2000
Municípios do estado do Rio de Janeiro - 2000

Legenda
<0 Legenda
0a5 <0
5 a 10 0a5
> 10 5 a 10
> 10

Fontes: DATASUS e PCERJ. Elaboração: CESeC/UCAM.


165

6 - As estacionalidades: o número de dias no mês e seus efeitos 48

Qualquer ciência requer dados confiáveis, e a Criminologia não é exceção. A maioria dos
dados disponíveis nos sites das secretarias de segurança é viciada por um problema de cobertura
e da sua instabilidade. A cobertura se refere à percentagem do total de eventos de uma categoria
que chega às estatísticas. Quanto menor, menos confiável o dado. A instabilidade se refere às
flutuações na cobertura. Quanto maior, menos confiável o dado. Alguns dados são muito sensíveis
à organização do estado, particularmente da polícia, dos hospitais e da justiça. Por exemplo: a
criação de delegacias especiais de atendimento à mulher provocou, em vários casos, um
crescimento das denúncias de estupro. Evidentemente, a criação de delegacias especiais não
provocou um aumento dos estupros, mas do número de vítimas que se dispuseram a prestar
denúncia. Aumentou a cobertura. Esses problemas são de tal ordem que reduzem a utilidade dos
dados a zero ou quase zero. Serão necessárias décadas de experiência e de melhoria gradual das
estatísticas, assim como do treinamento e da pesquisa, que requer massa crítica de criminólogos
bem formados, até que possamos produzir conhecimento sólido com base em dados desse tipo.
Os homicídios são o crime cujos dados têm maior cobertura e menor instabilidade; não
obstante, tem sido utilizados de maneira pouco adequada. Alguns cuidados metodológicos são
necessários antes de analisar os dados sobre homicídios. Esses cuidados são particularmente
importantes para a Criminologia Política, que analisa dados temporais para avaliar políticas
públicas. Para começar, os meses não têm o mesmo número de dias. Faz diferença? Claro que
faz: mais dias significam mais tempo e mais oportunidades para tudo, inclusive para matar e
morrer. Num estado com perto de 600 homicídios por mês, um aumento de 20 (aproximadamente
3%) pode ser visto como fracasso da polícia e da política de segurança do governo. Não obstante,
a diferença pode ser devida ao número de dias no mês e ao número de feriados e dias de fins de
semana. Eles podem ser responsáveis por aumentos ou diminuições dessa ordem de grandeza –
vinte ou trinta homicídios. Sem descontar o número de dias que os meses têm a mais ou a menos,
março é o mês mais violento do ano. De 1992 a 2002, inclusive, foram assassinadas 7.884
pessoas em março, 428 a mais do que as 7.456 mortas em fevereiro. Morreram 7.405 em abril, e
quase 7.300 em janeiro e maio, que, na média dos anos analisados, são os outros meses mais
violentos. Se dividirmos os meses de cada ano em quatro grupos - os três mais violentos, os três
seguintes etc, veremos que, em mortes absolutas, março foi um dos três meses mais violentos do
ano em nove dos onze anos que estudamos, ao passo que fevereiro o foi em 4 anos. Porém,
quando corrigimos os dados mensais pelo número de dias, fevereiro passa a ser o mês mais
violento. Fevereiro foi um dos três meses com a mais alta média diária em dez dos onze anos, ao
passo que março foi um dos mais violentos em sete dos onze anos. Já agosto e setembro
estiveram entre os menos violentos em sete dos onze anos estudados. Outubro e novembro são
meses com crescimento moderado dos homicídios. Já dezembro e janeiro apresentam crescimento
rápido. As variações na média diária de homicídios entre os meses são importantes. Elas se
repetem em quase todos os anos.

6.1 - Efeitos estacionais

Essas variações não são de conhecimento público e não estiveram presentes no cálculo
da violência, mas são importantes para que a cidadania possa fazer avaliações fundamentadas de
governos e políticas de segurança. Um governo pode ser injustamente acusado pelo aumento dos
homicídios, ao passo que outro pode ser injustamente festejado pela sua diminuição e, não
obstante, a explicação do aumento e da diminuição pode residir nos meses em questão, se são
meses de “alta” ou de “baixa”. Não tem a ver com a ação do governo. O número de dias no mês
não é o único fator importante que governo nenhum controla: feriados, o Carnaval e o número de
sextas, sábados e domingos também contam. Nossas pesquisas, analisando dados mais
detalhados, demonstram que os fins de semana (de seis da tarde de sexta a seis da manhã de
segunda) apresentam níveis de violência homicida, assim como de alguns acidentes (trânsito,
afogamentos), mais altos do que os outros dias. O mesmo acontece em muitos países, não só no

48
Seção baseada em Gláucio Ary Dillon Soares e Doriam Borges, Rio de Janeiro, fevereiro e março, estudo
realizado em 2003, com apoio do CLACSO, da FAPERJ e da SENASP.
166

Brasil. Em alguns lugares o aumento começa na quinta e, em quase todos, o período menos
violento é de segunda ao meio dia até quinta às 18hs. Como explicar isso? A violência é um
fenômeno social que resulta da organização da vida na semana: trabalho e escola de segunda a
sexta. Nos fins de semana, é maior exposição a situações de risco, como dirigir em estradas, beber
mais, ir a lugares onde há mais jovens, e é menor a exposição a atividades e instituições
protetoras como a escola, o trabalho em atividades de baixo risco, passar a noite em família. Os
fatores que estão associados com a baixa vitimização – gênero feminino; idade infantil, madura ou
avançada; ser casado(a); ter filhos; ser religioso(a), entre outros – reduzem a exposição a fatores
de risco. A escola, por exemplo, tem taxas mais baixas de vitimização por crime do que as ruas. As
escolas andam mal, mas ruim com as escolas, pior sem elas.
Há uma tendência estacional encontrada no Rio de Janeiro: a média diária de homicídios
desce de fevereiro a março, de março a abril, e continua descendo até os meses mais baixos, para
começar a crescer outra vez, a partir de julho-agosto: cresce mais rápido de novembro a
dezembro, de dezembro a janeiro e, sobretudo, de janeiro a fevereiro. Ela não existe em todos os
lugares, nem em todos os estados do Brasil, e não teve sempre a mesma intensidade no Rio de
Janeiro.
Houve uma clara estacionalidade no segundo governo de Leonel Brizola, no governo de
Marcello Alencar e nos três anos de governo ininterrupto de Anthony Garotinho.
Comecemos com o governo Brizola:

Gráfico 4 - Média Diária de Homens Vítimas de Homicídios no Estado:


Governo Brizola (1991-1994)

28

21

14
y = 0,0961x2 - 1,4874x + 23,287
R2 = 0,7911
7

0
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN

Fonte: PCERJ. Elaboração: CESeC/UCAM.

Os dados mostram que fevereiro, março e abril foram os meses com médias diárias mais
altas, ao passo que julho, agosto e setembro tiveram as médias diárias mais baixas. o R 2 de 0,79
significa que um polinômio de segundo grau explica mais de três quartos da variância entre as
médias. A diferença entre os meses mais altos e os mais baixos é de perto de cinco homicídios
diários. Outras coisas sendo iguais, as pessoas estão mais seguras de julho a setembro do que de
fevereiro a abril.
Fenômeno típico do governo Brizola? Efeito das políticas públicas daquele governo?
Claramente não. Os governos seguintes também não escaparam da estacionalidade:
167

Gráfico 5 - Média Diária de Homens Vítimas de Homicídios no Estado


Governo Marcello Alencar (1995-1998)

21

14

y = 0,1068x2 - 1,6514x + 21,373


R2 = 0,8967
7

0
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN

Fonte: PCERJ. Elaboração: CESeC/UCAM.

No Governo de Marcelo Alencar, a estacionalidade foi um pouco mais forte, e o polinômio


de segundo grau explica 89% da variância entre as médias mensais corrigidas pelo número de
dias em cada mês. Fevereiro e março também foram os meses mais violentos durante este
período, com janeiro suplantando abril como o terceiro mês mais violento. Novembro foi o menos
violento, seguido de outubro e de dezembro, ainda que com pouca diferença em relação a agosto,
julho e setembro. A diferença entre os meses mais altos e os mais baixos continuou perto de cinco.
A estacionalidade não terminaria aí. Ainda que os três anos do Governo Garotinho
acompanhassem a tendência decrescente dos homicídios, detectável nas médias mensais
anteriores, houve clara estacionalidade, ainda que menos forte.
168

Gráfico 6 - Média Diária de Homens Vítimas de Homicídios no Estado


Governo Garotinho (1999-2001)

20

15

10
y = 0,0458x2 - 0,5554x + 15,451
R2 = 0,4493
5

0
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN

Fonte: PCERJ. Elaboração: CESeC/UCAM.

O R2 de 0,45 nos informa que a estacionalidade diminuiu ou mudou, mas que um


polinômio de segundo grau explica quase metade da variância nas médias mensais de homicídios,
controlando pelo número de dias. Como no Governo Brizola, julho foi o mês menos violento,
seguido por setembro, com agosto e junho muito próximos. Fevereiro continuou o a ser o mês mais
violento. As diferenças entre as médias diárias extremas diminuíram para quatro.
Colocando os três períodos governamentais na mesma Figura, vemos a tendência
descendente das médias mensais corrigidas pelo número de dias:

Gráfico 7 - Média diária de homicídios por governo – Estado do Rio de Janeiro


25

20

15

10

0
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN

Brizola (1991-1994) Alencar (1995-1998)


Garotinho (1999-2001) Polinômio (Brizola (1991-1994))
Linear (Alencar (1995-1998)) Linear (Garotinho (1999-2001))
Fonte: PCERJ. Elaboração: CESeC/UCAM.

A análise dos dados relativos ao estado do Rio de Janeiro permite verificar que os
homicídios nos três governos seguiram clara estacionalidade, tendo fevereiro a média diária mais
alta de homicídios em todos os três. Em geral, o período de janeiro a abril foi o mais violento.
Houve uma tendência ao descenso da média mensal de homicídios durante o período seguinte. Os
169

meses menos violentos variam mais, mas julho apresenta a média mais baixa. Em geral, o período
de junho a novembro é o menos violento.
As explicações para as estacionalidades variam. Como se considera que os
comportamentos violentos são aprendidos, muitos os definem como um fenômeno histórico-social.
Um dos primeiros estudos que usaram a teoria das atividades diárias, de rotina (routine activities
theory)49, na análise dos homicídios foi feito por Messner e Tardiff em 1986. Os dados se referiam
aos 578 homicídios ocorridos na cidade de Nova Iorque em 1981. Os pesquisadores concluíram
que a localização do homicídio se associa com o gênero, idade e emprego da vítima. As relações
entre o algoz e sua vítima variam com o estilo de vida da vítima. As vítimas cujas vidas estavam
centradas no lar tinham probabilidade mais alta de serem mortas por um familiar. Messner e Tardiff
não encontraram relações significativas entre duas dimensões do homicídio e as estações. Uma
pesquisa metodologicamente sofisticada foi feita por Tennenbaum e associados nos Estados
Unidos. Pesquisaram a influência de ciclos, estações e auto-regressão nos homicídios nos Estados
Unidos. Os homicídios, 275 299, aconteceram entre 1976 e 1989. Os autores descobriram que há
efeitos muito reduzidos, ainda que estatisticamente significativos, para serem úteis na formulação
de políticas públicas. Havia efeitos auto-regressivos com um efeito decalado dos últimos dois
meses50. Na Bélgica, Maes et al estudaram a estacionalidade dos homicídios, assim como os
suicídios violentos e os não-violentos. Os dados cobrem de 1979 a 1987, inclusive. Os autores tão
pouco identificaram estacionalidade nos homicídios nem nos suicídios não violentos. Havia
variações na estacionalidade por idade, sendo que, para os jovens, os picos eram em Abril e
Março e para os idosos em Agosto, ao passo que o período mais baixo era Dezembro/Janeiro 51. O
mesmo estudo notou que os suicídios violentos eram mais comuns entre os homens e
aumentavam com a idade.
Rotton e Cohn sugerem que a explicação dos ritmos do crime passa, também, pela
temperatura, mas no contexto da teoria das atividades quotidianas. Eles analisaram as chamadas
para a polícia durante dois anos, 1994 e 1995, um total de 18.687. Controlaram os feriados, os
feriados escolares, a hora do dia, o dia da semana, a estação e as interações entre essas
variáveis. A análise auto-regressiva mostrou que, durante o dia, a relação era curvilinear: as
agressões sérias aumentavam primeiro com a temperatura e depois decresciam com as
temperaturas muito quentes (para o local). Na primavera essa relação era particularmente forte. Já
durante a noite, a relação era linear, e as agressões sérias aumentavam com a temperatura. 52
Landau e associados analisaram a estacionalidade dos homicídios e de roubos e furtos
em Israel de 1977 a 1985. Partiram do suposto de que robberies seriam estacionais, atingindo
seus piores índices no Inverno; previam, também, que os homicídios seriam mais freqüentes em
Agosto e não seguiriam outros padrões estacionais. Os dados não confirmaram as hipóteses 53.
Três outros fatores explicariam a variância: a presença de delinqüentes motivados e determinados;
alvos fáceis de atingir e ausência de proteção efetiva para esses alvos.

49
A routine activities theory difere da Teoria dos Encontros, de Gláucio Soares, na medida em que a primeira
se concentra no risco produzido pelas atividades de rotina da vítima, ao passo que a Teoria dos Encontros
concebe a vitimização como um dos resultados do encontro da vítima com o criminoso e, por isso, também
leva em consideração as atividades de rotina dos criminosos. A Teoria dos Encontros postula que a
probabilidade do crime é afetada pela combinação entre as características das vítimas e as dos criminosos e,
por isso, é indispensável conhecer as duas. Como exemplo: estar em favelas nos fins de semana à
noite aumenta o risco de assalto mas é mais perigoso para pessoas de fora da favela do que para pessoas de
dentro dela porque em muitas favelas os criminosos internalizaram a norma de que "não se assalta pessoas de
dentro da favela".
50
Tennenbaum Abraham N; Fink Edward L. “Temporal regularities in homicide: cycles, seasons, and
autoregression” Journal of Quantitative Criminology, 10, (4), 1994, págs. 317-342.
51
Maes Michael; Cosyns Paul; Meltzer Herbert Y, et. al. “Seasonality in violent suicide but not in
nonviolent suicide or homicide” American Journal of Psychiatry, 150, (9), 1993, págs. 1380-1385.
52
Rotton James; Cohn Ellen G., “Violence as a curvilinear function of temperature in Dallas: a replication”
Journal of Personality and Social Psychology, 78, (6), 2000, págs. 1074-1081.
53
Landau, Simha F.; Fridman, Daniel, AThe Seasonality of Violent Crime: The Case of Robbery and Homicide
in Israel@. Journal of Research in Crime and Delinquency; 1993, 30, 2, Maio, págs. 163-191.
170

Vários estudos confirmaram a existência de efeitos estacionais nos suicídios violentos. A


estacionalidade pode ter, também, fundo demográfico. O número de mortes é função do número
de pessoas. Se aumenta o número de pessoas num local, seja bairro, cidade, estado ou país,
outras coisas sendo iguais haverá um aumento de tudo, inclusive de acidentes, crime e homicídios.
Na maioria dos lugares não há estatísticas para acompanhar os pequenos fluxos, de fins de
semana, de feriados, de férias etc, que mudam a base populacional. Porém, os dados disponíveis
são inadequados para corrigir as mini-flutuações na população.
Os dados sobre as taxas de homicídio no Rio de Janeiro permitem concluir que há fortes
efeitos estacionais que atravessaram, pelo menos, três governos. Um polinômio de segundo grau
explica entre 45% e 89% da variância entre as médias mensais corrigidas.
O conhecimento dos efeitos estacionais – cuja intensidade varia no tempo e no espaço – é
de importância na distribuição dos efetivos policiais. Possibilita, por exemplo, remanejar as férias
dos policiais, concentrando-as nos meses, semanas e dias de menor atividade criminal. Esse
conhecimento requer análise específica de cada unidade geográfica, que será tanto mais
adequado quanto mais específica a unidade. Conhecê-los no nível estadual é o primeiro salto, um
salto gigantesco. Refiná-los, levando o seu conhecimento ao nível municipal, multiplica a sua
utilidade operacional; especificá-los ainda mais, no nível de subdivisões do município (bairros,
AISPs, regiões policiais etc) é informação útil que, finalmente, se cruzada com os dias da semana
e as horas do dia (que também são parte dos ritmos do crime), potencializa a sua utilidade
operacional.

7 - A importância da idade

A idade é uma das correlatas mais importantes do crime; no caso dos homicídios a
importância é evidente. O Estado do Rio de Janeiro, como vários outros estados, coleta dados
detalhados sobre as idades das vítimas. Vemos que a relação entre idade e vitimização por
homicídios tem a mesma forma a de “U invertida” em diversos municípios populosos do estado,
ainda que os níveis possam diferir.

Gráfico 8 - Taxas de Homicídios por 10 mil homens:


Municípios Selecionados, Estado do Rio de Janeiro - 2000
6,0

4,0

2,0

0,0
Até 12 13 14 a 15 16 a 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 40 a 49 50 a 59 60 e
anos anos anos anos anos anos anos anos anos 39 anos anos mais
anos anos

Total São João de Meriti Rio de Janeiro


Nova Iguaçu Niterói Duque de Caxias
Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.
171

Gráfico 9 - Taxas de Homicídios por 10 mil habitantes:


Municípios Selecionados, Estado do Rio de Janeiro - 2000
30,0

20,0

10,0

0,0
Até 12 13 14 a 16 a 18 19 20 a 25 a 30 a 35 a 40 a 50 a 60 e
anos anos 15 17 anos anos 24 29 34 39 49 59 mais
anos anos anos anos anos anos anos anos anos

Total São João de Meriti Rio de Janeiro


Nova Iguaçu Niterói Duque de Caxias

Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 10 - Polinômios de 2º Grau para as taxas de homicídios por 10 mil habitantes:


Municípios selecionados, Estado do Rio de Janeiro - 2000
172

20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
Até 12 13 14 a 16 a 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60 e
-5,0 anos anos 15 anos anos anos anos anos anos anos anos anos mais
anos anos
Total São João de Meriti Rio de Janeiro
Nova Iguaçu Niterói Duque de Caxias
Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 11 - Polinômios de 2º Grau para as taxas de homicídios por 10 mil habitantes


Municípios selecionados, Estado do Rio de Janeiro - 2000
12,0

8,0

4,0

0,0
Até 12 anos 13 a 17 anos 18 e mais

Total São João de Meriti Rio de Janeiro


Nova Iguaçu Niterói Duque de Caxias
Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Usamos cinco municípios populosos do Estado do Rio de Janeiro para o primeiro teste da
hipótese de que se perde muito por não usar categorias de idade mais refinadas. Nos cinco
municípios – São João do Meriti, Nova Iguaçu, Niterói, Rio de Janeiro e Duque de Caxias –, a
curvilinearidade das relações entre idade e vitimização por homicídio é clara. Porém, se usarmos
as três categorias etárias atualmente disponíveis nas estatísticas policiais, chegamos à conclusão
de que a tendência maior é a crescer aceleradamente até 18 anos e a crescer mais lentamente a
partir de então. Em Duque de Caxias e em Nova Iguaçu, a conclusão possível seria a de que a
vitimização cresce com a idade.

Gráfico 12 - Taxas de homicídios por 10 mil habitantes


Municípios selecionados, São Paulo - 2000
173

30,0

20,0

10,0

0,0
Até 12 13 14 e 15 16 e 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
ou
mais

Campinas Guarulhos São Bernardo do Campo São Paulo

Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 13 - Equações polinomiais de 2º grau das taxas de homicídios


por 10 mil habitantes - Municípios selecionados, São Paulo - 2000
20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
Até 12 13 anos 14 e 15 16 e 17 18 anos 19 anos 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60 anos
anos anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais
-5,0

Campinas Guarulhos São Bernardo do Campo São Paulo

Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 14 - Taxas de homicídios por 10 mil habitantes


Municípios selecionados, São Paulo - 2000
174

120,0

80,0

40,0

0,0
Até 12 anos 13 a 17 anos 18 e mais

Campinas Guarulhos São Bernardo do Campo São Paulo

Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Dados relativos a quatro municípios paulistas confiram as conclusões anteriores: o pico da


vitimização se localiza entre 19 e 29 anos, inclusive. Porém, o inadequado corte de 18 e mais não
permite ver com clareza essa curvilinearidade, nem perceber que há um ponto de inflexão a partir
do qual a derivada primeira é negativa. Esperaríamos crescimento da vitimização, ainda que a
taxas menores. Isso vale para os quatro municípios: Campinas, Guarulhos, São Bernardo do
Campo e São Paulo.

Gráfico 15 - Taxas de homicídios por 10 mil habitantes


Municípios selecionados, Rio Grande do Sul - 2000
12,0

8,0

4,0

0,0
Até 12 13 14 e 15 16 e 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
ou
mais
Canoas Caxias do Sul Pelotas Porto Alegre

Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 16 - Equações polinomiais de 2º grau das taxas de homicídios


por 10 mil habitantes - Municípios selecionados, Rio Grande do Sul - 2000
175

12,0

8,0

4,0

0,0
Até 12 13 14 e 15 16 e 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
-4,0
ou
mais
Canoas Caxias do Sul Pelotas Porto Alegre
Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 17 - Taxas de homicídios por 10 mil habitantes


Municípios selecionados, Rio Grande do Sul - 2000
60,0

40,0

20,0

0,0
Até 12 anos 13 a 17 anos 18 e mais

Canoas Caxias do Sul Pelotas Porto Alegre

Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Dados relativos a quatro municípios gaúchos confirmam as conclusões anteriores: o pico


da vitimização se localiza entre 19 e 29 anos, inclusive, embora haja algum problema com os
dados de Pelotas. Porém, o inadequado corte de 18 e mais não permite ver com clareza essa
curvilinearidade, nem perceber que há um ponto de inflexão a partir do qual a derivada primeira é
negativa. Esperaríamos crescimento da vitimização, ainda que a taxas menores. Isso vale para os
quatro municípios: Canoas, Caxias do Sul, Pelotas e Porto Alegre, com ressalvas em relação a
Pelotas.

Gráfico 18 - Taxas de homicídios por 10 mil habitantes


Municípios selecionados, Bahia - 2000
176

12,0

8,0

4,0

0,0
Até 12 13 14 e 15 16 e 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
ou
mais
Feira de Santana Ilhéus Salvador Vitória da Conquista
Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

Gráfico 19 - Equações polinomiais de 2º grau das taxas de homicídios


por 10 mil habitantes - Municípios selecionados, Bahia - 2000
6,0

4,0

2,0

0,0
Até 12 13 14 e 15 16 e 17 18 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 49 50 a 59 60
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos
-2,0 ou
mais
Feira de Santana Ilhéus Salvador Vitória da Conquista

Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.


177

Gráfico 20 - Taxas de homicídios por 10 mil habitantes


Municípios selecionados, Bahia - 2000
40,0

30,0

20,0

10,0

0,0
Até 12 anos 13 a 17 anos 18 e mais

Feira de Santana Ilhéus Salvador Vitória da Conquista


Fonte: SIM/DATASUS. Elaboração: CESeC/UCAM.

O uso de categorias de idade mais específicas em quatro municípios baianos ajudam a


conhecer os determinantes do homicídio e evitam erros: em Feira de Santana, Ilhéus, Salvador e
Vitória da Conquista, é clara a forma da relação entre idade e vitimização. Nos quatro, o pico se
situa entre 19 e 29 anos; cresce até lá e decresce depois. Usando apenas as três categorias
atuais, a relação aparece como positiva – maior a idade, mais alta a vitimização.

8 - A integração com dados sócio-econômicos

Dados no interior de uma unidade federal podem ser municípios, regiões, bairros etc. A
existência de informações econômicas e sociais e de informações criminais na mesma base de
dados – dados comumente existentes nos estados, mas espalhados em diversas secretarias,
permite a análise econômica e social do crime. Dados sobre o Distrito Federal, subdivididos em
suas 19 Regiões Administrativas permitem constatar a existência de relações significativas entre
fatores econômicos e sociais, usados como variáveis preditivas, e as taxas de homicídio:
178

Tabela 5 - Correlações entre indicadores de subdesenvolvimento


econômico e social e as taxas de homicídio no Distrito Federal - 1996

INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS Correlação Significação


Taxa LnTaxa Taxa LnTaxa
Habitação (% Menos de 4 cômodos) 0,55 0,57 0,014 0,011
Renda abaixo de 2 mínimos 0,58 0,60 0,009 0,007
Analfabetismo 0,59 0,61 0,008 0,006
Índice Somatório 0,61 0,62 0,006 0,005
Escore no Primeiro Fator na Análise de
Componentes Principais
(Fator Geral de Subdesenvolvimento Econômico e
Social) 0,59 0,60 0,008 0,006
Grupo de Regiões Administrativas
(Nível sócio-econômico Alto/Médio /Baixo) 0,60 0,62 0,007 0,005
Fonte: Elaborações de Gláucio Ary Dillon Soares 54

Construindo um fator de desenvolvimento econômico e social e, depois, correlacionando-o


com as taxas de homicídio, vemos que o fator é altamente explicativo. A forma dessa relação,
porém, não é reta, mas curva, que pode ser bem descrita por um polinômio de segundo grau:
Gráfico 21 – Desenvolvimento econômico e social e taxas de homicídio – Distrito Federal, 1996

54 A variável dependente é a taxa média de homicídio por 100 mil habitantes de 1995 a 1998, calculada a
partir dos dados absolutos sobre homicídios fornecidos pela Secretaría de Segurança. O número médio anual
de homicídios foi dividido pelos resultados da contagem populacional de 1996. As estimativas populacionais
da CODEPLAN para 1995, 1997 e 1998 e as de outras instituições produziram resultados muito discrepantes
entre si. Por isto, adotamos a posição conservadora de usar somente a contagem. Esta decisão implica em
sobre-estimar as taxas de homicídio das RA's que mais cresceram e subestimar a das que perderam
população. Há muita variação nas taxas de homicídio. Os dados sócio-econômicos foram tomados da
pesquisa PISEF - Perfil Sócio-Econômico das Famílias do Distrito Federal, 1997 - realizada pela CODEPLAN;
os dados demográficos também foram obtidos da CODEPLAN, sendo que os de 1996 se referem à contagem
feita naquele ano pelo IBGE.
179

60

Taxa de Homicídios
y = 7,031x 2 44 ,988 x + 89 ,711
2
50 R = 0,65

40

30

20

10
y = -7.1868x + 45.821
R 2 = 0.37
00
00 01 01 02 02 03 03 04 04 05 05

Fator Positivo de Desenvolvimento Econômico e Social (+2.5)

Fonte: Elaborações de Gláucio Ary Dillon Soares12

O desenvolvimento econômico e social influência, sem determinar, a taxa de homicídios.


Conhecendo esse fator em cada região administrativa, podemos explicar 65% da variância na taxa
de homicídios.
Dados relativos ao Rio de Janeiro mostram o que há de verídico no atual debate sobre os
efeitos das migrações internas sobre as taxas de homicídio. Calculamos as percentagens de
residentes em cada município que
o Nasceram fora do município e
o Nasceram fora do estado

Correlacionamos, a seguir, as taxas de vitimização por homicídio, consideradas como


variável dependente, com as duas percentagens acima. Os resultados mostram que é a
percentagem dos nascidos fora do município a que melhor se correlaciona com as taxas de
homicídio, e não a percentagem dos nascidos fora do estado.

Gráfico 22 - Taxas masculinas de homicídios por 100 mil e proporção de homens que residem nos
municípios do Rio de Janeiro mas nasceram fora deles
180

70

Indicador de Migração
60

50

40

30

20
y = 0,1655x + 23,015
10 R2 = 0,3788

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Taxa de homicídios por 100 mil homens

Fontes: SIM/DATASUS e IBGE. Elaboração: CESeC/UCAM.

Os resultados desvinculam o homicídio das migrações de um estado ou de uma região


específica. Em verdade, para evitar a chamada falácia ecológica, não é sequer lícito concluir que
são os migrantes – de outros municípios, de outros estados, ou das duas origens –, que
contribuem para o aumento das taxas de homicídio, seja porque são vítimas, seja porque são
algozes. A única conclusão correta é que a migração aumenta a taxa de homicídios do município.
Isso não quer dizer que sejam os migrantes os que matam, nem que sejam os migrantes os que
morrem.

Taxa de homicídio por cem mil habitantes


Estado do Rio de Janeiro - 2000

Legenda
0 a 18,1
Percentagem de residentes que não
18,1 a 36,2
nasceram no município
36,2 a 54,4
Estado do Rio de Janeiro - 2000 54,4 a 72,5
72,5 a 90,6
181

9 - A Função Corretiva das Pesquisas de Vitimização


As pesquisas de vitimização são parte essencial da informação nos sistemas modernos de
informações criminais. Os victimization surveys são usados há décadas nos Estados Unidos com
uma função de correção mútua com o UCR e, agora, o NIBRS. São duas bases de dados
complementares. As pesquisas de vitimização permitem aquilatar a sub-enumeração das
estatísticas policiais e judiciais. Há restrições ao uso de vários indicadores de crimes diferentes
baseadas na alta sub-enumeração. Os registros só incluem o que chega a eles e a população tem
restrições aos serviços públicos, em geral, e à polícia em particular. Uma pesquisa domiciliar em
Brasília mostra que 58% dos que foram vítimas de roubo à mão armada e 81% dos que entraram
em brigas não buscaram uma autoridade para denunciar o ocorrido. Dada a gravidade de um
ferimento que configure uma tentativa de homicídio, esperaríamos que a grande maioria
denunciasse a ocorrência. Não é assim: 64% dos feridos por arma branca não denunciaram a
ocorrência a uma autoridade competente e 58% dos feridos com arma de fogo tampouco o
fizeram. Ou seja, mesmo em casos nos quais se configuraria uma tentativa de homicídio, a maioria
não denunciou a ocorrência. Evidentemente, esses casos não entraram nas estatísticas 55.

Tabela 6 - Recurso a autoridades por tipo de agressão – Distrito Federal, 199856

Tipo de Agressão Sim (%) Não (%)


Roubo à mão armada 41,8 58,2
Ferimento por arma branca 35,9 64,1
Ferimento por arma de fogo 41,7 58,3
Vias de fato 19,5 80,5

O problema é ainda mais complexo.


Quando procuram alguma autoridade, dirigem-se, principalmente, à PM, exceto para o
caso de ferimento com arma de fogo (Tabela 7).

Tabela 7 - Autoridade procurada, por tipo de agressão

Tipo de Agressão Delegacia (%) PM (%) Outra (%)


Roubo à mão armada 42,8 53,2 4,0
Ferimento por arma branca 27,3 69,0 3,7
Ferimento por arma de fogo 59,4 40,6 ---
Vias de fato 36,9 63,1 ---

Quando recorrem à PM, é o atendimento motorizado o mais freqüente. Muitos informam


que não receberam atendimento, o que é um dado da maior importância (Tabela 8).

Tabela 8 - Atendimento da PM por Tipo de Agressão

Tipo de Agressão Motorizado (%) A Pé (%) Outro (%) Não Recebeu


Atendimento (%)

55
Esses dados não são usados cegamente pelo pesquisador responsável. Estou consciente de que muitos não
foram vítimas de tentativas, mas afirmaram que sim, e vice-versa; estou consciente, também, que muitos que
fizeram queixa não o admitiram aos nossos entrevistadores e vice-versa; estamos conscientes, também, de que
a memória é pouco confiável, particularmente em relação a uma pergunta que trata da prevalência ao longo de
toda a vida do entrevistado. Estou interessado, apenas, na magnitude do problema que, com  15%, é muito
grande.
56
Esta tabela e as duas seguintes foram retiradas de Gláucio Ary Dillon Soares, O Povo e a PM. Relatório
apresentado à PMDF, Brasília, UnB, 1998.
182

Roubo à mão armada 52,9 10,7 19,7 16,7


Ferimento por arma branca 31,6 14,7 7,4 46,3
Ferimento por arma de fogo 72,0 6,0 6,0 16,0
Vias de fato 41,2 11,1 15,2 32,5

As pesquisas de vitimização também sofrem problemas. Elas também não são um retrato
fiel da realidade. Muitas pessoas, intencionalmente ou não, relatam os acontecimentos de maneira
diferente do que aconteceu. Com o melhoramento técnico na coleta e processamento dos dados, é
possível diminuir consideravelmente os seus erros e melhorar a qualidade das pesquisas de
vitimização.
Não obstante, mesmo em sua forma atual, elas contribuem de diferentes maneiras:

o Permitem análise de atitudes, opiniões e motivações, ausentes dos dados


agregados;
o Fornecem uma idéia da escala da sub-enumeração. Quando 58% das vítimas de
assalto à mão armada não procuraram uma autoridade para denunciar a
ocorrência, formamos uma noção de que a extensão não é nem de 10 ou 15%,
nem de 80 ou 90%.

10 - Hetereogeneidade na qualidade dos dados e ação policial

O resultado das análises acima permite as seguintes sugestões:

1. É muito importante a formação de um database integrado com dados individuais;


2. Do database devem constar dados sobre a residência, o local da ocorrência e o
local do falecimento (no caso de ocorrências letais);
3. Eventualmente, esses dados podem ser enriquecidos com o local do trabalho e/ou
de estudo. Essas informações são particularmente importantes nas grandes áreas
metropolitanas;
4. Para as análises intramunicipais, de grande utilidade para o planejamento das
atividades policiais, dados a respeito dos bairros, Áreas de Segurança e até
microdados sobre áreas dentro dos bairros são de extrema utilidade. Para tal,
informações precisas sobre as micro-áreas devem ser distribuídas entre os
agentes da lei, que devem estar familiarizados com elas;
5. Os relatórios deverão distinguir claramente entre estatísticas sobre as ocorrências
e estatísticas sobre as mortes, no caso de crimes letais;
6. Dados detalhados sobre as características individuais da vítima – gênero, idade,
raça e estado civil – ajudam a identificar grupos de risco e a desenvolver
programas preventivos;
7. Os dados sugerem que as informações sobre a idade devem ser mais minuciosas;
no mínimo em anos se chegarmos a fluxos de dados individuais; uma variável com
dois dígitos proporcionaria um grande salto na informação. A atual categorização é
inútil e confusa;
8. A unidade encarregada das estatísticas municipais e estaduais deverá ter extremo
cuidado com as categorias com muito “lixo”, procurando reduzi-las – mortes
suspeitas, mortes com intencionalidade não identificada etc. Elas dificultam a
pesquisa e a análise policial. É tarefa possível: o Estado do Rio de Janeiro
conseguiu reduzir dramaticamente em pouco tempo os registros de “mortes
suspeitas”;
9. A violência segue ritmos. As táticas preventivas requerem informação sobre esses
ritmos: horas do dia; dias da semana; meses. Há outras informações úteis,
183

particularmente se combinadas com as análises espaciais: Carnaval, dias de festa,


dias de pagamento, entre outros;
10. A formação de um database para cada estado com informações municipais seria
vastamente superior à atual; para as áreas metropolitanas com mais de cinqüenta
mil habitantes, a subdivisão em bairros e outras unidades menores é desejável e,
nas grandes áreas metropolitanas, é indispensável;
11. Esse database deveria ser integrado, incluindo informações já disponíveis em
outros órgãos de governo – municipal, estadual e federal – como a localização de
hospitais e centros de trauma, número de leitos, taxas de desemprego, taxas de
imigrantes etc. A construção e atualização desse database é uma questão de
competência e de trabalho, e não de disponibilidade de tecnologia;
12. A realização de pesquisas de vitimização – primeiramente uma anual ou bi-anual,
de âmbito nacional – posteriormente outras mais específicas, em alguns estados e
regiões metropolitanas, é um instrumento necessário para a ação e o
planejamento policial;
13. Finalmente, todas as informações mencionadas se referem às vítimas e
características associadas aos locais de residência e de ocorrência. Precisamos de
informações sobre os criminosos, o contexto dos crimes e suas relações com as
vítimas. Só então teremos a informação indispensável para a formação de uma
Criminologia Brasileira.

Sabemos que, durante muitos anos, a cobertura e a qualidade dos dados coletados pelos
estados continuará sujeita a fortes variações. A SENASP deve evitar a postura de nivelar por
baixo. A política que recomendamos é estabelecer limites mínimos e estimular os estados e
municípios que podem proporcionar mais a fazê-lo. Saberemos mais a respeito deles do que a
respeito dos demais e as políticas revelarão essas diferenças.
O objetivo deve ser atingir o estágio no qual toda a informação esteja informatizada e
cópias dos microdados sejam enviadas em fluxo contínuo para a SENASP. Enquanto isso não
acontece, trabalhar-se-á com o que for possível, usando recursos como estímulo aos que atingirem
metas. Necessitamos de macrodados completos, com categorias adequadas, que respondam ao
conhecimento criminológico de hoje. É um alvo a ser atingido em 3 a 4 anos. Os microdados
necessitarão de dois ou três anos adicionais.
Com esse cronograma será possível deslanchar um programa ambicioso de pesquisas
com objetivos aplicados, que informe as políticas federais, estaduais e municipais.

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