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O choro e Pixinguinha

GMU038, HISTÓRIA E APRECIAÇÃO DA


MÚSICA BRASILEIRA POPULAR
1º SEMESTRE DE 2014

Prof. Adelcio Camilo Machado


adelcio.camilo@gmail.com
Preâmbulo
Tradição
Tradição
“Tradição” e “autenticidade”

Autêntico x Falso

Antigo x Moderno

Nacional x Estrangeiro

Tradicional x Novo
Tradição inventada

 “Nada parece mais antigo e ligado a um passado


imemorial do que a pompa que cerca a realeza
britânica em quaisquer cerimônias públicas que ela
participe. Todavia, segundo um dos capítulos deste
livro, este aparato, em sua forma atual, data dos
séculos XIX e XX. Muitas vezes, “tradições” que
parecem ou são consideradas antigas são bastante
recentes, quando não são inventadas.
Tradição inventada

 “[...] O termo ‘tradição inventada’ é utilizado num


sentido amplo, mas nunca indefinido. Inclui tanto as
‘tradições’ realmente inventadas, construídas e
formalmente institucionalizadas, quanto as que
surgiram de maneira mais difícil de localizar num
período limitado e determinado de tempo – às vezes
coisa de poucos anos apenas – e se estabeleceram
com enorme rapidez.
Tradição inventada

 “[...] Por ‘tradição inventada’ entende-se um


conjunto de práticas, normalmente reguladas por
regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas,
de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos
valores e normas de comportamento através da
repetição, o que implica, automaticamente, uma
continuidade em relação ao passado. [p. 9]
Tradição inventada

 “É o contraste entre as constantes mudanças e


inovações do mundo moderno e a tentativa de
estruturar de maneira imutável e invariável ao
menos alguns aspectos da vida social que torna a
‘invenção da tradição’ um assunto tão interessante
para os estudiosos da história contemporânea.”
(HOBSBAWN, 1997, p. 10)
Choro
A palavra choro

 1. Formação instrumental
 Choro Carioca, de Antônio da Silva Callado (1848-1880)

 Flauta, cavaquinho e dois violões

 Orquestra de pau e cordas

 Conjunto regional

 Regional
A palavra choro

 2. Repertório instrumental ligado a danças


 Xote

 Mazurca

 Quadrilha

 Valsa

 Polca

 Tango brasileiro

 .......................................

 (maxixe)
A palavra choro

 3. Maneira de tocar
 O choro, mais do que um gênero, era um modo de se tocar as
polcas, as valsas, os schottischs, os lundus, enfim, os gêneros
da música de salão. Por exemplo, uma polca interpretada de
modo sincopado poderia ser chamada de choro e, se estivesse a
serviço de uma dança, não seria mais polca e sim maxixe
(MACHADO, 2007, p.30).
A palavra choro

 4. Gênero musical definido


 Exemplo: composições de Pixinguinha
“Carne assada”

 Polca
 Compositor: Pixinguinha (1897-1973)
 Intérprete: Choro Carioca
 Gravada entre 1915-1918
“O maxixe”

 Maxixe
 Compositor: Octávio Dutra (1884-1937)
 Intérprete: Grupo Terror dos Facões
 Gravado em 1918
“Aurora sorrindo”

 Choro
 Intérprete: Elídio
 Gravado entre 1921-1926
Periodização da história do choro (Ary Vasconcelos)

1) 1870 a 1889: abrasileiramento e popularização da polca

 Henrique Alves de
Mesquita (1830-1906)
 Antônio da Silva Callado
(1848-1880)
 Viriato Figueira da Silva
(1851-1883 )
 Chiquinha Gonzaga
(1847-1935)
 Ernesto Nazareth (1863-
1934)
“Batuque” (Henrique Alves de Mesquita)
“Batuque” (Henrique Alves de Mesquita)
“Batuque” (Henrique Alves de Mesquita)
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga) –
piano
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga) –
piano
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga) –
piano
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga) –
piano
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga) –
piano
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga) –
piano
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga) –
piano
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga) –
piano
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga) –
piano
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga) –
piano
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga). Os
Geraldos, 1902-1907
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga)

1. Neste mundo de misérias


Quem impera é quem é mais folgazão
É quem sabe cortar jaca nos requebros
De suprema perfeição, perfeição (2x)

Ai, ai, como é bom dançar, ai!


Corta-jaca assim, assim, assim,
Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Canta meu benzinho assim, olé!
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga)

2.Esta dança é buliçosa, tão dengosa


Todos querem dançar
Não há ricas baronesas, nem marquesas
Que não queiram requebrar, requebrar (2x)

Ai, ai, como é bom dançar, ai!


Corta-jaca assim, assim, assim,
Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Canta meu benzinho assim, olé!
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga)

3. Este passo tem feitiço, tal ouriço


Faz qualquer homem coió
Não há velho carrancudo , nem sisudo
Que não caia em trololó, trololó (2x)

Ai, ai, como é bom dançar, ai!


Corta-jaca assim, assim, assim,
Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Canta meu benzinho assim, olé!
“Gaúcho (Corta-jaca)” (Chiquinha Gonzaga)

4. Um flamengo tão gostoso, tão ruidoso


Vale bem meia-pataca
Dizem todos que na ponta, está na ponta
Nossa dança corta-jaca, corta-jaca! (2x)

Ai, ai, como é bom dançar, ai!


Corta-jaca assim, assim, assim,
Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Canta meu benzinho assim, olé!
Periodização da história do choro (Ary Vasconcelos)

2) 1889-1919: Bandas e choro ligado à festa

 Anacleto de Medeiros
(1866-1907)
 Irineu Batina (1873-
1914)
 Zequinha de Abreu
(1880-1935)
Periodização da história do choro (Ary Vasconcelos)

3) 1919-1930: fixação do choro como gênero

 Alfredo da Rocha Viana


Júnior, o Pixinguinha
(1897-1973)
“A vida é um buraco”

 Composição e interpretação: Pixinguinha.


Periodização da história do choro (Ary Vasconcelos)

4) 1930-1945: formação dos regionais

 Benedito Lacerda
(1903-1958)
 Popeye (pandeiro), Dino 7
cordas, Benedito Lacerda,
Canhoto (cavaquinho) e
Meira (violão)
 Garoto (1915-1955)
 Dilermando Reis (1916-
1977)
Periodização da história do choro (Ary Vasconcelos)

5) 1945-1975

 1945-1950: “pequena
fase de ouro”
 Severino Araújo (1917-
2012) e Orquestra
Tabajara
 Dupla de Pixinguinha e
Benedito Lacerda
 Jacob do Bandolim
(1918-1969)
“Um a zero”

 Composição: Pixinguinha
 Interpretação: Pixinguinha e Benedito Lacerda
“Espinha de bacalhau”

 Composição: Severino Araújo


 Interpretação: Orquestra Tabajara
“Odeon”

 Composição: Ernesto Nazareth


 Gravação: Jacob do Bandolim. 1952.
“Retrato A – Pixinguinha”

 Composição: Radamés Gnattali (1906-1988)


 Interpretação: Jacob do Bandolim. 1964.
“Canhoto”

 Composição e interpretação: Radamés Gnattali.


1964.
“Moto contínuo”

 Composição e interpretação: Radamés Gnattali.


1964.
Periodização da história do choro (Ary Vasconcelos)

6) A partir de 1975

 “Revitalização” do
choro
 1975: Semana Jacob do
Bandolim
 1977: I Festival
Nacional do Choro
“Choro negro”

 Composição e
interpretação: Paulinho
da Viola.
 LP Nervos de Aço. 1973.
Pixinguinha
Três momentos da carreira de Pixinguinha

 Fase regionalista (1919-1928)


 Orquestra Os Oito Batutas
 Mescla entre gêneros “sertanejos” e sonoridade do jazz
 Inserção profissional na indústria fonográfica (1928-
1937)
 Pixinguinha como o mais expressivo arranjador do período
 Advento das orquestrações “sinfonizantes” (1937-1952)
 Proeminência de Radamés Gnattali
 Pixinguinha passa figurar como “autêntico representante de nossa
música popular”
 (BESSA, 2007)
Pixinguinha

 Bloco de Caxangá
Pixinguinha

 Os Oito Batutas, orquestra típica


Pixinguinha

 Os Oito Batutas, jazz band


“Carinhoso”

 Composição:
Pixinguinha.
 Interpretação: Orquestra
Típica Pixinguinha-
Donga. 1929.
“Carinhoso”

 “No complemento, vamos encontrar um choro do


Pixinguinha, Carinhoso. Parece que o nosso popular
compositor anda sendo influenciado pelos ritmos e melodias
da música de jazz. É o que temos notado, mais de uma vez,
neste seu choro, cuja introdução é um verdadeiro foxtrote e
que, no seu decorrer, apresenta combinações de pura música
popular yankee. Não nos agradou.” (Cruz Cordeiro apud
BESSA, 2007, p. 199)
“Gavião calçudo”

 Composição: Pixinguinha
 Interpretação: Patrício Teixeira e Orquestra Típica
Pixinguinha-Donga. 1929.
“Gavião calçudo”

 Chorei, porque
 Fiquei sem meu amor
(2x)
 O gavião malvado
 Bateu asa foi com ela
 E me deixou
“Gavião calçudo”

 Quem tiver mulher bonita


 Esconda do gavião
 Ele tem unha comprida
 Deixa os marido na mão
 Mas viva quem é solteiro!
 Não tem amor nem paixão
 Mas vocês que são casado,
 Cuidado com o gavião
“Gavião calçudo”

 “Repetimos para o samba o que já temos dito em composições


anteriores do popular músico; Pixinguinha parece se deixar
influenciar extraordinariamente pelas melodias e ritmos do
jazz. Ouçam Gavião calçudo. Mais parece um foxtrote que um
samba. As suas melodias, os seus contracantos e mesmo
quase que o seu ritmo, tudo respira música dos ‘yankees’.”
(Cruz Cordeiro apud BESSA, 2007, p. 200)
“Chegou a hora da fogueira”

 Composição: Lamartine Babo


 Interpretação: Carmen Miranda e Mário Reis. 1933.
“Chegou a hora da fogueira”

 Chegou a hora da fogueira!


 É noite de São João...
 O céu fica todo iluminado
 Fica o céu todo estrelado
 Pintadinho de balão...
 Pensando na cabocla a noite inteira
 Também fica uma fogueira
 Dentro do meu coração...
“Chegou a hora da fogueira”

 Quando eu era pequenino


 De pé no chão
 Eu cortava papel fino
 Pra fazer balão...
 E o balão ia subindo
 Para o azul da imensidão...
“Chegou a hora da fogueira”

 Chegou a hora da fogueira!


 É noite de São João...
 O céu fica todo iluminado
 Fica o céu todo estrelado
 Pintadinho de balão...
 Pensando na cabocla a noite inteira
 Também fica uma fogueira
 Dentro do meu coração...
“Chegou a hora da fogueira”

 Hoje em dia o meu destino


 Não vive em paz
 O balão de papel fino
 Já não sobe mais...
 O balão da ilusão...
 Levou pedra e foi ao chão...
“Chegou a hora da fogueira”

 “Pixinguinha é hoje o orquestrador mais perfeito dos discos


da cidade. O Chegou a hora da fogueira tem um pedaço em
que sua música sobe e o povo sente mesmo o balão subindo,
na sua vertigem pomposa. O balão e os foguetes. Não precisa
de libreto para explicar.” (Orestes Barbosa, 9 ago. 1933 apud
BESSA, 2007, p. 190)
“Chegou a hora da fogueira”

 Chegou a hora da fogueira!


 É noite de São João...
 O céu fica todo iluminado
 Fica o céu todo estrelado
 Pintadinho de balão...
 Pensando na cabocla a noite inteira
 Também fica uma fogueira
 Dentro do meu coração...
“Carinhoso”

 Composição: Pixinguinha
 Interpretação: Conjunto Época de Ouro, Os Boêmios,
Trio de Flautas do Teatro Municipal, Orquestra do
Teatro Municipal. 1968.
Referências

 BESSA, Virgínia de Almeida. Imagens da escuta:


tradições sonoras de Pixinguinha. In: MORAES, José
Geraldo Vinci de; SALIBA, Elias Thomé (orgs.) História e
música no Brasil. São Paulo: Alameda, 2010, p.163-214.
 CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao municipal. São
Paulo: Ed. 34, 1998.
 HOBSBAWN, Eric. A invenção das tradições. In:
HOBSBAWN, Eric; RANGER, Terence (org.). A invenção
das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 9-23
(introdução).
 MACHADO, Cacá. O enigma do homem célebre:
ambição e vocação de Ernesto Nazareth. São Paulo,
Instituto Moreira Salles, 2007.
O choro e Pixinguinha

GMU038, HISTÓRIA E APRECIAÇÃO DA


MÚSICA BRASILEIRA POPULAR
1º SEMESTRE DE 2014

Prof. Adelcio Camilo Machado


adelcio.camilo@gmail.com

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