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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
TE0135 – CIÊNCIA DOS MATERIAIS

AVALIAÇÃO 3: APLICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS DE CIÊNCIA DOS


MATERIAIS PARA A PRODUÇÃO DE UM PASTEURIZADOR DE GARRAFAS DE
CERVEJA

Francisco Angélico Mota Junior- 380778- Turma 02A


Guilherme Henrique Silva Santos- 399533- Turma 02A
Renan Andrade

FORTALEZA
2020
1. Introdução
A engenharia de produção mecânica é responsável pela atuação no controle
e na programação dos sistemas de produção, seu principal objetivo é o foco na
otimização, produtividade e rentabilidade dos processos internos das empresas. A
formação do engenheiro de produção mecânico, mescla os conhecimentos de
produção e de mecânica, atuando no controle e aperfeiçoamento das cadeias
produtivas industriais e tendo a capacidade de trabalhar em recursos humanos e
financeiros de qualquer empresa
Portanto, as áreas de atuação do engenheiro são muitas, pois suas principais
atividades estão relacionadas desde ao cálculo de custos e previsão de vendas de
uma organização ao planejamento e redução da ociosidade de equipamentos,
passando pela administração de recursos, programação e controle da produção até
chegar a projeção novos produtos ou o planejamento da instalação de fábricas.
Logo, podemos afirmar que as áreas de atuação são vastas para o exercício da
profissão acima citada.
Seu campo de atuação também é bem vasto, podendo exercer a profissão em
indústrias de qualquer ramo, seja elétrica, química, farmacêutica, entre outras.
Também pode atuar em empresas de prestação de serviços, seja bancos ou
seguradoras e em empresas nacionais ou multinacionais públicas ou privadas.
A partir disso, podemos citar que o conhecimento da ciência e da engenharia
dos materiais é importante pois ao trabalhar na indústria, o engenheiro necessita
conhecer as propriedades, o processamento, as aplicações e as estruturas dos
materiais. Logo, a ciência e a engenharia dos materiais proporcionam com os
conhecimentos apresentados, a seleção de um determinado material para a
execução e fabricação de um dispositivo ou produto que mantenha, agregue e
satisfaça os requisitos de qualidade necessários para o bom funcionamento dos
equipamentos que serão utilizados na indústria. Esse conhecimento é de
fundamental importância do engenheiro de produção mecânica, principalmente os
que atuam diretamente no cão de fábrica de grandes indústrias.
O trabalho proposto pede a escolha de uma peça, um artefato mostrando
como o conhecimento do mesmo se aplica a Ciência dos Materiais e a relação que o
mesmo tem com o curso de Engenharia de Produção Mecânica. A atividade é
composta pela introdução, a análise do dispositivo escolhido que foi o pasteurizador
de garrafas de cerveja, que remete diretamente a sua aplicabilidade na indústria
química, estando atrelada aos conhecimentos das áreas de estudo. Também é
composta pela análise do material, sua classificação, propriedades e micro e
macroestrutura, seu processamento, como o conhecimento da ciência dos materiais
se aplica a esse dispositivo, a conclusão e as referências bibliográficas utilizadas na
produção do trabalho.
2. Análise do dispositivo 
O dispositivo escolhido para análise foi o pasteurizador de garrafas de
cerveja, equipamento no qual pode ser fabricado em diversos tipos de aço e, para
fins de exemplificação, foi selecionado o pasteurizador da empresa ‘Palenox’. Dessa
forma, seguem algumas informações sobre o equipamento:
 Fabricado com aço inox AISI 304
 Comporta 120 ou 300 garrafas
 Garrafas banhadas por aspersão
 Controle automático de temperatura
Figura 1: Exemplo de um pasteurizador
A pasteurização é um importante processo durante a fabricação da cerveja,
pois consiste na eliminação de microorganismos que podem tanto ser nocivos à
saúde ou simplesmente causar sabores ou odores desagradáveis na bebida.
Inclusive, essa etapa é uma das diferenças, no Brasil, entre a produção de cerveja e
do chope, no qual este último não passa por esse processo e por conta disso possui
seu prazo de validade consideravelmente reduzido em comparação à cerveja. 
Basicamente, o processo de pasteurização consiste no aquecimento das
garrafas contendo as cervejas já preparadas até 60ºC visando eliminar diversos
microorganismos presentes no líquido, sendo que em alguns casos também ocorre o
resfriamento das garrafas em seguida. Importante ressaltar que durante o processo
de aquecimento é necessário medir e acompanhar a pressão para evitar que as
garrafas ‘estourem’.
3. Análise do material 
3.1 Classificação do material
A estrutura escolhida é um aço inoxidável composto por ferro (Fe), carbono
(C) e cromo (Cr), sendo o elemento mais importante presente no material acima
escolhido, contendo cerca de no mínimo 10,50% em sua composição.
Portanto, ao ter grande parte de sua composição a presença do cromo,
possibilita a formação de filmes que protegem da corrosão, explicando a passividade
do material. Ao chegarmos à conclusão de que o mesmo é um aço inoxidável,
podemos classificá-lo em um material metálico, tendo características bem definidas
e sendo opacos à luz visível, aparência lustrosa, moderada plasticidade, alta
tenacidade, bons condutores de calor, boa condução elétrica e térmica e possuem
um grande número de elétrons livres. A partir disso, podemos classificar o mesmo
baseado na sua funcionalidade. O aço inoxidável é um material estrutural, tendo por
base a transmissão ou suporte da força, tendo seus critérios avaliados a partir da
resistência as cargas externas, durabilidade, tenacidade, vida útil, entre outros
parâmetros para a classificação pela função do material.
O aço inoxidável é um material extremamente sujeito a passividade, ou seja,
reage com bastante facilidade ao meio ambiente. Porém, o cromo que possui em
sua estrutura, possibilita a formação de alguns filmes que protegem o material da
corrosão, esse processo é favorecido pela presença de meios oxidantes. O aço
inoxidável é dividido pelas séries, diferenciados pela presença ou ausência do níquel
(Ni): os aços inoxidáveis ferríticos, são os de série 400, que possuem estrutura
cúbica de corpo centrado, ligas de Fe-Cr e são magnéticos e os aços inoxidáveis
austeníticos, de série 300, que possuem estrutura cúbica de face centrada, ligas de
Fe-Cr-Ni e são não magnéticos.
O material apresentado é um aço inoxidável austenítico, o mais popular
dentro da série 300 dos aços inoxidáveis, sendo composto de no máximo 0,08% de
carbono (C), 18% a 20% de cromo (Cr), 8% a 10,5% de níquel (Ni), no máximo 2%
de manganês (Mn), no máximo 0,045% de fósforo (P), no máximo 0,030% de
enxofre (S) e no máximo 0,75% de silício (Si). Ele possui resistência à oxidação até
a temperatura de 850°C, sendo que a corrosão intercristalina acontece até a
temperatura de 300°C Suas aplicações estão estritamente ligadas na produção de
equipamento hospitalares e terapêuticos, em peças para a indústria química, têxtil,
petroleira, de tintas e, principalmente, para o pasteurizador de garrafas de cerveja
que é o material escolhido e que será mais especificado abaixo.
3.2 Aço AISI 304
O aço escolhido durante a fabricação do pasteurizador em análise foi o aço
inox AISI 304, o que é corroborado por diversos pontos. Um destes pontos é a
estabilidade estrutural e a inexistência da temperatura de transição dúctil-frágil dos
aços inoxidáveis austeníticos, classe na qual o AISI 304 se encontra, informação
importante já que o pasteurizador passa por a grande variabilidade de temperatura
durante o seu funcionamento e necessita de um aço que suporte essa questão.
Além disso, é necessário ressaltar a importância de ser uma liga metálica
inoxidável, isto é, uma liga metálica que não se oxida ou enferruja em contato com a
água, já que parte do procedimento envolve a aspersão de água nas garrafas, como
explicado anteriormente. Dessa forma, caso fosse optado um outro metal que não o
inoxidável, a durabilidade do material seria relativamente baixa. 
O aço AISI 304 é considerado um dos materiais inoxidáveis mais utilizados no
mundo, em conjunto com o AISI 316. Este último contém molibdênio, que aumenta a
resistência à corrosão e tende a ser mais eficaz em ambientes ácidos. Por conta da
estrutura mais completa, o aço 3016 costuma ser mais oneroso, o que justifica a
escolha do aço 304 para a fabricação do pasteurizador já que durante o processo de
pasteurização não ocasiona um ambiente ácido, o que demonstra ser um benefício
desnecessário do 316 para este caso, não justificando o custo adicional para as
empresas.
3.3. Microestrutura e macroestrutura
Figura 2: Microestrutura do aço inoxidável austenítico

Fonte:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4137244/mod_resource/content/0/aula09-a
%C3%A7o_inoxid%C3%A1vel.pdf.
4. Processamento do material
Os aços austeníticos, categoria na qual o aço analisado se encontra,
geralmente possui a composição de 18 a 25% de cromo, 8 a 20% de níquel e baixa
quantidade de carbono (PICKERING, 1978). Esse tipo de aço pode ser fabricado
tanto em usinas integradas como em semi integradas. Para o presente estudo, será
considerado o processo de fabricação das usinas integradas, onde são realizadas as
etapas de redução, refino e laminação. Na figura abaixo é possível observar um
resumo do processo.
Fonte: Site da empresa BetaEq
A partir disso, são descritas cada etapa, de acordo como realizada pela
ArcelorMittal Inox Brasil, empresa siderúrgica brasileira.
 Redução: Durante a redução no alto-forno o minério de ferro, carvão vegetal e
o coque são convertidos em ferro-gusa.
 O gusa produzido no alto-forno é transportado para a aciaria, onde recebe o
tratamento de dessilicação, desfosforação e dessulfuração. A partir disso, o
metal líquido é vazado no Convertedor de Sopro Combinado MRPL/AOD para
que a descarburação seja feita de maneira que as perdas de cromo por
oxidação sejam mínimas. Posteriormente, o metal líquido é vazado no Forno
Panela, que é utilizado para manutenção da temperatura e acertos finais da
composição química. Após o tratamento de refino, o aço inoxidável líquido é
transformado em placas, tarugos e lingotes, através do lingotamento
contínuo.
 Laminação de barras: Os lingotes são enviados para a laminação de barras,
que após reaquecimento nos Fornos Poços, são laminados nos dois trens de
laminação, até a dimensão solicitada pelos clientes,
 Laminação de tiras a quente: As placas, ao saírem do lingotamento contínuo,
vão para a Laminação de tiras a quente que, após reaquecimento, são
laminadas, produzindo bobinas a quente e chapas grossas.
 Laminação a frio de aço inox: laminação a frio de aço inox é realizada através
de equipamentos como: Fornos Box, laminadores Senzimir, esmeriladoras de
bobinas e laminador de encruamento, que transformam as bobinas a quente
de aço inox, em bobinas laminadas a frio. Posteriormente as bobinas são
beneficiadas e cortadas.

5. Conhecimentos adquiridos na disciplina

Para justificar o conhecimento adquirido na disciplina na realização deste


trabalho, inicia-se com o esquema que traz os componentes da disciplina de Ciência
dos Materiais que são: Processamento, Estrutura, Propriedades e Desempenho. Tal
esquema pode ser verificado no processo de concepção de novos produtos, e/ou na
melhoria de dispositivos já existentes:
Figura 4: Tetraedro das componentes da Ciência dos Materiais

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Materials_science_tetrahedron_-_pt-
br.svg
Para o artefato em questão, o desempenho requerido é que o dispositivo seja
dotado de estabilidade estrutural e que o mesmo não possua uma temperatura de
transição dúctil-frágil já que o mesmo será exposto a variações de temperatura. Para
se chegar à aplicação desejada, deve haver um domínio razoável da ciência básica,
para perceber que a composição do material escolhido deverá mantê-lo dúctil em
diferentes temperaturas, e também pressões. Especificando mais o conteúdo
abordado na disciplina, a ductilidade é o grau de deformação que o material suporta
até o momento de sua fratura. Como todo projeto de engenharia, trabalha-se para
buscar as condições ideais de operação deste produto, e também para mantê-lo
disponível sempre que possível, para isso deve-se eliminar qualquer hipótese de
fratura deste dispositivo, pois isto poderá acarretar em sérios danos físicos,
financeiros e ambientais no local de operação do mesmo.
Após ter se abordado propriedade e desempenho, vem o processamento do
material como um componente importante dentro da disciplina. O material em
questão é um aço austenítico. Como já abordado anteriormente, a austenita é uma
solução sólida de carbono em ferro gama. Somente é estável em temperaturas
superiores a 723ºC, e justamente só se encontra em fase em aços austeníticos, do
contrário o mesmo se desdobrará em ferrita e cementita. Apresenta resistência à
corrosão e é não-magnética. A rede cristalina da mesma é a CFC. Como
aprendemos nas aulas de estruturas dos sólidos cristalinos, a estrutura CFC é a
cúbica de faces centradas, ou seja, possui um átomo no centro de cada face da
célula unitária. Isso será importante para o nosso estudo pois, a austenita é o
constituinte mais denso dos aços. É importante salientar que a estrutura cristalina
original do ferro, a ferrita, tem estrutura CCC (cúbica de corpo centrado) e torna-se
em CFC característico das austenitas. e a própria austenita é ponto de partida para
diferentes tratamentos térmicos em ligas de ferro, pois a partir da mesma é possível
se chegar a diferentes constituintes, como por exemplo a têmpera que consiste na
transformação da austenita em martensita, através de um rápido resfriamento da
peça tratada termicamente. Ainda sobre a composição do aço austenítico, é
importante salientar que o mesmo não é constituído apenas de ferro e carbono, mas
também estão presentes o níquel e o cromo. Inclusive, os 20% de Cromo presente
na liga, conferem a desejada resistência à corrosão, que já foi um grande problema
no século XX, pois os aços e ferros à época não ofereciam uma resistência à
corrosão razoavelmente satisfatórias. A partir daí, veio a surgir o que conhecemos
hoje como os aços inoxidáveis. Por fim os aços inoxidáveis austeníticos possuem
também boa tenacidade, permitindo sua utilização em operações de conformação
mecânica a frio e temperatura ambiente (PADILHA; GUEDES, 1994).

6. Seleção de Materiais

Abaixo, falarei um pouco sobre como após as considerações feitas acima,


que dizem respeito ao domínio das ciências básicas para identificar as
características do mais diversos materiais, que critérios devemos levar em
consideração para uma seleção mais específica do material.
Trata-se de um conhecimento não visto em sala de aula, mas que pode ser
aplicado no desenvolvimento de qualquer dispositivo, e chama-se seleção de
materiais.
A seleção de materiais é uma das atividades mais importantes dentro da
elaboração de um projeto. Para se chegar ao produto final, se exige uma gama de
conhecimento e de informações, consequentemente se torna uma atividade
interdisciplinar e interativa. Por exemplo, é preciso equilibrar os requisitos de
mercado (Marketing), com os limites e restrições do produto (Engenharia). Como
existem muito materiais disponíveis no mercado para diferentes aplicações, se faz
necessário estabelecer certos critérios e se utilizar de uma metodologia que
proporcione ferramentas e procedimentos de apoio. Dessa forma é possível
implementar um refinamento de informações.
Dito isto, uma das metodologias mais utilizadas, é a criada por Michael Ashby,
que consiste basicamente em: Tradução, Triagem, Classificação e Documentação. A
primeira etapa consiste em traduzir os requisitos de projeto na especificação de
projeto e de material (Função, Restrição e Objetivo). Na etapa de triagem, eliminam-
se os materiais que não satisfazem as especificações. Na etapa de classificação, se
identificam os materiais com os maiores potenciais. Para fazer isso, utilizamos o
mapa de propriedades, mais especificamente o índice de mérito.
O índice de mérito é um equacionamento, onde em seu numerador estão as
propriedades que deseja maximizar, e em seu denominador, as propriedades que se
deseja minimizar:

Figura 5: Exemplo de mapa de propriedades

Fonte: https://afinkopolimeros.com.br/importancia-da-selecao-de-materiais/

A última etapa é a de documentação, que consiste em correlacionar os


requisitos com as propriedades, criando uma matriz de decisão. Essa matriz de
decisão leva em conta fatores como: mercadologia (custo, durabilidade e estética),
tecnologia (propriedades mecânicas e físicas quando o produto está em operação) e
corporativos (disponibilidade de matérias primas e impacto ambiental). Após todas
essas análises, chega-se assim ao material escolhido.
7. Conclusão

Após a exposição dos tópicos acima, conclui-se que os conhecimentos


adquiridos na disciplina são de extrema valor para o profissional da área de
Engenharia de Produção. Viu-se que o processo de escolha do material adequado
para uma determinada aplicação, o ambiente em que esse dispositivo estará
operando e o custo de fabricação deste dispositivo são variáveis que devem ser
levadas em consideração durante a concepção do projeto. Esse trade off, na busca
de equilibrar fatores que muitas vezes são divergentes, faz parte do dia a dia do
Engenheiro de Produção, e o mesmo deve ter um forte poder analítico para saber
tomar as melhores decisões e saber justificá-las.
Conclui-se também que os conhecimentos adquiridos na disciplina são de
vital importância, no momento em que a ciência básica precede a ciência aplicada.
Como visto anteriormente, o domínio dos materiais aponta para o desenvolvimento
das civilizações.
8. Referências

http://www.madeira.ufpr.br/disciplinasivan/processoscorte_arquivos/FerroAcoCon
ceitos.pdf
http://www.demat.cefetmg.br/wp-
content/uploads/sites/25/2018/06/TCCII_2%C2%BA_2013_GabriellaSoaresCalde
iraBrant_Profa.Ivete_.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4137244/mod_resource/content/0/aula09-
a%C3%A7o_inoxid%C3%A1vel.pdf
file:///C:/Users/Acer/Downloads/Ci%C3%AAncia%20dos%20materiais%20-
%20Callister%20-%208%C2%AA%20Ed%20-%20Livro%20-%20Portugu
%C3%AAs.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3271537/mod_resource/content/1/Aula
%204%20Sele%C3%A7%C3%A3o%20de%20materiais.pdf
https://canal.cecierj.edu.br/recurso/17260

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