Um aluno levou um choque, quase morreu. Os outros se revoltaram. Começaram a se
organizar pelos corredores, paralisando as aulas, entravam nas salas e diziam: “Ou eles arrumam a nossa escola, ou vai ter a Queda da Bastilha”. Quando eu ouvi aquilo eu quase chorei de orgulho! Eu, professor de História, vendo uma revolução acontecendo da minha frente… Mas aí polícia chegou de uma hora pra outra e a coisa saiu do controle. Começou o quebra-quebra. Foi horrível. As aulas foram suspensas por uma semana, é, esse foi o prazo que deram pra organizar tudo, sabe... mas no fundo eu sabia que era mentira... o estado até gostou, sabe, ganhou mídia com a situação e colocaram a culpa nas crianças, coitadas, já abandonadas desde muito antes. Aquilo não foi vandalismo, foi um grito de socorro, cada um grita como sabe gritar! Daí já foram duas semanas... disseram que precisavam remanejar orçamento. A gente ia pra frente da escola, conversava com os alunos e com os pais que não tinham onde deixar as crianças pra ir trabalhar e fomos improvisando… Dávamos aula na sala de uma vizinha, no terraço de um bar ou no salão de uma igreja quando não tinha culto... mas era quente, era desconfortável. Quem aprende assim? Já tinha passado quase dois meses e nada. Estava perto da eleição e o prefeito sem chance de reeleição, então era toque de recolher, a hora da Cinderela, momento de fazer reservas pro partido... e nesse esquema de enxugar a máquina, muita cabeça voou e a minha foi junto, disseram que já estava há três meses sem trabalhar e não podiam jogar dinheiro público assim pelo ralo, com um funcionário que não estava trabalhando na escola… Que escola?