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“DIÁRIO DE UM CONFINADO”

TEXTO 1

Murilo fala para um repórter imaginário que está ao lado da câmera.

Acho que não sou só eu, né? Todo mundo já tá meio… maluco… de ficar tanto tempo
confinado. Já nem sei mais quando foi a última vez que eu botei a cara pra fora de
casa. (reflete) Quer dizer… Botei ontem, que eu tava um pouco mais… ansioso. Mas
nem conta muito. Sai de quadro como se tivesse ido até a janela, dá um berro e
volta rápido pro depoimento. Tem oito anos que eu faço análise. Sempre com a
Leonor. Nossa, mudou minha vida. A análise é o tempo que eu tiro pra mim. Eu boto
as gavetas em ordem. Porque nossa cabeça é como se fosse uma cômoda cheia de
gaveta. Na terapia você fala e vai botando… (pegando em diferentes partes da
própria cabeça) cueca na gaveta da cueca, meia no lugar da meia. Com esse
confinamento, acaba que tá camisa embolada com cueca, meia suja com resto de
biscoito… Metaforicamente falando. E realmente falando também.

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