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social: umbas nasceram ao mesmo tempo, no fim ‘© no mesmo meio: a burguesi 3. A Familia I As Imagens da Familia Pareceria contestivel falarmos de uma iconografia profana na dade Média antes do séeulo XIV, de tl forma o profano se distn- ‘gue mal do sagrado, Contudo, entre as cont fana a essa representagdo total do mundo, cia ¢ popularidade sio significativas: 0 tem: formaram que 0s gauleses da época romana go: 1us baixos-relevos funerdrios cenas de suas vidas de Essa preferéncia pelos temas de offcios nao é encon- {Taga em nenhoma outra parte. Os arqueblogos também fcaram in- pressionados com sua raridade, quando aio com sua auséncia, az jconografia funerdria da Africa romana’. O tema remonta, por con- seguinte, a um passado remoto. Ele se manteve.e até mesma se desen- wal, La Ve quotsiene en Gaul, 1982. ard, Les Rains de Afrique aauqu, 195. 196 HISTORIA SOCIAL DA CRIANGA EDA FAMILIA rosso modo, mas sem deformar a verda- ‘profana” medieval consiste acima de tudo no ide Mi i Sem dvds to parse pretument ores modernos. Mas terko ses se indagado -esquecer seu oficio ¢ gostariam de csmos? Em vo tentams itroduit pect sda vida contemportines, ore Sultado ¢ uma espécie de academicismo sem rizes populares. © ho. mem de hoje nfo esclhera seu offlo, mesmo que gostase dele pare propé-o como tema 2s, mesmo que eater times pudessem aceita-lo. A importéncia dada ao oficio na iconografia me- fieval € um snal do valor sentimental que as pessoas Ihe aribulam, Era como'w a vds puvada de um homen lose antes e mat nade ‘Uma das representagdes mais populares do oii olga ao tema das eaten, ca importing tvemoss xsi de reanbenr a , Com muito poucas variantes, em lis, em Chartres, em Amiens, em De um iado, os grandes trabalhos 1a nada, Fevereiro pertence ac ‘que volta a casa carregando lenha e se aquece perto do fogo. Maio ora é um camponés que descansa no meio das flores, ora um Jovem nobre que parte para a caga e prepara seu falco. Em todo 0 3.CF pre, pate 1, ea. [AS IMAGENS DA FAMILIA 197 rapaz e nunca de uma mulher. Podemos ver essa iconografia evoluir ao longo dos livros de ho- ras até o século XVI, de acordo com tendéncias significativas Primeiro, vemos surgir « mulher, a dama do amor cortés ou a 1a-de-casa. No livro de horas do Duque de Berry, no més de feve- reiro, o camponés no é mais o Ginico a se aquecer, como nas paredes de Senlis, de Paris ou de Amiens. Trés mulheres da casa ja estao sen- tadas em torno do fogo, enquanto o homem ainda esté do lado de fo- ra, transido de frio no patio coberto de neve. Em outras representa- ‘cbes, a cena se torna a imagem de um interior, de uma noite de inver- : ddiante da larei- rias do séoulo XVI descrevem essas cenas campestres em que 0s se- rnhores e suas criangas colhem uvas e supervisionam a colheita do tri- 0, O homem no esta mais sozinho. O casal ndo é mais apenas 0.¢a- sal imagindrio do amor cortés. A mulher e a familia participam do ‘ou nos campos. Nao se diseretamente a colaboragdo da familia, dos homens e das mulheres HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA DA FAMILIA Com a rua, 05 jo gos de cavalar ai © ca (Hennessy) os banhos coletivo ni). Ora, sabemos que os jogos nao eram entio apenas divers 4 Livro de Horas de Adeltde e Savoie, uquess de Borgonks, Chantilly, ‘nos banquetes de janciro. Per vyro de horas de Adelaide de Savoie; brincam de jogar bolas de neve, atrapalham com sua bagunca o pre- ‘gador na igreja e slo expulsas. Nos Ultimos manuscritos flamengos ‘do século XVI, elas se divertem alegremente; percebe-ae a predilego {que Ihes dedica 0 artista, Os calendérios dos livros de horas de Tiennessy e de Grimani imitaram com precisio a aldcia coberta de neve das Trés Riches Heures do Duque de Berry, na cena do més de ‘do museu dos Augustins de Toulouse (que outrora ornava a ca- do Parlamento dessa cidade), ou um certo purto de Ticiano *. ‘Nesses livros de horas de Hennessy e Grimani i ‘nam no gelo, brineam de imitar os torneios dos adultos (alguns reco- ‘elas 0 jovem Carlos V). No livro de horas de Muni- ‘que, elas se atiram bolas de neve. No Hortulus animae, elas brincam ‘de corte de amor e de torneio, montadas numa barrica, ou patinam no gelo’ ‘As representagies sucestivas dos meses do ano introduziram vizinhos € ‘Ag longo do século XVI, essa iconog uma tiltima transformagio muito significativa para nosso estudo: ela Prado (Made. ol, HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA EDA FAMILIA perpen ened lygtorer ce 110", por exemplo, aparecem dois puiti dormindo, ur casal formado or uma camponésa vestide tocando flauta e um homem au n0 pri- meiro plano, e, a0 fundo, um velho sentado e recurvado segurando uma caveira, mesmo tema é encontrado em Van Dyck ?, no seeulo utadas separadamente, segundo a tradicdo iconografica. Ni guém teve a idéia de reuni-las dentro de ur ra teal, cage pl ler a henipigep leer erates apogee eee a ee rd cence Snes, wp ele que simbolizava a duragio da vida através da Bie nos eae lr era um eaetho do mundo, O ju eaquerda, ¢ 0 outro dobra 0 fe da, Trata-se 20 mesmo tem fe ae ee ge ae Sse beeie Paises Baitos, na Tilia, na Inglaterra, na Franga ¢ na Alemanha, ¢ de uma cena de género Tamar, como as que os pintores e tes muliplicariam no seul XVII Ese ta corhecera ma aordinéria popularidade. Nao era um tema totalmente desconheci- do da Idade Média, ao menos do final, Foi desenvolvido de forma [ASIMAGENS DA FAMILIA num capitel das foggias do palicio Ducal de Vent ‘casamento. Venturi data essa representaglo ds tenquanto Toesca a coloca no fim do século XI provivel de tem: {ema familiar nos séculos XIV e XV ~ porém aqui, esse drama se pas Sano scio de uma familia, ¢ isso € novo. A representagdo comeya pelo noivado. A seguir, a jovem mulher aparece vestida com um traje be ceriménia sobre o qual foram costurados pequenos discos de me- tale seriam simples enfeites ou seriam moedas, jf que as moedas de- Sempenhavam um papel no folclore do casamento e do batismo? A ter- ‘ceira face representa a cerim@nia do casamento, no momento em que lum dos cOnjuges segura uma coroa sobre a cabeca do outro: rito que {urgia oriental. Eno, os noivos tém o direito dese bei es estiio deitados m ‘mde juntos, Suas roupas parecem mais si noivado e do casamento: eles se tornaram face, o drama explode: a fami morta, estendida sobre a cama, com as mils postas. ‘mos e poe a outra no braco da crianga; © inhos deste, so ornados com putti nus ‘ou bolas: temas mais banais, mas que 4 reunida num retrato, como na gravura contempordinea "Propriétaire, mas com um detalhe adicional que tem sua importincia: a presenga dos criados ao lado dos pais. O pai ea mie esto no meio. O pai da a mao ao filho, e mie a filha, O criado est do lado dos homens, ea criada do lado das mulheres, pois os dois se- 1 Vertu, Storia de Arte tat. VE, p32 12 Toetca,Stoia de Arte a1. H 202 HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA E DA FAMILIA 408 so separados como nos retratos de dosdores: os homens, de um ado, eas mulheres, mise filhas, do outro. Ox hades se empenha em repre- da col Um menino com um vez um parente, en eer nae ‘aqucle dia de servir a mesa, Fungio inte, muito ao contratio, Novembro: 0 pai esta velho e doente, tio doente que foi preciso recorrer a0 médico, Este, com um gesto banal pertencente a uma ico- 4 doenca e a mo: ‘mo tempo a boa morte, a morte do homem ju tradicional, e também a morte do patriarea no les episédi ‘mesma: direedo toda a iconogs [AS IMAGENS DA FAMILIA 203 No pri ‘as cenas representadas pelos artistas se passavam num espaco indeterminado, ou em lugares pablicos como as igre- Na arte gética, livre do simbolismo romeno- ‘acampa em tomo da tenda onde o Rei descansa,. ‘idades; os principes entram « saem das cidades fortificadas, sob a aclamagio do povo e dos bur- .mos nas cidades por pontes, pasando diante das tendas \dedores de biscoitos, a ilustrar anedotas ou epis6dios| ‘nuidade surpresa produz um resultado canhes ‘compara ao virtuosismo dos artistas que representam epis6dios nos ‘do século XV, portanto, as cenas de interior sto muito ra- de entdo, elas se tornam cada vez mais freqUentes. O tes situado num meio atemporal, torna-se um eseriba ha, com a pena e a raspadeira na mio, Primeiro ele imples drapeado decorativo, mas final- mente aparece num quarto livros em prateleiras: do evange- lista, passou-se ao autor em seu quarto, a Froissart escrevendo uma dedicatoria em seu liveo ®, Nas ilustragées do texto de Teréncio do palicio dos Doges, as mulheres trabalham ¢ fiam em seus aposentos, om suas criadas, ou aparecem deitadas na cama, nem sempre sozi- nihas. Véem-se cozinhas e salas de albergues. As conas galantes ¢ as conversagies se passam agora no espago fechado de uma sala. ‘Surge o tema do parto, cujo pretexto ¢ o nascimento da Virgem. CCriadas, comadres ¢ parteras se atarefam no quarto em tomo da cama da mie. Surge também o tema da morte, da morte no quarto, fem que o agorizante luta em seu leito por sua salvacdo. "A representagio mais freqilente do quarto e da sala corresponde ‘ uma tendéncia nova do sentimento, que se volta ento para a inti- 13 A. Lindser, Der Brasawer Prosar 1912. 1 204 HISTORIA SOCIAL DA CRIANGA EDA FAMILIA tura bolandesa e flamenga © a rancesa compre teiordindnia. fora des ‘antes inconsistente ou me- ‘que desprezaremos por po da vida em 4s galerias de a segunda metade do séeulo XVI reaparece no século XVIII na pit grande revolugdo estética que bani Nos séculos XVI e XVII tos doadores com sua familia pode ser ilustrada com numerosos exemplos do século XVI: 05 atraleda ami- AS IMAGENS DA FAMILIA 205 Jia Montmorency em Monfort-L’Amaury, Montmorency ¢ Ecouen; ‘ou of numerosos 3 pendurados como ‘os pilares € nas paredes di tlemas, muitos dos quais ainda permanecem em seu lugar de Nurembergue. M As vezes ingénuas ¢ mal feitas, chegaram ‘Alemanha © da Suiga alema. Os retratos de famili fieis a esse estilo. Tudo indica que os alemaes icio do XIX, que representam no mais a reunito familiar dos vivos ¢ dos mortos, mas 0 acontecimento miraculoso {que salvou um individuo ou um membro da familia de um naufragio, lum acidente ou uma doenga. O retrato de familia € também ume es- a da época elisabetana fornece um familia a servigo de uma forma de devo- a enumeragdo das crianas, vivas ou mortas, € impressionante, € virios desses tim! ‘Mio encontrados na abedia de Westminster: Sir Richard Pecksall, por exemplo, morto em 1571, aparece entre suas duas mulheres, ena base do monumento hi aparece ajoelhado no meio de seus seis filhos. Em Holdham, contam-se 21 figurinhas sobre o timulo de John ‘Coke (1639), alinhadas como nos reiratos de doadores, eas que esto mortas seguram uma cruz. Sobre o timulo de Cope d’Ayley em 133), os quatro meninos ¢ as trés meninas esto dian- joethados; entre eles, um menino e uma menina segu- 14 Basia, Museu de Delaware. 206 HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA € DA FAMILIA Em Westminster, a Duguess de Buckingham mandoa 1634 0 tamulo de seu mari - ear taas eerste Pequena imagem devora a parede de fundo do quadro. A adigdo do exwot ands eta presen te num quadro de Ticiano pintado em torno de 1860 ": os membros 4a familia Cornaro—um velho, um homem madue tha, um homem jovem de barba negra (a barba, sua forma ¢ sua cor slo indicios da idade)e seis meninos, 0 menor dos qqais brinca com um e&o ~ estdo agrupo Em cerios casos, também, o retrato {ia é certamente um fendmeno importante: a familia se contempla propria na casa de um de seus parentes, Sente-se a necessidade de fi- jem ou uma inserigdo na parede, ‘so muito numerosos, e seria ‘mondtor i fa, “posam”” numa atitude: nada a salientar o lago que os une. Numa tela de Pourbus "0 mari- [AS IMAGENS DA FAMILIA 207 do apsia a mio esquerda no ombro da mulher; & seus pés, uma das Cianigas repete o mesmo gesto, apoiando a mao no ombro da irmazi- hnha. Sébastien Leers foi pintado por Van Dyck segurand iciano ®, trés homens barbudos cerca ino meio dos trajes negros, e um deles ‘da composigio. Con- ‘gue exprimem seu sentimento reciproco, cio comum, E o que ocorre com a fi Borghese ~o pai, a mie e sete criancas - ou ainda da f ke de Van Dyck personagens, de pé, casudos, e & esquerda, dois adolescent um simbolo da adolescéncia mascu! da maturidade), ‘outros meninos Vos, de 1577. Ou 1 parou de fazer misics: nio se de um artificio do pintor, pois as refeigSes muitas vezes terminavam por um concerto ou eram Interrompidas por uma cangdo. A familia que posa para o artista, miaior ou menor de afetaglo, permaneceria na arte particular dos holandeses, o retr es seria tratado como uma cena de gént (0 & um dos temas que os holandeses mul homens reunidos em tor to do fogo, uma diante, torna-se dif de género que evocs a vida 19. Ven Dyck, “Sebastien Leer sus muthereseu filo". Repreducido em Kd. K. at 2. 30'Tielano, reprodusido am K. dK, 9° 236, 2 Van Dyck. “A Familia Pembroke, repos em Kd. Kw? 393 Elbe Parra Raman ars. 195 omic. BIR Rerisen, meadou do stvulo XVI, Reprodusido em Gerson, 1, 8. HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA E DA FAMILIA Dretextos para as imagens da raha mess, ratios e que seca muitas weve fepetia tanto na gra- como na pintura holandesa. & o mesmo lades de Le Grand P1 euoXvt yntas € onde estdo pousadas sua bolsa, algumas fichas e um 4 a eae arena en es Heures ui de Cet lop Et met le pls beau de save 4 bien servi som Dies, familie, som Roy * Aqui, «familia € colocada no mesmo plano que Deus 0 Rei ie: u/ E omens pat minhla desu vid Em [AS IMAGENS DA FAMILIA 1» Fase sentimento nada tem de surpreendente para nds, homens do sé- ‘na ép0ca, e sua expressiio deveria nos espan- 1a, desenhando uma mulher jo- ‘repada em suas costas, Nao ‘eriangas desmamavam mui- to tarde, Ha ainda uma outra gra ddona-de-casa com suas chaves e suas criangas, dando ordens criada ‘As outras alegorias também evoluem para as mesmas cenas de hholandés do inicio do século XVII, 0 olfato, um dos ‘0 perdio da mie as suas criangas, perdao que ibuindo-Ihes guloseimas ~€ A o espirito familiar! lo XIX, ‘modo geral, a cena de género moderna nasceu fadicionais da Idade Média. Mas a distii ‘e sua nova expresso ¢ enorme. Esquecemo-1 ages ¢ do inverno quando contemplamos um quadro de noite a0 pe do Fogo: de um lad nde wuanto do outro, em volta da ‘mos um catilogo de temas repeti ‘erianea no bergo *, « mie amamentando ea, Cabinet des Exampes, Be 3 inte yehaen (58-160 “be Genebea. ‘Semdrar"Cinguidme Bésttude", Cabinet ex Estampes, Ea. t13o-P, Dow. K. 4. K. pp, 9, 91 92 ‘vapondrd, dente. Exposcio Fragonard, Berna, 1984. G. Dow, 6K. irouwer W. de Bode, p73 Bory, pravura, Cabinet des Estampes, Ba, 108 in. A analise iconogréfica leva-nos a concluir que o sentimento da AS IMAGENS DA FAMILIA 2 XVI, para se exprimir com um vigor definitivo no séeulo XVI. So- mos tentados comparar essa hipotese com as observugbes los his- res da sociedade medieval ‘A idéia essencial dos historiadores do dircito e da sociedade ¢ wulam um Gnico grupo, ¢ sim dois, que ndo tinh: Essa tendéncia & indivisio da familia, dduas geragdes, deu origem as teorias sobre a grande familia patriarcal. ‘A familia conjugal moderna seria portanto a conseqiéncia de uma evolugio que, no final da Idade Média, teria enfraquecido a li- ‘nhagem e as tendéncias & indivisdo. ‘Na realidade, a hist6ria das relagdes entre a linhagem e a familia ‘& mais complicada, Ela foi acompanhada por G. Duby na regio do lusive Duby, “a familia do século X, a0 jade reduzida & sua expresso mais. <0: “Depois do ano mil, a nova distribuigdo dos poderes de comando obrigou os homens a se agruparem mais estreitamente”. O estreita- mento dos lagos de sangue que entlo se produziu correspondia a 38.6. Duby, La Socieé or XT XI secles dans la rion mscomaise, 1953, a2 HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA E DA FAMILIA Luma nevessidade de protegio, do mesmo modo como outras formas ide relugdes humanas ¢ de dependéncias: a homenagem de vassalo, a suzerania ¢ a comunidade aided. “Demasiada independents e mal efendidos contra certos perigos, os cavaleiros procuraram refigio nna solidariedade de linhage ‘Ao mesmo tempo, nesses séculos Xe XII do Maconnsis, pode- ‘mos constatar o progresso da indivisio, E dessa época que data a in- divisto dos ‘que, no século X, ainda nio esta- vvam fundidos numa massa comum, administrada pelo marido: nesse século, © marido e u mulher geriam cada um seus bens heredititios, compravam e vendiam separadumente, sem que 0 cOnjuge pudesse interferir, A indivisio quase sempre também foi estendida sos filhos, que gram impedidos de obter qualquer adiantamento sobre sua heransa: ~“Agregacdo prolongada na casa paterna ¢ sob a autoridade do ances: tral, dos descendentes desprovidos de pecilio pessoal e independén- -ondmica”, A indivisio muitas vezes subsistia apés a morte dos ““E preciso imaginar o que era entio a casa reunindo num mesmo dor tio eénego, que aparecia de tempos em tempos e preparava a carreira de um ou outro sobrinho”. A frereche raramente durava além da se- Bunda geracdo, mas, mesmo apés a divisio do patrimo conservava um direito coletiva sobre o conjunto do ps hheranga da linhagem, lia dos cavaleiros, que Duby acredita yenos intengamente esse estreita- mento dos lagos de sangue porque os camponeses haviam preenchido de mar te dos nobres 0 vazio de res piiblicos, ¢ a comunidade alded havia forneci- {do 0s camponeses um quadro de organizagio ¢ de defesa superior a lia. A comunidade alded teria sido para os camponeses o que a situago mais uma vez se inverteu, As ‘monetaria, a extensto da fortuna mobi- lida, 9 freqQéncia das transagdes, e, a0 mesmo tempo, os progressos da. autoridade do Principe (quer fosse um Rei capetingio ou 0 chefe de lum grande principado) e da seguranca pablica provocaram um es. {reitamento das solidariedades de linhagem eo abandono das indivi- ‘ses patrimoniais. A familia conjugal tornau-se novamente indepen dente. Contudo, a classe nobre nfo voltou a familia de lagos frouxos do steulo X. O pai manteve € alé mesmo aumentou a autoridade que, AS IMAGENS DA FAMILIA 13 sis a pec pan cnet nos séculor XI XI, the ha Ele subst do, que se vaguardar o patrim@nio ¢ sua integridade. A sut nunhio de bens do c: direito sportincia jo na vida quotidiana pelo grupo ia d eu ritmo sofre as modifi- nage é menos marcada em G. Duby do que em 0 sd dr, Tratne meng = tui yrogressiva da linhagem pela far ‘o.que, - {arpa sr uma vito putamen iia ~ do gue 6 date ou da contracdo dos laos de sangue, ora estendidos a toda fem ou do embros Gs ferece, ra restigidos 0 cal esa o- Heroes impresedo de que apenas inhagem ra cap esd seen a tmuito diferente do seatimento da tls dos séculgs XVI © XVIL Estendese aos lags de {Erarem conta os valores aascidos da coubitagdo eda i Tedne sum espago eomum, em to s fio Nto em naga de compardvel 3 Zadrouga serva, Of sto fae 10 ha vestigios de grandes co- tes do seco XY. Ao eontra- mean et . vise ce cn period ponuls una concep parteulat da linhagem, {uma degradagdo progress Ela perde o dire eee Casuda tomas uma incapaz,¢ tra pelo maid opel vou refore os podees 60 ue aba por elablecer in espe de monardes donee, lo XVI, eg o per patero no qo cover tanto se enfraqueciam os Lagos da linhagem, a autoridade dk mario dento de casa ornavase maior x mulher oy fos sesut, nas condigies s0- © valor que outrora rs ell soca. a base don Esta. monirquieo. Veremos agora a impor. pela religifio. = A eraltagdo medioval da de entre seus membros, iment espe ora, quando nfo vi om dec Je sangue pode muito bem terihe parecdo repug onde a grea acctou a hereditaredade dos ter é 0 que ela no a tenha mencionado . : Pe ee eee, sarees enemas os ee inte do portico. Quale joria dos padres, con- 26 PP "La file ca Francsout Ancien Régime” Sieg compare Janilte contemporaine, Coléquios do CNRS, 1955. = ee. ASIMAGENS DA FAMILIA 215 suas ovelhas, devia partithar a opinito do curs de Chav- ‘quem 0 easamento efa uma questio de dltimo caso, uma raqueza da carne”, Ele nf livrava a sexualidade de sua ‘Sem dtivida, essa reprovagio nijo chegava i con- ‘edo casamento, a maneira dos cétaros do’ Franga; fa, porém, uma desconfianga com relagéo & fruto da carne. Nao era na vida leiga que o homem podia se santifi- car; a unido sexual, quando abengoada pelo casamento, deixava de is do, 0 outro grande pe- ligiosa. Na sombra do claustro, ele podia reparar sado profanc. Foi preciso esperar fim do 5, teolbgicas, espirituais © ide de ums santificagao iga era necessaria. Os progressos do sent ‘08 da promogio religiosa ‘Seguiram caminhos p: moderno da 3108 dos santos padroeiros do marido © ‘da mulher, cercados pelos préprios cOnjuges ingas. O culto dos santos padroeiros tornou-se um culto de ento ou um batismo. No. ‘costumavam representar a propria ceriménia religiosa, tal ‘olava na entrada da igreja: lembremos, por exem- (0 do Rei Cosius ¢ da Rainha Sabinéde na vida de em que o padre enrola a estola em torno das mios 37 Chaucer, The Parson's Tale. Cf Philippe Aris em Popularions, 1984, p. 692, ASIMAGENS DA FAMILIA 27 Nito devernos interpretar esse gosto pelas festas mundanas ou cia no estava wusente, assim como tam nova interpretacio livemos a ocasifo de tesa se reunia nessas ocasides, (liz por estar junta, Mas & seers sererta por Steen no & mais exatamente uma dessas festas da vente em Que as ciangas se comportavam um tanto como os Hos no dia dis salurnais, em que desempenhavam um papel fixado ‘Aqui, to contrario, 0s adultos of- de Sio Nicolau, fem que os pais ajudam as crianeas ‘iam escondido para elas nos ca ‘ateus como aos religiosos. O Natal sociedades do Ancien Régime, pois ide Reis, que era muito préxima. asenguanto a cumas da Sie no ol de rincade ‘ as sociedades industrais = ou 0 “menino Jes ito moderno da infinci _Molenar, “Les relevailes”, mu- smusev de Lil, 42.4, Steen, “La Sait Nicolas", reprodusido em Getton n* 87 tenino pequeno abengonse «mesa no ic = jarefa de dizer o benedicite nio a qualquer uma das “4 ‘mas & mais nova: 0 manual pueril ¢ honesto a Cor dier estabelece essa regra, que € conservad: Sicdea modiicndes iranian eteeennees im encod a mesa). Em seus logs, Vin steve uta rane fea "O done dasa Enero oa areas ae nai sa mx XVI. mas o mais importante é 0 fato de a crianga ter sido associada & 4 The bes Book, pind ae Chee amie she» Fun Cec coh pens. Rai 6 2 tsa 4 FOteoaquctcoquenarion dns mei See sbecondo pores". |ASIMAGENS DA FAMILIA 219 ja, durante muito tempo a Gnica prece dita toe dos tratadas vveladores do que a iconografia. A pal ‘cena do benedicite torna-se um dos temas mais fentarnos distinguir. Examinemos ‘#. Trata-se de um retrato de antiga: o pai e a mie esto 105 em volta. Uma {Xow 0 momento em que um men thos da mae. com as milos postas, recita 0 benedic lia ouve a prece, com a cabega descoberta © 3s igravura de Abraham Bosse * represe ‘protestante. Antoine Le Nain " rei {ou esse tema segundo & m: 'A mesa exté posta; o pai bi testi de pé, A mie, sentada, olha com ‘ios postas, recita a prece. Essa com- indida pela gravura como uma imagem tura holandesa do séeu- juma pintura de Steen nico sentado: velho hi- ‘abandonado fd muito perto dela, uma menina repete 2 pt ‘6 mesmo tema é encontrado ainda no século XVITI no de Chardin, sda iconografia dé a esse tema um valor singular. A redicte pela crianga no é mais uma marca de Tepresenti-la porque em geral se cago nova. O atribuis a juma sintese trés forges iconogrifico evocava € associava n\ ine des Estampes, Ee 10 i-. es Enumpes. Oa 44 pet. in. p. 6S © seatimento da inftacia 2 getimento da infacia (a crianga meno io uma evolugso quase paste Sentido neceidade dee devocae nem pi de uma devogao familiar. nts aque era uoiado de Cristo" Todas as fumes era AS IMAGENS DA FAMILIA 2 cconvidadas a considerar a Sagrada Familia como seu modelo. A ico- sob a mesma influén fosé_nio. desempenhs ‘um pintor na ‘Jesus no colo e passa assim para 0 centro da composi- ¢ freqente em Murilo ¢ Guido Reni. Algumas vezes, inando em seu atelié de marceneiro, ajudado pelo me larmente numa la Grande, em Poi ‘57 E. Male, L'Ar religieux apts le conte de Teme, p. 312 5 Paccace di Rows. SS Caeetche Peane, CI. MAle, op. ip. 311, Rembrandt, “O marsenci (@ Gibel I, pe, CLXW, datada de parece evidentement. sul 0 0 outro, menor, brinca no chio, Adio, escondido vore a fim de nio perturbar to de costas. Sem duivida, Logica nessa fa vinda de Cristo, 0" de San Martino, em Népol século XVIII. Adio cava a =, Eva fia como a Virgem cos do, smbora -desempenhasse em suas origens o papel primor- Fustel de Coulanges iu ia Grécia sobreviven io impressionar pela fungdo que a f joeledades ha alguns séculos, e no nos sen- 51 ©. Loth (1632-1698). reprodusid em Flacco, Veeton Painture, p49, 62 Veronese, “A familia de ASO", Veneth Palicio dos Doges, aie aoe bestonuade © sentmento familia. Dat em giant, & jou em torno da familia Eraro uma tela que adorna de ma- neira pieante e um tanto tnacrBnica a prosa do Renascimento ®: “S6 cho dessa obra, numa 63 Erasmo, of, de 1714 do Casomento Cristo 2 Da Familia Medieval @ Familia Moderna iconografico do capitulo anterior mostrou-nos 0 novo ‘ela familia na vida sentimental dos séeulos XVI € ‘mesma época tenham ocorrido mu- de afeiglo dos ingleses manifesta-se ide com relagdo as suas criangas. Apos 1A Relation of the Island of England, Camden Society, 197, p. XIV, sino em The ‘Babees Books, pableadon por FJ. Fummival, Londet, (portanto, até entre cerca de iadas entio de aprendizes. Durante esse tarefas domésticas, Hé poucos Jer que seja sua fortu- me cruel, o que faz suy quecido em seu pais. El dos outros porque pe que por seus préprios ingleses davam ao obser ue suas criangas aprendam as boas maneiras” Esse género de vide foi provavelmente comum ao Ocidente me- 34 no século XII, G. Duby descreve a familia de um cavaleiro nenhuma degradagdo ¢ nao despertava nenhuma repugnin século XV existia toda uma literatura em lingua vulgar, francesa ou Beaurepsire, insractionpulige en Normandie, 1872, 3 vols. Ch cole de Charres ou Moser Age, 195. Ms on on pgm Situ vals bon serie etre Crandre dats et amer ton malig Manger dot sant seer able." (Seguem-se regras de boa apresentagio.) ‘Si tours bonne compagnie Soir sealer ou cere ou presire** (Um clérigo podia servir na casa de outro clérigo.) pour le bien rere eran ELM ten par adbenure Asim, o servigo doméatico se confundia com a aprendizagem, 2 forma muito comum de edacagto. A cranga aprendia essa prtica ndo parava nos limites de uma profs, ipagio na vida privada, com a qual se confur Era através do servigo doméstico que o mestre transr crianga, no a0 de conhecimentos, se possuir. Assim, toda a educagio se fazia através da aprendizagem, ¢ ddava-se a essa no¢Jo um sentido muito mais amplo do que o que ela adquiriu mais tarde. As pessoas no conservavam as proprias erian- ‘gas em casa: enviavam-nas a outras familias, com ccontrato, para que com elas morassem © comegassem suas vidas, ou, nese ‘novo ambiente, aprendessem as maneiras de um cavaleiro ou um off Burpucs. sl 2am sige ou pad fi /Deves sempre gr DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 229 cola e aprendessem as (9 difundido em todas uma ambigGidade entre jado, dentro da mesmo para que freqtientasser sociais. Apontamos ‘eiado subalterno © 0 empregado de mesma noglo de servico doméstica ‘e XVII, a palavra garcon designas izinho novo ¢ um jovem servider doméstico: foi conserva- te, Mas ‘ocuipou um lugar considerdvel nos manuais de: ‘boas maneiras: € o assunto de um capitulo inteiro do manual de ‘mais populares do ratava-se de ur tempo em que to- ésticos eram realizados indiferentemente pelas Nao havia lugar para a escola nessa transmissio através da ragem direta de uma geragdo a outra. De fato, a 1e se destinava apenas aos clérigos, aos E a escola era na realidade uma excecio, ¢ mai estendido a toda a sociedade nd justifica descrever através, considerar aexcecdo como a regra. A ‘Mesmo os elérigos que confiados ~ como 05 Ou rem pa parte da educagio de um lerigo juanto a escola, No caso dos estudantes muito pobres, ele fot 230 HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA E DA Fa\ substituido pelas bolsas dos colégios: vimos que essas fundagdes fo- igem dos colegios do Ancien Régime. Jouve casos em que a aprendizagem perdeu seu cardver em forma mais pedag6si 0 oriundo da aprendizagem eur. Sho descritas al verdac ymnecido pelo ra aula: o mestre, um 12 erguida e o dedo indi uumia escola come outra qualquer. Ao fundo, observam. Uma cena semelhante representa jompa". Eram coisas ago, as armas eas ma- que alguns tipos de ensino técnico, inado de uma aprendizagem ja pela participaedo familiar das criangas na vida dos adultos. Assim se ra de criangas ¢ adultos que tantas vezes observa- casos de sldados de -anos' Mas pequena pa: jem queleva u manopla do Duguede Lesdigutes', eos guelevam 9 Capatee de Adolf de Wignacout na tla de Caravaggio que se eo- DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 21 bate abaixa do ombro de seus senhores. Em suma, em toda a parte ‘onde se ttabalhava, e também em toda a parte onde se jogava ou brin- fava, mesmo nas tavernas mal-afamadas, as criangas se misturavam. ‘208 adultos, Dessa maneira elas aprendiat to de cada dia. Os agrupamentos sociais das pinturas de concer {ratos de Familia quanto como alegorias das idades da vida, pois reu- nem eriangas, adultos e velhos. mndigdes, a erianca desde muito cedo escapava a sua ‘mesmo que voliasse a ela mais tarde, depois de adul- inem sempre acontecia, A familia no podia portanto, nessa imentar um sentimento existencial profundo entre pais ¢ fi- Jo significava que os pais no amassem seus ilhos: eles se ide suas criangas menos por elas mesmas, pelo apego que ‘ocupavai Thes tinham, do que pela contribuigdo que essas criangas podiam tra- zer A obra comum, ao estabelecimento da familia. A familia era uma realidade moral e social, mais do que sentimental. No caso de fami- ‘muito pobres, ela no correspondia a nada além da instalagdo ‘do casal no seio de um meio mais amplo, a aldeia, a fazenda, * dos amos e dos senhores, onde esses pobres pas- Savam mais tempo do que em sua prOpria casa (is vezes nem ao me- im vagabundos sem eira nem beira, verda- is ricos, a familia se confundia com a jonta do nome. A familia quase nio re 08 pobres, ¢ quando havia riqueza e inspirava no mesmo sentimento provocado to pelos contemparfineos como pelos historiador conhecer. E, no entanto, o fato essencial é bast ‘Sio da freqiléncia escolar. Vimos que na Idade Média a educagio das Griangas era garantida pela aprendizagem junto aos adultos, ¢ que, 9 it de sete anos, as criangas viviam com uma outra familia que niko a sua, Dessa época em diante, a0 cor ‘a educegio passou a er fornecida cada Vez mais pela escola. A escola deixou de ser reser ‘Yada aos clérigos para se tornar o instrumento normal da iniciagio Social, da passagem do estado da infancia ao do adulto. 34 vimos ‘se deu. Essa evolugdo corresponden a uma necessidade hhov' de rigor moral da parte dos educadores, a uma preocupagio de {solar a juventude do mundo sujo dos adultos ps 22 HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA E DA FAMILIA Jum desejo de treiné ta para melhor resistir do ten ‘Mas ela correspondeu também a uma preocupa- hos mais de perto, de ficar mais perto cola exprime também uma aproximagio da familia e das sentimento da famflia e do sentimento da infiincia, outrora separa- tani ficou po- aragio do aprendiz. A cr io, Morava num pension: dias de feira, traziam-lhe di ‘ou na casa do mestre. Nos ides. O lago entre 0 escolar ‘mo necessiria a intervengdo dos mestres para evitar visitas muito fre- qientes & familia, visitas projetadas gragas & cumy is préximo do nosso, como se a fami- mesmo tempo que escola, 04, 0 sducar as criangas na escola, © afastamento que 0 pequeno nimero de no seria tolerado por muito tempo pelos pais, O esforco dos pais, secundados pelos magistrados urbanos, no sentido de m as escolas a fim de apr das familias, € Pe. de Dainvi colares de impos completa de classes, estabelecia-se um sistema concéntrico formado por alguns poucos colégios de Humanidades (sem classe de filoso de um maioi ses de gram! superiores i forneciam alunos pare as classes ‘de Humanidades e dos colégios com a série “ett des oolages”, Populations, 1955, pp, 455-483. DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 233, ta de asses. Alguns contemporiineos inguietaram-se com las. Ela correspondia ao mesmo tempo a a antigas for- ‘mas praticas de aprendizagem, ¢ a0 des muito as eriangas, de manté-las perto o mais tempo po omeno comprova unta transformacio considerivel da familia: esta toro do casal ¢ das criangas. to cheia de conseqtiéncias ph eneeyvien foi imediatamente ge- para a formagdo do sent contritrio, Ela nao afetou ui Uma parents ou vizinha. A oxtensio da escolaridade &s meninas ‘do stculo XV! IX. Es- forgos como os de M™ de Maintenon e de Fénelon teriam um valor exemplar. Durante muito tempo, as meninas seriam educadas pela Pritica e pelo costume, mais do que pela escola, e muitas vezes em casas alheias, No caso dos meninos, a escolarizacao estendeu-se primeira i.ca mada média da hi maneceram ambos 40s grandes senhores ¢ apren ariesanal e operdrio, a aprendizagem subsistria até nossos dias. As ‘¢ Alemanha dos jovens nobres no fim de seus estu- jo: eles iam para cortes ou ca: Viagens & dos ligavam-se sas estranhas ‘as boas maneiras © os partes da ca ssubstituido ‘educagio pratica por uma instruglo mais especializada e mais tebri- As sobrevivéncias da antiga aprendizagem nas duas extremida- des da escala social ndo impediram seu dec escola venceu, ‘través da ampliagio dos efetives, do aumento do niimero de unida- ‘Nossa civilizagio moderna, HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA E DA FAMILIA Os problemas morais da familia apareceram entdo sob uma luz igo costume que permitia be n dos filhos em detrimento dos irmios, em geral 0 tume se difundiu no sécue to & afeigao far 3, €era acompanhada de uma sna dos beneficios tas eram também reformatiores religion des enfants, deve manter entre as snas a igualdacle que as pais © as ma jem se resume no fato de 0s pais pensarem apenas. uw pelas q gradavam” porque serviam methor ao futuro da fa ‘como uma sociedade independente do sen- 's pessoas temem que, se divie dlirem igualmente seus bens entre seus filhos, nfo possam aumentar © brilho ¢ a gléria da familia. O filho mais velho no. ‘em condigdes de nfo po- 19. & preciso envid-los aos nagiio provocada pelas falsas v velho nao esta mais presente quando se trata do casamento: ninguém, pensava em coi DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 235 certo embarago, «preferecercar-se de todo tipo de precauedes para ue os pais tenham pre- em amar mais aqueles de ‘oposico entre a familia-cusa © a familia s ‘mesmo injustiga. Que fizeram 0s mais mogos para serem tratados as- Hd pessoas que, a fim de estabelecer alguns de seus filhos ‘num nivel superior a seus préprios meios, sacrificam 0 outros € os tencertam em mosteiros sem consulté-los a respeito ¢ sem examinar ‘se tém uma vocagio real. Os pais ndo amam igualmente seus filhos © introduzem diferengas onde a natureza no quis fazé-lo.” Apesar de sua conviego, Goussault admite ainda, como uma concessio a0 sen- So comum, que os pais “possam ter de fato mais amor por alguns de seus fos, mas ess amor €um fogo que cls devem manteroclto Assistimos aqui ao inicio de um sentimento que resultaris na igualdade do cédigo civil, e que, como sabemos, jé havia penetrado ‘nos costumes no fim do século XVIII. Os esforgos para restabelecer (8 privilégios do mais velho no c contra uma repugndincia inven chefes de fa ‘vimento gradual da fe moderna, Tendia-se agora a atribuir & afeigio dos pais ¢ dos filhos, ‘sem divida to antiga quanto o préprio mundo, um valor novo: pas- demasiado frag uma verdadeira empresa independente dos sentimentos parti haviam somprecndido também que o sentimento da ja/ttels SM 12 Gouseault, Po homdte homme, 1082 13 J Foureasie 58 ‘Observaremos aqui que o sentimento de igualdade entre as ceriangas pOde desenvolver-se num novo clima afetivo ¢ moral gragas ‘uma intimidade maior entre pais e filhos. nnuava-se a proibir aos mestres casados o exercicio de cargos universi- trios. Assim, em 1677, um professor casado foi a €.a virtude desses meninos poderia ser exposta # \convenientes que acontecem com muita freqlén- convivéncia que os mestres casados so obrigados a ade ‘08 jovens que educam ¢ suas mm 5 ccriadas, E ue onde moram mulheres ha quartos para elas, onde tim sua privacidade(privacidade em davida bastan tada de grandes cidades), © ha outros para os escolaes”. Quanto dt ‘rlanca de berco, no era vistas nas habitagBes parisenses, pois rant ‘oda eniregues a amas" sabido que as cnangass40 enviadas hea sas das amas em alguma aldeia visinha, de modo que em casa dos Drofessores casados se véem tio poucos bergos e cuciros como a0 Eartério do dito Du Boul Esses lexis parecem indicar que o costume de enviar as cringas para as casas das amas “numa aldeia vizinha" era comum nos melok 14H. Fen, Les Grades unverstaires dons Fanciene foulté des ars, 1868, DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 21 ithanos coma os dos mestres, mas que nio era antigo. j6 que J, enquanto era denunciado pelos fas que, muito antes de Rousseau, recomenda- ‘Mas sua opi- nobres e burgueses, fe até o fim do sé igressos da higiene © animal, Contudo, uma mudanca aqui esbogada, sob um certo ponto de vista, surge ia da emersio da familia moderna acima de outras for- de vizinhanga, de parentesco pesam menos cigncia, se elas deixam de aliend-lo, 0 sentimento familiar sul outros sentimentos de fidelidade, de servigo, etorna-se preponderan- Os progresses: dda familia se- tapara as condigies sas como aprendizes, anhas, Mas a volta das lia no bastaram: estava-s 10 longe ainda da familia moderna ede sua forte vida 5 jade, incompativel com ‘que antes haviam sido negli- jzagio monarquica de Richelieu e de Luis XIV Se ela conseguiu reduzir os poderes aactas as influd taginavel de visie asconvengies so 'ar a propria posicdo através de um uso lagdes. Ter éxito na vida nio signifi juago ~ ou ao menos isso era secundario; io mais honrosa numa so- 1645) prope que o futuro le no quer dizer com isso 0 que hoje chamat mais intensa que as cia da conversagio, ainda segundo 0 Le Cour- lar particularmente ito pessoais devem ser fém nada na ponte da lingua alem de sua mulher, seus fli 240 HISTORIA SOCIAL DA CRIANGA EDA FAM nnhos ¢ sua ama: ~ Meu filhinho ontem me fez rir tanto, Jamais vistes ie" (6 que € que sobrava”). “Nido eontss vossos sonbos.” vossa opine a ndo ser que vola peed ‘Nao vos intrometais em corrgit as impereigdes dos ou mais que iso cabe aos pus, mes e senhorcs r pensado no que quereis dizer" preciso lembrar que esa .quilo que julgo necessério aprender para que iderada bem educada e agradavelmente ras, algo que no entanto € uma virtude ‘0 Galatée era lido nos colégios jesuitas, ide, Nicole se exprimiria da mesma forma em. ido portanto 0 amor dos somos naturalmente levados 9s outros a jidez de sua unio (das gentes de bem) nao depende 1as também dessas outras coisas hu- ciedade, Se uma pessoa vive em sociedade, ela deve “forjar as opor- tunidades” e “fazer-se amar pelos homens” DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA mat guradas menos pela escola do que pela pritica, pela aprendizagem, fha qual a escrita ainda nfo ocupava um lugar mui vida quotidiana. £ do de espiri do numa sociedade em que as vizinhangas de Por Royal. Q\ jos esses mor colocaram o problema de sa- ber se @ edueagio particular em casa valia mais do que a educacio piiblica na escola. Na verdade, lema era menos atual do que parece, pois jé havia sido discutido por Quint ;eza de um precedente. Mas os educadores moralistas discu- ticias e de sua época. expoe a questdo da se- to a mim, no dessjo em absoluto ofender a ‘antiglidade com opiniges modermas, nem desaprovar a organizagio dos Colégios, que tantos sibios aprovaram. Ouso dizer, ainda assim, ‘que 05 Colégios so mais Academias vantajosas para © publico do igdes necessérias aos particulier ja, « pequena nobreza por oposicio aos grandes senhores). El lum “meio tanto para os pobres como para os ricos de adqi {que outrora 86 podia alcangar quem pos- id varias criangas que, no podendo manter leram muito afor ie0, € por receberem gr ‘ora tinha de ser comprads. Mas para agi ambém na opini8o publica. A © desprezo pelo mest. \s razdes para essa aversio & escola: a di lar era demasiado severa. O que diria M. de Grenai religiosos e dos liceus do steulo XIX! Thes prejudicar a autoconfianga.” EM. de Grenaille acrescenta este mest Garcon, 1682 m2 HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA EDA FAMILIA comentirio, que deixa entrever a aostalgia de um tempo em que as 8 a las aio sao tratadas da ‘A escola ou bem cortia o risco de companhias, ou bem retardava 0s, € M. de Gi rava esse prolongamento da um mal: "Mesmo que ianga ndo fosse escan at em que as pessoas pensam mais em viver com os mortos do que sa, mais com os livros do que com os homens.” a repugnéncia que im pela escola aqueles que permaneciam mais ou menos fis & pela aprendizagem, um tipo de educaco que mer~ ‘no despreza os comerciantes, por guia a prudéncia ¢, como doutrinas, rar pe mundo um grande sagBes sd igentes pode nos ser idades juntos... Eles 24 Marchal de re des gens de qua. DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA ‘em uma hora do que poderiamos ler oe a expresso da face tém algo mente aquilo que o discurso pretende © abade Bordelon * (1692) ainda era da 0: as criangas mais para o mundo do que pela escola. O fruto de uma Bela Eduet vro ~ nto deveria nunca parecer com este pedante: ‘Vemos, portanto, que ao longo de todo o século XVII existin ‘de opiniao hostil & escola. Poderemos compreendé-la 108 0 quanto a escola era um fendmeno recen- , que haviam compreendido a importincia da ‘tanto tempo ignorada e ainda mal percebi ._ no perceberam bem 0 papel qi - hhavia desempenhado no treinamento das crian- mente, as criangas se formam 1 de agit das pessoas bem educada ddeterminar a hora dos es ppendem os estudos, ni r¢ tas vezes nido se ar a freqliéncia dessas, le nem sempre podem ser afastados ide dos eriados ~ mesmo os piores costume mais geralmente accito na educagdo das criangas las em colégios.” Essas ins “fazem ai conheciment cdquirem ai a coragem louvivel de falar em pablico sem empalidecer 2 vista dos homens, o que é absolutamente necessirio Aqueles que dever Seu avanco nos estudos do que para os bons costu- sabemos sobre as classes superpovoadas e sobre a tur- 2 simplicidade e' jo amaveis a Deus como aos home: Havia uma solucdo, que jé fora entrevista por Erasmo: “Colo- ‘car cinco ou seis eriangas com um ou dois homens de bem numa casa Observamos que essa formula for adotada em Port- 3s célebres “pequenas escolas”, célebres ainda que efémeras. Encontramo-la também nas numerosas pensdes particulares que se- iam criadas no fim do século XVII e ao longo do século XVIII ‘Com raras excegdes, os educadores mi i seu testemunho poderia deduzir legitimamente que a opit pbblica era hostil ds formas escolares de educagio, quando na reali- 27 De Grenalle, opt DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 245 ade. como vimos, huva uma imensa procura de colgios, tds su on ‘nem sempre fornecem © melhor reflexo de 31 como existiu do lo XVI ao XVII sem grandes mudangas, sdo bastante complexas. 5 generos muito antiges, Primeiro, 208 i dos foram redi ir @ table; em latim, ‘riangas € aos jo- nome de Ba- Eo rane hava © Sion prod ea went, Engen tad cra Gein . ensinavam a falar 246 HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA EDA FAMILIA da boca, nfo a reeoloques mais no prato... Nao limpes os dentes com ‘da fuea,... NAO coces as mdos nem os bragos.... No escarres ‘a mesa... Presta atengio para hos peiticos em geral 0 de uma espécie de corpet ‘hes conselhos sobre a to sa de Venus”, que devi ide no menci mulheres, como se seu papel se tivesse enfraquecido no final Média e inicio dos tempos modernos, A segunda fonte dos tratados de civilidade foram as regras de moral comum c coletiinea de adégios latinos atribuida nna Idade Média a Catdo 0 At icos de Cato. O Roman de la Rose , 4 ndo se preocupar se alguém do grupo falasse em voz se caso, nfo imaginar que se estava falando da propria pessoa), a dar um oficio aos filhos, a moderar a eélera contra os ser- vidores, a esconder 0s proprios 0: 0 que se deve € 0 que ndo se ‘reas ~ nas relagdes de um homem com sua sus amigos, bem como na conversagdo ou na ido misturado e no mesmo nfvel. Nada disso pa- rece muito importante, segundo nossa éptica moderna. Mas nesses . especialmente no cireulo ligado a atads priticos de educagdo, apresentados 19, deste capitulo DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 255 sob a forma de fans de Varet Coustel em nselhos aos pais: 0 De 'éducation chréttenne des en- ie Regles de [dlucution des enfans de bora essas abs contivessem capilos sobre ue pareciam extrai- foram escritas com conselhamento dos pais. Tratavam também dda escolha do oficio, e dos problemas delicados da escolha da escola; lratavam dos mestres, das leituras (proscreviam os romances, esses venenos da alma), dos jog métodos pedagdgicos: “Adaptai- ‘os sempre tanto quanto puderdes a sua fraqueza © A sua pequenez, fa- lundo tatibitate com elas para ajudé-las @ aprender suas pequenas li des", Ao lado, portanto, dos conselhos aos pais, havia também con- Selhos aos mesires, Esses conselhos incitavam os pais a se portar bem ne das criancas,a Ihes dar bom exemplo, a vigiar suas amizades © hes dar algum emprego conforme a seus planos com relacho a im de no as deixar viver vergonhosamente & toa”, evitando im ““aborreeimentos relatives ao estabelecimento dos filhos. Estamos longe, como vemos, dos manuais de civilidade tradicio- ‘ais, pois no se trata mais de registrar os habitos dos adultos para as criangas ou outros adultos ignorantes, e sim de instruir a propria familia sobre seus deveres e suas responsabilidades, e de aconselh ‘em sua conduta com relacdo as eriancas. A diferenga entre a “civi dude" de Erasmo e 0s tratados de educagio de Coustel e de Varet, ‘a medida da distincia entre a familia do fim do século XV, ainda li- Ja aos habitos medievais de aprendizagem em casas estranhas, © a familia da segunda metade do século XVII, ja organizada em torno das criangas. Contudo, esses tragos quase modernos da educaciio familiar no diminuiram o sucesso dos tratados de civilidade tradicionais, pois a acho d ia em torno das eriangas ainda ndo se opunha ig0s hibitos de sociabilidade: os proprios educadores reco- jam que © “comércio do mundo" continuava a ser essencial travam, M nda se encontravam fora, na rua, Nio jades eram pequenas e pouco espalhadas igumas ruas ou pragas eram passeios onde ‘apenas ao caso - pois mas também porque 4 va ‘De Féswcation hrélenne des enfans, 165. 256 HISTORIA SOCIAL DA CRIANGA EDA FAMILIA lem certus horas uma pessoa podia encontrar os amigos, como acon- {oce hoje nas cidades mediterrinicas. O burburinho do Corso ou da Piazza Major desertas ou atravessadas por tran- yesmo quando passeiam, Para o turista sconhecer a praca Bellecour, em Lyon, nesta descri- bbragos dados, segurando-se uns .. Uma mulher dev 0 braco a "$6 08 bragos, que man assim eles passeavam.”” diante dessa populagd 4 mesma que sentimos hoje quando nos mistura- a sociedade sem cafés ou pu um lugar de ma fama, reservado aos jovens arruacei _ os escolares errantes, a0s mendigos ¢ aos aventu- te: as pessoas de bem ndo a freqlentavam, qualquer iedo, Nao havia outros. 8 além das je, dizse que uma casa é gran- sa grande ¢ sempre uma ada. Assim que a dehsidade aument: apertadas.¢ a casa i tes, No século XVII, ¢ também nos séculos XV ¢ XVI, uma casa DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA iprande ea sempre muito povoada, muito mais do que as casas pe- ‘Quenas. Essa observacio sportante decorre de todos (0s trabalhos sobre densidade populacional realizados pelos histo- Fladores demograficos. Existe um estudo sobre a populagio de Aix-en-Provence no fim ido com base no registro de capitagio de 1695, Sob a luz dessa andlise, percebe-se um contraste bastante nitido 3s bairros pobres € densos e os bairros ricos © menos povoados: 0 pr [possuiam casas pequenas ¢ pouco habitadas, eos segun- ddos, casas grandes cheias de gente, Algumas casas abrigavam 3 ou ‘menos de 3 habitantes, enquanto outras contintam 31 pessoas (2 pa Les, 6 criangas e 17 empregados) ou 17 pessous (2 patrdes, & crian- especifica do século XVII ou da Provenca Um artigo recente sobre Carpentras em meados do século XV pro: ‘duz.a mesma impresso *, Vinte e trés familias de homens ricos ¢ im tes reuniam 177 pessoas, ou seja, 7,7 pessoas por casa, dda populagdo viviam em casas que abrigavam mais de 8 pessoas. inobre mantinha 25 pessoas em sua casa. O arquiteto da cateds fentre 14 comensais. E delicas lio de criados, empregados, clrigos, cai res, ete. Iss0 aconteceu do século XV a0 uropa ocidental, Essas casas eram grandes possuiam varios do dessas grandes casas, abrigavam apenas um casal, e, sem divida, algumas de suas novas, Na cidade, essas casas eram como as que (8, com uma ou duas janelas por que @ casa de duas janelas vamento da casa de uma 86 \t sto formados por dois c&- 1as uma ou duas pecas. NO ‘campo, as casas pequenas ndo eram maiores, ¢, quando havia dois cémodos, um era reservado aos a Fepouso ¢ is vezes -asas pequenas e pobres no pr do podiam nem mesmo servir de lar para a familia. A gra- ide da crise habitacional dos anos 50 de nosso século forneceu- nos algumas informagGes sobre o efeito da habitacdo sobre a familia. is & promiscuidade du- Régime. Mas & preciso haver um espago minimo, possivel e o sentimento da farm . nao pode nem se formar nem se de- pessoas pobres jancinhas ~ essa Sem divida, as pessoas eram menos sensi ramte 0 4) Eram sempre, como na Idade Média, sas porque elementare. E certo que os jovens deviam deinar muito ccedo esses cdmodos tnicos que hoje chamariamos de cortigos, quer para emigrar para outros cortigos ~ dois irmios juntos ou marido © ‘mulher - quer para viver na casa grande dos ricos como aprendizes, criados ou empregados "Nessas casas grandes, nem palicios, nem sempre hdvels.ou man- sbes, catas rurais Ou casas urbanas ocupando apenas um andar de smos 0 melo cultural do sentimento da infincia e pintores hoiandeses. tacos ara todo 0 grupo que ela fo preendia, além da familia conjugal, no out que 0s colégi ‘que com 9 parentes (pois esse ‘A casa grande desempenhava uma fungio publica, Nessa socie- dade sem cafés, sem public houses, ela era o Unico lugar onde os ami- gos, tegidos se podiam encontrar e conversar. AAos servidores, clérigos e empregados que af residiam permanente- MODERNA 259 mente, é preciso acreseentar a vaga incessante de visitantes. Estes dl- limos nao deviam preocupar-se com a hora ¢ nunca eram despacha- criangas de seu ipressio de ser uma verda- das outras. Os clientes do cartério durante muito tempo também fo- ram 08 amigos do notirio, e também seus devedores. Nao hi para banqueiro, nem para mos cdmodos em que eles Esses cdmodos, porém, ‘0s andares, os cSmodos eram men nente dependentes uns dos outros. Nenhum deles ago precisa, com excegdo da corinha, e, ainda assim, vezes se cozinhava na lareira da maior sala. As instalagdes da cozi- ide e nas casas médias nfo permitiam muitos refinamen- tos, e, quando havia convidados, compravam-se pratos edor de assados das redondezas, Quando Hor! de Francion, quis receber um grupo de: berna ra, ele té 0 vendedor de assados do Petit Pont. O criado comprou um ca- ‘¢ como quisesse ainda um lombo de boi ‘a famosa “mesa de jantar” ‘mesas sobre cavaletes se pode ver nas XV, 0 arquiteto DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 261 ecordava os habi- Jjuventudé: 08 jovens... a mulher mandava ‘© marido um pequeno cantl de vinho e alguma coisa de comer junto com « pao; ela jantava em casa, e os homens no Nio ‘devemos emtendé-lo a0 pé da letra, pois esse hdbito ainda ea fre- {iente em virias casas de artesios e camponeses na época em que ele ‘essas linhas, Mas ele opunha esse costume simples ao costu- mesa posta duas vezes por banquete solene”. Na realidade, tratava-se de uma mesa 1, como © era grande parte do mobilidrio no se haviam tornado menos méveis. Alberti, em suas lamenta- aes " embro-me... de , quando iam para 0 campo mandarem levar suas camas e utensiios de cozinhs, que traziam de (acm seu represso. Hoje, a mobilia de um Goo quarto é maior € Sistas para Fesem-easados, onde amie di uz, onde morrem ox ves, Gm logar publce, Conseaentemente, era preciso coloea cortinas fm towmo dn cama cortinas que ve abriam ou Techavam 4 vontade, pura tender a infimidade de seus ocupantes, Pols rarament pes {ous dorian sozinhax. dormiacse com a propria mulher € ear, ima tambem com ouras pessous 0 meat Sex0 cama ao lado de um aparador equipado com uma baixe trabalhado ou no canto da sala onde as pessoas esti comendo. Um ‘quadro de P. Codde de 1636 representa um baile; no fundo da sala ‘onde dangam os mascarados vé-se uma cama com as cortinas fecha- ddas. Durante muito tempo as camas também foram desmontiveis, Cabia aos pajens ou aos aprendizes armé-las quando neces autor do Chastel Como a cama era independente do quarto em que ficava ¢ cons- tituia por si sé um pequeno reduto, podia haver muitas camas num ‘mesmo modo, em geral nos seus quatro cantos. Bussy-Rabutin conta” que um dia, durante uma campanha, uma moga aterrorizada, pelos soldados pediu-the protecdo e hospitalidade: “Finalmente eu disse a minha gente que lhes desse uma das quatro camas que havia maginar a promiscuidade em que as pessoas viviam nes- las onde era impossivel se isolar, que era preciso atravessar chegar aos outros cémodos, onde dormiam varios casais ou vé- ‘aos aposentos da Rain! em campanha) ¢ ajudou ama sob as vistas inka; M™ iandou colocar ai também sua cama voadas do que ou dois cOmodos 5 quals, entretan: | no como reflgios ‘a invasio do mundo, mas como os nicleos de uma saciedade, 0. Lou XT, 194, p49, age. p93. armavam as amas tio bem / Que 262 HISTORIA SOCIAL DA CRIANGA E DA FAMILIA 1s centros de uma vida social muito densa. Em torno delas estabele- cciam-se circulos ot ides, progressivamente ms frouxos em directo periferia: cireulos de parentes, de amigos, de clientes, de protegidos, de devedores, etc. lessa rede complexa figurava o grupo residente das rogressos do sentimento da infincia ‘como que a alma vi vuras mostram-nos as Essa mesma fa dos lay seus aprendi jovens criados. Nao havia uma grande dife- ga de idade was da casa © 0s criados, que eram admi- tides muito jovens, brincavam junios de do abade, brincando de cachor ixou cair no cho, quebrando seu }s gritos que ela dew foram horrive icas que os aproximavam do mundo dos servidores: eram especialmente encarregados do servigo da mesa, pratos do servico & france- enguanto as cenas de gene sempenhando essa funcai degradado, O Lagi so Me 60 Het ipo do Court subalterno, a escolher bem seu senhor € dobter seu fave “dependéncias’ Far of servicos hhonrosos dos servi reservados & baixa criadagem’ iculdade séeulo XVII, embora a partir de res manusis, Restava ainda entre os senhores ¢ 0s servido- iguma coisa que nio se reduzia nem & observagio de um contra- nem dt exploragdo de um patro: um lago existencial, que no ex- ida quase integral. Observemos os termos ar os deveres do pai de fa reduzem-se a tr8s pontos p bem educar seus fithos, € 0 ‘Salomdo di-nos a esse respel - todos os deveres de um senhor para com seus ser- diz ele, que no Ihes devem faltar. Sdo elas: trabalho e reprimendas, Pit... porque é de seu ue este € seu quinhdo, reprimendas e castigos porque este é nos- esse,” "Se todos os servidores fossem honestamente alimenta- ie pagos com exatidao, encontrar-se-iam muito poucos de condu- ue de protecdoe piedave, 0 mesn a pelaseriangas. Ninguém 0 exprimiu melhor do que Dom ‘ote, quando, ao despertar, considera Sanc idormeci- ‘Dormes, nio tens preocupagies. O cuidado de tua pessoa, sub- 8; € um fardo que a ni HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA EDA FAMILIA ‘que-o serviu durante a fertilidade © a abundancia *™. A fami jade que essa relagdo pessoal de dependéncia acarretava aparece ainda nas comédias de Mi \guagem das criadas € criados, quando estes falam com seus senhores. Nessas salas sem destinagio especial onde se comia, dormia e recebi iados nunca se separa- «que havia sido seu paj fe da princesa, “Rabutin empunhou a es- fou também a sua, © Princesa, pondo- foi levemente ferida na colo. ‘comecava 2 desaparecer ent 15 mais preocupados com os bons tratos dos servidores aconselhavam também a maior reserva possivel diante de- |es: “Falai pouco com vossos criados * ‘mite 08 eriados ¢ as criangas ou os jovens. Desde seus pri- bbrincado com os pequenos lacaios, dos, e, algumas ve~ camaradagem podia /exprime 0 sentimento que “Pui criado com ele e amo-0 mais do que qualquer 0 po jd sabemos pelos histo! 10 fim do sé empo se havia oposto ide, O desenvolvi DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 265 os filhos ndo a d ‘Essa consciéneia da infancia e da fami- cia de classe ~ pé nessa época, ela se combinou com uma ‘A conjungio de uma sociabilidade tr ada apenas em algum |.em torno das qu: numeroso. Esse eqt ea Sociedade progressos da No século XVI tincia, a confiné-la a um vver mais extensa de ‘A organizagio da casa passou a corresponder a es preocupacio de defesa contra o mundo. Era jé a casa moderna, que assegurava a independéncia dos cmodos fazendo-0s abrir pura um corredor de acesso. Mesmo quando 0s cd modos se comut alo se era mais forgado a atravessé-los para pasar de um ai ‘se disse que o conforto data dessa época: fle nasceu ao mesmo tempo que a intimidade, a discrigho, ¢ 0 isola- mento, ¢ foi ums das manifestacdes desses fendmenos. Nao havia ‘mais eamas por toda a parte. As camas eram reservadas ao qu: dormir, mobiliado de cada lado da ‘onde se expunha um novo equipamento de toalete © de higiene. a palavra chambre tendew a se opor & ise singnimas; a chambre designava 0 comodo onde ssa especializagdo dos comados da habitagdo, surgid mente entre a burguesia ea nobreza, foi certamente uma das majores mudaneas da vide qu nova de isolamento. Nesses interiores mais fechad ser nas casas dos principes de ‘Sébastien Mercier regis de as damas chamarem as ‘enti montadas de forma a que se pudesse distincia - antes, eas mal eram capazes de chamar a atencdo no prd- iprocamente cari carrega das visitas tes e “nada € apropriado como 0 quarto, 0 gabinete ou o salfo, 0 uso do eartio ¢ do dia marcado no era um fendmeno isol do. Ele pertencia a todo um cbdigo novo de maneiras, que substituiu 4 antiga bienséance, a antiga etiqueta, Esta recebeu o nome moder- no de polidez e orientou-se no mesmo sentido de protecdo da liberda ideindvidual ou fama, conta a presato social, As ances eram uma arte de vr em publico em repre Jez obrigivahdscrigho ea reapeto pela at made allel A'tnfae moral deslocarase. Sébostion Merle no tou muito bem essa mudanga:O tom do séculoabreviou muito as cerimnias hoje, paticamente v6 os pro " 03" Ayelet tame "A releiho f dade ov con {ar historias engragadae", 2 na sal, onde as pessoas se recolher, no drawing-room. "Nao se tem mais prs em beber no se aorments inaisoxconvvas para hes prov que se sabe receber os amigos, Nao se pede mais vos convidados que nda tea aia col e XVII)” "Hoje sere de uma tradi embaragooa ¢ aborted rea" "Nem um minuto de descans, di com uma tt cos entendidos em cerimOnia aplaudiam sea com- o desde ste em noseos as" ate we déem 0 sbrag cerimoni- (67 Sthustan Mercer, Ler Tablenux de Parts, od. Desnoiteres, p19, DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 261 s0, verdadeiro ou falso, que ainda era comum entre a boa sociedade 1S quarenta anos”. “Hoje & apenss na casa do pequeno-burgués (6 en ‘gragado 0 emprego da expresso) que se usam ceriménias fastidiosas ‘e maneiras inbteis e eternas, que ele ainda considera marcas de civili- dade, ¢ que fatigam sobremaneira as pessoas habituadas & boa socie- dade.” ‘A reorganizagio da casa e a reforma dos costumes deixaram um ‘espago maior para a intimidade, que foi preenchida por uma familia reduzida aos pais e as eriancas, da qual se excluiam os eriados, os clientes ¢ os amigos. As cartas do General de Martange, escritas & sua mulher entre 1760 e 1780, permitem-nos avaliar os progressos de lum sentimento da familia que se havia despojado de todo areaismo e tornado idéntico ao do século XIX e inicio do século XX. A familia deixara de ser silenciosa: tornara-se tagarela ¢ invadira a correspon- déncia das pessoas, bem como, sem divida, suas conversas ¢ preocu- pagdes “ ‘As antigas formas de tratamento como Madame desapareceram, Mariange tratava sua mulher por “minha querida mam@i ‘aha querida amiga”, “minha querida erianga” nina’, © marido dava a mulher o mesmo nome pelo qual a chama- vvam as criangas: mame, Suas cartas estdo cheias de detalhes sobre ngas, sua salide e sua conduta. As criancas silo designadas por inutivos familiares: Minette e Coco. O uso mais difundido do di- ivo edo apelido correspondia a uma familiaridade maior, e, sobretudo, a uma necessidade de as pessoas se chamarem de uma for- ie dos estranhos, de sublinhar por uma espécie de lingua~ ica a solidariedade dos pais e dos filhos, e a distancia que 105 separava de todos os demais Enquanto estava afastado, © pai se mantinha a par dos peque- nos detalhes da vida quotidiana, que era levada muito a sério. Ele es- perava as cartas de casa com impaciéncia: “Peco-te, minha boa meni- ‘na, que me escrevas a toda hora duas palavras apenas”. “Ralha um pouco, pego-ie, com M!*Minette pela pouca atengllo que ela teve até screver.” Ele falava da alegria de seu encontro préximo “Anseio por me encontrar contigo em nosso pobre lar, e gostaria de no ter nenhuma outra preocupago além de arru- u quarto € tornar nossa estada cdmoda e agradavel.” Vemos. aqui jd o gosto moderno pela intimidade, que opde a casa, objeto de Fervorosa manutengio, ao mundo exterior. ‘Nessa correspondér questdes de saide ¢ de higiene ocu- pam um lugar importante. Até entio, as pessoas preocupavam-se (8 Comespondance ine do intro! de Martane, 19161782, ed. Brea, 1898 268 HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA E DA FAMILIA com as doengas graves, mas no demonstravam essa solicitude cons- do se inquietavam com um resfriado ou uma pequena afecclo importincia: “Ficaria extre- a salide eda de minhas fi- bora o que me dizes sobre a pouca satide de que tu 10 0 deseja- com 0 que res.” Eram as emogdes dos pais no momento dos primeiros dentes: is poderiam ter interessado algumas mulheres do tempo de M™de im recebido a honra de um lugar na correspon- eral. “O resfriado de minhas duas filhas me imonada, eainda a ‘agua um pouco de vinagre ou aguardente para prevenir das epidemias cusou-se na Alemanka, Numa carta a sua de 14 de janeiro de 1781, a moga explica 0s dois menores passaram dois meses {que sempre que tossiam fica- 40s borbotdes. Depois des- jo com a crianga ea preocu- ue uniam as atitudes das criangas, ¢ reconhe- cia.se sua importincia: “Acima de tudo, recomendo-te nBo perder ‘Que as trés criancas facam bom proveito e que as duas me- + boa postura ¢ a andar. Se M. i, podera se gabar de ser um ha problemas de dinheiro, ¢ temia suas conseqén- Jo fez-me pas- conta da importancia de sua missio, deria minha ultima camisa para ver meus as outras criangas de sua idade e de sua condigdo. Eles ndo devem ¥i a0 mundo para nos humilhar com sua ignordncia ou seu compor ‘mento. N3o penso em mais nada, mit hos foram vacina- ia perdido para os mes- thes um pouco da edu 1eo que meus dissabores (de fortu hhoje nos impediram de Thes oferecer.” A saiide ¢ a educacito: a partir dessa época, seriam essa Em Martange, essa sua preocupagio com a Vimos que os moralistas do séeulo essa igualdade, sobretudo por- que o favorecimento dos privilegiados fazia com que os mais mogos orressem 0 risco de falsas vocecGes religiosas, mas também porque ‘as condigaes inham a cons io comum. Mas de agora em ‘a desigualdade entre os filhos ia seria considerada uma injustica intoleravel. ~ eno o cédigo civil ou a Revolugdo ~ que st- primiram o direito de primogenitura. As familias francesas 0 recusa- ‘am quando os ultras da Revolucio 0 restauraram, inspirados numa ‘nova concepeao da familia, que eles erroncamente atribulam a0 An- jen Régime: “Em 20 familias abastadas, escreveu Villéle a Polignac 31 de outubro de 1824", mal haverd uma onde se ponha em pré- benefici mais velho ou qualquer outro, forma frouxos em toda a parte, que, dentro da familia, o pai se eré obrigado a agradar aos filhos.” im da Idade Média e os séculos XVI-e XVII, a erianga tado um lugar junto de seus pais, lugar este’a que nfo cr uspirado no tempo em que 0 cost lava que fosse uum grande XVII sua principal carac- sas, ela era ciedade complexa e hierarquizada, comandada pelo chefe de fami- fia (9 Pourcsie, Vile, 1954, DA FAMILIA MEDIEVAL A FAMILIA MODERNA 271 a0 contririo, separa-se do mundo © opde a s¢ filhos. Toda a energia do grupo para a familia moderna durante muito tempo se limitou aos nobres, ‘20s burgueses, 20s artesios e aos lavradores ricos. Ainda no inicio do século XIX, uma grande parte da populagdo, a mais pobre e mais nu- ‘merosa, vivia como as familias medievais, com as criancas afastadas da casa dos pais. O sentimento da casa, do chez sai, do home, nio exis- tia para eles, O sentimento da casa & uma outsa face do sentimento da familia. A partir do século XVIII, e até.nossos dias, o sentimento da familia modificow-se muito pouco. Ele permaneceu o mesmo que observamos nas burguesias rurais ou urbanas do século XVIII. Por outro lado, ele se estendeu cada vez mais a outras camadas sociais. [Na Inglaterra do fim do século XVIII, Ashton constatou os progres- sosda vida familiar: “Os trabalhadores agricolas tenderam a se insta- lar numa casa propria, em lugar de morar na casa de seus emprega- dores, ¢ 0 dectinio da aprendizagem na indiistria téxtil permitiu casa mentos mais precoces ¢ familias mais numerosas *”. O casamento tardio, a precocidade do trabalho, os problemas habitacionais, a mo- bilidade do estdgio do auxiliar junto ao mesire, a persisténcia das tra- digdes de aprendizagem - todos esses fatores constitulram obstéculos 10 modo ideal de vida familiar burguess, obsticulos que a evolucdo dos costumes pouco a pouco removeria. A vida familiar estendeu-se ‘a quase toda s sociedade, tal ponto que as pessoas se esqueceram de sua origem aristrocratica e burguesa ” 105, Ashton, Le Réoltion industri p. 173 1H. Bergues, Ph Anes, E: Helin, L Henry, M. Riqut, A. Sauyy, Sule, La Pre ides nalsgnces dans (a fame. ss orgies dan es tempt moder, sta Ni 1960, CI. tee 4 CONCLUSAO Familia e Sociabilidade rosa - era al que se te naturalmente os acontecimentos fu as pessoas que se Gradualmente, surgiria a idéia de isolar 08 retratos individi sa importancia que atribuimos nestas pdgi- fas nfo nos deve enganar sobre 0 quanto elas fo- idas no principio. Por muito tempo, até o século la se tornou extremamente dde « uma profunda realidade. A vida no passado, até o século XVI, era vivida em piblico: apresentamos varios exemplos desse dominio da sociedade, As cerimOnias tradicionais que acompanahavam o ca- samento, ¢ que eram consideradas mais importantes do que as ceri- ménias religiosas, como a bénedo de dados aos recém-casados ji deitadi de nupcias etc, #40 mais uma prov intimidade do easel. Por que haveria alguma objec ja quase nenhuma das umas com as outras, se deinava lugar para a ide vivida: seria para: mtimento ou como valor, jtava as classes abastadas, a dos homens ricos 1 da cidade, da aristocracia ou da burguesia, uu comerciantes. A partir do século XVIII, ele estendeu-se a todas as camadas e impds-se tiranicamente as consciéncias. Muitas vezes apresentou-se a evolucdo dos dlkimos séculos como o triunfo do individualismo sobre as obrigagdes sociais, entre as quais figura- jas onde esta o individualismo das vidas modernas, em tnergia do casal & orientada para servir aos interesses de posteridade deliberad: reduzida? Nio haveria mais indi- idualismo na alegre indiferenga dos prolificos pais de familia do Am ‘Régime? € claro que a familia moderna ndo possui mais a mes- ima realidade material da época do Ancien Régime, quando ela se Confuridia com um patriménio © uma reputagio. Exceto em casos cuja importincia ver diminuindo, o problema da transmissio da rix queza vem depois do problema do bem dos filhos, e esse bem niio & mais necessariamente considerado como fidelidade a uma tradigdo profissional, A familia tornou-se uma sociedade fechada onde seus 24 HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA E DA FAMI membros gostam de permanecer, e que & evocada com prazer, com © fazia o General de Martange em suas cartas no final do’sécul XVIII, Toda a evolucdo de nossos costumes contem ‘© incompreensivel se desprezamos este prodigioso or familia. Mas essa fa traiu. E cor 20 homem escapar a uma uulo XVIII, as pessoas co- constante dda reputacdo e da fortuna. 8 antigas relagdes amigos ou clientes. até entdo havia sido a fonte da educe¢! Daf em diante, um movimento visceral ‘entre senhores e criados, grandes e pequenos Esse movimento foi retardado em certos casos ‘mento geogrifico ou social. Ele seria mais rapido em Paris do que em outras cidades, mais ra populares. Em toda a parte ele reforgar dda em detrimento das relagdes de vizin! amizades ou de tra- digdes. A historia de nossos costumes reduz-se em parte a esse lon- 20 esforco do homem para se separar dos outros, para se afastar de uma sociedade cuja pressio ndo pde mais ser suportada. A casa per- deu o cardter de lugar pliblico que possufa em certos casos no século XVII, em favor do clube ¢ do café, que, por sua vez, se tornaram me- ‘nos freqGentados. A vida profissional e a vida familiar abafaram essa outra atividade, que outrora invadia toda a vida: a atividade das rela- ‘e8es sociais. Somos tentados a crer que o sentimento da familia e @ sociabili- dade ni eram compatives, © 56 se podiam desenvolver&eusia um Conclusao sobce «tera, Faltavathe ease peso das vlaghee humunas que entrava © posto, was lagi i quer, caus aegr vez que esbocs um Bei, esse mam pesado, ‘ms home Fil lngos que o Saint Exupéey Na Idade Mé ‘ainda nas classes pop adultos assim que eram consideradas capazes de dispensar a ajuda das mies ou das amas, poucos anos depois de um desmame tardio ~ ‘aproximada 108 sete anos de idade. A partir desse mo- ssavam wunidade dos ho- ipando com seus amigos jovens ou velhos dos trabalhos ;odos os dias-JO movimento da vida co idades € as condigdes soc io e da intimidade. Nessas| sas e coletivas, no havia lugar para um setor priv luma fanglo ~ assegurava a transmissiio da vida, dos bet ‘homes ~ mas no penetrava muito longe na sensibilidade. Os ‘0s, como 0 do amor cortés (ou precioso), desprezavam 0 casa mento, enquanto as realidades como a aprendizagem das eriangas HISTORIA SOCIAL DA CRIANCA E DA FAMI sm 0 lago afetivo entre pais ¢ filhos. Podemos imaginar @ moderna sem ai de sua presenga. ‘A civilizagdo medie- ignorava a educa- essencial: ela nfo tinha idéia da edu- pois para essa sociedade no havia problemas: assim que era desma- mada, ou pouco depois, a ‘As classes de » a pal iham uma diferenca e uma passage ent dos adultos, imento foi portanto o reaparecimento no cio dos tempos modernos da preocupagio com a educagdo. Esse i Fesse animou um certo nimero de eclesidsticos e juristas ainda raros ccada vez mais numerosos e influentes nos séculos quando se confundiram com os partidérios da reforma is cles eram antes de tudo moralistas, mais do que huma- tas continuavam ligados a uma cultura do homem, hada por toda a vida, e pouco se preocupavam com uma forma: eservada as criang i ralistas cuja a moralizagio da sociedade: 0 aspecto moral da religito pouco a pouco comegou a pre valecer na pritica sobre o aspecto sacto ou excatologico. Foi assim que esses campedes de uma ordem moral foram levados a reconhecer latamos sua influéncia sobre a his e-em colegio vigiado. c sho 2 Deus pela alma, © até mesmo, no final, pelo corpo de seus Passou-se a admitir que a cri stava madura para avi uma espécie a pavio. A privado para ima afetividade nova que a iconografia do sé ‘exprimiu com insisténcia e gosto: 0 sentimento moderno da familia, Os pais no se contentavam mais em pdr filhos no mundo, em esta- belecer apenas alguns deles, desinteressando-se dos outros, A moral da époce Thes impunha proporcionar a hos, e nio apenas ‘a0 mais velho - ¢, no fim do século X’ preparaclo para a vida. Ficou convencionado q pela escola, ges dos morali {38 bem cedo & pam com a educagio de suas crianes ‘que aqueles que se contentarn em p-Ias no mundo. setae, Arnel, 162 1s @ orianga de que ela gozava giv-the 0 chico- pris, em suma, as corr condigBes mais baixas. Mas esse diferente da antiga indiferenga: um amor obsessivo que deveria do- minar a sociedade a partir do sée E facil compreender que infancia tenha resultado nos fe se reorganizar em torno da ¢ sociedade o muro da vida privada. modema retirou da vida comum nido apenas as uma grande parte do tempo e da preocupagio dos ad Ela correspondeu a ums identidade: 0s membros da familia se unem pelo senti me eo género de vida. As promiscuidades impostas pe bilidade nam. Compreende-se que essa ascendéncia moral 10 originariamente um fendmeno burgués: a alta ‘nobreza € 0 povo, situados nas duas extremidades da escala soci dos tempos modernos, porém, operou-se uma selecio er iguns reservados aos bem nascidos, enquanto outros foram abandonados 20 mesmo tempo As Asescolas de jema de classes. Foi como se um corpo social polimorfo e sfizesse © fosse substituldo por uma infinidade de peque- sociedades — as familias, ep As familias ¢ as classes reuniam sua semelhanca moral e pela iden igo corpo social ‘nico, ao contrario, englobava a maior variedade ossivel de idaites ¢ condigdes. Pois ai as condicdes eram tanto mais CONCLUSO ra) claramente distinguidas e hierarquizadas quanto mais se aproxima- suptiam us distfincius fsicas. O iferencas de vestuétio do nunca deixava seu camarada- , para o bem ou pi que uma excessiva ¢ constante fan do em questio, de, 0 escindalo com a devosdo. Apesar de seus cot estridentes, essa miscelénea no sur- preendia ninguém: ela pertencia a diversidade do mundo, que devia ser aceita como um dado natural omem ou uma mulher bem fnaseidos ndo viam nenhum problema em visitar vestidos com seus 8 suntuosos os miserdveis das prisdes, dos hospitais ou das ruas, ‘zou um momento em que # burguesia nd io, nem a contato com o pov. Ela jedade polimorfa para se organizar & pat ‘A justaposigdo das desigualdades, outrora natus erével: a repugnancia do rico precedeu a vergon! va - quando nao sociais mais distantes, modelo convencional, com um tipo ideal, nunca se afastando dele, sob pena de excomunhio. Je claste e talver, em ou- nto como as manifesta- fade, de uma mesma

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