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ARTE como EXPERI Bloein) DEWEY ae a) Doses A os . se 587 SUMARIO Lisa de ferns igs co face 80 nn a9 Treparagao. Dense Ri Revisio Dirt Zr Intradugio por Abraham KaplA nese f Arte como experiéncia. 5 Lista de iusragies 35 Pref 37 —Aariatura iva... 9 Acratu 85 — Ter uma esperiéncia, 109 Cato de expressio... 143 178 25 opm a) az 301 soe 339 Asuibstincia varada das are... se 381 Tas ‘Acontribuigio humana, 9 O desafio a filosofa... so 409 Cia e percep 509 Ate e 551 TER UMA EXPERIENCIA, A experiéncia ocorre continuamente, porque a intera- do do ser vivo com as condigdes ambientais esté envolvida no proprio proceso de viver. Nas situacdes de resisténcia e conflito, os aspectos ¢ elementos do eu e do mundo implica- dos nessa interagdo modificam a experiéncia com emogdes € ideias, de modo que emerge a intencdo consciente. Muitas vvezes, porém, a experiéncia vivida é incipiente. As coisas so experimentadas, mas no de modo a se comporem em uma experiéncia singular. Hé distracdo e dispersio; o que obser- vamos e 0 que pensamos, o que desejamos e 0 que obtemos, discordam entre si. Pomos as maos no arado e viramos para tras; comegamos e paramos ndo porque a experiéncia tenha atingido o fim em nome do qual foi iniciada, mas por causa de interrupgées externas ou da letargia interna. Em contraste com essa experiéncia, temos uma expe- singular quando 0 material vivenciado faz o percur- so até sua consecugao. Entéo, e s6 entdo, ela é integrada e demarcada no fluxo geral da experiéncia proveniente de ou- JOHN Dewey. 110 ‘onclui-se uma obra de modo satisfats. e sua solugio; um jogo é praticads le fazer uma refeigao, jogar tras experiéncias. Ct rio; um problema receb ‘uma situacdo, seja ad tuma partida de xadrez, conduzir uma conversa, eserever um ivzo ou participar de uma campanha politica, conchui-se de sou encerramento é uma consumagao, e nao até o fim; tal modo que essagio. Essa experiéncia é um todo e carrega em si uma c ; + individualizador sua autossuficiéncia, Trata-se seu caratet de uma experiéncia. Os filésofos, inclusive os empiricos, falaram, em sua maioria, da experiéncia em geral. A linguagem vernécul entretanto, refere-se a experiéncias, cada uma das quais é . Porque a vida nao 6 uma mar singular e tem comego e i cha ou um fluxo uniforme e ininterrupto. F feita de histérias, cada qual com seu enredo, seu inicio e movimento para seu fim, cada qual com seu movimento ritmico particular, cada qual com sua qualidade nao repetida, que a perpassa por in, teiro. Uma escada, por mais mecanica que seja, procede por degraus individuais, e nao por uma progressao indiferencia- ado distingue-se de outras coisas, n° da, ¢ um plano ini minimo, por uma descontinuidade abrupta. Aexperiéncia, nesse sentido vital, define-se pelas situa” Ses ¢ episddios a que nos referimos espontaneamente co mo “experiéncias reais” ~ aquelas coisas de que dizemos,® .” Pode ter sido alg recordé-las: “isso é que foi experién: de tremenda importancia ~ uma briga com alguém que U" dia foi intimo, uma catéstrofe enfim evitada por um triz,O8 foi insig- pode ter sido algo que, em termos comparativos, £1 lus nificante ~e que, talvez por sua prépria insignificancia: ia. Como aque tra ainda melhor o que é ser uma experiénci ARTE COMO EXPERIENCIA m1 refeicdo em um restaurante parisiense da qual se diz “aquilo 6 que foi uma experiéncia”. Ela se destaca como um memo- ie a comida pode ser. Hé também aque rial duradouro ¢ la tempestade por que se passou na travessia do Atlantico — uma tormenta que, em sua fuiria, tal como vivenciada, pa tudo o que uma tempestade pode ser, receu resumir em s completa em si mesma, destacando-se por ter-se distingui- do do que veio antes e depois éncias, cada parte sucessiva flui Nessas exper te, sem interrupcao e sem vazios nao preenchidos, para 0 que vem a seguir. Ao mesmo tempo, nao ha sacrificio da identidade singular das partes. Um rio, como algo distin- Mas seu fluxo da a suas partes sucessi to de um lago, flu vas uma clareza ¢ interesse maiores do que os existentes nas partes homogéneas de um lago. Em uma experiéncia, o flu xo vai de algo para algo. A medida que uma parte leva a ou- tra e que uma parte dé continuidade ao que veio antes, cada uma ganha distingao em si. © todo duradouro se diversifica em fases sucessivas, que sdo énfases de suas cores variadas. Por causa da fusdo continua, ndo ha buracos, jungdes mecanicas nem centros mortos quando temos uma expe- rigncia singular. Ha pausas, lugares de repouso, mas eles pontuam e definem a qualidade do movimento. Resumem aquilo por que se passou e impedem sua dissipagio e sua evaporagio displicente. A aceleragao continua é esbaforida e impede que as partes adquiram distingao. Em uma obra de arte, os diferentes atos, episédios ou ocorréncias se desman- cham e se fundem na unidade, mas nao desaparecem nem perdem seu carter proprio ao fazé-lo ~ tal como, em uma conversa amistosa, ha um intercambio e uma mescla conti- n2 JOHN Dewey nuos, mas cada interlocutor ndo apenas preserva seu caré- ter pessoal, como também 0 manifesta com mais clareza do que é seu costume, A experiéncia singular tem uma unidade que the con- fore seu nome ~ aquela refeigdo, aquela tempestade, aquele rompimento da amizade. A existéncia dessa unidade é cons- tituida por uma qualidade impar que perpassa a experiéncia inteita, a desps Tssa unidade nao é afetiva, pratica nem intelectual, pois es- ses termos nomeiam distingdes que a reflexdo pode fazer |, devemos \¢do das partes que a compéem. centro dela, No discurso sobre uma exper servit-nos desses adjetivos de interpretagao. Ao repassar mentalmente uma experiéncia, depois que ela ocorre, pode- ‘mos constatar que uma propriedade e nao outra foi suficien- temente dominante, de modo que caracteriza a experiéncia como um todo. Hi investigagdes e especulagdes intrigan~ {es que 0 cientista e o fildsofo recordam como “experién

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