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ISSN 1981-8289

V O L U M E 4 • N Ú M E R O 1 • j a n / f ev / m a r 2 0 1 0

Órgão Oficial de publicação científica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

editorial

Fragilidade: trajetórias de uma nova abordagem do idoso.. ...................................................................... 1


João Macêdo Coelho Filho

artigos originais

Prevalência e fatores associados à fragilidade em cuidadores idosos . .................................................... 3


Monica Regina Scandiuzzi Valente Tomomitsu, Naira Dutra Lemos, Monica Rodrigues Perracini

Evolução antropométrica de idosos residentes em instituição geriátrica de Belo Horizonte, MG . ............13


Bruna V. L. Costa, Leorges M. Fonseca, Aline C. S. Lopes

Caracterização dos distúrbios miofuncionais orofaciais de idosos institucionalizados . ...........................21


Maria Adélia da Silva Rocha, Maria Luiza Lopes Timóteo de Lima

Perfil nutricional de idosos assistidos em instituição de longa permanência na cidade de Natal, RN.. ......27
Ana Keila Queiroz da Silva, Selma Correia Gusmão, Kezianne Roseno de Castro, Renata Alexandra Neves Moreira,
Ana Heloneida de Araújo Morais

artigos de atualização

Úlceras de pressão................................................................................................................................36
Sheila Rampazzo Luz, André Cleocir Lopacinski, Rogério de Fraga, Cícero de Andrade Urban

Influência do medicamento homeopático na imunossenescência.............................................................44


Carol Rodrigues Kojo, Clineu Mello Almada Filho

agenda de eventos
INSTRUÇÕES AOS AUTORES

Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia
ISSN 1981-8289
VOLUME 4 • NUMBER 1 • JAN/FEB/MAR 2010

brazilian

Official Journal of the Brazilian Society of Geriatrics and Gerontology

editorial

Frailty: trajectories of a new approach to assessing the elderly............................................................................................ 1


João Macêdo Coelho Filho

original articles

Prevalence and associated factors to frailty among senior caregivers ................................................................................. 3


Monica Regina Scandiuzzi Valente Tomomitsu, Naira Dutra Lemos, Monica Rodrigues Perracini

Anthropometric evolution of elderly people living in geriatric institution in Belo Horizonte, MG....................................... 13
Bruna V. L. Costa, Leorges M. Fonseca, Aline C. S. Lopes

Characterization of orofacial myofunctional disorders among institutionalized seniors...................................................... 21


Maria Adélia da Silva Rocha, Maria Luiza Lopes Timóteo de Lima

Nutritional profile of elderly residents of a long-term care facility in Natal city, RN........................................................... 27
Ana Keila Queiroz da Silva, Selma Correia Gusmão, Kezianne Roseno de Castro, Renata Alexandra Neves Moreira,
Ana Heloneida de Araújo Morais

Reviews
Pressure ulcers....................................................................................................................................................................... 36
Sheila Rampazzo Luz, André Cleocir Lopacinski, Rogério de Fraga, Cícero de Andrade Urban

Influence of homeopathic medicine in the immunosenescence........................................................................................... 44


Carol Rodrigues Kojo, Clineu Mello Almada Filho

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editorial

Fragilidade: trajetórias de uma


nova abordagem do idoso
Frailty: trajectories of a new approach to assessing the elderly

O interesse pelo estudo da fragilidade no idoso tem sido crescente nas últimas décadas.
Ainda que o termo fragilidade seja encontrado na literatura com diferentes definições, há
ultimamente uma convergência no entendimento dessa condição como uma síndrome ca-
racterizada por menor capacidade adaptativa aos eventos agressores, resultando em maior
vulnerabilidade a desfechos adversos, como quedas, hospitalização, incapacidade e morte1.
Um passo importante na operacionalização desse conceito, tanto na pesquisa como na prática
clínica, foi a identificação de elementos que configurariam o fenótipo da fragilidade, os quais
incluem: baixa atividade física; fatigabilidade/exaustão; redução da força muscular (sarcope-
nia); perda de peso não intencional; e lentificação da marcha2. Estudos apontam também
marcadores laboratoriais que estariam associados ao fenótipo de fragilidade, como IL-6, CRP,
25-hidroxivitamina D, IGF-1, D-dímero, permitindo-nos uma compreensão da síndrome
como uma entidade que apresenta em sua patogênese processos hormonais, imunológicos,
pró-coagulantes e inflamatórios3,4. Vale ressaltar o debate existente acerca da inter-relação
entre fragilidade e variáveis como cognição, aspectos psicológicos, nutricionais, ambientais e
comorbidades.
O conceito de fragilidade possibilita-nos sair da abordagem, reconhecidamente limitada,
do idoso com base em doenças e órgãos, em direção a um verdadeiramente novo paradig-
ma5. Trata-se de um novo itinerário no cuidado que pode conferir resultados mais efetivos à
atenção da crescente população geriátrica, em termos de prevenção, reabilitação e redução de
custos com a assistência. Considerando que idosos aparentemente sem problemas no desem-
penho de tarefas do cotidiano podem apresentar importante vulnerabilidade a eventos adver-
sos (representariam os frágeis sem dependência para as atividades da vida diária − AVDs)6, o
enfoque da fragilidade pode favorecer a implementação de intervenções que se antecipariam
ao desenvolvimento da dependência funcional7.
Existem várias propostas de mensuração da fragilidade no idoso. Incorporando os ele-
mentos constituintes do fenótipo de fragilidade, Fried et al.2 estabeleceram uma definição
operacional da síndrome. Assim, frágeis seriam idosos com três ou mais e pré-frágeis aqueles
com um ou dois dos referidos elementos2. Alguns autores argumentam que essa definição, por
basear-se em critérios fundamentalmente físicos e orgânicos, seria potencialmente limitada8.
No Brasil, resultados de estudos, alguns amplos e de caráter multicêntrico, descrevendo a pre-
valência e demais características da fragilidade, começam a ser publicados e debatidos. Essas
investigações possibilitarão avaliar potenciais aplicações do conceito de fragilidade em nosso
contexto, tanto do ponto de vista clínico, como em termos de saúde coletiva.
editorial

Geriatria & Gerontologia publica na presente edição um artigo com uma interessante
abordagem da fragilidade, qual seja a verificação de sua ocorrência e características em
cuidadores de idosos, um subgrupo também potencialmente de maior risco para eventos
adversos. Evidencia-se, nesse estudo, que a operacionalização dos critérios de Fried et al.
no Brasil implica possíveis adaptações. Tome-se como exemplo a mensuração da atividade
física e gasto energético, dadas as inadequações do questionário do Minnesota Leisure Time
Activities Questionnaire9, utilizado nos trabalhos daquela autora. Questões práticas relativas
à aplicação do enfoque da fragilidade na rotina clínica, tomando como referência as carac-
terísticas de nosso sistema de saúde, são também fundamentais.
O tema fragilidade terá destaque central no XVII Congresso Brasileiro de Geriatria
e Gerontologia, oportunidade em que especialistas nacionais e internacionais discutirão
novas fronteiras do conhecimento e em que serão apresentados os resultados de uma va-
riedade de estudos relacionados ao tópico. Há ainda um longo caminho a percorrer nesse
novo enfoque do idoso.

João Macêdo Coelho Filho


Editor, Geriatria & Gerontologia

Referências
1. Fried LP, Waltson JD, Ferrucci L. Frailty. In: Halter JB, Ouslander JG, Tinetti ME, et al., eds. Hazzard’s Geriatric Medicine
and Gerontology, 6th Ed. New York: McGraw-Hill; 2009. p. 631-45.
2. Fried LP, Tangen CM, Walston J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci.
2001;56(3):M146-56.
3. Hamerman D. Toward an understanding of frailty. Ann Inter Med. 1999;130:945-50.
4. Morley JE, Haren MT, Rolland Y, Kim MJ. Frailty. Med Clin N Am. 2006;90:837-47.
5. Bergman H, Ferrucci L, Guralnik J, et al. Frailty: an emerging research and clinical paradigm – issues and controversies.
J Gerontol A Biol Soc Med Sci. 2007;62(7):731-7.
6. Woods NF, LaCroix AZ, Gray SL, Aragaki A, Cochrane BB, Brunner RL, et al. Frailty: emergence and consequences in wo-
men aged 65 and older in the Women’s Health Initiative Observational Study. J Am Geriatr Soc. 2005;53(8):1321-30.
7. Guilley E, Ghisletta P, Armi F, Berchtold A, d’Epinay CL, Michel J-P, et al. Dynamics of frailty and ADL dependence in a
five-year longitudinal study of octagenarians. Res Aging. 2008;30:299-317.
8. Fisher AL. Just what defines frailty ? J Am Geriatr Soc. 2005;53:2229-30.
9. Taylor HL, Jacobs DR, Schunker B, et al. A questionnaire for the assessment of leisure-time physical activities. J Chro-
nic Dis. 1978; 31:745-55.
ARTIGO ORIGINAL

Prevalência e fatores associados à


fragilidade em cuidadores idosos
Prevalence and associated factors to frailty among senior caregivers

Monica Regina Scandiuzzi Valente Tomomitsu1, Naira Dutra Lemos1,


Monica Rodrigues Perracini2

Recebido em 27/3/10 RESUMO


Aceito em 30/4/10
Objetivo: Identificar a prevalência e os fatores associados à fragilidade em idosos cuidadores de idosos dependen-
tes. Métodos: Foram avaliados 50 cuidadores por meio de questionário estruturado com dados: sociodemográficos
e clínico-funcionais, demanda de cuidados, perfil do idoso dependente e os critérios da fragilidade (perda de peso
não intencional, autorrelato de fadiga, velocidade da marcha, força de preensão manual e atividade física). Para a
análise estatística, os cuidadores foram divididos em dois grupos “frágeis e pré-frágeis” e “não frágeis” e foram
utilizados os testes qui-quadrado, exato de Fisher e T-student para as amostras independentes e a análise de
regressão logística multivariada, modelo logito, stepwise, com significância de 5%. Resultados: Os cuidadores
apresentaram idade média de 71,6 ± 7,5, e 78% eram mulheres. As análises dos resultados mostraram uma preva-
lência de cuidadores considerados frágeis de 18%, pré-frágeis, 54% e não frágeis, 28%. Na análise de regressão
logística multivariada, os fatores associados à fragilidade foram: presença de sintomas depressivos (OR = 1,11;
95% IC = 1,01-1,21), sobrecarga elevada de cuidados (OR = 5,62; 95% IC = 1,69-18,66) e capacidade funcional
reduzida (OR = 1,29; 95% IC = 1,07-1,57). Conclusão: Os achados sugeriram que a maioria dos cuidadores estava
com alto risco de desenvolver fragilidade.
Palavras-chave: Idoso fragilizado, cuidadores, idoso.

ABSTRACT
Objective: To identify the prevalence of frailty and associated factors in elderly caregivers of dependent elderly
individuals. Methods: Fifty caregivers were evaluated using a structured questionnaire containing sociodemo-
graphic and clinical-functional data, care demands, the profile of the dependent elderly individual and criteria
regarding frailty (unintentional weight loss, self-reported exhaustion, walking speed, grip strength and physical
activity). For the statistical analysis caregivers were divided in two groups “frail and pre frail” and “nonfrail”, then
was performed Chi square and Fisher exact tests and the Student t test for independent samples and multivariate
logistic regression, stepwise logit model, with significance determined at 5%. Results: Caregivers mean age was
71,6 ± 7,5 and 78% of them were women. Analysis of the results showed a prevalence of caregivers considered
1
Universidade Federal frail of 18%, prefrail of 54% and 28% nonfrail. In the multivariate logistic regression, the factors associated with
de São Paulo, Escola any frailty condition were: presence of depressive symptoms (OR = 1,11; 95% IC = 1,01-1,21), high caregiver burden
Paulista de Medicina (OR = 5,62; 95% IC = 1,69-18,66) and reduced functional capacity (OR = 1,29; 95% IC = 1,07-1,57). Conclusion:
(Unifesp/EPM), These findings suggested that most caregivers had at high risk for developing the frailty.
Disciplina de Geriatria Keywords: Frail elderly, caregivers, elderly.
e Gerontologia.
2
Unifesp/EPM,
Disciplina de Geriatria
e Gerontologia, e
Universidade Cidade Endereço para correspondência: Monica Regina Scandiuzzi Valente Tomomitsu. • Rua Ministro Roberto Cardoso Alves, 872,
de São Paulo (Unicid). Alto da Boa Vista − 04737-000 − São Paulo, SP. • Tel.: (11) 8158-8041 • E-mail: monicatomomitsu@gmail.com
4 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):3-12

INTRODUÇÃO Brown et al.14 definiram fragilidade como a ca-


pacidade reduzida na prática das atividades de vida
Atualmente, com a expectativa de vida prolongada, diária e social, e Rockwood e Hubbard15, como uma
pode haver um aumento crescente de doenças crônicas, falta de respostas integradas diante do estresse, sendo
déficits físicos ou cognitivos e incapacidades. Incapaci- essa a razão da manifestação de síndromes geriátricas
dade refere-se a qualquer restrição ou falta de habilida- gigantes, pois as funções que exigem maior integração
de para realização de alguma atividade1. Nas pesquisas cortical, tais como ficar em pé, manter o equilíbrio e
europeias e americanas, dados indicam que aproxima- andar a pé, são mais propensas a falhar, resultando em
damente 20% dos indivíduos com 70 anos ou mais quedas ou delirium.
necessitam de assistência para realizar pelo menos uma A fragilidade é uma síndrome caracterizada pelo
atividade de vida diária (AVD), tal como tomar banho, declínio das reservas funcionais e da resistência aos
vestir-se, ir ao banheiro e transferir-se2,3. No Brasil, o agentes estressores, resultando em declínio cumulati-
número de idosos com dependência funcional é da or- vo de múltiplos sistemas fisiológicos e causando um
dem de 1,5 milhão de pessoas4, os quais necessitam de estado de alta vulnerabilidade a eventos adversos12.
cuidados especiais e da figura de um cuidador5.
Estudos recentes utilizaram os critérios validados
Cuidador é aquele que tem a responsabilidade
por Fried et al.12, efetuando pequenos ajustes nos pro-
pelo cuidado, assistindo as necessidades e buscando
tocolos de avaliação, e encontram uma prevalência de
a melhoria da saúde das pessoas a serem cuidadas.
fragilidade entre 11% e 20%16-18.
Cuidar é zelar pela vida de outrem e representa uma
atitude de ocupação, preocupação, responsabilidade e Nesse contexto, pode-se destacar a importância
envolvimento afetivo3. deste estudo, uma vez que, diante do aumento rápido
da proporção de idosos na população, se estima que
Em geral, esses cuidadores são caracterizados como
haja um incremento igualmente significativo do nú-
sendo alguém da família, predominantemente do sexo
feminino (92,9%). A maioria é de esposas (44,1%), mero de cuidadores idosos.
seguidas pelas filhas (31,3%). A faixa etária de 59% Com o aumento da sobrevida da população idosa,
dos cuidadores está acima de 50 anos e 41% têm mais a proporção de idosos muito idosos também aumen-
de 60 anos, e 39,3% de cuidadores, entre 60 e 80 anos, ta. No Brasil, o grupo etário que mais cresce é o de
cuidam de pacientes da mesma faixa etária, o que mos- pessoas acima de 80 anos. Esse fato pode ser visua-
tra que pessoas idosas estão cuidando de outros idosos. lizado quando se observa que, em 1940, esse grupo
As condições físicas desses cuidadores estão muitas ve- era composto por 166 mil pessoas, subindo para 1,5
zes comprometidas e estão sujeitas a desfechos nega- milhão no ano de 1996, representando 11,7% da po-
tivos em termos de saúde, colocando sua capacidade pulação idosa e 0,9% da população total. Somente
funcional constantemente em risco, o que pode limi- nos anos de 1991 a 2000 o crescimento relativo do
tar a sua condição de cuidar de outrem4,6. grupo acima de 80 anos foi de 49,3%19. Dados de
A tarefa de cuidar de idosos dependentes é excessiva mais de 30 países desenvolvidos mostraram que, em
e estressante para muitos cuidadores familiares e con- 1950, a probabilidade de sobrevivência a partir dos
tribui para o aparecimento de sintomas psiquiátricos 80 a 90 anos foi em média de 15%-16% para mu-
como a depressão7. Além disso, os cuidadores podem lheres e 12% para os homens. Em 2002, esses valores
ter uma diminuição na imunidade celular, permane- foram de 37% e 25%, respectivamente. No Japão, a
cendo por mais tempo com doenças infecciosas8, por probabilidade de sobreviver acima de 80 e 90 anos de
consequência apresentam risco maior para aquisição de idade já ultrapassa 50% para as mulheres20.
doenças graves9,10. A combinação entre a vulnerabilida- Tendências futuras de fragilidade e taxas de inca-
de biológica, a prestação de cuidados físicos e o estresse pacidade poderão ser elementos determinantes para
prolongado pode comprometer o funcionamento fi- a sociedade capacitar-se para enfrentar os desafios do
siológico e aumentar o risco de problemas de saúde9 e envelhecimento da população, em virtude de os ido-
de mortalidade11 entre os cuidadores de idosos. sos muito idosos tenderem a ser mais frágeis e mais
As doenças ou comorbidades podem contribuir para dependentes, necessitando de cuidados contínuos, fre-
o desenvolvimento da fragilidade. A fragilidade é um es- quentemente realizados por cônjuges, igualmente ido-
tado de vulnerabilidade provocado por diversos proble- sos e por vezes também em situação de fragilidade e
mas de saúde, incluindo dependência funcional, quedas, vulnerabilidade. A identificação dos fatores predispo-
institucionalização e mortalidade entre idosos12,13. nentes à fragilidade em cuidadores idosos possibilitará
Fragilidade em cuidadores idosos 5

a discussão sobre políticas públicas adequadas a eles, funcional)22. Para compor a dimensão clínico-fun-
o que beneficiaria tanto os idosos cuidadores quan- cional do cuidador, foram utilizados os seguintes ins-
to aqueles que dependem de seus cuidados, inclusive trumentos de rastreio: MEEM (miniexame do estado
com minimização dos custos futuros ao setor públi- mental)23; OARS (Americans Resources and Services
co. Dessa forma, o objetivo principal deste estudo foi Procedures) (dimensão independência)24, CES-D (The
identificar a prevalência e fatores associados à fragili- Center for Epidemiologic Studies – Depression)25,26, CBS
dade em cuidadores idosos de idosos dependentes. (Caregiver Burden Scale)27 e IQSP (Índice de Qualida-
de de Sono de Pittsburgh)28. A condição clínica dos
cuidadores e dos idosos dependentes foi verificada
MÉTODOS por meio dos prontuários médicos disponíveis nos
serviços de atendimento.
Participantes
Tratou-se de um estudo transversal, descritivo e ana- Análise de dados
lítico, com uma amostra de 50 idosos cuidadores de
A análise estatística considerou como variável depen-
idosos dependentes pertencentes a um departamento
dente a existência de fragilidade. Segundo os crité-
de geriatria e gerontologia com atendimento ambula-
rios de Fried et al.12, aqueles que pontuaram em pelo
torial, domiciliar e em centro de reabilitação. O Co-
menos três critérios foram classificados como frágeis,
mitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
entretanto para efeito deste estudo foram criados os
São Paulo – Escola Paulista de Medicina aprovou o
grupos “Não frágeis” e “Frágeis e pré-frágeis”. O pri-
estudo sob o protocolo CEP 1241/08.
meiro contempla os cuidadores que tiveram nenhum
ou um critério positivo para a fragilidade, e o segundo
Procedimentos e instrumentos grupo de cuidadores teve dois ou mais critérios positi-
Os cuidadores idosos e primários foram elegíveis e vos para a fragilidade.
selecionados como sendo de ambos os sexos; idade Para comparar as variáveis categóricas entre os gru-
acima de 60 anos e prestavam cuidados, há pelo me- pos, foram utilizados o teste qui-quadrado ou, quando
nos 1 (um) ano, a idosos dependentes em pelo menos necessário (valores esperados menores do que 5), o tes-
1 (uma) AVD. te exato de Fisher, e para comparar as variáveis con-
Para avaliação da fragilidade, utilizou-se o fenótipo tínuas entre os grupos foi utilizado o teste t-Student
de fragilidade descrito por Fried et al.12, com adaptação para as amostras independentes. O nível de signifi-
no item baixo nível de atividade física. Identificaram- cância adotado para os testes estatísticos foi de 5%
se presença de perda involuntária de peso, autorrelato (p < 0,05).
de fadiga, diminuição de força de preensão manual Para analisar a influência conjunta dos fatores de ris-
(ajustada pelo sexo e IMC), diminuição de velocidade co para a fragilidade, foi utilizada a análise de regressão
da marcha e baixo nível de atividade física. Para ava- logística univariada, modelo logito, stepwise, usando o
liação do nível de atividade física, optou-se por utilizar critério de p < 0,10 de a razão de chance (odds ratio)
a escala Perfil de Atividade Humana (PAH), adaptada bruta ser estatisticamente igual a 1,00; e regressão logís-
transculturalmente e com análise das propriedades psi- tica múltipla usando o critério de p < 0,05 de odds ratio,
cométricas para a versão brasileira21. Trata-se de uma ajustadas para serem estatisticamente iguais a 1,00, por
avaliação utilizada para mensurar o gasto de energia meio do pacote estatístico Minitab versão 15.1.
ou a atividade física. Utilizou-se a pontuação abaixo
de 46 pontos como indicativo de baixo gasto calórico
para a faixa etária acima de 60 anos, que corresponde RESULTADOS
ao escore total do EAA (escore ajustado de atividade);
tal escore corresponderia a um consumo máximo de Características dos cuidadores e
oxigênio < que 14,5 ml/kg/min21. dependentes
Os cuidadores idosos selecionados foram avalia- A amostra incluiu 50 cuidadores idosos, com idade
dos por meio de um questionário estruturado, elabo- média de 71,6 ± 7,5 anos. Mais de 90% eram mem-
rado para este estudo, que contemplava as variáveis: bros diretos da família, sendo 78% mulheres, a maio-
sociodemográficas; clínico-funcionais; demanda de ria dos quais era cônjuge. A escolaridade de 72% dos
cuidado prestado; perfil clínico e funcional do ido- cuidadores era abaixo do Ensino Médio. Noventa e
so dependente (MIF – medida de independência dois por cento prestavam cuidados a mais de 60 me-
6 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):3-12

ses e 40 horas por semana, no entanto 66% recebiam pontuaram em dois ou mais critérios, totalizando 21
alguma ajuda de terceiros. indivíduos (42%).
As características da dimensão clínico-funcional
mostraram que 98% dos cuidadores sofriam alguma Fatores associados à fragilidade
comorbidade; a média foi de 4,28 por participante. A tabela 1 mostra dados sobre a análise univariada
Déficit visual (86%), hipertensão (74%), incontinên- com as razões de chances como medida de associação
cia urinária (40%) e osteoartrite (30%) foram as quatro entre as características das categorias sociodemográfi-
condições mais prevalentes em nossa amostra, porém cas, clínico-funcional e cuidado prestado do cuidador
72% relataram a percepção geral de saúde como bom em relação à fragilidade.
e 18% como ruim. Oitenta e seis por cento dos cuida-
dores declararam ter pelo menos uma dificuldade para As análises demonstraram que houve correlação
realizar tarefas da vida diária medida pelo OARS. entre a fragilidade e as variáveis capacidade funcional
diminuída, sintomatologia depressiva e sobrecarga da
Oitenta e quatro por cento dos cuidadores pon- doença sobre o cuidador na categoria clínico-funcio-
tuaram 16 pontos ou superior na CES-D, indicando nal; as demais variáveis não demonstraram associação
risco para a depressão clínica, e 68% apresentaram com a fragilidade. Os cuidadores que apresentaram
distúrbios de sono avaliados pelo IQSP. O número dificuldade para realizar as AVD têm 1,29 vez (p =
médio da Caregiver Burden Scale foi 2,10, atestando 0,009; IC: 1,07 a 1,57, 95%) maior chance de serem
sobrecarga para os cuidadores. No MEEM, a pontua­ frágeis com relação aos que não apresentaram dificul-
ção média foi de 26,4, e 36% apresentaram algum dade nas tarefas. Pode-se constatar a mesma tendên-
grau de comprometimento cognitivo. cia para os cuidadores com sintomatologia depressiva;
As características dos idosos dependentes foram fai- esses cuidadores têm 1,11 vez (p = 0,023; IC: 1,01
xa etária entre 72-101 anos e número de comorbidades a 1,21, 95%) maior chance de apresentar fragilidade
na média de 5,92 por indivíduo, sendo as mais preva- com relação aos cuidadores que não tiveram a presen-
lentes déficit cognitivo (72%), doenças cardiovascula- ça de sintomas depressivos. Os cuidadores que relata-
res (40%) e câncer (20%), e 94% apresentavam algum ram que a doença do idoso dependente sobrecarrega
distúrbio de comportamento. Em relação à medida de a sua vida de forma moderada para frequente apresen-
independência funcional (MIF), segundo relato dos taram maior chance, 5,62 vezes (p = 0,005; IC: 1,69
cuidadores, os idosos dependentes tiveram a pontua- a 18,66, 95%), de serem frágeis.
ção média de 58,54 de um total de 126 pontos. A tabela 2 mostra dados sobre a análise univaria-
da com as razões de chances como medida de asso-
Prevalência de fragilidade ciação entre as características das categorias e o perfil
Na amostra estudada, 14 cuidadores (28,0%) não clínico-funcional do idoso dependente em relação à
pontuaram em nenhum dos cinco critérios de fragi- fragilidade. Verifica-se que as variáveis estudadas não
lidade; 13 (30,0%) pontuaram em apenas um deles; se associaram significativamente com a fragilidade.
12 (24,0%), em dois dos critérios; 8 (16,0%), em Portanto, as variáveis presentes na análise de re-
três e 1 (2,0%), em quatro dos critérios. Utilizando a gressão univariada que aumentaram a chance de fra-
classificação definida por Fried et al.12, as prevalências gilidade de forma independente e significativa foram:
de fragilidade foram de 9 (18,0%) cuidadores idosos estar com capacidade funcional reduzida e ter sinto-
considerados como frágeis, 27 (54,0%) classificados matologia depressiva e sobrecarga do cuidador pela
em uma fase intermediária da fragilidade como pré- doença do idoso dependente.
frágeis e 14 (28%) como não frágeis.
As tabelas 3 e 4 demonstram a análise de regressão
Nove cuidadores (18,0%) da amostra pontuaram multivariada e indicam que os cuidadores que estão
no critério de perda de peso involuntária, 23 (46,0%) mais propensos a desenvolver as fragilidades são aque-
foram positivos no critério de exaustão; 6 (12,0%) les que relataram maior sobrecarga pelo impacto da
apresentaram força de preensão palmar diminuída; 7 doença do idoso dependente; entretanto, quando as
(14,0%) pontuaram no critério de velocidade de mar- demais variáveis significantes, capacidade funcional e
cha reduzida e 22 (44,0%) pontuaram na atividade sintomas depressivos, são analisadas conjuntamente
física reduzida. com a sobrecarga do cuidador, não permaneceram
Para fim de análise estatística, foram considera- como fator determinante para o desenvolvimento da
dos no grupo “frágeis e pré-frágeis” cuidadores que fragilidade entre os cuidadores idosos.
Fragilidade em cuidadores idosos 7

Tabela 1. Análise de regressão logística univariada para fragilidade e variáveis sociodemográficas e clínico-funcionais
e cuidado prestado
Variáveis Classe N total N (%) frágeis OR IC 95% p*
e pré-frágeis
Sociodemográficas
Idade v. contínua 50 21 (42,0) 1,00 0,93-1,08 0,982
Sexo Feminino 39 17 (43,6) 1,00
Masculino 11 4 (20,5) 0,74 0,19-2,95 0,669
Estado civil Casado 34 13 (38,2) 1,00
Não casado 16 8 (50,0) 1,62 0,49-5,36 0, 433
Escolaridade Baixa 22 11 (50,0) 1,00
Média/Alta 28 10 (35,7) 0,56 0,18-1,73 0,312
Trabalha Não 44 18 (40,9) 1,00
Sim 6 3 (50,0) 1,44 0,26-7,98 0,673
Renda familiar ≥ 1 a < 3 sal. mín. 23 9 (39,1) 1,00
≥ 3 sal. mín. 27 12 (44,4) 1,24 0,40-3,85 0,705
Clínico-funcionais
Autopercepção da saúde Boa 40 15 (37,5) 1,00
Ruim 10 6 (60,0) 2,50 0,61-10,32 0,205
Número de doenças v. contínua 50 21 (42,0) 1,12 0,89-1,41 0,349
Número de medicamentos 0-3 22 10 (45,6) 1,00
Hospitalização em um ano 4 ou mais 28 11 (39,3) 0,78 0,25-2,41 0,661
Não 46 19 (41,3) 1,00
Sim 4 2 (50,0) 1,42 0,18-10,99 0,736
Quedas em um ano Não 29 10 (34,5) 1,00
Sim 21 11 (52,4) 2,09 0,66-6,59 0,209
Incontinência urinária Não 30 10 (33,3) 1,00
Sim 20 11 (55,0) 2,44 0,76-7,82 0,132
Atividade terapêutica Não 42 19 (45,2) 1,00
Sim 8 2 (25,0) 0,40 0,07-2,24 0,299
Déficit cognitivo Não 32 14 (43,8) 1,00
Sim 18 7 (38,9) 0,82 0,25-2,66 0,738
Capacidade funcional v. contínua 50 21 (42,0) 1,29 1,07-1,57 0,009
Sintomas depressivos v. contínua 50 21 (42,0) 1,11 1,01-1,21 0,023
Sobrecarga do cuidador v. contínua 50 21 (42,0) 5,62 1,69-18,66 0,005
Qualidade do sono v. contínua 50 21 (42,0) 1,14 0,96-1,35 0,137
Cuidado prestado
Grau de parentesco Cônjuge 29 13 (44,8) 1,00
Filho(a) 12 5 (41,7) 0,88 0,23-3,43 0,853
Outros 9 3 (33,3) 0,62 0,13-2,95 0,544
Tempo de cuidador < 6 anos 27 11 (40,7) 1,00
≥ 6 anos 23 11 (43,4) 1,12 0,36-3,45 0,845
Horas por dia 05-16 h 10 3 (30,0) 1,00
17-24 h 40 18 (45,0) 1,91 0,43-8,46 0,395
Ajuda de terceiros Não 17 9 (52,9) 1,00
Sim 33 11 (36,7) 0,51 0,15-1,67 0,264
* P < 0,05: nível de significância adotado; IC: intervalo de confiança; OR: razão de chance; v.: variável; sal. mín.: salários-mínimos; N: numeral; %: percentual.
8 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):3-12

Tabela 2. Análise de regressão logística univariada para fragilidade e variáveis clínico-funcionais do idoso
dependente
N N (%)
Variáveis Classe total frágeis e OR IC 95% p*
pré-frágeis
Número de doenças v. contínua 50 21 (42,0) 1,01 0,80-1,27 0,937
Número de medicamentos 0-3 10 2 (20,0) 1,00
4 ou mais 40 19 (47,5) 3,62 0,68-19,21 0,131
Hospitalização em um ano Não 32 12 (37,5) 1,00
Sim 18 9 (50,0) 1,67 0,52-5,36 0,392
Quedas em um ano Não 23 10 (43,5) 1,00
Sim 27 11 (40,7) 0,89 0,29-2,76 0,845
Úlcera por pressão Não 44 17 (38,6) 1,00
Sim 6 4 (66,7) 3,18 0,52-19,27 0,209
Alteração comportamental Não 3 2 (66,7) 1,00
Sim 47 19 (40,4) 0,34 0,03-4,01 0,391
Independência funcional v. contínua 50 21 (42,0) 0,99 0,96-1,01 0,266
* P < 0,05: nível de significância adotado; IC: intervalo de confiança; OR: razão de chance; v.: variável; N: numeral; %: percentual.

Tabela 3. Análise de regressão logística multivariada para fragilidade, sobrecarga do cuidador e capacidade
funcional
Variáveis Classe OR IC 95% p
Sobrecarga do cuidador v. contínua 3,64 1,05-12,62 0,042
Capacidade funcional v. contínua 1,19 0,97-1,46 0,095
* P < 0,05: nível de significância adotado; IC: intervalo de confiança; OR: razão de chance; v.: variável; %: percentual.

Tabela 4. Análise de regressão logística multivariada para fragilidade, sobrecarga do cuidador e capacidade
funcional
Variáveis Classe OR IC 95% p
Sobrecarga do cuidador v. contínua 4,21 1,08-16,49 0,039
Sintomas depressivos v. contínua 1,04 0,94-1,15 0,421
* P < 0.05: nível de significância adotado; IC: intervalo de confiança ; OR: razão de chance; v.: variável; %: percentual.

DISCUSSÃO gilidade têm sido raramente realizadas, dificultando


melhor comparação. A pesquisa conduzida por Fried
Este estudo encontrou 18% de prevalência de fragi- et al.12 verificou 6,9% de idosos frágeis no ano de
lidade entre cuidadores idosos. Ele corroborou os re- base, enquanto em outros estudos, como o conduzi-
sultados de Park-Lee et al.29, que verificaram 17,2% do por Bandeen-Roche et al.18, avaliando mulheres de
de fragilidade em cuidadoras e não cuidadoras idosas 70 a 79 anos de idade, foram observados 11,3% de
em pesquisa longitudinal de dois anos, embora, no idosos frágeis.
início do estudo, o resultado encontrado tenha sido Em relação ao critério perda de peso involuntário,
de 9,2%. Em relação a outros estudos, observaram- a prevalência verificada nesta pesquisa foi de 18,0%,
se divergências com as taxas relatadas, provavelmente enquanto Park-Lee et al.29 relataram 13,2%, Fried
porque a população aqui avaliada foi de cuidadores et al.12 encontraram 6% e Bandeen-Roche et al.18
idosos, entre os quais pesquisas específicas sobre a fra- constataram 12,7% pelo WHAS e 7,3% pelo CHS.
Fragilidade em cuidadores idosos 9

Os trabalhos citados identificaram prevalências infe- física, no entanto o desempenho físico mostrou-se sa-
riores à prevalência obtida no presente estudo para tisfatório, o que foi explicado pelas atividades pratica-
esse critério. Connell30 verificou que a sobrecarga do das durante as tarefas do cuidado36.
cuidado sobre a saúde de cuidadoras pode levá-las a
No critério baixo nível de atividade física, Fried
cuidar-se menos e a ter dieta alimentar inadequada, et al.12 encontraram a prevalência de pontuação de
piorando, assim, seu estado nutricional. 22%. Por sua vez, Bandeen-Roche et al.18 encontra-
No critério relacionado à exaustão ou fadiga, en- ram prevalências de 19,8% e 24,1% para o WHAS e
controu-se alta prevalência: 46,0% dos cuidadores se CHS. A apuração do gasto energético dessas pesqui-
enquadraram nesse item. Park-Lee et al.29 reportaram sas foi efetuada pela aplicação do Minnesota Leisure
25,4%, Fried et al.12 relataram 17% e Bandeen-Ro- Time Activity Questionnaire.
che et al.18 relataram prevalências de 14,1% e 21,3% O instrumento utilizado para avaliação do gasto
para as mulheres participantes do WHAS e do CHS, energético neste estudo foi o PAH. Com base nesse
respectivamente. Cuidadores mais sobrecarregados instrumento, encontrou-se como prevalência no cri-
estão com pior condição física e de saúde, apresen- tério de baixo nível de atividade física o valor de 44%
tam maiores níveis de humor deprimido e fadiga, e da amostra de cuidadores, bem mais elevado do que
a maioria julga sua saúde como insatisfatória31. Além os relatados pelos demais estudos. Acredita-se que um
disso, há relatos de saúde precária, de menos ener- dos motivos por que os cuidadores apresentarem ati-
gia e pior funcionamento cognitivo entre portadores vidade física tão reduzida seria a carga excessiva de
de distúrbios do sono quando comparados a pessoas trabalho; a maioria, 80%, relatou como tempo de cui-
com sono normal32. Levando-se em consideração es- dado 17-24 horas por dia, impossibilitando a prática
ses fatores, o que pode explicar uma prevalência, nesse de outras atividades, ainda que 66% dos cuidadores
critério, superior ao da literatura e que os cuidadores houvessem recebido ajuda de terceiros nos cuidados.
deste estudo apresentaram sintomas depressivos pela Outro fato marcante dessa população foi o relato de
escala do CES-D (19,05 ± 7,83) e qualidade de sono fadiga (46%) e de sintomas depressivos (72%), que
ruim pela escala do IQSP (8,86 ± 3,34), favorecendo pode ter colaborado para diminuição de interesse na
a presença de fadiga entre eles. prática de atividade física. Há uma crescente preo-
Em relação à prevalência de fraqueza determinada cupação na literatura de que o tempo despendido
pelo critério de força de preensão diminuída, Fried no cuidado ou a presença de estresse crônico pode-
et al.12 encontraram 20%, Ostir et al.33 encontraram ria impedir a atividade física entre os cuidadores37,38.
24,1% na linha de base e 34,5% após sete anos e Cuidadores relataram que desde que se tornaram cui-
Park-Lee et al.29 verificaram 75,9%. No presente estu- dadores passaram a fazer menos exercício, diminuin-
do, 12% dos participantes avaliados foram classifica- do a atividade física39.
dos como frágeis para esse critério. Em estudos recentes, tem sido estabelecida a corre-
Em relação ao critério velocidade da marcha re- lação entre fragilidade e fatores sociodemográficos16,17
duzida, Fried et al.12 encontraram a ocorrência de e clínico-funcionais40,41. Fried et al.12 evidenciaram os
pontuação nesse critério de 20%, Ostir et al.33 encon- seguintes fatores associados com fragilidade: idade
traram 24,6% e Park-Lee et al.29 reportaram 65,8%. avançada, sexo feminino, ser afro-americano, possuir
Neste estudo, a prevalência neste critério foi de 14% baixos níveis de escolaridade, baixos rendimentos mo-
dos cuidadores, tal como a força de preensão palmar netários e pior situação de saúde, com taxas elevadas
reduzida; tratou-se de um valor inferior ao relatado de comorbidades, doenças crônicas e incapacidades.
na literatura. No presente estudo, identificou-se a associação de
Podem-se associar esses achados, tanto da força fragilidade a três variáveis clínico-funcionais do cuida-
palmar quanto da velocidade da marcha reduzida, dor: sobrecarga do cuidador, capacidade funcional e
com os estudos efetuados34,35 sobre o valor da ativida- sintomas depressivos. Em relação à capacidade funcio-
de física realizada rotineiramente, como as atividades nal, este estudo corrobora com estudos que verificaram
domésticas, que podem ter efeitos significativos sobre a associação de atividade de vida instrumental com fra-
a formação do sistema musculoesquelético, contri- gilidade e constatou que as mulheres com incapacida-
de em pelo menos um item AIVD são mais frágeis42.
buindo, assim, para a manutenção da força muscu-
lar nos membros mais utilizados. Em estudos sobre A respeito dos sintomas depressivos, vários estudos
desempenho físico de cuidadoras idosas, verificou-se relatam que a depressão interfere no controle imu-
que as cuidadoras relataram praticar menos atividade nológico de forma negativa43,44, principalmente para
10 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):3-12

os indivíduos com vulnerabilidade física, por causa duzido de sujeitos em relação ao número de variáveis
da idade e presença de comorbidades45. Uma revisão independentes estudadas.
da literatura verificou que eventos estressores persis-
Portanto, constatou-se uma prevalência de fragi-
tentes, como exercer a atividade de cuidador, podem
lidade de 18% em cuidadores idosos; 54% dos cui-
provocar um impacto negativo, contribuindo para
dadores encontram-se na categoria definida como
alterações psicossociais e fisiológicas45. A presença de
sintomas depressivos pode prejudicar a recuperação pré-frágil e, portanto, em risco de desenvolver a sín-
dos sujeitos em eventos adversos, podendo a depres- drome de fragilidade. A prevalência de dois ou mais
são, relatada por idosos, ser um sinal de fragilidade critérios de avaliação de fragilidade positivos foi acima
psicossocial46. Park-Lee et al.29 verificaram que mu- daquelas referidas nos estudos internacionais12,17,18,33,
lheres com sintomas depressivos elevados e baixo afe- evidenciando a necessidade de maior atenção à popu-
to positivo tiveram maiores taxas de fragilidade. lação de cuidadores, uma vez que há uma tendência
mundial em aumentar a necessidade de cuidados a
Várias pesquisas têm sido realizadas para verificar idosos dependentes, já que o crescimento da popula-
a sobrecarga do cuidar sobre o cuidador em relação ção idosa vem aumentando.
aos aspectos físicos, psicológicos, financeiros47,48 e
qualidade de vida49, constatando que os cuidadores Pode-se sugerir que os fatores associados à fragilida-
com maior sobrecarga podem apresentar mais mor- de em cuidadores idosos são capacidade funcional redu-
bidades50 e sintomas depressivos51. A influência do zida, presença de sintomas depressivos e alta sobrecarga
efeito psicológico no processo de transição de inde- do cuidado sobre o cuidador. Não foi possível estabe-
pendência para fragilidade ainda tem sido pouco ex- lecer de forma mais ampla as associações entre a fragi-
plorada na literatura. O aparecimento da fragilidade lidade e as variáveis estudadas, em virtude do pequeno
psicológica pode estar associado a certos desafios psi- número de indivíduos da amostra (50 cuidadores).
cológicos, como é o caso de cuidadores, e o termo
Estudos com amostras maiores e com maior diver-
“fragilidade crise de identidade” tem sido utilizado
sidade de indivíduos seriam oportunos. Nesse sentido,
para caracterizar uma síndrome psicológica que in-
o entendimento de fragilidade como um problema de
terfere na independência dos sujeitos, acarretando o
desenvolvimento da fragilidade52. saúde pública, determinando sua avaliação em bus-
ca de estágios precoces de comprometimento físico
Uma grave crise no bem-estar psicológico pode re- e orgânico, aumentaria as chances de sucesso em sua
sultar no aparecimento de deficiências e predispor à prevenção ou recuperação entre cuidadores idosos.
fragilidade. Além disso, a perda de redes informais de
apoio social, o isolamento social e outros fatores so-
cioeconômicos podem contribuir para a decadência AGRADECIMENTOS
da qualidade de vida, solidão, depressão e fragilidade
social53,54. Tem sido sugerido que a resiliência psicológi- Aos cuidadores, ao Programa de Especialização de
ca, que mantém o bem-estar individual, a participação Geriatria e Gerontologia, especialmente a coordena-
ativa e a independência, pode impedir a fragilidade52. doria e a orientação recebida para elaboração desta
Park-Lee et al.29 relataram que afeto positivo está pesquisa.
associado com um risco menor de desenvolver fragili-
dade em idosas, independentemente de ser cuidadora
ou não. Eles confirmam os resultados de outro estudo REFERÊNCIAS
sobre afeto positivo e fragilidade33. Cuidadores com
1. Davin B, Paraponaris A, Verger P. Socioeconomic determinants of
afeto positivo alto reportaram melhor saúde física do the need for personal assistance reported by community-dwelling
que cuidadores que estavam pessimistas29,55,56. elderly: empirical evidence from a French national health survey.
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As limitações do estudo se referem ao número re-
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formais e informais que os substituíssem, e até mes- pendent elders. Int J Geriatr Psychiatry. 2007;22(8):738-49.
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que todos os cuidadores fossem entrevistados nos seus sive symptoms, and functional decline in older people. J Am Ge-
domicílios, dificultando a coleta de dados. Os valores riatr Soc. 2002;50(6):1045-50.
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Fragilidade em cuidadores idosos 11

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ARTIGO ORIGINAL

Evolução antropométrica de idosos


residentes em instituição geriátrica
de Belo Horizonte, MG
Anthropometric evolution of elderly people living in
geriatric institution in Belo Horizonte, MG

Bruna V. L. Costa1, Leorges M. Fonseca2, Aline C. S. Lopes3

Recebido em 20/2/10 RESUMO


Aceito em 30/4/10
Introdução: Com o avanço da idade, os idosos apresentam situações peculiares que influenciam o seu estado
nutricional, tornando os distúrbios nutricionais prevalentes. Objetivo: Caracterizar o consumo de nutrientes de
idosos e sua associação com estado nutricional, bem como sua evolução antropométrica. Método: Estudo de
coorte, sendo na linha de base (janeiro 2008) coletados dados socioeconômicos, antropométricos, ingestão alimen-
tar e realizada a Miniavaliação Nutricional (MAN). Em julho (2008), foram reavaliadas a antropometria e a MAN.
Análise estatística abrangeu descrição dos dados, testes qui-quadrado de Pearson e exato de Fisher, ANOVA,
regressão logística multinomial e homogeneidade marginal. Resultados: Dos participantes (n = 52), 82,7% eram
mulheres, com idade média de 76,6 ± 9,0 anos. Consumo de potássio, lipídeos, ácidos graxos poli-insaturado e
monoinsaturado foi insuficiente em 100% e consumo de vitamina B12, niacina e zinco, em 44,2%, 65,4% e 82,7%,
1
Hospital Paulo de
respectivamente. Observou-se aumento no percentual de desnutridos (7,7% para 15,7%) e no risco de doenças
Tarso – Geriatria,
cardiovasculares (10,8% para 25,7%). Conclusão: Observaram-se melhora e piora do estado nutricional, somadas
Cuidados Prolongados
e Reabilitação. à ingestão insuficiente de nutrientes, o que evidencia a necessidade de intervenções que promovam o consumo
Grupo de Pesquisa alimentar saudável.
de Intervenções Palavras-chave: Idoso, nutrição do idoso, consumo alimentar, instituições de longa permanência, desnutrição,
em Nutrição da obesidade.
Universidade Federal
de Minas Gerais ABSTRACT
(GIN/UFMG).
Introduction: With advancing age, elderly patients present peculiar situations that influence their nutritional sta-
2
Departamento de
Tecnologia e Inspeção tus, becoming the prevalent nutritional disorders. Objective: To characterize the nutrient intake of elderly and its
de Produtos de Origem association with nutritional status, as well as their anthropometric development. Method: A cohort study, and at
Animal da Escola baseline (January 2008) collected data on socioeconomic, anthropometric, food intake and performed Mini Nutri-
de Veterinária. tional Assessment (MAN). In July (2008), were reassessed anthropometry and MAN. Statistical analysis included
3
GIN/UFMG. description of the data, chi-square test and Fisher exact test, ANOVA, multinomial logistic regression and margi-
Departamento de nal homogeneity. Results: Participants (n = 52), 82.7% were women, mean age 76.6 ± 9.0 years. Consumption
Enfermagem Materno- of potassium, lipids, polyunsaturated fatty acids and monounsaturated fell short by 100% and consumption of
Infantil e Saúde vitamin B12, niacin and zinc by 44.2%, 65.4% and 82.7% respectively. There was an increase in the percentage of
Pública da Escola malnourished (7.7% to 15.7%) and the risk of cardiovascular disease (10.8% to 25.7%). Conclusion: Observed
de Enfermagem da improvement and worsening nutritional status, combined with inadequate intake of nutrients, which highlights the
UFMG. Observatório de need for interventions that promote healthier food consumption.
Saúde Urbana de Belo Keywords: Elderly, elderly nutrition, food consumption, homes for the aged, malnutrition, obesity.
Horizonte (OSUBH).
Núcleo de Estudos
em Saúde Pública
e Envelhecimento Endereço para correspondência: Bruna V. L. Costa • Rua Anita Garibaldi, 139/302, Bairro Luxemburgo –
(Nespe/Fiocruz). 30380-230 – Belo Horizonte, MG • Tel.: (55) (31) 3293-2748 • E-mail: brunavlc@hotmail.com
14 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):13-20

INTRODUÇÃO em 64,3% dos idosos e a ingestão de lipídeos, eleva-


da em 35,7%. A ingestão de ferro e vitamina B6 foi
Conforme os indivíduos envelhecem, os distúrbios insuficiente em 98,8% e 94%, respectivamente, e o
nutricionais tornam-se mais prevalentes, levando à consumo de colesterol adequado em 97,6%.
perda da qualidade de vida. Considerando que consumo inadequado de nu-
As doenças associadas ao baixo índice de massa trientes e os distúrbios nutricionais podem compro-
corporal (IMC) incluem tuberculose, enfermidades meter a saúde dos idosos, o presente artigo teve como
pulmonares, neoplasias, infecções, quedas, fraturas objetivo caracterizar o estado nutricional de idosos re-
e úlceras de decúbito. Por outro lado, a obesidade sidentes em instituição geriátrica filantrópica de Belo
aumenta a morbimortalidade por doenças como hi- Horizonte, Minas Gerais, a partir de medidas antro-
pertensão arterial sistêmica, dislipidemias, doença co- pométricas e do consumo de nutrientes, bem como
verificar sua evolução antropométrica.
ronariana isquêmica e osteoarticular, além de diabetes
melito e neoplasias1,2.
O estudo realizado por Villas Boas3 avaliou o es- MATERIAL E MÉTODOS
tado nutricional de 55 idosos institucionalizados em
Botucatu, São Paulo. A prevalência de baixo peso en- Trata-se de estudo de coorte, sendo a linha de base
contrada foi de 40% e a de sobrepeso foi de 32,7%. realizada em janeiro de 2008, na qual foram coletados
Já no estudo de Müller et al.4, a prevalência de sobre- dados socioeconômicos, medidas antropométricas,
peso foi superior (65,4%); apenas 2,3% das idosas consumo de nutrientes e aplicada a Miniavaliação
encontravam-se em baixo peso. Nutricional (MAN). No seguimento, realizado em
julho de 2008, foram reavaliadas as medidas antropo-
Segundo a Miniavaliação Nutricional, o estudo de métricas e realizada a MAN.
Pereira5 revelou que 55,6% dos idosos institucionaliza-
dos estavam sob risco de desnutrição e 8,3% apresen- Foram estudados idosos com idade igual ou supe-
tavam desnutrição. Emed et al.6 avaliaram 114 idosos rior a 60 anos, de ambos os sexos, residentes em uma
de instituições asilares e observaram que 61% estavam instituição de longa permanência (ILPI), do municí-
em risco de desnutrição e 6% eram desnutridos. pio de Belo Horizonte, Minas Gerais. Optou-se por
amostra aleatória simples (n = 55) baseada em 99%
Essas altas prevalências de distúrbios nutricionais de poder de explicação (n = 35) e 20% de perdas (n =
influenciam negativamente a saúde dos idosos, agra- 55), de um total de 94 idosos da ILPI.
vados ainda mais pela idade e características da insti-
tucionalização. Entre as características mais comuns, Os dados referentes à anamnese, como idade,
tem-se a dificuldade em adequar o consumo alimen- sexo, grau de escolaridade, uso de prótese dentária,
tar dos idosos. frequência de visitas e contribuição financeira, foram
obtidos no prontuário, caderno da diretoria e por re-
Com relação à ingestão alimentar, o estudo de latos dos profissionais.
Cardoso7 realizado em instituições asilares do muni-
Na avaliação antropométrica, as variáveis utiliza-
cípio de Lavras e Alfenas, Minas Gerais, mostrou que
das foram índice de massa corporal (IMC); circunfe-
100% dos idosos apresentaram consumo inadequa-
rências da panturrilha (CP), cintura (CC) e quadril
do de tiamina e niacina. Em Lavras, apenas 7% dos
(CQ); razão cintura/quadril (RCQ) e área muscular
homens e 6,7% das mulheres apresentaram ingestão
do braço corrigida (AMBc). Todas as medidas foram
de lipídeos abaixo do percentual recomendado. Já em
obtidas conforme as recomendações da World Health
Alfenas, 100% dos idosos e 75% das idosas consu-
Organization10 e realizadas três vezes, sendo conside-
miam lipídeos conforme a recomendação.
rada sua média.
Rodríguez et al.8 avaliaram o consumo de ferro em
A aferição da estatura foi realizada com o estadiô-
idosos institucionalizados e verificaram que 98% dos
metro Alturaexata® (escala de 35 a 213 cm e precisão
idosos e 89% das idosas apresentavam ingestão supe- de 0,1 cm). A altura do joelho foi utilizada para es-
rior ao recomendado. Já a ingestão de zinco foi insufi- timar a estatura dos idosos que apresentavam insta-
ciente em 100% dos idosos e 98,5% das idosas. bilidade postural ou se encontravam acamados. Tal
O estudo de Lopes et al.9 realizado em amostra aferição foi feita na perna esquerda, na qual uma das
populacional de Bambuí, Minas Gerais, mostrou que lâminas da fita métrica foi posicionada sobre o cal-
o consumo de proteínas esteve abaixo do adequado canhar do pé esquerdo e a outra passando pela parte
15
Evolução antropométrica de idosos

anterior da coxa até a parte superior da patela11. Tal Intakes (DRI)18. As recomendações de macronutrien-
resultado era aplicado na fórmula da qual se obtinha tes foram calculadas conforme os valores de dis-
a estimativa da altura do idoso. tribuição percentual preconizados pelas DRI. As
necessidades de ácidos graxos e colesterol basearam-se
Para aferição da medida do peso corporal, foi uti-
nas recomendações da World Health Organization19.
lizada balança digital Marte® Classe III LC200-PP –
modelo PP2005 (1 a 199,95 kg). No caso de idosos Foi realizada avaliação qualitativa da ingestão dos
que não conseguiam permanecer em pé, o peso foi esti- nutrientes, na qual foi classificada como insuficien-
mado por intermédio da equação de Chumlea et al.12. te, adequada ou excessiva de acordo com sexo e idade.
A probabilidade (P) de adequação de ingestão (avalia-
A avaliação do peso corpóreo de pacientes com
ção quantitativa) também foi efetuada para os nutrien-
amputações foi tratada de forma específica, baseando-
tes ferro, zinco, niacina, tiamina, vitaminas B6 e B12.
se nos valores descritos por Osterkamp13.
A análise estatística constou de descrição dos da-
A circunferência da panturrilha foi medida com
dos, testes de qui-quadrado de Pearson e exato de
fita métrica inelástica (150 centímetros). O idoso
Fisher, e foi realizada a regressão logística multino-
permanecia sentado e a fita contornava a panturrilha,
mial. Para verificar diferenças entre as duas avaliações
movida de baixo para cima, até localizar a maior cir-
antropométricas, foram utilizados os testes de homo-
cunferência10.
geneidade marginal e, para as variáveis categóricas bi-
A circunferência da cintura (CC) foi aferida, nos nárias pareadas, o teste de McNemar.
idosos que conseguiam permanecer em pé, utilizan-
Em todas as análises foi considerado o nível de
do-se a fita métrica inelástica no ponto médio entre
5% de significância e utilizado o software Statistical
a parte inferior da costela e a parte superior da crista
Pachage for Social Sciences, versão 17.0.
ilíaca10.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de
Para aferição da circunferência do quadril, o exa-
Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas
minador observou o nível da extensão máxima dos
Gerais (UFMG), sob o parecer n° ETIC 568/07, e to-
glúteos, dispondo a fita antropométrica em plano ho-
dos os idosos assinaram o Termo de Consentimento
rizontal10. A partir das circunferências da cintura e do
Livre e Esclarecido. Para os idosos que não possuíam
quadril, calculou-se a razão cintura/quadril (RCQ).
escolaridade, foi coletada a impressão digital do dedo
A área muscular do braço foi corrigida a partir das polegar.
equações propostas por Heymsfield et al.14.
Os pontos de corte adotados para adequação do RESULTADOS
IMC foram os propostos por Lipschitz15. E os valores
da CC e RCQ foram confrontados com os pontos de
Dos 55 participantes convidados, três idosos desisti-
corte definidos pela WHO16.
ram de participar da pesquisa, constando 94,5% da
A Miniavaliação Nutricional (MAN), desenvolvi- amostra prevista. A amostra final constou de 55,3%
da especificamente para idosos, também foi utilizada. do total de institucionalizados.
Para a avaliação da ingestão alimentar, foi utiliza- Da amostra estudada, 82,7% dos idosos eram do
do o registro alimentar, por meio de observação direta sexo feminino, sendo a média de idade 76,6 ± 9,0
de três dias, sendo um dia de final de semana. O con- anos. Quanto à escolaridade, 40,4% não possuíam e
sumo de alimentos relatado no registro foi transfor- 51,9% não haviam concluído o Ensino Fundamen-
mado em gramas de acordo com a tabela de medidas tal. Quanto à mobilidade, 23,1% eram restritos ao
caseiras17. Em seguida, esses valores foram transfor- leito ou à cadeira de rodas e cerca de 56% possuíam
mados em energia e nutrientes, utilizando-se o pro- mobilidade normal. Com relação às visitas, 23,1%
grama DietWin® (DietWin Software de Nutrição), recebiam semanalmente e quase 58% raramente re-
versão 2008, e tabelas de composição de alimentos cebiam algum tipo de visita (Tabela 1).
específicas. A partir dos três dias de registro, obteve-se
Segundo a avaliação dietética, 71,2% da amostra
uma média da ingestão de energia e nutrientes, a qual
apresentou consumo adequado de calorias, 17,3%
foi considerada no estudo.
em excesso e 11,5% insuficiente (Tabela 2). O con-
Para o cálculo das necessidades energéticas, utili- sumo médio diário de calorias foi de 1.530,61 kcal,
zaram-se as equações propostas pela Dietary Reference variando de 993,80 a 2.432,81 kcal.
16 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):13-20

Tabela 1. Características sociodemográficas e de saúde. O consumo de lipídeos e ácidos graxos poli-insa-


Belo Horizonte – MG, Brasil, 2008 turados apresentou-se insuficiente em 100% e o de
Variáveis n (%) ácido graxo monoinsaturado em 98,1% dos idosos.
Sexo Feminino 43 82,7 Com relação ao consumo de ácidos graxos saturados,
Idade Média ± desvio-padrão - 76,6 ± 9,0
11,5% apresentaram consumo excessivo (Tabela 2).
Escolaridade - - A ingestão de potássio e zinco foi insuficiente em
Analfabeto 21 40,4 100% e 82,7%, respectivamente. Já quanto à inges-
Ensino fundamental 27 51,9 tão de ferro, 13,5% dos idosos apresentaram consu-
Ensino médio 4 7,7 mo insuficiente (Tabela 2).
Contribuição financeira - - O consumo de niacina foi insuficiente em 65,4%
70% 44 84,6 e de vitamina B12, em 44,2%. Já o consumo excessivo
100% 8 15,4 de tiamina esteve presente em 50% da amostra, assim
Frequência das visitas (%) - - como de vitaminas B6 e B12 em 84,6% e 51,9%, res-
Semanalmente 12 23,1 pectivamente (Tabela 2).
Quinzenalmente 7 13,5 A probabilidade de adequação da ingestão de cada
Mensalmente 3 5,8 nutriente (avaliação quantitativa) encontra-se tam-
Raramente 30 57,7 bém descrita na tabela 2.
Mobilidade (%) - -
Na linha de base, a prevalência de sobrepeso foi de
Restrito ao leito e à cadeira de rodas 12 23,1
46,2% e de baixo peso, de 23,1%, segundo o IMC.
Deambula, mas não sai da instituição 11 21,2
Já a prevalência de desnutrição pela classificação pro-
Normal 29 55,8 posta MAN foi de 7,7% e para o risco de desnutrição,
Uso de prótese (%) - - de 67,3% (Tabela 3).
Dentes naturais incompletos 5 9,6
A perda de massa muscular em 21,2% dos idosos
Prótese total 10 19,2
foi observada tanto pela classificação da circunferên-
Prótese parcial 17 32,7
cia da panturrilha (CP) quanto pela área muscular do
Edêntulo 20 38,5
braço corrigida (AMBc) (Tabela 3).

Tabela 2. Adequação qualitativa e quantitativa do consumo de calorias e nutrientes de idosos. Belo Horizonte – MG,
Brasil, 2008
  Consumo (%) Probabilidade (%)
Insuficiente Adequado Excessivo
Calorias 11,5 71,2 17,3 -
Proteína 5,8 94,2 0,0 -
Lipídeo 100,0 0,0 0,0 -
Ácido graxo saturado 0,0 88,5 11,5 -
Ácido graxo monoinsaturado 98,1 1,9 0,0 -
Ácido graxo poli-insaturado 100,0 0,0 0,0 -
Colesterol 0,0 100,0 0,0 -
Ferro 13,5 71,2 15,4 68,0
Potássio 100,0 - - -
Zinco 82,7 11,5 5,8 33,0
Tiamina 23,1 26,9 50,0 51,0
Niacina 65,4 23,1 11,5 46,0
Vitamina B6 5,8 9,6 84,6 67,0
Vitamina B12 44,2 3,8 51,9 56,0
17
Evolução antropométrica de idosos

Tabela 3. Evolução nutricional dos idosos. Belo Horizonte – MG, Brasil, janeiro e julho de 2008
1ª avaliação 2ª avaliação Valor de p
  n % n %
Estado nutricional (IMC) - - - - -
Baixo peso 12 23,1 11 21,6 0,854
Eutrofia 16 30,8 19 37,3 0,487
Sobrepeso 24 46,2 21 41,2 0,553
Circunferência da panturrilha - - - - -
Perda muscular 11 21,2 11 21,6 0,959*
Área muscular do braço - - - - -
Déficit severo de musculatura 11 21,2 10 19,6 0,807
Déficit leve de musculatura 7 13,5 8 15,7 0,748
Musculatura normal 30 57,7 28 54,9 0,775
Circunferência da cintura* - - - - -
Sem risco 12 32,4 10 28,6 0,719
Risco muito elevado 21 56,8 16 45,7 0,239
Risco elevado 4 10,8 9 25,7 0,068
Razão cintura/quadril* - - - - -
Risco de doença 26 70,3 24 68,6 0,780
Miniavaliação nutricional - - - - -
Risco para desnutrição 35 67,3 26 51,0 0,092
Desnutrido 4 7,7 8 15,7 0,206
Teste de Homogeneidade Marginal. * Teste McNemar.

Pela classificação da circunferência da cintura (CC), esses valores passaram para 90,1 e 87,3 cm, respecti-
56,8% dos idosos apresentaram risco de complicação vamente. Pôde-se, também, observar, de acordo com
associada à obesidade. E, de acordo com a razão cin- a CC, uma redução no grupo de idosos com risco
tura/quadril (RCQ), 70,3% dos indivíduos apresenta- muito elevado (56,8% em janeiro para 45,7% em ju-
ram risco de doença cardiovascular (Tabela 3). lho). No entanto, o percentual de idosos sem risco
diminuiu (32,4% para 28,6%) e com risco elevado
Na associação do consumo de nutrientes com o aumentou (10,8% para 25,7%), elevando o número
estado nutricional, avaliado pelo IMC e por MAN, de indivíduos com risco de doenças (Tabela 3).
nenhuma variável mostrou-se estatisticamente asso-
ciada (valor p > 0,05). Para a classificação da MAN, houve aumento no
percentual de idosos desnutridos (7,7% para 15,7%),
Quando comparadas as duas avaliações do estudo bem como redução do risco para a desnutrição (67,3%
de coorte, foi possível observar a ocorrência de novos para 51%), também sem diferenças estaticamente sig-
casos de idosos com baixo peso, avaliado pelo IMC, nificantes (p > 0,05) (Tabela 3). A perda de peso nos
sendo a incidência de 3,92%. Já segundo a MAN, a últimos meses, associada à dificuldade de se alimentar
incidência de idosos com desnutrição e com risco de sozinho, e a ocorrência de estresse psicológico ou do-
desnutrição foi, em ambas, de 11,7%. ença aguda foram os fatores determinantes para essa
Observou-se redução na prevalência de baixo peso alteração do diagnóstico de risco de desnutrição para
e de sobrepeso, segundo o IMC, variando de 23,1% desnutrição.
para 21,6% e de 46,2% para 41,2%, respectivamen-
te, mas sem significância estatística (Tabela 3). DISCUSSÃO
De acordo com a CC, verificaram-se aumento nos
valores para homens e redução para as mulheres. Em Verificou-se predominância do consumo de proteína
janeiro, a circunferência da cintura era, em média, de de origem vegetal, uma vez que o consumo de nu-
87,9 cm nos idosos e 89,1 cm nas idosas. Em julho, trientes provenientes de alimentos de origem animal,
18 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):13-20

como lipídeos, ácido graxo poli-insaturado e mo- apresentados neste trabalho, o que pode ser explicado
noinsaturado, niacina, zinco e vitamina B12, foi insu- pelo fato de no estudo de Tinoco et al. os idosos não
ficiente na maioria dos idosos. Na coorte, observou-se serem institucionalizados e ser utilizado apenas um
a ocorrência de novos casos de idosos com baixo peso, recordatório. Apesar de ser um recurso amplamente
bem como de idosos com desnutrição ou em risco, se- utilizado, o recordatório 24 horas, quando em uma
gundo a MAN. Em contrapartida, apesar de sem sig- única aplicação, pode não ser representativo do con-
nificância estatística, houve aumento, de quase 15%, sumo habitual.
no percentual de idosos com risco elevado para doen-
Esse consumo inadequado de nutrientes pode ter
ças cardiovasculares. Esses dados sugerem a necessida-
consequências para a saúde dos idosos. Witte et al.22
de de promoção de práticas alimentares saudáveis que
testaram o impacto da redução de 30% da ingestão
adéquem o consumo alimentar e que normalizem o
calórica sobre a memória e a capacidade de aprendi-
estado nutricional desse grupo.
zado de um grupo de 50 idosos saudáveis. Após três
A adequação da ingestão energética foi superior meses verificaram que os idosos submetidos à restri-
àquela encontrada por Tinoco et al.20, em cujo estudo ção calórica apresentaram melhora significativa nos
100% dos idosos e 94,2% das idosas apresentaram testes de memória. Essa melhora estava associada à
consumo abaixo da necessidade calórica estimada. Já redução do peso concomitantemente com a diminui-
no estudo de Müller et al.4, o consumo médio diário ção da concentração plasmática de insulina e de mar-
de calorias apresentou-se inferior (1.440,56 kcal) ao cadores inflamatórios. Vale ressaltar que esse estudo
encontrado. foi realizado com idosos com peso normal ou sobre-
peso e que tal restrição calórica pode acarretar efeitos
Já no estudo de Müller et al.4, resultado semelhante
adversos em idosos com baixo peso, pois reservas adi-
foi encontrado para a quantidade ingerida de colesterol,
posa e muscular são fundamentais para enfrentar as
sendo a média de 156 mg/dia (15,40 a 523,06 mg).
consequências fisiológicas e patológicas decorrentes
Quanto à ingestão de ferro e zinco, resultado se- do envelhecimento.
melhante foi encontrado por Rodríguez et al.8, que
Por outro lado, têm-se as consequências negativas
verificaram que 98% dos idosos institucionalizados
desse consumo inadequado de nutrientes. Segundo
e 89% das idosas apresentavam ingestão de ferro su-
investigações epidemiológicas, o padrão alimentar
perior ao recomendado. Já para a ingestão de zinco,
dos brasileiros tem se caracterizado por ingestão bai-
100% dos idosos e 98,5% das idosas apresentavam
xa de carboidratos complexos e fibras, além do alto
consumo abaixo da recomendação.
consumo de lipídeos totais, ácidos graxos saturados e
O estudo de Lopes et al.9 mostrou que a ingestão colesterol. Esse quadro também pode ser um poten-
de ferro foi insuficiente em 98,8% dos idosos amos- cial de risco para doenças cardiovasculares, diabetes
trados. Já no estudo realizado por Tinoco et al.20, melito, neoplasias e obesidade23.
somente 11% apresentaram consumo inadequado de
Além disso, ressalta-se que, apesar de o consumo
ferro.
de proteínas apresentar-se adequado, foi insuficiente
O estudo de Cardoso7, realizado com idosos insti- a ingestão de lipídeos, ácidos graxos monoinsaturado
tucionalizados em Minas Gerais, mostrou que 100% e poli-insaturado, zinco, potássio, niacina e vitamina
apresentavam consumo inadequado de niacina. Re- B12, sugerindo a predominância do consumo de pro-
sultado superior foi encontrado para adequação de teínas de origem vegetal.
ingestão de niacina tanto para os homens (49,8%)
Corroborando esses achados, tem-se a descrição do
quanto para as mulheres (62,5%), considerando am-
per capita de carnes e derivados adotado na ILPI. Das
bas as instituições.
16 observações dos per capita de carne, em 13 os valo-
O estudo de Pereda et al.21, realizado nas cidades res eram inferiores ao previsto. O percentual de redu-
de Hermosillo, México, com objetivo de avaliar os ní- ção do per capita variou de 2,8% a 78,6%, e em alguns
veis séricos da vitamina B12 em idosos não institucio- dias esse percentual alcançou a média de 70%24.
nalizados, revelou deficiência na ingestão da vitamina
A proteína é essencial para a produção apropriada
B12, semelhante a este estudo.
de hemoglobina e hemácias. A anemia que resulta da
Lopes et al.9 encontraram ingestão insuficiente de ingestão inadequada de ferro, proteína, vitaminas B6
vitamina B6 em 94% dos idosos, enquanto no estu- e B12, ácido fólico e vitamina C pode estar associada
do de Tinoco et al.20 83% dos idosos apresentaram com o aumento da mortalidade e risco de morbidade,
consumo insuficiente. Esses resultados diferiram dos reduzindo a qualidade de vida dos indivíduos25.
19
Evolução antropométrica de idosos

No que se refere ao estado nutricional, na linha de era de 28 kg/m². E na faixa de 70-79 anos os valo-
base, as prevalências dos distúrbios nutricionais, se- res apresentaram-se semelhantes aos da outra faixa,
gundo o IMC, apresentaram-se semelhantes às apon- com diferença apenas no IMC inicial, que foi de
tadas por Santos et al.26, em que aproximadamente 27,6 kg/m².
46% apresentavam sobrepeso, e por Tinoco et al.27, Ribeiro et al.28 também observaram essa estabili-
em que aproximadamente 42% apresentavam sobre- zação do IMC no estudo de delineamento longitu-
peso e 15,1% baixo peso. dinal envolvendo idosos frequentadores do Programa
A obesidade é considerada uma doença crônica e Unoesc para Melhor Idade. Os autores não observa-
inter-relacionada com outras situações patológicas con- ram diferença estatisticamente significativa no IMC
tribuintes para a morbimortalidade por diabetes melito, de ambos os sexos durante os quatro anos de estudo.
hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias, doenças Em 2005, a média do IMC foi de 28,2 kg/m² nos
cardiovasculares e neoplasias. O componente da gor- idosos e de 27,5 kg/m² nas idosas. Após um ano, esse
dura abdominal, bastante elevado neste estudo, está índice passou para 28,7 kg/m² nos homens e 28,3
fortemente correlacionado a esses fatores de risco1,28. kg/m² nas mulheres. No último ano da pesquisa, es-
ses valores chegaram a 30 kg/m² e 27,7 kg/m² entre
Por outro lado, este estudo revelou resultados se- idosos e idosas, respectivamente. No entanto, a média
melhantes de prevalência de desnutrição aos encon- desse índice apresentou-se superior à revelada pelo
trados por Pereira5, de 8,3% e de risco (55,6%), e no presente estudo.
estudo de Emed et al.6, em que 6% se apresentavam
desnutridos e 61%, com risco de desnutrição. Quanto à razão cintura/quadril, o estudo de Ri-
beiro et al.28 observou diferença no grupo de idosas,
Na coorte, os idosos em risco de desnutrição apre- entre os valores dos anos de 2005 (RCQ = 0,92 cm)
sentaram tanto melhora quanto piora do estado nu- e 2006 (RCQ = 0,95 cm). Já entre os idosos não foi
tricional, uma vez que o percentual de desnutridos e observada diferença estatística. Em ambos os sexos,
eutróficos aumentou em detrimento da redução do os valores da RCQ apresentaram-se superiores aos en-
grupo de risco. Além disso, apesar de não significati- contrados neste estudo. A diferença encontrada entre
vo, o aumento de quase 15% na ocorrência de risco os estudos pode ser justificada pelo fato de o estudo de
para doenças cardiovasculares é relevante, em virtude Ribeiro et al.28 realizar atividades de recreação, dança
do curto período entre as avaliações. e musculação, o que pode contribuir para manuten-
ção das variáveis da composição corporal, e o presente
Na análise da evolução nutricional, verificou-se estudo ser realizado com idosos institucionalizados.
que, dos seis novos casos de risco de desnutrição, qua-
tro eram em idosos eutróficos e dois eram desnutridos Nesse mesmo estudo de Matsudo et al.30, quan-
que passaram a apresentar risco de desnutrição. Já nos do considerado o grupo de 60-69 anos, os valores da
novos casos de desnutridos, observou-se que todos circunferência da cintura permaneceram em torno de
estavam em risco de desnutrição, apresentando piora 85 cm nas três avaliações e, no grupo de 70-79 anos,
do quadro nutricional. as médias variaram entre 84 e 87 cm, apresentando o
valor máximo de variação percentual de 3%, mas sem
O estudo de Otero et al.29, que objetivou conhecer significância estatística. Quanto à razão cintura/qua-
a prevalência dos distúrbios nutricionais como causa dril, foi verificado aumento significativo de 0,85 para
de morte na população idosa, mostrou que na região 0,90 nos dois grupos, nas avaliações de 6 e 12 meses,
Sudeste, entre 1980 e 1997, ocorreram 23.968 óbitos diferente do presente estudo. Segundo os autores, esse
por desnutrição em idosos, correspondendo a 64,9% aumento na RCQ pode ser explicado pelo acúmulo
de óbitos no Brasil. Observou-se, também, uma apa- de gordura corporal no tronco e pela circunferência
rente tendência de aumento da mortalidade por des- do quadril ser influenciada somente pelo depósito de
nutrição proteico-calórica nas regiões metropolitanas gordura subcutânea.
do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.
Diante dos resultados, observa-se a necessidade
O estudo de Matsudo et al.30, em que o objetivo de promoção de práticas alimentares saudáveis obje-
era comparar a evolução do perfil antropométrico de tivando obter a adequação do consumo de nutrientes
mulheres ativas, no período de um ano, mostrou que entre os idosos da ILPI e consequentemente do esta-
o IMC não apresentou nenhuma alteração significati- do nutricional. Além disso, o aumento do consumo
va, como este estudo. Na faixa etária de 60-69 anos, o de carnes pode contribuir para um melhor balanço
IMC na linha de base era, em média, de 27,8 kg/m²; energético-proteico, bem como promover maior bio-
após 6 meses passou para 27,7 kg/m² e após 12 meses disponibilidade dos nutrientes.
20 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):13-20

Vale ressaltar o insuficiente número de estudos 13. Osterkamp LK. Current perspective on assessment of human
com idosos institucionalizados, sobretudo com deli- body proportions of relevance to amputees. J Am Diet Assoc.
1995;95(2):215-8.
neamento de coorte. Sugere-se a realização de mais es-
14. Heymsfield SB, Mcmanus C, Smith J, et al. Anthropometric me-
tudos visando à comparação com outras instituições, asurement of muscle mass: revised equations for calculating bo-
de forma a subsidiar políticas específicas de saúde e nefree arm muscle area. Am J Clin Nutr. 1982;36:680-90.
nutrição desse grupo. 15. Lipschitz DA. Screening for nutritional status in the elderly. Prim
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ARTIGO ORIGINAL

Caracterização dos distúrbios


miofuncionais orofaciais de
idosos institucionalizados
Characterization of orofacial myofunctional
disorders among institutionalized seniors

Maria Adélia da Silva Rocha1, Maria Luiza Lopes Timóteo de Lima2

Recebido em 19/1/10 RESUMO


Aceito em 20/4/10
Objetivo: Identificar as características dos distúrbios miofuncionais orofaciais em idosos institucionalizados. Mé-
todos: A amostra foi constituída por 7 indivíduos do sexo feminino e 6 do sexo masculino, com idades entre 60
e 74 anos, abrigados na Casa de Longa Permanência Ieda Lucena, na cidade de Recife, Pernambuco, no período
de setembro a novembro de 2009. Foi aplicado o Protocolo de Avaliação Miofuncional Orofacial. Também foram
realizadas a avaliação das estruturas orofaciais, por meio da observação, palpação e movimentos dos órgãos
fonoarticulatórios; observação do processo de mastigação e deglutição e avaliação global da fala. Resultados:
Foram constatadas alterações estruturais quanto a postura, tonicidade e mobilidade dos órgãos fonoarticulatórios
e desempenho das funções estomatognáticas, interferindo na comunicação oral e na alimentação dos idosos.
Observou-se um número significativo de idosos desdentados (8 pessoas), condição que afeta a mastigação, ali-
mentação, comunicação e interação social, com impacto negativo na qualidade de vida do idoso. Conclusão: As
alterações no sistema estomatognático são frequentes no idoso e podem trazer consequências que interferem na
melhoria das condições de vida desses indivíduos, especialmente nos idosos institucionalizados, que se apresen-
tam fragilizados, por aspectos de ordem psicológica (solidão provocada pelo isolamento social, falta do convívio
familiar) e precariedade econômica. Diante dessa realidade, conclui-se que a atuação fonoaudiológica configura-se
como instrumento fundamental no diagnóstico e atendimento dessa clientela.
Palavras-chave: Idosos, sistema sensório-motor oral, fonoaudiologia.

ABSTRACT
Objective: To identify the characteristics of orofacial myofunctional in institutionalized elderly. Methods: The
sample comprised 7 females and 6 males aged between 60 and 74 years housed in the Casa de Longa Permanência
Ieda Lucena, Recife, Pernambuco, in the period September-November 2009. We applied the Assessment Protocol
Myofunctional; was also assessed the orofacial structures, through observation, palpation and movements of the
articulators; observing the process of chewing and swallowing and overall assessment of speech. Results: We
found structural alterations as posture, tone and mobility of the articulators and the performance of stomatognathic
functions in oral communication and feeding the elderly. There was a significant number of elderly edentulous (8
people), a condition that affects chewing, food, communication and social interaction with a negative impact on
quality of life of the elderly. Conclusion: The changes in the stomatognathic system are common in the elderly,
and can bring consequences that affect the improvement of living conditions of these individuals, especially in the
institutionalized elderly, who have weakened, by sectors of psychological (loneliness caused by social isolation,
lack of family life) and economic precariousness. Given this reality, it is concluded that audiologic performance
1
Faculdade Redentor, configures itself as an essential tool in the diagnosis and care for these clients.
Recife, PE.
Keywords: Elderly, oral sensorimotor, speech therapy.
2
Universidade Católica
de Pernambuco Endereço para correspondência: Maria Adélia da Silva Rocha • Av. Visconde de Jequitinhonha, 316, ap. 1302, edifício
(Unicap). Chateau Lyon, Boa Viagem – 51021-190 – Recife, PE • Tel.: (81) 3325-1213 • E-mail: adeliarocha@yahoo.com.br
22 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):21-6

INTRODUÇÃO podem acarretar isolamento social, e a dificuldade de


controlar a saliva, durante a fala, pode gerar situações
O envelhecimento das populações constitui, atual- de constrangimento5.
mente, um fenômeno mundial. O Brasil, como os A incapacidade de dominar uma função pode
demais países latino-americanos, está passando por ser frustrante e desencadear um sentimento de de-
um rápido e intenso processo de crescimento da po- pendência e invalidez, o que é suficiente para criar
pulação de idosos1. estereó­tipos negativos para o idoso6.
O crescimento da expectativa de vida da popu- Durante o processo de envelhecimento, a desmo-
lação, em consequência do grande avanço da ciên- tivação para as interações sociais pode gerar sentimen-
cia nas últimas décadas, e a urbanização em massa, tos de solidão e depressão, que conduzem à demência
acompanhada de ações médico-sanitárias, maior aces- ou a outros quadros patológicos7.
so aos serviços de saúde e, concomitantemente, aos
declínios dos índices de mortalidade e fecundidade, As alterações da comunicação vão ocorrendo com
permitem que se abandone, no Brasil, o bordão de frequência, algumas originadas por problemas espe-
“país dos jovens”. Para 2025, a projeção é de que o cíficos nas estruturas orais, decorrentes de mudanças
Brasil ocupe o sexto lugar entre os países com maior anatômicas ou funcionais, e afetando diretamente a
número de idosos2. fala do idoso e outras funções, como mastigação e de-
glutição8.
Envelhecer é um processo natural, que caracteriza
uma etapa na vida do homem, e dá-se por mudanças Os idosos normais apresentam discreta disfunção
físicas, psicológicas e sociais. Constitui um processo motora progressiva, por alteração da funcionalidade
progressivo e degenerativo, universal nas espécies, por dos órgãos fonoarticulatórios, que interfere na preci-
ser comum a todos os seres vivos em idade avançada, são da fala e acarreta dificuldades articulatórias, asso-
inexorável, lento e multidimensional, ocorrendo para ciadas a alterações de linguagem9.
diversos indivíduos com realidades biopsicossociais O paciente geriátrico necessita da atenção de vá-
particulares3. rias especialidades da saúde, entre elas a fonoaudio-
Uma parcela dos idosos, que tende a ser crescen- logia. A atuação fonoaudiológica em relação a esse
te, reside em instituições de longa permanência. Essa paciente compreende vários aspectos: transtornos de
população apresenta-se fragilizada, tanto do ponto de fala, audição, voz, alterações da memória e do pro-
vista econômico quanto emocional, em decorrência cesso de alimentação. Esse processo merece atenção
do isolamento, pela falta de convívio familiar e pela especial, visto que está diretamente relacionado com
ociosidade inerente à prática Institucional. Essa rea- a nutrição e a qualidade de vida do idoso10.
lidade inviabiliza o processo de comunicação, funda- A população de idosos tem alto risco para a disfa-
mental para o ser humano. gia, em consequência do envelhecimento no mecanis-
A institucionalização de idosos continua sendo mo de deglutição; apesar de os efeitos isoladamente
uma questão delicada, visto que sua aceitação como não causarem a disfagia, deixam o mecanismo da de-
alternativa de suporte social ainda não é consensual, glutição mais vulneráveis a distúrbios causados por
embora seja indiscutível o aumento da demanda por alterações de saúde11.
esse serviço. Dessa forma, é necessário traçar o perfil Disfagia pode ser entendida como um distúrbio que
do idoso, diferenciando os que vivenciam um enve- dificulta ou impossibilita a ingestão segura, eficiente e
lhecimento bem-sucedido daqueles que demandam confortável de alimento de qualquer consistência e/ou
atenção profissional especializada e, considerando a saliva, podendo ocasionar complicações como desnu-
variedade e especificidades dessa clientela, programar trição, desidratação, emagrecimento e outras mais gra-
uma forma de suporte adequado4. ves, como a pneumonia aspirativa e a morte12.
Com o envelhecimento, ocorrem mudanças em Justifica-se, assim, o interesse em realizar pesquisa
todo o organismo, e o mesmo acontece nas estru- que objetiva caracterizar os distúrbios miofuncionais
turas que compõem o sistema sensório-motor e nas de idosos abrigados em instituição de longa perma-
funções estomatognáticas. As estruturas orais adqui- nência, por entender que, com o crescente aumento
rem características morfológicas e funcionais diferen- da população idosa, torna-se imperiosa a necessidade
tes das dos indivíduos mais jovens. As modificações de formação de profissionais cada vez mais capacita-
miofuncionais apresentadas durante a alimentação dos no que diz respeito aos efeitos do envelhecimento
Distúrbios orofaciais no idosos 23

nas estruturas miofuncionais e funções estomatog- so mantivesse, por um espaço de tempo, um pouco
náticas. Somente por meio de formação profissional de água na boca.
altamente especializada, estará o fonoaudiólogo capa-
As funções de mastigação e deglutição foram ava-
citado para oferecer ao idoso nessas condições atendi-
liadas utilizando os alimentos sólidos preferidos pe-
mento adequado e eficaz.
los idosos, como pão francês ou bolacha, e alimento
pastoso, como iogurte. Foi solicitado que o paciente
MÉTODO mastigasse e deglutisse conforme sua forma habi­
tual. Observou-se durante o processo de mastigação
Estudo do tipo descritivo, observacional e transversal, e deglutição a aparência dos lábios, se permaneciam
realizado na Casa de Longa Permanência Ieda Luce- abertos ou fechados, se o alimento era triturado com
na, na cidade do Recife, Pernambuco, no período de os dentes ou amolecido com a língua contra o palato
setembro a novembro de 2009. A referida instituição duro, se os movimentos mastigatórios eram lentos ou
é de caráter público, abrigando idosos carentes. Foi rápidos, a contração adequada ou não do masseter e
estudada uma amostra de conveniência, composta temporal, a projeção da língua, a participação da mus-
por 13 residentes, sendo 7 do sexo feminino e 6 do culatura perioral, a presença de tosse ou engasgos.
sexo masculino, com idades entre 60 e 74 anos. Durante conversa espontânea e dirigida, proce-
Os critérios de inclusão foram: idade mínima de deu-se à avaliação global da fala, sendo observado se
60 e máxima de 80 anos, idosos de ambos os sexos, o padrão estava normal ou alterado, ou seja, se estava
com capacidade de compreensão e condições para interferindo na compreensão do ouvinte, na inteligi-
responder ao solicitado e com independência alimen- bilidade da comunicação.
tar, visto que o domínio dessa habilidade favorece a De acordo com os princípios éticos e legais, os
efetividade da avaliação fonoaudiológica. idosos incluídos na pesquisa assinaram um Termo de
Os critérios de exclusão foram: presença de alte- Consentimento Livre e Esclarecido, após receberem
rações dos níveis de consciência e comprometimento todas as explicações sobre o método, meios de admi-
cognitivo, considerando que dificuldades dessa nature- nistração, risco, benefícios e a liberdade de escolha
za inviabilizam a qualidade das respostas no momento para participar ou não do estudo. Antes de sua reali-
da avaliação. Nesse sentido, foi solicitada aos funcio- zação a pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê
nários a indicação dos idosos que apresentavam condi- de Ética em Pesquisa do Hospital Agamenon Maga-
ções mínimas favoráveis para participar do estudo. lhães, conforme preceitua a Resolução nº 196/96, do
Ministério da Saúde.
A coleta de dados foi realizada no local onde os
idosos residem, mediante atendimento individualiza-
do e aplicação do Protocolo de Avaliação Miofuncio- RESULTADOS
nal Orofacial, previamente elaborado e adaptado de
outra avaliação já realizada na prática fonoaudioló- Participaram do estudo 13 idosos, na faixa etária de
gica, intitulada Triagem Fonoaudiológica do Sistema 61 a 74 anos, de ambos os sexos, sendo 7 do sexo
Sensório-motor Oral de Idosas Institucionalizadas. feminino e 6 do sexo masculino; apresentavam baixo
Foram avaliadas as estruturas orofaciais por meio nível de escolaridade, com predominância para a con-
da observação, palpação e movimentação dos órgãos dição de não alfabetizado, representada por 9 idosos,
fonoarticulatórios a partir de ordens verbais ou por e 4 com Ensino Fundamental incompleto.
imitação do examinador. Nesse contexto, foram veri- Observando os lábios, verificou-se que 92% dos
ficados o aspecto, a postura, a mobilidade e a tonici- idosos apresentam lábios ocluídos, portanto, com
dade, considerando-se como inadequada a alteração postura normal, e 8% com alguma alteração. No que
postural, morfológica e ou funcional diferenciada da- se refere à tonicidade, em 62% da amostra os lábios
quela considerada normal. têm aparência volumosa e em 38%, normal. Quanto
Procedeu-se à avaliação da articulação temporo- à mobilidade, 31% conseguem realizar os movimen-
mandibular e da arcada dentária, verificando a presen- tos adequadamente, enquanto 69% apresentam difi-
ça de dentes naturais, o estado de conservação, prótese culdade ou não conseguem (Tabela 1).
bem ou mal adaptada e ausência total dos dentes. Pode-se observar que 38% possuem bochechas
Para identificação do tipo respiratório, verificou-se com aspecto normal e 62%, alterado. O tônus foi
a respiração nasal ou oral, sendo solicitado que o ido- considerado alterado em 85% dos indivíduos, uma
24 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):21-6

vez que apresentaram massa muscular flácida, e 15% Tabela 2. Condições da arcada dentária, função da
estavam no padrão de normalidade. Para 23% dos articulação temporomandibular e funções estoma­
pesquisados a mobilidade encontra-se normal e em tognáticas de idosos residentes em instituição de longa
77%, com aspecto alterado (Tabela 1). permanência
Avaliando a estrutura da língua, verifica-se que n %
46% apresentam postura normal e 54% alterada, a Arcada dentária
tonicidade estava normal em 38% da amostra e 62%
Dentes naturais 4 31,0
dos idosos apresentam alteração. Na realização dos
movimentos, 15% conseguem atender aos comandos Edêntulo 8 61,0
verbais ou à pista visual adequadamente, enquanto Prótese mal adaptada 1 8,0
85% apresentam alguma dificuldade ou não conse- Articulação temporomandibular
guem realizar os movimentos, portanto, apresentam Normal 11 85,0
mobilidade alterada (Tabela 1).
Alterada 2 15,0
Respiração
Tabela 1. As alterações na postura, tonicidade e Oral 0 0
mobilidade dos lábios, bochechas e língua de idosos Nasal 13 100,0
residentes em instituição de longa permanência
Mastigação
Avaliação Tritura os alimentos com os dentes 5 38,0
Estruturas Alterada Normal Amolece os alimentos 8 62,0
n % n % Movimentos lentos 11 85,0
Lábios
Lábios abertos 2 15,0
Postura 1 8,0 12 92,0
Contração inadequada do masseter 3 23,0
Tonicidade 8 62,0 5 38,0
Deglutição
Mobilidade 9 69,0 4 31,0
Normal 8 62,0
Bochechas
Alterada 5 38,0
Postura 8 62,0 5 38,0
Fala
Tonicidade 11 85,0 2 15,0
Normal 7 54,0
Mobilidade 77,0 23,0
Alterada 6 46,0
Língua
Postura 7 54,0 6 46,0
Tonicidade 8 62,0 5 38,0
Mobilidade 11 85,0 2 15,0
Os resultados obtidos nos exames de mastigação
demonstram que 38% da amostra trituram os ali-
mentos com os dentes, enquanto 62% amolecem o
A situação da articulação temporomandibular está alimento com a língua contra o palato, 85% apresen-
registrada na tabela 2. Verifica-se que 85% dos idosos tam movimentos mastigatórios lentos, 15%, rápidos;
apresentam padrão de normalidade e 15% referem os lábios permanecem fechados durante a mastigação
queixa de dor, desconforto e ou dificuldade para rea- em 85% dos casos e 15%, com os lábios abertos; 77%
lizar movimentos mastigatórios. demonstram contração adequada do masseter e 23%,
contração inadequada.
Em relação aos exames da arcada dentária, 31%
dos idosos possuem dentes naturais, no entanto Sobre a condição da deglutição dos idosos pesqui-
100% dos dentes encontram-se em péssimo estado sados, observa-se que 62% demonstram padrão nor-
de conservação, 61% são edêntulos e 8% possuem mal e 38%, alguma alteração.
prótese dentária mal adaptada (Tabela 2). Quanto à fala, em 54% dos idosos ela é compreen­
No que concerne à avaliação das funções estoma- sível, podendo ser considerada normal, enquanto
tognáticas (Tabela 2), 100% dos idosos mantêm res- 46% apresentam algum tipo de dificuldade, compro-
piração nasal. metendo a comunicação.
Distúrbios orofaciais no idosos 25

DISCUSSÃO A preparação do bolo alimentar na boca é impor-


tante no idoso, porque, com a idade, ocorre uma di-
O envelhecimento populacional impõe a necessidade minuição natural na secreção dos sucos gástricos.
de adequação do conhecimento e aperfeiçoamento Verificou-se nos idosos pesquisados a impossi-
dos profissionais da saúde, para melhor atender à po- bilidade de triturar os alimentos durante a mastiga-
pulação idosa. Com o envelhecimento, ocorrem mu- ção, tornando-se visível a prática do amassamento
danças em todo o organismo. O mesmo acontece nas do alimento, o que pode ser esclarecido pela falta de
estruturas que compõem o sistema sensório-motor participação dos pressoceptores periodontais (botões
oral e nas funções estomatognáticas. terminais), ficando como elementos de controle os
No estudo, constatou-se a ocorrência de alterações receptores do tato e pressão da mucosa, neste caso, da
nas estruturas orofaciais, o que é compatível com a língua contra o palato duro17.
literatura científica. Observa-se uma relação signifi- Os idosos relataram a presença de restos alimen-
cativa entre as alterações da tonicidade e mobilidade tares na boca, fato constatado durante o exame, in-
dos órgãos fonoarticulatórios, podendo ser justifica- dicando que a mastigação inadequada favorece a
da pela diminuição da massa e força muscular, assim presença de restos alimentares após a deglutição. Na
como do controle dos movimentos, situação muito mastigação, observam-se movimentos lentos em 85%
característica do processo natural de envelhecimento. dos idosos, o que é considerado natural ao envelhe-
Marchesan11 observou que indivíduos com idade cer, por causa de fatores como hipofuncionalidade
superior a 50 anos começam a apresentar problemas dos órgãos fonoarticulatórios, uso de próteses mal
ligados à inadequação do tônus e da mobilidade dos adaptadas, mudanças de hábitos alimentares, entre
órgãos fonoarticulatórios, e o tônus muito alterado outros12.
pode levar a uma movimentação inadequada e, em Verificou-se, de maneira geral, que os idosos pes-
consequência, apresentar alteração na fala e na ali- quisados não necessitavam de ajuda para alimentar-se,
mentação. exageravam na quantidade de alimentos colocados na
Ainda que sejam descritas na literatura altera- boca e que o cardápio oferecido não era compatível
ções com relação à articulação temporomandibular com a condição dentária da amostra, ou seja, os ali-
(ATM), este estudo mostrou que a grande maioria dos mentos eram oferecidos com consistência sólida, em
idosos não refere problemas de ATM, como presença grandes pedaços, comprometendo potencialmente a
de dor, estalo, nem diminuição da amplitude vertical eficiência mastigatória.
na realização dos movimentos mandibulares13. Os idosos referiram não ter problemas durante
A condição dentária da amostra apresentou-se se- a deglutição nem sintomas como tosse, engasgos,
veramente prejudicada. Naqueles que possuem den- dados observados durante a realização dos exames,
tes naturais, estes se encontram em péssimo estado de sendo esse resultado convergente com os estudos de
conservação. A ausência de dentes em 62% da amos- Bilton18, que pesquisou a deglutição do idoso pelo
tra constitui um dado bastante significativo, visto que videoglutoesofagograma e revelou que os indivíduos
a falta de dentes influencia no processo de mastigação, acima da faixa etária dos 60 anos apresentavam alte-
digestão, comunicação e interação social, gerando im- rações, mas que estas estavam compensadas e também
pacto negativo na qualidade de vida do idoso. não apresentam queixas18.
Douglas14 constatou que a redução da força mas- Os problemas mais importantes que acontecem
tigatória é observada com frequência em usuários de no processo de deglutição decorrem de ações motoras
prótese ou idosos com ausência de dentes. mais lentas ou descoordenadas12.
Atualmente, sabe-se que o edentulismo não é con- Existe uma preocupação com respeito à presença
sequência natural do envelhecimento e que os dentes da disfagia, por causa das suas consequências na vida
naturais, quando bem tratados, podem permanecer do idoso, quais sejam, deficiência nutricional, desi-
em funcionamento por toda a vida15. dratação, risco de aspiração, levando à pneumonia de
repetição, perda do prazer de alimentar-se, depressão,
A perda da dentição natural, associada à perda
ansiedade e isolamento social18.
mastigatória da mordida, afeta a preparação do bolo
alimentar e pode levar à fadiga prematura durante a Com referência à fala, verificou-se que as caracte-
alimentação16. rísticas de adaptação dos lábios e da língua poderiam
26 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):21-6

facilitar a produção de fala compreensível, permitindo por parte dos profissionais que cuidam dos idosos, o
a comunicação do idoso com outras pessoas. Confor- que evidencia a necessidade de assistência especializa-
me Ska e Goulet19, algumas habilidades da linguagem da a esse segmento populacional.
parecem se manter intactas até a idade avançada,
como reconhecimento do vocabulário, produção oral
automática, compreensão de sentenças contextualiza- REFERÊNCIAS
das, e as perdas tornam-se evidentes na compreensão
1. Carvalho JAM, Garcia RA. O envelhecimento da popula-
do material linguístico complexo, produção de sinta- ção brasileira: um enfoque demográfico. Cad Saude Publica.
xe complexa e vocabulário ativo ou nomeação. 2003;19(3):725-33.
As atividades praticadas na instituição que favo- 2. Suzuki HS. Conhecimentos essenciais para atender o paciente
idoso. São José dos Campos: Pulso; 2003.
recem a comunicação ocorrem por meio da participa-
ção dos idosos em festas externas e internas, passeios 3. Duarte VG, Giacheti CM. Programa de atuação fonoaudiológica
junto a idoso institucionalizado. In: Lagrotta MGM, Cesar CPHAR.
e atividades recreativas em grupos, como a prática de A fonoaudiologia nas Instituições. São Paulo: Lovise; 1997. p. 17-27.
jogos e utilização de música. 4. Siqueira MEC, Moi RC. Estimulando a memória em instituições
de longa permanência. In: Von Sinson ORM, Neri AL, Cachioni M,
org. As múltiplas faces da velhice no Brasil. São Paulo: Alínea;
CONCLUSÃO 2003. p. 65-87.
5. Menezes LN, Vicente LCC. Envelhecimento vocal em idosos insti-
As alterações estruturais e funcionais encontradas nos tucionalizados. R Cefac. 2007;9(1):90-8.
idosos fazem parte do processo de envelhecimento 6. Robbins J, Hamilton JW, Lof GL, Kempster GB. Oropharyngeal
swallowing in normal adults of different ages. Gastroenterology.
normal e repercutem diretamente na comunicação do 1992;103(3):823-9.
indivíduo, porém a população pesquisada apresenta
7. Ng SH. Social psychology in ageing world ageism and intergene-
características de adaptação dos lábios e língua, como rational relations. Asian J Soc Psychol. 1998;1:99-116.
forma de produzir uma fala compreensível, que per- 8. Russo ICP. Intervenção fonoaudiológica na terceira idade. Rio de
mita a comunicação com as outras pessoas. Janeiro: Revinter; 1999.
Outro aspecto relevante diz respeito aos padrões 9. Rolim D. Alterações na fala em idosos sadios. In: Anais do IV
Congresso Internacional. São Paulo; 1994.
motores de alimentação, que se manifestam de for-
ma peculiar e diferenciada, de acordo com as carac- 10. Campostrini EP, Zenúbio EG. Avaliação multidisciplinar do pacien-
te geriátrico. Rio de Janeiro: Revinter; 2002. p. 179-87.
terísticas individuais, sendo agravados pela ausência
11. Marchesan IQ. Alterações da motricidade oral nos idosos. São
de dentes, que influencia no processo mastigatório, Paulo: Revinter; 2000.
digestão, comunicação e interação social, gerando
12. Furkim AM, Santini CS. Disfagias orofaríngeas. 2. ed. São Paulo,
impacto negativo na qualidade de vida do idoso. Barueri: Pró-Fono; 2004.
Há necessidade de melhor assistência odonto- 13. Mota HB, Simon LF, Vieira EP, Basso FP, Ues LM. Triagem fonoau-
lógica e fonoaudiológica clínica e preventiva para diológica do sistema motor oral de idosos institucionalizados. R
Soc Bras Fonoaudiol. 2003;8(1):57-62.
atendimento aos idosos institucionalizados, propor-
14. Douglas CR. Patologia oral: fisiologia normal e patológica aplica-
cionando uma condição satisfatória de saúde bucal, da a odontologia e fonoaudiologia. São Paulo: Pancast; 1998.
o uso de próteses bem adaptadas e a participação em
15. Dunkerson JA, A odontologia na terceira idade. [online] 1997;
terapia miofuncional, como forma de promover a p. 1-11. Disponível em: www.odontologia.com.br/artigos/geria-
melhoria do processo mastigatório e o bem-estar do tria.html>.
idoso, que dessa forma estará bem mais assistido nas 16. Groher ME. Distúrbios de deglutição em idosos. In: Furkim AM,
suas necessidades básicas de saúde. Santini CS. Disfagias orofaríngeas. Carapicuíba: Pró-Fono; SP:
1999.
A prevenção constitui um fator primordial nas ati- 17. Janeiro E. Nutrição e envelhecimento. Atual Geriat. 1998;3:28-30.
vidades de saúde, devendo ser efetivada por mais de
18. Bilton LT. Estudo da deglutição do adulto pelo videoglutoesofa-
uma ação conjunta e interdisciplinar. A observação gograma [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São
cuidadosa, ao longo da pesquisa, evidenciou a falta de Paulo/Unifesp Emp.; 1999.
conhecimentos sobre a atuação fonoaudiológica nas 19. Ska BE, Goulet P. Trouble de la denomination lors dei vieillisse-
alterações das funções do sistema estomatognático ment normal Tapus-cripts CHCN Working Paper. Montreal; 1989.
ARTIGO ORIGINAL

Perfil nutricional de idosos


assistidos em instituição de longa
permanência na cidade de Natal, RN
Nutritional profile of elderly residents of a
long-term care facility in Natal city, RN

Ana Keila Queiroz da Silva1, Selma Correia Gusmão1, Kezianne Roseno de Castro2,
Renata Alexandra Neves Moreira2, Ana Heloneida de Araújo Morais2

Recebido em 18/3/10 RESUMO


Aceito em 24/5/10
Objetivos: Traçar o perfil nutricional dos idosos de ambos os sexos residentes numa Instituição de Longa Perma-
nência (ILP) na cidade de Natal, RN, o Instituto Juvino Barreto. Métodos: Utilizou-se a Mini-Avaliação Nutricional
(MAN) associada a dados antropométricos, como peso e estatura, para a obtenção do índice de massa corpórea e
avaliação do estado nutricional. A análise da composição nutricional das refeições oferecidas aos idosos foi feita
de acordo com as Dietary Reference Intakes – DRIs (2002) para energia, macro e micronutrientes. Resultados:
Diante da análise dos resultados, foi revelada uma grande prevalência de risco de desnutrição e desnutrição decla-
rada entre os idosos, atingindo 32% por meio da MAN e 53% por Lipschitz. Sabe-se que a necessidade de energia
diminui no envelhecimento e que a necessidade de proteínas, vitaminas e minerais permanece a mesma ou aumen-
ta. Nesse contexto, o estudo detectou um fato preocupante, tendo em vista as inadequações apresentadas, tanto
de macro quanto de micronutrientes, reveladas pelas análises dos cardápios oferecidos aos idosos pela instituição.
Conclusões: Mostra-se evidente a necessidade de um cuidado nutricional especializado com o idoso assistido,
buscando, dessa forma, atender às demandas nutricionais, fisiológicas e funcionais que a idade impõe.
Palavras-chave: Avaliação nutricional, necessidades nutricionais, plano alimentar.

ABSTRACT
Objectives: This study aims to trace the elderly nutritional profile in both genders for those subjects living in Juvino
Barreto Institute, institution for long-term care. Methods: It was used the Mini-Nutritional Assessment (MAN) and
anthropometric datas such as weight and height, to obtain the body mass index (BMI) and evaluation analysis of
the nutritional composition of nutrients in the meals offered to the elderly in accordance with the Dietary Refe-
rence Intakes − DRIs (2002) for energy, macro and micronutrients. Results: The results showed a high incidence
of malnutrition and risk of malnutrition among the elderly, 32% by MAM and 53% by Lipschitz. It is known that
the need of energy decreases and the need of protein, vitamins and minerals remain the same or even increase
as the human body gets old. In this way, this study revealed a worrying fact concerning the mismatches presented
in both: in macro and in micronutrients, shown by analysis of the menus offered by the institution for the elderly.
Conclusions: There is a need for nutritional care of aged people, in order to meet the nutritional, physiological and
functional demands that the old age requires.
Keywords: Nutritional status assessment, necessity of nutrition, feeding plan.
1
Curso de Nutrição,
Universidade
Potiguar (UnP).
2
Departamento de
Nutrição, Universidade
Federal do Rio Grande Endereço para correspondência: Ana Heloneida de Araújo Morais • Av. Gal. Gustavo Cordeiro de Farias, s/n − Departamento de Nutrição/
do Norte (UFRN). UFRN − 59010180 − Natal, RN • Tels.: (84) 3215-4322/3215-4330/9407-5497 – Fax: (84) 3215-4323 • E-mail: aharaujomorais@gmail.com
28 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):27-35

INTRODUÇÃO venientes de avaliações antropométricas e dietéticas,


com a finalidade de precisar o diagnóstico nutricional
A população de idosos vem aumentando no Brasil ao da clientela, possibilitando que os cardápios ofereci-
longo dos últimos 50 anos e estima-se que, em 2025, dos sejam direcionados a ela6.
o número de pessoas com mais de 65 anos poderá A Mini-Avaliação Nutricional (MAN) revela-se
ser maior que 30 milhões, o que representará cerca como instrumento de avaliação do estado nutricional
de 14% da população total prevista para o mesmo prático e minimamente invasivo, que abrange as várias
período1. Por esse motivo, existe a necessidade de cui- dimensões necessárias à avaliação do idoso, tais como:
dados específicos direcionados a esse público, entre o estado nutricional e de saúde, a fragilidade fisioló-
os quais a atenção voltada a uma alimentação sau- gica e demais doenças que possam acometê-los7. Foi
dável e equilibrada deve ser levada em consideração, desenvolvida com a finalidade de mensurar o risco de
principalmente por estar relacionada à promoção da desnutrição em idosos, assim como para diagnosticar
qualidade de vida nesse ciclo da vida. aqueles que pudessem estar em risco de desnutrição,
A prevalência de idosos em Instituições de Longa possibilitando intervenções dietoterápicas precoces
Permanência (ILP) chega a 11% nos países em desen- utilizando-se da avaliação antropométrica, dietética e
volvimento e, no Brasil, esse percentual atinge 1,5%, o clínica, bem como autopercepção da saúde e estado
que demonstra a importância dessas instituições como nutricional, sendo, portanto, um instrumento útil
centros de promoção, proteção e reabilitação da saúde quando se pensa em traçar perfis nutricionais espe-
cialmente em idosos8.
de idosos, devendo, portanto, prezar pela satisfação
tanto de familiares quanto dos institucionalizados2. Em vista do exposto, com o intuito de contribuir
para o estudo da nutrição nesse ciclo da vida, o pre-
Há vários fatores que interferem no processo de
sente trabalho tem por objetivo traçar o perfil nutri-
envelhecimento podendo retardá-lo ou acelerá-lo e a
cional dos idosos residentes em uma ILP, o Instituto
participação da alimentação nesse processo é nítida,
Juvino Barreto, localizada na cidade de Natal, RN,
principalmente no que diz respeito aos efeitos imuno- fornecendo subsídios pertinentes à discussão acerca
moduladores, profiláticos e pela atuação benéfica dos da importância de uma alimentação saudável, com-
nutrientes provenientes de uma alimentação saudável pleta, variada e agradável ao paladar para a promoção
nos mecanismos fisiológicos responsáveis pelas principais da saúde, prevenção e controle de doenças crônicas
doenças que afetam os indivíduos nesse ciclo de vida3. não transmissíveis, cuja prevalência em indivíduos
Fatores relacionados a exclusão social, perda de en- idosos mostra-se preocupante.
tes próximos, depressão, abandono e demências, bem
como alterações digestivas que culminam em modifi-
cações no processo de absorção de nutrientes, ou ainda MÉTODOS
problemas bucais, como o edentulismo, são comuns
em idosos e relacionam-se com as alterações do estado Trata-se de um estudo de natureza descritiva, desen-
nutricional observadas nesse período da vida, em razão volvido com 172 participantes, com um plano amos-
de limitarem a ingestão adequada de nutrientes4,5. tral de 120 indivíduos, sendo 78 do sexo feminino e
42 do sexo masculino, por seleção aleatória estratifi-
Mesmo tendo à disposição alimentos em abun- cada em nível de significância de 5% e confiabilidade
dância, tanto em quantidade quanto em qualidade, de 95%, entre aqueles institucionalizados no Institu-
alguns idosos costumam ter hábitos alimentares limi- to Juvino Barreto, em Natal, RN, entre os meses de
tados atribuídos a situações fisiológicas e psicológicas agosto e novembro de 2008.
decorrentes do avanço da idade, o que torna necessá-
A população da pesquisa foi composta de indiví-
ria a elaboração de cardápios balanceados e elaborados
duos com idade acima de 60 anos, participantes do
com o fim de atender aos requerimentos nutricionais
Projeto de Neurociência − Memória e Estratégia In-
específicos dos idosos, em particular, daqueles que re-
terdisciplinar para o estudo do Idoso, desenvolvido
sidem em ILPs3.
pela Universidade Potiguar (UnP), o que possibilitou
A adequação nutricional da alimentação coleti- a realização da pesquisa no local selecionado. O tra-
va é o resultado de levantamentos sobre o perfil dos balho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa
componentes da coletividade, incluindo sexo, peso, da Universidade Potiguar, onde a pesquisa foi realiza-
altura, faixa etária, nível de atividade física e estado da, e cumpriu os princípios éticos contidos na Decla-
de saúde, combinados a informações adicionais pro- ração de Helsinki (protocolo: 019/2008). Além disso,
Perfil nutricional de idosos 29

foram selecionados como participantes aqueles que, cardápios que contemplavam todas as refeições ofe-
após leitura e assinatura do consentimento livre ou recidas diariamente aos idosos institucionalizados
esclarecido, nada tiveram a opor em relação a sua par- durante a semana de coleta de dados, os quais eram
ticipação na pesquisa. ciclados durante o mês.
Os participantes foram identificados por suas ini- A análise nutricional dos cardápios foi realizada a
ciais, idade, sexo, grau de instrução, profissão, sendo partir da construção de um banco de dados, o qual le-
assegurado sigilo absoluto com relação às informa- vou em consideração as quantidades de cada nutrien-
ções coletadas, de acordo com os preceitos éticos. te presente nas fichas técnicas da Instituição, onde
A participação dos indivíduos na pesquisa bem como constavam as quantidades per capita dos nutrientes
o direito de abandoná-la a qualquer momento foram das preparações de cada cardápio sorteado. Os cál-
respeitados, sem prejuízos para o participante. culos da composição dos alimentos foram realizados
Para a triagem dos pacientes em maior risco nutri- utilizando uma regra de três simples por fórmula de-
cional, foi utilizada a MAN. A partir do prontuário senvolvida em planilhas do Microsoft Excel, XP.
e dos relatos dos próprios idosos ou seus cuidadores, O programa foi previamente alimentado com da-
obtiveram-se informações sobre alterações fisiológicas dos de macro e micronutrientes extraídos da Tabela
e/ou neurológicas possivelmente correlacionadas com de Composição de Alimentos: Suporte para Decisão
o estado nutricional ou com alguma carência nutri- Nutricional13 e, no caso da necessidade de inclusão de
cional específica, dados necessários ao preenchimento alimentos inexistentes na referida tabela, foram utiliza-
do formulário da MAN. dos dados da Tabela Brasileira de Composição de Ali-
Para a avaliação antropométrica, foram aferidos es- mentos – TACO14, bem como informações contidas
tatura (cm) e peso atual (kg), com base nos protocolos nos rótulos de alimentos industrializados utilizados na
sugeridos por Duarte9. Para tanto, os idosos usaram confecção de alguma preparação sorteada para análise.
apenas roupas leves e permaneceram descalços duran-
Para a avaliação da ingestão dos macronutrientes,
te os procedimentos. Os participantes foram pesados
foram utilizados os valores de AMDR (Acceptable Ma-
em balança portátil eletrônica da marca Plena®, com
cronutrient Distribution Range − Alcance de Distribui-
capacidade para 150 kg, na qual se posicionaram em
ção de Macronutrientes Aceitável), que estabelecem
pé no centro da balança, com os calcanhares juntos,
faixas de distribuição percentual de energia entre os
braços estendidos ao longo do corpo e com olhar em
macronutrientes ingeridos, as quais se associam com
direção ao plano de Frankfurt, sempre que possível.
A estatura foi aferida utilizando um estadiômetro da o risco reduzido de doenças crônicas enquanto pro-
marca WHS®, com precisão de 0,1 cm, fixado em movem a ingestão de nutrientes essenciais15.
uma parede sem rodapé. Diante da impossibilidade A avaliação da adequação da ingestão de vitami-
de aferir a estatura e/ou o peso, esses índices foram es- nas e dos micronutrientes (vitaminas A, E, C, D, B1,
timados utilizando a equação proposta por Chumlea B2, B6, B12, niacina, ácido fólico, ácido pantotêni-
et al.10 para idosos de acordo com o sexo. co, iodo, zinco, magnésio, manganês, fósforo, cobre e
O índice de massa corporal (IMC) foi classificado selênio) e de energia foi feita a partir das EAR’s (Esti-
conforme a proposta de Lipschitz11, que estabelece pon- mated Average Requirement − Necessidade Média Es-
tos de corte específicos para avaliação nessa faixa etária, timada), das Dietary Reference Intakes (DRI’s)16,17.
sendo que valores de IMC abaixo de 22,0 kg/m² indi- Já para os micronutrientes que não dispõem de
cam magreza e acima de 27,0 kg/m², excesso de peso. EAR (cálcio, sódio e potássio), bem como para fibras,
As circunferências previstas na MAN e as pregas a avaliação foi realizada pela AI (Adequate Intake − In-
cutâneas necessárias à estimativa do peso foram afe- gestão Média Recomendada), das DRIs18,15. Em am-
ridas utilizando fita métrica da marca Sanny® e um bos os casos, os valores de UL (Tolerable Upper Intake
adipômetro da marca CESCORF®. Todas as medidas Level − Nível de Ingestão Máxima) para os referidos
foram aferidas por três vezes consecutivas e, em segui- nutrientes foram levados em consideração.
da, foi calculada a média aritmética, posteriormente O perfil dos idosos institucionalizados foi feito
classificada de acordo com os percentis propostos por pelo cálculo das frequências dos sexos, peso, estatu-
Barbosa et al.12. ra, idade e número de comensais para a obtenção das
Para análise da composição de nutrientes foram médias, utilizando-se da fórmula Média = Pm x fi / Σ
escolhidos, por sorteio e sem repetição, cinco de sete fi, em que Pm é a média para uma determinada faixa
30 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):27-35

e fi é frequência de indivíduos que se encontram na Barreto, uma instituição de longa permanência em


faixa de distribuição6. Natal, RN. Entre os 120 idosos avaliados pela MAN,
Para o cálculo da estimativa do gasto energético um total de 41 indivíduos (34%), ao serem avaliados
total (GET), foram utilizadas as equações da neces- e quando somados os seus pontos da triagem, atin-
sidade estimada de energia (EER) proposta pela DRI giram o escore igual ou superior a 12, descartando
para homens e mulheres com idade superior a 19 a possibilidade de desnutrição e, assim, limitando a
anos. Para dados necessários à equação, utilizou-se a avaliação apenas à triagem parcial, sendo desnecessá-
média da idade, do peso e da estatura e ainda se le- ria a continuação da avaliação.
vou em consideração o coeficiente de atividade física A tabela 1 demonstra, a partir dos dados forneci-
(CAF) = 1, estando relacionado ao nível de atividade dos pela MAN aplicados aos 120 idosos (41 idosos/
física (NAF) sedentário (≥ 1 < 1,4), o qual se emprega normais e 79 idosos/em risco), o diagnóstico nutri-
muito bem aos participantes da pesquisa, idosos se- cional revelado pelo questionário.
dentários de 60 anos ou mais19.
Com relação aos 79 idosos (66%) que realizaram
No cálculo da estimativa do GET desse grupo de toda a avaliação nutricional (MAN), uma vez identi-
idosos, foi realizado o cálculo da média ponderada, ficada a possibilidade de desnutrição e, baseando-se
levando-se em consideração que, quando um dos se- nos escores obtidos pela avaliação, pôde-se observar
xos tem frequência maior ou igual a 75%, calcula-se que 57% afirmaram estar sob algum estresse psicoló-
a média ponderada dos GETs para cada sexo. No en- gico e 19% apresentaram problemas neurológicos.
tanto, quando a frequência for inferior a 75%, calcu-
la-se a média aritmética de um e outro ou dos dois No diagnóstico nutricional do grupo considera-
sexos6, sendo, portanto, a última opção adotada para do em risco nutricional pela MAN, pôde-se constatar
o cálculo do GET da população em estudo. que 32% apresentaram desnutrição declarada.
Os dados foram tabulados e analisados por meio Quanto à ingestão alimentar de macronutrientes e
de estatística descritiva no Microsoft Excel, versão XP. levando em consideração a análise de composição de
nutrientes dos cardápios, o consumo de carboidratos
mostrou-se superior às necessidades estimadas para o
RESULTADOS grupo (45% a 65% do GET), com um percentual
de 75% dos cardápios possivelmente inadequados.
Nesta pesquisa foram avaliados, por intermédio da O consumo de lipídeos foi alto em 50% dos cardá-
MAN, 120 idosos, com idades entre 65 e 106 anos, pios ofertados, ultrapassando a recomendação para o
de ambos os sexos, assistidos pelo Instituto Juvino grupo em estudo (20% a 35% do GET). Já a ingestão

Tabela 1. Diagnóstico nutricional dos 120 idosos a partir da Mini-Avaliação Nutricional, assistidos pelo Instituto Juvino
Barreto, instituição de longa permanência de Natal, RN, 2008
Categorias de avaliação Resultado da avaliação Normais (n = 41) Em risco (n = 79)
Ingestão alimentar nos últimos 3 meses (%) Diminuição severa - 11
Diminuição moderada 20 34
Sem alterações 80 55
Perda de peso nos últimos 3 meses (%) > 3 kg - 17
1-3 kg 80 40
Sem alteração - 27
Não sabe 20 16
Mobilidade (%) Restrito ao leito - 30
Deambula 86 40
Sem alterações 14 30
Estresse psicológico (%) Alterado 83 57
Sem alterações 17 43
Problemas neurológicos (%) Demência leve 12 -
Sem alterações 88 19
Perfil nutricional de idosos 31

de fibras estava adequada em metade dos cardápios Quanto ao número de refeições, apesar de a maio-
oferecidos, sendo que os demais apresentaram quan- ria dos idosos em risco (96%) ter referido realizar três
tidades insuficientes, segundo a recomendação (21 a refeições por dia e de grande parte deles (91%) ter
31 g/dia). Em relação às proteínas, apenas 25% dos dito consumir duas ou mais porções de frutas e vege-
cardápios demonstraram estar acima da ingestão re- tais por dia e ainda três porções do grupo de leite e
comendada (10% a 35% do GET), como demons- derivados por dia, duas ou mais porções por semana
trado na figura 1. de leguminosas e ovos e uma porção de carne, pei-
xe ou aves por dia, o consumo de micronutrientes,
principalmente de cálcio, vitamina C, ácido fólico e
120 vitamina D e E, com ingestão menor ou igual a 75%,
100
mostrou-se insuficiente, segundo as DRI’s.

80
A ingestão de sódio demonstrada pela análise dos
cardápios foi alta, aproximadamente 3,8 g, ultrapas-
60 % Adequação sando assim a recomendação preconizada pelas DRI’s
% Inadequação
40 (1,2 a 2,3 g ao dia). Para vitamina A, vitaminas do
complexo B, iodo, zinco, ferro, cobre, selênio, a in-
20
gestão foi adequada em 50% ou mais (Figura 2).
0
CHO PTN LIP FIBRAS Foi demonstrado ainda, pela MAN, quanto ao
consumo de líquidos (sucos, água, café, chá e leite)
CHO: carboidrato; PTN: proteínas; LIP: lipídeos.
diariamente, que 48% consumiam menos de três co-
Figura 1. Distribuição da possível adequação e pos, 23% mais de três copos e 29% de três a cinco
inadequação da ingestão de macronutrientes conforme copos. Em relação a acreditarem que apresentam al-
AMDR (Acceptable Macronutrient Distribution Range) gum problema nutricional, 19% afirmaram acreditar
para 120 idosos assistidos pelo Instituto Juvino Barreto, estarem desnutridos, 34% não souberam dizer e 47%
instituição de longa permanência em Natal, RN, 2008. acreditavam não ter nenhum problema nutricional.

120

100

80

60

40

20

0
Vit A

Vit C

Vit B1

Vit B2

Vit B6

Vit B12

Vit D
Nia

Fol

Pant

Vit E
Iodo

Na
Ca

Mg
Zn

Mn

P
Fe

Cu

Se

% Adequação % Inadequação

Vit A: vitamina A; Vit C: vitamina C; Vit B1: vitamina B1; Vit B2: vitamina B2; Vit B6: vitamina B6; Vit D: vitamina D;
Nia: niacina; Fol: folato; Pant: ácido pantatênico; Vit E: vitamina E; Na: sódio; Ca: cálcio; Mg: magnésio; Mn: manganês;
K: potássio; P: fósforo; Fe: ferro; Cu: cobre; Se: selênio.

Figura 2. Distribuição da possível adequação e inadequação da ingestão de micronutrientes conforme EAR (Estimated
Average Requirement) para 120 idosos assistidos pelo Instituto Juvino Barreto, instituição de longa permanência em
Natal, RN, 2008.
32 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):27-35

Na avaliação quanto à percepção de saúde, 64% referentes à ingestão de alimentos e à perda de peso
consideravam a saúde não muito boa quando com- da MAN corroboram com tal resultado, também de-
parada a de outros indivíduos da mesma idade, 5% monstrados na tabela 1, uma vez que 55% não apre-
não souberam informar, 8% consideravam boa em sentaram nenhuma alteração quanto à ingestão de
comparação a outras pessoas da mesma idade e 23% alimentos nos últimos três meses, o que justifica os
consideravam melhor. Além disso, 11% dos idosos diagnósticos de eutrofia, sobrepeso e obesidade reve-
relataram não ser capazes de se alimentar sozinhos e lados. Já por Lipschitz11, o total de desnutridos foi de
25% alimentavam-se sozinhos, mas demonstravam 53%, além de ter sido possível o diagnóstico de 19%
dificuldade em fazê-lo. de indivíduos obesos.
Na estimativa do estado nutricional desses ido- De acordo com a Pesquisa Nacional sobre Saúde
sos, utilizando faixas específicas para essa população, e Nutrição, onde foi avaliado o perfil nutricional dos
relacionadas ao IMC, a partir do preconizado por idosos brasileiros e se detectou um índice elevado de
Lipschitz11, foi observado que, dos 120 idosos em es- sobrepeso, surge um questionamento na área de saúde,
tudo, 53% apresentavam desnutrição, 28%, eutrofia uma vez que, na prática clínica, não é visualizada tal si-
e 19%, obesidade. tuação, despertando a atenção quanto às metodologias
Considerando que a boa nutrição está associada empregadas para diagnóstico nutricional em idosos21.
com o aumento da qualidade e expectativa de vida Também em outros estudos os índices de desnu-
das pessoas e, especialmente nesse caso, da população trição, sobrepeso e obesidade em grupos de idosos
idosa em foco, o estudo proposto buscou determinar apresentam-se maiores comparados aos índices de eu-
as necessidades nutricionais do grupo em questão. trofia22, o que demonstra a importância de considerar
Para determinar o perfil dos indivíduos instituciona- essas diferenças entre os percentuais de classificação
lizados, foram calculadas as frequências e médias dos e a possível relação com os pontos de corte emprega-
sexos, peso, estatura, idade e número de comensais em dos, os quais na maioria dos estudos são os mesmos
função das faixas de distribuição segundo Ansaloni6. propostos para os adultos, não sendo específicos para
Com relação ao valor calórico total (VCT), os car- a população idosa21.
dápios apresentaram oferta calórica entre 2.149,78 É claro que o diagnóstico de desnutrição no idoso
kcal e 2.548,88 kcal, com média de 2.349,33 kcal. é considerado um dado complexo, uma vez que está
O GET para essa população idosa foi estimado con- relacionado com alterações corporais advindas do en-
siderando a necessidade nutricional basal para cada velhecimento e de patologias, fato esse constatado no
sexo, de acordo com a DRI de energia para homens presente estudo pelos itens relacionados às questões
e mulheres com idade superior a 19 anos, adotando
referentes à ausência de saúde e ao número de me-
o CAF = 1, para indivíduos sedentários. Vale ressal-
dicamentos consumidos revelados pela MAN, além
tar que a média de peso dos idosos, de ambos os se-
de questões referentes ao consumo dietético, como
xos, estava em conformidade com o que recomenda
demonstrado pelos dados sobre o número de refei-
a FAO20, sendo o GET estimado em 1.925,29 kcal
ções realizadas por dia e quanto ao consumo de leite,
para os idosos do sexo masculino e 1.741,63 kcal para
frutas, vegetais, leguminosas, carnes e líquido, não
o sexo feminino, prevalecendo para o grupo a média
devendo ser esquecido o estilo de vida, nesta pesqui-
aritmética dos dois sexos, que foi de 1.833,46 kcal.
sa, caracterizado pelos altos índices de sedentarismo
e baixos níveis de funcionalidade, sendo, portanto,
DISCUSSÃO frequente, principalmente na faixa etária em estudo,
o aumento das taxas de morbidade e mortalidade3.
Do total de idosos participantes da pesquisa, 41 fo- Para Vasconcelos23, o objetivo principal da avalia-
ram classificados como normais pela MAN. Fica evi- ção nutricional é diagnosticar a magnitude e a dis-
dente neste estudo que, mesmo diante do diagnóstico tribuição dos problemas nutricionais e identificar e
de normalidade do estado nutricional apresentado analisar os seus determinantes, com a finalidade de
por 41 idosos, os dados revelados pelo questionário estabelecer as medidas de intervenção adequadas.
mostram-se preocupantes e devem receber a devida
Quando os indicadores adotados para avaliação
atenção, uma vez que influem diretamente na mu-
apresentam-se em limites acima da normalidade,
dança do quadro positivo apresentado.
estabelecem-se enfermidades associadas à hiperali-
Daqueles considerados em risco de desnutrição, mentação, como obesidade, diabetes mellitus tipo II
32% apresentaram desnutrição declarada. Os dados e aterosclerose. Enquanto, nos limites abaixo da nor-
Perfil nutricional de idosos 33

malidade, aparecem transtornos carenciais, tais como: O alto teor de carboidratos apresentado nos car-
hipovitaminose A, anemias carenciais, bócio endêmi- dápios pode estar relacionado ao elevado índice de
co, cárie dental e desnutrição energético-proteica23. sobrepeso observado no estudo. No entanto, esse fe-
O equilíbrio na alimentação é, portanto, o principal nômeno pode ser uma mera adaptação fisiológica, já
alvo na busca da prevenção e promoção à saúde. que o peso pode ser afetado com o passar dos anos,
com duplicação do conteúdo de gordura29.
A MAN é considerada uma ferramenta indispensá-
vel na avaliação nutricional, por servir de parâmetro para No entanto, a diminuição de peso observada nos
identificação do risco de desnutrição em idosos, mesmo últimos meses para esse grupo está possivelmente re-
quando não são reveladas manifestações clínicas24. lacionada a perda de apetite, problemas digestivos ou
dificuldade para mastigar ou deglutir, alterações fisio-
Avaliar o conteúdo de nutrientes oferecidos em
lógicas características do processo de envelhecimento.
cardápios de instituições pode também ser consi-
As alterações de cunho sensorial estão relacionadas à
derado uma estratégia na investigação dos determi-
diminuição do prazer de comer, levando à diminuição
nantes alimentares implicados no estado nutricional,
do apetite e à desnutrição. Segundo Campos et al.4,
no intuito de avaliar se estes atendem às recomenda-
o funcionamento do sistema digestivo, em especial a
ções nutricionais e estão adequados de acordo com a
diminuição do esvaziamento gástrico, fenômeno que
literatura25,26.
aumenta a saciedade, bem como atrofia da mucosa in-
Segundo Menezes27, em pesquisas que avaliam testinal e do revestimento muscular que diminuem a
consumo alimentar com a população idosa, frequen- motilidade intestinal reduzem a absorção de nutrien-
temente são reveladas inadequações principalmente tes e favorecem quadros de constipação, eventos que
relacionadas ao VCT oferecido, lipídeos e cálcio. No influenciam no aporte alimentar da pessoa idosa.
que diz respeito à oferta calórica dos cardápios, neste
As reavaliações periódicas do estado nutricional
estudo observou-se que a quantidade energética ofere-
são, portanto, necessárias para evitar restrições dieté-
cida ultrapassa a necessidade estimada para a população
ticas desnecessárias ou o menosprezo das necessidades
assistida. Porém, mesmo diante desse fato, revelou-se
nutricionais.
grande prevalência de desnutrição entre os idosos, atin-
gindo 32% pela MAN (1998) e 53% por Lipschitz11. O GET médio (1.833,46 kcal) e os valores da mé-
dia de peso observados neste estudo já eram esperados
Observou-se também uma ingestão menor ou
para a população avaliada, uma vez que a instituição
igual a 75% para a vitamina C, ácido fólico e cál-
apresenta um número considerável de internos aca-
cio, corroborando com os dados obtidos por Galesi et
mados, além de não dispor de local apropriado para a
al.28, apesar de os idosos (91%) terem relatado consu-
prática de atividades físicas para os que deambulam.
mir duas ou mais porções de frutas por dia, alimentos
ricos nesses nutrientes, resultado que difere daquele Os dados obtidos em relação ao GET no presente
obtido por Galesi et al.28, que observaram baixo con- estudo diferem daqueles obtidos por Galesi et al.28 em
sumo de frutas e verduras em idosos institucionali- idosos institucionalizados em uma cidade de médio
zados, o que representa risco nutricional para esse porte do Leste de São Paulo, para os quais a ingestão
grupo de indivíduos. de energia não atingiu a recomendação para ambos os
sexos, classificados pelo IMC.
A baixa ingestão de cálcio observada mostra-se
preocupante do ponto de vista nutricional, uma vez O quadro de desnutrição diagnosticado tanto pela
que esse mineral é responsável por aproximadamente MAN quanto por Lipchitz, mesmo diante do alto
2% do peso corporal, principalmente da estrutura ós- valor calórico apresentado pelos cardápios avaliados,
sea, exercendo ainda papel na regulação de mecanis- também foi observado nos resultados de estudo con-
mo de contração muscular, entre outros5. A ingestão duzido por Rauen et al.30, o que pode ter relação com
de vitamina A e vitaminas B1, B2 e B12 mostrou-se o fato de alguns internos se encontrarem acamados,
adequada em mais de 50%, resultados semelhantes com alteração do paladar ou inapetentes em razão de
aos de Galesi et al.28. uso de medicamentos (30% dos idosos fazem uso de
mais de três medicamentos por dia), o que os leva a
O consumo de sódio demonstrou estar alto para
não usufruir de modo satisfatório do cardápio ofere-
os cardápios analisados, o que pode implicar o surgi-
cido pela instituição.
mento ou o agravo de quadros de hipertensão arterial,
a mais frequente patologia do grupo das doenças crô- Além disso, o percentual de idosos que declarou
nicas não transmissíveis – DCNT3. não ser capaz de se alimentar sozinho (11%) e aque-
34 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):27-35

les que se alimentavam sozinhos, mas demonstravam REFERÊNCIAS


dificuldade em fazê-lo (25%), podem ter contribuído
para um consumo inadequado das refeições ofereci- 1. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo
das, tornando a ingestão de nutrientes inadequada. demográfico de 2000. Brasília, 2002. [Acesso em: 25 nov. 2009].
Disponível em: <http:// www.ibge.gov.br>.
Diante do exposto, a melhoria dos hábitos die- 2. Creutzberg M, et al. A comunicação entre a família e a Institui-
téticos da população idosa pede cuidado especial da ção de Longa Permanência para Idosos. Rev Bras Ger Geront.
parte dos profissionais de nutrição. Nesta pesquisa, 2007;10(2):147-60.
de acordo com os resultados, foi visto que os idosos 3. Busnello FM. Aspectos nutricionais no processo do envelheci-
mento. São Paulo: Atheneu; 2007. p. 292.
podem apresentar diferentes estados nutricionais,
4. Campos MTFS, Monteiro JBR, Ornelas APRC. Fatores que
mesmo vivendo juntos e com as mesmas condições afetam o consumo alimentar e a nutrição no idoso. Rev Nutr.
de vida. A utilização da MAN é importante para ido- 2000;13(3):157-65.
sos com risco nutricional e desnutrido. Neste estudo, 5. Cozzolino SMF. Biodisponibilidade de nutrientes. 2.ed. Barueri,
classificaram-se 68% dos idosos com risco de desnu- SP: Manole; 2007. p. 910. 
trição e pôde-se ver também que a classificação do 6. Ansaloni JA. Pela adequação nutricional da alimentação coleti-
estado nutricional, segundo Lipschitz, não é a melhor va, 2008. [Acesso em: 19 jun. 2008]. Disponível em: <http://www.
escolha quando usada sozinha, revelando valores de enut.ufop.br/nutline/artigo06/artigo06.htm>.
53% para desnutrição. 7. Mini-Avaliação (MAN) − Pesquisa e prática no idoso. Nestlé
Nutrition Workshoop Serie Clinical & Performance Programme.
Em contrapartida, todos os métodos são válidos, Suíça: Vevey; 1998. 
se bem aplicados. Para um diagnóstico completo do 8. Souza VMC, Guariento ME. Avaliação do idoso desnutrido. Rev
estado nutricional, a equipe multidisciplinar deve es- Bras Clin Med. 2009;7:46-9.
tar atenta aos fatores de risco para o estado nutricio- 9. Duarte ACG. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e laborato-
riais. São Paulo: Atheneu; 2007. 
nal e os sinais de desnutrição instalada, como parte
de um atendimento completo ao idoso. Dessa forma, 10. Chumlea WC, Guo SS, Steinbaugh ML. Estimating stature from
knee height for persons 60 to 90 years of age. J Am Geriatr Soc.
pode-se realizar precocemente a prevenção das doen- 1985;33:116-20. 
ças e a promoção da saúde com resultados na melho- 11. Lipschitz DA. Screening for nutritional status in the elderly. Pri-
ria da qualidade de vida. mary Care; 1994. 
Sabe-se que as necessidades energéticas no idoso 12. Barbosa AR, Souza JMP, Lebrão MA, Laurenty R, Marucci MFN.
Anthropometry of elderly residents in the city of São Paulo, Brazil.
geralmente diminuem com a idade em função das al- Cad Saude Publica. 2005;21(6):1929-38.
terações na composição corporal, da diminuição na 13. Phillips ST. Tabela de composição de alimentos: suporte para de-
taxa metabólica basal e da redução na atividade física. cisão nutricional. 2.ed. São Paulo: Gráfica Coronário; 2002. 
Entretanto, enquanto as necessidades de energia di- 14. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos − TACO. 2.ed.
minuem, as necessidades de proteína, vitaminas e mi- Campinas: NEPA-Unicamp; 2006. p. 105. 
nerais permanecem as mesmas ou aumentam. Neste 15. Food and Nutrition Board. Dietary reference intakes: energy, car-
estudo, um fato preocupante foram as inadequações bohydrates, fiber, fat, protein and amino acids (macronutrients).
Institute of Medicine (IOM). Washington, DC: National Academy.
alimentares, tanto de macro quanto de micronutrien- [online] 2005 [citada em: 25 nov. 2009]. Disponível em: http://
tes. Os aspectos nutricionais do idoso apresentam www.nap.edu.
particularidades inerentes às condições próprias dessa 16. Food and Nutrition Board. Dietary reference intakes: thiamin, ri-
faixa etária no que concerne a sua estrutura anatômi- boflavin, niacin, vitamin B6, folate, vitamin B12, pantothenic acid,
ca e funcional, devendo ser levados em consideração biotin, and choline. Institute of Medicine (IOM). Washington, DC:
National Academy. [online] 1998 [citada em: 25 nov. 2009]. Dis-
em qualquer intervenção à saúde. ponível em: http://www.nap.edu.
17. Food and Nutrition Board. Dietary reference intakes: vitamin A,
vitamin K, arsenic, boron, chromium, copper, iodine, iron, manga-
Agradecimentos nese, molybdenum, nickel, silicon, vanadium, and zinc. Institute of
Medicine (IOM). Washington, DC: National Academy. [online] 2000
[citada em: 25 nov 2009]. Disponível em: http://www.nap.edu.
À Coordenação do Curso de Nutrição da Universida-
18. Food and Nutrition Board. Dietary reference intakes: calcium,
de Potiguar, pelo apoio e pelos empréstimos de mate- phosphorus, magnesium, vitamin D, and fluoride. Institute of Me-
riais no transcorrer do trabalho. À direção do Instituto dicine (IOM). Washington, DC: National Academy. [online] 1997
Juvino Barreto, pela oportunidade e compreensão [citada em: 25 nov. 2009]. Disponível em: http://www.nap.edu.
dada à realização da pesquisa com os idosos. 19. Food and Nutrition Board. Dietary reference intakes: estimated
average requirements for groups. Institute of Medicine (IOM).
Conflito de interesses: Declaramos a inexistência Washington, DC: National Academy. [online] 2002 [citada em: 25
de conflito de interesses. nov. 2009]. Disponível em: http://www.nap.edu.
Perfil nutricional de idosos 35

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ARTIGO de atualização

Úlceras de pressão
Pressure ulcers

Sheila Rampazzo Luz1, André Cleocir Lopacinski1, Rogério de Fraga2,


Cícero de Andrade Urban3

Recebido em 27/11/09
RESUMO Aceito em 26/3/10
As úlceras de pressão representam um problema de alta relevância na prática médica. Os pacientes acometidos
apresentam pior evolução clínica, exigindo maior tempo de internamento e gerando maiores custos. Este artigo de
revisão tem por objetivo apresentar e discutir, com base em evidências científicas, as medidas que visam à preven-
ção das úlceras de pressão. As recomendações incluídas neste artigo são baseadas em dados extraídos a partir
de revisão bibliográfica de livros técnicos e artigos científicos obtidos nas seguintes bases de dados: 1. PubMed,
2. SciELO e 3. UpToDate Inc. Foram priorizados artigos publicados nos últimos cinco anos e eles foram avaliados
criticamente, de modo a objetivar a certificação de que os métodos e os resultados apresentados eram válidos. Os
pesquisadores incluíram, ainda, no estudo outros artigos consagrados pela literatura, com data de publicação supe-
rior a cinco anos, cujos dados foram analisados criticamente de modo a somente incluir informações atemporais.
Palavras-chave: Úlcera de pressão, revisão de literatura, fatores de risco, tratamento, prevenção, controle.

ABSTRACT
Pressure ulcers represent a high significance problem in the medical practice. The patients who develop this kind of
lesions have a worst clinical evolution, demanding a higher period of hospitalization and higher expenses. This re-
search purposes to present and discuss based on scientific evidences all the means to prevent pressure ulcers. The
recommendations included in this article were extracted from a literature review that included technical books and
scientific articles from the following databases: 1. PubMed, 2. SciELO and 3. UpToDate Inc. The researches priorized
articles published in the last five years and critically evaluated them, with the objective of certificate the methods
and the results presented were valid. The researchers also included another articles with historical expressiveness,
which were published more than five years ago. Its data were evaluated to reassure its legitimacy.
Keywords: Pressure ulcers, literature review, risk factors, therapeutics, prevention, control.

1
Universidade
Positivo, Curitiba, PR.
2
Faculdade de Ciências
Médicas, Universidade
Estadual de Campinas
(FCM/Unicamp).
3
Universidade Positivo
Endereço para correspondência: Sheila Rampazzo Luz • Rua Nilo Cairo, 524, ap. 204 – e Universidade Federal
80060-050 – Curitiba, PR • E-mail: sheila_srl@yahoo.com.br • Tel.: +55 (41) 9628-6424 do Paraná (UFPR).
Úlceras de pressão 37

INTRODUÇÃO quatro (4) por conterem relatos pessoais não caracte-


rizando evidências científicas, dois (2) por não esta-
Apesar dos avanços nos cuidados em saúde, as úlceras rem concluídos e um (1) por causa do idioma (turco);
de pressão continuam sendo uma importante causa além da inclusão de oito (8) livros técnicos, os quais
de morbidade e mortalidade, com impacto na quali- continham capítulos sobre o tema.
dade de vida do paciente e de seus familiares, gerando O levantamento bibliográfico foi realizado entre
um problema social e econômico. os meses de fevereiro e maio de 2009. A revisão pro-
As úlceras de pressão são lesões decorrentes da is- priamente dita, bem como a análise crítica dos dados
quemia gerada pela compressão extrínseca e prolon- e a posterior confecção do artigo, foi realizada entre
gada da pele, tecidos adjacentes e ossos, constituindo maio e novembro de 2009.
um problema relevante no cenário de atenção à saú-
de. As proeminências ósseas são os locais mais acome-
RESULTADOS E DISCUSSÃO
tidos, e pacientes idosos e criticamente enfermos são
os mais afetados. Fisiopatologia e aspectos
O diagnóstico das lesões é clínico e geralmente clínico-epidemiológicos
não oferece grandes dificuldades e o principal ponto Úlceras de pressão podem ser definidas como áreas
do tratamento é a mudança periódica de decúbito, localizadas de tecido necrótico que se desenvolvem
com alívio da pressão no local da lesão. quando a pele, tecidos adjacentes, ou ambos são sub-
A prevenção acaba sendo o principal foco dos profis- metidos à pressão extrínseca, geralmente em locais
sionais responsáveis pelo cuidado do paciente. A abor- adjacentes a proeminências ósseas1-3 ou em áreas onde
dagem preventiva deve ser multidisciplinar e tem início a adiposidade subcutânea é escassa2.
na identificação precoce dos pacientes suscetíveis, de- As úlceras de pressão desenvolvem-se em virtude de
vendo abranger a equipe cuidadora, além dos familiares alterações patológicas na perfusão sanguínea da pele e
envolvidos e do próprio paciente, quando possível. Me- tecidos subjacentes. Sua formação depende de uma sé-
canismos de distribuição da pressão, mudança periódi- rie de fatores, porém o principal é a pressão extrínseca
ca de posição, controle da incontinência, cuidados com sobre determinadas áreas da pele e tecidos moles por
a pele e nutrição são as principais medidas envolvidas. tempo prolongado2,4. Inicialmente, ocorre a privação
circulatória nas camadas mais superficiais da pele e à
medida que a isquemia se aproxima de proeminências
MÉTODOS ósseas, focos maiores de tecido são acometidos.

A partir da prática clínica, foi possível observar o im- Cada grupo histológico apresenta uma capaci-
pacto na qualidade de vida e no curso do internamen- dade individual de suportar determinados períodos
to dos pacientes acometidos por úlceras de pressão. de hipoperfusão. Se esse período for prolongado, há
sofrimento tecidual, resultando em acidose local, he-
Desse modo, verificaram-se a relevância desse tema e
morragia intersticial, obstrução linfática e acúmulo de
a necessidade de discutir as medidas de prevenção das
metabólitos produzidos a partir da morte celular e ne-
úlceras de pressão.
crose tissular2,5. Em seguida, a atividade fibrinolítica
Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada por diminui, ocorrendo depósito de fibrina que leva à obs-
meio de levantamento de dados a partir de livros téc- trução intravascular6. Esse quadro agrava ainda mais a
nicos e artigos científicos obtidos nas seguintes bases hipoperfusão local, tornando-se irreversível até mesmo
de dados: PubMed, Coleção Scientific Electronic Li- com a redução da pressão externa. Músculos são mais
brary Online (SciELO) e UpToDate Inc. suscetíveis, seguidos por tecido subcutâneo e derme7.
Foram priorizados artigos publicados nos últi- Ao contrário do que é verificado em objetos regu-
mos cinco anos e eles foram avaliados criticamente, lares, a pressão corporal em repouso não se distribui
objetivando-se a certificação de que os métodos e os homogeneamente pela superfície de apoio. Determina-
resultados apresentados eram válidos. dos pontos do corpo, principalmente as proeminências
ósseas, concentram pressões maiores, motivo pelo qual
Inicialmente, foram selecionados 35 artigos, na-
eles são os mais acometidos pelas úlceras de pressão2.
cionais e internacionais, publicados nos idiomas por-
tuguês, inglês e espanhol no período anteriormente No que diz respeito à localização das úlceras, a re-
mencionado. Entre esses, sete (7) foram excluídos: gião sacral é a mais acometida. Sua incidência pode
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variar de 29,5% a 35,8%, de acordo com a amostra trolada, pode levar à maceração do tecido que, por
estudada. O calcâneo é o segundo local mais acome- sua vez, causa redução na força tensiva, facilitando
tido, com incidência variando entre 19,5% e 27,8%. a compressão, a fricção e o cisalhamento. A transpi-
A região trocantérica ocupa o terceiro lugar, com ração excessiva, a presença de secreções respiratórias,
incidência entre 8,6% e 13,7%. Outros locais com os vômitos e a incontinência urinária e fecal são as
acometimento menos frequente (incidência entre 6% principais causas de aumento da umidade15,16.
e 1%) incluem pernas, pés, maléolos, glúteos, escápu-
las, região isquiática e cotovelo. As úlceras de pressão Os fatores de risco intrínsecos são inerentes ao
também podem acometer a região occipital, apófises indivíduo, ou seja, relacionam-se ao estado físico do
vertebrais, orelhas, joelho, região genital, mão, arcos paciente. Os principais integrantes desse grupo são
costais, antebraço, mama, nariz e abdômen, todos imobilidade, presença de incontinência urinária e/ou
com incidência inferior a 1%8. fecal, alterações na perfusão sanguínea da pele e pre-
sença de doenças neurológicas.
Os dados acerca da ocorrência das úlceras de
pressão apresentam grande variação9, decorrente de A imobilidade é o principal fator intrínseco, poden-
diferenças na metodologia e referentes ao tipo de po- do ser permanente ou transitória7. Ela está diretamen-
pulação estudada. Pacientes internados por quadros te relacionada ao nível de consciência e competência
agudos apresentam incidência entre 0,4% e 38%10 e neurológica. Várias são as condições clínicas que po-
prevalência entre 10% e 18%9. Em pacientes crôni- dem alterar a capacidade de mobilidade do paciente,
cos, a prevalência varia entre 2,3% e 28% e a incidên- entre as quais se podem citar acidente vascular cere-
cia, entre 2,2% e 23,9%10,11. bral, traumatismo craniano, sedação excessiva, de-
Pacientes idosos, com lesão medular (tetraplégi- pressão, fraqueza, confusão mental13, lesão medular,
cos, paraplégicos ou hemiplégicos), fratura femoral e/ pós-operatório15, choques, grandes queimados e poli-
ou internados em unidades de terapia intensiva, apre- traumatizados4.
sentam risco maior no desenvolvimento de úlceras de A incontinência urinária e/ou fecal é outro fator
pressão e, consequentemente, constituem a popula- intimamente relacionado com a formação de úlceras
ção estatisticamente mais acometida3. de pressão13. Alguns estudos sugerem que pacientes
Os fatores de risco que propiciam o desenvolvi- incontinentes apresentam risco até cinco vezes maior
mento das úlceras de pressão podem ser divididos em se comparados a pacientes não incontinentes17.
extrínsecos e intrínsecos2.
Estágios das úlceras de pressão
Os fatores extrínsecos são aqueles que atuam
diretamente nos tecidos12 e que independem do Vários sistemas de classificação foram desenvolvi-
paciente13,14. Nesse grupo se incluem a pressão local, dos para estadiar clinicamente as úlceras de pressão.
o cisalhamento, a fricção local, a umidade e o uso de O mais utilizado é o desenvolvido pelo National Pres-
medicações sedativas ou hipnóticas2. sure Ulcer Advisory Panel 2007. Esse sistema classifi-
O cisalhamento é o processo por meio do qual os ca as úlceras em quatro estágios de acordo com o grau
tecidos sofrem a ação de forças externas que agem em de comprometimento tecidual:
planos diferentes, sendo criada pela interação entre as Estágio I – A pele está intacta, mas com sinais de
forças gravitacionais e de atrito13 e pode ser entendido ulceração iminente. Apresenta eritema ou alteração
ao analisar-se a movimentação ou o reposicionamen- da coloração na pele íntegra, reversível à digitopres-
to do paciente em uma cama: a partir do atrito gerado são devido à hiperemia reativa que pode desaparecer
entre o lençol e a pele do paciente, há torção dos vasos após 24 horas de alívio da pressão. Podem ocorrer
sanguíneos13 e linfáticos7, alterando sua angulação7,15 outras alterações na pele como: da temperatura lo-
e podendo gerar trombose dos vasos na transição der- cal, da consistência de tecido local e/ou alterações de
moepidérmica15. Nesse processo, há a interrupção da sensibilidade1,4,13,15. Com a pressão contínua, há evo-
microcirculação da pele e do tecido subcutâneo13. lução para eritema definido, o qual não se torna páli-
A fricção é gerada a partir do atrito entre duas su- do com a pressão digital e pode se tornar o primeiro
perfícies. Quando o paciente é movido contra uma sinal externo da destruição tissular.
superfície de apoio, ocorre a abrasão de camadas su-
Estágio II – Ocorre perda da integridade cutânea,
perficiais da pele, causando dano tecidual.
parcialmente em sua espessura, podendo envolver
A umidade é outro importante fator no desenvol- epiderme, derme ou ambas1. A úlcera tem aspecto su-
vimento de lesões cutâneas, pois, quando não con- perficial e é visualizada macroscopicamente na forma
Úlceras de pressão 39

de bolha, abrasão ou leve depressão4. Seu leito pode Aspectos do tratamento


apresentar-se com coloração vermelho pálida, sem
A primeira etapa do tratamento envolve uma análise
fragmentos ou ainda como uma bolha preenchida
abrangente das condições clínicas do paciente e da le-
com exsudato seroso, intacta ou aberta rompida18. são. As úlceras devem ser avaliadas diariamente de acor-
Estágio III – Ocorre perda da integridade cutâ- do com seu estágio, dimensões, presença de exsudato,
nea, integralmente em sua espessura. Há extensão da fístulas, tecido necrótico e tecido de granulação. A aná-
necrose ao tecido subcutâneo1 e adiposo9, podendo lise da pele circundante, o estado do curativo, a eficá-
se estender até a fáscia, sem exposição de osso, ten- cia do plano analgésico e a presença de complicações,
dão ou músculo18. A úlcera se apresenta clinicamente como infecção, também devem ser avaliados. O proces-
como uma depressão profunda, com ou sem desloca- so evolutivo das lesões deve ser documentado e pode ser
mento do tecido subjacente, podendo ocorrer ou não facilitado pelo emprego de escalas de cicatrização20,21.
a formação de túneis1. A avaliação do estado nutricional do paciente é
Estágio IV − Há perda da integridade cutânea em outro ponto fundamental do tratamento. Pacientes
sua espessura total com destruição extensa, necrose com úlceras de pressão se encontram em estado cata-
do tecido celular subcutâneo e comprometimento do bólico, motivo pelo qual a avaliação e a melhoria do
tecido muscular, ósseo, ou de estruturas de suporte, estado nutricional são fundamentais, tanto no trata-
como tendões ou cápsulas articulares. Ocorrência de mento como na prevenção das lesões20,22,23.
amplos deslocamentos de tecidos adjacentes e forma- A limpeza das lesões deve ser realizada somente
ção de túneis, bem como a presença de osteomielite com soro fisiológico e técnicas adequadas de esterili-
com destruição óssea, luxações, fraturas patológicas1, zação. Está contraindicado o uso de soluções à base de
piartrose ou sepse13. povidona-iodo, peróxido de hidrogênio, detergentes
Na formação da lesão, planos mais profundos são líquidos, solução de hipoclorito de sódio e corticoste-
os primeiros a serem acometidos, fazendo com que roides tópicos24.
muitas lesões possam não apresentar sinais externos e A escolha do curativo mais indicado para o trata-
muitas lesões aparentemente pequenas se revelam ex- mento das úlceras de pressão deve levar em consideração
tensas no momento do desbridamento2. Dessa forma, a quantidade de exsudato, o grau de ressecamento da le-
esse sistema de classificação não reflete um padrão de são e a presença de tecido infectado ou necrótico. Atual­
progressão evolutiva, ou seja, as lesões não evoluem mente, existem várias opções de curativos e nenhum
do primeiro ao último estágio, tampouco o processo tem se mostrado superior em relação aos outros15,20.
de cicatrização se dá no sentido inverso1. O desbridamento do tecido necrótico é impor-
O diagnóstico é feito clinicamente e geralmente tante tanto na promoção da cicatrização como na
não oferece grande dificuldades, pois o aspecto e a prevenção da infecção secundária. Ressalta-se a exis-
localização da lesão são altamente sugestivos19 (Ta- tência de cinco técnicas que podem ser empregadas
bela 1). no desbridamento20 (Tabela 2).

Tabela 1. Principais diagnósticos diferenciais das úlceras de pressão


Diagnóstico diferencial
Doenças vasculares Trombocitopenia essencial
Úlcera neuropática Trombocitopenia induzida por heparina
Osteomielite Necrose de pele induzida por warfarina
Fasciíte necrosante Hidroxiúria
Tuberculose Síndrome de Sweet
Infecções fúngicas Necrobiosis lipoidica diabeticorum
Embolização por colesterol Eritema nodoso
Vasculites Carcinoma de células escamosas
Linfedema Calcifilaxia
Coagulação intravascular disseminada Pioderma gangrenoso
Distúrbios hematológicos Síndrome do anticorpo antifosfolípide
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Tabela 2. Técnicas empregadas no desbridamento


Tipos de desbridamento
Desbridamento cirúrgico cortante Procedimento simples e rápido, realizado com bisturi ou tesoura e anestesia adequada. Indicado
quando houver celulite ou sepse associadas
Desbridamento enzimático Aplicação tópica de enzimas proteolíticas como colagenase, fibrinolisina e deoxirribonuclease, que
irão remover o tecido necrótico. Pode levar à produção excessiva de exsudato e causar irritação na
pele circundante
Desbridamento mecânico Método não seletivo realizado com curativos de gaze úmidos ou secos, irrigação e lavagem em
jato. Indicado para lesões com exsudato abudante e tecido necrótico solto
Desbridamento autolítico Método que emprega curativos interativos úmidos (hidrogel, alginato, hidrofilme e hidrocoloide)
que promovem a liquefação das crostas e a formação de tecido de granulação
Desbridamento biocirúrgico Método que envolve a aplicação de larvas de mosca Phaenicia sericata e Lucilia sericata
cultivadas em laboratório e que produzem enzimas que degradam o tecido necrótico sem lesar o
tecido sadio. Indicado em exposições ósseas, articulares ou tendíneas

O processo de cicatrização pode ser mais bem ava- obliteração de espaço morto, proteção da lesão e anti-
liado e descrito com o emprego de escalas de monitora- bioticoterapia específica. Preferencialmente, a antibio-
mento evolutivo da cicatrização. Essas escalas analisam ticoterapia deve ser estabelecida mediante cultura, e
a superfície da lesão, a extensão de tecido necrótico e uma resposta parcial ou ausente deve ser interpretada
exsudato, além da presença de tecido de granulação. como falha terapêutica e indica a troca do esquema31.
A escala PUSH já foi validada por várias pesquisas, sen-
O prognóstico pode ser determinado pela combi-
do uma das mais utilizadas, de fácil aplicação e grande
nação do estado geral do paciente, comorbidades as-
utilidade no manejo das úlceras de pressão25,26.
sociadas e a qualidade do serviço assistencial aplicado.
A maior parte das úlceras de pressão apresenta boa Úlceras pequenas (menores que 1 cm) levam em mé-
evolução com medidas conservadoras do tratamento, dia 30 dias para cicatrizar enquanto úlceras maiores
entretanto alguns pacientes necessitam de tratamen- que 4 cm podem levar mais de 70 dias19,20.
to cirúrgico para o fechamento da lesão, em especial
aqueles que terão uma melhora significativa na qua- Considerações sobre a prevenção
lidade de vida com o fechamento da lesão em curto
espaço de tempo. A prevenção da úlcera de pressão é uma tarefa mul-
tidisciplinar que deve ser exercida diariamente com
Existem várias técnicas e opções terapêuticas objetivo de identificar mudanças precoces no estado
que incluem enxertos, retalhos de pele ou muscu­ clínico do paciente. A pele deve ser examinada cons-
locutâneo1,20,27-29. A escolha da melhor técnica deve tantemente com o objetivo de identificar lesões em
levar em consideração as características do paciente, o seu estágio precoce. Desse modo, medidas profiláticas
tamanho e a localização da lesão, além da experiência podem ser intensificadas impedindo a evolução das
do cirurgião. lesões34,35.
Embora promova o fechamento rápido da lesão, O conjunto de ações profiláticas tem início na
o benefício do tratamento cirúrgico em longo prazo identificação do paciente suscetível. O exame físico
ainda é incerto. A recidiva é verificada em 13% a 61% e a história clínica são, na maior parte dos casos, su-
dos pacientes20,29,30. ficientes para a estimativa do risco, que determinará
A principal complicação das úlceras de pressão é as intervenções a serem despendidas. A estimativa do
a infecção, cuja apresentação clínica pode incluir ca- risco individual deve ser realizada periodicamente, e
lor local, eritema, secreção purulenta e odor fétido. o emprego de escalas quantificativas de risco pode ser
Entretanto, as manifestações clínicas são variáveis, e útil no manejo preventivo36. As mais utilizadas são as
a demora na cicatrização da lesão pode ser o único escalas de Norton e de Braden.
sinal da infecção31-33. Os principais microorganismos A escala de Norton avalia a condição física, a con-
envolvidos são Enterobacter sp, Staphylococcus sp e En- dição mental, a atividade, a mobilidade e a inconti-
terococcus faecalis31,33.
nência, atribuindo uma nota que varia de 1 a 4, num
O tratamento das complicações infecciosas inclui sistema graduado em que escores inferiores a 14 indi-
drenagem de abscessos, desbridamento cirúrgico, cam um risco elevado para formação de úlceras35,36.
Úlceras de pressão 41

A escala de Braden analisa a percepção sensorial, Na higienização do paciente, deve-se utilizar água
grau de umidade em contato com a pele, atividade, morna e sabonete neutro, evitando a força ou fricção
mobilidade, nutrição e forças de fricção e cisalhamento. excessiva sobre a pele. Em seguida, deve-se aplicar lo-
Para cada ponto analisado é atribuída uma nota de 1 a 4 ção hidratante4.
ou 1 a 3 nas forças de fricção e cisalhamento. Pacientes
Pacientes cadeirantes podem apresentar pressões
com escores inferiores a 18 apresentam alto risco34-36.
concentradas sobre as tuberosidades isquiáticas, de-
A sensibilidade das escalas está compreendida entre vendo ser reposicionados pelo menos a cada hora,
70% e 90% e a especificidade entre 60% e 80%, en- com movimentação da cadeira de rodas ou inclinan-
tretanto a escala de Norton apresenta um desempenho do o acento para reduzir o contato entre as nádegas
superior se comparada à de Braden na identificação do paciente e a superfície de apoio34.
de pacientes com risco elevado. A principal limitação
A utilização de dispositivos de redistribuição da
do emprego desses métodos é a necessidade de equipe
pressão tem por objetivo a redução dos fatores extrín-
capacitada na aplicação do instrumento35,36.
secos. Estão indicados para pacientes que apresentam
A primeira medida preventiva deve ser a orienta- risco de desenvolvimento de úlceras, para melhor dis-
ção adequada do paciente e de seus familiares. Essas tribuição do peso em pacientes que já apresentam lesões
orientações devem ser reforçadas por todos os pro- ou para pacientes com lesões que não estão evoluindo
fissionais da saúde ligados ao paciente e têm como conforme o esperado. Atualmente, existem vários tipos
objetivo a busca pela autodisciplina e a participação de superfícies de apoio ou equipamentos redutores de
colaborativa da família durante o tratamento34. pressão e podem ser classificados como elétricos e não
O alívio da pressão é a medida profilática mais im- elétricos de acordo com as novas definições do Natio-
portante e pode ser alcançado por meio do posicio- nal Pressure Ulcer Advisory Panel 20074,34,36.
namento adequado do paciente no leito e do uso de Em pacientes cadeirantes devem ser empregadas
dispositivos redutores da pressão. Em pacientes sem almofadas específicas para redistribuição de peso. Os
lesão, o reposicionamento deve ser realizado continua­ tipos mais utilizados são: almofadas ajustáveis elétricas,
mente, com intervalo de duas horas, objetivando a almofadas ajustáveis não elétricas e almofadas de gel e
alternância seriada dos pontos de apoio, diminuindo espuma. Assentos autoajustáveis possuem em seu inte-
a pressão persistente sobre áreas vulneráveis4,35. Para o rior estruturas ocas com formato de favo de mel, preen-
posicionamento no leito, poltrona ou cadeira de ro- chidas de ar, as quais são inicialmente infladas, colocadas
das, devem ser considerados: o alinhamento postural, sob o paciente e então parcialmente esvaziadas por uma
a distribuição do peso corporal, a redução da pressão válvula de alívio para melhor conformação ao corpo do
sobre áreas suscetíveis e a estabilidade do paciente. paciente. Almofadas em forma de rosca não devem ser
A mudança na posição deve ser realizada gentilmente, utilizadas, pois agravam o edema e a congestão venosa,
com o auxílio de dispositivos para evitar a fricção e as concentrando a pressão nos tecidos adjacentes1.
forças de cisalhamento4,34,35.
A utilização de colchões com superfície redis-
Se o paciente não apresentar nenhuma contrain- tribuidora de pressão em mesas operatórias e leitos
dicação ao posicionamento em decúbito lateral, este hospitalares diminui a probabilidade de formação de
deve ser incluído no plano de cuidados, com as se- novas lesões. Embora exija maior investimento, essa
guintes particularidades: o plano frontal do pacien- medida pode ser custo-efetiva ao diminuir o tempo
te e o leito devem formar um ângulo de 30o, obtido de hospitalização.
com o uso de coxins para evitar pressão direta sobre o
trocânter maior; a cabeceira do leito deve estar em ân- A escolha do dispositivo mais apropriado deve le-
gulo igual ou menor a 30o, para diminuir a tendência var em consideração características do equipamento
ao deslizamento que pode gerar atrito e cisalhamento; (custo e facilidade de uso) e do paciente (risco para
almofadas ou espumas devem ser colocadas entre tor- desenvolvimento de lesões, presença de comorbida-
nozelos, joelhos e sob os calcanhares de modo a evitar des, prognóstico)34.
a pressão persistente nesses locais1,34. O incentivo à mobilização precoce e continuada
A cada mudança de decúbito a pele deve ser reava- é importante para a prevenção das úlceras de pres-
liada quanto a temperatura, turgor, umidade, presen- são, podendo esta ser realizada mediante a fisioterapia
ça de eritema ou bolhas, de modo a identificar sinais em pacientes imobilizados e emprego de relaxantes
precoces de lesão e evitar o ressecamento excessivo e musculares ou bloqueios nervosos em pacientes com
a descamação13. espasticidade grave34.
42 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):36-43

O excesso de umidade pode ocasionar a fragili- ausência de treinamento adequado e a impossibilida-


zação da pele, e o contato prolongado com urina e de de desprendimento de recursos financeiros.
fezes pode causar irritação local, motivo pelo qual
Desse modo, ressalta-se que medidas profiláticas
pacientes incontinentes exigem atenção especial.
em relação às úlceras de pressão são de fundamental
A utilização de fraldas geriátricas e forros absorventes,
importância, principalmente para os pacientes critica-
associada com higiene adequada da pele, é suficiente
mente enfermos. Para que a prevenção das úlceras de
para o controle da incontinência.
pressão seja efetivada, é necessário que haja um trei-
O emprego de cateteres de longa permanência namento adequado dos profissionais de saúde, jun-
pode ser uma alternativa no tratamento de úlceras em tamente com o apoio financeiro das instituições que
pacientes incontinentes. A confecção de colostomia disponibilizem treinamento e materiais adequados.
como medida adjunta do tratamento pode ser neces-
Ainda, com relação aos aspectos financeiros, cita-
sária, porém sua indicação deve ser precisa4,20,34.
se o emprego de dispositivos redistribuidores da pres-
A implementação do conjunto de práticas profi- são, que apresentam alto custo para as instituições,
láticas pode diminuir significativamente a incidência porém a eficácia desses produtos faz com que esse
de úlceras de pressão. Entretanto, ainda é incerta a investimento possa reduzir o tempo de internamento
real eficácia dessas medidas em pacientes de alto risco e reflita positivamente na qualidade dos serviços de
e mais estudos ainda devem ser realizados para com- saúde prestados.
provar essa hipótese.

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CONCLUSÃO
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ARTIGO de atualização

Influência do medicamento
homeopático na imunossenescência
Influence of homeopathic medicine in the immunosenescence

Carol Rodrigues Kojo1, Clineu Mello Almada Filho1

RESUMO Recebido em 17/1/10


Aceito em 7/4/10
Objetivo: Verificar por meio de revisão da literatura a evidência de efeito do medicamento homeopático nos me-
canismos da imunossenescência. Métodos: Realizou-se a busca de artigos baseados em estudos in vitro nas
bases de dados Medline (PubMed), Lilacs e Cochrane dos últimos 10 anos. A pesquisa utilizou revistas científicas
de língua inglesa, francesa e espanhola. Resultados: Foram identificados cinco artigos; todos evidenciavam ação
imunomoduladora e/ou imunoestimulante e anti-inflamatória em alguma fase da resposta imune. Conclusão:
Com base nos resultados animadores das investigações experimentais, são recomendados estudos clínicos com
a população de idosos para a avaliação de efeito do medicamento homeopático no processo do envelhecimento e
nas doenças que apresentam um desequilíbrio na resposta imunológica.
Palavras-chave: Homeopatia, envelhecimento, interleucinas, linfócitos, macrófagos.

ABSTRACT
Objective: Review of the literature to evidence homeopathic medicine’s effects on immunosenescence mecha-
nisms. Methods: The review was based on Medline (PubMed), Lilacs e Cochrane in articles in vitro, of last ten
years. The research utilized scientific journal from English, French and Spanish languages. Results: Were found
five articles, all of then demonstrated some evidence of immunomodulator effect, showed an enhanced in immune
response and an important role in inflammatory processes of homeopathic medicines. Conclusion: Bases on the
positive results of in vitro search clinical search with specific population of elderly to asses the effect of homeopa-
thic medicine’s in the aging process and in the diseases with imbalance in immune response are recommend.
Keywords: Homeopathy, aging, interleukins, lymphocytes, macrophages.

1
Disciplina de Geriatria
e Gerontologia da
Escola Paulista de
Medicina, Universidade
Endereço para correspondência: Carol Rodrigues Kojo • Rua Henrique Lamberti, 226 – Federal de São Paulo
18031-020 – Sorocaba, SP • Tel.: 55 (15) 3233-6279 • E-mail: carolkojo@bol.com.br (Unifesp/EPM).
Influência do medicamento homeopático na imunossenescência 45

INTRODUÇÃO Também há controvérsias quanto ao número de


células NK (natural killers) presentes no sangue de
Envelhecer é a soma de fatores intrínsecos e extrín- indivíduos idosos; enquanto certos estudos apontam
secos, estes últimos potencialmente modificáveis. As para uma diminuição, outros estudos apontam para a
teorias sobre a senescência metabólica, imunológica, manutenção8,9.
neuroendócrina e oxidativa admitem que essa série de
eventos que concorrem para a deterioração progressiva
das células, dos órgãos e das funções tem como prin- MÉTODOS
cípio básico a informação genética transmitida que
ocorre de forma distinta entre as espécies, bem como A revisão da literatura baseou-se em dados pesqui-
entre os indivíduos1; tal conceito vem ao encontro das sados na Medline (PubMed), Lilacs e Cochrane, de
bases da homeopatia no que se refere ao tratamento artigos in vitro dos últimos 10 anos e em revistas cien-
do terreno constitucional adquirido, da medicina in- tíficas de língua inglesa, francesa e espanhola. Foram
dividualizada e profundamente personalizada. Assim, utilizadas as seguintes palavras-chave: homeopatia,
amplia-se a noção de que a esperança de vida não é envelhecimento e imunossenescência.
essencialmente determinada pelas doenças1.
A imunossenescência é caracterizada pela desregu- RESULTADOS
lação e pelo declínio das funções do sistema imuno-
lógico observados em idosos; essas alterações podem
Foram identificados cinco artigos10-15 e todos eviden-
estar associadas a qualquer etapa do desenvolvimento
da resposta imune2,3. ciaram ação imunomoduladora e/ou imunoestimu-
lante, além de anti-inflamatória em alguma fase da
Durante o envelhecimento, observa-se linfope- resposta imune.
nia progressiva de células T, tanto de CD4+ como
de CD8+, causada pelo decréscimo de precursores Efeito na imunomodulação
na medula óssea em virtude da redução do potencial
proliferativo e do aumento de apoptose, que podem Um estudo sobre o efeito imunomodulador do me-
estar relacionados com um aumento na expressão de dicamento homeopático Traumeel (complexo com
CD95 e na produção de TNF-α ou, simplesmente, 12 ingredientes biológicos e duas substâncias mine-
ao aumento da suscetibilidade de CD4+ e CD8+ de rais: Arnica montana 2D, Chamomilla recutita 3D,
idosos a apoptose induzida por essa citocina; contu- Calendula officinalis 2D, Symphytum officinale 8D,
do, não está claro se existe algum impacto referente Hamamelis virginiana 2D, Bellis perennis 2D, Achil-
ao aumento da apoptose de células T no repertório lea millefolium 3D, Echinacea angustifolia 2D, Atro-
específico de linfócitos4. pa belladonna 4D, Echinacea purpurea 2D, Aconitum
Essa diminuição na resposta imunológica do idoso napellus 3D, Hypericum perforatum 2D, Mercurius
deve-se à diminuição na produção de IL-2 por altera- solubilis 8D, Hepar sulfuris 8D. Excipiente: c. b. p.
ções nos mecanismos de transdução de sinais mitogê- 1 comprimido) na função dos leucócitos humanos,
nicos vindos do receptor do linfócito T5. especificamente a secreção das principais citocinas
pró-inflamatórias IL-1β, TNF-α E IL-8 de células in-
A produção de citocinas pró-inflamatórias, como testinais imunoativadas e em repouso por um período
IL-1β, IL-6, IL-8 e TNF-α, está aumentada nos ido- de 24-72h. Traumeel inibiu a secreção das três citoci-
sos, refletindo uma alteração no padrão de regulação nas tanto em células em repouso como em imunoati-
dessas citocinas6. Essa mudança antigênica é a respon- vadas. A secreção de IL-β foi reduzida em 70% tanto
sável pelo estado pró-inflamatório existente. nas células em repouso como nas imunoativadas.
Existem ainda as células dendríticas foliculares A secreção de TNF-α foi reduzida em 65% e 54%,
que, durante o envelhecimento, parecem perder a ca- respectivamente, e a secreção de IL-8 foi reduzida em
pacidade de estimular linfócitos B. Além de ter menor 50% em ambas as células. O efeito demonstrou-se ser
capacidade de captação e de retenção de imunocom- inverso em relação à dose; máxima inibição (30%-
plexos, a diminuição no número de receptores para 60%) foi vista com diluições de 10-3-10-6. Esses acha-
a cadeia FC gama de anticorpos resulta em menor dos sugerem que Traumeel não inibe a função das
capacidade de estimular a produção de novos centros células imunes por exercer um efeito tóxico. De fato,
germinativos e, consequentemente, menor resposta o medicamento não afeta a proliferação das células T
humoral a antígenos recém-encontrados7. e dos monócitos10.
46 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):44-9

O estudo de Cheppail Ramachandran et al.11 in- Aconitum napellus D11, Arsenicum album D19,
vestiga a influência das duas preparações homeopáti- Lachesis muta D18), desenvolvido na Argentina e
cas imunomoduladoras complexas – Phase 6, utilizada produzido de acordo com o método homeopático
na prática clínica como estimulador não específico hahnemanniano no Brasil, em macrófagos, realizado
do sistema imune (Taraxacum officinalis 1X, Gallium por Mariana R. Piemonte e Dorly de Freitas Buchi,
aparine 1X, 3X, Thuja occidentalis 3X, Aloe vera 3X, demonstrou um efeito imumoestimulante tanto in vi-
6X, 12X, 30X, Phytolocca decandra 3X, 11X, 19X, tro como in vivo em macrófagos de camundongos13.
27X, Euphorbium officinarum 6X, Zincum metalli-
cum 6X, Arsenicum album 6X, 14X, 22X, 30X, Vis- Foram utilizados camundongos, os quais foram
cum album 8X, 16X, 24X, Conium maculatum 30X, distribuídos em três grupos: grupo tratado, grupo
Histaminum hydrochloricum 200X, Formicum acidum controle e grupo controle da enzima. In vitro, os ma-
200X), e Flu Terminator, para a influenza e doenças crófagos foram obtidos dos camundongos tratados e
virais (Gelsemium 3X, Zincum gluconium 3X, Zincum os macrófagos do grupo controle foram obtidos do
metallicum 3X, Aconitum napellus 4X, Euparotorium grupo não tratado. Entre os dois grupos em estudo,
perfoliatum 4X, Sulphur 4X, Phosphorus 5X, Asclepias os seguintes parâmetros funcionais foram utilizados:
vincentoxicum 6X, Influenzinum 12X, Anas barbariae mobilização celular, viabilidade celular, capacidade de
hepati e Cordis extractum 200kb) – sobre as culturas de adesão, de espraiamento, atividade endocítica, produ-
leucócitos humanos e sua expressão nas citocinas11. ção de óxido nítrico, produção de peróxido de hidrogê-
Phase 6 induziu a produção de TNF-α e INF-γ, nio in vivo, atividade das enzimas NAD(P)H oxidase,
porém as interleucinas IL-1, IL-4 e IL-10 não sofre- Mg++ ATPase e fosfatase ácida in vitro. Observou-se
ram influência. Flu Terminator induziu a produção que a viabilidade das células presentes na cavidade pe-
de IL-10 e TNF-α, aparentemente de uma manei- ritoneal não é afetada, como também a taxa de infec-
ra dose-dependente, porém não induziu a síntese de ção dos macrófagos por formas tripomastigotas de L.
IL-4 e INF-γ. Os medicamentos estudados refletiram amazonensis não é alterada de maneira significativa e a
ter preferência por uma via biológica (TH1) específica produção de H2O2 não sofreu alteração.
na ativação das citocinas pró-inflamatórias; nenhuma In vitro, foram observadas diminuição da produ-
das citocinas associadas à via TH2 se mostrou eleva- ção do TNF-α e alteração da distribuição das cadeias
da. Phase 6 e Flu Terminator produziram em altas do- β1 e α5 das integrinas, dos filamentos de actina e dos
ses uma resposta mais fraca do que em doses baixas.
receptores para a porção Fc das imunoglobulinas,
Conclui-se que os dois medicamentos são capazes de
os quais passaram a se apresentar de forma agrupa-
melhorar a resposta humana imunológica; Flu Ter-
da nas regiões periféricas dos macrófagos; as enzimas
minator teria um papel na ativação e modulação da
NAD(P)H oxidase, Mg++ ATPase e AcPase encontra-
resposta imune associada a infecções11.
ram-se mais intensas nos macrófagos tratados com o
Vicenzo Fimiani12 et al., em seu estudo, demons- medicamento homeopático Canova in vitro e houve
tram o efeito imunomodulador do medicamento ho- estimulação da produção de óxido nítrico na presença
meopático complexo Engystol-N; nas potências de ou não de diferentes parasitas intracelulares eviden-
D4 e D8 (composto por Vincetoxicum hirundinaria ciando um processo de ativação celular.
e sulphur), observou-se na primeira hora um estímulo
à produção de oxigênio, porém, superada pelo poder Um dos reativos intermediários de nitrogênio
inibitório após seis horas da infusão do medicamento produzido por macrófagos ativados é o óxido nítri-
ocorreu a inibição da produção do ânion superóxido co (NO), uma das principais moléculas efetoras da
pelos neutrófilos de sangue venoso humano13. atividade microbicida e citotóxica contra parasitas
intra e extracelulares, bem como células tumorais. A
Foram demonstrados os seguintes efeitos nas cé-
produção de óxido nítrico pode ser considerada uma
lulas imunocompetentes: aumento da fagocitose e
característica típica de macrófagos ativados. TNF-α
nenhum efeito na transformação das células T, na
em baixas concentrações ativa fagócitos mononuclea-
produção de IgG, concentração de hemoglobina, no
número de células vermelhas e brancas, na fosfatase e res a produzir citocinas, como IL-1, IL-6 e o próprio
nas transaminases13. TNF, e aumenta a expressão de moléculas MHC de
classe I. Mas a produção excessiva de TNF está envol-
vida no desenvolvimento de numerosas condições pa-
Efeito na imunoestimulação
tológicas. Quando ativados, os macrófagos produzem
O estudo dos efeitos do medicamento homeopático enzimas de espécies reativas intermediárias de oxigê-
Canova (Thuja occidentalis D19, Bryonia alba D18, nio e enzimas lisossomais, entre elas a fosfatase ácida.
Influência do medicamento homeopático na imunossenescência 47

Os macrófagos ativados necessitam de mais nutrientes fagocítica pelos leucócitos pode ser útil para limpar
e entre esses nutrientes encontram-se os íons. A en- os complexos imunossolúveis produzidos durante a
trada de íons na célula é proporcionada por bombas resposta imune, sustentada contra os próprios antí-
iônicas presentes nas membranas. A Mg++ ATPase, genos, os quais causam a injúria inflamatória crônica
enzima presente na membrana plasmática, permite a dos tecidos. Por outro lado, a inibição da proliferação
entrada de íon Mg++ na célula13. de INF-γ pela Saussurea lappa pode contribuir para
suprimir as reações inflamatórias imunes mediadas,
Para o teste in vitro, o medicamento Canova (MC)
possivelmente, por meio da via das citocinas. Então,
foi adicionado nas concentrações de 20% a 40% no
após esses achados, Saussurea lappa poderia ser consi-
meio de cultura contendo macrófagos do peritônio
derada como potencial candidata à terapia de suporte
de ratos Balb/c., 24 horas depois os macrófagos fo-
de doenças autoimunes e inflamatórias crônicas15.
ram infectados com Leishmania amastigota. O efeito
da atividade leishmanicida sobre os macrófagos foi
avaliado em 24 e 48 horas mediante determinação DISCUSSÃO
do índice de infecção à medida da produção do óxido
nítrico (NO). Já é bem estabelecido que em ratos, em O estudo de Oberbaum sobre o Traumeel, um medi-
macrófagos ativados, o aumento da atividade leishma- camento utilizado há 80 anos na prática clínica, con-
nicida está correlacionado com a produção aumenta- firma o seu efeito anti-inflamatório, abrindo espaço
da de óxido nítrico. In vitro, os resultados mostraram para novos estudos comparativos sobre o efeito de di-
que o MC na concentração de 40% reduziu o índice ferentes escalas utilizadas dentro da homeopatia, uma
de infecção e induziu a produção de NO, o que suge- vez que esse trabalho foi realizado com a escala kor-
re que o efeito inibitório no índice de infecção talvez sakoviana e, de acordo com essa escala, a resposta do
seja mediado pelo NO. Esse aumento como resposta medicamento a diferentes potências foi sobre a forma
ao tratamento na produção de NO sugere que o me- de sino invertido; significa que Traumeel em altas ou
dicamento Canova, talvez, atue como um ativador de em baixas diluições falha ao exercer o efeito inibitório
macrófagos, e não em virtude de um efeito direto de na secreção de citocinas.
uma ação tóxica contra a Leishamnia14.
O tempo do experimento é um fator a se discutir.
Outro estudo analisou os efeitos da Saussurea lappa Quanto tempo dura a energia vital: 24h, 48h, 72h?
preparada de acordo com os princípios homeopáticos O princípio do medicamento homeopático é agir na
sobre os parâmetros imunológicos como a atividade energia vital, logo teriam as células coletadas ainda
fagocítica do leucócitos, proliferação linfocitária e energia vital própria para reagir com o medicamento
INF-γ na indução da mitogênese nas células mono- homeopático?
nucleares do sangue periférico de cabras in vitro15.
O efeito biológico das altas diluições do medica-
Os resultados obtidos demonstraram que todas as mento homeopático, atualmente, procura a explica-
diluições testadas (D4, D5, D6) de Saussurea lappa ção no campo eletromagnético e na física quântica.
em etanol exercem efeito estimulante na atividade
fagocítica, nos leucócitos, de maneira dose-depen- Del Giudice e Preparata especulam, por meio de
dente. A dose de 10 µL de cada diluição aumentou modelo matemático, que o campo eletromagnético
sensivelmente a atividade fagocítica, enquanto outras natural de uma substância, em solução, poderia gerar
doses testadas somente causaram um frágil efeito de no solvente certos domínios de coerência, os quais se-
estímulo. O aumento com a dose 10 µl teve uma di- riam específicos para a referida substância, com esta-
ferença estaticamente significante comparada a cada bilidade espacial e temporal. Assim, a organização da
diluição; a estimulação máxima foi observada com a água seria um processo dinâmico associado a intera-
diluição D8. Diferentes doses (10 µl, 2 µl, 1 µl, 0,5 ções eletromagnéticas de baixíssima intensidade: mo-
µl) de todas as diluições testadas (D4, D6, D8) de léculas com frequências eletromagnéticas semelhantes
Saussurea lappa, em solução estéril a 0,9% de NaCL, poderiam atrair-se num processo autocatalítico, e não
inibiram a proliferação de linfócitos. Efeito inibitório num processo aleatório. Del Giudice aclara que tal es-
máximo foi observado com a dose de 2 µl. Similar- peculação não explica o fenômeno das ultradiluições,
mente, Saussurea lappa suprimiu a atividade mitogê- mas sugere uma nova direção para estudos futuros16.
nica pela secreção de INF-γ de células mononucleares Os resultados experimentais recentes da mecâni-
periféricas de maneira dose-dependente. A conclusão ca quântica fornecem um forte indício da presença
desses achados foi de que o aumento da atividade de forças conceituais imateriais que não observam a
48 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):44-9

parametrização científica da matéria na acepção po- Os trabalhos levantados foram todos realizados
sitivista, levando a considerar a existência de forças com a diluição korsakoviana, medicamentos com-
imateriais agindo sobre a matéria e produzindo nela plexos, experimentos realizados em células in vitro de
perturbações condicionantes17,18. Vindo ao encontro humanos, ratos e bode. Se o medicamento homeo­
dos escritos de Hahnemann, de 1810, no livro Or- pático interfere na energia vital, como poderíamos
ganon, da medicina racional, no parágrafo 269, so- afirmar que in vitro ainda teríamos energia vital para
bre a ação do medicamento homeopático: “A arte de reagir com o medicamento?
curar homeopática, mediante um procedimento que lhe
O estudo com o medicamento Canova® torna
é próprio e nunca antes tentado, desenvolve, para seus
difícil classificá-lo como um imunomodulador clás-
fins específicos, os poderes medicamentosos internos e não
sico, pois demonstra ter um efeito imunomodulador
materiais das substâncias em estado cru, em grau até
e imunoestimulante e interfere em outros processos
então jamais observado, pelo qual todas elas se tornam
inflamatórios. Mais pesquisas necessitam ser feitas
incomensuravelmente penetrantes, eficazes e benéficas,
para expandir as possibilidades das aplicações do me-
mesmo aquelas que, no estado cru, não demonstram a
dicamento.
menor ação medicamentosa sobre o organismo humano.
Essa notável mudança nas qualidades dos corpos natu- Revelant20 sugere a utilização de um equipamen-
rais, mediante ação mecânica em suas menores partes to “FRAS Free Radical Analytical System”, que em
por atrito e sucção (partes estas que, por sua vez, são poucos minutos dá o perfil de estresse oxidativo em
separadas umas das outras, através de uma substância pessoas da terceira idade, com avaliação prévia dos
indiferente seca ou líquida), desenvolve os poderes dinâ- radicais livres, se o tratamento homeopático prescrito
micos latentes e, até então, despercebidos, ocultos, como segundo o esquema proposto está dando resultados e
que adormecidos, que afetam especialmente o princípio permite restabelecer os níveis normais, ou mais baixos
vital, influenciando o bem-estar da vida animal”19. que a medida prévia, e se a quantidade de radicais
livres presentes está relacionada com a qualidade de
A teoria das ondas eletromagnéticas permite expli-
vida e a velocidade de envelhecimento, apesar de o
car por que algumas dinamizações de um dado prin-
paciente manter os outros parâmetros de sua vida,
cípio ativo funcionam mais do que outras, ou mesmo
dieta e atividade física em situação normal. No caso,
como funciona o conceito de remédio único, bem
como as famílias de remédios semelhantes. As dina- a única variável seria o medicamento homeopático20.
mizações levam a um grau mais profundo de penetra- Na literatura existe o trabalho baseado em relatos
ção e a uma maior coerência, a despeito da existência de casos de Barros-St. Pasteur (1994) com a popu-
de quaisquer estruturas químicas, ou mesmo físicas, lação de idosos, no qual são tratados com um ciclo
no sentido clássico16. de seis medicamentos homeopáticos (Ambra grisea,
Um aspecto intrigante da funcionalidade da ho- Baryta carbonica, Suphur, Arsenicum album, Phospho-
meopatia é a ressonância entre regiões específicas, ou rus, Lycopodium clavatum, todos na CH 1000), de
sistemas do corpo com grupos específicos de infor- maneira contínua e intercalada, três vezes ao dia, por
mação, e um soluto apropriado. Acredita-se que isso cinco dias, com um período de descanso de dois dias
significa que o corpo biológico também é quântico, antes de começar o próximo medicamento na mesma
isto é, é proposta a existência de níveis quânticos para potência. Esse ciclo de medicamentos é repetido con-
elementos biológicos. Seria essa a explicação para os tinuadamente para o resto da vida do paciente. Não
resultados obtidos nas diluições testadas (D4, D5, há relato do número de pacientes nem a porcenta-
D6) de Saussurea lappa, em etanol, que exerce um gem de quantos se mantiveram em boa evolução e de
efeito estimulante na atividade fagocítica nos leucó- qual mecanismo os mantém em bom estado. Somen-
citos de maneira dose-dependente. A dose de 10 µL te é descrito que eles, como se observa em exames,
de cada diluição aumentou sensivelmente a atividade mantêm a integridade física, memória e capacidade
fagocítica, enquanto outras doses testadas somente de discernimento excelentes. Também é descrita uma
causaram um frágil efeito de estímulo15. paciente nascida em 1900 e que se mantém bem em
tratamento por 25 anos com homeopatia21.
Os medicamentos homeopáticos complexos te-
riam ação específica em cada resposta biológica e tra- Para driblar o viés da depressão como causa da di-
balhariam sem interferência dos outros medicamentos minuição da resposta imune observada em idosos, en-
homeopáticos na fórmula complexista, por apresentar contra-se na literatura um estudo de revisão de série de
ressonâncias distintas nos mecanismos biológicos da casos que demonstra evidências da ação do medicamen-
resposta imune? to homeopático na remissão do quadro depressivo22.
Influência do medicamento homeopático na imunossenescência 49

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imune-modulatory homeopathic preparations. J Alter Comple-
em alguma fase da resposta imune, e um trabalho além ment Med. 2007;13(4):403-7.
dessa ação demonstrou uma ação anti-inflamatória. 12. Fimiani V, Cavallaro A, Ainis T, Bottari C. Immunomodulatory
Os medicamentos homeopáticos complexos te- effect of the homeopathic drug Engystol-N on some activities of
isolated human leuckocytes and in whole blood. Immunopharma-
riam ação específica em cada via da resposta imune. col Immunotoxicol. 2000;22(1):103-15.
As respostas obtidas no sistema imune são diferen- 13. Piemonte MR, Buchi DF. Analysis of IL-2, INF-g and TNF-α pro-
duction, a5 b1 integrins and actin filaments distribution in pe-
tes em intensidade de acordo com as diversas diluições ritoneal mouse macrophages with homeopathic medicament.
empregadas do mesmo medicamento homeopático. J Submicrosc Cytol Pathol. 2002;34(3):255-63.
14. Pereira WKV, Lonardonib MVC, Grespana R, Caparroz-Assefa SM,
Cumana RKN, Bersani-Amadoa CA. Immunomodulatory effect of
REFERÊNCIAS Canova medication on experimental Leishmania amazonensis in-
fection. J Infect 2005;51:157-64.
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interferon-gamma (INF-gamma). Pak J Pharm Sci. 2007;20(3):175-9.
2. Ptak W, Szcepanik M. Immunogerontology-aging of the immune
system and its cause. Przegl. 1998;55(7-8):397-9. 16. Bonamin LV. A homeopatia sob a ótica dos novos paradigmas da
ciência. Revista de Homeopatia. 2001;66(1):27-32.
3. Trail KN, Schönitzer D, Jüngens G, Böck G, Pfeilschifter R, Hil-
chenbach M, et al. Age-related changes in lymphocyte subset 17. Del Giudice E. Is the “memory of water” a physical impossibility?
proportions, surface diferentiation antigen density and plasma In: Pongratz W, Endler PC, Schulte J, editors. Ultra high dilution –
membrane fluidity: aplication of the eurage senieur protocol ad- Physilogy and physics. Dordrecht: Klewwer Academic Publishers;
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1996;11(9):18-25. Psiq Clín. 2008;35(2):74-8.
AGENDA DE EVENTOS
Esta seção da revista está aberta para a divulgação de eventos nacionais e internacionais. O material pode ser enviado
à coordenadora Sandra Santana, na Segmento Farma Editores, Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – Campo
Belo, São Paulo – SP, ou por e-mail: sandrasantana@segmentofarma.com.br

2010

XVII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia I Congreso Internacional de Residencias y Servicios para
Realização: SBGG Personas Mayores
Data: 28 a 31 de julho de 2010 Realização: CONAGER
Cidade: Belo Horizonte Data: 14 a 16 de outubro de 2010
Local: Expo Minas Belo Horizonte, MG Cidade: Veracruz
Informações: http://www.cbgg2010.com.br Local: México
Informações: http://www.conager.com.mx
XII Fórum Brasileiro de Neuropsiquiatria Geriátrica
Realização: Associação Brasileira de Neuropsiquiatria XII Jornada da SBGG-RS
Geriátrica Realização: SBGG-RS
Data: 17 a 18 de setembro de 2010 Data: 15 a 16 de outubro de 2010
Cidade: Curitiba Cidade: Porto Alegre
Local: Associação Médica do Paraná – R. Cândido Xavier, 575 Local: AMRIGS – Associação Médica do RGS
Informações e inscrições: http://www.abnpg.com
Seminario Internacional: “Personas Mayores, ciudadanía y
IPA 2010 International Meeting empoderamiento”
Realização: International Psychogeriatric Association Realização: Pontificia Universidad Católica de Chile e la Red
Data: 26 a 29 de setembro de 2010 Internacional de estudios sobre la Edad, la Ciudadanía y la
Cidade: Santiago de Compostela integración Social – REIACTIS
Local: Espanha Data: 26 a 27 de outubro de 2010
Informações: http://www.ipa2010spain.com Cidade: Santiago
Local: Chile
4° Congresso Internacional de Cuidados Paliativos Informações: http://www.reiactis.org

Realização: Academia Nacional de Cuidados Paliativos


Data: 6 a 9 de outubro de 2010
Cidade: São Paulo
Local: Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês
E-mail: contato@luminaeventos.com.br.
Informações: www.paliativo.org.br.
Instruções aos autores

Informações gerais Tipos de artigos publicados


A revista Geriatria & Gerontologia – G&G é a publicação científica tri- A revista G&G aceita a submissão de:
mestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG, Editoriais e Comentários. Esta seção destina-se à publicação de
para veicular artigos que contribuam para a promoção do conheci- artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autori-
mento na área de Geriatria e Gerontologia, em suas diversas subá- dades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relaciona-
reas e interfaces. A G&G aceita submissão de artigos em português, dos a conteúdos dos artigos publicados na revista.
inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão Artigos Originais. Contribuições destinadas à divulgação de resul-
impressa, distribuída a todos os associados da SBGG, e em versão tados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o
eletrônica acessada pelo site: www.sbgg.org.br. alcance e o conhecimento gerado para a área da pesquisa. Devem
ter de 2.000 a 4.000 palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras
Instruções para o envio dos manuscritos [máximo de cinco]) e referências [máximo de 30].
Os trabalhos devem ser enviados por via eletrônica para o endereço: Artigos de Revisão. Avaliação crítica sistematizada da literatura so-
revista sbgg@terra.com.br; sandrasantana@segmentofarma.com.br, ou bre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa
por correio, em CD ou DVD, para: Segmento Farma / Geriatria & Geron- dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos,
tologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela li-
O autor para correspondência receberá mensagem acusando recebi- nha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os
mento do trabalho; caso isto não aconteça até sete dias úteis do en- procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de
vio, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor deverá busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e
enviar, por via postal, uma declaração de que o manuscrito está sendo limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5.000 palavras e o
submetido apenas à revista Geriatria & Gerontologia e a concordân- número máximo de referências bibliográficas de 50.
Comunicações Breves. São artigos resumidos destinados à divul-
cia com a cessão de direitos autorais.
gação de resultados preliminares de pesquisa; resultados de estu-
Avaliação dos manuscritos por dos que envolvam metodologia de pequena complexidade; hipóteses
pareceristas (peer review) inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Devem
Os manuscritos que atenderem à política editorial e às Instruções aos ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências
autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito [máximo de dez]). Deve ter a estrutura de um artigo original.
científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos serão Relatos de Caso. São manuscritos relatando casos clínicos inédi-
encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida compe- tos e interessantes. Devem observar a estrutura de resumo com In-
tência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retornar trodução, Relato do caso (com descrição do paciente, resultados de
aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de exames clí­nicos, seguimento, diagnóstico), Discussão (com dados de
semelhança na literatura) e Conclusão. Devem conter a bibliografia
editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manus-
consultada e não devem ter mais de 1.500 palavras e 15 referências.
critos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicita-
Artigos Especiais. São manuscritos entendidos pelos editores
dos pelos respectivos autores no prazo de até três meses.
como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma
Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proi-
das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não ha-
bida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos,
vendo limite de tamanho ou exigências prévias quanto às referências
como a tradução para outro idioma.
bibliográficas.
Pesquisas envolvendo seres humanos Cartas ao Editor. Seção destinada à publicação de comentários,
Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de
acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham 1.000 palavras e até cinco referências.
sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de Orientações para a preparação dos manuscritos
origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows [(inclu-
comitê de ética em pesquisa credenciado junto à Comissão Nacional sive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no
de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá mínimo 300 dpi de resolução].
constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação Devem ser apresentados na sequência:
do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Hel- a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90
sinki (2000), além do atendimento a legislações específicas do país no caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (in-
qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas cluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores
devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados
de um dos autores para correspondência, incluindo o nome, endereço, Referências bibliográficas
telefone(s), fax e e-mail. As referências devem ser listadas ao final do artigo, numeradas
Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas
português e em inglês (abstract), entre 150 e 250 palavras. Para a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar:
os artigos originais e comunicações breves, os resumos de- “Uniform Require­ments for Manuscripts Submitted to Biomedical
vem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e Journals: Writing and Editing for Medical Publication” [http://www.
conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos icmje.org]). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os
pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas in- autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores,
formações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar seguido de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados
no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraí- deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação
dos do vocabulário “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS – das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencio-
www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, nados no texto do artigo são de responsabili­dade do autor.
e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/
mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encon- Livros
trados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscri- Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th
to, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. ed. New York: McGraw Hill; 2004.
Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de
Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos Capítulos de livros
científicos: Introdução. Deve conter revisão da literatura atualizada e Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do
pertinente ao tema, adequada à apresentação do problema, e que idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de
destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.
estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do Artigos de periódicos
conhecimento (estado da arte) que serão abordadas no artigo. Mé- Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med.
todos. Devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos 1981;135 (2):482-91.
adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção;
Dissertações e teses
instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resul-
Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacien-
tados. Devem se limitar a des­crever os resultados encontrados sem
tes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São
incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resul-
Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.
tados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de
forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão. Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encon-
Deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos tros, seminários e outros
à luz de outras observações já registradas na literatura. É importante Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E
assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the
indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prá- 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related
tica profissional. Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract
Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em pará- O1-05-05.
grafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos
que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. Artigos em periódicos eletrônicos
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para cur-
Conflito de interesses so de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em
Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn
vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, par-
ticipação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos co- Textos em formato eletrônico
merciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:
relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado
empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envol- em 05/Fev/2004).
vidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstân- Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available
cias que poderiam ser consideradas como capazes de influenciar a from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em:
interpretação dos resultados. Jun 5 1996.
Instructions for authors

Background research results considering the theme relevance, its range and the
Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) – knowl­edge generated for research purposes. Original articles should
G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures
Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology [not exceed­ing 5]) and references [not exceeding 30].
Society) aim­ing the publication of articles on Geriatrics and Gerontol- Review Articles. Critical and systematic evaluation of literature on
ogy, including their several subareas and interfaces. G&G accepts a certain subject containing a comparative review of papers in that
article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print area, discussing methodological limitations and ranges, indicating
content is available for SBGG members, and the online content can be further study needs for that research area, and containing conclu-
accessed at: www.sbgg.org.br. sions. The proceedings adopted for the review, as well as search,
selection, and article evaluation strategies should be described, in-
Instructions for Manuscript Sending forming the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words
Papers should be sent either by e-mail to: revistasbbg@terra.com.br; and 50 references.
sandrasantana@segmentofarma.com.br or by mail in CD or DVD to: Brief communications. These manuscripts are short articles aiming
Segmento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo at release of preliminary results of research; study results involving
Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. The corresponding author will re- low complexity methodology; relevant unpublished hypotheses in Ge-
ceive message acknowledging the paper receipt; should this do not riatrics and Gerontology. They should not exceed 800 to 1,600 words
occur up to seven working days from the sending, the author should (tables, figures and references [not exceeding 10] excluded). The
get in touch with the journal. Concurrently, the author should send structure should follow what is requested in an original article.
by mail a declaration stat­ing that the manuscript is being submitted Case Reports. These manuscripts report unpublished and interesting
only to Geriatria & Gerontologia and that he(she) agrees with the clinical cases. They should follow an abstract structure with Introduc-
cession of copyright. tion, Case Report (describing the patient, clinical examination results,
follow-up, diagnosis), Discussion (showing similar data in literature),
Manuscript Evaluation by Peer Review
and Conclusion. They should contain the bibliography consulted and
Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for
should not exceed 1,500 words and 15 references.
authors will be referred to editors who will evaluate the their scien-
Letters to the Editor. Section designed for publication of comments,
tific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers
discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words
with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might
and 5 references.
return for authors’ approval of in case of changes made for editorial
and standardization purposes, according to the journal style. Manu- Instructions for Manuscript Preparation
scripts not accepted will not be returned, unless they are requested Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables);
by the respective authors within three months. fig­ures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi
Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction, resolution].
even partial, in other journals or translation into another language is Manuscripts should be prepared according to the sequence below:
unauthorized. a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters;
b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Por-
Research Involving Human Subjects
tuguese and English; c) authors’ and coauthors’ complete name, indicat-
Articles related to research involving human subjects should indicate
ing institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author
whether the procedures followed were in accordance with the ethical
data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail.
standards of the responsible committee on human experimentation
Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in
(in­stitutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de
Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words.
Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National
For original articles and brief communications, abstracts should
Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compli-
be structured to include objective, methods, results, and conclusions.
ance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000)
For other man­uscript categories, abstract models could be narrative,
shall appear in the last paragraph of Methods section, as well as
but rather carrying the same information. Abstracts should not contain
fulfillment of specific law requirements of the nation the research
quotations and abbreviations. At least three and at most six key words
was performed in. The subjects included in the research should have
should accompany the Abstracts, being extracted from the vocabulary
signed a Free and Informed Consent Term.
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS – www.bireme.br) when ac-
Categories of Manuscripts companying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Head-
G&G accepts the following submissions: ings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/) when accompanying
Original Articles. Contributions aiming at release of unpublished abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manu-
script theme, words or expressions of known use might be indicated. Examples of reference style:
Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure
of a scientific text: Introduction. The introduction should contain updated Books
literature review, being appropriate to the theme, suitable to the prob- Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th
lem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction ed. New York: McGraw Hill; 2004.
should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its
importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Book chapters
Methods. This section should have clear and brief description of proceed- Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do
ings adopted; sampling; data source and selection criteria; measurement idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de
instruments; statistical analysis, among other features. Results. This sec- Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.
tion should be limited to describing the results found without including
interpretation and comparison. Whenever possible, results should be Journal articles
displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and hav- Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med.
ing statistical analysis. Discussion. The discussion should properly and 1981;135 (2):482-91.
objectively explore the results, discussed in the light of further observa-
tion already registered in literature. It is important to point out the study Essays and Theses
limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes
avenues for new research or implications for professional practice. idosos portadores de doença de Chagas [dissertação]. São Paulo:
Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no Universidade Federal da SBGG; 2003.
more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that ef-
fectively contributed to the paper. Papers introduced in congresses, symposiums, meetings,
seminars etc.
Conflict of Interest Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E
Conflict of interest includes: a) financial conflict, such as employment, as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the
professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent
9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related
shar­ing related to marketed products or technology involved in the manu­
Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract
script; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers
O1-05-05.
in companies connected to marketed products or technology involved
in the manuscript; c) potential conflict: situations or circumstances that
Articles from electronic journals
could be considered capable of influencing the result interpretation.
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para
References curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado
Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn
they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v. Uni-
form Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedic­al Journals. Texts in electronic format
Writing and Editing for Medical Publication [http://www.icmje.org]). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:
List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado
The titles of journals should be abbreviated according to style used in em 05/Fev/2004).
MedLine. Authors are responsible for the accuracy and completeness Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from
of references consulted and cited in the text. URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996.

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