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ADUBAÇÃO

PROFISSIONAL
PARA JARDINS
-PRIMEIROS PASSOS-

GABRIEL KEHDI
ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

ADUBAÇÃO
PROFISSIONAL
PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

Livro Digital:

ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS


PASSOS. Gabriel Kehdi. 40p. 2021.
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

CONSIDERAÇÕES SOBRE DIREITOS


AUTORAIS
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AUTOR. SEU NÃO CUMPRIMENTO INCORRE EM VIOLAÇÃO DE
DIREITOS AUTORAIS CONFORME PREVISTO NA LEI FEDERAL Nº 9.610,
DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

PARA QUEM É ESSE


MATERIAL?
Esse livro é um ponto de partida para aquela ou aquele
profissional do paisagismo e jardinagem que deseja aprofundar
seu conhecimento nas variáveis do jardim que proporcionam
uma planta saudável.

Se você fica aflita ou aflito por conta de um jardim que começou


a dar problemas depois de implantado, se você cansou de sentir
receio sobre adubação e quer começar a entender essa disciplina
de uma vez por todas, esse conteúdo é para você. Se você
entende que há muito na agronomia que determina um
entendimento amplo e sólido sobre o cultivo das plantas no
jardim, você começou a enxergar o cultivo das plantas de forma
profissional.

É aqui que a gente começa. Com esse material você já vai ser
capaz de começar a fazer uma excelente adubação para a maioria
das plantas no jardim.
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FOI UM LONGO CAMINHO


ATÉ AQUI...
Em todo esse tempo em que eu trabalho com paisagismo
e consultorias para manutenção do jardim, vejo que a adubação
é um dos maiores pontos fracos, tanto de paisagistas, quanto de
jardineiros. Em uma pesquisa recente que fiz no meu Instagram,
com participação de mais de 60 pessoas, cerca de 80% dos
participantes não tem ideia de como fazer adubação. Se você é
uma dessas pessoas, não se sinta mal.

Pode ser muito confuso mesmo. Mesmo para colegas com


formação em agronomia. Deixe-me explicar melhor.

Quando eu pensei em fazer faculdade de agronomia já


pensei em entrar no curso focando minha graduação para
atuação no paisagismo. Desde o primeiro semestre eu escavei,
desenterrei e adaptei muito conteúdo da faculdade para aplicar
no paisagismo. Não foi fácil. Por mais que a agronomia seja uma
das bases fundamentais do paisagismo, a agronomia dá muita
ênfase à produção agrícola (com razão). Claro, eu tive na
faculdade a disciplina de floricultura e paisagismo com uma
professora fantástica, e que hoje tenho o grande prazer de chamar
de minha amiga. Me infiltrei em algumas viagens de campo em
produção de plantas ornamentais do mestrado ou doutorado que
tinham vagas sobrando.
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Eu passava dias na biblioteca da faculdade caçando livros


de plantas ornamentais, perguntava tudo sobre o assunto para
vários professores diferentes, e brinco, hoje, que aprendi a
cultivar capins ornamentais na disciplina de manejo de
pastagens. É um exemplo de como tive que me adaptar dentro do
curso.

Mesmo tendo 3 disciplinas que dão embasamento à


adubação (o que toma basicamente 1 ano e meio de estudos),
sendo Fertilidade, Nutrição e Adubos, essas matérias me
prepararam para uma realidade muito diferente do jardim. Se
você é colega da agronomia você sabe EXATAMENTE do que
estou falando. Aprendemos como interpretar análises de solo
para parâmetros AGRÍCOLAS, e não de jardim. Aprendemos a
calcular adubação com base em culturas AGRÍCOLAS e com
adubos FORMULADOS pensando em PRODUTIVIDADE. Quando
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vamos usar esses conhecimentos no jardim muitas vezes não


sabemos nem por onde começar.

Eu digo agora por mim: Precisei complementar muito


minha graduação com estudos pessoais e experiência
profissional para lapidar a agronomia, principalmente no que diz
respeito à adubação de jardins. Separei muitas coisas que servem
das que não tem nenhuma aplicação prática no dia a dia de
manutenção do jardim.

Imagina, se esse é um tema denso até para quem é


formado(a) em agronomia, imagina para quem veio de outra
área, como ARQUITETURA ou BIOLOGIA?

Separei nesse e-book recomendações de adubação que


vão fazer sua vida muito mais fácil e vão manter suas plantas
nutridas, contribuindo com o crescimento, florescimento e
frutificação. Eu não tirei essas recomendações da cartola, nem do
rótulo de um adubo qualquer. Foram ANOS estudando livros,
teses de mestrado e doutorado, relatórios de produção e
pesquisa, observando o que é praticado no dia a dia da
jardinagem, corrigindo teores e analisando as formas mais
populares de adubos no mercado. Tudo isso com muita
experiência de campo. As recomendações de adubação nesse e-
book são minhas, com base nos meus cálculos e aproximações
para que você tenha ótimos resultados com uma gama ampla de
espécies de plantas cultivadas nos jardins.
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A visão agronômica sobre o jardim é complexa. Não


adianta eu passar uma fórmula mágica para você. Se você veio
aqui atrás disso, lamento dizer: nenhuma solução rápida que eu
passar para você vai te ajudar a manter ou implantar melhor o
jardim em longo prazo, já que são múltiplas variáveis
relacionadas com a saúde das plantas. Mas se você deseja
investir tempo, estudo organizado e muita dedicação para evoluir
e ter segurança na carreira como paisagista, então eu posso te
ajudar. Estou aqui para te conduzir por um atalho: aquele
caminho que levei anos para simplificar, para que você possa
crescer de um ponto de vantagem.

Você quer APRENDER de verdade? Então vamos começar


por aqui. Eu quero passar para você a segurança de conhecer as
variáveis envolvidas com o cultivo de plantas no jardim.

Vamos falar de adubação.

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ANTES DO ADUBO VEM O


ENTENDIMENTO SOBRE O
ADUBO
Para começar preciso reforçar que a adubação é apenas
UM dos conhecimentos que proporcionam um jardim saudável.

O adubo é um VEÍCULO DE NUTRIENTES. A função desse


veículo é complementar a fertilidade do solo ou substrato em que
a planta está sendo cultivada. Veja bem, complementar
fertilidade. Essa é a primeira função de qualquer adubo.

Os adubos devem fornecer os macro e micronutrientes


para as plantas. Macronutrientes são os nutrientes exigidos em
maior quantidade pelas plantas, sendo eles: NITROGÊNIO,
FÓSFORO, POTÁSSIO, CÁLCIO, MAGNÉSIO E ENXOFRE. Os
micronutrientes são absorvidos em menor concentração, mas
são tão essenciais quanto os macronutrientes. São eles: FERRO,
MANGANÊS, COBRE, CLORO, ZINCO, MOLIBDÊNIO E BORO.

Quando vemos alguém prometendo que um adubo faz


uma planta florescer, produzir mais, crescer mais rápido, temos
que colocar o pé no freio. Uma planta que está em um solo fértil,
que contenha todos os nutrientes, não precisa necessariamente
de complemento para melhorar seu desenvolvimento.
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O desenvolvimento da planta é um fator limitado


principalmente pela capacidade GENÉTICA que ela tem, e
nenhum adubo pode levar a planta a se comportar além dessa
sua característica genética. A adubação nesse caso não vai
“obrigar” a planta a florescer ou produzir mais. Isso só acontece
se o desenvolvimento da planta está de alguma forma
prejudicado pela FALTA DE NUTRIENTES.

Se o adubo é um complemento da fertilidade, não vai ser


mágico e transformar uma planta que já é cultivada no solo ideal.

Agora, existem adubos com efeitos complementares sobre


as plantas, dependendo do tipo de composição. Alguns podem
estimular brotação, outros podem ajudar na supressão de fungos
fitopatogênicos no solo, outros ainda, quando aplicados via foliar,
podem reduzir a incidência de fungos nas folhas. Mas nenhum
adubo transforma abóbora em carruagem.

Entendidos nesse ponto? Sempre que um adubo possui


promessa milagrosa, desconfie e busque investigar.

COMPOSIÇÃO
Um adubo pode fornecer um ou mais nutrientes,
dependendo da sua composição. Um adubo pode também ser
mais concentrado ou menos concentrado. Um adubo simples é
constituído de um único material de origem, e no caso dos
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adubos minerais, fornece apenas um ou dois nutrientes. Um


adubo composto é aquele constituído por mais de um de origem,
e podem fornecer dois ou mais nutrientes. Por exemplo:

Ureia: adubo mineral simples, que contém apenas


nitrogênio. A concentração de nitrogênio na ureia é de
aproximadamente 45% da massa do material. Ou seja, em
100g de ureia, há 45g de nitrogênio que pode ser absorvido
pelas plantas.

Esterco bovino curtido: adubo orgânico simples, que


contém aproximadamente 2% de nitrogênio (além de
outros nutrientes). Ou seja, para cada 100g de esterco
bovino curtido, temos 2g de nitrogênio que pode ser
absorvido pelas plantas.

Forth Jardim: adubo mineral composto, que contém todos


os nutrientes para as plantas e é formado de mais de um
material de origem mineral na composição. A concentração
de nitrogênio é de 13%, ou seja, para cada 100g de adubo
há 13g de nitrogênio capaz de ser absorvido prontamente
pelas plantas.

Humus de minhoca: adubo orgânico composto, contém


praticamente todos os macro e micronutrientes para as
plantas (dependendo do material orgânico de origem) e
possui concentração de nitrogênio que varia de 1 a 2% de
sua massa.
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Essa informação sobre a composição e concentração de


nutrientes deve vir na embalagem do adubo em uma tabela
(adubos orgânicos geralmente apresentam apenas teores de
nitrogênio, fósforo e potássio, ou apenas nitrogênio, mesmo
possuindo outros nutrientes na composição), como aquelas de
informação nutricional dos alimentos. Essa tabela com as
informações dos adubos nós chamamos de GARANTIA.

Na tabela de garantia dos adubos muitas vezes podemos


encontrar siglas de moléculas químicas. Essas moléculas não são
a forma real dos nutrientes no adubo. Repito: essas moléculas do
rótulo não são a forma real dos nutrientes no adubo. Essas
moléculas são PADRONIZAÇÕES DE REPRESENTAÇÃO. Isso
acontece porque seria uma verdadeira loucura se cada tipo de
adubo tivesse a fórmula química real de cada nutriente.

Por exemplo, se não houvesse padronização, a indicação


do nitrogênio nos rótulos ficaria da seguinte forma para ureia,
fosfato monoamônico (MAP) e salitre: CH₄N₂O, (NH4)H2PO4,
NaNO3. Ao invés disso padronizamos:

Ureia N...........................................45%
Fosfato monoamônico N...........................................10%
Salitre N...........................................15%
(RAIJ, B. et al, 1997; VELOSO, C. A. C. et al, 2001)
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O mesmo raciocínio usamos para o fósforo, potássio,


cálcio, magnésio e enxofre, que aparecem padronizados nas
tabelas dos produtos pelas siglas:

Fósforo P205
Potássio K2O
Cálcio CaO
Magnésio MgO
Enxofre S

Quando vamos escolher um adubo para as nossas plantas,


temos que sempre pensar na concentração de nutrientes
primeiro. Esse detalhe vai interferir na quantidade do adubo
usado e na frequência de aplicação. Recomendo que você sempre
escolha um adubo que contenha uma concentração equilibrada
de NITROGÊNIO, FÓSFORO E POTÁSSIO, ou seja, que tenham
valores aproximadamente semelhantes, com variação ao redor
de 5% na concentração entre um e outro. Adubos equilibrados
podem apresentar teores de N, P e K como: 10%-05%-10% ou
13%-08%-13%.
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DEMANDA
Já sabemos ler o rótulo de um adubo e já sabemos que seu
papel é complementar a fertilidade do solo. Mas cada planta
possui uma exigência de nutrientes diferente. Essa exigência por
nutrientes varia de uma espécie vegetal para outra, e está
relacionada com a quantidade que a planta precisa extrair de
nutrientes do solo ou substrato para completar seu ciclo, ou seja,
do momento após a germinação até sua morte. Se a planta extrai
muito nutriente do solo, precisamos fazer uma reposição. Se a
planta extrai pouco nutriente do solo e a fertilidade natural é boa,
quase não precisamos nos preocupar em adubar.

E entendendo que algumas espécies exigem quantidades


bastante altas de nutrientes, devemos considerar uma adubação
bem maior do que em espécies que exigem menos nutrientes.
Como no jardim temos quase sempre uma mistura de espécies
cultivadas no mesmo espaço, com diferentes demandas por
nutrientes, nossa única alternativa é padronizar a adubação,
nivelando as plantas por uma quantidade específica de adubo.
Inevitavelmente vamos colocar mais nutrientes ou menos
nutrientes do que uma espécie ou outra precisa.

Agora, tem um fator crítico além da extração que a planta


faz: as perdas naturais de nutrientes no solo. A água que infiltra
na terra leva consigo um punhado de nutrientes. Isso significa
que sempre que chove ou irrigamos, uma porção de nutrientes
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vai embora e não é aproveitada pela planta. Isso é natural, mas é


mais uma razão para pensar na adubação.

Na natureza os nutrientes são repostos pelo ciclo contínuo


de transformação da matéria orgânica. Em um jardim ou em um
vaso essa dinâmica é pouca ou inexistente.

A demanda por nutrientes é um conhecimento que só


podemos obter através de pesquisas científicas e é escasso no
universo da jardinagem. Mas já nos ajuda a entender a
necessidade que temos em adubar o jardim.

TIPOS DE ADUBOS
Podemos dividir os adubos em 3 categorias, sendo 2
grandes e 1 pequena.

1. A primeira grande categoria de adubos é a de adubos


orgânicos. Esses adubos são originados do processamento de
restos vegetais e/ou animais. Podem ser subprodutos da indústria
ou podem ser produzidos por compostagem como uma forma de
reduzir resíduos.

Os adubos orgânicos tendem a ter uma concentração baixa


de nutrientes quando comparados aos adubos químicos, que
veremos adiante. Adubos orgânicos costumam ter teores de
nitrogênio, fósforo e potássio flutuando em torno de 1 a 5%,
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dependendo da origem do material que formou esse adubo


(alguns podem chegar a 10%). Essa informação você pode checar
nas embalagens dos alguns adubos orgânicos em lojas de
jardinagem. Como adubos orgânicos mais populares no mercado
da jardinagem temos: esterco curtido (gado e frango – também
chamado de cama de aviário), torta de mamona, torta de algodão,
farinha de osso, humus de minhoca, composto orgânico e
chorume (líquido).

Os adubos orgânicos têm a vantagem de possuir todos ou


quase todos os nutrientes que as plantas precisam, além de
adicionar matéria orgânica ao solo ou substrato, que contribui
muito com o aumento da qualidade biológica, química e física do
meio. Os adubos orgânicos também fornecem nutrientes de
forma lenta e gradual para as plantas. Isso acontece porque o
adubo orgânico precisa ser decomposto por microrganismos
para ser capaz de fornecer todo o conteúdo de nutrientes que
possui. Isso faz com que os nutrientes sejam liberados aos
poucos, sem que sejam perdidos de forma tão intensa,
carregados pela água (as perdas SEMPRE existirão, mas aqui são
menores).

Um tipo de adubo orgânico que tem mostrado grandes


benefícios adicionais é o extrato de algas marinhas. Esse adubo
quando usado no plantio favorece bastante a brotação e o
enraizamento de plantas. Há também pesquisadores que
apontam que mudas tratadas com extrato de algas resistem mais
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às mudanças de ambiente no momento do plantio, como a


mudança do viveiro para o jardim definitivo (STADNIK, M. J. et
al, 2017). Existem diferentes produtos à base de algas marinhas,
como Acadian, Nutr-I-kelp, Forth Enraizador e Alga Nutri. Veja
que o efeito estimulante de brotação e enraizamento pelos
biofertilizantes a base de extrato de algas não é a mesma coisa
que os efeitos provocados por hormônios vegetais. Extratos de
algas não contribuem com enraizamento de estacas, apenas para
plantas já minimamente enraizadas. Se optar pelo uso,
recomendo que esse adubo seja usado na forma líquida,
seguindo metade da dose recomendada pelo fabricante,
aplicando o produto aos 30, 60 e 90 dias após o plantio. O uso do
extrato de alga pode ser feito mesmo tendo realizado adubação
de plantio conforme recomendado neste documento, que será
apresentada adiante.

2. A segunda grande categoria é dos adubos minerais, que


são aqueles obtidos pela indústria química ou por mineração. São
chamados popularmente de adubos químicos (com exceção de
pós de rocha, que são minerais e não provenientes da indústria
química).

Adubos minerais tendem a ser uma concentração de


nutrientes muito maior do que os adubos orgânicos, e a liberação
dos nutrientes acontece de forma imediata. Por isso entendemos
que o excesso de adubação mineral pode causar prejuízo nas
plantas, em decorrência de uma dose alta de nutrientes. Como
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adubos minerais mais populares no mercado da jardinagem


temos: NPK, Ureia, Adubos completos e Superfosfato simples.

Os adubos minerais têm a vantagem de serem usados em


quantidades menores, por serem mais concentrados. Em áreas
grandes isso facilita muito a aplicação. Imagine só, ter que
carregar 200 sacos de 20kg esterco ou ter que carregar um saco
de 25kg de adubo mineral.

Claro que a escolha do adubo será determinada pelo tipo


de manejo do jardim: quem prefere uma abordagem mais
ecológica ou orgânica vai optar pelo adubo orgânico, enquanto
outras pessoas podem optar pelo adubo mineral.

3. A terceira categoria, considerada pequena, é dos adubos


organo-minerais. Esses adubos nada mais são do que uma
mistura dos adubos orgânicos com os minerais. Dessa forma
conseguimos o melhor dos dois mundos: alta concentração de
nutrientes e matéria orgânica para adicionar ao solo. Aqui
devemos tomar o mesmo cuidado que os adubos exclusivamente
minerais, para não fazermos super aplicação.

Existem muitos adubos no mercado da jardinagem, e ainda


mais se pensarmos nos adubos voltados para agricultura que
podemos considerar em usar no jardim. Mas não se preocupe,
não se deixe levar pela enxurrada de marcas e rótulos. Não
precisamos de todos, só de alguns bons.
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NPK – UM OLHAR SOBRE O


ADUBO MINERAL MAIS
POPULAR
O adubo NPK é o adubo mineral mais usado ou o mais
conhecido da jardinagem. Leva esse nome por ser um veículo de
basicamente NITROGÊNIO (N), FÓSFORO (P) e POTÁSSIO (K).
Um material rico em nitrogênio, fósforo e potássio não é
exclusividade desse adubo mineral. Adubos orgânicos também
possuem esses nutrientes, mas em concentrações bem mais
baixas. Existem muitas formulações diferentes e podemos até
fazer nossa própria formulação. Mas vou dizer algo polêmico para
você: ESQUEÇA as formulações de adubo. Elas só servem para
dar um nó na nossa cabeça quando o assunto é jardinagem. As
formulações são ESSENCIAIS na agricultura, mas no jardim são
poucas as que utilizamos na prática. Algumas formulações até
servem para algumas SITUAÇÕES específicas, como será
comentado a diante, mas no geral, podemos desconsiderar.

A numeração que acompanha a sigla do adubo NPK


corresponde à porcentagem (ou concentração) de cada nutriente
no adubo. Por exemplo, o NPK 10-10-10 possui 10% de nitrogênio,
10% de fósforo e 10% de potássio na composição. Um adubo NPK
04-14-08 possui 4% de nitrogênio, 14% de fósforo e 8% de
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potássio na formulação. O resto da composição é enchimento ou


moléculas que não fazem diferença para a planta.

O NPK mais útil para a jardinagem é o NPK 10-10-10 ou 20-


20-20 (que tem uma concentração 2x maior). O NPK 04-14-08
pode ser usado no plantio, mas ele não tem o poder de fazer as
plantas “enraizarem”. Isso mesmo que você leu. O fósforo no
adubo não força a planta a enraizar. Se fosse assim tão fácil
haveria enraizadores feitos exclusivamente de fósforo, e isso não
existe. O que acontece é que uma planta que precisa enraizar
DEMANDA ou EXTRAI mais fósforo do solo. Se você fizer uma
boa adubação de plantio com NPK 10-10-10 você irá abastecer o
solo com nutrientes e daí a planta poderá crescer bem. Esse saber
popular de que o fósforo promove crescimento de raízes e
nitrogênio promove crescimento de folhas acabou tomando um
rumo totalmente torto a partir da NUTRIÇÃO e FISIOLOGIA
VEGETAL. As coisas são mais complexas do que isso. E veja, não
sou apenas eu que aponto esse “mito” do fósforo e raízes. A
Professora e doutora Linda Chalker-Scott da Universidade de
Washington, nos EUA, também tem a mesma posição em seu
artigo “The Myth of Phosphate Fertilizer”.

QUANDO ADUBAR
Temos basicamente dois momentos críticos para a
adubação: adubação de plantio e a adubação de manutenção.
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

Quando preparamos o solo podemos usar uma quantidade


padrão de adubo mineral ou orgânico. Essa adubação de plantio
serve para dar um arranque inicial para as mudas ou sementes
germinadas e para dar um pequeno ajuste na fertilidade do solo.
É feita misturando o adubo na terra de plantio.

Quando vamos preparar o solo para o plantio devemos


escolher UMA entre essas quatro modalidades de adubação:

a) 60g/m² DE NPK 10-10-10


b) 1Kg/m² DE ESTERCO CURTIDO DE GADO + 50g
SUPERFOSFATO SIMPLES
c) 1Kg/m² DE TORTA DE ALGODÃO + 50g SUPERFOSFATO
SIMPLES
d) 30g/m² DE NPK 10-10-10 + 200g/m² DE ESTERCO CURTIDO
DE GADO

O superfosfato simples é um poderoso aliado na adubação de


plantio. Este adubo contém cerca de 17% de fósforo, além de
possuir gesso na composição, que possui cálcio e enxofre e
apresenta uma boa mobilidade ao longo do perfil do solo,
melhorando a fertilidade em profundidade. Quando fazemos a
adubação de plantio com superfosfato simples devemos fazer a
adubação em área total do canteiro, seguindo da incorporação do
adubo com o auxílio de um enxadão.

A adubação de manutenção vemos a seguir.


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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

QUANTIDADE DE ADUBO A
USAR
Aqui entramos no ponto delicado da questão. Existem
algumas formas diferentes de considerar a quantidade de adubo
para as plantas, e a quantidade sempre vai depender,
principalmente, do tipo de adubo e a concentração de nutrientes.

Quanto mais concentrado for o adubo, menor quantidade


será usada. Quando menos concentrado, mais quantidade será
usada do adubo. Vamos tomar como exemplo dois adubos bem
diferentes: a ureia e o esterco. A ureia possui em torno de 45% de
nitrogênio, enquanto o esterco possui cerca de 2% desse
nutriente. Nesse sentido vamos usar muito mais esterco para
adubar do que ureia.

Em geral temos que a recomendação de adubação


orgânica com esterco é de 1kg para cada m² de canteiro por ano.
Como a ureia é cerca de 22x mais concentrada do que o esterco,
temos que usar 22x menos ureia na adubação em comparação
com o esterco, o que corresponde a uma dose aproximada de 40g
de ureia por m² por ano (cuidado, não aplicamos 40g de ureia no
jardim de uma única vez. Sempre aplicamos ureia na dose
máxima de 10g/m² em cada aplicação e regamos MUITO
imediatamente após o espalhamento do adubo, ou ainda
diluímos 10g de ureia em 10l de água para regar cada m²).
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

Em linhas gerais consideramos que adubação orgânica


sempre vai precisar de uma quantidade maior de adubo do que
os adubos minerais.

Também precisamos considerar o parcelamento da


adubação. Se temos uma quantidade anual de adubo para
utilizar, normalmente dividimos a aplicação em 3 para adubos
minerais. Isso significa que vamos considerar a QUANTIDADE
ANUAL de adubo e vamos dividir por 3. E assim podemos fazer,
por exemplo, uma adubação na primavera, uma no verão e outra
no outono. Esse entendimento de parcelamento ao longo do ano
serve apenas para plantas de ciclo bianual ou perene.

Com os adubos orgânicos geralmente fazemos uma única


aplicação, mas também podemos fazer 2 ou 3 aplicações se
preferirmos.

Para que você possa fazer uma boa adubação de forma


prática, vou passar para você algumas dosagens de adubos
populares na jardinagem. Mas preciso que você entenda: o adubo
sozinho não faz milagre se a planta estiver sendo mal irrigada,
passando sede ou afogando, se a planta estiver na luminosidade
inadequada ou estiver sofrendo por qualquer outro fator NÃO
LIGADO À NUTRIÇÃO.

Entendendo isso, vamos em frente. Você vai poder planejar


uma ótima adubação anual com as recomendações que eu vou
passar para você:
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TABELA DE ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO PARA


PLANTAS NO SOLO.

Adubo Qnt. Anual /m² Parcelamento


NPK 10-10-10 150g 3 aplicações de 50g/m²

Forth Jardim 115g 3 aplicações de 40g/m²

Esterco curtido de gado 1Kg Uma única aplicação, no verão

Humus de minhoca 1Kg Uma única aplicação, no verão

DOSAGENS NÃO RECOMENDADAS PARA CACTOS, SUCULENTAS, ORQUÍDEAS E BROMÉLIAS.

Para adubar você vai escolher UM dos quatro adubos


indicados na tabela. Recomendo alternar os adubos ao longo dos
anos. (Nota: o esterco de gado curtido pode exalar um cheiro
característico na primeira semana de aplicação)

Exemplo prático: se temos um canteiro no jardim de


agapantos e escolhemos adubar com NPK 10-10-10, vamos
considerar que precisamos de 150g de adubo por ano para cada
m². Fazendo a adubação em 3 parcelas temos que na primavera
vamos aplicar 50g/m² do adubo no canteiro, no verão
aplicaremos mais 50g/m² e no outono mais 50g/m². No inverno
não costumamos adubar.

“Gabriel, posso fazer 5 parcelas de 30g?” Pode. “Gabriel,


posso fazer 8 parcelas de 20g?” Pode. “Gabriel, posso fazer 12
parcelas de 15g?” Pode, mas aí já começa a ficar difícil de
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

espalhar uniformemente uma quantidade tão pequena de adubo


na área do canteiro.

A adubação de manutenção é feita aplicando o adubo


sobre a terra. Com a irrigação, a água dissolve e carrega os
nutrientes até as raízes, conforme o processo de transformação/
degradação ou grau de solubilidade do adubo.

ATENÇÃO: Algumas espécies podem ser sensíveis a


adubos minerais, como marantáceas e begoniáceas. Para esses
grupos de plantas recomendo adubação orgânica.

E como aplicar em vasos? Você deverá tirar a medida da


boca do vaso e considerar como um canteiro reduzido. É possível
padronizar a aplicação de cada tipo de adubo.

Para não dar uma explicação muito cheia de zeros, vírgulas


e dosagens, organizei uma tabela de adubação em vasos para te
ajudar. Veja abaixo.

TABELA DE ADUBAÇÃO DE PLANTIO EM VASOS

Adubo Diâmetro do vaso Dose única no plantio


10 A 30CM 10g (2 colheres de chá)
NPK
31 A 59CM 20g (4 colheres de chá)
10-10-10
60 A 100CM 30g (6 colheres de chá)
10 A 30CM 100g
Esterco ou
31 A 59CM 300g
humus
60 A 100CM 800g
DOSAGENS NÃO RECOMENDADAS PARA CACTOS, SUCULENTAS, ORQUÍDEAS E BROMÉLIAS.
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

Para usar essa tabela é simples. Você vai escolher a


quantidade de adubo NPK e Esterco ou Humus em relação ao
tamanho do vaso e vai misturar esses dois adubos na terra de
plantio.

Você também pode usar extrato de algas líquido no plantio


em vasos. Vamos seguir a mesma recomendação anterior:
metade da dose do fabricante aos 30, 60 e 90 dias após o plantio.

A seguir temos a tabela com a adubação de manutenção


para vasos. Também é fácil de usar. Primeiro você escolhe seu
adubo de preferência.

TABELA DE ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO EM VASOS

Adubo Diâmetro do vaso Qnt. anual Parcelamento


10 A 30CM 4g 3 aplicações de 5g/L*
Forth
31 A 59CM 30g 3 aplicações de 10g (2 colheres de chá)
Jardim
60 A 100CM 45g 3 aplicações de 15g (3 colheres de chá)
10 A 30CM 15g 3 aplicações de 5g (1 colher de chá)
NPK
31 A 59CM 45g 3 aplicações de 15g (3 colheres de chá)
10-10-10
60 A 100CM 60g 3 aplicações de 20g (4 colheres de chá)
2 aplicações de: Cobrir o substrato
Esterco - -
com camada de 0,5cm
2 aplicações de: Cobrir o substrato
Humus - -
com camada de 0,5cm

DOSAGENS NÃO RECOMENDADAS PARA CACTOS, SUCULENTAS, ORQUÍDEAS E BROMÉLIAS.


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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

*Para vasos pequenos, até 30cm de diâmetro, você vai dissolver


5g do adubo Forth jardim em 1l de água e vai regar as plantas
normalmente. Você vai fazer essa adubação via irrigação 3 vezes
no ano.

Se você trabalha muito com manutenção de vasos ou quer


fazer essa adubação nas plantas da sua casa, pode comprar uma
colher medidora com esses tamanhos de colher de chá em lojas
especializadas com produtos de cozinha. Aí não tem mistério:
Olhou no calendário e precisa fazer adubação? Pegue seu adubo,
sua colher medidora e a tabela e pronto.

ATENÇÃO: Vasos que são formados por substrato


comercial muito drenável perdem mais adubo pelo carregamento
da água. Nesses casos podemos considerar repetir uma ou duas
parcelas do adubo (por exemplo, se considerarmos uma base de
adubação com 3 parcelas de 10g de adubo em cada uma, em
vasos com substratos muito drenáveis podemos fazer a adubação
com 4 ou 5 parcelas de 10g).

Veja, essas recomendações que passo para você são


recomendações conservadoras. Isso significa que é uma
dosagem mediana de adubo, capaz de manter as plantas bem
nutridas sem exageros. É uma forma de nivelar pela média, como
já comentei. Mas se por acaso você sentir necessidade de
adicionar uma porção a mais de adubo, como uma repetição de
UM parcelamento, pode fazer (por exemplo, na adubação com
NPK 10-10-10, fazer uma 4ª aplicação de 50g/m²; ou na adubação
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

em vasos fazer mais uma aplicação de uma parcela). Eu passo


essas recomendações conservadoras pelo seguinte motivo: é
melhor colocar adubo em uma dose mais “econômica” do que
exagerar e provocar salinização do solo (no caso de adubos
minerais). Pensando de uma outra forma, é muito mais fácil
colocar sal na comida do que tirar, não é mesmo? Na adubação
também precisamos pensar assim. Corrigir um solo salinizado
por excesso de adubação mineral é extremamente difícil, e tenho
visto alguns casos se repetindo em meus clientes de consultoria.

“ ”
nenhum adubo transforma
abóbora em carruagem

CASO Veja só essa situação de um jardim


que acompanhei. Nesta imagem
vemos uma helicônia muito
danificada por excesso de adubação
mineral. Os sintomas são muito
semelhantes à deficiência
nutricional por razões fisiológicas
específicas, mas constatei o excesso
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

de adubação por uma análise de


solo.
Como falamos muito sobre ureia, vou te falar qual é o papel
dela na adubação do jardim. Podemos usar ureia como fonte de
nitrogênio foliar, dissolvendo 5g de ureia em 1 litro de água e
borrifando nas folhas das plantas 1x por mês, sempre bem cedo
na manhã. Antes de aplicar ureia nas plantas, faça um teste em
uma folha. As plantas têm sensibilidades diferentes em relação à
concentração de ureia. Essa concentração que passo para você é
de 0,5%, que atende muitas espécies sem causar queimadura nas
folhas (MALAVOLTA, 1981). Mas ainda assim temos que testar.
Se sua planta se mostrar sensível a essa concentração de ureia,
pode dobrar a quantidade de água, para deixar a mistura mais
diluída. Espécies com folhas mais finas ou com pelos podem ser
mais sensíveis à ureia.

O nitrogênio é um dos nutrientes mais móveis no solo, e se


perde com facilidade. O uso de ureia via solo pode ser pouco
proveitoso em dias muito chuvosos ou em jardins com sistema
de irrigação de maior vazão. Por essa razão sempre dou
preferência para usar a ureia como adubação foliar, já que o
nitrogênio é rapidamente absorvido pelas folhas, promovendo
maior aproveitamento do produto e da adubação. A ureia é um
produto altamente higroscópico, ou seja, que absorve umidade
ambiente com intensidade. Se não armazenamos a ureia
adequadamente, os grãos reagem com a umidade ambiente e
formam grandes torrões que praticamente inviabiliza seu uso de
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

forma sólida, granulada. Por conta dessa característica


higroscópica da ureia, não devemos aplicá-la sobre uma
vegetação que esteja úmida, sob o risco de os grãos grudarem
nas folhas provocando queimaduras nas plantas.

CASO
Nesta foto mostro um saco de ureia de um
cliente que fez o armazenamento do adubo
em um local com muita umidade. Todo o
saco de ureia virou um grande bloco de
adubo, condenando o uso do material de
forma granulada. O único uso viável nesse
caso é na forma dissolvida em água.

Também usamos muito a ureia para fazer adubação de


gramados, mas o nitrogênio é apenas 1 dos 13 nutrientes que o
gramado precisa. Ao invés de usar ureia no gramado, recomendo
que você faça adubação mineral com NPK 10-10-10 ou Forth
Jardim. Quando a área do gramado é muito grande, podemos
usar o NPK 20-05-20 para adubação de manutenção. Assim
podemos reduzir pela metade a dose que seria de NPK 10-10-10
e economizar na quantidade. Se optar pelo uso do NPK 20-05-20
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

para gramados, faça 3 aplicações no ano com 30g/m² em cada


aplicação. Não tem problema em haver pouco fósforo na fórmula
do NPK 20-05-20, já que a grama é uma forração que demanda
menos fósforo, de forma geral, quando comparada com outras
plantas. O Forth Jardim (não patrocina este documento, é apenas
um adubo que eu particularmente gosto bastante, mas você pode
buscar por marcas com composição nutricional similar) é um
adubo mineral completo que irá entregar todos os nutrientes para
a grama crescer bem, mas é bem mais caro do que o NPK.
Recomendo para áreas pequenas de gramado, até 100m².
Atenção, adubação em gramado não faz milagre se o manejo do
gramado não é adequado. Se o solo está compactado e a grama
não recebe adubação regularmente, a adubação terá um efeito
menor.

AVISO O QUE LEVA OS


NUTRIENTES PARA DENTRO DAS RAÍZES É A ÁGUA. SEM
ÁGUA O NUTRIENTE NÃO PENETRA NO SOLO E FICA
MAIS SUSCETÍVEL À PERDAS. SEMPRE DEPOIS DE
ADUBAR É INDISPENSÁVEL IRRIGAR O CANTEIRO COM
ABUNDÂNCIA. PARA O APROVEITAMENTO ÓTIMO DA
ADUBAÇÃO EM LONGO PRAZO, É FUNDAMENTAL HAVER
REGULARIDADE NA IRRIGAÇÃO DO JARDIM.
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

CALCÁRIO
A relação do calcário com a jardinagem é um pouco
bagunçada. Qual é a receita de quantidade de calcário que você
conhece? Eu já ouvi várias. A expressão mais famosa é que de
um punhado de calcário no pé da muda na hora do plantio
melhora a terra e faz a planta crescer melhor. Mas a verdade é
que o calcário nem sempre ajuda. Agora, já se perguntou de onde
vem esse conhecimento?

O calcário é usado na agricultura com duas funções:


combater a acidez do solo (elevar o pH) e adicionar cálcio e
magnésio para as plantas (dois macronutrientes).

Só que precisamos considerar que o calcário não faz “sua


mágica” da noite para o dia. O calcário leva, em média, de 1 a 3
meses para reagir totalmente no solo. Ou seja, ele só vai fazer
efeito depois desse tempo. Na agricultura a aplicação de calcário
no solo é planejada com antecedência, para que a adubação de
plantio e o plantio/semeadura aproveite o melhor momento. No
jardim não temos esse tempo todo para preparar o solo antes de
plantar. Então aplicamos o calcário no momento do preparo do
solo para prosseguir com o plantio imediato.

O uso indiscriminado do calcário pode elevar o pH a ponto


de causar deficiência de micronutrientes em algumas plantas,
principalmente ferro e manganês, em espécies que são exigentes
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

em solos ácidos. Se o solo já tem um pH mais alto, acima de 6, e


já possui níveis satisfatórios de cálcio, aplicar calcário mais
atrapalha do que ajuda.

A quantidade de calcário a ser utilizada é calculada através


de uma fórmula, e só podemos usar essa fórmula se tivermos
uma análise de solo e tivermos conhecimento sobre fertilidade do
solo e interpretação do boletim com os resultados da análise.

Mas de modo prático, de forma empírica, deixo aqui minha


recomendação da aplicação de calcário no jardim. Ressalto que
um bom planejamento da aplicação de calcário exige
conhecimentos mais profundos, da fórmula de calagem e de
fertilidade do solo.

De todo modo, pode ser aplicado no solo uma quantidade


de calcário de 150g/m² no momento do preparo do solo no
jardim. A aplicação do calcário deve ser feita em área total do
canteiro, e não apenas na cova de plantio.

O calcário tem uma mobilidade e solubilidade baixa no


solo. Por isso, para que ele faça o efeito esperado, ele deve ser
incorporado no solo em profundidade de até 20cm.

A aplicação do calcário pode ser refeita a cada dois anos,


sendo que quando a aplicação é feita em cobertura, ou seja, sem
a incorporação em 20cm de profundidade, seu efeito é mais
baixo, justamente por não ter uma boa capacidade de penetração.
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

E em vasos? Calcário é necessário? Bom, o calcário não é


necessário quando o material usado para o cultivo em vaso é de
substrato comercial. Mas quando o vaso é preenchido com terra
vermelha, retirada do solo, e existe a suspeita de que a terra não
seja das melhores, então sim, é possível usar o calcário nessa
situação. Da mesma forma que a recomendação para o uso no
solo é de 150g/m² de calcário, seguimos para a aplicação em
vasos. Aí não tem como fugir, é preciso saber a área da boca do
vaso em metros quadrados. Podemos usar, como uma forma de
padronização, 1/2 colher de chá de calcário para cada 20cm de
diâmetro do vaso.

ADUBAÇÃO FOLIAR
Eu sempre falo para os meus alunos e clientes que
adubação foliar é uma prática AUXILIAR da adubação. A grande
maioria das plantas cultivadas nos jardins evoluiu na natureza
para absorver nutrientes do solo, via raiz. As plantas também são
capazes de absorver uma pequena porção de nutrientes pelas
folhas, mas em termos de quantidade, não se compara com a
absorção de nutrientes pelas raízes.

Então, quando fazer adubação foliar? Eu costumo


recomendar adubação foliar como uma forma de ajuda
emergencial para uma planta que esteja muito prejudicada por
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

falta de nutrientes. Nesse caso, quando a planta está com


sintomas severos de deficiência nutricional, recomendo fazer
uma adubação de manutenção sobre o solo (conforme
recomendação deste documento), juntamente com uma
adubação foliar 1x por semana, por 3 semanas, sempre aplicando
entre as 6 e 9h da manhã. Recomendo que você use um adubo
foliar pronto uso, para jardinagem. Assim não precisa se
preocupar com diluições.

Na adubação foliar os nutrientes penetram nas folhas


através da CUTÍCULA, que é uma camada de cera. Assim como
nas raízes, a água é responsável por levar o nutriente para dentro,
atravessando pequenas rachaduras e vãos na cutícula. Assim a
gente pode começar a entender um pouco melhor sobre a
eficiência na adubação foliar. Quando a água seca, parte dos
nutrientes não conseguiram penetrar na folha. E ficam lá,
sentados na superfície da cutícula esperando que haja água para
levá-los para dentro. Se chove ou se há uma irrigação que lava as
folhas, os nutrientes se perdem. A eficiência da adubação foliar
também está submetida à temperatura ambiente, à idade da
planta e alguns outros fatores que podem prejudicar ainda mais
a absorção de nutrientes (PAULETTI, V., 2021; NACHTIGALL, G. R.
& NAVA, G., 2010?).

Por isso entenda: adubação foliar é uma ótima medida de


nutrição emergencial para as plantas, pode também ser feita uma
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

vez por mês, mas a via de maior aproveitamento do adubo é pelas


raízes.

MONTANDO A ESTRATÉGIA
DE ADUBAÇÃO
Para amarrar todo o conhecimento deste documento, vou
te ensinar agora como você vai montar seu plano de adubação.
Vou colocar em passo a passo e depois em uma tabela.

Passo 1: Considerar a aplicação de calcário na dose


recomendada.
Passo 2: Escolher a forma de adubação de plantio.
Passo 3: Escolher a adubação de manutenção e o
parcelamento ao longo do ano.

Viu como é simples? Você pode colocar isso em uma


tabela. Veja o exemplo:

Adubação de plantio Adubação de manutenção (solo)

1Kg/m² DE ESTERCO CURTIDO


Adubo Parcelamento
DE GADO + 50g
SUPERFOSFATO SIMPLES 3 aplicações de
NPK 10-10-10
+ extrato de alga (líquido) 50g/m²
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agora você já é capaz de ler um rótulo de adubo, pode
escolher um produto de forma mais simples dentro de uma
vastidão de opções e sabe uma recomendação fantástica para
adubar as plantas nos canteiros.

Existe mais um vasto universo dentro da adubação. Não é


à toa que na agronomia essa é uma área de especialização. Para
que nós possamos navegar nesse oceano preciso de muuuito
mais tempo e de muita disposição da sua parte. De todo modo
esse é seu EXCELENTE ponto de partida. Com essas informações
você já é capaz de caminhar no campo da adubação com
informações essenciais. Agora vamos fazer um trato: dedique-se
bastante e estude muito! Dominar os elementos do cultivo das
plantas só depende de você e do seu esforço. O caminho é longo,
mas estou aqui para te ajudar.

Se você está no caminho para virar expert no cultivo de

plantas, tenho que te apresentar meu curso on-line AGRO PARA


PAISAGISTAS. Esse é um curso dedicado a passar todo o meu
conhecimento da agronomia que direcionei para o paisagismo.

São 5 meses de curso, mais de 70 videoaulas, mais de 50


horas de conteúdo, encontros on-line ao vivo por Zoom e muitos
materiais complementares para leitura.
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

Veja alguns dos conteúdos que vou te ensinar nesse curso:


Adubação,
Análise de solo,
Pragas,
Doenças,
Plantas daninhas,
Tratamento fitossanitário,
Arborização,
e mais um monte de conteúdo. Não vou só te passar
receitas, vou te ensinar a pensar com mente de especialista na
área. Você será capaz de compreender e tratar os problemas mais
recorrentes nas plantas e nos jardins, será capaz de avaliar a
fertilidade do solo e de planejar o plantio e manutenção do
jardim. E sinceramente, não conheço nenhum outro curso por aí
que tenha tantos tópicos agronômicos aplicados para o jardim.
Além de tudo isso você vai ter ferramentas muito especiais
e documentos em PDF que vão te ajudar a compreender e aplicar
o conteúdo de forma mais fácil.

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no jardim e diagnosticar e solucionar problemas através do curso.

Para saber mais, acesso o link abaixo:

https://cursos.escoladebotanica.com.br/cursos/agro-para-
paisagistas
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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

QUEM SOU EU:


Sou Gabriel Kehdi, agrônomo, especialista em meio
ambiente e professor há mais de 7 anos. Me formei em
engenharia agronômica pela UNESP em Ilha Solteira/SP e fiz
minha especialização em Meio Ambiente pela USP. Trabalhei na
Prefeitura de São Paulo como um dos responsáveis técnicos pelo
manejo dos parques da cidade e hoje tenho uma empresa de
serviços de consultoria, gerenciamento de áreas verdes e
projetos de paisagismo. Tenho acumulados mais de 2,5 milhões
de metros quadrados de áreas verdes manejadas, o que me
trouxe uma visão bastante ampla sobre os desafios dos cuidados
com o jardim.

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ADUBAÇÃO PROFISSIONAL PARA JARDINS – PRIMEIROS PASSOS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHALKER-SCOTT, L. The Myth of Phosphate Fertilizer:
"Phosphate fertilizers will stimulate root growth of transplanted
trees and shrubs". Washington State University, 2015. Disponível
em:
https://s3.wp.wsu.edu/uploads/sites/403/2015/03/phosphate.pdf .

MALAVOLTA, E. Manual de Química Agrícola: Adubos e


Adubação. São Paulo, Ed. Agronômica Ceres, 609p. 1981.

NACHTIGALL, G. R. & NAVA, G.. Adubação foliar: Fatos e Mitos.


Acesso em: 02/01/2021. Disponível em:
https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/858552/1/124
352010p.8797.pdf

PAULETTI, V..Absorção e Adubação Foliar. Universidade Federal


do Paraná. Acesso em: 02/01/2021. Disponível em:
https://docs.ufpr.br/~nutricaodeplantas/adubabsorfoliar.pdf/

RAIJ, B.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M. C..


Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São
Paulo. Campinas – Instituto Agronômico/ Fundação IAC, 285p.
1997.

STADNIK, M. J. et al. Bioestimulantes: uma perspectiva global e


desafios para a américa latina. I simpósio latino-americano sobre
bioestimulantes na agricultura. Florianópoli-SC. p. 18-23. 2017.

VELOSO, C. A. C.; BATISTA, E. M.; CARVALHO, E. J. M.. Efeitos de


fontes e doses de nitrogênio em mudas de aceroleira (Malpighia
glabra, L.). Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal - SP. v. 23. n. I. p.087-
091. abril 2001.
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