Você está na página 1de 26

C APÍTULO 1

PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO


E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer a retrospectiva do ensino superior no Brasil, desde a colônia até a


república.

 Analisar a evolução do ensino no Brasil e suas principais características.


HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

10
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

CONTEXTUALIZAÇÃO
“A história é o exercício da memória realizada para compreender
o presente e para nele ler as possibilidades do futuro, mesmo
que seja de um futuro a construir, a escolher, a tornar possível”.

Francisco Cambi

Conhecer o ensino superior brasileiro e sua organização requer um exercício


histórico, ou seja, retroceder e ver lá no início do processo de colonização como
se organizava o ensino em nosso país. Notadamente, não podemos falar que
nos primeiros séculos do período colonial havia ensino superior no Brasil, porque
estudos mais aprofundados e em nível superior existiam somente na metrópole
portuguesa e em outros países europeus, pois a oferta dessa modalidade de
ensino era proibida nas colônias por motivos óbvios que estavam atrelados
à exploração das terras e dos nativos. Tratavam-se de ações convenientes ao
controle e exploração dos espaços territoriais conquistados. Desse modo, a ação
educativa ficou a cargo dos religiosos jesuítas, que ofereceram na época colonial
a formação para o sacerdócio, que não era uma formação superior, devido ao
seu caráter confessional e específico. Outras formas de ensino foram criadas e
aplicadas pelos padres jesuítas nos três primeiros séculos da nossa história, as
quais serão abordadas adiante.

É importante frisar que o ensino superior no Brasil só veio a ter um sentido


universitário nos anos de 1930. Isso contrastou com o restante da América
espanhola, que criaram ainda no período colonial suas primeiras universidades,
como a do Peru e México. Em nosso país, o ensino superior só foi possível com a
chegada da família real portuguesa em 1808.

O MODELO EDUCACIONAL JESUÍTICO


E SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO
BRASILEIRA
Vindos para a América somente com o intuito de explorar a terra e lucrar
ao máximo, a colonização brasileira foi decorrência da vontade de expansão de
Portugal que buscava maneiras de superar as dificuldades econômicas existentes
na Europa no final da Idade Média. Após conhecer as terras que seriam a futura
colônia na América, os portugueses se dedicaram exclusivamente a explorar as
riquezas aqui existentes nos trinta primeiros anos, não se preocupando com um
projeto de povoamento.

11
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

Esse desinteresse em povoar as terras descobertas não duraria muito


tempo. Notando que sua colônia na América corria o risco de ser tomada, devido
às investidas de corsários e até de embarcações oficiais de países europeus, os
portugueses decidiram tomar providências e povoar de forma efetiva a colônia.
Para isso foram criadas as capitanias hereditárias em 1532. Todavia, havendo
dificuldades de sua implementação, em 1549 a coroa portuguesa criou o
governo geral, que foi a primeira forma de poder público no Brasil, e teve como
objetivo auxiliar as capitanias hereditárias. É importante frisar que junto com o
estabelecimento do governo geral vieram os padres jesuítas.

Para compreender o papel dos jesuítas na educação do Brasil, antes de


tudo é preciso se localizar no tempo e no espaço e entender o cenário
A educação jesuítica
esteve diretamente daquela época.
relacionada
às ideias do A educação jesuítica esteve diretamente relacionada às ideias
Renascimento do Renascimento europeu, também conhecido como Renascença ou
europeu, também Período das Luzes, compreendido entre os séculos XV e XVI.
conhecido como
Renascença ou
Período das Luzes, No final da Idade Média para a Idade Moderna, a luta entre
compreendido entre católicos e protestantes não ficou só no terreno religioso/espiritual,
os séculos XV e também foi muito acirrada no campo educacional. Para tentar barrar a
XVI. reforma, os católicos organizaram a companhia de Jesus. Você já ouviu
falar dela? Conhece um pouco da história dos jesuítas no Brasil e no
mundo? Edificada pelo padre espanhol Inácio de Loyola em 1534, e reconhecida
em 1540, a companhia de Jesus nasceu como instrumento de combate à reforma,
fundamentando-se na perspectiva de que tudo deveria ser feito para a máxima
maior glória de Deus. Enfim, pode-se afirmar que a contrarreforma católica foi
a tentativa de resgate da perdida hegemonia católica, contra qualquer inovação
política, ideológica e cultural, e os jesuítas colaboraram nessa empreitada
(CARVALHO, 2008).

Aqui temos a presença dos jesuítas, que chegaram em 1549 nas terras
brasileiras trazendo a expansão da fé católica e do reino, reunindo colonizadores
e evangelizadores sob o mesmo empreendimento. Com uma missão catequista,
edificaram igrejas e escolas em várias regiões da colônia da América.
Construíram um sistema educacional, desenvolvendo uma pedagogia que atingia
especialmente as crianças, usando o teatro, a música e a dança para cumprir
seus objetivos.

Com a chegada ao Brasil do padre Manuel da Nóbrega, no ano de 1549, teve


início de fato a tarefa de catequização. Com uma dupla tarefa de converter os
povos indígenas ao catolicismo e, com isso, expandir a fé católica, a companhia

12
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

de Jesus, que nada mais era do que um pelotão de soldados de Cristo, também
teve a missão de fazer retroceder o crescimento protestante que avançava mundo
afora.

Sobre a ação dos jesuítas no período inicial da colonização


brasileira, acesse o seguinte endereço eletrônico: <http://www.ufjf.br/
lahes/files/2010/03/c1-a7.pdf>.

Você deve estar se perguntando: como era a educação das populações


indígenas do território brasileiro antes da chegada dos jesuítas e europeus? Não
havia escolas, as crianças participavam espontaneamente de atividades com os
mais velhos, recebendo informações dos papéis que iriam desempenhar quando
adultas. Assim, a atuação dos jesuítas se volta para as crianças e jovens, pois
com os adultos encontravam maior dificuldade na conversão.

Desembarcados em 1549, na Vila de Pereira, depois Vila Velha, quatro padres


e dois irmãos da companhia de Jesus se juntaram aos propósitos do governo de
Portugal. Assim, como já foi dito, a chegada da companhia de Jesus no Brasil
colônia esteve diretamente vinculada com a missão de facilitar a implantação e
a manutenção de um modelo econômico colonial e também a divulgação da fé
católica, ambos ameaçados pela reforma na Europa.

Foi esta determinação, de um governo preocupado com


a manutenção da ordem, disciplina, domesticação para
o serviço escravo e imposição da fé cristã, que marcou
o início da formação da identidade brasileira. Os padres
jesuítas ocuparam papel central neste modelo de formação
educacional, característica do ideal de pessoa e sociedade
que se pretendia formar aqui no Brasil. A educação jesuítica
do Brasil colonial esteve relacionada com todo o movimento de
emergência da escolarização no mundo. Os jesuítas tiveram
grande influência na organização da sociedade brasileira
e coube a eles orientar a população, desde os filhos dos
senhores de engenho, colonos, escravos e índios, na fé cristã,
na disciplina do corpo e do silêncio, nos valores morais, nas
artes eruditas e nos costumes europeus. Aos índios coube, em
especial, a catequese, a leitura e escrita e o idioma de Portugal.
(CARVALHO, 2008, p. 8).

Desde o início, a coroa portuguesa acreditava que a catequese era a


forma mais eficiente para o domínio dos povos indígenas da colônia brasileira.

13
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

A coroa portuguesa Consequentemente, a catequese passou a ser um ato fundamental


acreditava que a para Deus e para o rei. Quando chegaram ao Brasil, os colonizadores
catequese era a portugueses puseram o índio a serviço de três interesses: o reino
forma mais eficiente ambicionava integrá-lo ao processo colonizador; os jesuítas aspiravam
para o domínio dos convertê-lo ao catolicismo; e os colonos esperavam usá-lo como
povos indígenas da
trabalho escravo. Foram considerados, na época, como seres sem
colônia brasileira.
alma, animais, criados para serem instruídos e domesticados com
violência e exploração. As práticas educacionais em muitos casos reforçavam
isso, recusando sua diversidade.

Nos primeiros tempos da colonização, os jesuítas frequentavam as aldeias


e ensinavam às crianças a leitura, a escrita e a doutrina cristã. No entanto, como
o trabalho de adaptação do indígena para a lavoura exigia sua presença para
um adestramento diário e ininterrupto, começaram a organizar aldeias para
reunir os indígenas da região. Essas aldeias ficaram conhecidas por quase todo
o período colonial como missões. Também organizaram escolas elementares e,
acima de tudo, difundiram um projeto pedagógico bastante uniforme, tão bem
esquematizado que até nos dias de hoje é possível perceber seus reflexos.

Você sabe o que eram as escolas elementares?

Durando aproximadamente um ano, o curso elementar continha em seu


currículo o princípio católico e as primeiras letras, ou seja, o que conhecemos
hoje por alfabetização, mas com conteúdo doutrinário. Muita disciplina, atenção e
perseverança eram as três características de estudos a serem apreendidas pelos
alunos, elementos que facilitariam o próprio aprendizado e o desenvolvimento do
caráter ao futuro sacerdote e ao cristão leigo (ROCHA, 2005).

Aqui cabe uma observação importante! Os jesuítas não ficaram somente


focados na obra da catequese e no ensino das primeiras letras aos “gentis”.
Aos poucos, acabaram se dedicando à educação da elite colonial. Ainda que
a principal missão deles fosse a conversão dos índios, o estabelecimento de
colégios acabou por assumir, senão a prioridade, importância comparada à outra.
Assim, a educação jesuítica acabou dando atenção à formação da elite letrada
da colônia, ou seja, dos padres e senhores de engenho. Formou-se “[...] uma
concepção que acabou por assumir contornos elitistas, almejada por
A partir de 1564
foi inventado um todos que procuravam status, como símbolo de classe e de distinção,
imposto para a que demarcou as raízes fundantes da organização do ensino nacional”
sustentação dos (CARVALHO, 2008, p. 9).
colégios jesuítas,
chamado de “padrão É importante assinalar que a partir de 1564 foi inventado um
de redízima”,
imposto para a sustentação dos colégios jesuítas, chamado de “padrão

14
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

de redízima”, compreendendo 10% de todas as arrecadações dos impostos.


Machado (2002, p. 27) lembra que “[...] com o passar do tempo, os jesuítas
acabaram se tornando ricos e poderosos frente à coroa portuguesa, sendo este
um dos motivos para serem expulsos pelo Marquês de Pombal”, conforme você
verá mais adiante.

Os jesuítas ficaram conhecidos como soldados de Cristo, com


a missão cristã e civilizatória de acabar com as “crendices”
indígenas, impondo assim uma nova forma de ver e conceber
o mundo. Assim, a educação brasileira, nesse período, estava
estreitamente vinculada à política colonizadora portuguesa.
A metrópole desejava que a educação dos índios servisse
para formar súditos do rei em terras tropicais, ou seja, através
da uniformização da fé buscava-se uma unidade política,
facilitando a dominação do povo que se encontrava na colônia
(MACHADO, 2002, p. 26).

A educação jesuítica teve dois momentos de destaque no Brasil colônia. O


primeiro teve início em 1549, com a chegada dos padres jesuítas, e durou até
1570, quando morreu o padre Manoel da Nóbrega.

Machado (2002) informa que na fase inicial do projeto educacional instituído


pelo padre Manoel da Nóbrega no Brasil, a intenção era instruir e catequizar os
indígenas e também os filhos dos colonos, haja visto que os jesuítas constituíam
os únicos mestres oficiais da colônia. Para tanto, “[...] foram instituídos os
‘recolhimentos’, sendo que através deles se processaria a educação dos mestiços,
dos órfãos e dos filhos dos caciques, além dos filhos dos colonos, em regime de
externato” (MACHADO, 2002, p. 31).

Esse plano de estudos foi elaborado para atender a objetivos


muito diversos. Iniciava pelo aprendizado do português,
que incluía o ensino da doutrina cristã e a escola de ler e
escrever. Depois continuava, em caráter opcional, o ensino
de canto orfeônico (coral) e de música instrumental. A partir
daí, havia uma bifurcação: podia-se seguir pelo aprendizado
profissional e agrícola, ou pelas aulas de gramática seguidas
de viagem à Europa, é claro, para a elite. De início, não havia
a intenção de oferecer um ensino diferenciado aos indígenas
e aos filhos dos colonos, mas diante da falta de “adequação”
do índio e de acordo com as características da colônia
(latifúndio, escravidão e monocultura), aos índios foi reservada
a aprendizagem agrícola e aos filhos dos colonos, o ensino da
gramática, seguido de viagem à Europa. A partir da publicação
das “Constituições da Companhia de Jesus” em 1556, o plano
do Padre Manuel da Nóbrega deixou de vigorar, excluindo-
se das etapas iniciais de estudo o aprendizado de canto,
música instrumental, profissional e agrícola. Esse processo

15
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

culminará com a instituição da Ratio Studiorum em 1599, que


trouxe grandes mudanças à prática pedagógica dos jesuítas
(MACHADO, 2002, p. 31).

A partir da criação do ratio studiorum, inicia-se o segundo momento de


destaque da educação jesuítica no Brasil colônia. O plano de catequizar e
instruir os índios sofreu modificações. Os educados foram os filhos dos colonos
e aos índios restou apenas a catequização. Aqui se juntava a vontade da coroa
portuguesa e da igreja católica (coroa colonizadora) de tornar o índio mais
submisso para ser aproveitado como mão de obra escrava. Já para os padres
jesuítas, o de converter o maior número de nativos ao catolicismo, estremecido
pela reforma protestante.

Segundo Carvalho (2008), essa segunda fase chamada de ratio studiorum,


que durou de 1570 até 1759, teve como concepção uma pedagogia tradicional
com uma visão assistencialista de homem, compreendendo que esse mesmo
homem era constituído por uma essência universal e imutável, e que eles já
estavam prontos e determinados. Nessa fase, para atender à educação da elite,
a criação de colégios assumiu uma importância maior que a ação missionária.
À educação caberia apenas acomodar os alunos, segundo a essência universal.
Dando ênfase a essa concepção, veja:

Entre 1554 e 1570 os jesuítas fundam cinco escolas de instrução


elementar (Porto Seguro, Ilhéus, Espírito Santo, São Vicente
e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro,
Pernambuco e Bahia). O currículo dividia-se em duas seções
ou classes distintas. Nas classes inferiores, com duração de
seis anos, ensinava-se retórica, humanidades, gramática
portuguesa, latim e grego. Nas classes superiores, com três
anos, os alunos aprendiam matemática, física, filosofia, que
incluía lógica, moral e metafísica, além de gramática, latim e
grego (CARVALHO, 2008, p. 12).
“Se a primeira fase
foi de penúria, ela
teve o aspecto Rocha (2005) ressalta que a mais significativa diferença entre a
positivo de obrigar primeira (1549-1570) e a segunda fase (1570-1759), foi pelo tipo de
os jesuítas, dependência econômica entre religiosos e indígenas. “Se a primeira
desprovidos fase foi de penúria, ela teve o aspecto positivo de obrigar os jesuítas,
de recursos,
desprovidos de recursos, a conquistar a simpatia popular, mostrando-
a conquistar a
simpatia popular, se identificados com seus problemas, necessidades e anseios”
mostrando-se (ROCHA, 2005, p. 3). Desse modo, num primeiro momento, a tarefa
identificados com dos jesuítas foi a de poder aproximar essas culturas e integrá-las numa
seus problemas, nova e coesa realidade social. Já na segunda fase, sem se preocupar
necessidades e com a ausência de recursos, os soldados de Cristo teriam se voltado
anseios” (ROCHA,
para um passado clássico e medieval, evitando a realidade imediata
2005, p. 3).
e recusando qualquer mudança social e ideológica. “A cultura deixou

16
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

de ser posta a serviço da sociedade para se colocar à margem da vida, dedicada


à conservação dos esquemas mentais clássicos e das convenções sociais
estabelecidas” (ROCHA, 2005, p. 3).

Machado (2002) nota que a educação ofertada pela companhia de Jesus


possuía características rígidas na maneira de pensar. A formação dos professores
ganhava uma precaução no que tange à leitura e ao treinamento. Era apenas
com mais de trinta anos que o professor iniciava seu trabalho educativo. “Havia
um controle rigoroso para manter a tradição: em casos de alguns professores se
aproximarem das novidades ou ter um de espírito demasiado livre, devem ser
afastados sem hesitação do serviço docente” (MACHADO, 2002, p. 32). Era uma
pedagogia altamente autoritária, que servia tanto ao governo português e aos
interesses da Igreja, que via na fé e na autoridade da religião, um ótimo aparelho
de dominação política (ROCHA, 2005).

Você acha que essa rigidez ainda é válida para os dias de hoje?

Vamos nos deter um pouco mais no método ratio studiorum. Ele é fundamental
para compreender a educação jesuítica da época e até mesmo posterior!

Conhecido de forma abreviada como ratio studiorum, era o método


Conhecido de forma
pedagógico dos jesuítas, também chamado de plano de estudos. abreviada como
Publicado no ano de 1599, esse plano de estudos foi estabelecido a ratio studiorum,
partir das vivências pedagógicas que tiveram início no colégio italiano de era o método
Messina. A partir dessa primeira experiência italiana, houve uma disputa pedagógico dos
entre o modus italicus e o modus parisiensis de ensino, predominando jesuítas, também
chamado de plano
o segundo, o modelo da Universidade de Paris, onde estudaram muitos
de estudos.
jesuítas, até mesmo o próprio Loyola.

Composto de regras que abarcavam da organização escolar, orientações


pedagógicas, até a aplicação rigorosa da doutrina católica, esse plano de ensino
propunha uma pedagogia tradicional que remetia abertamente à escolástica
medieval, onde a educação era sinônimo de catequese e evangelização. A
formação proposta pelo ratio studiorum almejava o desenvolvimento de um
homem perfeito, do bom cristão e era direcionada para a elite colonial. Veja o que
Shigunov Neto e Maciel (2008, p. 180-181) dizem sobre o tema:

17
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

O Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Jesu, mais


conhecido pela denominação de Ratio Studiorum, foi o
método de ensino que estabelecia o currículo, a orientação
e a administração do sistema educacional a ser seguido,
instituído por Inácio de Loyola para direcionar todas as ações
educacionais dos padres jesuítas, tanto na colônia quanto na
metrópole, ou seja, em qualquer localidade onde os jesuítas
desempenhassem suas atividades. O Ratio Studiorum não
era um tratado sistematizado de pedagogia, mas sim uma
coletânea de regras e prescrições práticas e minuciosas a
serem seguidas pelos padres jesuítas em suas aulas. Portanto,
era um manual prático e sistematizado que apresentava ao
professor a metodologia de ensino a ser utilizada em suas
aulas.

O método divulgado originariamente em 1599 era centralizador e autoritário


em sua concepção, tendo também um aspecto universalista, humanista e literário.
O ratio studiorum proporcionava três alternativas de cursos: o curso secundário e
dois cursos superiores, de filosofia e teologia.

Assim, sua proposta curricular dividia-se em duas partes


distintas: os “estudos inferiores”, conhecidos por ensino
secundário; e os “estudos superiores”. Os cursos secundários
com duração de cinco anos, que na maioria das vezes
prorrogavam-se por seis anos, destinavam-se à formação
eminentemente literária e humanista.
Portanto, o objetivo do curso de humanidades era a arte acabada
da composição, oral e escrita. O aluno deve desenvolver todas
as suas faculdades, postas em exercício pelo homem que se
exprime e adquirir a arte de vazar esta manifestação de si
mesmo nos moldes de uma expressão perfeita. As classes de
gramática asseguravam-lhe uma expressão clara e exata, a
de humanidades, uma expressão rica e elegante, a de retórica
mestria perfeita na expressão poderosa e convincente “ad
perfectam aloquentiam informat”.
Esse curso de humanidades foi o que mais se propagou
e difundiu na colônia, podendo ser considerado o alicerce
da estrutura educacional jesuítica. Já os cursos superiores
eram integrados pelos cursos de filosofia e ciências, também
denominado de curso de “artes”. Tinham duração de três
anos e eram direcionados para a formação do filósofo, pois
as disciplinas que compunham os estudos eram a lógica, a
metafísica, a matemática, a ética e as ciências físicas e naturais
(SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 180-181).

Os estudos superiores instituídos pelo ratio studiorum visavam à formação


profissional do homem, enquanto que os cursos secundários tinham a finalidade
de formar o humanista, o homem para viver em sociedade.

18
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

Atividades de Estudos:

1) A companhia de Jesus no Brasil colônia teve como missão facilitar


a implantação e a manutenção de um modelo econômico colonial
e também a divulgação da fé católica. Descreva de que forma
isso ocorreu.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) O modelo educacional jesuíta teve dois momentos de destaque


no Brasil. O primeiro iniciado em 1549, com a chegada dos padres
jesuítas, e que durou até 1570, e o segundo foi a partir da criação
do ratio studiorum. Escreva um pequeno texto diferenciando
esses dois momentos.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

Sobre o legado e a influência dos jesuítas na educação colonial


brasileira, leia a seguinte obra:

SHIGUNOV NETO, A.; MACIEL, L. S. B. O ensino jesuítico no


período colonial. Curitiba: Editora UFPR, 2008.

O que parecia durar para sempre, não durou! Em 1759 o Marquês de Pombal
expulsa os jesuítas de Portugal e consequentemente das terras brasileiras,

19
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

acabando completamente com a organização educacional por eles aqui praticada


desde o século XVI. Conhecido como Marquês de Pombal, Sebastião de Carvalho
e Melo conduziu a política e economia portuguesa por 27 anos. Nomeado por D.
José I (1750-1777), como primeiro ministro de Portugal, Pombal foi responsável
por mudanças drásticas na reorganização do Estado.

Você deve estar se perguntando: por que expulsar os padres


Os jesuítas
também foram jesuítas da colônia brasileira? Portugal tinha motivos para isso? Quais
“colonizadores”, seriam esses motivos? Em termos gerais, a vontade de expulsar
atuando em os jesuítas era antiga e, especialmente, por dois fatores: a miséria
diversas áreas intelectual e econômica do reino, pela qual eram culpados; o privilégio
e contrariando, exclusivo do ensino por eles exercido desde o ano de 1549. Sem
em muitos
sombra de dúvida, a companhia de Jesus se desviou dos seus objetivos
casos, interesses
econômicos missionários e educacionais na América. Não foram aquilo que eram
e políticos na Ásia: somente ação missionária. Aqui, os jesuítas também foram
portugueses. “colonizadores”, atuando em diversas áreas e contrariando, em muitos
casos, interesses econômicos e políticos portugueses. A questão não
era simples e exigia avaliação.

Os jesuítas procuraram catequizar também os negros,


combatendo o culto dos deuses africanos. Mas não lhes foi
permitido oferecer aos escravos qualquer educação mais
formal e, assim, a educação deles foi limitada aos sermões
que os exortavam à prática da moral e fé cristãs.
Os jesuítas eram acusados de educar os índios a serviço da
ordem religiosa e não dos interesses da metrópole e de não
conhecerem outro soberano que não fosse o geral da companhia
e outra nação que não fosse a sua própria sociedade. Pombal
propôs-se a solucionar o problema do ensino não mais como
tarefa das ordens religiosas, mas como atribuição própria, sem
ser exclusiva do poder real. Mas, quando a coroa começou a
impor a reforma pombalina (alvará de 28/06/1759) e o processo
de secularização do ensino, determinando o fechamento das
escolas jesuíticas, a colonização já estava consolidada e a
língua portuguesa e a religião cristã já estavam divulgadas
entre indígenas e escravos (ROCHA, 2005, p. 9).

Pombal sabia da importância política e econômica da colônia e por isso


reformulou muita coisa por aqui. Criou as companhias de comércio que tinham
privilégios de taxar produtos na compra e venda, aumentou os impostos na região
de mineração, criando as famosas casas de fundição, e fixou quotas anuais de
produção de ouro.

Reforçando um pouco mais sobre as causas da expulsão dos jesuítas


do Brasil, lembramos que elas foram variadas, desde questões políticas até
ideológicas. Tornando-se uma barreira aos interesses do Estado moderno

20
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

português, a companhia de Jesus possuía um amplo poder econômico desejado


pela coroa portuguesa. Esse novo Estado português, influenciado pelas ideias
iluministas então vigentes na Europa, também almejava a formação de um novo
homem, ou seja, o homem burguês, o negociante, e não mais somente o cristão.

Shigunov Neto e Maciel (2008) observam que para analisar a expulsão da


companhia de Jesus deve ser levado em conta a compreensão de um processo
amplo, que abrange questões políticas, ideológicas e econômicas. Para os citados
autores, a expulsão dos padres jesuítas e por consequência o fim da companhia
de Jesus, culminando com o desmoronamento do sistema de educação criado por
eles, ocorreu por dois motivos:

Político – os jesuítas representavam um empecilho aos


interesses do Estado moderno, além de serem detentores de
grande poder econômico, cobiçado pelo Estado.
Educacional – a necessidade de a educação formar um novo
homem – o comerciante e o homem burguês, e não mais o
homem cristão – pois os princípios liberais e o movimento
iluminista trazem consigo novos ideais e uma nova filosofia de
vida (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 180).

As missões, que eram muitas, passaram a ser controladas por funcionários


do governo. “As capelas tornaram-se paróquias, com vigários nomeados pelo rei;
os indígenas deveriam deixar de ter “nomes bárbaros”, passando a ter nomes
portugueses” (CARVALHO, 2008, p. 14). As línguas nativas faladas foram
proibidas, tornando-se obrigatória a língua portuguesa. “Os caciques viraram
capitães e juízes, e as lideranças passaram a ser os vereadores municipais. Todos
os indígenas, a partir daquele momento, se tornariam cidadãos portugueses”
(CARVALHO, 2008, p. 14).

Provocando um retrocesso no sistema educativo da colônia, a expulsão dos


jesuítas comprometeu menos a educação dos pobres que a educação das elites. O
sistema educacional edificado por eles, aos poucos se transformou num
sistema cada vez mais voltado às elites, refletindo o que recomendava Grande parte das
características do
a companhia de Jesus e o ratio studiorum. Em 1759, ano da expulsão,
padrão pedagógico
eles tinham, além das escolas de ler e escrever, inúmeros seminários e do ensino jesuítico,
cerca de 24 colégios, sem contar a grande quantidade de missões. que foi praticado no
Brasil por mais de
Grande parte das características do padrão pedagógico do ensino dois séculos, ainda
jesuítico, que foi praticado no Brasil por mais de dois séculos, ainda permanece viva em
muitas instituições
permanece viva em muitas instituições escolares brasileiras, sejam
escolares
elas públicas ou privadas. Isso é notório quando vemos muitas escolas brasileiras, sejam
preocupadas com a formação de valores religiosos, impondo uma elas públicas ou
disciplina corporal, preservando hierarquias e utilizando estratégias privadas.

21
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

didáticas como: o aluno “líder” da sala, o estudioso que deve ser exemplo a ser
seguido, e principalmente a memorização, o silêncio e até a competição.

E a pergunta mais uma vez é necessária: o que foi feito em termos


educacionais após a expulsão dos jesuítas das terras brasileiras? Machado (2002)
assinala que com o banimento dos jesuítas da colônia brasileira pelo Marquês
de Pombal, a coroa portuguesa tentou implantar um sistema educacional para
ocupar seu lugar. O mesmo autor diz que foi criado um sistema de aulas régias
que era mantido pelo imposto chamado de subsídio literário, no entanto, essa
nova tentativa não deu conta de prover a educação da colônia, pois não havia
recursos e nem profissionais qualificados para tanto.

Vejamos o que Rocha (2005, p. 10) ensina sobre o assunto:

Infelizmente, Pombal esperou treze anos para tentar substituir


os dois séculos de trabalho jesuítico e, mesmo assim, a
Ordenação de 10 de novembro de 1772, que instituiu o
“subsídio literário”, imposto cobrado sobre o consumo da
carne e produção de aguardente, criado especialmente para
a manutenção das aulas de ler e escrever e de humanidades,
não foi capaz de arrecadar os recursos necessários.
A instituição do regime das “aulas régias”, ou seja, aulas de
disciplinas isoladas, não apresentava a coerência necessária,
dada a ausência de um plano sistemático de estudos e a falta
de motivação discente. Uma das razões para as escolas régias
não serem frequentadas é a de que eram constantemente
visitadas por soldados incumbidos de recrutar rapazes
com mais de treze anos. Certamente, outros motivos mais
sérios provocavam essa debandada das aulas, ministradas
por professores leigos, ignorantes e sem nenhum senso
pedagógico.

O legado desse período (1759-1808) foi de pura ilusão. A identidade da ação


pedagógica de um nível para outro, e até os cursos superiores, foram trocados
pelas difusas aulas régias, enfraquecendo a organização de um novo sistema.
A distância entre a diretoria geral de estudos e os mestres não congregados em
colégios, mas dispersos, sem órgãos intermediários permanentes, nem pedia
qualquer inspeção eficaz, nem criava um ambiente favorável às iniciativas de
vulto. Tudo, até os detalhes de programas e a escolha de livros, tinha que vir de
cima e de longe, do poder supremo do reino, como se este tivesse sido organizado
para instalar a rotina, paralisar as iniciativas individuais e estimular, em vez de
absorver, os organismos parasitários que costumam desenvolver-se à sombra de
governos distantes, naturalmente lentos na sua intervenção. Essa foi uma das
razões pelas quais a ação reconstrutora de Pombal não atingiu, senão de raspão,
a vida escolar da colônia.

22
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

Para Portugal, quando implantou esse sistema, seria o fim do "atraso" da


educação no Brasil. No entanto, a educação, que era quase de responsabilidade
total dos jesuítas, teve um grande retrocesso. Vinte anos após a expulsão da
companhia de Jesus, o número de escolas em toda a colônia era bem pequeno se
comparado à época dos padres. Muitas escolas foram fechadas e as bibliotecas
dos mosteiros foram abandonadas ou destruídas.

Mais uma vez, Machado (2002, p. 34) ensina:

Como você pode perceber, os jesuítas tornaram-se instrumentos


na formação da elite colonial, já que foram os educadores
durante 210 anos. O modelo de educação implantado era
adequado à política colonial portuguesa, pois se privilegiava
o trabalho intelectual, deixando de lado o trabalho manual.
Desta forma, os alunos ficavam distantes da realidade em que
viviam. A maioria da população era iletrada - pobres, negros e
mulheres - o que fazia a elite colonial acreditar que o mundo
civilizado estava lá fora, sendo a metrópole, o modelo ideal.

De forma não muito consensual, alguns historiadores defendem a ação dos


jesuítas no Brasil durante 210 anos, outros, porém, criticam de forma veemente
esse trabalho educativo. O modelo educacional jesuítico teve influência em
todo período colonial, alcançando até o império e, porque não dizer, o período
republicano. Essa educação criou uma cultura importada, com influência
notadamente europeia. No entanto, não podemos esquecer de que os padres
jesuítas foram os orientadores sociais e intelectuais da colônia por mais de dois
séculos e que, seguramente, sem eles teria sido impossível ao conquistador
português conservar a coesão de sua cultura e de sua civilização. Isso era
coerente com a ação educacional jesuítica, pois procedia com seus objetivos
principais na colônia, a conversão do gentio à fé cristã. A obra jesuítica também
apresentou papel fundamental e acabou contribuindo de forma determinante
para que o governo de Portugal alcançasse seus objetivos na colonização e
povoamento da colônia brasileira na América.

A ação educacional jesuítica na colônia pode ser compreendida a partir


de duas fases: uma delas corresponde ao primeiro período, o de adaptação e
construção do trabalho de catequese e, por conseguinte, a conversão do nativo
aos costumes europeus; num segundo momento, que iniciou no segundo século
de sua atuação, ocorreu um tempo de amplo aumento do sistema educacional
disseminado no primeiro período, ou seja, foi a fase de solidificação do projeto
educacional, dedicando-se também à catequização do gentio à fé católica e ao
ensino dos filhos dos colonos e demais membros da colônia, principalmente, os
filhos dos donos de engenho e funcionários reais.

23
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

Existiram, e ainda existem, críticas realizadas ao método pedagógico


aplicado pelos jesuítas na colônia brasileira. De forma geral, critica-se o monopólio
da educação da juventude portuguesa e colonial, que tinha uma orientação para
a uniformidade intelectual; acusavam seus ensinos de dogmático e abstrato; de
usar em seus métodos autoritarismo, retórica e conservadorismo, não havendo
lugar para os debates inovadores da época. Em meio a essas críticas, apesar das
dificuldades e com as dimensões geográficas do Brasil:

Os números da obra jesuítica impressionam pela grandeza,


pois foram fundadas 36 missões; escolas de ler e escrever
em quase todas as povoações e aldeias; 25 residências dos
jesuítas; 18 estabelecimentos de ensino secundário, entre
colégios e seminários, nos principais pontos do Brasil, entre
eles: Bahia, São Vicente, Rio de Janeiro, Olinda, Espírito Santo,
São Luís, Ilhéus, Recife, Santos, Porto Seguro, Paranaguá,
Alcântara, Vigia, Pará, Colônia do Sacramento, Florianópolis e
Paraíba (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 183).

O que foi colocado A questão que se deve assinalar aqui, é a de peculiaridade após
no lugar da a expulsão dos jesuítas: o que foi colocado no lugar da educação
educação jesuítica jesuítica não deu conta nem de longe de educar tanto a elite como os
não deu conta demais moradores da colônia portuguesa na América. A destruição e
nem de longe de
substituição das antigas propostas pelas novas, só melhorou um pouco
educar tanto a elite
como os demais com a vinda da família real em 1808. Por fim, a grande perspectiva
moradores da que devemos pensar é a do educador comprometido, aquele que lê
colônia portuguesa as entrelinhas da história da nossa educação, para entender que tipo
na América. de educação tínhamos e qual, eventualmente, podemos construir hoje
para o futuro.

O SURGIMENTO DO ENSINO SUPERIOR


BRASILEIRO
Tardou, mas aconteceu! O aparecimento do ensino superior no Brasil ocorreu mais
de três séculos depois do seu “descobrimento”. A implantação de cursos superiores em
terras brasileiras ocorreu por dois motivos: a chegada da família real portuguesa ao
Brasil e a necessidade em atender aos jovens nobres que foram impedidos de cursar
universidades europeias após o bloqueio continental de Napoleão sobre a Europa.

Para a metrópole portuguesa, a aventura em terras brasileiras, na colônia, se


assemelhava ao investimento de uma empresa, unicamente voltada para a exploração
e a esse fim se manteve fiel. Dessa maneira, a coroa não se preocupava com a criação
de instituições de ensino superior, ainda mais de universidades. Até as ações dos

24
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

padres jesuítas de fundar seminários para a formação de um clero brasileiro cessaram


na reforma efetuada pelo Marquês de Pombal, quando expulsou a companhia de Jesus
no final do século XVIII. Assim, as primeiras instituições de ensino superior foram criadas
apenas em 1808 e as primeiras universidades são ainda mais recentes, datando da
década de 1920/1930 (SANTOS, 2009).

Arrastando por alguns anos essa situação vexatória da educação em terras


brasileiras, com a expulsão dos jesuítas, ela só começou a mudar no momento em
que a família real portuguesa se mudou para o Brasil em 1808. Fugindo da invasão
de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte, a corte se transfere para sua colônia
mais importante, fixando-se na cidade do Rio de Janeiro. Nesse momento, o Brasil é
elevado à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves e ocorre a abertura dos
portos às nações unidas. Isso significou que todas as mercadorias importadas e
exportadas pelo Brasil, que antes eram comercializadas somente com Portugal, agora
são comercializadas diretamente com os países interessados. O principal parceiro
comercial na época era a Inglaterra.

De forma esclarecedora, Rocha (2005, p. 12) lembra:

A transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro


(1807-1808) mudou de maneira radical as relações entre a
metrópole e sua colônia mais próspera, o Brasil. Do ponto de
vista da educação, novas orientações foram, forçosamente,
introduzidas, ampliando-se o processo de secularização do
ensino iniciado com Pombal. Motivada por preocupações
de utilidade prática e imediata, a obra escolar de D. João VI
marcou uma ruptura com o programa escolástico e literário até
então em vigor. Muito havia a ser feito para atender à demanda
educacional da aristocracia portuguesa, preparando, inclusive,
novos quadros para as ocupações técnico-burocráticas.
Também é fato que o ensino superior foi a maior preocupação,
ficando os demais níveis relegados à própria sorte, mas, com
essa obra teve início o processo de autonomia que iria resultar
na independência política.

Sobre a família real portuguesa, sugere-se a leitura da seguinte


obra:

LAURENTINO, Gomes. Como uma rainha louca, um príncipe


medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram
a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do
Brasil, 2007.

25
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

A obra intitulada “Como uma rainha louca, um príncipe medroso


e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de
Portugal e do Brasil”, está disponível no seguinte endereço eletrônico:
<http://goo.gl/nffLtj>.

Nessa ocasião, o Brasil se constituiria em capital do reino português,


tornando-se assim essencial atenuar as carências do sistema de ensino brasileiro,
suscitando uma estrutura educacional nova e que pudesse formar servidores
preparados para esta realidade política. O primeiro passo foi multiplicar o número
de cadeiras de ensino e criar cursos superiores e instituições culturais. Para tanto,
foram criadas a Academia Real da Marinha (1808) e a Academia Real Militar
(1910), destinadas a preparar oficiais e engenheiros para a defesa militar da
colônia. Também foram criados os cursos de cirurgia, anatomia e medicina (1808-
1809). Por fim, foram criados cursos voltados para a formação de técnicos para os
campos da economia, indústria e agricultura (MACHADO, 2002).

Conforme Machado (2002, p. 34):

Para incrementar a vida cultural e social do Rio de Janeiro,


foram criados o Jardim Botânico (1810), a Biblioteca Nacional
(1810) e o Museu Real, posteriormente Museu Nacional
(1818). Foram incentivadas a vinda de missões estrangeiras
compostas por pintores, músicos, cientistas, entre outros
estudiosos. Em 1808, também foi liberada a imprensa e a
criação de indústrias no país. A imprensa era proibida devido
ao medo da metrópole de que, através dos jornais e dos livros,
se difundissem ideias que levassem a independência. Também
por causa disso, a entrada de livros na colônia era controlada.

A vinda da corte É importante assinalar que muitos historiadores consideram a


portuguesa marcou criação desses cursos superiores o verdadeiro início do ensino superior
de fato o início em nosso país. Pois, como assinala Sampaio (1991), a vinda da corte
da construção do
portuguesa marcou de fato o início da construção do ensino superior
ensino superior no
Brasil. no Brasil, cujo padrão de ampliação teve, como particularidades
principais, sua orientação para formação profissional e a infraestrutura
necessária para modernizar a colônia.

Existia, para tanto, um modelo de formação profissional no qual:

26
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

As escolas de medicina, engenharia e, mais tarde, de direito,


se constituíram na espinha dorsal do sistema, e ainda hoje
estão entre as profissões de maior prestígio e demanda.
Durante esse primeiro período, de 1808 a 1889, o sistema de
ensino superior se desenvolve lentamente, em compasso com
as rasas transformações sociais e econômicas da sociedade
brasileira. Tratava-se de um sistema voltado para o ensino,
que assegurava um diploma profissional, o qual dava direito a
ocupar posições privilegiadas no restrito mercado de trabalho
existente e a assegurar prestígio social (SAMPAIO, 1991, p. 6).

No Brasil, a criação de instituições de ensino superior seguiu esse modelo,


buscando formar grupos profissionais para a administração dos negócios do
Estado, para a construção de obras públicas e também para encontrar novas
riquezas, rejeitando também o papel educacional da igreja católica, exceto o ensino
das primeiras letras. A independência política, ocorrida em 1822, não significou
grandes mudanças no ensino superior do Brasil, menos ainda a ampliação ou
diversificação do sistema. Os novos dirigentes não vislumbraram qualquer
vantagem na criação de universidades, prevalecendo o modelo de formação para
profissões em faculdades isoladas. De fato, o processo de independência não foi
além de uma continuidade protocolar de poder (SAMPAIO, 1991, p. 7).

Atividades de Estudos:

1) Com a expulsão dos jesuítas das terras brasileiras, o que


aconteceu com a educação da colônia portuguesa na América?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808,


ocorreram mudanças significativas na educação do Brasil,
principalmente no ensino superior. Quais foram essas mudanças?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

27
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

A UNIVERSIDADE: UMA INSTITUIÇÃO


TARDIA NO BRASIL
Cabe salientar que, proclamada a República, outras tentativas são feitas.
A situação do ensino superior permaneceu praticamente inalterada, desde a
independência em 1822 até a Proclamação da República, em 1889. O que mudou
com a República foram as alterações na legislação do ensino, com um ideário
positivista, pois o discurso passou a afirmar que todos os cidadãos deveriam ter
as mesmas oportunidades educacionais.

Fávero (2006) lembra que, na Constituição Republicana de 1891, o ensino


superior deveria ser amparado pelo poder central, haja visto que do ano de 1889
até 1930 (período conhecido como República Velha), o ensino superior no país
sofreu inúmeras alterações decorrentes da publicação de diferentes dispositivos
legais sobre o assunto. Apesar da demora no surgimento da universidade,
o regime de desoficialização do ensino acabou por gerar condições para o
surgimento das universidades, com tendência para se deslocar provisoriamente
da órbita do Governo Federal para a dos Estados. Nessa conjuntura, surgiu em
1909 a Universidade de Manaus, em 1911 é constituída a Universidade de São
Paulo e, em 1912 a Universidade do Paraná, todas como instituições livres.

A Universidade do Como resultado disso, em setembro de 1920 o Presidente Epitácio


Rio de Janeiro é a Pessoa, mediante o Decreto nº 14.343, organizou a Universidade do
primeira instituição Rio de Janeiro. Criada a partir de três unidades de caráter profissional,
de ensino superior foi-lhe garantida autonomia didática e administrativa. Dessa maneira, a
criada legalmente
primeira universidade oficial foi criada, resultando da reunião formal de
pelo Governo
Federal. três escolas tradicionais já existentes, sem uma maior conexão entre
elas e cada uma conservando suas características. Fávero (2006)
lembra que apesar das ressalvas feitas à criação dessa instituição de ensino,
cabe assinalar que na história da educação superior brasileira, a Universidade do
Rio de Janeiro é a primeira instituição de ensino superior criada legalmente pelo
Governo Federal.

Aos poucos o panorama começou a mudar. Em 1931, ainda no governo


provisório de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública,
tendo Francisco Campos como o primeiro ocupante da pasta. Através de uma
série de decretos, organizou a “famosa” Reforma Francisco Campos. Dentre esses
decretos, o nº 19.851 de 1931, instituiu o estatuto das universidades brasileiras,
que ao tratar sobre a disposição do ensino superior, instituiu o regime universitário,
elevando para o nível superior a formação de professores secundários.

28
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

No que tange à organização do ensino superior, essa reforma previu duas


modalidades: o sistema universitário (oficial, mantido pelos governos federal e
estaduais ou particulares) e o instituto isolado. A direção central da universidade
cabia ao reitor e ao conselho universitário, sendo o reitor escolhido a partir de uma
lista tríplice, prática que vigora até hoje nas universidades federais e em algumas
públicas estaduais. Essa reforma também dispunha sobre a composição do corpo
docente, catedráticos e auxiliares de ensino, que deveriam ser escolhidos por
concursos de títulos e provas, entre outras medidas.

Outro fator importante relativo à universidade nas primeiras décadas do


século XX, dizia respeito à necessidade da pesquisa. A pesquisa que deveria ser
realizada pelas universidades, sempre promovendo a formação do pesquisador,
realizava-se até então nas escolas profissionais, muitas impróprias para esse fim.
“A pesquisa precisava de um espaço mais distanciado de resultados práticos, e
com mais liberdade de experimentação e pensamento” (SAMPAIO, 1991).

Nesse quesito, a criação de uma universidade no Brasil ressurgiu com uma


nova expectativa, qual seja, a de romper com a argumentação resumidamente
política que prevaleceu ao longo de todo o século XIX e início do século XX.
Atribuía-se à universidade um novo papel: desenvolver a ciência, as humanidades/
artes e a pesquisa. Para essa nova finalidade, a Academia Brasileira de Ciência
(ABC) e a Associação Brasileira de Educação exerceram um papel de suma
importância. “Elas colocaram em pauta um projeto de reformulação completa do
sistema educacional brasileiro, desde o nível primário com o projeto da Escola
Nova, até o superior com o projeto da Universidade Brasileira, que seria seu
coroamento” (SAMPAIO, 1991, p. 8).

A criação da Associação Brasileira de Educação em 16 de


outubro de 1924, foi um acontecimento de importância fundamental
para o direcionamento das mudanças que ocorreram no sistema
educacional escolar na segunda metade da década de 1920 e,
principalmente, na primeira metade da década seguinte. Até aquela
data, o debate sobre as questões educacionais se restringia, quase
que exclusivamente, ao interior do Estado. Depois dela, passou a
existir um espaço na sociedade civil onde se discutiam as políticas
educacionais elaboradas pelo Estado e as sugestões.

Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/eaBexD>. Acesso em: 16 fev. 2016.

29
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

De acordo com Sampaio (1991, p. 8), essa universidade moderna deveria ser
organizada:

[...] a) de maneira que se integrem num sistema único, mas


sob direção autônoma, as faculdades profissionais (medicina,
engenharia, direito), institutos técnicos especializados
(farmácia, odontologia), e instituições de altos estudos
(faculdades de filosofia e letras, de ciências matemáticas,
físicas naturais, de ciências econômicas e sociais, de
educação etc.); b) e de maneira que, sem perder o seu caráter
de universalidade, se possa desenvolver, como uma instituição
orgânica e viva, posta pelo seu espírito científico, pelo nível
dos estudos, pela natureza e eficácia de sua ação, a serviço da
formação e desenvolvimento da cultura nacional.

A despeito de todas as tentativas, a Reforma Francisco Campos não


conseguiu pôr em prática o ideal de universidade que tinha movimentado
educadores e intelectuais em 1920, apesar de não ter mantido o ensino superior
nos moldes tradicionais anteriores. Desse modo, a Reforma Francisco Campos
além de não modificar solidamente a universidade imaginada pelos educadores
nos anos 20, também não refletiu na política do Governo Vargas ao longo do seu
primeiro mandato (1930-1945). “Esse período assistiria à criação de dois projetos
universitários que teriam continuidade, o da Universidade de São Paulo e da
Universidade do Brasil, e o projeto frustrado da Universidade do Distrito Federal,
no Rio de Janeiro” (SAMPAIO, 1991, p. 11).

Em suma, a concepção da universidade em nosso país significou um


processo de sobreposição de modelos, do que efetivamente de substituição, isto
é, reuniu em muitos casos faculdades já existentes. A universidade, com forte
tendência à pesquisa, foi parcialmente instituída com a fundação da USP em
1934, no restante foi preservado o antigo modelo de formação para profissões, o
que mudaria de certa forma com a Reforma Universitária de 1968, nosso próximo
assunto.

Final dos anos de


A REFORMA UNIVERSITÁRIA DE
1940 e começo dos
anos 1950, surge
1968
nas universidades
a vontade de Após o final da ditadura Vargas, teve início a redemocratização
mudanças, no Brasil, confirmada com a promulgação de uma nova Constituição
principalmente por
em 1946, que se distinguiu por ter caráter liberal em suas premissas.
uma autonomia
universitária, tanto Já nesse período, final dos anos de 1940 e começo dos anos 1950,
interna como surge nas universidades a vontade de mudanças, principalmente
externa. por uma autonomia universitária, tanto interna como externa. Eram
os ventos das mudanças.

30
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

A partir dos anos de 1960, a União Nacional dos Estudantes (UNE) buscava
em seus seminários exigir uma reforma universitária, vinculada, é claro, com
mudanças estruturais e políticas do país. No entanto, entre abril de 1964 até 1967,
as discussões no movimento estudantil foram centralizadas especialmente em dois
pontos: “[...] a) revogação dos acordos MEC/USAID; b) revogação da Lei Suplicy
(Lei nº 4.464, de 9.11.1964), pela qual a UNE foi substituída pelo Diretório Nacional
de Estudantes” (FÁVERO, 2006, p. 20).

Ramos (2011) lembra que nesse período, um pouco antes do golpe militar
que ocorreu em 1964, a comunidade acadêmica tinha iniciado a discussão em
torno da necessidade da reforma universitária, envolvendo a criação de institutos
de pesquisa, a modificação da estrutura da carreira docente, o reajuste salarial
dos professores e a assistência aos estudantes, através de bolsas, alimentação,
alojamento etc.

No começo do ano de 1968, uma intensa mobilização de estudantes,


avivada por intensos debates nas universidades, exigiu do governo medidas que
solucionassem os problemas educacionais mais graves, principalmente a falta
de vagas. A resposta do governo militar ocorreu com o Decreto n. 62.937, de
02.07.1968, que criou um Grupo de Trabalho (GT) encarregado de estudar, em
caráter de urgência, as medidas que deveriam ser tomadas para resolver a crise da
universidade. Veja:

No relatório final desse grupo aparece registrado que essa


crise sensibilizou diferentes setores da sociedade, não
podendo deixar de exigir do governo uma ação eficaz que
enfrentasse de imediato o problema da reforma universitária,
convertida numa das urgências nacionais. Entre as questões
levantadas, o relatório chama a atenção para o fato de a
universidade brasileira estar organizada à base de faculdades
tradicionais que, apesar de certos progressos, em substância,
ainda se revelam inadequadas para atender às necessidades
do processo de desenvolvimento, que se intensificou na
década de 1950, e se conserva inadaptada às mudanças
dele decorrentes. A universidade se expandiu, mas, em seu
cerne, permanece a mesma estrutura anacrônica a entravar
o processo de desenvolvimento e os germes da inovação
(FÁVERO, 2006, p. 18).

Dentre as medidas da reforma que tiveram por objetivo a produtividade e a


eficiência da universidade, principalmente as públicas, destacam-se: “[...] o sistema
departamental, o vestibular unificado, o ciclo básico, o sistema de créditos e a
matrícula por disciplina, bem como a carreira do magistério e a pós-graduação”
(FÁVERO, 2006, p. 18). Muitas dessas mudanças permanecem até os dias
atuais, mas o que se discute hoje em relação ao ensino superior, não é tanto sua
organização, mas sim seu alcance social e econômico para o país, assunto que
será discutido nos próximos capítulos!

31
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

Para conhecer um pouco mais sobre a reforma universitária de


1968, leia com atenção o seguinte texto:

LIRA. A. T. N. As bases da reforma universitária da ditadura


militar no Brasil. Disponível em: <http://goo.gl/BkulTo>. Acesso em:
16 fev. 2016.

Atividades de Estudos:

1) Em que ano e em que contexto a primeira universidade brasileira


oficial foi criada?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Durante o Período Vargas, uma importante reforma foi


implementada na educação. Quais foram os principais aspectos
dessa reforma para o setor?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

3) Descreva o que foi a reforma universitária de 1968 e o que ela


modificou no modelo de ensino superior do Brasil.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

32
Capítulo 1 PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO
SUPERIOR NO BRASIL

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Caro pós-graduando! Chegamos ao final do primeiro capítulo. Esperamos
que a leitura deste material tenha despertado não só o conhecimento sobre a
educação superior brasileira, mas também, a vontade de conhecer mais. Faça
isso, leia as indicações sugeridas no próprio texto do livro de estudos!

Algumas considerações são necessárias para encerrar este capítulo! De


forma não muito consensual, alguns historiadores defendem a ação dos jesuítas
no Brasil durante 210 anos, outros porém, criticam veemente esse trabalho
educativo.

A educação praticada pelos jesuítas perpassou toda a época colonial,


chegando a influenciar práticas desde o Império até a República. Essa educação
criou uma cultura importada, com influência notadamente europeia. No entanto,
não podemos esquecer que os padres jesuítas foram os orientadores sociais e
intelectuais da colônia por mais de dois séculos e que, seguramente, sem eles
teria sido impossível ao conquistador português conservar a coesão da sua
cultura e da sua civilização. Isso era coerente com a ação educacional jesuítica,
pois procedia com seus objetivos principais na colônia, a conversão do gentio
à fé cristã. A obra jesuítica também apresentou papel fundamental e acabou
contribuindo de forma determinante para que o governo de Portugal alcançasse
seus objetivos na colonização e no povoamento da colônia brasileira na América.

Todavia, os primeiros ensaios do ensino superior no Brasil somente


aconteceriam muito após a vinda dos primeiros colonizadores, ou seja, apenas
com a chegada da família real portuguesa em terras brasileiras em 1808. Nesse
momento surgiu, de fato, o ensino superior no Brasil, com uma preocupação
basicamente profissionalizante. As universidades demoraram para serem criadas
em nosso país, pois somente na década de 1920 e 1930 surgiram universidades
com estatuto próprio. Por fim, a ditadura militar empreendeu uma reforma
universitária caracterizada pela racionalização e com forte teor político ideológico.

REFERÊNCIAS
CARVALHO, C. et al. Educação jesuítica: contexto, surgimento e
desdobramentos. Revista Eletrônica de Ciências da Educação, Campo Largo,
v. 7, n. 2, nov. 2008.

FÁVERO, M. L. A. A universidade no Brasil: das origens à reforma universitária


de 1968. Curitiba: Educar, 2006.

33
HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

MACHADO, A. História da educação. 3. ed. Florianópolis: UDESC, 2002.

RAMOS, F. P. História e política do ensino superior no Brasil: algumas


considerações sobre o fomento, normas e legislação. 2011. Disponível em:
<http://goo.gl/iVZMVD>. Acesso em: 16 fev. 2016.

ROCHA, M. A. S. A educação pública antes da independência. 2005.


Disponível em: <http://goo.gl/0XDQbV>. Acesso em: 16 fev. 2016.

SAMPAIO, H. Evolução do ensino superior brasileiro, 1808–1990. 1991.


Disponível em: <http://nupps.usp.br/downloads/docs/dt9108.pdf>. Acesso em: 11
fev. 2016.

SANTOS, A. P. Ensino superior: trajetória histórica e políticas recentes. 2009.


Disponível em: <https://goo.gl/uI5eYN>. Acesso em: 14 fev. 2016.

SHIGUNOV NETO, A.; MACIEL, L. S. B. O ensino jesuítico no período


colonial. Curitiba: Editora UFPR, 2008.

34

Você também pode gostar