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PREFACIO ‘Anne Frank pertencia a uma familia udaica de Frankfort que, em 1933, fugindo as perseguicdes do regime hitleiano, se refugiou na Holanda, onde ‘supunha encontrar paz ea seguranga. Mas, logo depois da invasio da Ho- Janda pelos alemdes, as perseguicdes aos judeus continuaram ali com tal violencia que os Frank resolveram “mergulhar”, designagio que ento se dava ao desaparecimento voluntatio de pessoas perseguidas - ou por razses politicas ou por diseri cia ilegal ou clandestina, Durante dois anos, que abrangem o periodo de ‘guerra de 194219444, nfo podem saira ruae vivem sobaconstanteameaga de serem descobertos pela policia. ‘Anne, rapariga em pleno perfodo de desenvolvimento fisico, esse pe- riodo delicado ¢ importante na vida de qualquer adolescente, mas espe- clalmente decisivo quando se tem uma sensibilidade e uma inteligéncia ‘como a dela, escrevia com regularidade um didrio, em forma de cartas, a uma amiga imagindsla, Este diério tornou-se nfo sé um dos mais como: jnagBesraciais - e que passavam a ter uma existén- ventes depoimentos contra a guerra, contra a injustica e a crueldade dos homens como, também, um dos mais puros documentos psicolégicos que todos, e sobretudo os que contactam com gente nova, deviam ler. Anne no escreveu o seu didrio a pensar na publicidade, nem porque fosse incitada a faz#-lo, mas tnica e simplesmente porque tinha de o es- ‘crever - para si propria, para “aliviar o coracdo”, como ela diz virias vezes, por essa forte necessidade intima que caracteriza o artista ea que ela no se poderia furtar, nem que quisesse. “Quando escrevo, sinto um alivio, a minha dor desaparece, a coragem. volta... Ao escrever sei esclarecer tudo ~ os meus pensamentos, os meus Jdeais, as minhas fantasias” Nao se trata, portanto ~ ¢ isto é fundamental -, de uma dessas produ- ‘gdes de menino prodigio, lancado e explorado pela familia comercialmente, ‘mas sim de uma auténtica obra de arte a que um critico sufgo chamou “uma cconfissio clissica da puberdade de hoje, que ultrapassa todos os limites do circunstancial The Low, “Precio”, fn Anne Frank, Dro de Anse Frank ‘M, Cheul de Litres, 1975, pp. 5-6 YK De entre as afirmagdes seguintes, escolhe aquela que completa cada uma das frases de forma correta, de acordo com o texto transcrito. 1.1. O prefacio é um texto de esclarecimento, uma adverténcia ou um comenta- rio, que surge: 2) no inicio de um livro e que s6 pode ser escrito pelo préprio autor. b) no inicio de um livro e que pode ser, ou nao, escrito pelo préprio autor. «) no final de um livro e que pode ser, ou nao, escrito pelo préprio autor. 1.2. O prefacio transcrito diz respeito: a) a0 Didrio de Anne Frank e foi escrito pela prépria autora. b)a um romance de lise Losa e foi escrito pela prépria autora. ¢) a0 Didrio de Anne Frank, mas foi escrito por ilse Losa.. 1.3. Este preficio pretende, sobretudo: a) dar um esclarecimento, b) fazer uma adverténcia. ¢) fazer um comentario. 1.4. Anne Frank resolveu escrever este diario, porque: a) a famflia a incitou a fazé-lo. b) sentiu necessidade de desabafar. ) queria ganhar dinheiro com a sua publicacao. 1S. O periodo de guerra de 1942 a 1944, referido no prefaci a) Guerra Mundial. b) I! Guerra Mundial. ) Guerra do Vietname. reporta-se 3: Oral rr ‘Ap6s 0 visionamento da sequéncia de imagens relativas & guerra a que o preficio alude, discute com os teus colegas as dificuldades vividas durante este perfodo, atendendo as seguintes orientacdes de leitura: Y aspetos marcantes do espaco/ambiente; ¥ pessoas destacadas nas imagens; 7 estado de espirito evidenciado na expressio facial/corporal. Durante a discussio, lembra-te de que deves: 7 levantar 0 braco para pedires a palavra; 7 intervir quando for a tua vez e sem interromperes os teus colegas; Y evitar repetirideias ja expostas; respeitar os pontos de vista dos teus colegas e ouvi-los com atencao. Sabado, 20 de junho de 1942 ‘Durante uns dias ndo escrevi nada, porque primeiro quis pensar seria _ mente na finalidade e no sentido de um dirio. Experimento uma sensacdo singular ao escrever 0 meu didrio, Nao ¢ s6 por nunca ter “escrito”, supo- + mho que, mais tarde, nem eu nem ninguém achars interesse nos desabafos poso de “Didrio” seja a quem for, a nio ser que venha a encontrar na 3 vida otal “grande amigo” ou a tal “grande amiga”. ‘De resto, amais ninguém poderd interessar o que vou escrever. E pronto!, _cheguei ao ponto principal de todas estas consideragdes: ndo tenho uma verdadeira amigal, vou-me explicar melhor, pois ninguém pode com- _preender que uma rapariga de treze anos esinta 6. £, defacto, coisa es- por af uns trinta conhecidos ou o que se chama geralmente “ami: mo na aula tentam ver-me o rosto com um espelhinho de bolso e s6 se ‘por satisfeitos quando Ihes sorrio, Tenho parentes, tiase tios, muito ‘simpéticos, uma casa bonita, e, pensando bem, nao me falta nada, senio _ uma amiga. Com todos os meus numerosos conhecidos, s6 consigo fazer ‘ou falar sobre coisas banais. Nao me é possivel abrir-me, sinto-me que “abotoada”. Pode ser que esta falta de confianca sejadefeito meu. no hd nada a fazer e tenho pena de nao poder modificar as coisas. Por tudo isto é que escrevo um didrio. E para evocar na minha fantasia a ia da amiga hé tanto tempo desejada, no quero, como qualquer pessoa, tars6 factos. Este didtio & que ha de ser a minha amiga, e vou-Ihe por Essa amiga chama-se Kitty. Seria incompreensivel a minha conversa coma Kitty se eu nfo contasse primeiro a hst6ria da minha vida, embora sem grande vontade. >» Quando os meus pais casaram tinha o meu paitrintae seis anos e minha me vinte e cinco. Minha irma Margot nasceu em 1926 em Frankfurt sobre o ‘Meno; em 12 de junho de 1929 vim eu. Como somos judeus, emigrémos em 1933, paraa Holanda, onde o meu pai se tornou dretor da Travis A-G.[.] ‘Anossa vida decortia com as afligdes do costume, pois as pessoas de fa- ‘milia que ficaram na Alemanha nao escaparam as perseguigGes de Hitler. _Depois dos “progroms”* de 1938, os doisirmaos de minha mae fugiram para América. Minha av6veio vive connosco, Tina ness altura setentac trés| Anos. A partir de 1940 foram-se acabando os bons tempos. Primeiro veloa_ guerra, depoisa capitulagao, em seguida a entrada dosalemies, Eentdoco- ‘megou.a misria, A uma et ditatorial segua-se outra; e, em especial para judeus, as coisas comecaram aficar feias. Obrigaram-nosa usara estrela ‘entregaras bicicletas, nio nos deixavam andar nos carros létricose ‘menos de automével, ‘Os judeus 6 podiam fazer compras das 33s horas -e 6 em jas «as, Nio podiam sair& rua depois das oito da noite e nem sequer fear 4quintal ou na varanda. Nao podiam i ao teatro nem ao cinema, nem quentar qualquer lugar de divertimento. Também no podiam nada, jogar ténisou hquet, nem praticar qualquer outro desporto.Os jud ppodiam vsitar os crstios. As criangas judacas eram obrigadas af fostava dela e que falta me tem feito, Em 1934 mandaram-me para ddim-escola “Montessori”. Depoisestudei ainda as primeira classes p rias naquela escola. No iltimo ano, a ditetora, as." Desde o ano passado a Margot eeu frequentamos o Liceu «quarto ano eeu no primeiro. 'Nés, os quatro da familia, ainda nfo temos muito Saber ler 1. Atenta nos trés primeiros pardgrafos do texto. 11. Indica a finalidade de um didrio. 1.2. Comprova o seu cardter confidencial. 2. Identifica 0 motivo pelo qual a expressio “quero aliviar o meu coracio de todos os pesos” (ina 7) contém um eufemismo. 3. Explica o sentido das frases seguintes: a) “O papel é mais paciente do que os homens.” (inha 8) b) “Nao me é possivel abrir-me, sinto-me como que ‘abotoada’ (linhas 26-27) 4. “Por tudo isto é que escrevo um diario.” (inka 2°) 4.1. Aponta os motivos que levaram Anne a escrever um didrio. 5. Anne decide atribuir um nome préprio ao seu diario. 5.1. Indica-o, ustificando a decisio de Anne. 6. Anne resolve, ento, comecar por contar a histéria da sua vida a sua “nova amiga”. 6.1. Assinala verdadeiro (V) ou falso (F) nas afirmacdes que seguem, de acordo com o relato de Anne. Corrige as afirmacoes falsas. a) Anne tem uma irma mais velha trés anos. b) Asua familia € judaica de origem holandesa. ¢) 14 em 1933, 0s judeus eram perseguidos na Alemanha por Hitler. 4) Os irmaos da mae de Anne e a avé refugiaram-se na América, devido aos ataques violentos aos judeus. ) Quando os alemaes invadiram a Holanda, em plena li Guerra Mundial, os judeus foram obrigados a identificarem-se na rua e a andarem a pé. f) Atensao entre os judeus era enorme, pois os decretos discriminatérios proibiam-nos de fazer quase tudo. g) Amorte da avé, em 1934, abalou Anne profundamente. hh) Em 1941, Anne e Margot foram transferidas para uma escola judaica ’)Apesar das contrariedades, Anne ficou feliz com a transferéncia, pois ndo gostava da diretora de turma. 7. “Nés, os quatro da familia, (linha 64) nda nao temos muito de que nos queixar.” 7.1. Enumera os quatro membros da familia supracitados. 8. “No iltimo ano, a diretora, a st."K., era chefe da minha turma.” (inhas 60-61) 8.1. Especula sobre o facto de a diretora ser nomeada apenas pela letra K. 1. Lécom atencao as frases que se seguem: a) Durante a guerra, os nazis foram muito cruéis. b) Os tios de Anne foram para a América. ¢) Aavé ficou com os pais de Anne. 4) Na América, 0s tios de Anne encontraram-se com outros judeus. €) 0s judeus s6 entravam em lojas judaicas. f)Depois das vinte horas, os judeus permaneciam em casa. KV. Identifica os verbos nas frases e agrupa-os na respetiva coluna. 1.2. Preenche a tabela com as expressées sublinhadas, de acordo com a func3o sintatica que desempenham na frase. ( 2. Identifica o complemento obliquo eo predicativo do sujeito nas frases seguintes. a) “Ora queria ficar em casa, ora queria sair |...” (inhas 10-1) b) “...] ninguém pode compreender que uma rapariga de treze anos se sinta 56.” (linhas 17-18) ¢) “E, de facto, coisa estranha.” (iinhas 18-19) 6 consigo fazer tolices ou falar sobre coisas banais.” (linha 25-26) nossa vida decorria com as aflicdes do costume [...].” (linha 39) ha av6 veio viver connosco.” (linha 42) \guém imagina quanto eu gostava dela [...].”(linhas 57-58) h) “Em 1934 mandaram-me para o jardim-escola [....” inhas 58-59) i) “Eassim cheguei ao presente...” (nha 65) 3. Atenta nas frases seguintes. ‘A. 0s judeus foram cruelmente perseguidos por Hitler. B. Apartir de 1940, foram-se acabando os bons tempos. . Sempre que possivel, os judeus foram-se embora da Alemanha. D. Os nazis foram impiedosos na sua perseguicao. 33.1. Identifica a frase em que a expresso sublinhada desempenha a funcio sin tatica de predicativo do sujeito. 3.2. Indica as funcdes sintaticas desempenhadas pelas expressdes sublinhadas nas outras frases. Lé com atengio a noticia seguinte e resume-a num texto de 120 a 150 palavras. Para te ajudar nesta tarefa, consulta a pagina 14. CCARTAS DE AMOR ESCRITAS NUM CAMPO NAZI CHEGAM AO SEU DESTINO 70 ANOS DEPOIS Marcel Verrumo |23 novembro 2012 Durante a 2.* Guerra Mundial, o Service du travail obligatoire, da Franga, recrutou ¢ deportou mais de 600 mil franceses para trabalhar de forma compulséria na Alemanha nazi. A nagio de Hitler tinha obrigado a Franga acriar o servico para compensar a perda de alemies enviados para a guerra. 5 Marcel Heuzé foi um dos franceses enviados paraa Alemanha. Entre 1942 € 1944, Heuzé trabalhou na fabrica de tanques, motores para avides e vet- culos blindados Daimler-Benz. Nos dois anos em que permaneceu no pais nazi, esteve isolado num campo de trabalho de Marienfelde, na regio su- doeste de Berlim. Teve que permanecer longe da sua mulher ¢ das suas trés »o filhas. Para comunicar com elas, enviou dezenas de cartas. Nunca recebeu resposta. Algumas correspondéncias até chegaram ao destino. Muitas foram censuradas pelos alemies. Mas ndo destrufdas. Cerca de 70 anos depois, a histéria das cartas de Marcel Heuzé teve um_ desfecho. A desenhadora Carolyn Porter encontrou algumas cartas velhas ‘s em francés numa tenda de antiguidades alemi. Ficou intrigada e comprou o material. Contratou um tradutor - j4 que nao falava francés - e descobriu declaragdes do trabalhador sua mulher e as suas filhas. Eram cartas de amor que nunca tinham chegado ao seu destino. “Era lindo. Quanto termi- nei, queria apenas saber se Marcel tinha sobrevivido. Se tinha regressado a 20 sua casa para a sua esposa e filhas”, contou. Cerca de um ano apés comegar a investigar 0 caso e com a ajuda de uma genealogista, descobriu que o trabalhador tinha conseguido reencontrar a sua familia. Mas Marcel morreu em 1992 ¢ a sua esposa, René, em 2005. Carolyn conseguiu o contacto dos filhos e dos netos do casal. 70 anos depois, 2s aalemd entregou as cartas de amor do soldado frances aos filhos do casal. Em outubro de 2012, Carolyn reencontrou-os ~ ¢ as cartas foram lidas pela primeira vez. In Superinteressante, 23/11/2012 (edigdo online) (texto adaptado, acedido em julho de 2013)

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